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O documentário aborda como toda a América Latina sofreu e ainda sofre com
uma política preconceituosa e intolerante, que exclui as formas mais básicas do Ser
humano. Pode-se ver com clareza como todos os discursos de líderes políticos são
contra as minorias, são homofóbicas e machistas e os seus argumentos para
disseminar esse ódio dialogam abertamente com as igrejas fundamentalistas.
O que é muito desenvolvido no documentário, são as estratégias e políticas
públicas que o Estado vai contra - como a educação de ideologia de gênero nas
escolas. É por meio da educação, aprendizado que as crianças conseguem
visualizar todos como iguais, conseguem definir o que é preconceituoso e assim
moldar as suas ações. Estudar ideologia de gênero é saber todas as formas de Ser,
é se identificar, se libertar. A política - o que é mostrado no documentário - prega
que essa é uma forma de “homossexualizar” todos os estudantes, que estão dando
um leque de opções para a criança escolher o que ela quer ser. É mostrado que os
líderes lutam contra isso com toda a força, que isso não pode ser discutido, não tem
o que falar e gênero é apenas masculino e feminino. Homem e mulher. E, dessa
forma, acontece o silenciamento.
Essa forma de silenciar uma parcela da sociedade dialoga muito com o texto
“Glory Hole: Experiência Religiosa de Jovens Católicos LGBT+” em que diz que os
dispositivos de silenciamento atuam sobre várias esferas - sociais, políticas,
religiosas, jurídicas…- e são capazes de criar realidades específicas. Isso pode ser
notado quando analisamos a sociedade, há uma realidade específica que é o
padrão da masculinidade hegemônica e o que foge disso acaba sofrendo com o
silenciamento, algo muito violento que apaga toda a subjetividade dos indivíduos.
É muito agressivo essa ideia de uma humanidade fixa, que deve ser seguida.
O texto já citado, disserta sobre a ideia de que essa limitação acaba exonerando as
pessoas da noção de humanidade. No documentário mostra que as religiões
pregam o contrário. Há a fala de um padre dizendo que é muito perigoso ensinar as
crianças que o gênero delas não importa, que ela pode escolher e que, com isso,
ensina-se que um casamento tradicional não importa e que isso tudo é muito
prejudicial para as relações humanas, para a sociedade. Porém, não é que o gênero
não importa, pelo contrário, é extremamente importante. O que toda a comunidade
LGBT+ tenta mostrar é que não há apenas uma forma, nem de gênero e nem do
casamento. Invisibilizar todas as outras formas de ser e de amar que é prejudicial
para a sociedade.
Nesse sentido, é notável que as igrejas não tentam não citar a sexualidade,
ela é muito presente nos assuntos religiosos. O que eles excluem são as outras
formas de se relacionar - as não hegemônicas - convencendo que é um tabu. Isso é
um dispositivo de silenciamento e essa ideia está muito presente no texto de João
Victor Oliveira: “Sexualidade não tem sido assunto oculto para a Igreja. Fala-se
disso o tempo todo e a todo momento, de diferentes formas. Concomitantemente,
são as outras formas de experimentação da sexualidade que são silenciadas, dentro
desse pretexto”.
No documentário é nitidamente mostrado como os jovens e a sociedade
LGBT+ sofrem com esse silenciamento, como eles lutam para ganharem uma maior
visibilidade, brigam para ter direitos e respeito. Quando líderes com ideias
conservadoras sobem no poder, essa comunidade é extremamente ameaçada,
agressões virtuais começam a se tornar físicas, muitas pessoas acabam morrendo.
É injusto, vítimas que sangram apenas por ser o que são. Por não se encaixarem
em padrões irreais. Não falar sobre, virar tabu, é muito perigoso, pois esses padrões
nunca são desfeitos.
Segundo o texto, esses dispositivos de silenciamento são como forças que
agem na subjetividade dos indivíduos, “modelam, classificam, hierarquizam e
efetivamente enquadram a vida de mulheres, gays, transexuais, lésbicas etc dentro
do espaço religioso”.
É possível ver, no documentário assistido, que a política faz uma aliança
muito forte com esse valores religiosos e, cada vez mais, toda a diversidade social
está sendo apagada, subordinada a nada. Os valores da igreja são construídos em
cernes imaginários transformados em regras do que é proibido e do que é permitido
e isso acaba refletindo na vida social como um todo.
Muitas políticas já foram adotadas - escola sem partido é um exemplo. Esse
silenciamento é extremamente violento e vai contra a noção de humanidade. Até
quando iremos apoiar líderes que exercem e aceitam essa visão conservadora?
Referências
Freire, Lucas e Cardinali, Daniel.O ódio atrás das grades: da construção social da
discriminação por orientação sexual à criminalização da homofobia. Sexualidad, Salud y
Sociedad (Rio de Janeiro) [online]. 2012, n. 12 [Acessado 29 Janeiro 2022] , pp. 37-63.
Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1984-64872012000600003>. Epub 20 Dez 2012.
ISSN 1984-6487. https://doi.org/10.1590/S1984-64872012000600003.
Oliveira, João V. F. (2021). Glory Hole: Experiência religiosa de jovens católicos LGBT+
(pp. 25-49). Em Veliq, Fabrício (Org.). Experiências de diversidade afetivo-sexual e de
gênero: perspectivas de diálogo. Metanoia Editora: Rio de Janeiro.