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INTRODUÇÃO
O tema da violência contra a mulher vem despertando cada vez mais interesse e
criando mais espaços para debate, de forma a procurar entender todas as formas de violência,
direta ou indireta, em todas as esferas da sociedade. Em julho de 2020 foi lançada a campanha
de combate de violência contra a mulher, sendo que em 2021 torna-se Lei um programa de
cooperação chamado Sinal Vermelho. Assim, de acordo com a Lei nº 14.188 de 28 de julho
de 2021. Configura-se que o programa de cooperação Sinal Vermelho contra a Violência
Doméstica é uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a
mulher (BRASIL, 2021). Dessa forma, compreende-se também que esse é um cenário o qual
vem se modificando a fim de melhor atender essas vítimas.
A violência contra a mulher está presente desde os primórdios da vida humana. Esse
fenômeno histórico-social nos relacionamentos pode ser apresentado a partir de uma dinâmica
relacional abusiva, nos quais prevalece a desigualdade de poder. Assim, entende-se que esse
fato ocorre por conta da desigualdade entre os gêneros originada pela construção social dos
modos de ser homem e ser mulher, os quais são baseados em regras normativas e em uma
base de oposição uma frente a outra (HOEPERS, TOMANIK, 2019).
Esse tema tem ganhado mais força recentemente sendo que, através de áreas como a
da Psicologia, Direito e Assistência Social, objetiva-se compreender as vivências, sofrimentos
e condições de mulheres envolvidas em relacionamentos afetivos e que sofrem qualquer tipo
de abuso. A violência em relacionamentos abusivos não ocorre apenas de forma física, pois,
de acordo com o Art. 5º da Lei nº 11.340 de 07 de agosto de 2006, configura-se violência
contra a mulher qualquer ação baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento
físico, sexual, psicológico, dano moral ou patrimonial (BRASIL, 2006).
As relações abusivas, bem como suas tipificações, ocorrem cotidianamente, seja
dentro do lar ou em espaço público, podendo ocorrer independentemente da classe social,
idade, religião, estado civil, raça e escolaridade. Para as Diretrizes Nacionais do Feminicídio
(2016) são as mortes violentas que expressam a violência mais grave baseada no gênero.
Contudo, deve-se ressaltar que, quando ocorre a morte da vítima, considera-se que essa já
passou por quase todos os outros estágios de violência, como a psicológica, física, sexual,
moral e patrimonial.
Esses fatores ocorrem porque nem sempre a vítima consegue identificar as diferentes
formas de violência que está vivenciando. Por esse motivo, mesmo convivendo com outras
formas de violência em um relacionamento afetivo/abusivo, a mais denunciada pelas vítimas
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ainda é a violência física. A diferença entre a violência física e a psicológica, é que, enquanto
a primeira é composta por atos de agressão corporal à vítima, a segunda se dá por meio de
palavras, gestos e olhares para a vítima. Essa violência psicológica é, por muitas vezes,
negligenciada, pois geralmente destaca-se apenas a violência doméstica física em pesquisas,
noticiários, revistas ou qualquer outro meio de comunicação que poderia dar um melhor
entendimento desses fatores (SILVA, COELHO, CAPONI, 2007).
Segundo uma pesquisa da Política Nacional de Enfrentamento de Violência Contra as
Mulheres (2011), realizada com 4.299 mulheres, 78% das respondentes destacam a violência
física contra o gênero feminino como a mais presente nos relacionamentos, sendo que a
violência moral surge em segundo lugar no relato de 28% das participantes, praticamente
empatada com a violência psicológica (27%). Tendo isso em vista, quando a mulher chega
até a delegacia para registrar o acontecimento da agressão física, pressupõe-se que a mesma já
vivenciou diversas outras formas de violências (BRASIL, 2016).
Quando uma denúncia de violência é registrada na Delegacia da Mulher (DM), a
vítima é encaminhada para o serviço de psicologia. Esse serviço é disponibilizado na própria
DM ou através do encaminhamento para outros órgãos como por exemplo o Centro de
Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), que oferece apoio psicológico,
sendo que a decisão é tomada com base no estado emocional em que a mulher se encontra na
ocasião do registro de ocorrência. Segundo resultados de pesquisa, nesses atendimentos
psicológicos, as maiores queixas são relativas ao parceiro, de forma que as vítimas ainda não
sentem segurança para romper o ciclo de violência e, por isso, procuram a delegacia para
orientação (GADONI-COSTA, ZUCATTI, DELL'AGLIO, 2011). A violência psicológica é a
mais silenciosa porque, por ter um caráter momentâneo, possuí efeitos cumulativos. Por esse
motivo, é caracterizada por qualquer conduta que resulte em dano emocional, que por sua vez
tem repercussão em vários pontos da vida da vítima, como no trabalho, nas relações sociais e
na saúde física ou psicológica (FONSECA, RIBEIRO, 2012).
Pelo Artigo 147-B da lei nº 14.188, de 28 de julho de 2021 considera-se também
formas de violência:
“causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno
desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer
outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação
(BRASIL, 2021).
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companheiro. Sem saber como agir, ou então quando agem, não conseguem esclarecer suas
reais demandas frente à justiça. Dessa maneira, quando conseguem fazer a denúncia dos seus
conjugues, acabam desistindo de prosseguir com a responsabilização judicial do agressor,
dando continuidade ao relacionamento que passa a se tornar cada vez mais abusivo (PORTO,
MALUSCHKE, 2012).
Assim, compreende-se que essas vítimas recorrem a estratégias para conseguirem
adaptar-se nessas vivências. Isso ocorre devido à sujeição das mulheres, seja por questões
financeiras, emprego ou forma de manter-se financeiramente sozinha – principalmente para os
casos de mulheres sem formação acadêmica, ou por questões emocionais. Torna-se normal
encontrar mulheres com permanência de longo prazo em relacionamentos abusivos nos quais
são dominadas pelos parceiros em situações de negação e de submissão, podendo resultar em
uma autoestima fragilizada onde medo de ficar sozinha pode ser um fator determinante ao
aprisionamento da mulher nesse contexto (ZANCAN, WASSERMANN, LIMA, 2013).
Nesse sentido, a vítima encontra diversas dificuldades para compreender o que de fato
está acontecendo em seu relacionamento, de forma que mesmo que se corte o vínculo, podem
permanecer questões inacabadas como reflexo dos vários episódios violentos. O resultado
disso podem ser vínculos afetivos que permanecem permeados por mágoas, ressentimentos ou
dependência psicológica, onde nem sempre a vítima vai conseguir identificar que passou por
diversas situações de violência (SILVA, COELHO, CAPONI, 2007).
É comum encontrar mulheres que apresentam diferentes sintomas psicológicos como
insônia, irritabilidade, falta de apetite, bem como o surgimento de psicopatologias como
depressão, ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, entre outras. Esse
processo contínuo de permanência da vítima no relacionamento abusivo pode a levar para
uma depreciação de si mesma, onde os sentimentos, percepções e características de sua
personalidade são diariamente depreciadas (PEREIRA, CAMARGO, AOYAMA, 2018).
Por fim, nota-se que as formas de violência física e psicológica estão diretamente
associadas uma à outra. Todavia, como ressaltam Gadoni-Costa, Zucatti e Dell’Aglio (2011),
o fato de a violência psicológica ser menos enfatizada deve-se à prioridade que é dada às
consequências físicas, porém sabe-se que ambas são igualmente graves. A violência
psicológica afeta, além da vítima, a todos que convivem com ela de forma direta, como os
filhos ou outros familiares (GADONI-COSTA, ZUCATTI, DELL'AGLIO, 2011).
Assim a presente pesquisa justifica-se pela necessidade fundamental de compreender a
violência perpetrada dentro desses relacionamentos que é de caráter cultural, social, legal e
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MÉTODO
DELINEAMENTO
PARTICIPANTES
O estudo foi aplicado com 07 mulheres com faixa etária de 18 a 59 anos, do município
de Videira/SC. Além disso, buscou-se participantes que estão passando ou já passaram por
relacionamentos abusivos com seus companheiros de sexo masculino. Não foram
consideradas para participar da entrevista mulheres menores de 18 anos, do sexo masculino
ou que residam fora do município de Videira/SC, bem como mulheres que possuíam alguma
condição a qual impossibilitava o entendimento e aplicação da entrevista.
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COLETA DE DADOS
PROCEDIMENTOS
apenas para fins científicos. Além disso, também foi informado que a entrevista se daria
dentro dos parâmetros éticos do Conselho Nacional de Saúde, por meio da Resolução n.
510/2016 sobre pesquisas que envolvem participantes humanos nas Ciências Humanas e
Sociais.
ANÁLISE DE DADOS
CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
RESULTADOS
Com base nas entrevistas, realizou-se uma análise categorial, obtendo-se o total de 06
categorias, a saber: Conceito de relacionamento afetivo, Conceito de relacionamento abusivo,
Percepção sobre o relacionamento vivido, Vivência de situações identificadas como violência,
Processo de afastamento e Impactos psicológicos do relacionamento.
A tabela 1 indica as categorias estabelecidas, com suas respectivas unidades de
registro e frequência.
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Tabela 1
Chantagem 2
Traição 1
Humilhação 1
Identificava-se como 1
homossexual
Medo de julgamento 1
Violência psicológica 1
Manter em cárcere privado 1
Invadir o celular 1
Críticas ao corpo 1
Processo de afastamento Difícil 7
Medo 4
Achava que iria mudar 4
Realizou ameaças 4
Sente pelo filho 4
Dependência emocional 4
Era invasivo após o término 4
Desrespeitoso com a família 3
Ameaças 3
Necessitou da interferência da 2
família
Sentimento de culpa 2
Insegurança financeira 2
Sente-se melhor 1
Conflitos para assumir-se 1
homossexual
Usou a traição como justificativa 1
para separação
Falta de apoio 1
Somente após agressão física 1
Impactos psicológicos do Dificuldades para novas relações 5
relacionamento
Medo do que ele ainda poderia 4
fazer
Insegurança ao ficar sozinha 3
Se anular 3
Desânimo 2
Constante vontade de chorar 2
Viver uma situação precária 2
Sentia dores no corpo 2
constantemente
Ganho de peso 1
Saber quando um 1
relacionamento não é saudável
Sentimento de culpa 1
Sintomas de depressão e 1
ansiedade
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hora sobre pressão, ter medo de usar a roupa errada, é a roupa que tu veste, o que você fala,
sabe? É muito horrível. Ele era muito ciumento, a qualquer pessoa ou qualquer coisa” (P. 7).
Unidades de registro como “violência psicológica”, “violência física”, “não ter paz”,
“controlar” e “perseguir” surgem significativamente também como frequência intermediária,
descrevendo comportamentos agressivos dos companheiros em diferentes situações: “(...) no
meu caso eu acho que o pior de tudo foi a agressão psicológica (...)” (P. 1). As participantes
também identificam o relacionamento como abusivo por conceito agressões físicas: “Pra mim
é quando existe agressão física e verbal e qualquer tipo de tortura (...) (P. 2).
Com baixa frequência, para essa conceitualização, encontram-se também unidades de
registros respectivamente mencionando “anular a outra pessoa”, “impor apenas suas
vontades”, e “humilhar” a respeito de percepções de comportamentos manifestados pelos
companheiros: “no meu ponto de vista eu acho que é anular uma pessoa, impor apenas as
suas vontades, humilhar, controlar falas, controlar a vida do outro” (P. 3). A “traição”, “falta
de respeito”, e “violência verbal”, também são unidades de registro de baixa frequência frente
a percepção das participantes quanto a comportamentos relacionados aos limites ultrapassados
dentro de um relacionamento: “na minha opinião é quando os limites um do outro são
ultrapassados, não são respeitados. Limites como o respeito, tratar com falta de educação,
gritar, trair” (P. 4).
de relatar onde estavam e o que faziam a todo o momento: (...) nunca respeitou meu espaço
(...) (P. 2).
Ainda, nessa categoria, se fazem presentes as unidades de registro “se anular”, “viver
uma situação precária” e “tentar algo que não daria certo”, em discursos a respeito do fato de
a vítima priorizar as a relação com parceiro, em uma percepção sobre ter tentado algo no
passado que sempre soube que não daria certo, assim interferindo diretamente na saúde
psicológica: “eu penso que a maior covardia que uma pessoa pode fazer com a outra, a gente
perde tanto, deixa de conquistar muitas coisas, se anula. Não tem mais vida própria, eu me
sentia controlada, minhas vontades e desejos sempre deixados de lado, pra não brigar, nunca
podia ter uma opinião contrária à dele” (P.3).
A “insegurança ao ficar sozinha”, “desânimo”, “constante vontade de chorar”, “sentia
dores no corpo” são unidades registradas de média frequência em relatos ligados a
dependência do ex-companheiro e sintomas ocasionados pelo relacionamento, inferindo que o
físico e psicológico estão interligados: “(...) ainda tenho muita dificuldade de fazer qualquer
coisa sozinha, sempre preciso de alguém, desde a dirigir, fazer compras no supermercado,
tomar qualquer decisão. Me sinto insegura e incapaz de fazer isso sozinha, parece que vou
fazer errado (...)” (P.3); “(...) me sentia um pouco insegura de ficar sozinha em casa ou ir em
algum lugar que ele estava (...)” (P. 2).
Ainda levantam-se unidades de registro como “ganho de peso”, “sentimento de culpa”
e “sintomas de depressão e ansiedade”, como unidade de baixa frequência, mas que possuem
grande significância subjetiva no relato de cada vítima: “(...) quanto a minha saúde física eu
passei a sentir muitas dores no corpo e ganhei muito peso também(...)” (P.3); “(...) fiquei
com um certo sentimento de culpa depois de terminar, pois só depois descobri pelos pais dele
que ele tinha depressão e ansiedade e que já havia feito o que fez comigo com outras
namoradas (...)” (P. 2); “(...) afetou muito o meu sistema nervos e hoje eu percebo que tenho
muitos sintomas de depressão e ansiedade (...)” (P.6).
3 DISCUSSÃO
esteve mais sobrecarregada quando a realização das tarefas domésticas, sendo que segundo
Vieira, Garcia e Maciel (2020) a presença dos homens em casa não significa cooperação ou
distribuição mais harmônica das tarefas entre toda a família, mas sim o aumento do trabalho
invisível e não remunerado das mulheres, acarretando também na sobrecarga física e psíquica
que essas mulheres carregam.
A terceira categoria abarcou conceitos frente à “percepção do relacionamento vivido”.
Assim, observou-se como principais mais citados a “violência verbal” e “tortura” diante de
relatos como “ele me tratava muito mal também, com xingamentos. Eu considero que teve
coisas que ele disse que foi pior que levar um tapa na cara” (P.1). Tal comportamento é
considerado como parte do ciclo de violência, o qual é alimentado pela tolerância e autoculpa
e pela má compreensão da mesma. Assim, a maioria das vítimas permanece coagida a um
relacionamento baseado, muitas vezes, na dependência financeira e emocional, levando a
eventos cíclicos de violência (FONSECA, RIBEIRO, LEAL, 2012).
Quanto a violência verbal, esse também foi um conceito significativamente citado
pelas participantes, usado para descrever os xingamentos, brigas, humilhações e ameaças
realizados pelo agressor: “os xingamentos, chamava de vadia, vagabunda, na frente dos
filhos e de outras pessoas da família (...) (P. 1). Esse tipo de violência é entendido como uma
agressão que faz parte da violência psicológica, onde procura-se resolver as diferenças com
comportamentos que envolvem insultos, gritos, dar as costas e ir embora no meio de uma
discussão, como também ameaçam acertar ou jogar algo no companheiro (DILL et all, 2013).
Ainda para Dill et all (2013) existem algumas interações conflitivas causam apenas
certo incômodo e irritação; outras, entretanto, podem ser de complexidade e de intensidade
opressivas. Assim, entende-se que essa forma de violência também pode ser usada como
forma de oprimir e manipular outra pessoa através de ameaças, a fim de que essa venha a se
comportar como deseja o agressor.
A segurança do homem de sentir-se no poder de agir e falar da forma como deseja, de
comportar-se de forma agressiva com sua companheira advém também do sentimento de
poder que é pré-estabelecido culturalmente pelo patriarcado, onde esse poder sobre a mulher e
a naturalização da violência cotidiana, tem suas as raízes de uma sociedade patriarcal,
androcêntrica e misógina (VIEIRA, GARCIA, MACIEL, 2020). Percebe-se assim que muitas
mulheres não tem a oportunidade de desfrutar de um lar como um ambiente seguro, como um
lugar de descanso e proteção, onde o conceito de “tortura” é compreendido como a
convivência junto de seus parceiros.
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perder o direito de conviver com os filhos, o que leva a busca por pessoas próximas e que nem
sempre conseguem direcioná-las (SOUZA et al 2020).
O processo de afastamento do agressor também engloba outros fatores em que,
segundo Pereira, Camargo e Aoyama (2018) a socialização feminina tradicional coloca que,
para a mulher ser considerada completa, deve ter um companheiro permanente. Em conceito
sociocultural esse é um fator de peso na decisão do término desses relacionamentos abusivos,
onde a mulher torna a insistir num ciclo de violências. Se esta consegue enfrentar a separação,
a partir disso o agressor inicia um jogo emocional demonstrando que há uma suposta
mudança de comportamento, o que faz com que a mulher se sinta mais confiante e acaba
retornando ao ciclo da violência (PEREIRA; CAMARGO; AOYAMA, 2018).
Ainda a categoria referente aos impactos psicológicos do relacionamento na vida das
participantes levantou significantes pontos, onde a dificuldade para novas relações foi o
conceito mais pontuado por estas. Entende-se que quando um relacionamento se rompe, o
trabalho necessário para recuperar o equilíbrio emocional e existencial requer um gasto
excessivo de energia psíquica e, esse dispêndio impede a reflexão dessas mulheres em seu
contexto de inserção, por estarem habituadas a essa forma de se relacionar com alguém, se
sentem culpadas quando buscam sair de tal contexto (SOUZA et al, 2020).
Quando se trás o conceito de saúde de forma integrada, de acordo com Oliveira
(2021), isso se relaciona também a aspectos sociais, culturais e históricos, que garantem a
manutenção da vida, e não apenas a prevenção à enfermidade. Nesse ponto, se tem a
necessidade de refletir a respeito da integridade da mulher como um todo, através de um
ponto de vista político que leve em conta corpos que foram historicamente estigmatizados
como impotentes, inúteis e dispensáveis ao sistema social (OLIVEIRA, 2021).
Tais relacionamentos abusivos tem como consequência mulheres que tiveram sua
integridade violada por alguém em quem confiavam e deveria zelar por sua proteção. A
“insegurança em ficar sozinha”, “desânimo”, “dores no corpo”, e “constante vontade de
chorar”, são conceitos que refletem um cenário que vai contra ao cuidado e zelo pela
integridade da mulher. Esse cenário vem a ocasionar em traumatismos, incapacidades, até
mesmo em óbitos, acarretando em problemas de saúde como mudanças fisiológicas
provocadas pelo o estresse, uso de substâncias, falta de controle da fertilidade e autonomia
pessoal (SOUSA, SANTOS, ANTONIETTI, 2021).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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intenção de que se uma mulher possui o conhecimento do que está acontecendo com ela
mesma dentro de um relacionamento, essa também terá mais instrumentos de apoio para que
consiga sair de tal situação.
No âmbito da psicologia, tal pesquisa forneceu mais conhecimento e informações
frente às relações amorosas heterossexuais, como se tornam abusivas e como entender o papel
da mulher dentro desse contexto. Ainda proporcionou maior entendimento do comportamento
violento por parte do agressor e, sobretudo, o comportamento da vítima que permanece em
uma situação considerada aversiva para ela.
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