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Análise do Discurso
Michel Foucault descreveu a Ordem do Discurso como uma construção de características sociais. A
sociedade que promove o contexto do discurso analisado é a base de toda a estrutura do texto,
atrelando, deste modo, todo e qualquer elemento que possa fazer parte do sentido do discurso. O
texto só pode assim ser chamado se o seu receptor for capaz de compreender o seu sentido, e isto
cabe ao autor do texto e à atenção que o mesmo der ao contexto da construção de seu discurso. É a
relação básica para a existência da comunicação verbal: emissão – recepção – compreensão.
As práticas discursivas geram também outros âmbitos de análise do discurso, como o Universo de
Concorrências, que consiste na competição entre vários emissores para atingir um mesmo público
alvo. A partir disto, os emissores precisam interar-se do contexto da vida do seu receptor, para que
deste modo possam interpelá-lo segundo sua própria ideologia, fazendo com que assim, sua
mensagem seja recebida e assimilada pelo receptor sem que o mesmo perceba que está sendo alvo de
uma tentativa de convencimento, por assim dizer.
Dentro da análise do Discurso há também o discurso estético, feito por meio de imagens, e que
interpelam o indivíduo através de sua sensibilidade, que está ligada ao seu contexto também. A
sensibilidade de um indivíduo define-se a partir do que ao longo de sua vida torna-se importante e
aguça-lhe sentimentos. Com isto, podemos analisar as artes produzidas em diferentes épocas da
história em todo o mundo e perceber as diferentes formas de interpelação e contextualidade
presentes nas mesmas. O discurso estético tem a mesma capacidade ideológica que o discurso verbal,
com a vantagem de atingir o indivíduo esteticamente, o que pode render muito mais rapidamente o
sucesso do discurso aplicado.
A língua, as palavras são quase tudo na vida humana. Contudo, não se deve pensar que essa
realidade sumamente multifacetada que tudo abrange possa ser objeto apenas de uma ciência – a
lingüística – e ser interpretada apenas por métodos lingüísticos. O objeto da lingüística é apenas o
material, apenas o meio de comunicação discursiva [sic], mas não a própria comunicação discursiva,
não o enunciado de verdade, nem as ações entre eles (dialógicas), nem as formas da comunicação,
nem os gêneros do discurso. (BAKHTIN, 2003b, p. 324).
Assim sendo, como Bakhtin concebe os gêneros do discurso? O autor define os gêneros como tipos de
enunciados, relativamente estáveis e normativos, que estão vinculados a situações típicas da
comunicação social. Essa é a natureza verbal comum dos gêneros a que o autor se refere: a relação
intrínseca dos gêneros como enunciados ( e não como uma dimensão lingüística e/ ou formal
propriamente dita, desvinculada da atividade social, que excluiria a abordagem de cunho social dos
gêneros); isto é, a natureza sócio-ideológica e discursiva dos gêneros.
Dessa forma, os gêneros estão ligados às situações sociais da interação: qualquer mudança nessa
interação gerará mudanças no gênero. O autor enfatiza a relativa estabilização dos gêneros e a sua
ligação com a atividade humana. Em síntese, os gêneros estão vinculados à situação social de
interação e, por isso, como os enunciados individuais, são constituídos de duas partes inextricáveis, a
sua dimensão lingüístico-textual e a sua dimensão social: cada gênero está vinculado a uma situação
social de interação típica, dentro de uma esfera social; tem sua finalidade discursiva, sua própria
concepção de autor e destinatário.
Em contrapartida, uma vez que se tem a constituição do gênero, este exerce, em retorno, um efeito
normativo sobre as interações verbais (ou não verbais). Por isso que se pode dizer que para Bakhtin
os gêneros também são formas de ação: na interação, eles funcionam como índices de referência para
a construção dos enunciados, pois balizam o autor no processo discursivo, e como horizonte de
expectativas para o interlocutor, no processo de compreensão e interpretação do enunciado (a
construção da reação-resposta ativa). Desse modo, para a interação, é necessário tanto o domínio das
formas da língua quanto o da formas do discurso, isto é, o domínio dos gêneros do discurso
(BAKHTIN, 1985, p.269-270)
Se o autor conceitua os gêneros como tipos de enunciados, para entender essa relação é preciso
compreender o que é o enunciado para o círculo bakhtiniano. Para Bakhtin, o enunciado é a unidade
concreta e real da comunicação discursiva, uma vez que o discurso só pode existir na forma de
enunciados concretos e singulares, pertencentes aos sujeitos discursivos de uma ou outra esfera da
atividade e comunicação humanas. Cada enunciado, dessa forma, constitui-se em um novo
acontecimento, um evento único e irrepetível da comunicação discursiva. Ele não pode ser repetido,
mas somente citado, pois, nesse caso, constitui-se como um novo acontecimento. Mas é também como
elemento inalienável que o enunciado representa apenas um elo na cadeia complexa e contínua da
comunicação discursiva, mantendo relações dialógicas com os outros enunciados: ele já nasce como
resposta a outros enunciados (surge como sua réplica) e mantém no seu horizonte os enunciados que
o seguem (todo enunciado está orientado para a reação-resposta ativa do(s) outro(s) participante(s)
da interação.
Sabemos que a linguagem é importante, por tudo o que fazemos é regido por ela, desde um simples
gesto, conversa informal, formal etc. Também é sabida de sua forma multifacetada, e, por isso mesmo
sua compreensão somente se efetua no enunciado. O enunciado reflete a verdadeira condição de uso,
como: conteúdo, estilo e sua construção composicional. Nele podemos perceber o que realmente o
falante quer expressar. Nele podemos perceber o que realmente o falante quer expressar. Esses três
elementos citados são inseparáveis do enunciado.
Mais na verdade, o que seria o enunciado? Para responder a essa pergunta vamos começar por
Saussure, com seu método estruturalista, para ele a linguagem era dividida em língua e fala, mas ele
não se preocupou em estudar a fala, quem teve essa preocupação foi Mikhail Bakhtin.
Para Bakhtin, o homem é um ser sócio-histórico, isso quer dizer que o estudo da linguagem só é
possível na interação, assim, ele critica essa separação de Saussure, e afirma que a análise da
linguagem não pode ser realizada separando-a do sujeito. Portanto, para Bakhtin o estudo da língua
só acontece no enunciado, quando realmente há interação entre eu e o outro.
Assim afirma Bakhtin:
Os enunciados e seus tipos, isto é, os gêneros discursivos, são correias de transmissão entre a história
da sociedade e a história da linguagem. Nenhum fenômeno novo (fonético, léxico, gramatical) pode
integrar o sistema da língua sem ter percorrido um complexo e longo caminho de experimentação e
elaboração de gêneros e estilos. Onde há estilo há gênero. (BAKHTIN, 2006, p. 268)
Em virtude do exposto a respeito do enunciado, cabe agora fazermos uma distinção entre enunciado,
palavra e oração.
Quanto à palavra, Bakhtin fala que enquanto unidade da língua a palavra é neutra,
consequentemente pode-se dizer que qualquer palavra existe para o falante em três aspectos: como
palavra da língua neutra e não pertencente a ninguém: como palavra alheia dos outros, cheia de ecos
de outros enunciados; e por último, como minha palavra. A partir do momento que faço uso da
palavra em uma situação determinada, num contexto próprio, nesse instante ela possui o estilo
individual do autor, ou do falante.
Dessa maneira, a palavra surge da realidade concreta, nas reais condições de uso, isso também vale
para a oração. Ou seja, enquanto unidade da língua tanto a frase quanto a oração não diz nada, são
neutras. Como menciona Bakhtin (2006, p. 296) “A oração enquanto unidade da língua possui uma
entonação gramatical específica e não uma entonação expressiva. […] A oração só adquire entonação
expressiva no conjunto do enunciado”.
Logo, o elemento expressivo é uma peculiaridade muito importante da linguagem e está somente no
enunciado, e o autor faz uma alerta que para o enunciado existir deve-se levar em consideração o
antes e o após, ou seja, ele tem que ser visto com ecos e ressonâncias de enunciados dos outros. Então,
por mais monólogo que seja o enunciado, sempre traz nele uma resposta de algo que já foi
mencionado sobre aquele objeto. Bakhtin diz que a nossa própria ideia surge da interação dos
pensamentos dos outros.
Outro aspecto interessante é o direcionamento, isto é, temos que levar em consideração o
destinatário, até que ponto ele conhece o assunto, isso é necessário para que possa ocorrer a total
compreensão do assunto, que possua um real entendimento do enunciado. Na falta dessa confiança é
impossível entender o gênero ou o estilo do discurso, como afirma o autor.
5 CONCLUSÃO
Na visão bakhtiniana, o discurso está sempre voltado para seu objeto(tema) que já traz no bojo de
outros falantes.Em conseqüência,o discurso é sempre levado dialogicamente ao discurso do outro,
repleto de entonações, conotações e juízos valorativos. Assimila o outro discurso, refuta-o, funde-se
co ele,e, assim, acaba por constituir-se enquanto discurso.Enfim, o discurso forma-se a partir ralações
dialógicas com outros discursos,que influenciam o seu aspecto estilístico.
Bakhtin ressalva que o discurso é “diálogo vivo”, por isso, está sempre voltado ara réplica, para a
resposta que ainda não foi dita,mas que é provocada e,consequentemente, passa a ser esperada. Na
atualidade, adotar a unidade discurso como objeto de estudo é compreender a amplitude do domínio
da linguagem. É compreender o jogo interacional e ideológico no qual as manifestações lingüísticas
ocorrem, bem como as regulações de poder e saber às quais estão submetidas.
Mikhail Bakhtin
Mikhail Bakhtin dedicou a vida à definição de noções, conceitos e categorias de análise da linguagem
com base em discursos cotidianos, artísticos, filosóficos, científicos e institucionais. Em sua trajetória,
notável pelo volume de textos, ensaios e livros redigidos, esse filósofo russo não esteve sozinho. Foi
um dos mais destacados pensadores de uma rede de profissionais preocupados com as formas de
estudar linguagem, literatura e arte, que incluía o linguista Valentin Voloshinov (1895-1936) e o
teórico literário Pavel Medvedev (1891-1938).
Um dos aspectos mais inovadores da produção do Círculo de Bakhtin, como ficou conhecido o grupo,
foi enxergar a linguagem como um constante processo de interação mediado pelo diálogo – e não
apenas como um sistema autônomo. “A língua materna, seu vocabulário e sua estrutura gramatical,
não conhecemos por meio de dicionários ou manuais de gramática, mas graças aos enunciados
concretos que ouvimos e reproduzimos na comunicação efetiva com as pessoas que nos rodeiam”,
escreveu o filósofo.
Segundo essa concepção, a língua só existe em função do uso que locutores (quem fala ou escreve) e
interlocutores (quem lê ou escuta) fazem dela em situações (prosaicas ou formais) de comunicação. O
ensinar, o aprender e o empregar a linguagem passam necessariamente pelo sujeito, o agente das
relações sociais e o responsável pela composição e pelo estilo dos discursos. Esse sujeito se vale do
conhecimento de enunciados anteriores para formular suas falas e redigir seus textos. Além disso, um
enunciado sempre é modulado pelo falante para o contexto social, histórico, cultural e ideológico.
“Caso contrário, ele não será compreendido”, explica a linguista Beth Brait, estudiosa de Bakhtin e
professora associada da Universidade de São Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade Católica
(PUC), ambas na capital paulista.
Nessa relação dialógica entre locutor e interlocutor no meio social, em que o verbal e o não-verbal
influenciam de maneira determinante a construção dos enunciados, outro dado ganhou contornos de
tese: a interação por meio da linguagem se dá num contexto em que todos participam em condição de
igualdade. Aquele que enuncia seleciona palavras apropriadas para formular uma mensagem
compreensível para seus destinatários. Por outro lado, o interlocutor interpreta e responde com
postura ativa àquele enunciado, internamente (por meio de seus pensamentos) ou externamente (por
meio de um novo enunciado oral ou escrito).
8 DE OUTUBRO DE 2012
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