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Elabore uma reflexão sobre a visão antes pejorativa da miscigenação para depois
positivada no pensamento social brasileiro. Para isso, recorra aos textos de Lilia
Schwarcz, Euclides da Cunha, Oliveira Vianna, Gilberto Freyre vistos em sala e aos
filmes trabalhados na disciplina (Que horas ela chega? e Casa Grande & Senzala).
Não esqueça de ressaltar os aspectos de classe, raça e gênero em sua análise.
Lilia Schwarcz
Euclides da cunha
Com Euclides da Cunha, influenciado pelo determinismo geográfico, fez uma leitura
tanto descritiva como interpretativa do contexto que atravessava a guerra dos
canudos, construíndo o livro chamado por ele de: “os sertões”, que logo se
concretiza em palavras: "o sertanejo é antes de tudo um forte”. Essa expressão dita
por Euclides é fundamental para compreender-se como ele trata a questão da
miscigenação. Como suas elaborações apesar de carregadas pela concepção
negativa da miscigenação traz um elemento a mais, que portanto, torna a sua
interpretação uma contradição. Pois mesmo ele considerando o sujeito sertanejo
como um “forte”, ele o considera antes um miscigenado no ponto de vista negativo,
portanto, apesar desse sujeito sertanejo ser um miscigenado, ele é um forte. A
miscigenação não é portanto positivada, mas a situação subjetiva daquele povo em
relação com o território, os tornou diferentes, ou seja, a miscigenação no restante do
brasil tomaria rumos diferentes.
Pode-se perceber que essa afirmação, mesmo que para Euclides fosse um fato, que
tem um sentido explícito, que coloca abertamente a miscigenação como sendo uma
coisa negativa, o que podemos vê nos dias atuais, é que essa dinâmica elaborativa
da linguagem, que trás essa contradição se faz em outros formatos. Portanto, a
linguagem, carregada de associações históricas vê-se atualmente sendo
reproduzidas dentro de expressões que se assemelham a essa, como: “Ele é preto,
mas é gente boa”, “mas ele nem é tão preto assim” e tantos outros jeitos de dizer,
que dentro das justificativas atuais, acabam por serem considerados não como algo
derivado dessa perspectiva, mas parte dos dizeres populares, que remete a esse
processo de alienação e manutenção do racismo através do vocabulário.
Além desse elemento novo, há uma questão que atravessa a existência e ausência
das mulheres e uma exclusividade do homem branco na narrativa, como quem fala
sobre, e quem é descrito ao olhar deste é destacada a figura masculina racializada.
As mulheres mais uma vez “desaparecem de cena” tanto dos fonemas que circulam
no texto, quanto no próprio direcionamento descritivo, e nas vezes que aparecem é
de forma reduzida. Referentes aos documentários de retrata o pensamento de
Gilberto Freyre, pensando na construção da imagem que a mulher representa em
todo o percurso cinematográfica da imagem criada junto ao cenário elementos e
entre outros sujeitos, percebe-se que os movimentos dessas mulheres dentro do
espaço, inclusive, pensando a representação racial que elas carregam, são elas
posicionadas na câmera de forma visivelmente subjugadas e inferiorizadas, dentro
de uma experiência de silêncio excessivo e falas cortadas pelo narrador branco, o
que diz muito sobre a experiência das mulheres principalmente as mulheres negras
e indígenas dentro das narrativas e também na prática evidenciada pela história
contada e das histórias que não tiveram oportunidade de serem contadas. A
utilização de um termo universal, nesse caso “homem”, não faz necessariamente
pensar a mulher dentro do contexto histórico, uma vez que essas narrativas foram
sendo apagadas por essa concepção de escrita. Sendo assim, utilizo a escritora a
seguir para despertar mais sentidos ao que foi dito. “A ausência de determinadas
imagens revelam imaginários” (Alexandrino, E. S. 2022). Pode-se interpretar que
imagens constroem imaginários e imaginários constroem imagens, logo, as imagens
tem potencial de materialidade, principalmente a partir de quem tem meios para tal
feitura.
O. Viana
A discussão trazida e feita por Oliveira Vianna é num primeiro momento mais
direcionada para uma perspectiva de classe, porém é possível observar a
intersecção de raça, classe e gênero dentro dessa análise feita por ele.
Oliveira Vianna faz uma reflexão em torno de como as instituições assim como
todas as formas administrativas de organização do país Brasil é atravessado por um
dinâmica colonial que levava as classes burguesas serem favorecidas pelo estado,
e a ausência de políticas que viessem a amparar as classes baixas, principalmente
no contexto que se estabelecia naquele momento, final do séc XIX adiante. Quem
compunham essas classes de forma expressiva nesse contexto no qual é
mencionado pelo autor? Ele fala de um contexto logo após o período dito
"abolicionista", ou seja, isso significa dizer que há uma concentração de riqueza em
um grupo específico, os fazendeiros, latifundiários, principalmente com a concretude
das chamada "sesmaria" que impulsionou a distribuição de terra para os grupos já
mencionados. Ou seja, através desse projeto que forja a ideia de abolição, as
pessoas que compunham as classes baixas consequentemente seriam essas
pessoas racializadas. Também pode acrescentar que o brasil, na época ruralista,
que se começou a se urbanizar após o período vargas, já apresentava essa
concentração de posses e poder entre o patriarcado; entre homens brancos, e
mesmo que as mulheres brancas tivessem seus privilégios, ainda assim eram vistas
em segundo plano. Na mesma época se via a decadência da monarquia e a
ascensão das políticas republicanas. E para Vianna, essa concentração e
organização diz muito sobre como a Europa se impôs como alternativa de vida e de
formação política e social dentro de outra realidade e acabou colocando adiante um
percurso de muito excesso de riqueza concentrado em um grupo posteriormente
dominante e um outro grupo como desprovidos de riqueza. Ou seja, uma
concentração em excesso de terra em paralelo a um excesso de pobreza que
condiz a um processo histórico efetivo e concreto.
Gilberto Freyre
É, portanto, em Gilberto Freyre que pode-se visualizar amplamente, os
desdobramentos de um novo sentido valorativo da miscigenação, como a relação e
intersecções de relações raciais, de gênero e classe é evidenciada com mais
transparência na forma que se desenvolve a descrição e interpretações na escrita.
Gilberto Freyre faz uma captura da formação do Brasil nos seus aspectos históricos
a partir de suas interpretações. Sendo assim, o Brasil um país que foi colonizado,
porém uma colonização específica que o tornou subjetivamente diferente dos
demais países e principalmente dos países também colonizados. Uma das
principais características desse novo momento da ideia de miscigenação é a sua
positivação, ou seja, para ele esse acontecimento seria equivalente a um equilíbrio
dos antagonismos economia e cultura, senhor e escravo. Para Gilberto Freyre a
miscigenação que os portugueses viam a se constituir era positiva, pois o único pré
requisito para eles seria a religião católica como superestrutura. Por conseguinte,
afirma que a valorização da miscigenação já era idealizada e trazida de Portugal
para cá, por conta da sua contextualização, na qual antes de invadir o brasil eles já
seriam miscigenados, pelo contato com os povos Mouros.
Finalização: