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trabalho. Dessa forma, o filme nos mostra o para qual classe social, faixa etária, raça,
perigo de delegar a responsabilidade da etnia, cor, nível de escolaridade,
educação dos jovens à uma única pessoa, e nacionalidade, etc., esses filmes foram
que, pelo menos no quesito educação, a destinados, “e, considerando-se os interesses
individualidade não proporcionaria vitórias. comerciais dos produtores de filme, tem a ver
Tomado como um dispositivo que constrói com o desejo de controlar, tanto quanto
identidades culturais, o discurso possível, como e a partir de onde o espectador
cinematográfico fortalece práticas de ou a espectadora lê o filme” (ELLSWORTH,
representação, mostrando mundos e verdades 2001, p. 24).
que visam emocionar e convencer o
espectador, na produção de histórias que
comovem, tranquilizam e acalentam. Por Conclusão
meio de suas narrativas, o cinema apresenta
diferentes perfis de personagens, todos Esse comportamentodo docente nos
carregados de significados. Tratando-se filmes evidencia a pedagogia do herói da
especificamente dos filmes de escola, há, por gramática hollywoodiana, que ovaciona o
um lado docentes e alunos que representam “o trabalho isolado. Isso significa dizer que toda
correto” – a forma correta de agir, de se a responsabilidade da gestão de conflito recai
comportar, e de outro lado, há aqueles que sobre o/a professor/a, deixando a este a
encarnam como determinado agente não deve mensagem que ele deve assumir o problema
ser (irresponsável, indiferente, anormal). sozinho, e, ao resto da comunidade, o
Diante dos modelos apresentados na tela, as discurso de que estão isentos de qualquer
pessoas tendem a se identificar mais com um responsabilidade, uma vez que, um bom
do que com outro “[...] vendo-se professor, é capaz de fazer tudo por sua
representadas ou refletidas (ou como se diz, própria conta.
‘sentindo-se no seu lugar’) em algum deles” O discurso sobre a centralidade do
(HALL, 1997, p. 8). professor evidenciado na narrativa vai de
Ao produzir significados, o cinema cria encontro aos dados científicos acerca da
identidades e representações acerca dos violência na escola. Estes apontam que para
agentes envolvidos nas suas narrativas, e uma efetiva prevenção (à) e superação da
esses personagens não estão inertes nas cenas, violência na escola são necessários,
eles agem de acordo com a vontade de quem sobretudo, a valorização do profissional da
escreveu a história. Além do mais, deve-se educação e o trabalho em equipe, fatores que
sempre considerar que “os filmes, assim como levam a instituição, a família, os especialistas
as cartas, os livros, os comerciais de televisão, e toda comunidade a se envolverem no
são feitos para alguém” (ELLSWORTH, enfrentamento dessas violências
2001, p. 13). Os estúdios de cinema gastam (ABRAMOVAY et alii, 2003).
milhões para produzir um filme, e seu É preciso lembrar também que os filmes
objetivo principal é lucrar com ele, e para que falam sobre a escola, não são assistidos
isso, precisam primeiramente recuperar os somente fora delas, muitos fazem parte dos
milhões que investiram em roteiro, cenário, currículos das instituições. Eis aí mais um
contratação de atores, publicidade, etc. Então, motivo para incentivar o exercício da análise
não basta apenas criar uma boa história, é desses filmes, pois, ensinando formas de ser e
preciso investigar quem é o público que vai agir, o cinema está regulando as condutas de
assistir aquele filme. docentes, discentes, e comunidade. Instituindo
O endereçamento não é algo claro, valores e crenças, muitas vezes inatingíveis
explícito, e não pode ser analisado da mesma por quem é delegado por este artefato a
forma com que se analisa o roteiro e as resolver o problema.
imagens. Ele está mais ligado à estrutura Enfim, os artefatos “é que estão
narrativa, e embora possa demonstrar rastros fabricando nossa identidade, regulando nossa
implícitos e explícitos de suposições e desejos forma de ser e de agir, determinando o certo e
de seus produtores, jamais dirão literalmente o errado, enfim, definindo quem somos e nos
______. Mídia, magistério e política cultural. METZ, Christian. Linguagem e cinema. São
In: COSTA. M. V. (Org.). Estudos Culturais Paulo: Perspectiva, 1980.
em Educação: mídia, arquitetura,
brinquedo, biologia, literatura, cinema.../
Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, Recebido em: 19 de fevereiro de 2015
Aceito em: 03 de abril de 2015.
2004, p. 73-92.