Você está na página 1de 20

O DICIONÁRIO COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM

Tácio Assis Barros1


(Orientador) Fabiano Silvestre Ramos²2

RESUMO: Esse trabalho se refere a uma pesquisa como componente de Prática Curricular,
obrigatória no curso de Letras Inglês, UFG - Jataí. O tema abordado é o uso do dicionário por
professores e alunos que estudam línguas estrangeiras. O local de realização da pesquisa foi
um curso livre de idiomas da cidade de Jataí, Goiás. O tópico levantado se transformou em
uma pesquisa a partir do momento em que foi constatado que alguns alunos do último nível
de um curso livre de idiomas não sabiam manusear o dicionário de forma eficiente, e era
notável a recorrência ao professor. A partir de então algumas perguntas surgiram: Será que há
mais alunos com o mesmo problema? Este pode ser resolvido só por incentivo dos
professores? O dicionário deixa os alunos mais autônomos? Muitas teorias tentam convencer
os profissionais da área que o dicionário é uma das mais importantes peças da aprendizagem
de uma nova língua. Seguindo a bibliografia adotada, relatamos, na fundamentação teórica, a
importância do dicionário como estratégia de aprendizagem. Através de dados reais obtidos
sobre da utilização desta ferramenta, esperamos que possa haver um reflexão por parte de
educadores e aprendizes sobre a utilização correta desta para alavancar o aprendizado de uma
segunda língua, principalmente no quesito aquisição de vocabulário. Tenciono mostrar dados
obtidos de um grupo de estudantes e professores no intuito de refletir que espaço ocupa o
dicionário na vida dos participantes da pesquisa. Essa pesquisa quantitativa/qualitativa visa
traduzir algumas informações em dados numéricos e transcrever opiniões obtidas a partir dos
questionários.
PALAVRAS-CHAVE: Uso do Dicionário. Prática Curricular. Curso livre de idiomas.
Vocabulário. Estratégia de aprendizagem.

1. Introdução
O presente trabalho é resultado de uma coleta de dados, através de questionários
aplicados a alunos e professores de língua estrangeira sobre como se dá o uso do dicionário,
como uma ferramenta de aprendizagem no dia-a-dia dos participantes. Procura-se, aqui,
fornecer dados reais para educadores e aprendizes no que se concerne ao uso deste recurso por
ambas as partes, e induzi-los a fazer os mesmos questionamentos, como: Será que todos os
alunos de línguas estrangeiras sabem usar o dicionário? Os professores adotam essa
ferramenta? É importante mesmo ter um dicionário? O dicionário poderia me ajudar a ser
mais independente nos meus estudos/nos estudos dos meus alunos?
O conhecimento das estratégias de aprendizagem de línguas (EALs) é de suma
importância, principalmente para o professor tornar-se apto, então, a identificar a(s)
dificuldade(s) de um determinado aluno ou grupo, fornecendo, posteriormente, meios para
solucionar possíveis problemas.

1
Graduando do curso de Letras Inglês – Universidade Federal de Goiás – tacio.barros@yahoo.com.br
2
Professor Mestre do curso de Letras Inglês - Universidade Federal de Goiás – fs-ramos@hotmail.com
Na literatura existente, tomemos WENDEN (1987, p. 7 apud COSCARELLI, C.V.
1997) como referência para definição de estratégias de aprendizagem como ‘‘técnicas’,
‘táticas’, ‘planos potencialmente conscientes’, ‘operações empregadas conscientemente’,
‘habilidades de aprendizagem, habilidades básicas, habilidades funcionais’, ‘habilidades
cognitivas’, ‘estratégias de processamento da linguagem’, ‘procedimentos de resolução de
problemas’’.
Neste trabalho será adotada a conceituação de Oxford (1990), a qual faz a distribuição
das estratégias em Diretas e Indiretas. As estratégias diretas são compostas na distribuição
direta da aprendizagem, como as relacionadas ao uso da memória, ao uso de estratégias de
compensação e cognitivas, enquanto as indiretas são aquelas externas ao aprendiz, como por
exemplo, as estratégias metacognitivas, sociais e afetivas.
A conscientização sobre o uso de EALs também é válida para os aprendizes, em razão
de se informar sobre o tópico, estes têm a possibilidade de desenvolver melhor a sua
autonomia no estudo de uma língua estrangeira.
A autonomia é um assunto importante na área de ensino e aprendizagem, deste modo,
relato, logo abaixo, a ideia de autonomia proposta por Oliveira (1995), uma das principais
divulgadoras das ideias de Vygotsky no Brasil.

[A] ideia de um processo que envolve, ao mesmo tempo, quem ensina


e quem aprende não se refere necessariamente a situações em que haja
um educador fisicamente presente. A presença do outro social pode se
manifestar por meio dos objetos, da organização do ambiente, dos
significados que impregnam os elementos do mundo cultural que
rodeia o indivíduo. Dessa forma, a ideia de alguém que ensina pode
estar concretizada em objetos, eventos, situações, modos de
organização do real e na própria linguagem, elemento fundamental
nesse processo. (Oliveira, 1995, p. 57).

Finalizo esta parte com a seguinte pergunta: Será que nós, como aprendizes de uma
segunda língua, devemos nos preocupar a respeito da importância desta ferramenta, o
dicionário, na nossa aprendizagem? Este trabalho não responde diretamente a esta pergunta,
mas aborda um breve patamar de alguns dados colhidos para análise/reflexão de como o
grupo de aprendizes e educadores que se dispôs a participar da pesquisa, lida com a utilização
dessa ferramenta, para que, a partir de então, tomemos consciência da utilidade da ferramenta
para muitas pessoas e ocasiões em relação ao ensino/aprendizagem de línguas.
Na próxima seção discorro sobre as estratégias de aprendizagem, fazendo um estudo
mais aprofundado de alguns conceitos que versam como esses recursos e técnicas são
classificados de acordo com Cohen (2002) e Oxford (1990).

2. Estratégias de Aprendizagem
Acreditamos no conceito de estratégias de aprendizagem conforme proposto por
Oxford (1990), que define as EALs como

“...specific actions taken by the learner to make learning easier, faster,


more enjoyable, more self-directed, more effective, and more
transferrable to new situations”.(1990:8)

Oxford tem como caracterização de estratégias, instrumentos que permitem um melhor


autodirecionamento ao aprendiz, devido ao seu objetivo de resolver um problema, ou tentar
solucioná-lo, e são centradas no "como fazer" e não "o que fazer". Segundo a autora, as
estratégias são usualmente meticulosas, flexíveis, mas nem sempre observáveis. E finalmente,
a pesquisadora recomenda que elas podem ser praticadas e ensinadas durante todos os dias de
estudo, inclusive em sala de aula.
Antes de abordar a classificação segundo Oxford (1990), apresento a de Cohen (2002)
para que possamos ter uma comparação inicial sobre essa divisão.
Cohen (2002, apud VILAÇA, 2011, p. 44) classifica as estratégias dependendo das
diferentes teorias e metodologias, e ainda comenta que, na maior parte, são classificadas
segundo três critérios: a função da estratégia, a habilidade linguística e o propósito da
estratégia.
Figura 1 – Critérios de classificação das estratégias

Fonte: Cohen 2002, apud VILAÇA, 2011, p. 44.


Segue logo abaixo a classificação de estratégias de aprendizagem proposta
por Oxford (1990):

Figura 2 – Classificação das estratégias segundo Oxford (1990)

Fonte: Cohen 2002, apud VILAÇA, 2011, p. 52.

As EALs classificadas como estratégias de memória, cognitiva, compensação, afetiva,


social e metacognitivas se apresentam organizadas em dois grupos, as diretas e indiretas. Ao
mencionarmos as palavras ‘direta’ e ‘indireta’, inferimos sobre o tipo de influência exercida
na aprendizagem. Assim sendo, o grupo de estratégias de aprendizagem diretas pode assim ser
classificado quando existe um contato direto com a língua-alvo, seja por meio de aulas ou
outras situações específicas (atividades, etc.). Ao se falar de estratégias indiretas, ela comenta
que não se estabelece contato direto com a língua-alvo, mas essas estratégias possibilitam
ferramentas para a organização e o monitoramento no processo de aprendizagem, deixando
fora qualquer tipo de necessidade e práticas pedagógicas.
As estratégias diretas são subdivididas em três grupos pela autora: (a) estratégias de
memória - associado ao abastecimento e à retomada de informações na memória; (b)
estratégias cognitivas - são técnicas, procedimentos específicos para a aprendizagem e (c)
estratégias de compensação - lidam com formas de suprir necessidades práticas.
O grupo das estratégias indiretas está divido em:(a) metacognitivas - conectadas a
gestão, avaliação e planejamento da aprendizagem; (b) afetivas - associadas à avaliação e
controle de características emocionais e (c) sociais – dizem respeito àquelas empregadas para
a interação social.
Apesar de sabermos que a aprendizagem da língua materna pelas crianças se dá por
associações diretas entre os objetos e as palavras, sendo essa a forma mais natural de se
aprender uma língua estrangeira, muitos professores preferem não trabalhar com a tradução,
no intuito de estabelecer uma conexão direta entre o conceito e a palavra na língua alvo sem a
interferência da língua nativa (PAIVA, 2004).
Um dos melhores métodos de estudo de vocabulário, segundo Richards & Rodgers
(1993:7) apud Paiva (2004, p. 02), é a contextualização das palavras, e não um trabalho de
vocabulário com palavras separadas aleatoriamente. Muitos alunos não percebem quando
utilizam estratégias de aprendizagem, outros nem o sabem, mas o que podemos afirmar,
segundo os dados relatados nesta pesquisa, é que diversos aprendizes de língua estrangeira
recorrem diretamente ao uso do dicionário quando o assunto é vocabulário.
Assim sendo, muitos estudantes não têm uma administração adequada do dicionário, o
que acarreta o uso errôneo deste, principalmente quando o trabalho é feito com palavras de
forma isolada, Summers (1998). A aquisição de vocabulário, de acordo com Knight (1994), é
considerada por muitos o aspecto mais importante no aprendizado de língua estrangeira.
A consulta ao dicionário é considerada uma importante e eficaz estratégia na retenção
de apalavras (Ard, 1982; Ha, 1992; Hulstijn, Hollander&Greidanus, 1996; Knight, 1994;
Luppescu& Day, 1993).

No Brasil, Coura Sobrinho (1998) estudou o uso do dicionário na


aprendizagem de vocabulário, apontando o impacto positivo do uso
dessa estratégia, destacando que leitores que utilizam o dicionário não
só aprendem mais palavras, como também alcançam maior
desempenho na compreensão da leitura. Segundo o autor, o dicionário
é um instrumento eficaz na aprendizagem de vocabulário,
contribuindo para que o aluno continue a aprender, mesmo fora da
sala de aula. (CONCEIÇÃO, 2008, p. 115).

Vejo o dicionário como uma ferramenta de suma importância na aprendizagem de LE,


principalmente ao fazer a leitura de trabalhos desenvolvidos por alguns autores, já
mencionados anteriormente, os quais constataram através de várias pesquisas, como a minha,
que os dados sobre o uso do dicionário são alarmantes.

3.Objetivo
O objetivo geral deste trabalho foi investigar como se dá o uso de vocabulário por
estudantes de língua estrangeira, por meio de geração de dados obtidos através de
questionários aplicados aos participantes da pesquisa.
Para tanto, propusemos os seguintes objetivos específicos: (1) descrever a realidade do
uso do dicionário por parte dos alunos, em forma de gráficos que mediram, por exemplo, sua
satisfação com a habilidade de utilizá-lo e se são motivados pelos educadores; e (2)
transcrição dos comentários dos professores em relação ao uso do mesmo para obter
informações de utilização do dicionário em sala, e quais dificuldades os alunos enfrentam
com o uso.

4. Metodologia
Pode-se qualificar este trabalho como de cunho qualitativo e quantitativo. Os dados
obtidos através dos questionários aplicados aos alunos foram trabalhados em forma de
categorizações, o que permite o agrupamento segundo algumas características, discriminando
um agrupamento do outro; e qualitativa, pois, ao analisarmos os dados das respostas livres dos
professores, foi possível subdividir em categorias, transcrevendo alguns comentários. O termo
qualitativo “é um conceito guarda-chuva cobrindo algumas formas de investigação que nos
ajuda a entender e explicar o significado do fenômeno social com a menor quebra possível do
ambiente natural” (Merriam, 1998, p. 5).
Visto que o estudo de caso é uma das várias modalidades deste tipo de pesquisa,
tratamos, resumidamente, a seguir, do estudo de caso.

5. Estudo de caso
O estudo de caso tem sido abordado em diferentes áreas de conhecimento, desde
Psicologia até Administração (André, 2005).

“Como esforço de pesquisa, o estudo de caso contribui, de forma


inigualável, para a compreensão que temos de fenômenos individuais,
organizacionais, sociais e políticos”, preservando, “as características
holísticas e significativas dos eventos da vida real” (Yin, 2002, p.21
apud Duarte 2008, p. 117).

O estudo de caso é uma forma particular de estudar, e neste caso é fundamental


abordar, a priori, que serão relatadas apenas as informações obtidas da coleta de dados
visando expor como anda o uso do dicionário em LE em duas visões: professores e alunos.
5.1. Contexto e participantes da pesquisa
Os participantes deste estudo foram quatorze aprendizes e cinco professores de línguas
estrangeiras, de um curso livre de línguas, situado nada cidade de Jataí, Goiás. Os aprendizes
que responderam ao questionário foram escolhidos de maneira aleatória em diferentes níveis.
O mesmo procedimento foi realizado na seleção dos professores.
Pedimos aos participantes que utilizassem pseudônimos, escolhidos por eles mesmos,
com o objetivo de garantir a privacidade dos participantes.

5.2. Instrumentos de coleta de dados


Foram utilizados duas modalidades de questionário na fase de geração dos dados para
esse estudo: um questionário fechado (cf. ANEXO I) para os alunos e um aberto (cf. ANEXO
II) para os professores. Escolhemos o questionário como instrumento de coleta de dados
porque, segundo Johnson (1992), demanda menos tempo e menos custos.

5.3. Análise dos dados


Na análise dos dados, foram adotados procedimentos da pesquisa qualitativa. Fizemos
uma leitura geral dos mesmos para possibilitar, por parte dos dados dos alunos, relatar
informações quantitativas, enquanto os dados obtidos pelos questionários dos professores se
restringiram em categorias: (1) Tipo de dicionário utilizado pelo professor; (2) O uso do
dicionário em sala de aula; (3) Dificuldade(s) encontrada(s) pelos alunos em relação ao uso;
(4) Atividades desenvolvidas com dicionário; (5) Definição de um bom dicionário; (6)
Impressões sobre o uso de dicionários em provas e (7) Importância de dicionários para o
estudo de línguas estrangeiras.

6. Resultados
Nesta seção, apresentamos, primeiramente, os dados dos alunos, em forma de gráficos,
e as informações colhidas do questionário dos professores, fazendo o levantamento em
categorias, transcrevendo alguns comentários, para em seguida fazermos a interpretação dos
mesmos.
- Dados dos Alunos
Gráfico 1.0

É possível verificar que, no primeiro gráfico, todos os alunos que se dispuseram a


responder possuem dicionário, no entanto, apenas dois utilizam dicionários monolíngues e
doze utilizam os do tipo bilíngue. A praticidade de ter a definição do vocabulário em
português pode levar a essa estatística, acarretando um possível desenvolvimento
desacelerado.

Gráfico 2.0

O segundo gráfico nos fornece a informação de que 21% dos alunos nunca utilizam o
dicionário para tarefas, 07% sempre o utilizam e 57% usam apenas algumas vezes. Essa
estatística é alarmante, visto que a minoria é a que realmente faz uso da ferramenta.
Gráfico 3.0

O gráfico número 3.0, segue os dados sobre a quantidade de alunos que usam o
dicionário para Tradução e Pronúncia, sendo 03 e 13 respectivamente. O ensino de pronúncia
em sala de aula nem sempre leva em consideração o dicionário como uma importante
ferramenta. Muitos professores não ensinam os aprendizes as utilizarem este para tal fim.
Dessa forma, podemos inferir que esse resultado reflita essa prática de professores em sala de
aula de línguas.

Gráfico 4.0

Mais da metade diz recorrer ao dicionário antes de contatarem outra fonte de


informações e trinta e oito por cento usam o dicionário só depois de terem pesquisado em
outro lugar. Esse resultado sugere que o dicionário ocupa um lugar importante no processo de
aprendizagem da maioria dos participantes.
Gráfico 5.0

Os alunos participantes ficaram divididos em relação ao tópico: segurança ao usar o


dicionário. Um total de 46% diz não terem segurança quando o utilizam e 54% se sentem
seguros. A incógnita que aparece aqui, juntamente com estes dados, é a de que não sabemos
ao certo quais são os fatores que regem essa situação de segurança, mas chamo a atenção para
este ponto, principalmente por parte de professores, os quais podem oferecer uma aula de
como manusear este instrumento de aprendizagem para prevenir possíveis inseguranças.

Gráfico 6.0

Mais da metade dos alunos diz que acha que sabe usar o dicionário para traduções,
diferentemente de cinco alunos que afirmam ter certeza. Ninguém marcou a opção “não”.
Apesar de ninguém ter mencionado a opção ‘não’, ainda precisa ser confirmada, futuramente,
a aptidão destes alunos para com o uso do dicionário.
Gráfico 7.0

Um número considerável de 57% diz não sabe utilizar o dicionário para trabalhar com
fonética. Apenas dois alunos se dizem confiantes, três acham que sabem utilizar para esse fim,
e um participante marcou a opção “acho que não”. Há lacunas a serem analisadas em relação
a pratica de uso do dicionário para a fonética, mas é certo que o proveito desse material será
muito maior se o aluno receber orientação sobre como utilizá-lo.

Gráfico 8.0

Mais da metade dos alunos se diz motivada pelo professor a usar o dicionário. Vinte e
um por cento dos alunos marcaram que não há motivação por parte do educador e somente
três alunos dizem que ás vezes o professor os motiva.

Gráfico 9.0
A quantidade de alunos satisfeitos com a habilidade de utilizar o dicionário totaliza 08
e os insatisfeitos chegam a 06. Praticamente todas as pessoas que estudam uma LE procuram
adquirir um dicionário bilíngue, para melhor compreender a língua em questão, isso significa
apontar que sua aplicação no dia a dia dos estudantes e seu uso em sala de aula deve ser
monitorado/instruído para que os aprendizes não o administrem de forma errônea e possam se
sentir satisfeitos ao utilizá-lo.

Gráfico 10.0

O último gráfico nos informa que onze alunos acham que o melhor dicionário é o
Bilíngue, em contraste com três alunos que dizem ser o Monolíngue.

Discussão dos dados dos Professores


Foi aplicado um questionário aberto aos professores participantes desta pesquisa. A
análise dos dados gerados por meio desse questionário foram agrupados nos seguintes temas,
que são discutidos a seguir:
(1) Tipo de dicionário utilizado pelo professor:
A maioria dos professores relata utilizar o dicionário bilíngue, quando necessário. Um
dos professores, que utiliza o dicionário Monolíngue, se expressa da seguinte forma:

“[...] eu utilizo dicionário monolíngue. Acredito que seja necessária uma


imersão total do idioma e, por assim ser, o uso de um dicionário monolíngue é
um facilitador nesse processo” (Vik, Questionário).

Outro professor comenta que “só usam o material didático” (Lily, Questionário).

Na fala de Vik, percebemos que isso sugere que a reflexão que o professor faz sobre o
uso do dicionário monolíngue é a de que este ajuda o aluno a ter uma imersão maior da língua
inglesa, enquanto que os alunos da professora Lily talvez não tenham os mesmos resultados.

(2) Uso do dicionário em sala de aula:


Três professores disseram não utilizar o dicionário em sala de aula. Uma professa diz:
“utilizo e deixo os mesmos livres para fazerem alguma pesquisa” (Lya, Questionário). No
caso do professor Vik, ele informa: “Eu, na verdade, incentivo os alunos a comprarem seus
próprios dicionários, já que é uma aquisição para a vida toda. Com os alunos de nível
avançado, o uso de dicionário é mais frequente, já que eles, de certa forma, são mais
independentes” (Vik, Questionário).
Por fim, Peter responde a seguinte pergunta, “em sala de aula, com seus alunos, você
os utiliza?”. “Não. Os alunos podem levar e utilizar, se desejarem” (Peter, Questionário).
Diante das respostas dos professores ao item cinco, não fica evidente se os alunos
realmente usam o dicionário em sala de aula, e mais uma vez a lacuna sobre a importância de
ensinar o aluno a manusear esse material fica aberta. Possibilitar que os aprendizes atinjam
certa autonomia no manuseio da ferramenta é altamente recomendado.

(3) Dificuldade(s) encontrada(s) pelos alunos em relação ao uso:


A resposta afirmativa, ao nos referirmos a questão de dificuldade ao manusear o
dicionário, é quase unânime. Segundo um dos professores, os alunos não estão familiarizados
com este tipo de ferramenta, “o dicionário tem suas peculiaridades e os alunos não estão
familiarizados com eles, por isso é importante oferecer aos alunos suporte em relação a isso”
(Vik, Questionário).
Fernández (1996) menciona fatores essenciais no processo de ensino/aprendizagem: o
livro didático, o dicionário e o professor. Diante do comentário mencionado pelo professore,
podemos estimar, talvez, que o a metodologia utilizada durante as aulas não corresponde às
expectativas dos alunos e, dessa maneira, se torna evidente que realmente os alunos não estão
familiarizados com a ferramenta.
Outros professores, participantes da pesquisa, pensam diferentemente e comentam que
“eles conseguem manuseá-lo bem” (Lya, Questionário), assim como Peter diz ser comum
sentirem dificuldade, e exemplifica que “algumas vezes eles utilizam o primeiro significado
da palavra que encontram” (Peter, Questionário).
“Eu acredito que a maior dificuldade dos alunos em relação ao uso dos dicionários
monolíngues na minha aula é quando eles procuram definições de preposições. Os alunos
têm muita dificuldade de entender certas definições que o dicionário apresenta” (Vik,
Questionário). Lya diz achar que talvez seja a pronúncia, “porque mesmo com os símbolos
fonéticos, muitos não sabem pronunciar direitinho” (Lya, Questionário).
Diante dos resultados obtidos através deste tópico, concluímos que, embora a apenas
um professor se manifestou positivamente quanto ao uso de dicionário pelos alunos, os
comentário sugerem que faltam atividades que foquem o uso do mesmo. Dentre várias
sugestões de emprego desse material, podemos relembrar alguns como exercícios de
morfologia (flexão das palavras e derivações), exercícios de sintaxe, tarefas que trabalhem o
emprego de palavras em diferentes contextos, pronúncia, etc.

(4) Atividades desenvolvidas com dicionário:


“Não realizo atividades em sala de aula usando o dicionário” (Peter, Questionário),
comenta um dos professores. Três professores não realizam nenhum tipo de atividade com o
dicionário em sala de aula, ou extra classe. No caso de Lya há atividades com o dicionário
somente “quando se trata de adjetivos, substantivos e/ou mesmo interpretação de texto com
palavras ainda desconhecidas pelos alunos” (Lya, Questionário). “O primeiro contato que os
alunos têm com o dicionário se dá no 3º módulo em aulas de fonética. Após esse nível, os
alunos começam a utilizar o dicionário com atividades de vocabulário”(Jack, Questionário).
Nesta sessão os comentários indicam que o aluno poder aprender a construir
conhecimentos e a ter consciência que, conforme a evolução da língua, o dicionário pode
fazer um papel fundamental no processo de ensino/aprendizagem, mas desde que o
professor/aprendiz possua o conhecimento de como manuseá-lo, pois não fica claro se o
professor faz o papel de facilitador.
(5) Definição de um bom dicionário:
Percebemos neste item que todos concordam que um bom dicionário deva ter uma
quantidade considerável de palavras e definições. Todos relatam a opinião sobre o que é um
bom dicionário.
(a) “Um bom dicionário é aquele que, além de ter um bom número de léxicos, define
de maneira clara as palavras e seus exemplos são de simples compreensão” (Vik,
Questionário); (b) “Que possua um considerável número de palavras, que defina os vários
significados” (Lya, Questionário); (c) Que esteja com a “atualização em dia [...], com o
número de verbetes acima de 3.000. Presença de Grafemas em Inglês GB e inglês US para
cada palavra e que possa ser carregado na mochila” (Jack, Questionário); (d) “Um
dicionário que tenha Phrasal Verbs, que explique determinadas palavras usando ilustrações
e que também apresentem frases para exemplificar os usos das palavras em diferentes
contextos”(Lily, Questionário) e (e) “Aquele que possui um grande número de palavras, bem
como todos os seus possíveis significados” (Peter, Questionário).
Deixamos livres para que definissem um bom dicionário, e percebemos, aqui, o
esclarecimento de que existem diferentes dicionários e que todos são úteis, de acordo com a
visão de cada professor, cabendo ao usuário eleger o mais oportuno a cada ocasião.

(6) Impressões sobre o uso de dicionários em provas:


O não uso do dicionário em provas foi o tema comum entre a maioria das respostas
dos participantes, professores, da pesquisa, mas dois professores têm opiniões diferentes,
quando um comenta que acha “que o professor pode deixar que os alunos pesquisem, mas
acho que os alunos devem ter o dicionário somente como um material de apoio mesmo. Por
exemplo, tem uma palavra que o aluno quer usar na prova então ele pode pesquisar se
naquele contexto que ele quer usar a palavra é o contexto mais adequado” (Lily,
Questionário).
Ao questionada se permitiria o uso de dicionário em suas provas, a professora Lya diz
que gosta muito, pois “muitas vezes o aluno perde tempo procurando uma única palavra, e
muitas vezes quando você não conhece a palavra o seu dicionário também não ajuda muito”.
Ela ainda complementa que se for “uma prova que tenha textos ou com um rico vocabulário,
permitiria, mas se for uma prova somente do que foi explicado em sala de aula, com nada de
novidade, creio que não seja necessário”(Lya, Questionário).
Os resultados sugerem que os professores tendem a optar por não permitir o uso
dicionário em sala de aula, já que vários fatores afetam essa escolha, como, por exemplo, o
assunto a ser abordado, o foco de conhecimento requerido, etc.

(7) Importância de dicionários para o estudo de línguas estrangeiras:


Finalizamos os resultados com a reflexão que os professores participantes deixam
sobre a importância do dicionário para a aprendizagem de uma língua estrangeira. (a) “É
muito importante não para ver a tradução, mas para perceber o que determinada palavra
quer dizer dentro de certo contexto” (Lya, Questionário); (b) “O dicionário serve como
suporte e apoio. Ninguém é obrigado a saber tudo, por isso o uso dessa ferramenta serve
para consultar palavras e, muitas vezes, serve como leitura básica para aprendermos mais
vocabulário e gramática, já os dicionários têm, cada vez mais, oferecido atividades extras,
lista de vocabulário ilustrativo, etc” (Vik, Questionário); (c) “Auxilia os alunos com novas
palavras” (Peter, Questionário); (d) “Dependendo da modalidade de ensino da língua, a meu
ver o dicionário é interessante. Por exemplo; modalidade ESP, ou qualquer área de Inglês
instrumental, técnicas de escrita, leitura ou literatura” (Jack, Questionário) e (e) “É
importante, mas não podemos deixar que o uso do dicionário se torne um vício” (Lily,
Questionário).
Diante das respostas dos professores ao nosso questionário, ressaltamos que os professores
participantes da pesquisa tem uma posição critica, positiva, em relação ao uso do Dicionário.
Fica evidente, se formos levar em consideração os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998)
sobre a diversificação de materiais didáticos em sala de aula que o dicionário deve ter papel
de destaque, pois é uma ferramenta de grande utilidade, conforme já ressaltado neste trabalho.

7. Considerações Finais
Nesta pesquisa, foram analisados dados concernentes ao uso do dicionário por parte
dos alunos e professores de língua estrangeira e embora estudos, como Maldonado (1998) e
Ferñández (1996), apontem contribuições do dicionário como estratégia de aprendizagem,
percebe-se, através dos dados e pela bibliografia discutida, que ainda há controvérsias sobre o
seu uso. Pelos resultados, nota-se que existem algumas lacunas como, por exemplo, de como
manusear o dicionário de forma eficiente e se os professores estão atuando como facilitadores
no processo de manuseio por parte do ensino aos alunos.
Assim, pretendemos colaborar com esta pesquisa deixando a reflexão da importância
de utilizar essa ferramenta na aprendizagem de uma língua estrangeira.
Alguns pontos podem ser destacados ao término da pesquisa: (1) o contraste com
alunos/professores que utilizam e os que não usam o dicionário nos faz afirmar que algumas
lacunas do aprendizado dos alunos de língua estrangeira podem ser preenchidas pelo
dicionário; (2) conhecer as estratégias de aprendizagem abre diversas possibilidades para um
aperfeiçoamento; (3) muitos dados nos fazem refletir sobre a conformidade do uso do
dicionário e (4) algumas atitudes devem ser repensadas.

Referências

ANDRÉ, M. E. D. A. Estudo de caso em pesquisa e avaliação educacional. Brasília:


Liberlivros, 2005. p. 7-70.

ARD, J. 1982. The use of bilingual dictionaries by ESL, students while writing. ITL
Review of Applied Linguistics, 58: 1-27.

BORUCHOVITCH, Evely. Estratégias de aprendizagem e desempenho escolar:


considerações para a prática educacional. Psicologia Reflexão e Critica. [online]. vol.12,
n.2,p. 361-376. 1999.

CONCEIÇÃO, Mariney Pereira. O dicionário na aprendizagem de um vocabulário em


língua estrangeira/inglês. Dictionaries and Vocabulary Learning. The ESPecialist, vol.
29, nº 1 (113-135). Universidade de Brásiila, Brasília, Brasil. 2008.

COSCARELLI, C. V. Estratégias de Aprendizagem de Língua Estrangeira: uma breve


introdução. Educação e Tecnologia. Belo Horizonte: CEFET-MG, v. 4, n.4, p. 23-29,
jan./jul., 1997

DEMBO, M. H. Applying educational psychology.5 edição. New York. Longman


Publishing Group, 1994.

DUARTE, J. B. Estudos de caso em educação: investigação em profundidade com


recursos reduzidos e outro modo de generalização. Revista Lusófona de Educação, n. 11,
p. 113-132, 2008.

FERÑÁNDEZ, Francisco Moreno. EL diccionario y la enseñanza del español como lengua


extranjera - Cuadernos Cervantes. Universidad de Alcalá, 1996.

HA, M.A. 1992 The role of bilingual dictionaries and reading in foreignlanguage
vocabulary learning. Unpublished master’s thesis.University of Hawaii.

HULSTIJN, J.; HOLLANDER, M. & GREIDANUS, T. 1996 Incidental vocabulary


learning by advanced foreign language students: the influence ofmarginal glosses,
dictionary use, and reoccurrence of unknownwords. Modern Language Journal, 80: 327-
339.

JOHNSON, D. Approaches to Research in Second Language Learning. New York:


Longman, 1992.
KNIGHT, S. 1994 Dictionary use while reading: the effects on comprehension and
vocabulary acquisition for students of different verbal abilities. The Modern Language
Journal, 78: 284-299.

LEFFA, V. J. . Quando menos é mais: a autonomia na aprendizagem delínguas. In:


Christine Nicolaides; Isabella Mozzillo; Lia Pachalski; Maristela Machado; Vera Fernandes.
(Org.). O desenvolvimento da autonomia no ambiente de aprendizagem de línguas
estrangeiras. Pelotas: UFPEL, 2003, v. , p. 33-49.)

LUPPESCU, S. & DAY, R.R. 1993 Reading, dictionaries, and vocabulary learning.
Language Learning, 43: 263-287.

MALDONADO, Concepción. El uso del diccionario en el aula - Cuadernos de Lengua.


Española-Arco Libros - Madrid. 1998

MERRIAM, S. Qualitative research and case study applications in education. San


Francisco: Jossey-Bass, 1998.

OLIVEIRA, M. K. Pensar a educação; contribuições de Vygotsky. In:

OXFORD, R. Language learning strategies: what every teacher should know. New York:
Newbury House Publishers, 1990.

Parâmetros Curriculares Nacionais. Disponível em:


http//portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf - acessado em 06 abr. 2014.

PAIVA.V.L.M.O. Ensino de vocabulário. In: DUTRA, D.P & MELLO, H. A gramática e o


vocabulário no ensino de inglês: novas perspectivas. Belo Horizonte: Faculdade de
Letras/UFMG, 2004. (Estudos Lingüísticos; 7)

RICHARDS, J.C. & RODGERS, T.S. Approaches and methods in language


teaching. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.

VILAÇA, Marcio Luiz Corrêa: Classificação de estratégias de aprendizagem de línguas;


Critérios, Abordagens e Contrapontos. Revista Eletrônica do Instituto de Humanidades.
2011. Número XXXVI. ISSN-1678-3182. <www.unigranio.br>. Acesso em 23 de Fev. de
2014.

Anexos

Anexo 01

O questionário empregado aos alunos, de tipo fechado, continha as seguintes questões:

1.Você possui dicionário? 8. Você sabe usar o dicionário para a fonética?


( ) Sim ( ) Não ( ) Sim
( ) Acho que Sim
2. Que dicionário utiliza? ( ) Não
( ) Monolíngue ( ) Bilíngue ( ) Acho que Não

3. Você o utiliza para suas tarefas? 9. Você é motivado pelo seu educador a utiliza-
( ) Nunca lo?
( ) Às vezes ( ) Sim
( ) Frequentemente ( ) Não
( ) Sempre ( ) Às vezes

4.Você usa dicionário para: 10. Você está satisfeito com sua habilidade de
( ) Tradução utilizá-lo?
( ) Pronúncia ( ) Sim
( ) Não
5. Usa o dicionário...
( ) Depois de pesquisar outra fonte 11. Por parte de quem a motivação deve ser
( ) Antes de pesquisar outra fonte maior?
( ) Diretamente ( ) Minha
( ) Professor
6.Mesmo usando-o, se sente seguro?
( ) Sim 12. Que tipo de dicionário você acha o mais ideal
( ) Não (adequado para o seu nível hoje)?
7. Você sabe usar o dicionário para traduções? ( ) Bilíngue( ) Monolíngue
( ) Sim
( ) Acho que Sim
( ) Não
( ) Acho que Não

Anexo 02

O questionário aberto, aplicado aos professores, abrangia as perguntas abaixo:

1. Com qual língua você trabalha?


2. Em que níveis?
3. De maneira geral, você utiliza dicionários? De língua materna ou de língua estrangeira?
4. A/O biblioteca/curso da sua escola oferece bons dicionários?
5. E em sala de aula, com seus alunos, você os utiliza?
6. Em caso afirmativo, são da escola, do professor ou dos alunos?
7. Seus alunos têm e levam dicionários para sala de aula?
8. Seus alunos têm ou já tiveram dificuldades de manuseá-lo?
8. Que tipo de atividades você desenvolve em aula utilizando dicionários?
9. Quais as dificuldades encontradas durante as aulas com a utilização de dicionários?
10. Você trabalha com dicionários online? Indica para seus alunos?
11. Como você definiria um ‘bom dicionário’?
12. Se lhe pedisse para me indicar um dicionário da língua com a qual você trabalha, qual
me indicaria?
13. Para você, qual a importância do dicionário nas aulas de línguas?
15. Você, como aluno, gostaria de utilizar o dicionário em provas?
16. Você, como professor, deixaria seu aluno utilizar o dicionário em provas?

Você também pode gostar