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Orientação Sexual:

Temas Transversais
Breve história da
Educação Sexual no Brasil

Diferentes períodos que demarcam


transformações no campo da sexualidade e
da Educação Sexual no país.

RIBEIRO, P. R. M.. Os momentos históricos da educação sexual no Brasil. In P. R. M. Ribeiro (Org.).


Sexualidade e educação: aproximações necessárias. São Paulo: Arte & Ciência, 2004. p. 15-25.
BUENO, R. C. P.; RIBEIRO, P. R. M.. História da Educação Sexual no Brasil: apontamentos para reflexão.
Revista Brasileira de Sexualidade Humana , v. 29, p. 49-56, 2018.
Períodos iniciais:
Brasil Colônia até o século XIX

CHAMBERLAIN, Henry e CLARKE, John. The chege and cadeira”. 1819. Gravura Colorida.
Domínio Público. pp. 349.
Períodos iniciais:
Brasil Colônia até o século XIX

no qual era marcante o “sexo pluriétnico


libidinoso para o homem; submissão e
repressão do comportamento sexual da
mulher; e normas, regras e condenações por
parte da Igreja” e, posteriormente, sob a
normatização da moral médica.
Períodos posteriores:
século XX
Períodos posteriores:
século XX
Tratava-se de uma motivação de cunho
moralista e biológico, que encontrava na
Educação Sexual uma forma de evitar a
“perversão moral”, as “psicoses sexuais” e
assegurar a “saudável reprodução da
espécie” de aspecto biologizante e discurso
higienista.
Períodos posteriores:
século XX
• O movimento feminista da época queria
implantar a Educação Sexual nas escolas
com o objetivo de proteção à infância e à
maternidade;
• A Igreja Católica constituiu um dos freios
mais poderosos, até a década de 60, para
que a Educação Sexual formal penetrasse
no sistema escolar brasileiro.
Períodos posteriores:
a partir de 1960
• Professores de escolas pelo Brasil
começam a implementar programas de
Educação Sexual.
• Até o regime militar imposto pelo Golpe de
Estado de 1964 que produziu um contexto
de redução das liberdades individuais e
manifestações da sexualidade.
Períodos posteriores:
a partir de 1980
• Com a abertura política no ano de 1978,
retoma-se oficialmente a Educação Sexual
nas escolas;
• Órgãos públicos assumem projetos nas
escolas – e não mais professores;
• Em 1978 ocorre o I Congresso de
Educação Sexual nas Escolas.
Períodos posteriores:
a partir de 1980
O interesse pela Educação Sexual ressurge
motivado pelos movimentos feministas, pelos
movimentos de controle populacional, pela
mudança no comportamento sexual do
jovem, principalmente devido à pílula como
método anticoncepcional, e também pelo
avanço da medicina no controle das doenças
sexualmente transmissíveis.
Períodos posteriores:
a partir de 1980

Com o advento da AIDS, a sociedade é


convocada a voltar a pensar na sexualidade
como uma questão social e sobre a
necessidade de uma educação voltada a
esse tema.
Períodos posteriores:
a partir de 1990

Em 1998, com a aprovação


da Lei de Diretrizes e Bases
e o estabelecimento do PCN,
a orientação sexual obteve
reconhecimento como Tema
Transversal.
Lembre-se de que a abordagem dos
Temas Transversais não era obrigatória!
Períodos posteriores:
2017 e 2018

Com a BNCC, os TCTs se


tornaram uma parte essencial
do currículo escolar em todas
as etapas da educação
básica.
Já aqui, a abordagem dos Temas Contemporâneos
Transversais se tornou obrigatória!
Orientação Sexual:
o documento
Organização do documento

01 Justificativa e objetivos
Justificativa, concepção do tema, o
trabalho na escola e objetivos gerais.

02 Como fazer
Blocos de conteúdos: Corpo, relações
de gênero e prevenção de DSTs/AIDS.
A sexualidade “invade” a escola
por meio das atitudes dos
alunos em sala de aula e da
convivência social entre eles.
Por vezes a escola realiza o
pedido, impossível de ser
atendido, de que os alunos
deixem sua sexualidade fora
dela.
Não é só estudar o
aparelho reprodutivo

Essa abordagem normalmente não abarca


as ansiedades e curiosidades das crianças,
nem o interesse dos adolescentes, pois
enfoca apenas o corpo biológico e não inclui
a dimensão da sexualidade.
Realização de
ações preventivas

A existência desse trabalho possibilita a


realização de ações preventivas das
doenças sexualmente transmissíveis/Aids de
forma mais eficaz.
Prevenção de
violência

O trabalho de Orientação Sexual também


contribui para a prevenção de problemas
graves, como o abuso sexual e a gravidez
indesejada.
Conhecimento dos
direitos sexuais

A Orientação Sexual na escola é um dos


fatores que contribui para o conhecimento e
valorização dos direitos sexuais e
reprodutivos.
decisões
sobre sua saúde
própria reprodutiva
fertilidade

Direitos
sexuais e
reprodutivos

criação de liberdade de
filhos expressão
Concepção
do tema
Onde está a sexualidade?

• Manifesta-se desde o momento do nascimento até


a morte, de formas diferentes a cada etapa do
desenvolvimento humano, sendo construída ao
longo da vida.
• Encontra-se necessariamente marcada pela
história, cultura, ciência, assim como pelos afetos e
sentimentos, expressando-se então com
singularidade em cada sujeito.
Sexo x Sexualidade

Se, por um lado, sexo é expressão biológica


que define um conjunto de características
anatômicas e funcionais (genitais e
extragenitais), a sexualidade, entendida de
forma bem mais ampla, é expressão cultural.
Sexualidade é
expressão cultural

Cada sociedade desenvolve regras que se


constituem em parâmetros fundamentais para o
comportamento sexual das pessoas. Isso se dá num
processo social que passa pelos interesses [...] das
classes sociais, que é mediado pela ciência, pela
religião e pela mídia, e sua resultante é expressa
tanto pelo imaginário coletivo quanto pelas políticas
públicas, coordenadas pelo Estado.
psíquica biológica

O documento
busca considerar
todas as
dimensões da
sexualidade

sociocultural política
Padrões socialmente
estabelecidos

A construção do que é pertencer a um ou


outro sexo se dá pelo tratamento
diferenciado para meninos e meninas,
inclusive nas expressões diretamente
ligadas à sexualidade, e pelos padrões
socialmente estabelecidos de feminino e
masculino.
A questão
da puberdade
Em relação à puberdade, as mudanças
físicas incluem alterações hormonais que,
muitas vezes, provocam estados de
excitação difíceis de controlar, intensifica-se
a atividade masturbatória.
Expressões da
sexualidade
A sensualidade e a “malícia” estão presentes
nos seus movimentos e gestos, nas roupas
que usam, na música que produzem e
consomem, na produção gráfica e artística,
nos esportes e no humor por eles cultivado.
O trabalho
na escola
Cabe à escola abordar os
diversos pontos de vista,
valores e crenças existentes na
sociedade para auxiliar o aluno
a construir um ponto de auto-
referência por meio da reflexão
[...] sem invadir a intimidade e o
comportamento de cada aluno
ou professor.
O trabalho
na escola
Trata-se de preencher lacunas
nas informações que a criança
e o adolescente já possuem e,
principalmente, criar a
possibilidade de formar
opinião a respeito do que lhes
é ou foi apresentado.
Pertinente ao
convívio social

Se é adequado ao espaço da escola o


esclarecimento de dúvidas e curiosidades
sobre este tema, é importante que contribua
para que a criança aprenda a distinguir as
expressões que fazem parte da sua
intimidade e privacidade daquelas que são
pertinentes ao convívio social.
Postura
do professor

É necessário que o educador tenha acesso à


formação específica para tratar de
sexualidade com crianças e jovens na
escola, possibilitando a construção de uma
postura profissional e consciente no trato
desse tema.
Postura
do professor

Informações corretas do ponto de vista


científico ou esclarecimentos sobre as
questões trazidas pelos alunos são
fundamentais para seu bem-estar e
tranquilidade.
Relação escola-família

Não compete à escola, em nenhuma


situação, julgar como certa ou errada a
educação que cada família oferece. O papel
da escola é abrir espaço para que a
pluralidade de concepções, valores e
crenças sobre sexualidade possa se
expressar.
Objetivos gerais

• desenvolver e exercer sua sexualidade com


prazer e responsabilidade;
• respeitar a diversidade de valores, crenças e
comportamentos relativos à sexualidade;
• compreender a busca de prazer como um direito;
• conhecer seu corpo, valorizar e cuidar de sua
saúde;
Objetivos gerais

• identificar e repensar tabus e preconceitos;


• reconhecer como construções culturais as
características socialmente atribuídas ao masculino
e ao feminino;
• identificar e expressar seus sentimentos e
desejos, respeitando os sentimentos e desejos do
outro;
• reconhecer o consentimento mútuo;
Objetivos gerais

• proteger-se de relacionamentos sexuais


coercitivos ou exploradores;
• agir de modo solidário em relação aos portadores
do HIV;
• conhecer e adotar práticas de sexo protegido;
• evitar uma gravidez indesejada;
• consciência crítica e tomar decisões responsáveis
a respeito de sua sexualidade.
• relevância
sociocultural
• consideração às
Três critérios dimensões
para biológica, psíquica e
selecionar os sociocultural da
sexualidade
conteúdos • sexualidade de
forma prazerosa e
responsável
• Corpo: matriz da
sexualidade
• Relações de
Três blocos Gênero
norteadores • Prevenção das
Doenças
Sexualmente
Transmissíveis/Aids
Corpo: matriz da
sexualidade

• O organismo refere-se ao aparato herdado


e constitucional à infraestrutura biológica dos
seres humanos;
• Já o conceito de corpo diz respeito às
possibilidades de apropriação subjetiva de
toda a experiência na interação com o meio.
Corpo: matriz da
sexualidade

• A abordagem deve ir além das informações


sobre anatomia e funcionamento, pois os
órgãos não existiriam fora de um corpo que
pulsa e sente. O corpo inclui emoções,
sentimentos, sensações de prazer e
desprazer, assim como as transformações
nele ocorridas ao longo do tempo.
Corpo: matriz da
sexualidade

• História: o corpo e os modos de usá-lo,


representá-lo e valorizá-lo tem
determinações sociais de várias ordens:
econômica, política e cultural;
• Educação física e Arte: O questionamento
da imposição de certos padrões de beleza
veiculados pela mídia;
Corpo: matriz da
sexualidade

• Ciências naturais: transformações


corporais juntamente com os significados
culturais que lhes são atribuídos, como a
tolerância e incentivo à iniciação sexual dos
meninos concomitantemente com a
repressão sexual das meninas e o tabu da
virgindade feminina.
Relações de gênero

• Buscar a equidade entre os sexos, a


flexibilização dos padrões de comportamento
e o questionamento das estereotipias ligadas
ao gênero.
Relações de gênero

• Língua Portuguesa: nos textos literários,


podem-se perceber as perspectivas de
gênero por meio da análise das
personagens;
• Língua Estrangeira: diferentes conotações
atribuídas ao masculino e ao feminino em
vários países e diferentes culturas.
Prevenção das Doenças
Sexualmente Transmissíveis/AIDS

• Os professores precisam incentivar os


alunos na adoção de condutas preventivas e
promover o debate sobre os obstáculos que
dificultam a prevenção;
• Atitudes responsáveis, solidárias e não
discriminatórias.
Para refletir
um pouco…
Achamos que o documento iria falar, pelo
menos minimamente, sobre sexo, identidade
de gênero, expressão de gênero e
orientação sexual, como mostra a próxima
imagem.
Contudo o documento trata a orientação
muito mais como passagem da informação
sobre temas ligados a sexualidade na
escola.
A orientação A orientação
sexual refere-se à sexual refere-se à
direção ou à passagem da
inclinação do informação sobre
desejo afetivo e temas ligados a
erótico de cada sexualidade na
pessoa. escola.
sexualidadeS

É importante, a partir de agora, falarmos em


sexualidadeS, pois a sexualidade também é
plural, o que implica afirmar a inexistência de
um único modo correto, estável, desejável e
sadio de vivenciá-la.

GOELLNER, Silvana V. . A educação dos corpos, dos gênero e das sexualidade e o reconhecimento da
diversidade. Cadernos de Formação RBCE , v. 1, p. 71-83, 2010.
psíquica biológica

O documento
busca considerar
todas as
dimensões da
sexualidade

sociocultural política
biológica

O documento
busca considerar
todas as
dimensões da
sexualidade

sociocultural
Acreditamos que o documento, na verdade,
não dá enfoque para as dimensões psíquica
e política das sexualidades, focando-se
apenas nas dimensões biológica
(principalmente) e sociocultural.
O termo orientação

Cabe sublinhar que o próprio termo


orientação supõe direcionar, conduzir,
encaminhar para, e este direcionamento
caminha para aquilo que pode ser
considerado como moralmente aceito pela
sociedade.
Braga, A. V.. Identidade sexual e cultura escolar: uma crítica à versão de sexualidade contida nos PCN. Revista
Iberoamericana de Educación, 40(2), 1-9, 2006.
O termo orientação

Há a intenção de estabelecer um regime de


verdade heteronormativo, preventivo,
higienizador e biologicista que, separados ou
articulados, revelam a orientação da
sexualidade desejada: uma sexualidade
branca, de classe média e heterossexual.
Braga, A. V.. Identidade sexual e cultura escolar: uma crítica à versão de sexualidade contida nos PCN. Revista
Iberoamericana de Educación, 40(2), 1-9, 2006.
A seguir, separamos quatro trechos retirados
do documento que gostaríamos de
questionar.
“Os alunos também já trazem questões
mais polêmicas sobre sexualidade e já
apresentam necessidade e melhores
condições para refletir sobre temáticas como
aborto, virgindade, homossexualidade,
pornografia, prostituição e outras”.
“Com a inclusão da Orientação Sexual nas
escolas, a discussão de questões
polêmicas e delicadas, como masturbação,
iniciação sexual, o “ficar” e o namoro,
homossexualidade, aborto, disfunções
sexuais, prostituição e pornografia, dentro de
uma perspectiva democrática e pluralista,
em muito contribui para o bem-estar das
crianças”.
“Os questionamentos vão aumentando,
exigindo progressivamente a discussão de
temas polêmicos, como masturbação, início
do relacionamento sexual,
homossexualidade, aborto, prostituição,
erotismo e pornografia, desempenho sexual,
disfunções sexuais, parafilias, gravidez na
adolescência, obstáculos na prevenção das
doenças sexualmente transmissíveis/Aids,
entre outros.”
“Temáticas como a gravidez na ado-
lescência, masturbação, homossexualidade,
iniciação sexual, pornografia e erotismo,
aborto, violência sexual e outras, são
exemplos de questões que extrapolam a
possibilidade da transversalização pelas
disciplinas e demandam espaço próprio
para serem refletidas e discutidas”.
Das cinco vezes que o documento utiliza o
termo “homossexualidade”, também utiliza o
termo “temas polêmicos” na mesma
sentença.

Para refletir: Quais são as implicações


disso?
“[...] são exemplos de questões que
extrapolam a possibilidade da trans-
versalização pelas disciplinas e demandam
espaço próprio para serem refletidas e
discutidas”.

Para refletir: Homossexualidade, aborto,


violência sexual, pornografia, entre
outros, extrapolam mesmo a possi-
bilidade de transversalização?
Atendimento especializado

“Apenas os alunos que, por questões


pessoais, demandem atenção e intervenção
individuais, devem ser atendidos
separadamente do grupo pelo professor ou
orientador na escola, e poderá ser discutido
um possível encaminhamento para
atendimento especializado”.
O documento diz que alguns alunos
precisarão de atendimento especializado,
fora da sala de aula (e, muito provavelmente,
fora do convívio com os colegas).

Para refletir: Quem são esses alunos? O


parágrafo seguinte responde.
Atendimento especializado

“Alunos portadores de algumas deficiências


podem eventualmente ter dificuldades de
comunicação e de expressão da sexualidade
e, por isso, exigir formas diferenciadas de
orientação na escola, nos conteúdos e
estratégias de abordagem”.
Como o próprio texto responde, esse aluno é
PCD.

Para refletir: Na verdade, esse movimento


de “atendimento especializado” não é,
mais uma vez, o sistema excluindo o
corpo com deficiência?
Como vimos, em 1998, com a
implementação do PCN, a Orientação
Sexual se tornou um Tema Transversal,
sendo optativo a abordagem desse tema nas
salas de aula.
Contudo, em 2019, os seis Temas
Transversais do PCN viraram 15 Temas
Transversais Contemporâneos da BNCC.
Veja a seguir.
Não sentiram falta de nenhum tema? A
Orientação Sexual deixou de ser tema
principal com a “desculpa” de que ela
engloba diversos temas como saúde,
cidadania, multiculturalismo, ciência e
tecnologia...

Para refletir: Na verdade, isso não se trata


de um processo de escamoteação do
tema orientação sexual?
Convidamos você a assistir a um vídeo com
cortes e trechos de conteúdos da internet
sobre a orientação sexual vista em diversas
perspectivas ideológicas.
LINK: https://youtu.be/WYNLksr2dSU
• Quais são as fronteiras da educação
sexual na escola?
• Quais palavras usar para falar de
educação sexual?
• Existe diferença de postura na
abordagem entre uma rede pública e
uma rede privada?
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Considere a realidade que uma criança
brasileira vive no seu dia a dia:
Maio de 2023
Junho de 2023
Setembro de 2023
Muito
obrigado!
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