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Trajetórias assexuais na sociedade

sexo-normativa

Elisabete Regina Baptista de Oliveira


Faculdade de Educação - USP
PARA PENSAR...
- Todos os relacionamento amorosos
são também sexuais?

-Em que medida o desejo sexual e atração


amorosa estão associados?

- É possível viver bem e feliz sem sexo?

- É possível viver bem e feliz sem


relacionamentos amorosos?
PARA PENSAR...

- É possível que existam pessoas que não


sintam interesse sexual, sem que isso lhes
cause qualquer desconforto ou angústia?

-É possível pensar a falta de desejo sexual


como uma orientação sexual, e não um
transtorno?
O desejo sexual é
universal?
Alfred Kinsey (1894-1956)

~ 1%
1948 1953
ASSEXUALIDADE
-Ausência de orientação sexual (STORMS, 1980)

-Ausência de atividade sexual


(NURIUS, 1983; ROTHBLUM & BREHONY, 1993)

-Baixo nível de excitação sexual (PRAUSE &


GRAHAM, 2007),

-Ausência de atração sexual (BOGAERT, 2004)


Anthony Bogaert (2004)
 Primeiro estudo a abordar e explorar a
assexualidade
 Amostra nacional probabilística
(N>18,000).
 Aproximadamente 1% (n=195) é
assexual.
 “Nunca senti atração sexual por
ninguém”
 Journal of Sex Research, Vol 41, N.3,
August, 2004
O surgimento das
comunidades virtuais assexuais
- Início do século XXI
- Tecnologias de informação e
comunicação, sobretudo a internet
- Fóruns de discussão, comunidades
virtuais, redes sociais
- Conquistas de movimentos de
outras minorias sexuais
AVEN – Asexual Visibility and
Education Network (Rede de
Educação e Visibilidade Assexual)
www.asexuality.org

- Fundada em 2001 - David Jay


- ~ de 70.000 membros no mundo todo
- 13 idiomas
- Busca a visibilidade assexual na mídia
- Formação de uma comunidade fundamentada
na identidade assexual
- Atua politicamente em prol da causa assexual
na sociedade norte-americana
Assexualidade nas comunidades
assexuais norte-americanas
• É uma orientação sexual
• Assexual é uma pessoa que não sente atração
sexual
• A assexualidade é diferente do celibato
• Diferença entre desejo sexual e atração sexual
• Orientação amorosa/romântica/afetiva
independente da atração sexual
• Possibilidade de desinteresse amoroso, além do
desinteresse sexual
• Possibilidade de atração sexual em
circunstâncias específicas
• Criação de subcategorias e nomenclatura para
traduzir as experiências das pessoas assexuais
Subcategorias e nomenclaturas
-Assexuais arromânticos
-Assexuais românticos
heterorromânticos
homorromânticos
birromânticos
pan-românticos
- Demissexuais
- Gray-A
Semelhanças e diferenças entre
assexuais e outras minorias sexuais
(Scherrer, 2008)

-Patologização histórica pelas instituições médicas


- Organização em comunidades fundamentas
em identidade sexual
-Símbolos culturais
- Não é uma escolha
-Processo sociopsicológico de revelação social
- Sentem que sua sexualidade é inata
-Criminalização pelas instituições jurídicas
-Condenação pelas instituições religiosas
-Representatividade no mundo real
Objetivo
Compreender as trajetórias de
autoidentificação de indivíduos assexuais, com
destaque para suas experiências e interações
sociais durante os anos escolares, os quais
geralmente propiciam – nas interações com os
atores escolares, sobretudo os pares – a
apreensão das regras sociais da sexualidade e
das relações de gênero.

Pesquisa qualitativa,exploratória, de perspectiva


sociológica, inserida nos estudos de diversidade
sexual no contexto escolar
Perfil dos entrevistados
- 40 entrevistados/as (8 presenciais, 32 e-mail)

- 4 regiões do Brasil, 13 estados, 31 municípios


- 24 mulheres, 16 homens (2 pessoas trans)
- 15 a 59 anos
- 75% ensino superior completo ou cursando
- 87% solteiros/a, 82% brancos/as
- 52% de ateus/agnósticos/sem religião
Assexualidade

Forma de viver a sexualidade


caracterizada pelo desinteresse
sexual, que pode ou não ser
acompanhada pelo desinteresse
por relacionamentos amorosos.
Postulados sobre a sexualidade
A assexualidade desafia postulados históricos das
construções sociais de sexualidade e gênero:
1 - Universalidade do interesse sexual
2 - Universalidade do interesse na formação de
parcerias amorosas
3 - Compulsoriedade da atividade sexual
nos relacionamentos amorosos
4 - Naturalização da centralidade das relações
amorosas e sexuais na experiência humana

SEXO-NORMATIVIDADE
Sexo-normatividade

Normas sociais que estabelecem


a universalidade do interesse
afetivo-sexual, a compulsoriedade
da atividade sexual nas relações
amorosas, bem como a
centralidade das relações afetivo-
sexuais na experiência humana.
Sexo-normatividade
A sexo-normatividade está para os
assexuais assim como o patriarcado
está para as feministas, ou a
heteronormatividade está para
LGBs, ou a cisnormatividade está
para transgêneros.
- Força opressora Resistência, luta
Principais Resultados
-Percebem uma diferença entre sua sexualidade
e de pares na escola
-Necessidade de revelar a sexualidade ou
“viver no armário”
-Chegou ao conceito de assexualidade pela
internet, televisão, revistas
-Sofrem discriminação homofóbica
-Nem todos/ têm interesse por relações amorosas
- Escola como espaço de emergência da percepção
da diferença
- Programas de educação sexual escolar não
abordam a diversidade sexual
Autoidentificação
• Fim da puberdade/início da adolescência.
• Brincadeiras de criança vs relacionamentos
• Convivência com pares na instituição escolar
• Formulação de hipóteses
• Processo de autoidentificação - diferenças de
gênero.
• Autoidentificação - a partir de meados dos anos
2000
a partir da busca na internet.
• Entendem a assexualidade como orientação
sexual.
Experiências com a educação
sexual escolar
Variáveis: diferença geracional, tipo de escola (pública, privada, religiosa,
laica, urbana, rural, etc)

• Ausência de programas regulares de educação


Sexual

• Reprodução humana nas aulas de ciências e biologia

• Intervenções pontuais com palestrantes convidados

• Mais jovens - ênfase em DST/Aids/GA

• Ausência da discussão sobre diversidade sexual


Experiências com a educação
sexual escolar - Percepções
• Atividade sexual compulsória nas trajetórias juvenis
• Valorização exacerbada do sexo
• Enfoque demasiado no sexo genital
• Compulsoriedade do interesse afetivo-sexual
• Priorização das relações afetivo-sexuais às demais
Interações sociais
• Não inclui a diversidade sexual
• Não discute o amor romântico
Experiências com a educação
sexual escolar - Expectativas
• Educação sexual escolar – facultativa

• Educação sexual escolar - anos finais da


escolarização básica

• Incluir a diversidade sexual – assexualidade

• Respeito às diferenças individuais - diminuição do


preconceito

• Educação sexual - “neutra” em relação a crenças


religiosas e livre de julgamentos morais e tabus
Experiências com a educação sexual
escolar – Expectativas (cont.)
•Problematização do interesse afetivo-sexual compulsório

•Não apresentar o sexo como prioridade na vida dos


jovens
• O sexo não é a coisa mais importante no namoro ou no
casamento
• Pressão social para iniciação afetivo-sexual
• Despatologização do desinteresse afetivo-sexual
• Celibato/abstinência como alternativa legítima de vivência
da sexualidade
• Discussão sobre o amor romântico
MAIS INFORMAÇÕES

Blog Assexualidades
http://assexualidades.blogspot.com/

AVEN – Asexual Visibility and Education


Network
www.asexuality.org

Comunidade Assexual A2
www.assexualidade.org

Elisabete Regina Oliveira


elisabete.regina.oliveira@usp.br

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