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TEORIAS DO DISCURSO E DA PRODUÇÃO DE SENTIDO NO CINEMA E NAS ARTES DO VIDEO

COLETÂNEA III:

Discurso e Enunciação - Mikhail Bakhtin

1. “A verdadeira substância da língua não é um sistema abstrato de


formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato
psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação
verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação
verbal constitui assim a realidade fundamental da língua. O diálogo, no
sentido estrito do termo, não constitui, é claro, senão uma das formas, é
verdade que das mais importantes, da interação verbal. Mas pode-se
compreender a palavra ‘diálogo’ num sentido amplo, isto é, não apenas
como a comunicação em voz alta, de pessoas colocadas face a face, mas
toda comunicação verbal, de qualquer tipo que seja.” (BAKHTIN, 2006, p.
125)

Contudo, os sentidos só podem se constituir se houver a


materialidade linguística ou, dizendo de outra maneira, a interação e a
produção de sentidos ocorrem através de enunciados efetivamente ditos.
Porém, antes de nos atentar à definição de enunciado, precisamos
entender o que é discurso, visto que essas concepções parecem ser
idênticas, embora não sejam. De acordo com Bakhtin:

2. “[a] definição terminológica e a confusão em um ponto


metodológico central no pensamento linguístico são o resultado do
desconhecimento da real unidade da comunicação discursiva – o
enunciado. Porque o discurso só pode existir de fato na forma de
enunciações concretas de determinados falantes, sujeitos do discurso. O
discurso sempre está fundido em forma de enunciado pertencente a um
determinado sujeito do discurso, e dessa forma não pode existir.” (2003, p.
274)

Portanto, o discurso são os valores e conhecimentos dos


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indivíduos, enquanto sujeitos sociais. Esses valores e saberes só podem


manifestar-se através de enunciados, isto é, aquilo que é efetivamente dito
em um processo de enunciação concreta. O discurso e o enunciado estão
interligados e são, de acordo com a perspectiva adotada,
interdependentes. A real unidade da comunicação discursiva é o
enunciado, é aquilo que pode ser visto ou ouvido; o enunciado é a
materialidade linguística, e como tal, pode ser repetido em várias outras
situações comunicativas. Porém, a cada vez que o enunciado for repetido,
ganhará outro sentido, pois estará inserido em outra situação, em outro
momento histórico, isto é, o sentido do enunciado está irremediavelmente
ligado à situação de produção, portanto, não há como separá- los. Nas
palavras de Bakhtin (2006, p. 132):

3. “o tema da enunciação é determinado não só pelas formas


linguísticas que entram na composição (as palavras, as entonações, as
formas morfológicas ou sintáticas, os sons, as entonações), mas
igualmente pelos elementos não verbais da situação”.

Outra propriedade importante do enunciado está no fato de este


sempre responder a outro enunciado e de suscitar respostas aos
enunciados que irão surgir em decorrência do surgimento do primeiro.
Assim,

4. “ [os] enunciados não são indiferentes entre si nem se bastam cada um


a si mesmo; uns conhecem os outros e se refletem mutuamente uns nos
outros. Esses reflexos mútuos lhes determinam o caráter. Cada enunciado
é pleno de ecos e ressonâncias de outros enunciados com os quais está
ligado pela identidade da esfera de comunicação discursiva. Cada
enunciado deve ser visto antes de tudo como uma resposta aos
enunciados precedentes de um determinado campo: ela os rejeita,
confirma, completa, baseia-se neles, subentende-os como conhecidos, de
certo modo os leva em conta.” (BAKHTIN, 2003, p. 297)
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O signo é ideológico

Na obra Marxismo e Filosofia da Linguagem (1929), Bakhtin


discorre longamente sobre o signo; não o signo saussuriano, aquele que
une um significado a um significante, aquele que pertence ao sistema
fechado da língua, assim denominado de signo linguístico. Para Bakhtin
(2006), o signo é irremediavelmente ideológico, tendo a propriedade de
significar atrelado a si concepções ideológicas que auxiliam na produção
de sentidos, sendo a base desses sentidos as relações sociais nas quais é
produzido. De acordo com Bakhtin (2006, p. 43), “realizando-se no
processo da relação social, todo signo ideológico, e, portanto, também o
signo linguístico, vê-se marcado pelo horizonte social de uma época e de
um grupo social determinados”, ou seja, o signo ideológico é a junção
entre o signo linguístico (palavra) e a ideologia (determinada pelas
relações sociais). Outra questão importante na obra de Bakhtin (2006) é a
luta de classes que ocorre através e no signo ideológico. Nesta
perspectiva, ao enunciar o locutor está manifestando sua visão de mundo,
seus conhecimentos, sua interação com outros discursos. A união desses
aspectos possibilita que um enunciado possa emergir e é somente através
desse enunciado, dessa materialidade, é que conseguimos chegar à
formação ideológica do sujeito. Assim, o sujeito só diz o que diz porque
está inserido em uma determinada formação ideológica. Bakhtin explica
que o sujeito, “o ser, refletido no signo, não apenas nele se reflete, mas
também se refrata. O que é que determina esta refração do ser no signo
ideológico? O confronto de interesses sociais nos limites de uma só e
mesma comunidade semiótica, ou seja, a luta de classes” (2006, p. 45). A
partir daí podemos dizer que determinados signos pertencem à
determinada formação ideológica e só significam o que significam por
estarem inseridos nela. Assim, à medida que deslocamos um signo de
determinado lugar e o enunciamos em um outro, ele pode tomar outra
conotação e produzir enfim outros efeitos de sentido, pois ao deslocar-se,
este signo se relaciona com outra formação ideológica. Portanto, o mesmo
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signo pode ter mais de um sentido e tornar-se uma arena de lutas


ideológicas.

SOUSA, Waldênia K. M. Vargas; FERNANDES, Eliande Marquez da


Fonseca. O Humor: enunciado, enunciação e produção de sentido.
Revista Linguasagem. 16ª. Edição.)

O já dito

Os enunciados dizem “pela primeira vez aquilo que, entretanto, já


havia sido dito” e repetem “incansavelmente aquilo que, no entanto, não havia
jamais sido dito” (Foucault, 2009b, p. 25). De acordo com Foucault (2009b,
p. 26), a repetição “permite-lhe dizer algo além do texto mesmo, mas com a
condição de que o texto mesmo seja dito e de certo modo realizado”, assim, “o
novo não está no que é dito, mas no acontecimento de sua volta.”

BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes.


2003.

BAKHTIN, M. (VOLOCHINOV). Marxismo e Filosofia da Linguagem.


Trad. de M. Lahud e Y. F. Vieira. 12ª ed. São Paulo: Hucitec, 2006.

FOUCAULT, M. A Ordem do discurso: Aula inaugural no Collège de


France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Trad. Laura Fraga de
Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
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Os Gêneros do Discurso / O enunciado

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética


da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.261-306.

1. O problema e sua definição


1.1) Todos os diversos campos da atividade humana estão
ligados ao uso da linguagem. Compreende-se perfeitamente que o caráter
e as formas desse uso sejam tão multiformes quanto os campos da
atividade humana, o que, é claro, não contradiz a unidade nacional de uma
língua. O emprego da língua efetua- se em forma de enunciados (orais e
escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou
daquele campo da atividade humana. Esses enunciados refletem as
condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por
seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção
dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua, mas, acima de
tudo, por sua construção composicional. Todos esses três elementos

– o conteúdo temático, o estilo, a construção composicional –


estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente
determinados pela especificidade de um determinado campo da
comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas
cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente
estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso.

1.2) Achamos que em qualquer corrente especial de estudo


faz-se necessária uma noção precisa da natureza do enunciado em geral e
das particularidades dos diversos tipos de enunciados (primários e
secundários), isto é, dos diversos gêneros do discurso. O desconhecimento
da natureza do enunciado e a relação diferente com as peculiaridades das
diversidades de gênero do discurso em qualquer campo da investigação
linguística redundam em formalismo e em uma abstração exagerada,
deformam a historicidade da investigação, debilitam as relações da língua
com a vida. Ora, a língua passa a integrar a vida através de enunciados
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concretos (que a realizam); é igualmente através de enunciados concretos


que a vida entra na língua. O enunciado é um núcleo problemático de
importância excepcional.

2. O enunciado como unidade da comunicação discursiva.


Diferença entre essa unidade e as unidades da língua (palavras e
orações)

2.1) A primeira característica do enunciado:


responsividade/ alternância dos sujeitos

Os limites de cada enunciado concreto como unidade da


comunicação discursiva são definidos pela alternância dos sujeitos do
discurso, ou seja, pela alternância dos falantes. Todo enunciado – da
réplica sucinta (monovocal) do diálogo cotidiano ao grande romance ou
tratado científico – tem, por assim dizer, um princípio absoluto e um fim
absoluto: antes do seu início, os enunciados de outros; depois do seu
término, os enunciados responsivos de outros (ou ao menos uma
compreensão ativamente responsiva silenciosa do outro ou, por último,
uma ação responsiva baseada nessa compreensão). O falante termina o
seu enunciado para passar a palavra ao outro ou dar lugar à sua
compreensão ativamente responsiva. O enunciado não é uma unidade
convencional, mas uma unidade real, precisamente delimitada da
alternância dos sujeitos do discurso, a qual termina com a transmissão
da palavra ao outro, por mais silencioso que seja o “dixi”
percebido pelos ouvintes [como sinal] de que o falante terminou.

2.2) A segunda característica do enunciado:


conclusibilidade

A conclusibilidade do enunciado é uma espécie de aspecto interno


da alternância dos sujeitos do discurso; essa alternância pode ocorrer
precisamente porque o falante disse (ou escreveu) tudo o que quis dizer
em dado momento ou sob dadas condições. Quando ouvimos ou
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vemos, percebemos nitidamente o fim do enunciado, como se


ouvíssemos o “dixi” conclusivo do falante. Essa conclusibilidade é
específica e determinada por categorias específicas. O primeiro e mais
importante critério de conclusibilidade do enunciado é a possibilidade de
responder a ele, em termos mais precisos e amplos, de ocupar em relação
a ele uma posição responsiva (por exemplo, cumprir uma ordem). A esse
critério corresponde também a pergunta sucinta do cotidiano, por exemplo,
“Que horas são?” (a ela pode-se responder), e o pedido cotidiano que
pode ser cumprido ou descumprido, o discurso científico com o qual
podemos concordar ou não concordar (inteiramente ou em parte), e o
romance ficcional, que pode ser avaliado no seu conjunto. Alguma
conclusibilidade é necessária para que se possa responder ao enunciado.
Para isso não basta que o enunciado seja compreendido no sentido de
língua. Uma oração absolutamente compreensível e acabada, se é oração
e não enunciado constituído por uma oração, não pode suscitar atitude
responsiva: isso é compreensível mas ainda não é tudo. Esse tudo –
indício da inteireza do enunciado – não se presta a uma definição nem
gramatical nem abstrato-semântica.

2.2.1) Os três elementos da conclusibilidade do enunciado

Essa inteireza acabada do enunciado, que assegura a


possibilidade de resposta (ou de compreensão responsiva), é determinada
por três elementos (ou fatores) intimamente ligados no todo orgânico do
enunciado:

a) exauribilidade do objeto e do sentido;

b) projeto de discurso ou vontade de discurso do falante;

c) formas típicas composicionais e de gênero do acabamento.

b) o projeto de discurso / a vontade discursiva do falante


Em cada enunciado – da réplica monovocal do cotidiano às
grandes e complexas obras de ciência ou de literatura – abrangemos,
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interpretamos, sentimos a intenção discursiva de discurso ou a vontade


discursiva do falante, que determina o todo do enunciado, o seu volume e
as suas fronteiras. Imaginamos o que o falante quer dizer, e com essa
ideia verbalizada, essa vontade verbalizada (como a entendemos) é que
medimos a conclusibilidade do enunciado. Essa ideia determina tanto a
própria escolha do objeto (em certas condições de comunicação discursiva,
na relação necessária com os enunciados antecedentes) quanto os seus
limites e a sua exauribilidade semântico-objetal. Ele determina,
evidentemente, também a escolha da forma do gênero na qual será
construído o enunciado (já se trata do terceiro elemento que abordaremos
adiante).

c) as formas típicas (os gêneros do discurso)


Passemos ao elemento terceiro e mais importante para nós – as
formas

estáveis de gênero do enunciado. A vontade discursiva do falante


se realiza antes de tudo na escolha de um certo gênero de discurso. Essa
escolha é determinada pela especificidade de um dado campo da
comunicação discursiva, por considerações semântico-objetais
(temáticas), pela situação concreta da comunicação discursiva, pela
composição pessoal dos seus participantes, etc. A intenção discursiva do
falante, com toda a sua individualidade e subjetividade, é em seguida
aplicada e adaptada ao gênero escolhido, constitui-se e desenvolve-se em
uma determinada forma de gênero. Tais gêneros existem antes de tudo
em todos os gêneros mais multiformes da comunicação oral cotidiana,
inclusive do gênero mais familiar e do mais íntimo.

Falamos apenas através de determinados gêneros do discurso,


isto é, todos os nossos enunciados possuem formas relativamente
estáveis e típicas de construção do todo. Dispomos de um rico repertório
de gêneros de discurso orais (e escritos). Em termos práticos, nós os
empregamos de forma segura e habilidosa, mas em termos teóricos
podemos desconhecer inteiramente a sua existência. Como o Jourdain de
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Molière, que falava em prosa sem que disso suspeitasse, nós falamos por
gêneros diversos sem suspeitar da sua existência. Até mesmo no bate-
papo mais descontraído e livre nós moldamos o nosso discurso por
determinadas formas de gênero, às vezes padronizadas e estereotipadas,
às vezes mais flexíveis, plásticas e criativas (a comunicação cotidiana
também dispõe de gêneros criativos).

Esses gêneros do discurso nos são dados quase da mesma forma


que nos é dada a língua materna, a qual dominamos livremente até
começarmos o estudo teórico da gramática. A língua materna – sua
composição vocabular e sua estrutura gramatical – não chega ao nosso
conhecimento a partir de dicionários e gramáticas mas de enunciações
concretas que nós mesmos ouvimos e nós mesmos reproduzimos na
comunicação discursiva viva com as pessoas que nos rodeiam. Nós
assimilamos as formas da língua somente nas formas das enunciações e
justamente com essas formas. As formas da língua e as formas típicas dos
enunciados, isto é, os gêneros do discurso, chegam à nossa experiência e
à nossa consciência em conjunto e estreitamente vinculadas. Aprender a
falar significa aprender a construir enunciados (porque falamos por
enunciados e não por orações isoladas e, evidentemente, não por palavras
isoladas). Os gêneros do discurso organizam o nosso discurso quase da
mesma forma que o organizam as formas gramaticais (sintáticas). Nós
aprendemos a moldar o nosso discurso em forma de gênero e, quando
ouvimos o discurso alheio, já adivinhamos o seu gênero pelas primeiras
palavras, adivinhamos um determinado volume (isto é, uma extensão
aproximada do conjunto do discurso), uma determinada construção
composicional, prevemos o fim, isto é, desde o início temos a sensação do
conjunto do discurso que em seguida apenas se diferencia no processo da
fala.

(...) Se os gêneros do discurso não existissem e nós não os


dominássemos, se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo
do discurso, de construir livremente e pela primeira vez cada enunciado, a
comunicação discursiva seria quase impossível.

(...) Quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais livremente


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os empregamos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos neles a


nossa individualidade (onde isso é possível e necessário), refletimos de
modo mais flexível e sutil a situação singular da comunicação; em suma,
realizamos de modo mais acabado o nosso livre projeto de discurso.

2.3) A terceira característica do enunciado:


endereçamento (de um alguém para outro alguém)

A oração como unidade da língua, à semelhança da palavra, não


tem autor. Ela é de ninguém, como a palavra, e só funcionando como um
enunciado pleno ela se torna expressão da posição do falante individual
em uma situação concreta de comunicação discursiva. Isto nos leva a uma
nova, a uma terceira peculiaridade do enunciado – a relação do enunciado
com o próprio falante (autor do enunciado) e com outros participantes da
comunicação discursiva.

(...) Reiteremos: o enunciado é um elo na cadeia da comunicação


discursiva e não pode ser separado dos elos precedentes que o
determinam tanto de fora quanto de dentro, gerando nele atitudes
responsivas diretas e ressonâncias dialógicas.

(...) Um traço essencial (constitutivo) do enunciado é o seu


direcionamento a alguém, o seu endereçamento. À diferença das unidades
significativas da língua – palavras e orações -, que são impessoais, de
ninguém e a ninguém estão endereçadas, o enunciado tem autor (e,
respectivamente, expressão, do que já falamos) e destinatário. Esse
destinatário pode ser um participante- interlocutor direto do diálogo
cotidiano, pode ser uma coletividade diferenciada de especialistas de
algum campo especial da comunicação cultural, pode ser um público mais
ou menos diferenciado, um povo, os contemporâneos, os correligionários,
os adversários e inimigos, o subordinado, o chefe, um inferior, um
superior, uma pessoa íntima, um estranho, etc.; ele também pode ser um
outro totalmente indefinido, não concretizado (em toda sorte de
enunciados monológicos de tipo emocional). Todas essas modalidades e
concepções do destinatário são determinadas pelo campo da atividade
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humana e da vida a que tal enunciado se refere. A quem se destina o


enunciado, como o falante (ou o que escreve) percebe e representa para si
os seus destinatários, qual é a força e a influência deles no enunciado –
disto dependem tanto a composição quanto, particularmente, o estilo do
enunciado. Cada gênero do discurso em cada campo da comunicação
discursiva tem a sua concepção típica de destinatário que o determina
como gênero.

(...) A escolha de todos os recursos linguísticos é feita pelo falante


sob maior ou menor influência do destinatário e da sua resposta
antecipada.

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