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AULA 3

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
E COLABORATIVA

Profª Marilene S. S. Garcia


TEMA 1 – INTRODUÇÃO

A presente aula tem como objetivo trabalhar questões mais práticas


relativas à aprendizagem colaborativa. Contudo, entender o lado prático ainda
demanda conhecer detalhes teóricos sobre a natureza, as atividades, os
propósitos das práticas pedagógicas.
No âmbito educacional, as práticas pedagógicas, sejam elas propostas com
maior ou menor grau colaborativo, estão alinhadas a programas, planos de ensino
e abordagens pedagógicas. Há sempre alguma forma de conexão educacional
que se liga às práticas; elas não são ações isoladas e também emergem de ações
dialógicas, negociadas entre professores e alunos.
Por exemplo, quando se parte de uma concepção de um aluno mais ativo
e engajado, as práticas colaborativas, que implicam metodologias ativas, ganham
mais adesão, por serem mais adequadas a tal perfil de abordagem.
Porém, ao contrário, quando se parte de uma concepção de que o discurso
pedagógico é unilateral, vindo sob o domínio do professor ou dos livros didáticos,
isso engessa as práticas mais ativas e colaborativas, dispondo menor espaço para
as construções coletivas e mais criativas de conhecimento.
Dessa maneira, nesta aula, vamos trabalhar o conceito de práticas
pedagógicas, focando a visão colaborativa, na sequência, exemplificando tipos de
suporte teórico que as influenciam de sobremaneira as realidades do cotidiano
escolar, além de mostrar um bom ilustrativo para condução de práticas da
aprendizagem colaborativa relacionadas a tecnologias digitais de comunicação e
informação. Alguns exemplos trabalhados são o Busuu, aplicativo para a
aprendizagem de línguas, e a plataforma educacional Edmodo.

TEMA 2 – O QUE É UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA

Entendemos que seja importante esclarecer, inicialmente, o que é uma


prática pedagógica, para que na sequência possamos trabalhar os aspectos
teóricos relacionados a elas, direcionando aos aspectos da aprendizagem
colaborativa.
Uma prática pedagógica, como o próprio termo já sinaliza, evidencia sair
do âmbito da teoria e adentrar ao âmbito da ação. Isso deve significar juntar os
pressupostos teóricos, informações, ter um foco e dar soluções a problemas reais
que possam viabilizar a formação de pessoas, na construção de saberes.

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Dessa forma, tal conceito de prática implica a produção de algo, uma forma
de vivência, uma experiência, envolve um processo que busca concretizar uma
solução, com o uso de técnicas pedagógicas adequadas à maturidade do público-
alvo, às condições e contextos educacionais.
Contudo, embora as práticas pedagógicas sejam o vínculo entre teorias e
vivências, elas não podem se restringir ao que se concebe por educação, que é
muito mais ampla. As práticas são a formalização de interações entre professores
e alunos e têm suas funções, em suas categorias metodológicas e de técnicas.
Nesse sentido, também se deve entender que as práticas ainda são parte
de metodologias aplicadas para a realização do ensino e da aprendizagem. Entre
suas características, pode-se destacar: uma organização, que implica princípio,
meio e fim; propósitos; uso de recursos; finalidade e, finalmente, uma resolução.
Um exemplo de uma prática comum nas escolas que pode ser destacada:
a escrita de um texto, que pode ser feita em colaboração, com a finalidade de
passar um tipo informação para um determinado público, usando algumas fontes
de referências, com uma linguagem adequada, relacionada a um universo de
conhecimento ou a uma matéria escolar.
Por ser colaborativo, sua construção deve cuidar de sua coerência, da
coesão, do foco da mensagem, equilibrando as variáveis individuais de
linguagem.
Dessa maneira, essa atividade prática pode gerar desdobramentos sobre
de onde se origina e aonde se quer chegar, em termos de divulgação,
reapropriação, reuso etc.
Esse exemplo ilustra que o fundamental é que uma prática pedagógica não
esteja deslocada do seu contexto de realização, envolvendo sempre alunos e
professores, trabalhando também sentidos críticos e criativos.
No âmbito educacional, as práticas, de modo geral, já contemplam um
histórico que envolve a realização de atividades, visto que estão pautadas,
inicialmente, pelas concepções teóricas que sustentam suas diferentes
abordagens pedagógicas. Vale a pena citar um exemplo que é bastante ilustrativo
de prática no contexto educacional, que é a condução de projetos.
Nesse caso, os projetos são práticas que envolvem uma série de
componentes, sejam humanos e materiais, que buscam engajamento e também
a colaboração.

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Com a aplicação de projetos, pode-se acompanhar um diferencial de
atividades que se deslocam do foco do conteúdo e matrizes previamente
definidos, e se direciona para a construção criativa, pelo aproveitamento de
soluções coletivas.
As atividades também podem ser desencadeadas pelas tecnologias
emergentes, por exemplo, com o uso de plataformas de comunicação, informação
e interação para assuntos educacionais, como o Google Classroom e o Edmodo.

TEMA 3 – CONCEPÇÕES QUE SUSTENTAM AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Uma prática vincula-se a alguma abordagem ou alguma linha teórica


relacionada aos processos de aprendizagem, o que definirá de como ela se
comporta nos processos de ensino e aprendizagem.
Por exemplo, na concepção behaviorista, apresenta-se um conjunto de
práticas voltadas a atividades que valorizam a reação dos aprendizes por conta
de estímulo-resposta, associações, reforçamento, emoções positivas, busca de
alteração de comportamentos, recompensas, repetição, de forma que suas
práticas correspondem a tais pressupostos.
Já, sob uma outra vertente, podemos citar a concepção das teorias de base
cognitivista, nas quais se assumem práticas que levem à construção de novas
ideias, à proposição de soluções criativas, ao pensamento crítico, ao uso de
raciocínio lógico, formas de indagação entres aspectos.
Também se torna importante destacar o suporte teórico das concepções
sociointerativas, que professam a interação como ponto importante para as
aprendizagens e o desenvolvimento cognitivo (Ausubel, 1962; 1968). Nessa
concepção, as atividades podem ser direcionadas à reflexão, podem ser
oportunidades para participar de debates e para o uso de argumentação,
processos que expliquem por que foi utilizado algum tipo de indagação ou
questionamento, bem como a apresentação de resultados a todos e em pares.
(Vickery, 2016).
Nesse contexto, Marques e Carvalho (2017, p. 3), mais especificamente,
baseando-se nas teorias sociointerativas de Vygotsky, entendem sobre práticas
educativas/pedagógicas o seguinte:

com Vygotsky (1998), chegamos à compreensão de que todo bom


ensino que se desenvolve por meio de práticas educativas é aquele que
gera aprendizagem e colabora com o desenvolvimento de funções
psíquicas superiores, ou seja, colabora com o desenvolvimento do

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pensamento, linguagem, memória, atenção dirigida, formação de
conceitos, consciência, entre muitas outras funções que nos tornam
qualitativamente diferentes dos outros animais. Portanto, prática
educativa bem-sucedida é aquela que contribui para que os alunos
tornem-se mais humanos do ponto de vista sócio-histórico.

As mesmas autoras também relacionam o conceito de práticas


pedagógicas por meio de questões emocionais, com expansão dos afetos, que
ampliam as mentes humanas. Assim, elas afirmam:

com Espinosa (2007), esse conceito se expandiu, de modo que


passamos a compreender também que bem-sucedida é toda prática
educativa que afeta os sujeitos de alegria e, consequentemente,
contribui para aumentar a potência de ser e agir tanto do professor
quanto do aluno. Ou seja, práticas educativas bem-sucedidas são
aquelas que geram aprendizagem e desenvolvimento humano, porque
contribuem para a expansão de afetos alegres que potencializam
mentes e corpos humanos a agirem com compromisso social (Marques;
Cavalho, 2017, p. 3).

Há ainda inúmeros aspectos teóricos que se associam às práticas, além


dos anteriormente citados.
Dessa maneira, Vickery (2016, p. 2) associa a tais questões fatores
relacionados às habilidades do pensamento, a saber:

• desenvolvimento da metacognição e do pensamento por meio da


apresentação do aluno;
• avaliação em prol da aprendizagem, incluindo autoavaliação e avaliação
pelos pares;
• aprendizagem colaborativa e trabalho em grupos e;
• debate.

TEMA 4 – EXEMPLOS DE PRÁTICAS COM USO DE TECNOLOGIAS

Contudo, independentemente da concepção prevalecente, conforme


destacamos anteriormente, as práticas implicam uma ação, promover acessos e
usos de suportes de formatos, linguagens, entre outros aspectos.
Em tempos de tecnologias digitais, tais práticas têm se apropriado de
plataformas de interação, de aplicativos, de redes sociais, que atualmente têm
combinado diferentes focos teóricos e abordagens, procurando oferecer variados
recursos para a aprendizagem.

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Um exemplo a se destacar podem ser os aplicativos para aprendizagem de
línguas estrangeiras, como o Busuu 1, que qualifica comunidades de falantes
nativos para auxiliar nas trocas e interações com os aprendizes, que visam ao
domínio da língua-alvo.
Trata-se de uma plataforma de aprendizagem desenvolvida com base em
uma comunidade colaborativa, como uma rede social, em que muitas vezes seus
colaboradores trabalham de forma voluntariosa. Assim, o Busuu é definido como
uma plataforma comunitária, que visa ao aprendizado informal, ou híbrido de
língua estrangeira, podendo também incorporar o conceito de blended-learning,
pois introduz o celular nos programas presenciais.
Na plataforma do Busuu, a ideia é que o falante nativo se envolva em
relações interativas dessa comunidade, para que possa auxiliar os aprendizes a
ampliar o vocabulário, a aprimorar a pronúncia, a corrigir produções escritas, a
melhorar suas habilidades linguísticas e comunicativas em língua estrangeira.
No caso específico dessa plataforma, em que se insere o aplicativo para a
aprendizagem de inúmeras línguas, trabalha-se com o conceito de um design
educacional universal, com algumas adaptações culturais. A ênfase é fazer com
que o aprendiz possa intuitivamente percorrer interfaces e construir sua forma de
aprender: como memorizar, como exercitar, como se fazer a sua gestão do tempo.
Eles têm o suporte da comunidade, que trabalha colaborativamente, na medida
em que é requisitada.
Outro exemplo a se destacar é a plataforma de comunicação e interação
educacional do Edmodo 2, que promove também uma rede de ações e relações
interpessoais voltadas a comunidades de aprendizes sobre determinado tema, em
que as postagens são trabalhadas e discutidas, com forte inspiração nos
processos presentes em redes sociais.
Segundo Silva e Lima (2014, p. 43)

A rede social Edmodo, voltada para o ensino colaborativo, amplia o


conceito de AVA – ambiente virtual de aprendizagem com sua inovação
de design e conceitos. A rede social Edmodo foi constituída com a
preocupação com o ensino em redes sociais e baseia suas tendências
nesse novo mercado, sendo precursor em plataformas com design de
ícones, atrativo e muito intuitivo, facilitando a navegação para os
usuários. No processo educacional, a rede social educativa Edmodo é
mais uma opção disponível para que o professor possa variar suas
ações didáticas, tornando a construção do conhecimento mais

1
Busuu. Disponível em: <www.busuu.com>.

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significativa e próxima da realidade do aluno e, como qualquer outro
recurso, deve ser entendido como apoio.

Dessa forma, pode-se extrair desses dois exemplos de uso de tecnologias


voltadas a práticas pedagógicas colaborativas as seguintes constatações:

1. As práticas pedagógicas propostas se alinham a uma aprendizagem


autônoma, de educação informal, mas que ao mesmo tempo incorpora a
razão de comunidade colaborativa. Elas buscam diferentes formas de
interação; questionamentos; aprimoramentos nos processos de como
aprender com esses recursos (Garcia, 2018).
2. As práticas pedagógicas propostas relacionam-se a possibilidades de
ensino híbrido (blended-learning), em que os programas educacionais
integram o uso de dispositivos móveis, orientando os aprendizes a como
extrair formas interativas de aprendizagem, seja pela mediação com
interfaces, seja com as comunidades que se formam e atuam
colaborativamente.

TEMA 5 – DESENVOLVENDO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COLABORATIVAS

Ao desenvolver práticas pedagógicas, em contratos dialógicos entre alunos


e professores, entende-se que o processo de ensino e aprendizagem não poderá
ser centralizador, preso ao papel do professor, mas deve ser aberto, absorvendo
as variadas formas de pensar sobre um problema, sobre uma fonte de pesquisa,
sobre um argumento, sobre uma formatação da mensagem, sobre uma
linguagem, entre outros aspectos.
Segundo Garcia (2018), no contexto escolar formal, deve-se ater aos planos
de trabalho, a fim de dar consistência às práticas de aprendizagem colaborativa.
A autora sugere a inter-relação entre:

1. Plano do sistema de educação – que contempla as diretrizes que


deverão ser inspiradoras das práticas educacionais, abrangendo as
políticas públicas, diretrizes de programas educacionais, tanto na
esfera municipal quanto na estadual ou federal.
2. Plano da instituição – faz transparecer o DNA da escola, é o plano
global em que a escola acredita para mover suas ações
educacionais;
3. Plano de aula – aquele em que o protagonista é o professor, levando
em consideração os planos acima citados, porém dando sua
assinatura própria, por conhecer os diferenciais da escola, seus
alunos e a extensão das ações implantadas (Garcia, 2018, p. 104-
105).

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As práticas colaborativas, nesse sentido, devem ser coerentes com o
contexto educacional e linhas pedagógicas adotadas.
O aluno, que é bem orientado, tem confiança e autoestima, tem voz, está
pautado por argumentos consistentes, mostra sua opinião, é o que está preparado
para tais atividades que exigem responsabilidade de colaboração.
Exemplificamos algumas dessas práticas:

1. Situações desafiadoras de investigação, em que o aluno possa escolher


dentro de seu grupo o que mais lhe interessa.
2. Orientações na forma de curadoria, com negociação de metas de pesquisa.
3. Atividades que demandam interação constante.
4. Ambientes de troca que sejam favoráveis à argumentação e ao debate.
5. Tratamento da informação em termos de uso de fontes confiáveis.
6. Discussão sobre suspeita de uso de fontes não confiáveis e fake news.
7. Compartilhamento de informação contínuo e focado.
8. Possibilidade de mostrar soluções criativas e que possam ser avaliadas e
selecionadas pelo coletivo.
9. Incentivo a novas conexões, acolhendo as diferentes opiniões.
10. Ampliar e disponibilizar formas de comunicação síncronas/assíncronas,
extraindo o suporte de plataformas on-line.

Para tanto, pode-se oferecer as seguintes metodologias ativas.

• Aprendizagem baseada em projetos – promove o crescimento do aluno


nos âmbitos cognitivo, social, afetivo e emocional. O aluno é guiado pelo
professor para elaborar duas indagações, levantar problemas, bem como
propor, prototipar, testar e avaliar soluções, o que orienta à aprendizagem
profunda.
• Aprendizagem baseada em investigações em grupo – promove a
interação e a busca de processos investigativos, com discussão da
qualidade da informação da encontrada e coautorias de produção de novos
conteúdos.
• Fóruns de debates e discussão – promovem o aprofundamento dialético
das questões, instituindo o respeito à diversidade de opinião.

Desse modo, reforçando a colaboração nos aspectos anteriormente


apresentados, temos que olhar a sala de aula como um ambiente natural em
termos de colaboração, sendo esta não imposta ou forçada.

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Assim, segundo Torres e Ilara, “na sala de aula colaborativa não é fornecido
nenhum treinamento formal pelo professor sobre técnicas de trabalho em grupo,
pois o professor assume que os alunos possuem as habilidades sociais
necessárias para o trabalho em grupo” (Torres; Ilara, 2014, p. 69).
Na verdade, espera-se tanto de professores quanto de alunos um
comprometimento com as metodologias ativas, com objetivos comuns e
participação efetiva e engajada.

FINALIZANDO

Nesta aula, é necessário destacar que a aprendizagem colaborativa tem


um componente forte, que são as práticas pedagógicas. Sem elas, fica difícil
alcançar processos em que alunos e professores possam se engajar em busca
de um objetivo, de uma meta de ensino-aprendizagem.
As práticas pedagógicas, ao contrário do que se possa esperar,
apresentam o suporte de teorias de aprendizagem conhecidas, mas que estejam
alinhadas com os planejamentos e linhas pedagógicas adotadas pela escola.
Os processos colaborativos das práticas aparecem na medida em que são
discutidos, de forma transparente e simétrica, entre alunos e professores, quais
metas alcançar, quais conteúdos tratar, quais projetos se engajar,
necessariamente relacionados com a realidade, ou com a visão que se tem em
torno de interesses comuns sobre a realidade.

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REFERÊNCIAS

AUSUBEL, D. P. Educational Psychology: A Cognitive View. New York: Holt,


Rinehart and Winston, 1968.

_____. A subsumption theory of meaningful verbal learning and retention. Journal


of General Psychology, v. 66, p. 213-224, 1962.

BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação acadêmica. São Paulo:


Papiros, 2000.

BENDER, W. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada


para o século XII. Trad. Fernando S. Rodrigues. Porto Alegre: Penso, 2015.

GARCIA, M. S. S. Mobilidade tecnológica e planejamento didático. São Paulo:


Senac, 2018.

_____. Da ponta dos dedos à ponta da Língua. Latvia: Novas Edições


Acadêmicas, 2018.

MARQUES, E. S. A.; CARVALHO, M. V. C. Prática educativa bem-sucedida na


escola: reflexões com base em L. S. Vygotsky e Baruch de Espinosa. Revista
Brasileira de Educação, v. 22, n. 71, 2017.

SILVA, S. A. A.; LIMA, D. C. P. O. Uso pedagógico da rede social Edmodo:


formação continuada de professores de língua espanhola e a socialização do
conhecimento. In: PARANÁ. Secretaria do Estado da Educação do Paraná. Os
desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor – PDE.
Paraná, 2014.

TORRES, P. L.; IRALA, E. A. Aprendizagem colaborativa: teoria e prática. In:


LUPION, P. T. (Org.). Complexidade: redes e conexões na produção do
conhecimento. Curitiba: Senar, 2014.

VICKERY, A. Aprendizagem ativa: nos anos iniciais do ensino fundamental. Porto


Alegre: Penso, 2016.

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