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SAMAIN, Etienne. (Org.). Como pensam as imagens. Campinas: Editora da Unicamp, 2012.
"As imagens gostam de caçar na escuridão de nossas memórias." (p.21). Esse trecho retirado
da epígrafe, a qual é parte de um texto dele mesmo, já indica a relação que irá se estabelecer
entre imagens, imaginários e memórias.
“As imagens são coisas vivas”, (p.21). Acredito que essa frase é o fio condutor de toda reflexão
proposta pelo autor, uma vez que ele parte da ideia, presente no título e baseado na leitura
que fez de Batenson, de que deve se separar as descrições das coisas entre as inertes e as
vivas, e , nesse conjunto de coisas vivas proposto por Gregory Betenson, Samain inclui também
as imagens, pois para ele, e assim, nos convence, as imagens são cosias vivas tal como o
homem, o caranguejo do mar, as questões de beleza e de diferenças, não são portanto, tijolos,
jarras e bolas de sinuca.
A importância de saber como as imagens existem, vivem e nos fazem viver. Como uma imagem
nos ajuda a pensar, nos convoca a pensar? (p.21-22). Aponta para o fato que é mais
importante saber o como das coisas ao invés do porquê. Toda imagem nos oferece algo para
pensar ou desperta o imaginário, ou faz pensar.
Não que as imagens sejam humanas, ele não quer humaniza-las. As imagens são poços de
memórias e focos de emoções, de sensações, isto é, lugares carregados preciosamente de
humanidade. (p.22).
O autor faz três reflexões importantes sobre como pensam as imagens: Primeiro. Toda imagem
oferece algo a pensar ou ao menos desperta uma faísca do imaginário. Segundo, toda imagem
é portadora de pensamentos, e terceiro, toda imagem é uma forma que pensa.
A imagem alimenta uma relação privilegiada entre o que mostra, o que dá a pensar e,
sobretudo, o que se recusa a revelar: o trabalho que realiza ao se associar a outras imagens
(visiveis/exteriores;mentais/interiores) e outras
A imagem teria uma 'vida própria' e um verdadeiro ' poder de ideação' (isto é, um potencial
intrínseco de suscitar pensamentos e ideias) ao se associar a outras imagens. Tanto as palavras
como as notas musicais da mesma forma que as imagens, quando associadas, são capazes de
despertar e promover 'ideias' ou 'ideações', isto é, movimentos de ideias. Numa frase musical
quando as notas tonais literalmente se tocam e ressoam entre elas, promovem efeitos sonoros
singulares e quase infinitos. As imagens também possuem esse poder ideativo, tanto nas suas
partes como nas suas associações e composições. fala-se de palavras cruzadas, porque não dar
crédito ao que poderíamos chamar de 'imagens cruzadas'?(p.23-24)
Por fazer parte integrante de um sistema no qual circula pensamento, ela própria participa
desse pensamento.(p.32)
- Eugene lonesco (1909-1994): “A forma é a corda mais retesa do sentido" (p.32) A forma é
uma espécie de fio, de linha ou de ligação, que conduz ou direciona o sentido de uma maneira
densa, tensa e precisa. Nunca se desliga, se desamarra dos sentidos, das significações, isto é,
do pensamento. É por essa perspectiva que não é possível reduzir a forma da imagem à sua
dimensão material de ser uma figura constituída por traços, linhas, cores, curvas, espessuras.
(p.32-33)
-Gilles Deleuze, no seu livro A imagem-tempo (1985) avança para um novo conceito, para uma
outra reflexão substantiva em torno da questão do movimento na e dentro da imagem, seja
ela estática ou dinâmica. (p.32-33)
- Aby Warburg e seu mais notável intérprete atual, Georges Didi-Huberman, veem a imagem
como uma vivência, ou melhor, uma sobrevivência e até uma supervivência que atravessa o
tempo (histórico) e que se nutre de um tempo anacrônico. (p.33)
- Por essa perspectiva, a imagem é uma “forma que pensa", na medida em que as ideias por
ela veiculadas e que ela faz nascer dentro de nós -quando as olhamos - são ideias que somente
se tornaram possíveis porque ela, a imagem, participa de histórias e de memórias que a
precederam, das quais se alimenta antes de renascer um dia, de reaparecer agora no meu hic
et nunc (aqui e agora) e, provavelmente, num tempo futuro, ao (re)formular-se ainda em
outras singulares direções e formas.(p.33)
-Em outras palavras, toda imagem pertence a um tempo muito profundo, quase imemorável.
Tempo muito longínquo, tempo mítico que, por assim dizer, a fecundou, 'formou-a'
lentamente e permanece capaz de fazê-la renascer e reviver um dia. (p.33) Quando
reencontrarmos a imagem, dez ou mil anos mais tarde, quando ela se reapresentará a outros
olhares-longe do momento inaugural a imagem não será mais a mesma. Sob outra 'forma',
carregará, no entanto, a memória de um passado que a atualizará e a ritualizará novamente.
(p.34)
- Não é possível pensar a imagem se não a situarmos no sistema no qual ela está conectada:
nosso cérebro, o contexto, a própria imagem, aquele que a fez, aquele que a contempla, num
tempo e num espaço históricos e a-históricos. (p.34)
- Toda imagem, além de se dissolver, misteriosa, num passado anacrônico, ela se movimenta e
reaparece, transfigurada, na elipse de uma história humana. Quanto ao seu destino? Jamais o
saberemos. (p.34-35)