O intuito do autor é nos apresentar as teses bergsonianas de forma a compreender
como o estudo deste objeto fez necessária uma reflexão muito mais ampla se expandindo até a um novo background teórico filosófico para analisar a relação entre arte e imagem. O surgimento de um método como o da filmagem foi capaz de modificar a visão do homem sobre o tempo e o espaço, assim como o que por eles transita. A partir deste problema Deleuze segue sua interpretação afirmando o movimento como algo impossível de ser retratado de forma cartesiana, isto é a captura do movimento não supõe que esta seja obtida como uma reprodução exata dos tempos. Este problema também se estende ao espaço que, por sua vez, também não pode ser reduzido ao que os olhos podem ver. O autor nos requere uma atenção especial para compreender como, através do cinema, a proposta é a criação de um método interpretativo da realidade, de seu tempo e espaço e que esta nunca será idêntica a ela. Mas, além disso, esses livros nos levam a encontrar também uma proposta política da teoria deleuziana numa repotencialização de uma vida cotidiana que passa a ser vista e ouvida pelas lentes do cinema moderno, que cria e ao mesmo tempo revela ao homem, por meio de puras imagens óticas e sonoras, a possibilidade de um pensamento complexo, descentrado e, por isso, politicamente mais potente. É preciso parar para ouvir um cinema mudo, sentir a intensidade impressa num jogo de luz e sombra composto entre o preto e o branco, conectar-se com uma lentidão quase sonífera, conhecer o cinema de autor. Toda uma atmosfera precisa ser cavada para dar lugar ao cinema e seu tempo intensivo. É justamente nesta atmosfera, composta de outro tempo e outra luz, que seguimos esta instigante leitura. É a descrição de uma imagem-tempo que constrói uma imagem do pensamento em sua complexidade e violência, enquanto a imagem-movimento nos remeteria a uma imagem ortodoxa do pensamento, objeto da crítica do terceiro capítulo da obra de Deleuze, Diferença e Repetição, intitulado "A Imagem do Pensamento". Para darmos mais elementos ao que queremos apresentar aqui, voltamos a este capítulo. Em Diferença e Repetição, Deleuze inaugura sua filosofia, caracterizando-se como um pensador da diferença, do sentido, do desejo e da multiplicidade, no qual encontramos um pensamento pluralista, ontológico, ético e trágico (no sentido eminentemente nietzscheano), numa obra de crítica ao domínio da representação e ao primado da identidade. Nos livros sobre cinema, Deleuze debruça-se sobre a questão da imagem (e não mais do conceito) para desenvolver um plano filosófico que o cinema teria a potência de criar em relação direta com a produção de uma nova subjetividade. O que nossa percepção consegue representar enquanto imagem é o que da matéria interessa ao nosso corpo. A imagem é, portanto, uma construção e possui na arte cinematográfica sua expressão de forma ilusória. É na montagem de um movimento, através em cortes instantâneos, que a ilusão se forma, como uma espécie de versão que o autor da à sua história. A história do cinema se identifica com os questionamentos dos dois autores. Pois, ao início do século XX, as capturas com pouco quadros e poucos recursos de imagem obtiveram, com o passar das décadas, o desenvolvimento de métodos de filmagem tão aprimorados que estas ilusões de tempo e espaço nos parecem hoje tão próximas da realidade. A discussão que ambos nos colocam é de grande valor no que se refere ao estudo do cinema e como com seus métodos de filmagem o autor/diretor é capaz de recuperar uma memória, pensamento ou acontecimento através de uma complexa reconstrução temporal e espacial em cujo movimento podemos identificar o seu protagonista. Da mesma forma que o objeto provoca mudanças na interpretação de seu ambiente, o ambiente influencia a forma com este objeto é compreendido. Através das teses de bergson, o autor nos propõe uma visão mais ampla para nossas análises acerca da imagem, do cinema e da arte de forma mais ampla. A discussão que ambos nos colocam é de grande valor no que se refere ao estudo do cinema e como com seus métodos de filmagem o autor/diretor é capaz de recuperar uma memória, pensamento ou acontecimento através de uma complexa reconstrução temporal e espacial em cujo movimento podemos identificar o seu protagonista. Da mesma forma que o objeto provoca mudanças na interpretação de seu ambiente, o ambiente influencia a forma com este objeto é compreendido. Através das teses de bergson, o autor nos propõe uma visão mais ampla para nossas análises acerca da imagem, do cinema e da arte de forma mais ampla levados constantemente a empregar termos que Peirce criou para designar este ou aquele signo, ora mantendo o seu sentido, ora modificando-o ou até alterando-o completamente (por razões que serão precisadas a cada vez). Ele aborda a imagem-percepção como uma forma de compreender a relação entre o sujeito e o mundo, destacando a importância da percepção na construção da realidade. Deleuze argumenta que a imagem-percepção não é simplesmente uma representação mental do mundo exterior, mas uma forma de experiência direta e imediata. Ele enfatiza que a percepção não é passiva, mas ativa e criativa, envolvendo uma interação dinâmica entre o sujeito e seu ambiente. Além disso, Deleuze sugere que a imagem-percepção é multifacetada e fluida, consistindo em uma variedade de elementos sensoriais, afetivos e cognitivos. Ele acredita que a percepção não é apenas visual, mas também envolve todos os sentidos e é influenciada por nossas emoções, memórias e experiências anteriores. Portanto, para Deleuze, a imagem-percepção é uma maneira de entender como percebemos e interpretamos o mundo ao nosso redor, destacando a natureza ativa e complexa de nossa relação com a realidade. A imagem-afecção não está restrita ao domínio do visual; ela engloba uma gama mais ampla de sensações e experiências emocionais que podem surgir em resposta a estímulos externos ou internos. Essas afecções podem ser positivas, negativas ou neutras e desempenham um papel importante na formação de nossa subjetividade e na maneira como nos relacionamos com nosso ambiente. Por exemplo, ao encontrar um amigo querido, podemos experimentar uma imagem- afecção de alegria, calor e amor. Ao assistir a uma cena triste em um filme, podemos sentir uma imagem-afecção de tristeza ou melancolia. Essas experiências afetivas não são apenas reações emocionais, mas também moldam nossa percepção e interpretação do mundo ao nosso redor. A imagem-afecção é, portanto, um conceito que destaca a importância das emoções, sensações e estados de ânimo na nossa experiência cotidiana. Ela sugere que nossas respostas emocionais não são separadas da nossa percepção, mas estão intrinsicamente ligadas a ela, influenciando a maneira como vemos, entendemos e nos relacionamos com o mundo.