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VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: CRIME DE FEMINICÍDIO

Aluno1
Resumo

A pesquisa trata-se de uma revisão bibliográfica sobre a temática da violência e crime de


feminicídio doméstica. A violência contra a mulher tem marcado a sociedade desde o
princípio da história. Porém, é interessante observar que boa parte da opressão sofrida
pelas mulheres acontece dentro de casa. O artigo tem como objetivo analisar as medidas de
combate à violência doméstica, apresentadas pela Lei Maria da Penha. A metodologia
proposta é a descritiva de natureza qualitativa com aplicação do método de revisão literária
através de pesquisa bibliográfica pertinente ao assunto. A violência contra as mulheres
causa enorme sofrimento, deixa marcas nas famílias, afetando várias gerações, e
empobrece as comunidades, impede que as mulheres realizem as suas potencialidades,
limita o crescimento econômico e compromete o desenvolvimento. Nesse contexto, a lei
11.340/06 veio introduzir no ordenamento jurídico brasileiro um sistema de prevenção,
proteção e assistência às mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, com o objetivo
de efetivamente garantir os direitos fundamentais previstos na CF.

Palavras-chave: Lei Maria da Penha. Medidas de proteção. Violência doméstica e familiar


contra a mulher.

Abstract

The research is a bibliographic review on the theme of violence and the crime of domestic
femicide. Violence against women has marked society since the beginning of history.
However, it is interesting to note that much of the oppression suffered by women takes place
at home. The article aims to analyze the measures to combat domestic violence, presented
by the Maria da Penha Law. The proposed methodology is descriptive of a qualitative nature
with application of the literary review method through bibliographic research relevant to the
subject. Violence against women causes enormous suffering, leaves a mark on families,
affecting several generations, and impoverishes communities, prevents women from
realizing their potential, limits economic growth and compromises development. In this
context, Law 11,340/06 introduced in the Brazilian legal system a system of prevention,
protection and assistance to women victims of domestic and family violence, with the
objective of effectively guaranteeing the fundamental rights provided for in the CF.

Keywords: Maria da Penha Law. Protection measures. Domestic and family violence
against women.

1 INTRODUÇÃO

1
Colocar sua Graduação e e-mal
2

Diante da realidade atual, é possível perceber que a violência doméstica


praticada contra mulher se tornou algo notório diante a sociedade.
A cena da violência doméstica contra a mulher sempre foi algo habitual em
todos os cantos do mundo, onde ficou durante muito tempo encoberta ao
decorrer da história, sempre sendo ridicularizada e considerada algo sem
importância. (MELO & TELES 2003).
A violência contra a mulher tem marcado a sociedade desde o princípio da
história. Porém, é importante observar que grande parte da opressão sofrida pelas
mulheres acontece dentro de sua própria casa.
A pratica da mesma coloca as vítimas em uma situação de extrema
vulnerabilidade, fazendo com que muitas mulheres passem a viverem com medo de
ser agredida, e muitas vezes realmente ser, dentro do local em que deveria estar
mais segura, em suma, o seu próprio lar. (DALBOSCO,2019).
A violência, nesses casos, é cometida por aqueles com quem a mulher
possui vínculos de afeto e convivência, o que piora ainda mais a sua situação,
deixando-a absolutamente indefesa.
Evidentemente os números do Brasil a respeito de tal violência continuam
crescendo cada vez mais.
No entanto, devido à expansão de casos, no ano de 2006, depois de
percorrido um longo caminho de lutas e reivindicações, o país alinhou-se aos
posicionamentos internacionais de direitos humanos e sancionou a Lei 11.340/06,
popularmente mais conhecida como: "Lei Maria da Penha”, considerada, pela
Organização das Nações Unidas, uma legislação pioneira na defesa das mulheres
vítimas de agressão no âmbito doméstico e familiar. (DALBOSCO,2019).
A pesquisa justifica-se pelo fato de ter ocorrido com frequência diversos
casos de violência contra a mulher no mundo inteiro, especialmente no Brasil.
Violência praticada principalmente dentro do contexto familiar, sobretudo,
nas relações conjugais, dando abertura para a criação de vários movimentos em
campanhas e denúncias públicas de segurança e justiça a favor da mulher, fazendo
com que a partir daí surgir mais punições, incluindo a Lei Maria da Penha, e maior
rigor na aplicação dessa legislação.
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Seguindo essa temática, o artigo fio dividido em 5 partes, sendo no primeiro


abordado a questão a respeito das considerações acerca do conceito de violência
doméstica.
Em segundo, foi abordado a temática sobre a LEI 11.340/06: contexto de
criação. Em um terceiro tópico foi abordado a questão sobre a mulher no contexto
da violência. Em seguida será abordado sobre as medidas protetivas que obrigam o
agressor e por fim, sobre a aplicabilidade prática das medidas de proteção.
O objetivo desse trabalho é analisar as medidas de combate à violência
doméstica, apresentadas pela Lei Maria da Penha.
A metodologia utilizada constitui em uma pesquisa teórica através da análise
de conceitos e debates de diversos descritores a respeito do sobre o combate a
violência doméstica, aplicação da lei maria da penha, com a finalidade de
compreender os elementos essenciais para o desenvolvimento da temática em
questão.
Para compreensão sobre o assunto, foi realizado uma pesquisa de caráter
bibliográfica contida em livros, artigos, revistas e teses, disponibilizados em meio
eletrônico, com a finalidade de recolher informações e conhecimentos prévios sobre
o assunto.Os sites de busca utilizados foram: Google Acadêmico, Scielo, Caps,
Pepsic e Doi.
Posteriormente deu-se a busca do referencial teórico que melhor se
adequassem aos critérios do tema, dentre os achados, o trabalho conta com
referências distribuídas entre livros e artigos para a elaboração do trabalho.
Após a seleção do material bibliográfico, conforme os critérios de inclusão,
foram seguidos os seguintes passos: leitura exploratória, leitura seletiva e
finalizando com a realização de leitura interpretativa e redação. As palavras-chave
usadas foram: Lei Maria da Penha. Medidas de proteção. Violência doméstica e
familiar contra a mulher.
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2. CONSIDERAÇÕES ACERCA DO CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

De acordo com a Lei Maria da Penha, violência doméstica e familiar contra a


mulher é qualquer ato baseado no gênero, que cause morte ou dano como:
sofrimento físico, sexual ou psicológico. (BRASIL, 2006).
É importante destacar que que esse tipo de violência pode se dar dentro e
fora de casa, por qualquer integrante da família que esteja em relação de poder com
a vítima. (NUCCI, 2019).
Dessa forma, pode se perceber que tal concepção se aproxima mais da
relação de poder existente entre agressor e vítima, do que propriamente do espaço
físico em que eles residem. (SOUZA, 2007).
Nesse sentido quando a lei se refere em violência doméstica, ela insere na
sua esfera de proteção não apenas a mulher, e sim a própria entidade familiar.
(DIAS, 2019).
Sendo assim, é possível dizer que a lei, ao conceituar violência doméstica,
busca proteger em seu contexto de incidência não apenas as mulheres em situação
de risco, mas também qualquer membro da família que se encontrar em uma
situação de agressão. (SOUZA, 2007).
Ou seja, mesmo que o foco principal da Lei 11.340/06 seja coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, seu campo de abrangência não se limita
apenas a esse aspecto, mas também a proteger qualquer situação de dominação
gerada por posições hierárquicas de poder e opressão ligadas a vínculos familiares
e afetivos. (DIAS, 2019).
Dessa maneira, mesmo que a lei defina como sendo âmbito de incidência da
violência a unidade doméstica, basta para sua aplicação que o nexo entre a
agressão e a situação que a gerou seja a relação íntima de afeto, englobando assim,
da mesma forma, quadros de agressão no âmbito do namoro. (DIAS, 2019).
Dessa forma, pode-se dizer que quando se classifica quem são os atores no
âmbito de incidência da Lei Maria da Penha, o entendimento é que o sujeito ativo
abrange qualquer pessoa que tenha relação íntima ou de afeto com a vítima. (DIAS,
2019).
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Ou seja, sujeito não precisa necessariamente ser alguém do sexo masculino,


a lei pode incidir até mesmo em agressões ocorridas entre companheiras de quarto,
por exemplo. (DIAS, 2019).
Ainda nesse contexto, tem-se a violência psicológica, entendida como
qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que
lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento como: controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, sobre ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição, chantagem, violação de
sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir.(SOUZA,
2007).
Nessa mesma perspectiva, tem-se a violência sexual, entendida como
qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação
sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força. (DIAS,
2019).
Para finalizar, a violência patrimonial, definida como qualquer ato de retenção,
destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos
pessoais, bens, valores e direitos. (DIAS, 2019).
A partir dessas definições, é possível perceber que a violência contra
as mulheres causa enorme sofrimento, deixa marcas nas famílias, afetando várias
gerações, e empobrece as comunidades. (SOUZA, 2007).

2.2 LEI 11.340/06: CONTEXTO DE CRIAÇÃO

A Lei Maria da Penha, recebeu esse nome em homenagem a Maria da Penha


Maia Fernandes, cearense, a qual foi casada com Marco Antônio Herredia Viveiros,
professor universitário, que agrediu durante 6 anos. (JASCINTO, 2010).  
Maria da Penha foi uma entre as diversas vítimas de violência doméstica
espalhadas pelo mundo inteiro. Porém, a sua luta e coragem em expor o que a
maioria tenta esconder, por vergonha ou negação da realidade, significou uma
mudança de paradigma que tirou a sociedade de uma situação de conivência e a
colocou em posição de enfrentamento. (JASCINTO, 2010).  
6

Em 1983, Maria da Penha sofreu duas tentativas de homicídio por parte do


marido, e ficou paraplégica, pois naquela época não existia uma lei específica sobre
violência doméstica. (PARODI, 2009).
Nesse sentido, o processo só observava a questão criminal, ou seja, a
violência em si, sendo necessária a abertura de outra ação na Justiça comum para
tratar as questões cíveis como por exemplo: o divórcio, a guarda, os alimentos,
dentre outros.). (PARODI, 2009).
Somente após 20 anos o julgamento foi concluído, no entanto, o agressor
foi condenado, mas ficou poucos meses encarcerado. (JASCINTO, 2010).  
Dessa forma, após ter passado parte da vida sendo agredida, Maria da
Penha escreveu o livro “Sobrevivi... posso contar”, e juntamente com defensores
dos direitos humanos, a denúncia feita por esta, no ano de 1998 conseguiu chegar
até a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, sendo que esta alegava que o
Brasil era tolerante diante a situação vivida  por muitas mulheres, não punindo de
forma efetiva o agressor. (JASCINTO, 2010).
Desse modo, a referida Comissão após analisar os fatos, advertiu o Brasil
para que adotassem medidas legais efetivas para punição do agressor. (JASCINTO,
2010).
Diante da repercussão do caso a nível internacional, foi sancionada a lei
11.340 de 07 de agosto de 2006, que ficou popularmente conhecida como Lei Maria
da Penha. (TALES & MELO, 2017).
A Lei 11.340/2006 foi sancionada em um contexto social conturbado, em que
a exploração da figura da mulher dá-se de diversas formas, por vezes velada.
(TALES & MELO, 2017).
Em suma, esta lei teve como principal objetivo a criação de mecanismos que
visassem coibir a violência sofrida às mulheres, buscando a proteção de
sua integridade física, psíquica, moral e patrimonial.  (TALES & MELO, 2017).

2.3 A MULHER NO CONTEXTO DA VIOLÊNCIA

A violência doméstica e familiar contra a mulher é um sério problema, no


Brasil, pois, certas mulheres consideram que estão expostas à violência e que,
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muitas das vezes, são responsabilizadas pelas agressões que sofrem. (ARAÚJO,
2013).
De forma exemplificativa, quando uma mulher é violentada, sempre aparecem
questionamentos como por exemplo: que roupa você vestia? Que horas eram?”.
(ARAÚJO, 2013).
De certa maneira, esses questionamentos, por incrível que pareça, só
aparecem quando as mulheres denunciam. Pois, o medo, a vergonha, a sensação
de submissão, a dependência econômica, a falta de apoio aliado a uma crença de
que é natural se submeterem e aceitarem uma situação constrangedora fazendo
com que as mesmas sofram em silêncio. (BANDEIRA, 2013).
Desta forma, conclui-se que o homem agride porque é uma forma de impor
uma suposta autoridade sobre a mulher, configurando-se na sua atitude machista e
com desvio de caráter. (BRASIL,2019).
Atualmente, a violência de gênero constitui um grave problema social que
aumenta a cada dia. (TALES & MELO, 2017).

Este tipo de violência tornou-se um problema social, isso na medida em que


aflige de uma maneira geral toda a coletividade. Com isso, é grande a preocupação
em prevenção e erradicação deste tipo de violência, que tem se tornado uma
questão central das políticas sociais e de saúde. (TALES & MELO, 2017).

2.3 FEMINICÍDIO

É importante tomar conhecimento do que vem a ser o feminicídio. Este se


trata do homicídio em desfavor da mulher em razão de ser do sexo feminino, no
cenário de violência doméstica e familiar, e quando há situação de menosprezo e
discriminação à condição de ser mulher. (NUCCI,2018).
Este crime pode ser praticado por qualquer pessoa, O sujeito ativo do
feminicídio normalmente é um homem, mas também pode ser mulher. O sujeito
passivo obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino (criança, adulta,
idosa, desde que do sexo feminino). (NUCCI,2018).
8

2.4 FEMINICÍDIO X FEMICÍDIO

Para que não haja confusão é importante diferenciar o Feminicídio do


Femicído. Ambos possuem semelhança em sua terminologia, porém são fenômenos
distintos. O Femicídio significa praticar homicídio contra mulher e isso pode ser
devido à diversos fatores. (GREGO, 2017).
Porém, o Feminicídio significa praticar homicídio contra mulher por razões da
condição de sexo feminino (por razões de gênero), ou seja, para que haja o
feminicídio é necessária essa característica. Não basta a vítima ser mulher.
(GREGO, 2017).
É importante frisar que o feminicídio não define o assassinato de todas as
mulheres que morrem: uma mulher que foi morta após um roubo, por exemplo,
sofreu o crime de latrocínio e é visto como femicídio; já uma mulher 5 que sofria
ameaças de um ex-companheiro e depois foi morta por ele, é uma vítima de
feminicídio, pois o caso envolveu discriminação à condição de mulher.
(MUCCI,2018).

2.5 DA TIPIFICAÇÃO DO CRIME

No que se refere à vítima do feminicídio, é notório a desigualdade de gênero


implantada pela sociedade. O crime está inserido em todas as classes sociais. É
preciso analisar as circunstâncias nas quais se produzem os crimes. Grande parte
dos homicídios de mulheres ainda decorre de relações íntimas com homens com
quem mantiveram alguma relação afetiva e/ou sexual - relações que muitas vezes a
vítima tentava romper ou com vivência extremamente violenta. (DNF, 2016).
Esse é o prisma do feminicídio: matar a mulher por razões advindas da
condição de sexo feminino. Matar o mais fraco, algo francamente objetivo.
Fisicamente falando, a mulher é mais frágil que o homem. O homem por ser mais
alto em estatura e condições físicas mais fortes acabam sendo vistos como um ser
superior. Muitos deles, através de uma má educação e falta de conscientização ao
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invés de proteger as mulheres acabam sendo o pivô do medo e da angustia delas.


(DNF, 2016). (DNF, 2016).
O Feminicídio é classificado em três grupos: o feminicídio não íntimo, o
feminicídio íntimo, e o feminicídio por conexão, que serão explanados a seguir.
O feminicídio íntimo ocorre quando a vítima tem ou teve uma relação afetiva
com o autor do crime, podendo ser uma relação atual ou do passado (ex namorado
ou ex cônjuge), nesta hipótese pode abarcar companheiros, namorados e noivos,
não estando limitando à união matrimonial. (TELES,2017).
O feminicídio não íntimo ocorre quando a vítima não possuía qualquer relação
com o agressor, havendo a agressão sexual ou não. Normalmente, acontece por
homens com os quais a vítima possuía alguma relação de confiança, exemplo os
colegas de trabalho, amigos, ou até mesmo um desconhecido. Nessa categoria
costuma-se incluir também os feminicídios cometidos contra as mulheres atuantes
em profissões marginalizadas, como é o caso das prostitutas. E por último, existe o
feminicídio por conexão, que se refere às mulheres assassinadas por estarem na
“mira” de um homem que pretendia matar outra mulher, ou seja, mulheres que
tentam evitar a consumação de um assassinato e acabam morrendo. (TELES,2017).

5.6 DAS ALTERAÇÕES DO FEMINICÍDIO PELA LEI 13.771/2018 2.3 – DAS


ALTERAÇÕES DO FEMINICÍDIO PELA LEI 13.771/2018

Em 20 de dezembro de 2018 foi sancionada a Lei 13.771, que prevê o


aumento de 1/3 à metade da pena do feminicídio, se o crime for praticado em
descumprimento de medida protetiva de urgência prevista na Lei Maria da Penha
(Lei 11.340/06), entre outras situações. A medida tem como justificativa o número
crescente de casos envolvendo o crime. Em 20 de dezembro de 2018 foi sancionada
a Lei 13.771, que prevê o aumento de 1/3 à metade da pena do feminicídio, se o
crime for praticado em descumprimento de medida protetiva de urgência prevista na
Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), entre outras situações. A medida tem como
justificativa o número crescente de casos envolvendo o crime.
Com nova redação dada pela lei nº. 13.771/2018, o inciso II teve um
acréscimo, à pessoa “portadora de doenças degenerativas que acarretem condição
limitante ou de vulnerabilidade física ou mental”. Antes desse acréscimo a doutrina
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discutia se as doenças degenerativas integravam o conceito de deficiência, onde


nos termos dos artigos 3º e 4º do Decreto nº 3.298/1999, que regulamentou a Lei nº
7.853, de 24 de outubro de 1989, a deficiência pode ser física, auditiva, visual ou
mental.

Com o objetivo de afastar discussão em tal sentido, o legislador acrescentou


ao inciso II as doenças generativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental da mulher.
No inciso III, especificamente, houve um acréscimo na redação, à
especificação do fato se dar na presença “física ou virtual”. Antes da alteração, a
doutrina discutia se limitava apenas à presença física ou se abrangia a presença
física e virtual da vítima.
Entendemos que os crimes de feminicídio majorado pelo descumprimento da
medida protetiva e o crime do art. 24-A da lei nº. 11.340/2006 são independentes e
autônomos entre si. Afinal, no momento em que o feminicídio (crime de dano) é
praticado com a violação da vida da vítima determinada, o delito do art. 24-A da lei
nº. 11.340/2006 (crime de perigo) [vii] já se encontrava consumado, com o mero
descumprimento da medida protetiva de urgência, porquanto já estava ofendendo a
própria administração da justiça.

2.7 DAS MEDIDAS PROTETIVAS QUE OBRIGAM O AGRESSOR

A primeira medida prevista no artigo 22 da Lei 11.340/06 é a de suspensão da


posse ou porte regular de arma de fogo. Circunstância que em contexto de violência
doméstica ou familiar traz mais riscos à integridade física da mulher, dada a
facilidade de acesso a uma arma de fogo. (BRASIL,2019).
Em seguida, tem-se o afastamento do lar ou separação de corpos. Sua
diferença, entretanto, é que, antes da lei em comento, a medida era acompanhada
de audiência de conciliação. (BRASIL,2019).
Por se tratar de uma decisão que envolve diferentes aspectos como
dependentes menores e direitos patrimoniais sobre o imóvel, para que o juiz adote o
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afastamento do agressor do lar, poderá agendar uma audiência de designação de


audiência de justificação. (FERNANDES, 2015).
A segunda conduta proibida no dispositivo é a de contato com a ofendida,
seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação, abrangendo a
comunicação por palavras, gestos, escrita e por meio da internet em e-mails,
mensagens e redes de relacionamento. (FERNANDES, 2015).
O objetivo dessa é impossibilitar a perseguição à vítima, seus familiares e
testemunhas por parte do agressor, pessoas que participam da contenda penal, bem
como aos que possuem relação com a ofendida. (BELLOQUE, 2011).
Nesse contexto, tem-se, ainda, a proibição de o agressor frequentar
determinados lugares. (BELLOQUE, 2011).
Para a adoção dessa medida, o juiz deve pormenorizar os locais em que o
acusado esteja proibido a locomoção do agressor, impedindo-o até mesmo de se
movimentar livremente, caracterizando constrangimento ilegal de sua liberdade de
locomoção. (LIMA, 2016).
Por fim, tem-se a prestação de alimentos provisórios pelo agressor à mulher e
aos dependentes menores. (BELLOQUE, 2011).

2.8 APLICABILIDADE PRÁTICA DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO

As Medidas Protetivas de Urgência são a maior inovação da Lei Maria da


Penha, possibilitando, em tese, uma maior proteção à mulher vítima de violência
doméstica ou familiar. (BIANCHINI, 2018).
Embora sejam um grande avanço na luta contra a prática de atos violentos
contra a mulher no âmbito doméstico e familiar, o Estado não possui estrutura
suficiente para garantir a segurança pessoal de cada ofendida, sendo possível
verificar casos de violência de gênero cada vez mais abusivos e desumanos.
(BIANCHINI, 2018).
Nesse sentido, percebe-se que a Lei n.º 11.340/06 por si só não soluciona o
problema da violência de gênero, devendo o poder público, em conjunto com a
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sociedade e buscar formas de garantir a eficiência das normas legais


proporcionando uma melhor eficácia das medidas protetivas de urgência.
A Lei Maria da Penha (LMP) visa coibir a violência de gênero praticada no
âmbito doméstico, familiar ou em uma relação íntima de afeto, independentemente
se tal violência for física, psíquica, sexual, patrimonial ou moral. Para isso, o
legislador se apoiou em métodos penais e extrapenais. (BIANCHINI, 2018).
Para tanto, deve se desenvolver políticas de prevenção, bem como investigar
diligentemente qualquer violação, assegurando recursos para efetivar a finalidade
desta lei.
(SILVA,2018).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa buscou discutir a temática sobre a violência doméstica e familiar


praticada contra as mulheres, demonstrando seus diferentes tipos e formas, levando
em consideração que se trata de uma questão complexa, ligado a questões
históricas, culturais, sociais e políticas.
A partir da conceituação da violência doméstica e familiar contra a mulher,
assim como quais circunstâncias influem para a sua perpetuação na sociedade
atual, procurou-se examinar as medidas protetivas de urgência no sentido de se
tenham êxito em proteger a mulher de uma atual ou nova violência.
A Lei Maria da Penha foi uma inovação jurídica no que desrespeito à luta
contra a violência de gênero, trazendo inúmeras novidades que beneficiariam a
vítima e tornando mais fácil a prevenção e repressão a esses crimes.
Entretanto, por diversos motivos, entre eles sociais, políticos e históricos, a
Lei nº 11.340/06 não tem atingido sua finalidade. No entanto, é inegável a
importância desse assunto, vez que, além de um problema da esfera jurídica,
constitui-se uma problemática político-social que aumenta a cada dia.
Conforme se vê ao longo dos capítulos do presente trabalho, a violência
física, psicológica, moral, sexual ou patrimonial contra a mulher praticada no âmbito
das relações íntimas de afeto, da unidade doméstica ou das relações familiares.
Todavia, a aplicação de Medidas de Proteção à mulher, assim como das Medidas
Protetivas que obrigam o agressor, não é eficazmente combatida pelo Estado, vez
que este não consegue executar as medidas assistenciais, ou fiscalizar o
cumprimento das medidas impostas ao agressor.
Portanto, espera-se que os apontamentos feitos no decorrer deste trabalho
leve ao questionamento do que é necessário mudar na atuação estatal, desde o
poder legislativo ao poder executivo, assim como nas ações da sociedade como um
todo, a fim de que se possa finalmente tratar a violência doméstica e familiar contra
a mulher como um assunto complexo e que merece ser combatido dentro e fora da
vivência familiar.
A lei Maria da Penha, trouxe mudanças significativas. A violência doméstica
passou a ser considerada violação aos direitos humanos, o que reflete o
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reconhecimento da gravidade da questão e a preocupação com a adoção e


aplicação de medidas efetivas.
Em suma, o feminicídio é um esquema de dominação-exploração, sustentado
por uma sociedade patriarcal, racista e capitalista que atinge a mulheres e homens
de modo contraditório. Nesse contexto, as relações sociais estão marcadas por
profundas desigualdades, que extrapolam a condição de gênero, mesclando-se com
a condição de classe social, de raça ou etnia e se estendem às identidades sexuais,
ao pertencimento geracional e às questões religiosas. O homicídio de mulheres
marcados pela violência de gênero é motivo de denúncia pelos movimentos
feministas há anos, o reconhecimento dos feminicídios ocorreu recentemente,
fortemente marcado pelas singularidades territoriais e foi protagonizado,
principalmente, pelas mães e familiares das vítimas.
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REFERÊNCIAS

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