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AULA 2

PROJETOS E INOVAÇÃO
NA EDUCAÇÃO

Profª Oriana Gaio


CONVERSA INICIAL

Em decorrência da revolução tecnológica que tem impactado diversos


setores da sociedade, e principalmente a educação, os profissionais que
trabalham com ensino estão expostos a um grande desafio: buscar metodologias
de aprendizagem que oportunizem uma práxis pedagógica que vá além do ensino
técnico e tradicional para a formação de alunos cada vez mais críticos, reflexivos
e transformadores.
No relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI
para Unesco, Delors (2010) indica que a educação deve envolver quatro
aprendizagens essenciais que são bases do conhecimento de cada indivíduo:
aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.
Nesse sentido, as metodologias ativas podem ser aplicadas com a finalidade de
aprimorar competências pessoais e envolver os quatro pilares apresentados, indo
além das competências que são trabalhadas no ensino tradicional.
Nesse sentido, as metodologias ativas são uma das alternativas para
aplicação em sala de aula que permitam aprendizagem significativa. Nesta aula,
abordaremos as definições sobre metodologias ativas e como ocorre a
aprendizagem ativa. Além disso, apresentaremos algumas abordagens ativas
importantes no contexto educacional: peer instruction, sala de aula invertida,
movimento maker e design thinking.

TEMA 1 – METODOLOGIAS ATIVAS

As metodologias ativas têm como objetivo a participação dinâmica de todos


os envolvidos no processo de ensino e principalmente a inclusão do aluno como
protagonista responsável pelo seu aprendizado. As metodologias ativas são o
“ponto de partida para avançar para processos mais avançados de reflexão, de
integração cognitiva, de generalização, de reelaboração de novas práticas”
(Moran, 2015, p. 18). Ou seja, alunos e profissionais passam a assumir um papel
ativo e de protagonista na aprendizagem, deixando para trás o perfil de receptores
de informações, algo que é comum na educação tradicional (Filatro; Cavalcanti,
2018).
A autonomia assumida pelos alunos em relação às suas atividades
escolares oportuniza a motivação, uma vez que há o sentimento de pertencimento
ao processo, bem como os alunos tendem ao engajamento, contando com

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assiduidade nas aulas ou atividades. Além disso, podemos mencionar questões
ligadas à aprendizagem, melhoria de desempenho, entre outras. Berbel (2011, p.
29) acrescenta que

o engajamento do aluno em relação a novas aprendizagens, pela


compreensão, pela escolha e pelo interesse, é condição essencial para
ampliar suas possibilidades de exercitar a liberdade e a autonomia na
tomada de decisões em diferentes momentos do processo que vivencia,
preparando-se para o exercício profissional futuro. Para isso, deverá
contar com uma postura pedagógica de seus professores com
características diferenciadas daquelas de controle.

Dessa forma, podemos dizer que as metodologias ativas oportunizam os


seguinte (Figura 1):

Figura 1 – Vantagens das metodologias ativas

desenvolvimento efetivo de
visão transdisciplinar do
competências para a vida visão empreendedora
conhecimento
profissional e pessoal

a geração de ideias e de
o protagonismo do aluno, o desenvolvimento de nova conhecimento e a reflexão,
colocando-o como sujeito postura do professor, agora em vez de memorização e
da aprendizagem como facilitador, mediador reprodução de
conhecimento

Fonte: Camargo; Daros, 2018.

À vista do exposto, as metodologias ativas permitem que o aluno esteja


presente em relação aos problemas e desafios que estimulam a capacidade
intelectual. Além de obterem as informações, eles são encorajados a concentrar-
se nelas para que seja possível a evolução do pensamento crítico, reflexivo e
assim o desenvolvimento da autonomia na formação do ser humano e de futuros
profissionais.
Contudo, para que funcione toda e qualquer metodologia adotada em sala
de aula, os professores precisam estar dispostos a utilizar as novas formas de
ensinar e possuir competências necessárias para as novas tecnologias. Sendo
assim, o papel do professor é de extrema importância para incentivar a autonomia
do aluno, quando

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a. nutre os recursos motivacionais internos (interesses pessoais);
b. oferece explicações racionais para o estudo de determinado conteúdo
ou para a realização de determinada atividade;
c. usa de linguagem informacional, não controladora;
d. é paciente com o ritmo de aprendizagem dos alunos;
e. reconhece e aceita as expressões de sentimentos negativos dos
alunos. (Reeve, 2009, citado por Berbel, 2011, p. 28)

Podemos dizer, então, que as metodologias ativas de ensino exigem


igualmente de professores e alunos, pois ambos precisam acreditar no potencial
pedagógico da metodologia que está sendo trabalhada. A seguir, antes de
destacarmos algumas formas de metodologias ativas que podem ser aplicadas
como meio didático e pedagógico para o desenvolvimento dos alunos, falaremos
da aprendizagem ativa e das abordagens teóricas que fundamentam a adoção de
metodologias ativas em contextos educacionais.

TEMA 2 – APRENDIZAGEM ATIVA

Com base nas ideias apresentadas acerca das tecnologias, podemos dizer
que elas propiciam ambientes e contextos para aprendizagem crítica,
personalizada, compartilhada, mas que devem estar em consonância com a prática
de professores, currículos e metodologias adotadas.
Nesse aspecto, precisamos adotar metodologias de aprendizagem
centradas no estudante e que propiciem o aprendizado ativo, que é decorrente da
combinação de dois aspectos importantes: o ensino personalizado e a
aprendizagem baseada na competência (Horn; Staker, 2015). No ensino
personalizado, o professor é um mediador que auxilia o aluno potencializar a
aprendizagem do aluno, ao passo que a aprendizagem baseada na competência
exige que o discente tenha o conhecimento básico acerca dos temas a serem
trabalhados, para então evoluir no momento que realizar as ativas em sala de aula.
A pirâmide de aprendizagem proposta por Dale (1969, citado por Camargo; Daros,
2018) (Figura 2) corrobora essas afirmações ao evidenciar a utilização de
atividades de aprendizagem mais ativas, por meio de práticas colaborativas.
Segundo esse autor, estratégias de aprendizagem com esse foco melhoram o
aprendizado e a capacidade de retenção do conhecimento (Dale, 1969, citado por
Camargo; Daros, 2018). Dessa forma, é possível observar o percentual de
retenção de conhecimento do aluno em virtude do método passivo ou ativo
adotado.

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Figura 2 – Pirâmide de aprendizagem de Dale

Fonte: Dale, 1969, citado por Camargo; Daros, 2018, p. 16.

Vale ressaltar que a aprendizagem por meio de métodos passivos como uma
palestra ou leitura também é importante, contudo metodologias ativas com base no
compartilhamento e no questionamento, por exemplo, tornam-se substanciais para
a aprendizagem. Além do mais, os indivíduos aprendem de diversas formas e
diferentemente umas das outras, e a aprendizagem tende a ser significativa de
acordo com o que é mais relevante para cada pessoa e que propicie conexões e
emoções com o que está sendo estudado. Para Bacich e Moran (2018, p. 2),

a aprendizagem é ativa e significativa quando avançamos em espiral, de


níveis mais simples para mais complexos de conhecimento e competência
em todas as dimensões da vida. Esses avanços realizam-se por diversas
trilhas com movimentos, tempos e desenhos diferentes, que se integram
como mosaicos dinâmicos, com diversas ênfases, cores e sínteses, frutos
das interações pessoais, sociais e culturais em que estamos inseridos.

Diversos teóricos, como Freire (1996), Piaget (2006), Vygotsky (1998),


dentre outros, apresentam teorias diferentes, mas que indicam que os indivíduos
aprendem ativamente, levando em conta o contexto em que cada um está inserido.
Além disso, é comum entre os autores o questionamento acerca da transmissão de
conhecimento e avaliação uniforme para todos os discentes.
Bacich e Moran (2018) confirmam que a aprendizagem é sempre ativa, além
de desenvolver a capacidade cognitiva de cada aprendiz. Outro ponto importante
refere-se ao fato de que as aprendizagem ativa e reflexiva devem estar associadas
para integrar os processos, os conhecimentos e as competências daquilo que está
sendo aprendido em determinada atividade ou tarefa.
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Á vista do exposto sobre aprendizagem ativa e antes de relacionarmos as
metodologias ativas que podem ser trabalhadas para o processo de ensino e
aprendizagem, é de extrema importância entendermos que a aprendizagem tem
sido explicada sob diversos ponto de vista teóricos. De acordo com Filatro e
Cavalcanti (2018), três abordagens teóricas fundamentam a adoção de
metodologias ativas em contextos educacionais: o cognitivismo, o
socioconstrutivismo e o conectivismo. Vale ressaltar que cada uma delas relaciona
conjecturas acerca da educação e os fatores que influenciam a experiência de um
aluno (ensino, aprendizagem e avaliação)
A primeira abordagem teórica apresentada é o cognitivismo, que visa
fundamentar a aplicação de metodologias ativas na compreensão dos processos
mentais dos alunos, ou seja, os processos que nos permitem gerar o conhecimento.
Dessa forma, relacionamos a seguir as principais características do cognitivismo
relacionadas às metodologias ativas:

Figura 3 – Características do cognitivismo

Fonte: Filatro; Cavalcanti, 2018, p. 22.

A segunda abordagem teórica refere-se ao socioconstrutivismo, que indica


que os indivíduos não aprendem por meio transmissão de informações e sim pela
construção de novos conhecimentos. A seguir, indicamos os principais aspectos do
socioconstrutivismo e das metodologias ativas:

Figura 4 – Características do socioconstrutivismo

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Fonte: Filatro; Cavalcanti, 2018, p. 23.

A última abordagem refere-se ao conectivismo, que defende que as


metodologias ativas para o processo de ensino e aprendizagem devem ser
aplicadas a indivíduos autônomos, cuja aprendizagem resulte de atividades menos
estruturadas e mediadas por recursos digitais. Adiante, listamos os principais
pontos do conectivismo em relação às metodologias ativas:

Figura 5 – Características do conectivismo

Fonte: Filatro; Cavalcanti, 2018, p. 29.

Provavelmente você esteja se perguntando como escolher a abordagem


teórica apropriada para a utilização de metodologias ativas em sala de aula. A
resposta para essa pergunta é muito simples: dependerá do grau de autonomia

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do seu aluno! A seguir, relacionamos como cada perspectiva (pedagogia,
andragogia e heutagogia) pode estar alinhada a uma ou mais abordagens
teóricas:

Tabela 1 – Relação entre as perspectivas e as abordagens teóricas

PERSPECTIVA DESCRIÇÃO ABORDAGEM EXEMPLO


TEÓRICA

PEDAGOGIA Educação de Cognitivismo e O professor orienta duplas


crianças e socioconstrutivismo de alunos para que elaborem
adolescentes mapas mentais com
representações gráficas de
relações existentes entre um
conjunto de conceitos
trabalhados no conteúdo
curricular.

ANDRAGOGIA Educação de adultos Socioconstrutivismo Educação corporativa que


autônomos e adota a proposta da sala de
experientes aula invertida (flipped
learning). Os profissionais
têm acesso ao conteúdo que
deve ser estudado antes da
aula e o encontro na sala de
aula física (ou em espaços
digitais) é direcionado por
um especialista para gerar a
discussão e também propor
atividades

HEUTAGOGIA Relacionado às Conectivismo Um grupo de alunos


demandas da era egressos de um curso de
digital, em que as pós-graduação que formam
informações estão uma comunidade na rede
disponíveis e os social profissional LinkedIn.
indivíduos têm Nesse ambiente, eles
autonomia para compartilham com seus
decidir como e pares conteúdos
quando querem relacionados ao seu campo
aprender de atuação profissional.
(autoaprendizagem)

Fonte: Filatro; Cavalcanti, 2018, p. 19.

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Como dissemos anteriormente, a adoção da metodologia ativa depende do
público-alvo dos aprendizes, bem como o grau de protagonismo que esses podem
assumir. Dessa forma, as abordagens e métodos devem estar equilibrados e
adequados em relação à aprendizagem individual e coletiva. Ressaltamos também
que as metodologias ativas podem ser combinadas de diversas formas:

Na educação formal, há muitas combinações possíveis, com variações


imensas na aplicação e resultados, que vamos experimentando de forma
dinâmica e constante, reavaliando-as e reinventando-as de acordo com a
conveniência para obter os resultados desejados. (Bacich; Moran, 2018)

A seguir, abordaremos algumas metodologias ativas como peer instruction


(avaliação por pares), sala de aula invertida, movimento maker e design thinking,
que podem ser aplicadas a diversos contextos educacionais, mas cuja adoção deve
estar de acordo com os propósitos pretendidos.

TEMA 3 – ABORDAGENS ATIVAS: PEER INSTRUCTION (AVALIAÇÃO POR


PARES)

A metodologia Peer Instruction (PI) foi desenvolvida pelo professor Eric


Mazur (2015) com base em suas inquietações ao perceber as dificuldades
apresentadas por seus alunos para compreender conceitos básicos da disciplina
de física quando começou a lecionar na Universidade de Harvard (EUA). A proposta
metodológica PI se fundamenta em promover uma aprendizagem colaborativa e o
desenvolvimento de habilidades voltadas para o pensamento crítico, a resolução
de problemas e a tomada de decisão por parte dos envolvidos.
De acordo com Mazur (2015, p. 10), os objetivos básicos da metodologia
peer instruction são os seguintes: explorar a interação entre os estudantes durante
as aulas expositivas e focar a atenção deles nos conceitos que serão usados como
fundamentação inicial para uma compreensão aprofundada sobre o conteúdo.
Durante muito tempo, as aulas puramente expositivas com professores altamente
qualificados bastavam para o que se dizia de uma “educação de qualidade”. No
entanto, hoje, o que se espera de uma aprendizagem significativa e que faça
sentido ao aluno, se apresenta por meio de práticas que rompam com paradigmas
resultantes da passividade no processo de transmissão do conhecimento.
A aplicação da metodologia pode ocorrer de maneira bastante simples,
além de ser possível sua aplicação com sucesso em vários segmentos da

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educação sem precisar da disponibilidade de recursos financeiros, mas sim da
organização e disposição dos envolvidos com o processo de aprendizagem.

3.1 Teste conceitual: aplicação

A metodologia se aplica ao que foi descrito por Mazur (2015): a aula deve
acontecer, inicialmente, por meio de apresentações curtas sobre os pontos
chaves do conteúdo, cada uma seguida de um teste conceitual, que são pequenas
questões conceituais envolvendo o assunto discutido. Após essas apresentações,
deve ser dado um tempo para os alunos formularem suas respostas e, em
seguida, eles devem discuti-las com os demais colegas. Nesse estágio, os alunos,
de maneira intencional, começam a pensar com base nos argumentos
anteriormente desenvolvidos e conseguem articular com maior clareza sua
compreensão sobre o conceito.

• Proposição da questão (cerca de 1 minuto);


• Tempo para os alunos pensarem (cerca de 1 - 2 minutos);
• Os alunos anotam suas respostas individuais (opcional);
• Os alunos convencem seus colegas (Peer Instruction) (tempo maior – até
5 minutos);
• Os alunos anotam as respostas corrigidas (opcional);
• Feedback para o professor: registro das respostas (cerca de 2 minutos);
• Explicação da resposta correta (até 5 minutos)

3.2 Procedimento

• Se a média de acertos for superior a 70% do total de alunos da turma, o


professor pode seguir em frente e abordar um novo tópico;
• Se a média de acertos for de 30 a 70%, o professor deve promover uma
nova discussão entre os pares seguido de nova votação;
• Se a média de acertos for inferior a 30% do total de alunos da turma, o
professor deve retomar o assunto com nova explanação a respeito.

Esse movimento dos alunos contribui significativamente na aprendizagem


no sentido de estimular seu desenvolvimento cognitivo, e também, o
relacionamento interpessoal e o desenvolvimento de habilidades, que até então
não são aprendidas em um ambiente educacional, dentre elas: empatia,

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confiança, criatividade, compaixão, conscienciosidade. Segundo Araujo e Mazur
(2013),

O processo de convencimento entre os alunos denotará duas situações,


a primeira quando o aluno que estiver inseguro com sua resposta
verificar que os demais do grupo também fizeram a mesma opção ele irá
reagir de forma mais confiante, reforçando o raciocínio e a clareza sobre
o assunto, enquanto que numa segunda situação, percebe-se que em
determinadas vezes os alunos que conseguem compreender a questão
dada com mais facilidade são capazes de ensinar aos outros de forma
mais eficiente até mesmo do que o próprio professor, isto porque ainda
possuem uma noção das dificuldades e limitações em torno do assunto,
enquanto que o professor por estar exposto ao assunto há mais tempo,
perdeu, mesmo que inconsciente, as dificuldades iniciais sobre o
assunto.

Certamente que, para aplicar o PI, o professor, se desejar, poderá contar


com alguns recursos tecnológicos. Um exemplo são os clickers – pequenos
aparelhos portáteis que permitem uma resposta rápida sobre alguma questão
estabelecida pelo professor. O uso ou não deles não interfere na legitimidade da
prática, se aplicada com cartões desenvolvidos pelo próprio professor ou mesmo
com o simples levantar de mãos.
A relevância da metodologia está focada não no professor ou nos aparatos
da aula, mas sobre o aluno e na maneira como desenvolve mentalmente seu
processo de aprendizagem, pois cientificamente já se comprovou que
aprendemos não quando ouvimos e sim quando estamos fazendo, discutindo ou
ensinando outras pessoas.

TEMA 4 – ABORDAGENS ATIVAS: SALA DE AULA INVERTIDA E MOVIMENTO


MAKER

A seguir, falaremos das abordagens ativas sala de aula invertida, que


envolve questões que mesclam o presencial com o online e também veremos os
principais aspectos do movimento maker.

4.1 SALA DE AULA INVERTIDA

A sala de aula invertida, originada do termo em inglês flipped classrom ou


flipped lerning, pode ser definida como “uma técnica educacional que consiste em
duas partes: atividades interativas de aprendizagem em grupo dentro da sala de
aula e instrução individual direta baseada em computador” (Bishop; Verleger, 2013,
p. 6).

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De acordo com o relatório Flipped Classroom Field Guide (2014), que
apresenta uma compilação de práticas recomendadas e recursos da comunidade
centrados na sala de aula invertida, define-se a sala de aula invertida como

uma estratégia de ensino que permite que os instrutores se envolvam mais


ativamente com os alunos na sala de aula. Na sala de aula invertida, os
instrutores normalmente atribuem aulas em vídeo gravadas como lição de
casa e usam o tempo da aula para exercícios de aprendizado ativo e
envolvimento direto com os alunos.

Bacich e Moran (2018) relatam que, para aplicar a sala de aula invertida,
deve-se realizar a produção de material que será utilizado online pelo discente e
também realizar o planejamento de atividades que serão desenvolvidas no
momento presencial com os alunos. Logo, a proposta da sala de aula invertida é
que o aluno chegue à sala de aula com o conteúdo previamente estudado, e que o
espaço físico seja um lugar de aprendizagem ativa, que aconteça por meio de
perguntas, discussões e atividades práticas.
Dessa forma, o professor assume papel de mediador do processo de ensino
e aprendizagem e se concentra em esclarecer as dificuldades apresentadas pelos
alunos. Isso não quer dizer que o professor não possa realizar apresentação do
conteúdo, mas o importante é dar espaço ao debate e ao questionamento sobre o
assunto trabalhado. Outro ponto relevante é a utilização das tecnologias da
informação e comunicação para auxiliar no aprofundamento do tema, como
também mesclar outros tipos de metodologias, como simulações e experimentos.
Segundo o Flipped Learning Network (Flipped..., 2014), uma comunidade
online sem fins lucrativos destinada a educadores, é de suma importância que os
professores distingam entre sala de aula invertida e a aprendizagem invertida. Isso
porque inverter uma classe pode ou não levar à aprendizagem invertida:

A aprendizagem invertida é uma abordagem pedagógica na qual a


instrução direta se move do espaço de aprendizado em grupo para o
espaço de aprendizado individual, e o espaço em grupo resultante é
transformado em um ambiente de aprendizado dinâmico e interativo, onde
o educador guia os alunos à medida que aplicam conceitos e se envolvem
criativamente no assunto. (Flipped..., 2014)

E por que utilizar a sala de aula invertida como uma forma de metodologia
ativa? Nas salas de aula invertidas, os professores podem se envolver mais com
os alunos em sala de aula, indicando palestras e demais atividades para serem
realizadas em casa e usar o tempo em sala de aula para atividades mais ativas.
Podemos listar alguns benefícios gerados com o uso da sala de aula invertida,
tanto para os alunos quanto para os professores:
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1. Resultados educacionais aprimorados: as salas de aula invertidas e os
ambientes de aprendizagem combinados podem melhorar
significativamente os resultados educacionais quando comparados às salas
de aula tradicionais;
2. Eficiência: algumas atividades podem demandar maior tempo, como as
palestras. Dessa forma, pode-se ter uma economia de tempo a longo prazo
ao propor que essas atividades sejam realizadas em outro momento, por
exemplo em casa. A sala de aula fica direcionada a atividades ativas de
aprendizado e o professor pode se dedicar à resolução de problemas e
personalização de ensino aos alunos;
3. Palestras interativas: é uma alternativa para criar uma experiência mais
interativa e dinâmica do aluno com uma palestra que envolva questionários
ou outro tipo de interação, como animações, simulações, entrevistas. A
utilização desses recursos tem valor não apenas na manutenção do foco e
no envolvimento dos alunos, mas também na melhoria do seu desempenho.
Além disso, os alunos também têm a capacidade de retroceder, parar e
acelerar as aulas, assisti-las com legendas, permitindo, assim mais controle
na maneira como navegam no conteúdo do curso;
4. Dados e análises: Em ambientes de aprendizado misto, os professores
podem coletar dados sobre o desempenho dos alunos e usar esses dados
para direcionar as aulas e abordar questões que não foram compreendidas
pela maior parte da turma.

À vista do exposto, ao utilizar a sala de aula invertida, é importante saber


qual é o objetivo a ser atingido com essa metodologia ativa na sua disciplina e,
principalmente, propor atividades que sejam coerentes e que auxiliem os alunos
no processo de construção do conhecimento (Bacich; Moran, 2018).

4.2 MOVIMENTO MAKER

Para entendermos melhor o que é a abordagem ativa que envolve o


movimento maker, precisamos compreender a que se refere esse nome. A palavra
maker é originária do inglês e podemos associá-la a um indivíduo ativo que
desenvolve os próprios objetos. Dessa forma, o movimento maker “enfatiza a
relevância do aprender fazendo, a projeção e a construção de artefatos e a
fabricação digital” (Filatro; Cavalcanti, 2018, p. 42). Ou seja, a ideia central da
abordagem ativa do movimento maker é a aprendizagem experiencial.
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Ressaltamos que essa metodologia ativa pode ser utilizada em diferentes
níveis na educação, porque, ao serem expostos aos problemas significativos, os
estudantes apresentam soluções relevantes e, por consequência, cada vez mais
se envolvem na aprendizagem experiencial, principalmente oportunizando aos
alunos desenvolverem um potencial transformador relacionado ao contexto
educacional e social.
Com base naideia do “faça você mesmo” (do inglês do it yourself), o foco
do movimento maker não é apenas o ensino em si, mas, além disso, como deve
ser a produção de objetivos que possam resolver problemas alinhados ao
conteúdo aprendido na sala de aula. As produções são viabilizadas pelos Fab
Labs (laboratório de fabricação), que são espaços dotados de equipamentos
como impressoras 3D e outras máquinas que auxiliam na construção de objetos
físicos.

Saiba mais

Quer saber oncde encontrar um FabLab? Acesse o link a seguir e verifique


no mapa se existe um próximo a você:
FABLABS. Disponível em: <https://www.fablabs.io/labs/map>. Acesso em:
14 nov. 2019.

Dessa forma, o movimento maker contempla os espaços e laboratórios que


têm como finalidade (Figura 6):

Figura 6 – Objetivos do movimento maker

oferecer oportunidades
para que os alunos
possam colocar a “mão desenvolver
na massa” e usufruir de competências motoras demonstrar os limites e
materiais e pela adoção de vantagens dos experimentos
equipamentos que ferramentas, materiais e realizados
geralmente só estão mídias
disponíveis em
ambientes profissionais

ensinar os estudantes
a criar soluções
levar os alunos a aplicar capacitar os alunos propiciar que
(produtos, equipa-
conceitos científicos a para que possam estudantes realizem
mentos, mídias,
situações reais testar hipóteses experimentações
marcas, símbolos
etc.).

Fonte: Filatro; Cavalcanti, 2018, p. 44

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Vale ressaltar que essa abordagem ativa pode ser relacionada à utilização
de materiais recicláveis, como também de baixo custo, oportunizando uma
aprendizagem experiencial voltada às questões de sustentabilidade. Outro ponto
interessante é a possibilidade do movimento maker envolver o ensino híbrido e a
distância, uma vez que os professores podem trabalhar os conceitos no momento
online e as atividades presenciais desenvolvidas nas oficinas e Fab Labs.

Saiba mais

SILVA, J. C. X.; LEAL, C. E. S. Proposta de laboratório de física de baixo


custo para escolas da rede pública de ensino médio. Revista Brasileira de
Ensino de Física, v. 39, n. 1, p. e1401, 2017).
NEVES, H. O movimento maker e a educação – como Fab Labs e
makerspaces podem contribuir com o aprender. Fundação Telefônica Vivo, 1
out. 2015. Disponível em: <http://fundacaotelefonica.org.br/noticias/o-movimento-
maker-e-a-educacao-como-fab-labs-e-makerspaces-podem-contribuir-com-o-
aprender/>. Acesso em: 14 nov. 2019.

TEMA 5 – ABORDAGENS ATIVAS: DESIGN THINKING (DT)

O design thinking (DT) é uma das metodologias ativas centrada no aluno e


que promove a solução de problemas levando em conta a criatividade. Ele pode
ser traduzido por pensamento de design, ou seja, a forma de pensar do design
composta de cocriação e colaboração.
O DT pode ser aplicado na educação para promoção do ensino e
aprendizagem, uma vez que direciona os aprendizes para desenvolver projetos e
aplicá-los, utilizando-se do pensamento crítico e reflexivo, alinhado às estratégias
do design. O interessante dessa abordagem é que pode ser desenvolvida pelos
estudantes em algumas horas ou até durar meses, dependendo da complexidade
da situação-problema que se pretende investigar, para então criar solução, testá-
las e implementá-las.
É importante ressaltar que todo projeto de DT deve envolver as cinco
questões listadas a seguir:

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5.1. Escopo do projeto

Representa o limite do projeto e é determinado por uma frase que identifica


a situação-problema que se quer estudar.

5.2 Pessoas envolvidas no projeto

As pessoas envolvidas no projeto são as seguintes:


a. Designer thinkers: podem ser representadas pelo coordenador ou também
pelas pessoas que auxiliam no desenvolvimento do projeto;
b. Stakeholders: são pessoas que se envolvem com o projeto e têm interesse
no problema estudado;
c. representantes das partes interessadas: estarão diretamente envolvidos no
projeto durante a aplicação de estratégias como Pesquisa exploratória,
imersão, entrevista empática, autodocumentação, projeto participativo,
prototipagem colaborativa, teste do protótipo e matriz de feedback; e
d. especialistas: são convidados para contribuir com a avaliação dos protótipos
apresentados pelos design thinkers.

5.3. Infraestrutura

Refere-se ao local onde serão realizadas as reuniões para o


desenvolvimento do projeto de DT e o desenvolvimento das etapas. É importante
ter em mente que o local selecionado deve proporcionar o armazenamento das
informações geradas durante todo o processo, contudo ele pode ser físico ou
também virtual, desde que propicie o compartilhamento dos dados entre os
envolvidos. Além disso, é importante verificar quais materiais e equipamentos
(físicos e tecnológicos) serão necessários para o desenvolvimento do projeto.

5.4. Cronograma

O líder do projeto deve definir e apresentar os prazos para todas as etapas


do DT, juntamente com os demais envolvidos. O importante é que, na primeira
reunião, sejam descritas as etapas e seus objetivos, bem como as datas que
deverão ser trabalhadas em cada fase.
Assim, apresentamos as etapas do DT conforme a adaptação de
Cavalcanti e Filatro (2018) acom base nas práticas da Ideo (HCD Toolkit) e da

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D.School (Bootcamp Bootleg) (Design..., 2019) para a perspectiva educacional
para solução de problemas, que pode ser verificada na Figura 7:

Figura 7 – Etapas do design thinker

Fonte: Cavalcanti; Filatro, 2018, p. 119.

Saiba mais

DESIGN Kit: The Human-Centered Design Toolkit. Ideo, S.d. Disponível


em: <https://www.ideo.com/post/design-kit>. Acesso em: 14 nov. 2019.
DESIGN Thinking bootgleg. DSchool, 2019. Disponível em:
<https://dschool.stanford.edu/resources/design-thinking-bootleg>. Acesso em; 14
nov. 2019.

De acordo com os passos apresentador acima, descrevemos a seguir cada


uma das etapas que contemplam o design thinking:

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Quadro 1 – Etapas do design thinking

Compreender o problema: os design thinkers devem entender o problema em profundidade. A


equipe se divide para observar o contexto analisado, documentar situações e aspectos
relevantes, conversar com especialistas, entrevistar os stakehol-ders56 e participar das
experiências deles. Posteriormente, os design thinkers compartilham informações e impressões
coletadas para que os dados sejam analisados e interpretados. Com isso, obtêm subsídios para
refinar o problema analisado.
Projetar soluções: os design thinkers participam de sessões de brainstorming, em que devem
gerar uma grande quantidade de ideias. Posteriormente, as ideias são compartilhadas e
categorizadas. Finalmente, eles selecionam as melhores soluções, que são prototipadas.
Prototipar: os design thinkers confeccionam protótipos que representam visualmente as
soluções criadas. A elaboração de protótipos rápidos viabiliza o teste das soluções criadas para
que sejam aprimoradas e refinadas.
Implementar a melhor opção: os design thinkers realizam uma análise de praticabilidade e
viabilidade, uma análise de inovação, e pilotos são testados por stakeholders. Finalmente,
depois que o protótipo é refinado algumas vezes, a solução é efetivamente implementada.
Fonte: Cavalcanti; Filatro, 2016, p. 119.

As etapas do design thinking são dinâmicas e flexíveis e é importante


salientar que a todo tempo podem e devem ser revistas e, caso seja necessário,
replanejadas e refeitas, principalmente se, ao chegar à fase de prototipar, os
design thinkers notarem que o problema definido não atende àquilo que se quer
resolver. Dessa forma, devem-se retomar todas as etapas e realizar o design
thinking desde o princípio.

Saiba mais

GONSALES, P. et al. Design thinking para educadores. São Paulo:


Instituto educadigital, 2014. Disponível em:
<https://www.designthinkingforeducators.com/DT_Livro_COMPLETO_001a090.p
df>. Acesso em: 14 nov. 2019.
MORAES, A. C.; CREMER, M. J. Design Thinking (DT) para a resolução
de problemas: um passo a passo para trabalhar a educação ambiental (EA) nas
escolas. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 14, n. 2, p.
47-68, 2019. Disponível em:
<https://periodicos.unifesp.br/index.php/revbea/article/view/2606/6968>. Acesso
14 nov. 2019.

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REFERÊNCIAS

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