Você está na página 1de 5

RESUMO DE SAÚDE DA MULHER

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER


Gabriela Mendes Messias

A violência contra a mulher, por conceito, é qualquer ato ou conduta que possa causar dano,
sofrimento físico, psicológico ou sexual à mulher, tanto em contexto público como privado, podendo
até gerar morte. Logo, a violência se dá como qualquer ação ou omissão que prejudique o bem-
estar integral da mulher, seja físico, psicológico ou sexual, ou mesmo que impeça a liberdade e o
direito de opinião e cidadania. Essa violência pode ser cometida por diversas pessoas, mas mais
comumente é uma violência muito presente no meio domiciliar, por parentes, conjugues ou mesmo
por pessoas que assumem papeis parentais, mesmo sem laços consanguíneos, e pessoas que
mantém relações de poder.

A violência contra a mulher é, atualmente, um fenômeno muito comum em diversos países, assim
como no Brasil. Ela é sofrida por mulheres de diferentes classes sociais, estados civis, religiões,
orientações sexuais, escolaridade, etnias, idade, seja no campo domiciliar, no trabalho, escola,
relações culturais e comunitárias, entre outros. Atualmente, é de notificação compulsória os casos
de violência contra a mulher que forem atendidos em serviços de saúde, públicos ou privados.

É na atenção básica que devem ser feitas ações para garantir os direitos das mulheres na luta
contra a violência. No primeiro contato com uma paciente que sofreu violência, recomenda-se um
acolhimento eficaz e bem realizado, para que apenas depois registre a queixa em prontuários e
fichas. As perguntas e identificações da violência só devem ser feitas pelo profissional que sabe as
condutas e protocolos a serem adotados para suprir as necessidades da mulher atendida e para
desenvolver a articulação entre os setores para a produção do cuidado integral em cada caso.

No prontuário devem ser descritas, detalhadamente, as circunstancias da violência, bem como as


lesões vistas em exame físico. O profissional deve saber escutar com cuidado, empatia e
acolhimento. Deve-se estabelecer, desde o início, um vínculo médico-paciente confortável que
possibilite que a mulher relate as vivências de violência, respeitando o tempo da mulher para tal, e
construir, juntos, um plano de cuidados, se for de desejo da mesma.

Formas de Violência Contra a Mulher

Fique por dentro!


cursomeds.com.br
 Violência Física: a violência física é toda a forma de violência que acometa, fisicamente, a
integridade da mulher ou sua saúde corporal. Geralmente tem ação de força física não
acidental, com o objetivo de ferir, lesar, causar dor ou sofrimento ou mesmo causar morte.
Há diversas formas de violência física, como tapas, chutes, beliscões, torções, empurrões,
estrangulamentos, queimaduras, além de perfurações e mutilações. É também incluído aqui
lesões com armas, seja arma branca ou arma de fogo.
 Violência Psicológica: a violência psicológica é o tipo de violência que cause dano
emocional, prejudique o estado psicossocial da mulher, cause redução da autoestima, que
degrade sua identidade, prejudique seu comportamento, crenças e decisões. Ele pode ser
realizado por meio de ameaças, constrangimentos, humilhações, manipulações,
perseguição, insulto, chantagem, exposição, entre outros. Esse tipo de violência pode
também ser chamada de violência moral. Esse tipo de violência é muito comum em casos
de relação de poder, em que a mulher se vê submissa ao agressor. Um exemplo concreto é
nas relações de trabalho.
 Violência sexual: a violência sexual é aquela que causa constrangimento em presenciar,
manter ou participar de uma relação sexual, sendo essa não desejada pela mulher. Esse
tipo de violência é estabelecido utilizando ameaças, chantagem por exposição, intimidação,
coação ou uso de força. Essa violência é feita quando se induz a mulher a utilizar, de
qualquer modo não desejado, de sua sexualidade, ou impedindo de utilizar de métodos
contraceptivos ou que a force ao matrimônio, a gravidez, ao aborto ou a prostituição. É
considerado também violência contra a mulher os casos em que há limitação forcada dos
direitos sexuais e reprodutivos da mulher. As situações de violência sexual incluem o
estupro, o abuso incestuoso, o assédio sexual, o sexo forçado no casamento, os jogos
sexuais e práticas eróticas não consentidas, a pornografia e a pedofilia, o voyeurismo, o
manuseio, penetração oral, vaginal ou anal com pênis ou objetos de forma não consentida.
Além disso, são atos de violência sexual os atos libidinosos constrangedores, o
exibicionismo, masturbação, linguagem erótica, interações sexuais e material pornográfico.
A violência sexual é crime, mesmo quando exercida por qualquer familiar, como pai, mãe,
irmão, padrasto, companheiro ou esposo.
 Violência patrimonial: é a violência realizada por retenção, destruição parcial ou total dos
bens da mulher, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, valores ou recursos
econômicos da vítima. É ainda violência patrimonial aquela em que há exploração imprópria

Fique por dentro!


cursomeds.com.br
de recursos financeiros e patrimoniais da mulher. Esse tipo de violência é muito comum no
âmbito domiciliar, principalmente contra idosas e deficientes.
 Violência moral: é o tipo de violência em que há calunia, difamação ou injúria contra a
mulher.

Conduta

A primeira coisa a ser feita no caso de uma paciente que tenha sofrido violência é realizar um
acolhimento com escuta qualificada, de forma que se realize um atendimento humanizado,
focando nos princípios de respeito e dignidade da pessoa humana, sem discriminação,
respeitando seu sigilo e privacidade, com um ambiente de confiança e respeito. Não deve-se
estabelecer uma postura de não vitimização das mulheres, e saber lidar com emoções como
raiva, medo e impotência que podem surgir no atendimento. Perguntas diretas são importantes,
mas não devem estigmatizar ou julgar a vítima. Quando a vítima não se sentir à vontade para
tratar do assunto diretamente, pode-se realizar perguntas indiretas. Deve-se mostrar para a
mulher que há compreensão da situação vivida, e orientar sobre a importância de registrar a
ocorrência para que a mesma se proteja e proteja sua família, mas sempre respeitando sua
opinião e desejo.

Na avaliação global, deve ser detectada a situação de vulnerabilidade, identificar a situação de


violência e sua recorrência, além de identificar os sinais de alerta para a violência, como
transtornos crônicos, vagos e repetitivos, início tardio de pré-natal, parceiro muito atento e
controlador, infecções urinárias de repetição, dor pélvica crônica, síndrome do intestino irritável,
complicações em gestações prévias e abortos de repetição, depressão, ansiedade, transtorno
de estresse pós traumático, história de tentativa suicida, lesões físicas não explicadas com
acidentes. Deve-se sempre investigar a possibilidade da violência pelo parceiro íntimo.

Muitas vezes as mulheres possuem vergonha ou constrangimento de verbalizar uma situação


de violência, ou mesmo receio pela sua segurança e pela segurança dos seus familiares. Outras
vezes o receio se manifesta pela esperança de mudança de comportamento do agressor,
dependência econômica ou afetiva dele, desvalorização ou banalização dos problemas, ou
carceiramento de liberdade. Nesses casos, deve-se criar um ambiente de acolhimento,
deixando claro para a gestante que o sigilo médico é um direito. Muitas vezes um
acompanhamento crônico é necessário. Quando for identificado um caso de risco de vida, deve-
se informar a gestante como traçar um plano de segurança.

Fique por dentro!


cursomeds.com.br
No exame físico, deve-se atentar para a recusa ou dificuldades no momento de realiza-lo,
principalmente no exame ginecológico e abdominal. Deve-se observar a presença de ferimentos
ao realizar uma inspeção detalhada por todo o corpo. Os sinais de violência mais comuns são
ferimentos em troncos, membros (como na parte interna das coxas), nádegas, cabeça e
pescoço, mucosas genitais, orelhas, mãos e pés. Deve-se suspeitar de todos os ferimentos que
não condizem com sua explicação de ocorrência.

Em casos de mulheres com risco de vida, deve construir junto com a mulher um plano de
segurança. Ele é baseado em quatro passos. O primeiro consiste em identificar vizinhos que a
mulher pode contar sobre a violência, para que os mesmos ajudem caso ouçam ou presenciem
a violência. Pode ser combinado um código de comunicação para momentos de dificuldade e
emergência. O segundo passo consiste na busca, por parte da mulher, de sempre estar em um
local que a possibilite de fugir e tente não discutir em locais como a cozinha, em que possa ter
armas e objetos que causem maiores danos e riscos a vida. O terceiro passo consiste em
orientar a mulher a planejar uma forma de fugir de casa com segurança e um local de segurança
que ela poderia ir. O quarto passo consiste na orientação para que a mulher escolha um local
de segurança para manter cópias de documentos seus e de seus filhos, dinheiros, roupas e
uma cópia da chave de casa, para o caso em que seja necessário fugir rapidamente.

Após todo o atendimento, o médico responsável deve preencher a ficha de notificação de


violência contra a mulher, na suspeita ou confirmação da situação de violência, bem como
preencher o provável autor da violência e realizar o encaminhamento. Deve-se sempre atentar
para casos de violência sexual e tentativa suicida, cuja notificação é obrigatória e imediata, ou
seja, em até 24 horas do atendimento.

Em caso de estupros com ocorrência de gravidez, pode ser feita a interrupção legal da gravidez.
Para isso, deve-se ter o consentimento da mulher ou de seu representante legal, esclarecendo
as ações previstas em lei, medidas de alivio da dor, tempo e riscos do procedimento. Deve-se
acompanhar a mulher pós abortamento, acolhendo-a, realizando a orientação anticoncepcional
e concepcional para recuperação da fertilidade pós abortamento.

Para a prevenção desse tipo de violência, pode-se investir na educação em saúde, seja na
orientação individual ou coletiva dos usuários da atenção básica, principalmente, sobre os
direitos das mulheres, fortalecendo a cidadania e a cultura em prol da paz. Deve-se também
oferecer serviços de planejamento reprodutivo para as mulheres pós abortamento, além de

Fique por dentro!


cursomeds.com.br
orientação para as mulheres que desejam uma nova gestação, além da prevenção de gestações
indesejadas e da realização de abortos clandestinos. Também, deve-se sempre orientar sobre
o livre exercício da sexualidade feminina.

Fique por dentro!


cursomeds.com.br

Você também pode gostar