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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DISCIPLINA: TEORIA ANTROPOLÓGICA 4
DOCENTES: OTÍLIA APARECIDA, RENATA MARINHO, ROBERTO MARQUES
ALUNA/O: GEÍZA MARIA DIAS DE OLIVEIRA

1) O texto O Perigo de uma história única, de Chimamanda Adichie, chama a


atenção para o compromisso político de se multiplicar os pontos de vista sobre
determinadas populações e sujeitos e assim não enclausurar esses sujeitos em uma
narrativa unilateral, construída a partir do ponto de vista das posições hegemônicas
de poder. Considerando essa situação proposta por Chimamanda Adichie, responda
as questões abaixo:

- Considerando as relações de poder, quais seriam as dificuldades para que essa


multiplicação de pontos de vista ocorra, de acordo com a leitura de Edward Said?

O orientalismo questiona o percurso unilateral da narrativa ocidental sobre o


oriente, isto é, que pensa uma produção de uma narrativa única, posicionada e
direcionada sobre o mesmo, reduzindo-o a uma abordagem dominante que forja
uma imagem e a fixa como evidência do real. Sinteticamente, a base para o Said
trazer esses questionamentos sobre a concepção de orientalismo tem em vista
principalmente a literatura e as representações das imagens ocidentais sobre o
oriente dos séc XVIII e XIX, com isso pode-se dar continuidade a essas reflexões a
partir dos questionamentos de Edilayana Alexandrino, Artista Visual, Pesquisadora e
Educadora: Já parou pra pensar que imagens nascem quando dialoga? Que
mundos são criados ou destruídos a partir da sua fala?
Ao dialogar, as imagens surgem a partir do que já se apreendeu sobre o que
é cada coisa e como o mundo é até então, porém essa apreensão do que seria o
mundo tende a ser preconcebida por essa narrativa unilateral que é mediada por um
determinado grupo que detém e concentra o poder sobre o capital, as instituições
em geral e os conteúdos em que temos acesso. Sendo assim compartilhada na
intenção de construir essa projeção de mundo. Pensando a partir de Foucault, "O
que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele
não pesa só como uma força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz
coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso.". Sendo assim, é possível
"destruir" mundos a partir do mesmo discurso no qual é construído a narrativa que
evidencia determinados mundos como exemplo de sociedade. Se ao multiplicar as
narrativas se estabelece novas possibilidades de relações de poder, e se nessa
dinâmica dominante o poder está centralizado e organizando as atualizações de
dominação a todo instante, torna-se desafiador as dificuldades para se multiplicar
esses pontos de vista.
Pensando nisso, para Said, as dificuldades para que ocorra essa
multiplicação de pontos de vista é que a existência dessa massiva e constante
construção cultural do “outro” é a base para a criação dessa categoria dominante, e
a forma que se torna permanente a sua possibilidade de agenciar o mundo para tal
olhar. Portanto, voltando-se às imagens, poderia-se dizer que imagens constroem
imaginários e que nesse caso, esses imaginários que constroem essa relação de
alteridade, torna-se representação dessa narrativa criada para inventar um "outro"
externo a sua cultura e paralelamente inventar a si mesmo dentro dessa categoria
dominante. Tendo isso em vista, dá pra pensar que nós como integrantes desse
meio de compartilhamentos de imagens e ao mesmo tempo consumidores e
reprodutores, estamos constantemente sendo orientados e agenciados para
atribuirmos esses posicionamentos e esses sentidos compartilhados pelas imagens,
principalmente quem está diretamente envolvido na dinâmica da universidade, que
está permanentemente em contato com essas produções discursivas de alteridade.
Essas instituições acadêmicas funcionam como centralizadores de informações e
processamentos sobre os lugares. Porém essa concentração não é só descritiva, é
também produtiva, portanto pode ser realizável na materialidade. As raízes que
sustentam essa narrativa dominante estão profundamente estruturadas e sendo
estruturadas constantemente, por isso torna-se difícil a multiplicação de narrativas e
consequentemente estabelecer novas possibilidades de relações de poder.

- Levando em consideração o texto de Grada Kilomba e o de Edward Said, como


nos encontraríamos nós mesmos/as implicados/as na perpetuação de pontos de
vista hegemônicos sobre os sujeitos e as populações?

Ao nos pensar dentro dessa perpetuação de pontos de vista dominante,


também pensamos no papel do agenciamento como forma de localizar os sujeitos
na sociedade. Ou seja, nós somos constantemente atravessados por instituições
que modelam os nossos posicionamentos sobre o mundo e os outros sujeitos. E
pensando não somente essa relação social do cotidiano, mas a relação que vem a
ser construída com as ciências sociais, por estarmos muitas vezes atentamente
envolvidos nessas relações e às pensando. Sendo assim, essa relação construída
com as Ciências Sociais tanto pode torná-la um principal meio de reprodução
desses posicionamentos quanto torná-la aliada de várias outras perspectivas e
referências que a torna possível criar novos caminhos, olhares e sensibilidades, a
fim de multiplicar perspectivas e se reconhecer e reconhecer os outros sujeitos
nesse processo. Por estamos construindo uma relação com as ciências sociais e
também estarmos nesse processo de escuta de criação de pontes entre sujeitos,
histórias, relações, é importante nos localizarmos nesse processo de agenciamento,
pois se estamos agenciados consequentemente nossas escritas estão agenciadas.
E na descrição utilizamos da escrita para expressar essas relações na qual também
somos envolvidos. Ou seja, a forma como nos colocamos nos textos; como
apresentamos os sujeitos; como expressamos sua presença e suas interpretações;
como construímos nossa presença em campo e a relação entre os interlocutores;
como ampliamos nossas referências que inspiram a produção textual, são alguns
dos pontos iniciais que nos levam a percebermos de que forma estamos implicados
e que forma estamos implicando no que se refere a perpetuação de pontos de vista
ou a multiplicação dela. Portanto, ressalto em minhas palavras e interpretações da
discussão trazida por Chimamanda Adichie, multiplicar pontos de vistas é multiplicar
pontos de vida a fim de construir imagens que deem conta da complexidade e
diversidade das imagens que retratam a diversidade cultural e desmistificar essa
homogeneização e generalização construída por essa perspectiva dominante sobre
os demais povos.
Grada Kilomba nos atenta a perceber como a elaboração trágica dos
discursos e das imagens tem potencialidades de agenciamento que provocam
afetações devastadoras nos sujeitos ao qual é associado essas invenções.
Portanto, pensando principalmente o papel dos sujeitos que estão cursando ciências
sociais, torna-se essencial ampliar as referências para criação das escritas, isso
estaria aliado a um processo de localização de si e dos demais sujeitos dentro
dessa armadilha dos discursos e imagens coloniais que nos promovem como
reprodutores de uma escrita que violenta.

2) Grada Kilomba nos ensina que estamos todas e todos envolvidos pelo
discurso colonial e as marcas que tornou óbvias em nossos corpos. Essas marcas
são reproduzidas cotidianamente no que a autora chama de Racismo cotidiano. O
que Grada Kilomba chama de Teatro do racismo? Depois de definir esse termo com
suas palavras, cite um exemplo.

Grada Kilomba coloca que estamos imersos da pior maneira possível dentro
de um emaranhado de discursos e imagens que carregam simbolismos, logo
definem-nos nessas cenas como personagens, como protagonistas, outros como
ouvinte, outros como figurantes, mas cada um está constantemente sendo
promovido para vivenciar esses papéis. Portanto, o Teatro do Racismo compreende
a realidade onde os sujeitos como personagens estão aprisionados a essas
imagens recorrentes do “outro” como um não sujeito para se constituir dentro do
enredo como o sujeito. Ou seja, cada papel, performance, torna o racismo possível.
Capa papel, como o do sujeito que verbaliza a agressão, como o sujeito que é
agredido, assim como os que não intervêm na situação apresentada, ou seja, todas
essas ações expressas assim como a ausência da intervenção traduzido pelo
silêncio conduz o teatro colonial. Tendo isso em vista, pode-se identificar que esse é
um dos momentos em que se atualiza a invenção de uma identidade contrastiva.
Um exemplo pode ser retartado por uma situação recente que aconteceu
aqui no brasil na loja Renner. No noticiário foi colocado a seguinte manchete,
“Racismo: funcionária da Renner acusa mulher negra de roubar roupas”. “Uma
mulher negra que experimentava roupas no provador alega que foi vítima de
racismo por parte de uma funcionária. De acordo com a cliente, a trabalhadora a
acusou, sem provas, de roubar peças da loja.”. “Ela falou: tira tudo que tá dentro da
bolsa. Me dá a bolsa que eu vi você pegando”. A gente pode identificar como essa
cena se integra às imagens que já vem sendo alimentadas anteriormente na
narrativa que constrói uma distância simbólica que define o sujeito branco como
tendo a permissão de invadir o corpo de outra pessoa sem que a outra o permita.
Não somente uma invasão física como verbal. Proporcionar um ambiente
vergonhoso e de humilhação como forma de reiterar imaginários de si mesmo.

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