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DIREITOS HUMANOS, GÊNERO, SAÚDE E

MOVIMENTOS SOCIAIS

Marcelle Esteves
Assistente Social
Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT
Ser humano, cultura e poder
•O ser humano difere de outros animais por
depender de orientações do grupo social em
que vive para organizar seu comportamento e
visão de mundo.

•Classificar e hierarquizar as coisas e seres é


próprio do humano. Nesses processos, pode
surgir a discriminação e a diferença pode se
transformar em desigualdade.

•As diferentes formas de discriminação e


violência são efeitos de convenções sociais e
envolvem relações de poder.
Homens e mulheres
É muito comum que:
•se pense em homens e mulheres como seres com
naturezas e destinos distintos na vida social

•se considere que a base dessas diferenças


profundas está na natureza e nos corpos de
homens e mulheres, que possuem diferentes
anatomias e capacidades.
Essa diferença pensada desse modo é, muitas
vezes, transformada em desigualdade.
A desigualdade entre homens e mulheres bem
como relações e regras sociais que desvalorizam
as mulheres e o feminino tem sido encontradas
em diferentes períodos da história e em diferentes
culturas.
Gênero

•gênero é termo que se refere a um princípio de


organização e hierarquização do mundo ao
nosso redor que toma por base as diferenças
percebidas entre os sexos (Scott, 1995)

•gênero não diz respeito apenas aos corpos


humanos e suas respectivas genitálias, mas a tudo
que se relaciona com esses corpos (os objetos, as
atividades, os lugares, as cores, as roupas e
adereços, os comportamentos, o gestual) (Clastres,
1988)

•comportamentos de indivíduos de sexos diferentes


não são biologicamente determinados, mas
socialmente construídos através da relação entre o
indivíduo e a cultura, no processo de socialização
(Mead, 1969)
• os padrões socialmente aceitos e esperados de
comportamento para cada um dos sexos variam
historicamente, de sociedade para sociedade e a
cada grupo humano (Mead, 1969; Strathern, 2006)

•gênero e sexualidade são duas dimensões da


vida das pessoas, que muitas vezes estão
conectadas, mas que não se reduzem umas às
outras (Rubin, 1998): o menino que brinca de
boneca ou a garota que é mais agressiva não
podem ser tidos como homossexuais apenas a
partir desses comportamentos.

•comportamentos masculinos e femininos não são


dados pela natureza, logo há várias formas de ser
homem ou mulher, menino ou menina.
A naturalização do gênero
•diferenças anatômicas entre os sexos são tomadas
como base não apenas para dividir o mundo entre
homens e mulheres, como também para definir quem
deve se sentir masculino ou feminina e como
“homens” e “mulheres” devem se vestir, comportar e
desejar (Rubin, 1975; Rich, 1980; Butler, 2003;
Haraway, 2004).

•apesar das normas sociais que dividem rigidamente


o mundo em homens e mulheres, masculinOs e
femininAs, há uma ampla gama de sujeitos que não
estão incluídos a partir de tais normas: LGBT mas
também homens e mulheres heterossexuais. (Butler,
2003 e 2002)
•essa poderosa convenção que oprime grande parte
dos seres humanos em nossa sociedade impõe um
padrão de pertencimento do mundo que deixa ao
excluído um lugar de menos humano, esquisito,
desprezível (Butler, 2003 e 2002).
Os reforçadores externos – sociais, políticos
e econômicos – presentes na cultura,
contribuem para estigmatizar e discriminar e
até mesmo segregar qualquer
comportamento, atitude ou afeto que se
desvia da “norma social”.

É justamente sobre esse entendimento de


que há apenas uma única forma de se
relacionar – o modelo heterossexual – que
se assenta o preconceito em relação ao
público LGBT e como consequência à
lesbianidade.
• As lésbicas são ainda as mais
condenadas pelos dogmas morais e as
mais excluídas e solitárias.

• Desafiam e desorganizam duas


importantes atribuições de papéis
impostos pela dominação
hetero/masculina.

• Desafiam o lugar da mulher e desafiam a


sexualidade da mulher , ambos impostos
arbitrariamente.
Neste sentido ela derruba vários
mitos: o mais desafiador e aflitivo
para a cultura patriarcal é o de
dispensar a companhia de
homens para a sua existência
afetiva e sexual.
“As relações lésbicas são mais
susceptíveis de discriminações
sociais do que as relações gays
por questionarem, a céu aberto e
duplamente, o lugar de mulher e
da sexualidade feminina na
cultura ocidental”.

Cecarelli,P
O movimento de lésbicas traz questões
específicas:

- que não são encontradas no movimento


feminista ou de mulheres
- que não são encontradas no movimento gay

- que não são encontradas no movimento


negro ou de mulheres negras
A luta por direitos humanos das
lésbicas no Brasil, é sempre
acompanhada por um diálogo tenso,
seja com o próprio movimento LGBT,
seja com o movimento feminista, seja
com o movimento negro , seja com o
Estado e suas instituições.

Há sempre uma tensão quando se


reivindica as especificidades dos
direitos das lésbicas.
 Com toda esta tensão, que passos foram
dados ou conquistados? Quais os espaços de
organização?
OSCIPs
Núcleos ONGS Foruns
mistas

ONGs REDES
OSCIPS específicas
Específicas
Academia
Independentes

Grupos mistos e Redes Mistas


Mitos, estigmas, preconceitos e
discriminação sexual e de gênero
tornam o caminho pela busca de
justiça e de direitos iguais bastante
longo e cruel para lésbicas em
geral.
A relação entre lésbicas, mulheres bissexuais,
mulheres que fazem sexo com mulheres com a
feminização da epidemia de HIV/Aids e outras
DST, está intimamente relacionada com cultura
e tradições que negam a plena autonomia das
mulheres.

A Sexualidade da mulher ainda é invisibilizada


ou entendida como meio para reprodução -
função social da maternidade heterossexual.
As consequências dessa invisibilidade:

O não conhecimento da saúde de lésbicas,


mulheres bissexuais e mulheres que fazem sexo
com mulheres;
 Alguns profissionais da rede de saúde têm
dúvidas sobre o manejo do atendimento e
encaminhamentos.
 A reprodução do modelo da heterossexualidade,
nos seus campos de intervenção, cuidado e controle
da saúde das mulheres.
Resultado

Permanência e a ampliação dos contextos


de vulnerabilidade de mulheres que,
quando recorrem aos serviços de saúde,
não são orientadas adequadamente para
o exercício da sexualidade autônoma,
segura e protegida.
Por fim, cabe ainda dizer que a vivência da
homossexualidade feminina potencializa
diversas situações de violência, seja
institucional, sexual ou doméstica. A violência
gerada pelo exercício da lesbiandade contribui
para produção de sofrimentos psíquicos
importantes que, associado à lesbofobia
programática e familiar, faz com que muitas
delas não acreditem ser possível e cabível a
vivência saudável da sua sexualidade e o
exercício pleno de uma vida saudável.
Referências

•BUTLER. Cuerpos que importan: sobre los límites materiales y


discursivos del “sexo”. Buenos Aires: Paidos, 2002 [1993].
•BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da
identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003 [1990].
•CLASTRES, P. O arco e o cesto In: A sociedade contra o Estado. 4.
ed. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1988. p. 71-89.
•MEAD, M. Sexo e Temperamento. São Paulo, Perspectiva, 1969.
•SCOTT, J. W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica.
Educação e Realidade, Porto Alegre, v.20, n.2., pp. 71-99, 1995.
•RUBIN, G. S. The traffic in women. Notes on the ‘political economy’
of sex. In: RAITER, R. (Ed.). Toward anthropology of women. Nova
York: Monthly Review Press, 1975.
• RICH, A. "Compulsory Heterosexuality and Lesbian Existence" in:
Signs: Journal of Women in Culture and Society, 5:631-60, 1980.
Para mais informações:
Marcelle Esteves
mceesteves@hotmail.com
arco-iris@arco-iris.org.br
Tels.: (21) 2215-0844/ (21) 98261903

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