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MOVIMENTOS INDÍGENAS
ABISMOS DO RECONHECIMENTO
Há abismos que desenham o percurso curvo, denso, tenso, tortuoso e outros adjetivos
que ainda assim não caberiam a significação do reconhecimento, tendo em vista que outros
processos históricos foram capazes de forjar um olhar sobre outras formas de existência não
europeias para torná-la unicamente legítima e usar essa ideologia para consolidar e centralizar
sua maneira de conhecimento. Ou seja, quando falamos de reconhecimento é necessário falar
que o processo do reconhecimento é incansavelmente atravessado por diversas fissuras e
violências quando pensamos nos processos históricos. As movimentações indígenas são
atravessadas constantemente por um sistema de violências intermináveis, e essas violências
nem sempre são físicas ou diretas em primeiro momento, antes perpassam por vias
institucionais. A partir disso, pode-se pensar que as outras pessoas que são aqueles que
praticam essa violência não são violentados nesse mesmo processo de reconhecimento,
porque já são auto reconhecidos nesta instituição de reconhecimento. Nesse sentido, Fanon
expressa que em uma sociedade racista, não é permitido que uma pessoa racializada se
reconheça como pessoa. Aliás, a própria identidade de si depende da relação com o outro,
portanto, em uma sociedade racista o negro ou indígena ao buscar a si próprio na relação com
o outro, ele não encontra a si próprio, não um outro que o compõe, mas encontra uma fixação
de um “eu” prévio e descaracterizado e violado pelo olhar do outro, um “eu” racializado. É
significativo pensar como a ética está relacionada com a questão do reconhecimento, e até
onde ela vai ou deixa de ir. Sendo assim, Nancy Fraser vai pensar que o sujeito é produzido a
todo momento na ação e relação. O sujeito só emerge enquanto sujeito no momento em que
ele se encontra com o outro, ou seja, que formula para si um suposto de alteridade. Isto é,
como é que "eu", na “cena do reconhecimento” consigo em alguns momentos reconhecer
alguém como outro, mas um outro com o qual eu devo ter responsabilidade ética, ou seja, de
alguma maneira eu preciso pensar com esse outro políticas que salvaguardam a vida da
mesma maneira que eu quero que a minha seja salvaguardada, ou como é que na cena do
reconhecimento "eu" não reconheço esse outro em alguém como eu. Esse outro passa por um
processo de desumanização. E essa desumanização passa a ser justificada por uma ideia de
violência ética, isto é, políticas de extermínio desse outro. Portanto, não há reconhecimento,
se é permeado por perda de identidade, autonomia, se a relação é de subserviência.