AS METODOLOGIAS ATIVAS NA FORMAÇÃO DE LEITORES NO ENSINO
BÁSICO Autor1: Losana Hada de Oliveira Prado
Modalidade: COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
RESUMO A leitura já foi considerada apenas decifração de códigos, mas hoje ela é concebida como instrumento para a formação da cidadania, uma vez que é por meio da leitura que formamos cidadãos críticos. O presente trabalho analisa de que maneira as metodologias ativas, processo mais avançado de reflexão, de integração cognitiva, de generalização e de reelaboração de novas práticas, corroboram para a formação de leitores proficientes. Enquanto a pedagogia tradicional centraliza a transmissão de conhecimento via professor, sendo esse o único responsável pelo percurso educativo, a nova tendência pedagógica é crítica e o professor assume papel de mediador, em outras palavras, ele orienta o aluno a observar a realidade e apreender o conteúdo tendo em vista um olhar social e transformador. A Metodologia Ativa, nessa perspectiva, é uma estratégia que insere o aluno como protagonista central, responsável pela construção de seu próprio processo de aprendizagem ao longo de sua trajetória educacional e o professor, coadjuvante e facilitador das experiências relacionadas ao processo de aprendizagem. Segundo Paulo Freire, o aluno precisa ser o protagonista de seu processo de aprendizagem e ao professor cabe a tarefa de despertar a curiosidade epistemológica. Outros teóricos como Dewey (1950), Rogers (1973), Novack (1999) já apontavam a importância de avançar na educação tradicional e priorizar a aprendizagem no aluno. Assim, a aprendizagem que se dá por meio das Metodologias Ativas acontece a partir de problemas e situações reais, os mesmos que os alunos vivenciarão na vida adulta e, para essa nova configuração, o ambiente físico das salas de aula precisa ser modificado, pois o aluno será mais centrado. As salas de aula, por exemplo, podem ser mais multifuncionais, para combinar atividades de grupo, de plenário e mesmo individuais. A conexão com tecnologias móveis também compõe esse novo cenário.
Palavras-chave: Metodologias Ativas; Práticas de leitura; Formação de leitor.
INTRODUÇÃO
A ideia de realizar o presente trabalho surgiu com base na experiência
em ler para crianças, jovens e adultos durante reuniões pedagógicas, eventos culturais e salas de aula, e teve como pergunta de partida: De que maneira as metodologias ativas podem contribuir para a formação de leitores mais proficientes? Nesse contexto, as metodologias ativas surgem como formas de desenvolver o processo de aprender, utilizando experiências reais ou simuladas, visando às condições de solucionar, com sucesso, desafios advindos das atividades essenciais da prática social em diferentes contextos (BERBEL, 2011). Para Bastos (2006:10), o conceito de metodologias ativas se define como um “processo interativo de conhecimento, análise, estudos, pesquisas e decisões individuais ou coletivas, com a finalidade de encontrar soluções para um problema”. O autor ainda destaca que a atuação do docente deve ser de um facilitador, para que o estudante faça pesquisa, reflita e decida por ele mesmo o que fazer para alcançar os objetivos. Diante disso, o presente estudo procura focar as metodologias ativas na formação de leitores, o que culmina na maneira como o professor trabalha essa prática em sala de aula. Muitas vezes a leitura é usada somente como decifração e compreensão de textos, todavia, para que o leitor leia um texto e compreenda o que está escrito, não basta apenas essa decifração de sons da escrita ou os significados individuais das palavras, mas compreender o seu significado e o seu contexto. Segundo Paulo Freire (1996:8), a “leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo”, e a capacidade de relacionar a leitura escolar com esse mundo real se desenvolve pela prática de letramento. Magda Soares defende o letramento como uma prática inerente ao processo de leitura e escrita.
No mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois
processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua – o letramento. (SOARES, 2003:14)
Enquanto a leitura é a decifração dos códigos linguísticos, o letramento é
saber fazer uso dessa decifração, compreender, dar sentido aos códigos. Porém isso não quer dizer que o letramento seja mais importante que a leitura, na verdade, os dois processos são indissociáveis e precisam caminhar juntos.
FORMAÇÃO DE LEITORES E METODOLOGIAS ATIVAS
Segundo Cagliari (2002), a leitura e a escrita acontecem
simultaneamente na prática da maioria das escolas, porém em grande parte das atividades o foco maior é em relação à escrita, uma vez que existe a facilidade de controlar os acertos e erros da escrita, enquanto que com a leitura não é possível estabelecer esse controle, porque o professor jamais saberá o que está se passando na mente de um aluno que lê em silêncio. A formação de leitores, então, passa pelo domínio da decifração e do conhecimento sobre o assunto tratado, trata-se da capacidade de ler um dado texto e ampliar seu conhecimento sobre o tema, de tal forma que se possa descontruir o que se acreditava ser uma verdade absoluta. No entanto, para que o leitor possa ser formado pela escola, é preciso dar-lhe oportunidade de novas leituras, para que possa ampliar seu repertório de conhecimentos e, assim, enxergar o mundo de maneira mais ampla, atuando sobre a realidade conscientemente. Nessa perspectiva, é preciso substituir as formas tradicionais de ensino por metodologias ativas de aprendizagem que possam ser utilizadas como recurso didático na prática docente cotidiana e, dentre essas metodologias ativas, a problematização surge, por exemplo, como estratégia didática que tem como objetivo instigar o estudante frente a problemas que o possibilitarão examinar, refletir e posicionar-se de forma crítica. O papel da escola nesse processo é o de possibilitar novos caminhos de aprendizagem centrados ativamente à problemas reais, desafios relevantes, jogos, atividades e leituras, combinando tempos coletivos e tempos individuais. É preciso também mudança de currículo, da participação dos professores, da organização das atividades didáticas, da organização dos espaços e tempos. Se queremos alunos mais proativos e criativos, precisamos propor metodologias mais complexas e atividades que o façam demonstrar mais iniciativa, ou seja, é preciso superar a educação bancária, tradicional e centrar a aprendizagem no aluno, envolvendo-o, motivando-o e dialogando com ele, já afirmavam os teóricos Dewey (1950), Freire (2009), Rogers (1973), Novack (1999), entre outros. Pensando que as metodologias precisam acompanhar os objetivos pretendidos, apresentamos, de forma breve, algumas dessas metodologias:
• aprendizagem baseada em problemas (PBL): necessidade de resolver
um problema não completamente estruturado. Os alunos constroem o conhecimento do conteúdo e desenvolvem habilidades de resolução de problemas; • aprendizagem baseada em projetos (PBL): proporciona experiências de aprendizagem multifacetadas, em oposição ao método tradicional de ensino. Os alunos se envolvem com tarefas e desafios para resolver um problema ou desenvolver um projeto que também tenha ligação com sua vida fora da sala de aula. Por meio dos projetos são trabalhadas habilidades de pensamento crítico, criativo e percepção de que existem várias maneiras para a realização de uma tarefa; • peer instruction (PI): consiste em fazer com que os alunos aprendam enquanto debatem entre si, provocados por perguntas conceituais de múltipla escolha (ConcepTests); • just-in-time teaching (JiTT): combina alta velocidade de comunicação via web com a habilidade de ajustar rapidamente o conteúdo para atender necessidades específicas de uma classe em uma determinada aula. O ponto central é o entrelaçamento entre as atividades feitas pela web e àquelas desenvolvidas em sala de aula (NOVAK et al., 1999); • aprendizagem baseada em times (TBL): o TBL é projetado para fornecer aos alunos conhecimento tanto conceitual quanto processual. Os alunos são organizados em grupos permanentes e o conteúdo do curso é organizado em grandes unidades (geralmente cinco a sete). As atribuições da equipe devem visar o uso de conceitos da disciplina para tomada de decisão, de forma a promover a aprendizagem por meio da interação do grupo. • método de caso Mayer (2012): estimular os alunos a pensarem e descobrirem, de forma ativa e não receptiva, por meio de perguntas que levem a reflexões relevantes. Baseia-se na apresentação de dilemas reais, em que decisões devem ser tomadas e consequências enfrentadas. • simulações: são instrumentos para auxiliar e complementar a aula expositiva, fornecendo oportunidades de participação interativa através de demonstração ou servir de suporte a ConcepTests. Uma boa simulação incentiva e orienta o processo de descoberta do aluno, proporcionando-lhe um ambiente divertido e atraente no qual poderá fazer perguntas e ter feedback para descobrir a resposta.
Quaisquer que sejam as metodologias ativas utilizadas, elas têm o
potencial de levar os alunos à aprendizagem autônoma, pois desperta a curiosidade, à medida que os alunos se inserem na teorização e trazem elementos novos, ainda não considerados nas aulas ou na própria perspectiva do professor. Em relação ao tema da nossa pesquisa, o questionamento que fazemos é a respeito da maneira como essas estratégias metodológicas se adequam às práticas leitoras, haja vista o desprovimento de criticidade e entendimento, na grande maioria dos leitores, e as várias formas incorretas de se pensar em praticá-la. O letramento ativo pode ser comparado às metodologias ativas, uma vez que em ambos o professor não é o único a falar e a opinar. Os alunos de salas de aula que promovem o letramento ativo são entusiasmados e interessados, pois suas ideias e pensamentos são considerados. Quando os alunos debatem entre si, interagem com o texto, questionam, estabelecem conexões e fazem inferências estamos diante de estratégias de leitura e metodologias ativas. Segundo Girotto & Souza (2010), essas estratégias podem ser divididas em sete: conhecimento prévio, conexão, visualização, questionamento, inferência, sumarização e síntese. Outras práticas em sala de aula como diálogos durante a leitura compartilhada de um texto, leitura de história sem texto verbal ou trabalho com texto fílmico em que há uma adaptação para o cinema de algum livro, são outras estratégias que ajudam o aluno a estabelecer conexões significativas de leitura. Diferente de literatura como pretexto para ensinar gramática ou temas/normas de conduta com a obrigatoriedade da “literatura-fichas de leitura” (LAJOLO, 1988). Ainda sobre estratégias de leitura, para Solé (1998), uma estratégia poderia ser considerada um procedimento, vista na literatura especializada e na tradição psicopedagógica como “estratégias de leitura”. Porém, tomando o termo “estratégia” como polissêmico, ou seja, diferentes sentidos dependendo do contexto, podemos afirmar, então, que as estratégias usadas na compreensão de um texto constituem um conjunto de ações mentais desenvolvidas pelo leitor para a construção de um sentido. Logo, as estratégias de leitura fazem parte do processo cognitivo da leitura e constituem as operações mentais que o leitor realiza na interação com o texto para construir o sentido. Para a autora, essa construção de sentidos acontece a partir do ato de ler, desenvolvendo funções intelectuais fundamentais para a formação humana. De acordo com Solé:
Aprender a ler não é muito diferente de aprender outros procedimentos
ou conceitos. Exige que a criança possa dar sentido àquilo que se pede que ela faça, que disponha de instrumentos cognitivos para fazê- lo e que tenha ao seu alcance a ajuda de seu professor, que pode transformar em um desafio apaixonante o que para muitos é um caminho muito duro e cheio de obstáculos. (SOLÉ, 1998 apud CARRENHO et al. 2013:03) Na perspectiva de Kleiman (2000), as estratégias de leitura podem ser classificadas como estratégias cognitivas e estratégias metacognitivas. As primeiras são operações inconscientes do leitor, aquelas que não chegam ao nível consciente com perspectivas de utilização das mesmas para o alcance dos objetivos da leitura. Já as estratégias metacognitivas estão diretamente relacionadas à metacognição, ou seja, à capacidade do leitor em conhecer o próprio conhecimento, de pensar sobre sua atuação, de planejá-la e regular a atuação inteligente. Assim, enfatizar a necessidade do uso de diversos textos na sala de aula (multiplicidade de gêneros) e de metodologias/estratégias que visem a realidade vivida pelo aluno atual é desafio e requer da escola e do professor um planejamento cuidadoso que englobe diversas práticas de leitura, isso é o que os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (1997) determinam como princípios básicos. A criança só se tornará uma leitora fluente se a leitura se tornar um prazer e puder contribuir para a melhoria da sua aprendizagem. O contato com o texto escrito é necessário mesmo quando a criança não reconhece a palavra, para que, ao se tornar adulta, possa escolher dentre os vários textos que circulam socialmente, aquele que atende às suas necessidades naquele momento.
CONCLUSÃO
O estudo realizado permitiu-nos compreender, a partir do referencial
teórico selecionado, a importância das práticas de leitura na escola para inserção dos indivíduos na sociedade. A leitura e a escrita são fundamentais, visto que desenvolvem as habilidades necessárias para ter acesso à informação, a ampliação do vocabulário, a criticidade e a busca de novos conhecimentos. Porém, sabe-se que a escola privilegia a escrita em detrimento da leitura. É importante que a leitura e a escrita sejam planejadas sem que haja secundarização de uma ou ambas as partes pelo professor. Quanto às metodologias ativas, consideramos tratar-se de uma possibilidade de recurso didático para uma formação crítica e reflexiva que se lança como uma prática pedagógica inovadora, trazendo a participação como requisito fundamental para uma aprendizagem significativa, o que responde nossa pergunta inicial sobre as contribuições dessas metodologias para a formação de leitores mais proficientes, porém não esgota a necessidade de pesquisas que ainda precisam ser realizadas nesse campo. O leitor será formado a partir de novas metodologias que privilegiam a autonomia e, ao professor, cabe organizar-se para obter benefícios das metodologias ativas para a formação de seus alunos na área da leitura, que também deve ser autônoma.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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