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FILME E GEOGRAFIA
Outras considerações sobre a “realidade” das imagens
e dos lugares geográficos
MARIA HELENA B. V. DA COSTA*

Quanto mais improvável o acontecimento, mais familiar a imagem


(Mike Davis, 2007, p.15).

RESUMO: O PRESENTE ARTIGO OBJETIVA REFLETIR SOBRE UM TIPO ESPEC¸FICO DE IMAGEM, A CINEMATOGR˘FICA, CONSIDERANDO-A
COMO DISPOSITIVO ATIVO E FORMADOR CULTURAL DO ENTENDIMENTO SOBRE O ESPAÇO GEOGR˘FICO, SUA PERCEPÇ‹O E
EXPERI¯NCIA. A PROPOSTA É DISCUTIR O CINEMA ENQUANTO UM APARATO PRODUTOR DE IMAGENS QUE COM SUA LINGUAGEM
PARTICULAR ATUA COMO PART¸CIPE NA CONCRETIZAÇ‹O DAS VIS›ES, IMAGINAÇ›ES, ENTENDIMENTOS E CONCEPÇ›ES SOBRE, NO E
DO ESPAÇO GEOGR˘FICO.

PALAVRAS-CHAVES: IMAGEM CINEMATOGR˘FICA, IMAGINAÇ›ES, ESPAÇO GEOGR˘FICO

Considerando que a imagem ocupa hoje das visões, imaginações, entendimentos e


lugar privilegiado no contexto cultural e da concepções sobre,
sobre no e do espaço geográfico.
pesquisa nas mais diversas áreas do conhecimento, Pretende-se, ainda, desmistificar a
esse trabalho objetiva refletir sobre um tipo concepção amplamente difundida sobre o
específico de imagem, a cinematográfica, conceito de representação como sendo uma
considerando-a como dispositivo ativo e formador contrapartida mimética de um real existente e da
cultural do entendimento sobre o espaço ideia generalizada de que com nossas linguagens o
geográfico, sua percepção e experiência. A reapresentamos, e defender a noção de que com
proposta é discutir o cinema enquanto um aparato filmes, mais particularmente, partimos da
produtor de imagens que com sua linguagem subjetividade, do não concreto, da imaginação, na
particular atua como partícipe na concretização direção do real para darmos a ele existência, não
ao contrário. Defendo a noção de uma correlação

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estreita entre a imagem fílmica de um determinado experiência, da vivência e também da
espaço geográfico e sua contrapartida na realidade subjetividade. Assim, até mesmo aqueles que
concreta não pela via do entendimento da imagem consideram o cinema unicamente pela via da arte,
fílmica como representação, ou “cópia”, devem considerar que seus espectadores
espelhamento do real, mas da imagem e do espaço percebem e concebem ideias e conceitos sobre o
narrativo como um elemento outro, constituinte espaço independentemente da obrigatoriedade de
da própria formação, experiência e percepção do uma busca específica pela verossimilhança.
espaço geográfico natural concreto e ainda como Nesses anos em que venho trabalhando
um dos elementos responsáveis pela construção com a pesquisa no campo das imagens fílmicas e
do imaginário coletivo e cultural que substanciam sua conotação geográfica, descobri que elas têm
a existência e a experiência deste espaço. como característica básica oferecer
É certo que de forma generalizada muito invariavelmente alternativas a novas perspectivas
facilmente incorremos no erro de tomar as de reflexão, explicação e conceituação. Assim, a
imagens fílmicas como registro da realidade e/ou maneira que assumi de me posicionar diante do
ilustrações em movimento de um determinado objeto pesquisado, o espaço urbano,
objeto ou fato dado em realidade. Isso é um fato contextualizando-o nas aproximações entre
complicador. Por ser o cinema um meio enraizado geografia e cinema, foi a de constantemente dizer
na ideologia do realismo, tradicionalmente para mim mesma: “não é bem assim”. E, a meu ver,
considerado como um “meio de reprodução do o desejo contemporâneo (contido) por um real
real”, o filme tem a capacidade de estreitar as que pudesse se assemelhar cada vez mais
relações entre o mundo real e sua imagem fortemente às realidades apresentadas nos filmes
produzida. não é uma fantasia, alucinação ou impressão sem
No entanto, buscarei demonstrar que o fundamento.
cinema, e mais especialmente os filmes de ficção, Os caminhos de pesquisa mais
não nos apresentam simplesmente paisagens que promissores, em minha opinião, são aqueles que
apenas “ilustram” visualmente uma referência aos negam, antes de qualquer coisa, a ideia de
espaços geográficos transitados e vividos com o representação – e eu sei que eu mesma já incorri
propósito único de “locar” a ação narrativa. no hábito de tomar como dada a noção de
Apresentando paisagens no mínimo configuradas e representação e a considerei em muito dos meus
transformadas visualmente a partir do textos. Revendo conceitos, entendo que evitar
uso/manipulação de infinitas possibilidades e/ou negar o conceito de representação ao lidar
técnicas e estéticas, os filmes servem ao propósito com as imagens fílmicas possibilita a criação da
de, em sua unidade e diversidade artística, ideia de que o espaço não é uma superfície lisa,
promoverem uma apropriação alternativa – não é algo estático, um corte no tempo, com
real/visual – dos espaços e paisagens da

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conexões inter-relacionadas, sem desencaixes, por espaço geográfico. O médico e etnólogo Félix-
onde flui uma única história. Louis Regnault, em 1896, citado em Ramos e
São óbvias as conexões entre filme Serafim (2009), já constatava que “o cinema
realidade. Não pretendo negá-las. É no mundo aumenta a nossa visão no tempo como o
“real” que os cineastas encontram seu sistema microscópio a aumenta no espaço. Ele nos permite
referencial de significação. Através do texto e da observar fatos que escapam aos nossos sentidos
linguagem, o espaço fílmico auxilia na porque demasiados rápidos e fugazes” (Ramos e
interpretação das paisagens naturais, Serafim, 1990, p.90).
transformando e até recriando o real. Nesse Alguns cineastas, como Píer Paolo Pasolini
sentido dois questionamentos me parecem (1982), corroboram essa ideia, levando-a além
pertinentes: de que maneira nossas experiências pelo entendimento do cinema como vetor
têm sido “confundidas” pelas imagens do cinema? responsável por conferir ao espectador a
De que maneira elas têm sido as próprias imagens consciência da realidade. Para Pasolini, o cinema
de cinema? seria a língua escrita da realidade.
Partindo do princípio que filme não é A realidade é um cinema em estado de

representação, o objeto fílmico pode ser pensado natureza [...]. Este cinema em estado de

em relação a sua independência do objeto real no natureza que é a realidade é efetivamente


uma linguagem [...]: uma linguagem de
sentido de ser considerado apto até mesmo de
algum modo semelhante à linguagem oral
assumir o lugar do objeto – substituí-lo em nossa
dos homens: o cinema é assim – através
mente através do processo da visão, da imagem
de sua reprodução da realidade – o
fílmica que se apresenta em frente ao nosso olho –
momento escrito da realidade
talvez respondendo àquele desejo íntimo de poder (PASOLINI, 1982, p. 186).
viver uma realidade fílmica. Uma fusão de
realidades e fantasias pode ocorrer já que Afinal o que é mesmo a realidade sob o
“materialidade, representação e imaginação não entendimento posto acima? Pasolini a tomava
são mundos separados” (Harvey, 1996, p.322, como aquilo que vemos, ouvimos e significamos
tradução minha). nesse processo ininterrupto de viver em meio às
Trazer o espaço para o campo do visível, coisas e pessoas pela “linguagem”. Ela seria
da imagem produzida – com todas as principalmente algo que está no mundo das coisas
possibilidades de alterações em sua própria naturais, materiais, físicas. Não é isto o cinema?
imagem que isto acarreta –, representa partilhá-lo Uma realidade francamente visível e captável pelas
ao desvelamento de sua imagem em suas câmeras cinematográficas que a “reproduzem”
particularidades, de seus elementos difusos ou como linguagem segundo Pasolini. Todavia, ele
ostensivos no que diz respeito à realidade e sabia que a vida era algo bem maior que a
vivência proporcionada pelos usuários desse realidade, e o que havia em seus filmes era a vida,

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apresentada com pedaços da realidade. Essa marca nítida que o conectaria diretamente com a
perspectiva é radicalizada por Jorge Larrosa forma de pensamento, criação e produção humana
(2001), no ensaio Notas sobre a experiência e o inserida no contexto social, econômico, político e
saber da experiência, para quem a realidade pode cultural e que seria identificada com facilidade no
ser outra coisa, ou melhor, ela não seria algo já próprio espaço real sem necessariamente ser a
dado, mas seria aquilo que está em discussão, identificação racionalizada apenas pela via da
podendo dessa forma ser construída e dissolvida, a explicação da visibilidade evocada pela
todo o momento, pelos discursos e práticas sociais verossimilhança/representação.
que nela acontecem. Todavia, filmes são, na maioria dos casos,
O cinema contemporâneo é certamente pensados sob o contorno do espelhamento do real
uma das práticas e discursos sociais mais potentes e como sendo tributários da linguagem do próprio
atuando nesse processo de construção e dissolução espaço para dizer de si mesmo através da sua
da realidade. A cada alusão feita pelo filme ao lugar imagem. Ou seja, filme seria a própria
além-cinema, a sua realidade é colocada em manifestação do espaço diante de nós. O cinema,
questão, entram em circulação outros sentidos e como prática social e discursiva, como aparato
significados que vão compor mais e mais camadas cultural, cria geografias. Como sua linguagem é
de sedimentos memoráveis que serão mais ou visual e auditiva (ambas fortes maneiras da
menos acionados todas as vezes que ouvirmos a “realidade” se apresentar) e sua ideologia de
expressão que nomeia o lugar. Filmes servem, captação-projeção de imagens é tributária da
assim, não somente como objeto para a crítica, tradição pictórica renascentista (assentada na
mas como reordenamento das “imaginações apresentação do mundo a partir das regras
geográficas” que adquirimos do mundo. Por isso matemáticas da técnica perspectiva que permite a
mesmo insisto em citar Crang (1998, p.44, representação da profundidade e do volume no
tradução minha), explicando que “(…) o plano), o cinema por meio do seu produto - o
conhecimento da maioria das pessoas sobre a filme - possibilita e facilita passagens entre as
maioria dos lugares se adquire através da mídia de memórias e vivências cotidianas e aquelas
vários tipos, de maneira que, para a maioria das vivenciadas na tela. Disso, entendo, devemos tirar
pessoas, a representação vem antes da realidade”. proveito e não sucumbir aos ditames
Se o filme (assim como outras linguagens interpretativos impostos pelo simplismo da
– fotografias, mapas, textos literários, etc.) fosse verossimilhança visual claramente existente entre a
genericamente considerado como um meio de imagem do objeto dado em realidade e sua
inventar espaços e lugares, tanto quanto resultante correspondência fílmica.
das maneiras de imaginar e pensar o espaço, e não O cinema, em sua constituição de
como um meio de representação plana e visual do cenários urbanos, por exemplo, alude a formas
mundo, todo e qualquer filme traria em si uma espaciais da realidade. Cidades como São Paulo,

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Rio de Janeiro, Nova York, Japão, Tókio muitas vezes se cruzam com lugares para além dos
etc são apresentadas como composições filmes, contaminando esses lugares com seus
imagéticas que em sua versão cinematográfica sentidos, seus ângulos, seus enquadramentos,
determinada por códigos, convenções e técnicas redefinindo-os perante os espectadores. Esse é um
diversas, constituem os espaços fílmicos. Esses processo de contaminação mútuo: no cinema
espaços fílmicos são organizados na e para as proliferam alusões a lugares criados no que
narrativas. São esses espaços fílmicos que realizam concebemos como a realidade concreta, seus
as alusões à realidade e sua construção – pelo discursos e práticas sociais. Da mesma maneira,
título ou pelo tema, pelas fisionomias das nestes lugares “reais” e sociais proliferam alusões a
paisagens ou dos personagens, pelos elementos lugares criados e projetados nas telas do cinema.
espaciais que compõem o cenário ou por sons e Deve-se considerar que o cinema, para
pelo diálogo. Estas são algumas das formas mais instalar seus cenários e suas narrativas, lança mão
comuns de fazer alusões a e de reconstruir espaços da cultura na qual se insere e da cultura onde está
presentes na realidade concreta. No entanto, ao inserido seu público. Nossas memórias espaciais
fazer isto, os filmes também se apóiam em (em suas formas e sentidos) são as bases da
conhecimentos e percepções outras mais configuração do lugar e do “clima” narrativo. Ao
vinculadas à subjetividade (memórias que localizar a trama em algum lugar, abre-se um
trazemos dos territórios, espaços, lugares e “campo de possibilidades imaginativas” aos
i
paisagens ), seja de ficção, seja documentais. espectadores. Abre-se um “campo de

Além da imposição da linguagem (imagens possibilidades de ação” aos personagens. No

e sons que impõem ao cinema o espaço como escuro da sala de projeções misturam-se esses dois

condição de existência), a cultura cinematográfica “campos de possibilidades”: as imagens e sons que

no geral é, em grande medida, assentada em uma vão aparecendo a nossa frente e os conhecimentos

continuidade entre a realidade social e os filmes. dispersos em nós acerca dos lugares e das práticas

Dito de outra forma, tornou-se culturalmente um espaciais nele desenvolvidas. Na verdade, “o

hábito tanto produzir quanto assistir produtos receptor transfere leis e verdades do mundo físico,

audiovisuais em continuidade com o mundo real, para preencher as lacunas significativas à

cotidiano, como se eles fossem a apresentação construção do universo ficcional”, sugere Sandra

mesma da realidade diante de nós. Em outras Luna (2009, p.102). Ao mesmo tempo,

palavras, não assistimos aos filmes como obras de argumentando nessa mesma linha de raciocínio,

ficção e fantasia, mas principalmente como obras Oliveira Jr. (2001, p. 3-4)) explica:

da realidade.
realidade Acompanhando a um filme cujas cenas se
passam numa favela do Rio de Janeiro,
Ao cinema, o espaço é imposto como por exemplo, esperamos encontrar
certos personagens porque levamos para
condição de existência. As cenas que compõem a dentro dele as imagens vistas nos
narrativa se desenrolam em lugares fílmicos que telejornais, as aulas de Geografia que
tivemos nas escolas por que passamos, as

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conversas que tivemos ao longo de memória – que recortam, remontam se dando na
nossas vidas e que tocaram nesse
assunto, os clips vistos com locações na tensão existente entre lembrar e esquecer – mas
Rocinha, as leituras acadêmicas acerca nos colocando como partícipes do lugar e dos
das configurações espaciais e sociais que
compõem as favelas brasileiras. [...] O acontecimentos. O nosso olhar se confunde com o
diretor do filme “ganha tempo” com isso,
pois já ao iniciar nos coloca no “clima” da câmera que nos apresenta objetos e fatos muito
narrativo desejado pela trama, semelhantes com os quais convivemos em nosso
constituído pela loca(li)ção da cena
nesse cenário/lugar. dia a dia.

A tradição de produção e recepção de Marcel Martin (1990) chama a atenção

filmes está mais fortemente vinculada ao espaço para o fato de lembrarmos mais das coisas vistas

externo (arquitetônico e geográfico) que ao nas telas do que daquelas vistas fora delas. Sendo

interno (subjetivo). Daí que mesmo os filmes de assim, não seria justo dizer que, após mais de cem

ficção têm, por assim dizer, algo de documental. anos convivendo com o cinema e seus corolários

Como os lugares se mostram diante do espectador imagéticos, vemos a vida com os olhos do cinema?

em seus aspectos visuais e sonoros, criam-se Podemos considerar, portanto, nesse

passagens mais ou menos explícitas entre o entendimento, que o espaço fílmico e suas

“mundo real” e o mundo fílmico, ampliando assim paisagens, em sua configuração e em seus

as tensões e trazendo as memórias e imaginações processos, atuam sobre o espaço considerado real.

para o interior da narrativa. Contudo, o cinema As cenas fílmicas estariam a nos dizer dos

como linguagem artística tem a capacidade de, em lugares, a circulação dos personagens pelos

muitos momentos, transformar essas paisagens espaços fílmicos estariam a nos lançar luzes sobre

contextualizando-as e transformando-as de forma os entendimentos da circulação das pessoas no

poética e fantasiosa. espaço geográfico para além filme. Isso porque, se

Cito como exemplo “Corvos”: o quinto a linguagem do cinema se constrói com “pedaços

dos “sonhos” apresentados no filme Sonhos da realidade” (que apesar de serem pedaços,

(1990) de Akira Kurosawa. Nesse caso é conservam em seu interior as tensões, impurezas e

perceptível a concepção de narrativas como memórias dessa realidade), suas “palavras e frases”

elaboradas em rememoração (às paisagens da seriam os “quadros” que vemos diante de nós, que

Holanda e à Arte e biografia de Van Gogh) e nos apresentam o mundo em ângulos, cores, focos,

concebidas como fantasia. Mesmo assim, as cenas enquadramentos, tudo a nos oferecer

diante de nós nos parecem mais – e são reais. inevitavelmente algum espaço.

Reais como imagens que são, apesar de Seria esse o efeito do adensamento de

“fantasiosas”. sentido realizado pelo cinema? Ao recortar os


Expostos às imagens que se nos locais de suas paisagens originais, localizando-os

apresentarem reais, nos identificamos com o filme, numa sequência fílmica, o cinema adensaria em

não apenas alocando nossos conhecimentos e torno desses poucos locais apresentados todo

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aquele lugar – o Rio de Janeiro, na citação de Talvez esse seja o motivo dos locais vistos
Oliveira Jr. acima – ficando estes locais “soltos” na nas telas serem mais lembrados que os vistos fora
imaginação/memória do lugar, sendo, então delas como afirmou Marcel Martin. Nas telas eles
“aproximados” entre si pelas semelhanças visuais estão adensados com os demais locais eliminados
que apresentam ou pairando solitários por sobre a do enquadramento, mas “trazidos” em sua
cidade que identificam. existência para o interior da imagem do local
Lembro que a maioria dos filmes que enquadrado. Desta forma, ao ver um local na tela,
aludem a um determinado território ou lugar os espectadores vão, em movimento invertido,
geográfico existente para além das telas é em sua desadensando a imagem, espraiando-a em outros
maioria filmado fora dele. Apenas como exemplo locais que sabem existentes para além das bordas
cito os tantos filmes sobre o Vietnã filmados em do quadro cinematográfico, não somente em
cenários semelhantes em termos de natureza, ou extensão territorial, mas principalmente em
os infinitos filmes locados em Nova York que dispersão nas memórias.
sabemos filmados em cenários montados nos
Destarte, o espaço em filmes deve ser
estúdios de Hollywood, Los Angeles - Califórnia.
pensado como um acontecimento resultante de
Esse “baralhamento” de diversos locais
articulações e desarticulações entre as
sobrepostos uns aos outros, me faz acreditar que
multiplicidades simultâneas que coexistem em
se trata de mais um dos recursos da linguagem do
certo lugar. Todo filme, com suas imagens
cinema para construir suas narrativas dentro das
geográficas, apresenta o mundo de determinada
possibilidades políticas, financeiras e estéticas
forma, sob determinado olhar e entendimento
relacionadas ao lugar que estabelecem visualmente
espacial. Seria então filme a melhor escolha – o
na tentativa inclusive de ampliar os sentidos sobre
formato cultural por excelência para fazer
os lugares referenciados. Mais uma vez aqui
funcionar a realidade desta imaginação espacial?
podemos destacar a capacidade fílmica de
Segundo Cunha (2009) - referindo-se ao conceito
promover o efeito de adensamento de sentido
apresentado pelo cineasta russo Lev Kulechov –
mencionado anteriormente.
uma “geografia criativa”, que desconsidera a noção
Cabe aqui perguntar: Além dessa
de que a imagem fílmica e sua construção do
“aglutinação” de locais, esses “desenhos”
espaço fílmico advêm do real e das imagens
geográficos estariam apontando para uma
captadas deste real em locais distantes, mas
concepção de espaço, de cidade referenciada mais
sequenciadas como se pertencessem a um único
em suas formas visuais que em suas dinâmicas
espaço, pode ser o ponto de partida para a
sociais? Nesse caminho, eles apontariam para uma
desmistificação da ideia consensual sobre a
inversão na lógica tradicional de se pensar o
imagem fílmica como cópia, reflexo direto do real.
espaço?
Nesse sentido, um questionamento: considerada

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como sendo parte da realidade, como a imagem pelo artista atribui àquilo que é representado um
poderia ser apenas uma cópia dela? valor de “verdade”. A autora explica que,
A paisagem cinematográfica não é, diferentemente da noção de que o texto verbal (a
consequentemente, um lugar neutro para
o entretenimento, ou uma documentação palavra) pode mentir, a imagem por sua vez parece
objetiva, ou um espelho do ‘real’, mas fixar o que existe. Em outras palavras, a imagem é
uma criação cultural ideologicamente
comprometida, em que significados do genericamente entendida e tida como mais
lugar e da sociedade são formados,
legitimados, contestados e esquecidos. proximamente relacionada à “verdade” da
Intervir na produção e consumo da realidade que representa do que qualquer outra
paisagem cinematográfica nos ajudará a
questionar o poder e a ideologia da forma de representação. Portanto, mesmo não
representação, e a política e problemas
contidos na interpretação. sendo efetivamente “verdadeira”, a imagem é
Principalmente, isso contribuirá para uma tomada como tal e conseguintemente contribui
finalidade mais ampla que é mapear as
geografias sociais, espaciais, e políticas para a formação e consolidação da verdade do
do filme (HOPKINS, 1994, p.47,
tradução minha).
espaço/lugar.
Faz-se necessário destacar as
Imagens fílmicas do espaço geográfico
possibilidades de construção e desenvolvimento
influenciam a maneira como vemos, entendemos e
do lugar e da subjetividade fílmicas introduzidas
como nos comportamos em seu contexto. Pelo
pelo uso do som no cinema (o cinema falado).
adensamento, as imagens do espaço natural e
A grande mudança que acontece no
fílmico se misturam. Nesse caso, o espaço
processo evolutivo do cinema em termos do
concreto também se torna um espaço constituído
cinema falado clássico é que, bem como destaca
no interior de um sistema de significação também
Deleuze, “em vez de uma imagem vista e uma fala
influenciado, modificado, e reestruturado pelas
lida, o ato de fala torna-se visível ao mesmo tempo
imagens fílmicas. Se para Cosgrove (1984),
em que se faz ouvir, mas também a imagem visual
referindo-se ao conceito apresentado pelo cineasta
torna-se legível, como imagem visual em que
russo Lev Kulechov, a própria paisagem natural,
seinsere o ato de fala como componente”
presente na realidade objetiva, é “uma maneira de
(Deleuze in MACHADO, 2009, p.291).
ver”, ou ainda “é uma maneira de fazer o mundo
Uma cena exemplar do exposto acima é
visível” (p.8, tradução minha), como já mencionei
muito bem descrita por Machado (2009): “Como
em outra ocasião (COSTA, 2002), as imagens
a canção da mãe, em O Homem que Sabia Demais
fílmicas são simultaneamente uma maneira de ver,
(1956), de Hitchcock, que sobe as escadas,
conceber e criar o mundo tanto quanto de
atravessa salas até ser ouvida pelo filho refém”
produzir sua “verdade”.
(p.291). Outra cena exemplar é a que se apresenta
Em A Invenção da Paisagem, Anne
em M, O Vampiro de Dulssedorf (Fritz Lang,
Cauquelin (2007) chama a atenção para o fato de
1931) quando o chamado da mãe da menina Elsie
que no processo de visualização de um
ecoa e invade todos os espaços do apartamento,
espaço/lugar, qualquer composição imagética feita

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do edifício, da vizinhança expandindo-se pela particularidades audíveis e visíveis (seus objetos
cidade até encontrar a imagem da bola e do balão podem ser tocados, cheirados, degustados);
soltos denotando a captura da menina pelo 2. O espaço visível da tela (receptor da imagem):
assassino. mensurável; contém os significantes visíveis;
Assim, como Machado chama a atenção, 3. O espaço acústico da sala de projeção: espaço
“os elementos sonoros, como os ruídos, os sons, visível que envolve o espectador.
as falas, a música, formam um continuum que, A voz-off no cinema narrativo clássico,
mesmo podendo se diferenciar, faz parte da argumenta Doane (2003, p.465), se configura
imagem visual. O cinema permanece, como o como ótimo exemplo no qual “os três espaços
cinema falado clássico, uma arte profundamente passam por elaborada superposição. Pois o
visual” (MACHADO, 2009, p.291). fenômeno da voz-off não pode ser compreendido
Ademais, e considerarmos apenas a fora de uma consideração sobre as relações
técnica narrativa no emprego da voz-off e voz- estabelecidas entre a diegese, o espaço visível da
over para a qual Doane (2003, p. 462) chama a tela, e o espaço acústico da sala de projeção”. A
atenção como dispositivo gerador de uma nova voz-over (durante um flash-back ou no
configuração e introdução na linguagem narrativa documentário) é de fato uma voz
fílmica de um “corpo fantasmático” – aquele que “descorporalizada”.
proporciona uma possibilidade de negar “o Sabe-se que filme não diz respeito
enquadramento como limite e uma afirmação da somente ao visível (aquilo que é posto em forma
unidade e homogeneidade do espaço de imagem), mas igualmente ao não visível – o
representado” – podemos pensar, nos mesmos tátil, o olfativo, o gustativo –, que é também
moldes da “negação” do limite do enquadramento, indicado pelo filme graças à relação direta
sobre o adensamento promovido pelas imagens. existente e apreendida entre a visão e a audição
A “invisibilidade” do corpo no propiciada pelo cinema. Exemplos óbvios são,
enquadramento, adicionada à sonoridade da voz respectivamente, A Partida (Yojiro Takita, 2009),
no espaço em cena, determina a construção de um Perfume ((Tom Tykwer, 2006) e A Festa de
espaço que contraditoriamente define-se pelo Babete (Gabriel Axel, 1987).
“som”, não pelo visual do corpo humano portador O espaço geográfico no filme obedece a
da voz e/ou do espaço em que este se coloca ou este processo de conjunção de elementos
ainda da paisagem projetada. narrativos descritos acima. Nesse sentido passa a
Doane enumera três tipos de espaço que ser símbolo representativo de uma experiência
entram em jogo no cinema: espacial que, a um só tempo, “molda” nossa visão
do mundo em geral e do espaço em particular. A
1. O espaço da diegese: sem limites físicos, espaço
imagem fílmica do espaço geográfico conformada
virtual construído pelo filme; possui
nessa sobreposição de sons e vozes é uma

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expressão cultural. Da mesma forma que a acabam por modificar-se e gerar novas formas de
paisagem é mais do que um display de uma espaço. O cineasta explorando, normalmente com
materialidade física (CRANG, 1998; HOPKINS, detalhes, os aspectos sensíveis do objeto filmado
1994), mais do que uma ilustração de um lugar (no caso o espaço geográfico) se coloca como um
específico em um tempo específico, o mesmo se dos diversos agentes na formação dos referidos
aplica às imagens fílmicas dos espaços geográficos. discursos.
Luna (2009) concorda: Consideremos então as seguintes
O cinema manipula esteticamente o suposições: (1) se o espaço geográfico é
espaço de forma extraordinária. O
espaço fílmico raramente se apresenta constituído tanto das materialidades e processos
como reprodução fiel de uma quanto das memórias; (2) se o espaço geográfico é
espacialidade física, representação de
uma realidade tal qual ela constituído tanto de sentidos quanto de
verdadeiramente existe. A espacialidade
fílmica é na verdade uma espacialidade materialidades, (3) se essas duas dimensões se
conceptual, imaginária, estruturada, tencionam e se configuram mutuamente; (4) se o
artificial, construída. Trata-se de um
universo imagético no qual coexistem cinema é uma prática social e discursiva que
condensações, fragmentações ou
junções. (LUNA, 2009, p.100). constrói e dissolve sentidos (e mesmo
materialidades) espaciais; (5) se os sentidos dados
Ademais, a noção de que a arte, de que
aos elementos espaciais atuam diretamente nas
qualquer representação audiovisual per se “reflete”
práticas espaciais desempenhadas pelas pessoas e
o mundo real se torna cada vez mais insólita, pois
grupos sociais, é necessário e urgente que a
se a visão é socialmente construída e
Geografia, enquanto área do conhecimento
culturalmente localizada (HALL, 1997), pode-se
acadêmico, se preocupe em entender as práticas
argumentar também que não existe uma realidade
espaciais que configuram e reconfiguram o espaço
visível única a ser cogitada pelos sistemas e meios
geográfico nos contextos espaciais
imagéticos culturais.
problematizados no real e no ficcional.
O mundo não é pré-formado, esperando
para ser ‘visto’ pelo olho humano. Não Estou convencida de que o cinema como
há nada intrinsecamente formado,
interessante, bom ou belo como nossa aparato de produção de imagens audiosvisuais é
visão cultural dominante parece sugerir. um campo de estudos legítimo e necessário aos
A visão é uma prática cultural qualificada
(JENKS, 1995, p.10. Tradução minha). profissionais da Geografia. Por este motivo é que

O mundo “real” se torna, então, um assistir a filmes e conversar sobre eles tem muita

conjunto de atos, crenças, pensamentos e imagens, relação com aquilo que Walter Benjamin, no

que aparecem através das mais diversas formas de ensaio Alguns temas sobre Baudelaire, chamou de

linguagens culturais e artísticas. O espaço é assim experiência. Pesquisar filmes transforma essa
constituído e construído por diferentes discursos relação em algo a ser perseguido, aproximado,

que não somente dão sentido a eles mesmos, mas reparado.

também interagem entre si de uma forma tal que Penso ainda que, após tantos anos de

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convivência com o cinema, nós espectadores realização dos dois mundos (concreto e fílmico),
contemporâneos temos “o olho” a todo instante ela trabalha como uma “ponte” para o
armado e desarmado pelas imagens e sons do entendimento dos espaços e dos lugares que
cinema. Na tradição hegemônica de imagens (a vivenciamos; ainda mais porque, talvez sem uma
americana e seus corolários) faz-se um enorme compreensão real dos motivos, mas certos do
esforço para que esses “pedaços da realidade” poder da imagem atualmente, cogitamos no
apareçam diante dos espectadores com seus mínimo a possibilidade de que “Quanto mais
significados já postos e seus sentidos em improvável o acontecimento, mais familiar a
estabilidade, contidos pelo próprio fluxo da imagem” (DAVIS, 2007, p.15).
narrativa – onde a trilha sonora tem papel
fundamental – e pela agilidade dos quadros e SOBRE A AUTORA_________________________________________
efeitos visuais. Nas tradições cinematográficas em *Professora do Departamento de Artes e do Programa de Pós-
Graduação em Geografia – UFRN
que o fluxo das imagens é contido, em que a Coordenadora do Grupo de Pesquisa Linguagens da Cena: Imagem,
Cultura e Representação
realidade se manifesta em sua maior inteireza, os
significados e sentidos circulam com mais
constância e insistência pelas imaginações e NOTAS __________________________________________________

corpos dos espectadores. ¹ No que se refere às relações entre as memórias e as paisagens, ver
Simon Schama (1996, p.17) Paisagem e memória, no qual o autor
Finalmente eu diria que filme é um meio
escreve: “Antes de ser um repouso para os sentidos, a paisagem é
artístico e de comunicação intercultural e obra da mente. Compõe-se tanto de camadas de lembranças quanto

sensitivo, pois é capaz de flexibilizar e relativizar de estratos de rochas”.

princípios que normalmente são tidos como REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS____________________________


únicos e universais proporcionados unicamente na
CAUQUELIN, A. A Invenção da Paisagem. São Paulo: Martins
realidade concreta (vivida). O cinema então
Fontes, 2007.
promove e possibilita outro tipo de vivência, uma
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vivência alternativa advinda da experiência fílmica.
London: Croom Helm, 1984.
Concluindo, eu diria que a imagem do
COSTA, M. H. B. V. Paisagem e Simbolismo: Representando e/ou
espaço geográfico no filme é uma imagem cheia de
Vivendo o Real?. Espaço e Cultura, n.15, UERJ, 2002.
significados. É uma paisagem criada por imagens
CRANG, M. Cultural Geography. London: Routledge, 1998.
“escolhidas” previamente e que, juntas, não apenas
se tornam uma imagem unificada, mas dispositivos CUNHA, R. (Org.). O Cinema e Seus Outros. Brasília: LGE Editora,
2009.
capazes de dizer muito sobre outras imagens que
podem ter ou não contrapartida original em DAVIS, M. Cidades Mortas. Rio de Janeiro: Record, 2007.

realidade. Como a imagem geográfica no filme é DOANE, M. A. “A Voz no Cinema: A Articulação de Corpo e
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de certo modo produto da imaginação e da
São Paulo: Graal, 2003.
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ABSTRACT: THIS ARTICLE AIMS TO REFLECT WORK ON A SPECIFIC TYPE OF IMAGE, THE FILM, CONSIDERING IT AS THE ACTIVE DEVICE
AND TRAINER'S CULTURAL UNDERSTANDING OF THE GEOGRAPHIC SPACE, ITS PERCEPTION AND EXPERIENCE. THE PROPOSAL IS TO
DISCUSS THE FILM AS A PRODUCER OF IMAGES THAT APPARATUS WITH ITS PARTICULAR LANGUAGE ACTS AS A PARTICIPANT IN THE
REALIZATION OF THE VISIONS, IMAGININGS, UNDERSTANDINGS AND CONCEPTIONS OF, AND IN GEOGRAPHIC SPACE.

KEYWORDS: FILM IMAGE, IMAGINATION, GEOGRAPHICAL SPACE

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