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A violência psicológica contra a mulher

De acordo com a Lei Maria da Penha, estão previstos cinco tipos de violência doméstica e
familiar contra a mulher. Entre elas a violência psicológica, na qual “É considerada como
qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou
qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação”.
BRASIL, Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006.
Dessa forma, é válido salientar que em muitos casos a vítima não percebe que está sofrendo
violência psicológica, por isso é preciso estar atento aos sinais. Alguns deles são: Se sentir
inferior ao companheiro; Se sentir oprimida; Perda do ânimo diante da vida; Sentir culpa pelas
discussões e pelos problemas na relação; Esconder de amigos e parentes ou justificar certos
tipos de comportamentos do parceiro. Entretanto, diferentemente das doenças físicas que
provocam sintomas fáceis de identificar, os sinais da violência psicológica são mais difíceis de
interpretar. BRASIL, Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006.
Sendo assim, diversas mulheres não conseguem compreender facilmente o que estão vivendo,
porque em muitas vezes, além de as agressões virem de pessoas que elas possuem sentimento
afetivo, as consequências em primeiro momento não são físicas, sendo mais difícil de
identificar por pessoas da família, ou amigos, por exemplo. Esses fatores, juntamente com a
falta de informação da população, produzem um cenário que contribui para dificultar o
diagnóstico.
Além de identificar que a violência psicológica existe, há também a necessidade de
identificação de qual o tipo de violência. Existem diferentes tipos de violência psicológica e em
cada um deles há sinais. É preciso estar sempre atento para reconhecer as características de
cada um, uma vez que em alguns casos a violência é mais sutil e em outros não. Estar atenta
aos sinais e sintomas demonstrados pela mulher, fornecer apoio e espaço para que a mulher
possa se expressar e compartilhar sua realidade. O cuidado é necessário, porque a violência
torna-se de difícil percepção. À medida que comportamentos como hostilidade, frieza
emocional, intimidações, humilhações em público vão sendo repetidos, as vítimas acabam
aceitando tudo isso como se fosse algo natural, parte da rotina. Elas se acostumam a ser
manipuladas (consciente ou inconscientemente), ter suas opiniões ignoradas, ser impedidas de
sair de casa ou de encontrar amigos e familiares. Esse sofrimento vai minando a saúde dia após
dia. (OLIVEIRA apud TEODORO, 2020).
Ademais, há também o ciclo de violência contra a mulher, ele é divido em três fases:
aumento da tensão, ato de violência e arrependimento e comportamento carinhoso. Aumento
da tensão: Nesse primeiro momento, o agressor mostra-se tenso e irritado por coisas
insignificantes, chegando a ter acessos de raiva. Ele também humilha a vítima, faz ameaças e
destrói objetos. A mulher tenta acalmar o agressor, fica aflita e evita qualquer conduta que
possa “provocá-lo”. As sensações são muitas: tristeza, angústia, ansiedade, medo e desilusão
são apenas algumas. Em geral, a vítima tende a negar que isso está acontecendo com ela,
esconde os fatos das demais pessoas e, muitas vezes, acha que fez algo de errado para
justificar o comportamento violento do agressor ou que “ele teve um dia ruim no trabalho”,
por exemplo. Essa tensão pode durar dias ou anos, mas como ela aumenta cada vez mais, é
muito provável que a situação levará à Fase 2. Ato de violência: Esta fase corresponde à
explosão do agressor, ou seja, a falta de controle chega ao limite e leva ao ato violento. Aqui,
toda a tensão acumulada na Fase 1 se materializa em violência verbal, física, psicológica, moral
ou patrimonial. Mesmo tendo consciência de que o agressor está fora de controle e tem um
poder destrutivo grande em relação à sua vida, o sentimento da mulher é de paralisia e
impossibilidade de reação. Aqui, ela sofre de uma tensão psicológica severa (insônia, perda de
peso, fadiga constante, ansiedade) e sente medo, ódio, solidão, pena de si mesma, vergonha,
confusão e dor. Nesse momento, ela também pode tomar decisões − as mais comuns são:
buscar ajuda, denunciar, esconder-se na casa de amigos e parentes, pedir a separação e até
mesmo suicidar-se. Geralmente, há um distanciamento do agressor. Arrependimento e
comportamento carinhoso: Também conhecida como “lua de mel”, esta fase se caracteriza pelo
arrependimento do agressor, que se torna amável para conseguir a reconciliação. A mulher se
sente confusa e pressionada a manter o seu relacionamento diante da sociedade, sobretudo
quando o casal tem filhos. Em outras palavras: ela abre mão de seus direitos e recursos,
enquanto ele diz que “vai mudar”. Há um período relativamente calmo, em que a mulher se
sente feliz por constatar os esforços e as mudanças de atitude, lembrando também os
momentos bons que tiveram juntos. Como há a demonstração de remorso, ela se sente
responsável por ele, o que estreita a relação de dependência entre vítima e agressor. Um misto
de medo, confusão, culpa e ilusão fazem parte dos sentimentos da mulher. Por fim, a tensão
volta e, com ela, as agressões da Fase 1. (OLIVEIRA apud TEODORO, 2020).
Verifica-se que na literatura existente acerca do enfrentamento à violência contra a mulher,
há uma carência de estudos sobre os casos de violência psicológica. Além disso, na rotina de
atendimento e assistência à mulher, predomina soluções rápidas e de reparo através de
fármacos e procedimentos médicos, mas não ações de prevenção ou que busquem encontrar a
origem do problema (FORNARI, FONSECA, 2021). O atendimento na Unidade Básica de Saúde é
visto como uma porta de entrada favorável à identificação dos casos de violência, contudo,
percebe-se a dificuldade dos profissionais em lidar e reconhecer esse tipo de agravo
(NASCIMENTO et al., 2019). É importante estar atento aos sinais que muitas vezes não sai
percebidos facilmente, olhar essa mulher em suas particularidades e conseguir identificar o
que muitas vezes não estará explícito. A enfermagem possui contato constante e direto com o
paciente, assim, pode identificar os sinais e fatores de risco do problema através de uma escuta
qualificada durante a assistência. A intercomunicação facilita a identificação dos problemas por
parte da equipe e permite uma melhor assistência ao paciente. Dessa forma, fica explícito que
a interlocução é um processo que deve ser utilizado como instrumento de ajuda terapêutica.
Portanto, o enfermeiro deve ter conhecimentos fundamentais sobre as bases teóricas da
comunicação e adquirir habilidades de relacionamento interpessoal para agir positivamente na
assistência ao paciente (DE OLIVEIRA et al., 2018).

Além disso, conforme o último boletim epidemiológico com dados do Sistema de


Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do ano de 2011, a violência psicológica foi
apontada como o segundo tipo de violência mais frequente contra adultos de 20 a 59 anos.
Além disso, em um estudo feito no município do Maranhão, no qual foram analisadas as fichas
de notificação de violência contra a mulher do período de 2014 a 2018, o tipo de violência mais
comum encontrada foi a psicológica/moral com 44% de prevalência, sendo a ameaça o meio de
agressão mais comum, com 55,48% (BRASIL, 2013; DE JESUS SILVA, et al., 2021).
Entre os anos de 2011 e 2018, observou-se um aumento no número de notificações de
violência nos municípios brasileiros, o que evidenciou a melhora na cobertura do Sistema de
Vigilância de Violências e Acidentes e do Sinan. Entretanto, em breve pesquisa na base de
dados, observa-se que a notificação por violência psicológica ou moral pelo sexo feminino tem
diminuído nos últimos anos desde 2018. Pode-se perceber que o grau de subnotificação se
intensificou, fenômeno que pode ser explicado por diversos fatores como o desconhecimento
da ficha de notificação e de sua obrigatoriedade, medo da quebra do sigilo profissional, assim
como, a influência da pandemia que pode ter agravado o déficit de notificações (BRASIL, 2020;
BRASIL 2020 – B).
Ainda hoje, existem muitas cidades que não estão equipadas de forma adequada para
diagnosticar, tratar ou contribuir para a prevenção de novas ocorrências, para realizar o
enfrentamento à violência de forma efetiva. Os casos de violência psicológica contra a mulher
são complexos por exigir o resgate da autoconfiança e a capacidade de se ver novamente longe
do agressor. A assistência de enfermagem à mulher que é vítima, deve ser feita de forma que
acolha, respeite os princípios da dignidade, isenção de preconceitos, crenças e valores pessoais
(BAPTISTA et al., 2015).

Referências:

BATISTA, Diego.; BRAZ, Melissa Medeiros. REPERCUSSÕES DA VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA NA SAÚDE MENTAL DA MULHER: REVISÃO DE LITERATURA. Anais do Salão


Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 9, n. 2, 3 mar. 2020. Disponível em:
https://periodicos.unipampa.edu.br/index.php/SIEPE/article/view/98787

BRASIL. Lei no 11.340, de 07 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Diário Oficial da União,
Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm

TEODORO, Maycoln. Abuso psicológico afeta tanto a saúde mental quando psicológica: como
identificar. Sociedade Brasileira de Psicologia, 2020.
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/04/17/abuso-psicologico- afeta-
tanto-saude-mental-quanto-fisica-como-identificar.htm.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil). Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico.


Brasil, [online], v. 51, 2020.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil). Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico -


Vigilância de violência doméstica, sexual e/ou outras violências: Viva/Sinan – Brasil, 2011.
Brasil, [online], v. 44, 2013.

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