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Disciplina: Questões Étnico-Raciais

Professora: Claudia Furlanetto

Aluno: Pedro Jardel da Silva Coppeti

RELATÓRIO DA PALESTRA SOBRE BRANQUITUDE E RACISMO

O professor Jean Von Hohendorff, Psicólogo, em sua palestra sobre

Branquitude e Racismo ou “Uma tragédia em Andamento” (Laurentino Gomes), explora

temas relativos à escravidão, desumanização, segregação, pactos, relações entre negros e

brancos, supremacia branca, privilégios, meritocracia e medidas reparativas e de equidade a

serem desenvolvidas para amenizar o processo discriminatório em nosso País.

Em prefacial, o palestrante reflete sobre o conceito de escravidão,

apresentando-a genericamente, com base na wikipédia, como uma prática social em que um

ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo ou escravizado,

imposta por meio da violência física ou moral. Em outras palavras, é um processo histórico de

desumanização de um grupo social, imposta pela dominação de outro, através da violência,

influenciado muito especialmente pelo catolicismo.

Esse período histórico de discriminação, no que tange ao nosso País,

acentuado e mantido, inclusive, pela Igreja, através de carta papal, pode ser analisado com

três (03) olhares: um olhar negro, um olhar branco e um olhar atento aos acontecimentos, a

história e ao que esta representa.


Para ilustrar o processo de escravatura, o professor apresenta imagens desta

época, representadas por navios carregando os escravos nos porões, negros acorrentados,

etc...Em prosseguimento, lança indagações a respeito destas, para, finalmente, indagar se

ainda hoje existe esta espécie de discriminação.

Acentua Jean que, muito embora a abolição da escravatura, a existência de

políticas públicas, os esforços dos militantes em favor da extinção deste processo, a existência

de inúmeras normas legislativas zeladoras dos direitos humanos, etc., ainda há uma

discriminação acentuada na sociedade brasileira, tanto velada quanto aberta. Infelizmente, os

negros continuam a sofrer mais com a violação de seus direitos, pois é a parcela mais afetada

pelos índices de violência1, sendo a maioria nos presídios e entre as vítimas de homicídios, ao

mesmo tempo que têm menos acesso à saúde e à educação e compõe o segmento mais pobre

da sociedade, sendo clara a existência de uma espécie de apartheid no Brasil com a

segregação da população negra.

Além disso, há uma outra espécie de segregação, a que denominamos de

“geográfica” ou “socioespacial”, um processo que fragmenta as classes sociais em espaços

distintos da cidade. Nesse sentido, o cotidiano das pessoas que habitam esses lugares é

marcado pela insegurança, violência, moradias precárias, falta de infraestrutura e acesso aos

serviços básicos e ao lazer, comandado pela cor da pele, com negros habitando favelas e

brancos condomínios de luxos.

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O palestrante ilustra a violência cometida contra os negros por reportagens: “Homem negro é
espancado até a morte em supermercado do grupo Carrefur em POA”; “Menina negra de 10 anos
morre baleada na Baixada Fluminense às vésperas da festa de aniversário”; Polícia Rodoviária
Federal trancou homem negro dentro do porta-malas e apura denúncia contras policiais acusados por
morte de Gerivaldo”.
O palestrante faz uma provocação no sentido de pensarmos quem seria o

responsável pela manutenção deste status quo. E a resposta é evidente, todos nós somos

responsáveis pela existência e por manter, ainda hoje, em pleno século XXI, as mazelas da

escravidão, da discriminação, especialmente pelo que denominamos de “Pacto da

Branquitude”.

Nas palavras de Cida Bento, branquitude é um pacto não verbalizado de

preservação de um grupo nos melhores lugares sociais. “A branquitude se expressa em uma

repetição ao longo da história, de lugares de privilégio assegurados para as pessoas brancas,

mantidos e transmitidos para as novas gerações”. A branquitude não permite espaços para

outras visões e valores e naturaliza as desigualdades.

De acordo com Jean não temos um problema negro no Brasil, temos um

problema nas relações entre negros e brancos. É o que denominamos supremacia branca

incrustrada no pacto da branquitude, uma relação de dominação e poder de um grupo sobre o

outro, como tantas que observamos cotidianamente ao nosso redor, tanto na política, como na

cultura, como na economia, e que assegura privilégios para um desses grupos e relega

péssimas condições de trabalho, de vida e até de morte para os outros, os discriminados.

Nesse sentido, os privilégios nos mais diferentes setores e instituições são similares e

sistematicamente negados ou silenciados àqueles grupos excluídos.

Ademais, as omissões, os incentivos, e até o desconhecimento, fazem com

que todos mantenham este processo de exclusão. Existe até em algumas pessoas um

comportamento narcísico, de autopreservação, como se o diferente ameaçasse o dito


“normal”, o “universal”. Esse sentimento de “ameaça” e “medo” está na essência do

preconceito, da representação que é feita do outro e da forma como reagimos a ele.

De outro lado, o esforço é algo extremamente importante no tipo de

sociedade em que vivemos, e a meritocracia tem se tornado um conceito defendido por

muitos. Mas precisamos questionar a ideia de tudo o que as pessoas conseguem ou têm

decorre de tal esforço. É comum veículos de imprensa divulgarem casos de pessoas que

conseguiram “subir na vida” devido a um grande empenho pessoal. Esses casos podem nos

levar a pensar que, se alguém não consegue um bom emprego ou não passa no vestibular de

uma universidade de prestígio, é porque não se esforçou o suficiente. No tipo de sociedade em

que vivemos, qualquer pessoa pode, teoricamente, alcançar qualquer posição social. Mas, na

prática, o peso da origem social ainda é muito mais determinante do que gostaríamos de acreditar.

Destarte, não podemos fazer uso de um discurso de meritocracia que justifica e reproduz as

desigualdades, muitas vezes diminuindo aqueles com posições sociais menos valorizadas,

fazendo vista grossa às desigualdades estruturais do pais. É preciso que ampliemos a

capacidade de nossas instituições gerarem igualdade de oportunidades.

Ao final da palestra Jean expõe a debate como combater o racismo e

repensar a divida histórica. Individualmente, combater o racismo requer justamente ser

antirracista, rever atitudes, falas, “piadas”, e pré-conceitos, que podem estar enraizados sobre

determinados grupos. Como sociedade, o caminho é ainda mais longo, embora já estejamos

dando os primeiros passos. O mais discutido e enfatizado, nesse aspecto, é a educação, tanto

permitindo às pessoas negras maior acesso à instrução de qualidade quanto combatendo o

racismo pelo ensino. Se como sociedade ainda temos negado direitos e oportunidades a

grupos de pessoas por suas características físicas, e se queremos alcançar justiça social,
precisamos garantir que o passado fique no passado. Enquanto isso não for feito, a dívida

histórica permanece e se renova.

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