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SOCIOLOGIA 1º ANO – ENSINO MÉDIO No contexto mundial, estamos organizados a partir do sistema social de

Professora Mestra Fernanda Serafim produção capitalista em que a economia e o acúmulo de riqueza são as
principais preocupações do Estado, das grandes corporações multinacionais
4º BIMESTRE – AULA 01 e, consequentemente, de grande parte da sociedade. Nesse sentido, pela
INTRODUÇÃO À TEORIA SOCIOLÓGICA DA DESIGUALDADE SOCIAL concepção de mercadoria estabelecida com os direitos sociais (saúde e
educação também são produtos a venda/mercadoria) a desigualdade
Para a Sociologia todas as relações sociais caracterizadas por representações econômica atinge substancialmente a maioria das pessoas com dificuldade
de poder (político, econômico, gênero, etnia) em que uma parte da de acesso aos direitos sociais e se caracteriza pela distribuição desigual de
sociedade está colocada à margem do processo de acesso aos bens renda em determinada região, sendo influenciada por fatores históricos,
e serviços de direitos coletivos (alimentação, moradia, saneamento, sociais e pela falta de investimento em políticas sociais por parte do Estado.
educação, trabalho) é resultado de desigualdade social.
PARADIGMA SOCIAL: Modelo de comportamento e postura socialmente
Em tese existe um modelo de sociedade e indivíduo que são socialmente estabelecidos.
aceitos e reconhecidos pela coletividade, com maior facilidade que outras Exemplo: O padrão de beleza determinado pela sociedade.
pessoas. Por exemplo, uma situação cotidiana de conversa entre um grupo Desigualdade: Gordofobia.
de pessoas é provável que os posicionamentos masculinos sobre Sugestão: Nas redes sociais - @alexandrismos @movimentocorpolivre
determinados assuntos sejam mais considerados, em relação aos
posicionamentos femininos e, inclusive, é muito comum que os homens ESTEREÓTIPO: Imagem social que orienta e sustenta uma relação de
interrompam as mulheres e monopolizem o debate. Esse fenômeno é desigualdade social.
consequência de séculos de sociedade patriarcal, em que os homens Exemplo: A partir de uma crença coletiva (senso comum) afirmar que “toda
ocupam quantitativamente a maior quantidade de espaços de decisão, seja loira é burra”.
espaço doméstico ou espaço público como emprego e vida política e pode Desigualdade: Discriminar pessoas a partir de suas características físicas,
ser denominado de mansplaining e manterrupting. materiais e culturais.
Sugestão: Nas redes sociais - @rita_von_hunty @celia.xakriaba
“Os dois termos são primos e podem ou não andarem juntos. O mansplaining
acontece quando um homem explica coisas óbvias à mulher, muitas vezes PRECONCEITO: A transformação de características e/ou representações
com um tom paternalista, como se ela não fosse intelectualmente capaz de sociais de determinado grupo social em desfavoráveis.
entender algo. O manterrupting acontece quando homens interrompem falas Exemplo: A partir de pensamentos aprendidos coletivamente afirmar que
de mulheres.” “todo negro é bandido”.
(REIF, Laura: 2019 – Revista AZMina) Desigualdade: Discriminar pessoas a partir de suas características de
identidade social e cultural.
Tais situações de desigualdade social são criadas e mantidas pela sociedade Sugestão: Nas redes sociais - @tiama @taliriapetrone
a partir de uma série de mecanismos sociais. Por exemplo, os estereótipos
estão relacionados aos estigmas que a sociedade tem com os indivíduos que DESIGUALDADE: Condições social-históricas responsáveis pela instituição
não correspondem a esse modelo de sociedade estabelecido ou, que de e manutenção de relações de dominação: classe social; etnia; gênero.
alguma maneira, representam uma parte da sociedade que intencionalmente Exemplo: São situações materiais/concretas que não permitem que
têm condições e qualidade de vida precárias. Sendo que para recriar e determinadas pessoas tenham as mesmas oportunidades e acessos a
transmitir os estereótipos negativos do que representa ser negro, ser bens/serviços; “66 milhões de estudantes no Brasil não têm acesso a rede
homoafetivo ou ter algum tipo de deficiência a sociedade cria os preconceitos mundial (Internet).
que fortalecem as situações de discriminação, criminalização e violência que Sugestão: Nas redes sociais @estudantesninja @soniaguajajara
as minorias sociais estão expostas diariamente.
As desigualdades sociais podem ter herança histórica no processo de
invasão e colonização da América, no tráfico e na escravização de
africanas(os), na heteronormatividade que normatiza papeis binários do (IDH), a renda per capita e o nível de escolaridade — podem ser apurados e
que seria ser feminina e ser masculino (desigualdade de gênero) legitimando comparados com os índices de desigualdade social.
a liderança mundial do Brasil:
1º lugar no mundo que mais assassina pessoas transgêneros; 5º lugar no Sempre houve a construção de uma ideologia das classes dominantes que
mundo que mais assassina mulheres, por violência doméstica e familiar; e, visasse a manter a dominação das camadas sociais mais baixas. As teorias
ainda, acesso desigual a educação que estrutura a permanência de de Jacques Bossuet (teórico político francês do século XVII) são a prova
pessoas em vulnerabilidade social, por meio de empregos informais e disso.
subempregos.
Também houve uma tentativa pseudocientífica, no século XIX, o darwinismo
Ao longo da História da Humanidade, o modo de pensar da sociedade social, de Herbert Spencer, de formular uma teoria que supostamente
tecnicista, capitalista e moderna colaborou para que a Teoria Evolucionista justificasse a inferioridade dos povos africanos, indígenas e orientais. Essa
Darwinista abrisse espaço para o DETERMINISMO BIOLÓGICO, em que teoria defendia a pobreza nos continentes do sul, sem considerar o
características geopolíticas, físicas e corporais, representações religiosas, colonialismo e o imperialismo, que levaram os países africanos,
relações de parentesco de determinados grupos sociais marginalizados pela americanos e asiáticos à situação de miséria à qual chegaram.
sociedade dominante, fossem transformados em DETERMINISMO
SOCIAL. Sugestão de Filme: Gattaca – A experiência genética, 1997.

O QUE CADA REPRESENTAÇÃO SIGNIFICA EM NOSSA


SOCIEDADE?
POSITIVO NEGATIVO
Homem Mulher
Branco Indígena/ Negro
Heterossexual LGBTQIA+
Cristão Ateu/ Candomblé/ Umbanda
Saudável Soro positivo/ Com deficiência
Magro Gorda(o)
Rico Pobre

4º BIMESTRE – AULA 02
DESIGUALDADE DE RENDA _ CLASSES SOCIAIS NO BRASIL

O termo desigualdade social é um conceito sociológico e econômico que


designa a diferença existente entre as classes sociais. A desigualdade pode
ser medida pelas faixas de renda comparadas (há um método de comparação
de médias das faixas de renda mais ricas com as faixas de renda mais
pobres). O resultado dessa comparação pode ser jogado numa fórmula
desenvolvida pelo economista e estatístico italiano Corrado Gini, formando o
chamado coeficiente de Gini.

Outros fatores podem ser usados para medir-se a desigualdade social de um


país, pois, geralmente, quanto maior a desigualdade, maior é a pobreza de
uma sociedade. Então, indicadores — como o índice de desenvolvimento
As ideologias sempre foram instrumentos de dominação e, segundo finlandeses reformularam o currículo da educação básica e proibiram a
Karl Marx, são as ideologias que mantêm a classe trabalhadora submetida à abertura de instituições particulares de ensino dentro do território nacional.
classe burguesa. No livro A ideologia alemã, o filósofo, sociólogo e Essa reforma educacional, junto a políticas de empregabilidade, saúde e
economista alemão identifica a existência de uma infraestrutura (meios segurança, resultou em uma diminuição das disparidades sociais, ao
materiais) e uma superestrutura (ideologia, Estado, sistema jurídico, valorizar todas as áreas de trabalho e retirar a possibilidade de tratamentos
domínio da informação etc.), que suportam, ideologicamente, um sistema exclusivos para aqueles que podem pagar por eles.
de dominação. Com isso, os trabalhadores continuam na situação de
exploração e não se revoltam contra o sistema desigual. O Brasil tem uma das maiores populações de jovens que não estudam e
nem trabalham, conhecidos como “nem-nem”. O dado é de um relatório
A origem da desigualdade social está, segundo Marx, na diferença de da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)
classes sociais e essas diferenças, não só econômicas, mas também publicado em 2022.
simbólicas, existentes entre a burguesia e a classe trabalhadora evidenciam
a desigualdade social. De 37 países analisados, o Brasil figura em segundo lugar, ficando atrás
apenas da África do Sul. Segundo o estudo Education at a Glance, 36% dos
A Inglaterra do século XIX (1801), industrializada e sem nenhum tipo de jovens de 18 a 24 anos não trabalham nem estudam.
controle estatal ou direito trabalhista, evidenciava a forte desigualdade
daquela sociedade. Segundo Marx, os trabalhadores das fábricas inglesas Para a economia do país, isso tem um impacto direto no orçamento público,
daquele período, sem remuneração fixa e mínima, somavam jornadas de até explica Bruna Centeno, economista e sócia da Blue3 Investimentos: “Toda
16 horas diárias, de domingo a domingo, sem direito à folga, licença médica vez que limito o acesso da população à educação ou à renda, a conta não
ou previdência. fecha, e o governo deve suprir as necessidades dessas pessoas.”

O sistema provocado pela divisão de classes somente beneficiaria a Ela explica que, como consequência, mais recursos do orçamento público
burguesia e a dominação, mantida pela superestrutura — chave elementar precisam ser usados para atender essa população, através dos programas
para que o sistema continuasse em funcionamento (ou seja, para que a sociais. O problema também cria um ciclo vicioso, com efeitos de longo
classe trabalhadora continuasse aceitando a exploração). A única saída, prazo no mercado de trabalho. “Quanto maior o número dessas pessoas,
segundo Marx, era a extinção das classes sociais, que só seria possível por maior é o achatamento da nossa base da pirâmide social. Essa população
meio de uma revolta dos trabalhadores pela tomada dos meios de produção fica cada vez mais distante do acesso à renda”, afirma.
e da infraestrutura (em especial o Estado).
Segundo a economista, a saída para esse problema chega, em tese, na
Para além da perspectiva revolucionária que visa ao fim do capitalismo e das educação. “Mas como falar para uma pessoa que ela precisa estudar
classes sociais, temos as perspectivas reformistas que objetivam a e ter acesso à educação se ela precisa trabalhar desde cedo?”,
redução das desigualdades sem pregar o fim do capitalismo. Uma dessas pondera.
perspectivas é a social-democracia, modelo do início do século XX (1901)
que foi resgatado, na segunda metade do século XX (1950), por países
As classes sociais também são classificadas em classe alta, classe baixa e
nórdicos. classe média e caracteriza-se como um grupo dentro da sociedade que se
diferencia de outros em decorrência de características econômicas,
As medidas propostas por governos sociais-democratas, amplamente
políticas ou culturais. A classe social é composta por indivíduos que
adotadas por países como a Finlândia, a Noruega e a Suécia, visam a ocupam posição próxima na escala da produção e do consumo, por isso
melhorar a qualidade de vida da população, criando um estado de bem- têm em comum um padrão de vida, hábitos culturais, poder de
estar social, que reduz a disparidade entre as classes sociais
influência, mentalidade e interesses. Para criar uma classificação mais
precisa, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) criou um
Um exemplo de políticas de promoção do bem-estar social são as políticas sistema de medição que abrange cinco estratos sociais, que são as classes
públicas de educação promovidas pela Finlândia desde a década de
1990, as quais levaram o país a ser um modelo em educação mundial. Os
A, B, C, D e E, sendo A a classe com maior poder aquisitivo e concentração Os estudos das relações sociais de gênero foram bastante marcados pelo
de renda e E a classe com menor poder aquisitivo e concentração de renda. trabalho de investigação levado a cabo pela socióloga feminista
estadunidense Jessie Bernard, que, em meados dos anos 1940 do século XX,
Além do rendimento monetário, são levantados pelos recenseadores iniciou a abordagem da importância do "gênero" na organização da vida em
(profissionais que trabalham para o IBGE fazendo a coleta de dados da sociedade. A obra mais conhecida desta autora, The Future of Marriage
população nos domicílios) dados como o número de pessoas que vivem (1982), procura mostrar como é que o casamento constitui um contexto
no domicílio, as dimensões (tamanho) da moradia, o acesso à água institucional de cristalização de normas, valores, papéis e padrões de
encanada e coleta de esgoto, o número de equipamentos interação entre o homem e a mulher, que são ideologicamente dominantes
eletrodomésticos por domicílio, o número de veículos automóveis e a e que subjugam e oprimem a mulher. Esse estudo tornou-se já um clássico,
escolaridade das pessoas que ali vivem. num dos domínios de investigação sobre as relações sociais de gênero que
mais se tem desenvolvido: a divisão tradicional dos papéis sexuais e as suas
A maneira mais fácil e simples de definir os padrões de cada classe social repercussões ao nível da família e do trabalho, ou em relação ao domínio
pelo IBGE é por meio da renda familiar mensal. Porém, nem sempre esse privado e ao domínio público.
indicador socioeconômico é satisfatório, sendo necessário, em alguns casos,
analisar a condição socioeconômica de uma pessoa com base em outros A investigação sociológica no domínio das relações sociais de género centra-
indicadores, como aqueles que foram mencionados no parágrafo anterior. se em dois pressupostos de análise principais:
1) A posição ocupada na sociedade pelos homens e pelas mulheres não
Classes sociais no Brasil com base na faixa salarial das famílias brasileiras: são apenas diferentes, mas também desiguais;
2) A desigualdade social entre homens e mulheres resulta, principalmente,
CLASSE A: mais de 15 salários mínimos _ 2,8% da população brasileira da organização da sociedade e não de diferenças biológicas ou
(renda mensal domiciliar superior a R$ 22 mil); psicológicas significativas entre os mesmos.
CLASSE B: de 5 a 15 salários mínimos _ 13,2% da população brasileira
(renda mensal domiciliar entre R$ 7,1 mil e R$ 22 mil); Em relação ao princípio analítico de que não há apenas uma diferenciação
CLASSE C: de 3 a 5 salários mínimos;33,3% da população brasileira socialmente construída entre homens e mulheres, mas também, e
(renda mensal domiciliar entre R$ 2,9 mil e R$ 7,1 mil) sobretudo, uma desigualdade social, isto significa que os estudos em função
CLASSE D: de 1 a 3 salários mínimos e CLASSE E: até 1 salário mínimo _ do gênero têm como pressupostos que as mulheres têm menos recursos
50,7% da população brasileira (renda mensal domiciliar até R$ 2,9 mil). materiais, estatuto social, poder (representatividade) e
oportunidades de autorrealização do que os homens com quem
4º BIMESTRE – AULA 03 partilham a mesma posição social.
DESIGUALDADE DE GÊNERO NO BRASIL
O gênero é, assim, considerado um elemento que condiciona a posição social
O conceito de gênero tem a ver com a diferenciação entre os papéis dos indivíduos, tais como a classe, os rendimentos económicos, a profissão,
culturais e sociais que cada sociedade atribui aos homens e as mulheres o nível de escolaridade, a idade, a raça, a etnia, a religião e a nacionalidade.
(o que significa ser homem e o que os homens precisam fazer e pensar para Neste âmbito, têm-se desenvolvido estudos sociológicos centrados na
serem considerados/reconhecidos como homens). Tem a vantagem, sobre a discriminação e na diferenciação social, em função do gênero, em
palavra "sexo", de sublinhar as diferenças sociais entre os homens e as diversas áreas da vida em sociedade, tais como, por exemplo, as
mulheres e de as separar das diferenças estritamente biológicas. desigualdades no acesso ao poder e ao emprego e na atribuição de
rendimentos salariais.
Em outras palavras, após a colonização europeia e a herança do sistema
patriarcal (poder do pai/ poder do homem) judaico-cristão as mulheres No que respeita ao princípio de que as diferenças entre os dois gêneros são
assumiram papéis culturais e sociais restritos ao espaço privado/doméstico, sobretudo socialmente instituídas e não predeterminadas, o conceito
passando a ter como principal objetivo de vida servir e obedecer às vontades explicativo principal é o de "socialização" ou “humanização”.
dos homens.
Por outras palavras, uma parte significativa dos estudos no domínio das 3. DESPROPORÇÃO ENTRE DEDICAÇÃO E ESTÍMULO - Outro âmbito no
relações sociais de gênero supõe que a diferenciação de comportamentos e qual se torna nítida a desigualdade de gênero é o contexto educacional.
de traços de personalidade consoante o gênero resulta de expectativas Apesar das mulheres se sobreporem aos homens no que diz respeito à
socialmente incutidas nos indivíduos desde a infância, pelas quais as escolaridade, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes mostrou
crianças são socializadas no sentido de desempenharem diferentes que, no Brasil, os homens têm melhor desempenho em áreas como exatas
papéis, "masculinos" ou "femininos". Basicamente, trata-se de e ciências biológicas. A OCDE (Organização para a Cooperação e
investigar como é que, ao nível das interações entre os indivíduos, são Desenvolvimento Econômico) esclarece que o melhor desempenho não está
construídas e recriadas de um modo permanente as dicotomias entre o relacionado com habilidades inatas masculinas, mas sim a fatores culturais
homem e a mulher. Neste domínio, são de salientar os trabalhos da socióloga e ao preconceito de gênero no Brasil, que dificulta a inserção, a
feminista britânica Dorothy Smith (1987) e da teórica feminista francesa permanência e o reconhecimento feminino nessas áreas. Acredita-se
Luce Irgaray (1985), sobre o modo como as linguagens atuais estão ainda que haja um maior incentivo dado por professores e pais aos meninos
dominantemente ancoradas em experiências e conceitos masculinos. no que diz respeito às áreas das matemáticas, por exemplo.

EXEMPLOS DE DESIGUALDADE DE Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2016


GÊNERO: revelou que o índice de frequência das mulheres no Ensino Médio é de
1. MATERNIDADE - A maternidade é 73,5%, contra 63,2% de frequência dos homens. Isso mostra maior
um dos motivos de preconceitos dedicação de tempo por parte das meninas. O índice mais elevado de
baseado em gênero. O mercado frequência das mulheres é mantido quando se observava o Ensino Superior
profissional brasileiro ainda trata e a conclusão da graduação.
mulheres com inferioridade, pagando
salários mais baixos, preterindo 4. MERCADO DE TRABALHO - Apesar de o índice de escolaridade da
mulheres na hora da contratação população feminina ser mais alta, as mulheres enfrentam um cenário
ou de uma promoção, ou ainda desfavorável na busca por um emprego e na atribuição de seus salários. Uma
vendo com negatividade o direito pesquisa do IBGE realizada em 2019, mostrou que apenas 37,4% das
da licença maternidade. A Fundação mulheres ocupavam cargos de gerência no Brasil. Vale lembrar que
Getúlio Vargas (FGV) realizou um além nível de instrução feminino ser mais elevado, as mulheres também são
estudo com 247.455 mulheres que a maioria no país. Entre os 20% dos trabalhadores mais bem pagos do Brasil,
estiveram de licença-maternidade as mulheres são apenas 22,3%.
entre os anos 2009 e 2012, e
acompanhou o percurso profissional de 5. DESIGUALDADE DE GÊNERO NO ESPORTE - A desigualdade de gênero
cada uma até o ano de 2016. O estudo no esporte pode ser facilmente observada, seja em uma tentativa amadora
concluiu que metade das participantes de praticar um esporte considerado masculino ou feminino, até a prática
da pesquisa foi demitida até dois anos esportiva profissional. A desigualdade na modalidade mais popular no Brasil,
após o término da licença. o futebol, fica evidente na diferença de tratamento dos jogos e dos atletas
homens e mulheres. Enquanto o futebol masculino tem grande visibilidade
2. POLÍTICA - Tendo em conta o há décadas - nos períodos de Copa do Mundo, inclusive, todos os jogos são
cenário mundial, a política brasileira transmitidos - o futebol feminino é ainda pouco referido e seus jogos
ainda é patriarcal. Apesar da população feminina ser maioria no país, na só passaram a ser transmitidos recentemente. A diferença de
política ainda tem uma baixa representação. Nas eleições de 2022, um total salários entre jogadores e jogadoras é significativa, com as mulheres
de 302 mulheres foram eleitas para os Governos Estaduais, Assembleias mais bem pagas a receberem milhões a menos.
Legislativas, Câmara dos Deputados e para o Senado. Entre os homens,
1.394 foram eleitos. 6. ASSÉDIO E VIOLÊNCIA - O assédio, infelizmente, fez ou faz parte da
realidade da maioria das mulheres brasileiras. Seja por comentários
desrespeitosos na rua ou dentro dos transportes públicos. A pesquisa "Visível
e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil", realizada em 2021, mostrou Há várias pesquisas que demonstram manifestações do racismo estrutural
que nos últimos 12 meses, 37,9% das mulheres foram vítimas de no Brasil ao comparar dados da população negra com a branca. De acordo
algum tipo de assédio sexual. Além do assédio, a violência contra as com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), por exemplo, as
mulheres é uma realidade no país. Em 2006 entrou em vigor a Lei Maria da taxas de analfabetismo são de 8,3% entre os brancos, 21% negros e
Penha, que visa amparar as mulheres vítimas de agressão. Em 2015, a Lei 19,6% mulatos. Ou seja, o analfabetismo atinge os negros 2,5 vezes mais
do Feminicídio foi promulgada, aumentando pena para os culpados de do que os brancos.
homicídios de mulheres, por causas sexistas.
Também há uma grande diferença salarial. Os negros recebem, em média,
As pessoas transexuais também são vítimas de violência de gênero no Brasil. 2,43 salários mínimos. Enquanto isso, os brancos recebem cerca de 5,25
Somente em 2021, 140 pessoas trans foram assassinadas no Brasil, sendo salários mínimos. Sendo assim, podemos constatar que a renda média de
que 135 eram mulheres transexuais. O Brasil é o país no mundo que uma pessoa branca é mais que o dobro de uma pessoa negra.
mais mata pessoas trans, segundo o Dossiê Assassinatos e Violências
Contra Travestis e Transexuais Brasileiras. A taxa de encarceramento é outro dado que expõe as consequências do
racismo estrutural em nossa sociedade. Isso porque uma pessoa negra tem
4º BIMESTRE – AULA 04 5,4 mais chances de estar na prisão do que uma pessoa branca.
DESIGUALDADE ÉTNICO RACIAL NO BRASIL
Para entender a desigualdade racial, é preciso compreender o significado do
Desigualdade racial é o resultado de uma estrutura de poder que coloca termo raça, seus usos, bem como as origens e o desenvolvimento do
uma etnia ou raça acima das outras de forma hierárquica, sendo uma racismo. O termo “raça” foi utilizado ao longo da história com conotações
parte do problema da desigualdade social como um todo. No Brasil, país distintas. Na modernidade, segundo o advogado e filósofo Silvio Almeida, o
marcado por quase 400 anos de escravidão e o último país do mundo a aboli- termo passou a ser usado para se referir a categorias distintas de seres
la, a desigualdade racial é reflexo do racismo estrutural e traz humanos.
consequências diversas aos grupos sociais envolvidos.
Nesse estágio, o filósofo afirma que a raça opera a partir de dois registros
O racismo consiste em teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia básicos que se cruzam. O primeiro é raça como característica biológica
entre as raças, podendo ser também uma doutrina fundada sobre o “direito” (sendo atribuída por algum traço físico, como a cor da pele) e o segundo é
de uma raça (considerada superior) de dominar outra. Infelizmente, apesar raça como característica étnico-cultural, isto é, que se refere à origem,
de ser um país multirracial, o Brasil é marcado pela forte discriminação e religião, à língua ou outros costumes.
pela desigualdade social entre os vários grupos raciais.
Na história do Brasil e de outras sociedades, pessoas e grupos sociais
RACISMO INSTITUCIONAL: praticado cotidianamente por instituições que disseminaram a existência de raças, destacando algumas como
mantém a hegemonia de um grupo racial no poder. Está relacionado com as biologicamente superiores e outras como inferiores. A partir disso, nasce
dinâmicas e práticas sociais. uma ideia dominante que perdura até os tempos atuais. Parte da
RACISMO ESTRUTURAL: é um processo que resulta na classificação da população ainda entende o negro como um ser inferior e o indígena
raça com base em uma hierarquia que considera aspectos culturais, físicos como selvagem.
e biológicos.
A desigualdade racial é consequência de um processo histórico e político que
O racismo estrutural é político e histórico. Isso significa que as instituições pode variar de acordo com a sociedade e sua construção. A desigualdade
só atuam como atuam porque estão condicionadas a uma estrutura social racial no Brasil, por exemplo, está diretamente ligada à colonização e à
que as precede. Em outras palavras, quando as instituições expressam escravidão.
racismo, expressam algo inerente à estrutura social.
Chegando ao país, os portugueses consideraram que as terras não tinham
“donos” e, por isso, poderiam se apropriar e tirar proveito delas. Os
indígenas eram mero empecilho para essa apropriação, mas, por serem de 15 a 17 anos, enquanto o percentual que frequentava a escola entre os
considerados uma raça inferior, passaram a ser explorados, sendo utilizados brancos era de 75,4%. Ainda que, em alguns níveis de ensino, o acesso seja
como mão de obra para o trabalho. equivalente, as condições de aprendizado são diferentes.

Historiadores apontam que os indígenas estavam acostumados a um estilo 2. MERCADO DE TRABALHO E RENDA - A desigualdade econômica entre
de vida que dificultava a imposição por parte dos portugueses. Como raças é grande, começando pela disparidade no mercado de trabalho. Dados
alternativa, os colonizadores traziam 10 milhões de africanas(os) nos porões do IBGE, de 2018, mostram que 64% dos desempregados são pretos e
dos navios negreiros, sob condições tão sub-humanas que muitos morriam pardos. Trabalhadores brancos possuem renda 74% superior, em média,
antes mesmo de chegar. em relação a pretos e pardos. Essa diferença de renda prevalece mesmo se
os indivíduos tiverem o mesmo nível de educação. Os cargos gerenciais são
EXEMPLOS DE DESIGUALDADE ocupados majoritariamente por brancos (68,6%), enquanto os negros
RACIAL: correspondem a 29,9%.
1. EDUCAÇÃO - Uma sociedade
racista faz com que determinados Ainda segundo o IBGE, o diferencial de salário por raça é maior do que
grupos sociais não tenham as por gênero e isso acontece devido à segregação ocupacional, oportunidades
mesmas oportunidades de acesso ao educacionais desiguais e remunerações inferiores em ocupações
ensino. Na história do Brasil, houve semelhantes. Entre os anos de 2012 e 2018, para cada R$ 1.000 recebidos
verdadeira exclusão que, aos poucos por homens brancos, foram pagos R$ 758 para mulheres brancas, R$ 561
e bem lentamente, com políticas de para homens pretos ou pardos e R$ 444 para mulheres pretas ou pardas.
ações afirmativas, foi mudando.
3. REPRESENTATIVIDADE - A representatividade diz respeito aos negros
Nos anos 2000, o percentual de ocupando espaços de poder e prestígio social. Segundo Silvio Almeida, essa
pretos e pardos que concluíram a representatividade colabora para acabar com as narrativas
graduação era de 2,2%. Em 2012, discriminatórias que sempre colocam minorias em locais de
foi instituída a política de cotas, com subalternidade.
a Lei n. 12.711, que reserva 50%
das vagas aos estudantes de ensino Além disso, negros ocupando posições políticas, por exemplo, permite que
médio em escolas públicas, haja reinvindicações importantes para as minorias. O que se observa, no
estudantes oriundos de famílias com entanto, é uma disparidade nos cargos políticos também. Entre os deputados
renda igual ou inferior a 1,5 salário federais eleitos (dados de 2018), apenas 24,% são pretos ou pardos,
mínimo e também àqueles enquanto 75,6% são brancos.
autodeclarados pretos, pardos e
indígenas. Em 2017, dados do IBGE 4. VIOLÊNCIA - Em 2017, a taxa de homicídios foi de 16 entre as pessoas
coletados por meio das pesquisas brancas e 43,4 entre as pretas ou pardas a cada 100 mil habitantes. Isso
PNAD (Pesquisa Nacional por significa que uma pessoa preta ou parda tinha 2,7 vezes mais
Amostra de Domicílio) mostram que chances de ser vítima de homicídio intencional. Em todos os grupos
a taxa passou de 2,2% para 9,3%, etários, a taxa de homicídios da população negra supera a da população
quadriplicando o ingresso de negros branca. Mas a violência letal dos jovens pretos ou pardos de 15 a 29 anos é
na universidade. gritante: nesse grupo, em 2017, a taxa chegou a 98,5 por 100 mil
habitantes, contra 34 entre os jovens brancos.
Ainda assim, a desigualdade é
visível. No Ensino Médio, por Além disso, de acordo com Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 405.811
exemplo, em 2018, apenas 63,7% pessoas negras foram mortas em uma década (2009 a 2019). Isso equivale,
dos jovens pretos eram estudantes
aproximadamente, ao número de habitantes em Palmas, capital de trabalho, além de terem menos contato com informações sobre cuidados
Tocantins. com a saúde. Consequentemente, dispondo de menor poder aquisitivo e
menos informação sobre cuidados com a saúde, a população negra terá mais
Isso impacta a esperança de vida ao nascer e a probabilidade de morte dos dificuldade não apenas para conseguir um trabalho, mas para permanecer
negros ao alcançarem determinada idade. A longo prazo, as vítimas de nele.”
violência estão mais propensas a desenvolverem doenças como depressão,
vício em substâncias químicas, problemas de aprendizado, entre outros. Para a transformação da sociedade, portanto, é preciso levar em
consideração a questão de raça.
5. RAÇA E GÊNERO (INTERSECCIONALIDADE) - Para as mulheres
negras ou pardas, as oportunidades são ainda mais desiguais. Como
mencionado, na distribuição de renda, elas são as pessoas que recebem
menos. A taxa de concluintes do Ensino Médio de mulheres negras também
é menor (67,6%) comparado às brancas (81,6%). A taxa de homicídios de
mulheres jovens negras ou pardas também é maior que a de mulheres
brancas, sendo 10,1 contra 5,2 por 100 mil habitantes.

6. RACISMO E INJUSTIÇA AMBIENTAL - O racismo ambiental é um termo


cunhado pelo líder afro-americano de direitos civis Dr. Benjamin Franklin
Chavis Jr. que faz referência às formas desiguais pelas quais etnias
vulnerabilizadas são expostas às externalidades negativas e a
fenômenos ambientais nocivos como consequência de sua exclusão
dos lugares de tomada de decisão.

O racismo ambiental está atrelado à injustiça ambiental, sendo um


mecanismo pelo qual os menos favorecidos socioeconomicamente são
sobrecarregados dos danos ambientais do processo econômico; ao mesmo
tempo em que usufruem menos dos produtos do capitalismo ou têm o seu
direito ao usufruto dos recursos naturais subtraído.

No Brasil, esses grupos costumam ser populações de baixa renda, mulheres,


povos étnicos tradicionais, operários, extrativistas, geraizeiros (populações
tradicionais dos cerrados do norte de Minas Gerais), pescadores,
pantaneiros, caiçaras, vazanteiros (povos que têm a vida ligada ao rio),
ciganos, pomeranos (povo alemão originário da Pomerânia), comunidades
de terreiro, faxinais, negros urbanos, ribeirinhos, indígenas e quilombolas.

7. CAUSAS CUMULATIVAS - Todos esses fatores apresentados que estão


atrelados à desigualdade racial levam a um processo cumulativo. Mesmo
com acesso a oportunidades, grande parte da população negra convive com
as consequências da desigualdade que dificultam o progresso na sociedade.

As “causas cumulativas” são abordadas pelo economista Gunnar Myrdal e


exemplificadas por Silvio Almeida: “se pessoas negras são discriminadas no
acesso à educação, é provável que tenham dificuldade para conseguir um

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