Você está na página 1de 27

Ceisc Concursos

Direitos Humanos

1
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

Olá! Boas-Vindas!
Cada material foi preparado com muito carinho para que você
possa absorver da melhor forma possível, conteúdos de qua-
lidade!

Lembre-se: o seu sonho também é o nosso!

Bons estudos! Estamos com você até a sua aprovação!

Com carinho,

Equipe Ceisc. ♥

2
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

Direitos Humanos
Prof.ª Raquel Peruzzo

Sumário

1. Considerações iniciais ............................................................................................................. 4


2. Diversidade ético racial e diversidade cultural ......................................................................... 7
3. Diversidade de sexo, gênero e sexualidade .......................................................................... 11

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para
concursos e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, recomenda-
se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em fevereiro de 2024.

3
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

1. Considerações iniciais

Prof.ª Raquel Peruzzo


@raqperuzzo

De acordo com o Professor Rafael Barretto, podemos conceituar direitos humanos como
“conjunto de direitos que materializam a dignidade humana; direitos básicos, imprescindíveis
para a concretização da dignidade humana”.
Nesse sentido, é muito importante termos em mente que o estudo dos Direitos Humanos
se dá em três eixos de proteção internacional:
• Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH);
• Direito Internacional Humanitário (DIH);
• Direito dos Refugiados (DIR).

Direito Internacional dos Direito Internacional


Direito dos Refugiados
Humanos (DIDH) Humanitário (DIH)
Lei Geral Lei Especial
Lei especial. Proteção do re-
Tem como objetivo a prote- Situação específica de confli- fugiado
ção integral do ser humano tos armados - guerra

Também devemos estar atentos ao fato de que Direitos Humanos e Direitos fundamentais
assumem conotação distinta no que se refere ao plano de positivação:

4
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

Tratam-se dos mesmos direitos, com o mesmo significado: são direitos inerentes a todo
ser humano, que objetivam a materialização da dignidade da pessoa humana. A diferença está
no plano da positivação:

Quando a positivação encontra-se Quando a positivação advém de


insculpida em norma internacional: norma interna:

Direitos Humanos Direitos Fundamentais

Como vimo acima, os Direitos Humanos são direitos essenciais, necessários à existência
do ser humano. Nesse sentido, uma das principais características dos direitos humanos é a ca-
racterística da essencialidade, a qual também remete à superioridade normativa dos direitos
humanos. Dessa forma, importante termos em mente o mandamento constitucional que prevê
que os tratados internacionais de direitos humanos que forem aprovados no quórum do Ar-
tigo 5°, §3° da Constituição Federal terão status de emenda constitucional. E caso não sejam
aprovados nesse quórum, sua natureza será supralegal: acima das leis, abaixo da constituição.
Vejamos:

5
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

Ainda neste momento inicial, faz-se necessário o entendimento da Teoria Geracional dos
Direitos Humanos, desenvolvida por Karel Vasak e apresentada durante uma palestra na França,
no ano de 1979. Nela, Vasak classificou os direitos humanos em três Gerações (ou dimensões
ou também Famílias de direitos humanos), associando-as aos lemas da revolução francesa.

Atualmente, a doutrina mais moderna utiliza a expressão “Dimensões” de direitos huma-


nos:

6
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

Em que pese a nomenclatura utilizada muitas vezes seja gerações ou também famílias de
direitos humanos, entendemos que a expressão Gerações denota maior e mais moderno conhe-
cimento sobre a temática, conforme veremos em aula.

2. Diversidade ético racial e diversidade cultural

"Ninguém nasce odiando outra pessoa por sua cor da pele, sua origem ou sua religião. As
pessoas podem aprender a odiar e, se podem aprender a odiar, pode-se ensiná-las a aprender
a amar. O amor chega mais naturalmente ao coração humano que o contrário." Nelson Mandela,
vencedor do Nobel da Paz em 1993, líder ativista na luta contra o apartheid na África do
Sul, país onde se tornou presidente entre 1994 e 1999.
As favelas sustentam a ideia de exclusão racial e social desde a abolição da escravatura
até os dias atuais.

Inicialmente, devemos nos perguntar o que é raça?


Segundo parecer de Celso Lafer no caso Elwanger (que se refere a um julgamento de
discriminação racial e apologia ao nazismo efetuado pelo Supremo Tribunal Federal - STF), a

7
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

noção de raça não tem uma base biológica, mas sim uma construção social e histórica. Lafer
destaca que a Constituição Federal de 1988 estabelece a igualdade de todos perante a lei, sem
distinção de raça, cor, ou origem, e essa noção é fundamental para a construção de uma
sociedade mais justa e igualitária.
Nesse sentido, Lafer defende que a ideia de raça como um fundamento para
discriminação é incompatível com os princípios constitucionais brasileiros. Ele ressalta a
importância de combater ideologias que promovam o ódio racial, como o nazismo, e defende a
interpretação da legislação de forma a coibir práticas discriminatórias e proteger os direitos
humanos e a dignidade de todos, independentemente de sua origem ou cor.
Segundo a posição defendida por Celso Lafer só existe uma raça: a raça humana!
Nesse contexto, racismo estrutural é aquele tipo de discriminação que se infiltra nas bases
da sociedade. Ele não se limita a ações individuais, mas permeia as instituições, normas e
sistemas, moldando oportunidades e acesso de diferentes grupos. É um conjunto de crenças,
práticas e políticas que, muitas vezes, se tornam invisíveis por estarem arraigados no tecido
social.
A principal referência para as bancas de concurso nessa temática é a obra de Silvio de
Almeida, atual ministro do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, é um
intelectual que discute o racismo na sua essência estrutural. Ele aborda como esse problema vai
além de atitudes individuais e se manifesta em áreas como educação, economia, justiça, entre
outras. Ele destaca a importância de reconhecer e desmantelar essas estruturas, por muito
tempo imperceptíveis, para promover uma sociedade mais justa e inclusiva.
O racismo estrutural se manifesta de várias formas, afetando diferentes áreas da
sociedade. Alguns dos tipos de racismo estrutural incluem:
• Institucional: Refere-se às práticas discriminatórias dentro de instituições, como
empresas, escolas, sistemas de justiça criminal e governo, que perpetuam
desigualdades com base na raça.
• Econômico: Desigualdades econômicas historicamente enraizadas que afetam
grupos raciais específicos, incluindo disparidades salariais, falta de acesso a
oportunidades de emprego e desigualdades na acumulação de riqueza.
• Educativo: Refere-se a disparidades no sistema educacional, incluindo falta de
acesso a recursos de qualidade, diferenças na qualidade do ensino oferecido a

8
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

diferentes grupos raciais e taxas de suspensão/expulsão mais altas para


estudantes de cor.
• Habitacional: Discriminação no acesso à moradia, segregação residencial e
práticas injustas de empréstimos e financiamento imobiliário que impactam
desproporcionalmente grupos raciais minoritários.
• Saúde: Disparidades na saúde entre diferentes grupos raciais, incluindo acesso
limitado a serviços de saúde de qualidade, tratamento desigual por profissionais de
saúde e resultados de saúde desiguais.
• Mídia e representação: Representações estereotipadas ou negativas de grupos
raciais na mídia, que podem reforçar preconceitos e contribuir para a perpetuação
do racismo.

Esses tipos de racismo estrutural estão interligados e se reforçam mutuamente, criando e


mantendo desigualdades sistemáticas e persistentes na sociedade.

A Defensoria Pública da União (DPU), em sua conta oficial no “X” (Twitter) recomendou a
não utilização de certas expressões que associam a palavra negro ou preto a coisas ruins; en-
quanto outras, como “inveja branca”, fazem boas associações às pessoas de pele clara:
Veja a imagem na página a seguir...

9
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

No âmbito jurídico, destaca-se o papel crucial do Supremo Tribunal Federal (STF).


Decisões, como a equiparação do racismo à prática de injúria racial, fortalecem a luta contra a
discriminação. Essa equiparação permitiu que o racismo fosse criminalizado de forma mais
efetiva, reforçando a proteção legal para aqueles que são vítimas desse tipo de violência.
Outro ponto chave foram as decisões a favor das cotas raciais em universidades. O STF
reconheceu a legalidade dessas políticas como uma forma de combater as desigualdades
históricas, oferecendo oportunidades mais equitativas para grupos que enfrentam barreiras
devido ao racismo estrutural.

10
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

3. Diversidade de sexo, gênero e sexualidade

As minorias sociais, no contexto dos direitos humanos, referem-se a grupos de pessoas


que são numericamente menores ou que possuem características específicas que as
diferenciam da maioria da população em uma determinada sociedade. Essas características
podem incluir raça, etnia, religião, gênero, orientação sexual, identidade de gênero, deficiências
físicas ou mentais, entre outras.
É importante frisar que não há consenso absoluto quanto ao conceito de minorias. Alguns
teóricos estreitam a definição, ao reduzir os tipos de características que podem definir uma
minoria, por exemplo.
Segundo dados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua) 2022, o número de mulheres no Brasil é superior ao de homens. A população brasileira
é composta por 48,9% de homens e 51,1% de mulheres.
E por que as mulheres são consideradas um grupo minoritário? Porque o conceito de
minorias sociais está ligado à ideia de vulnerabilidade, ou seja, não é um conceito meramente
numérico.
Nesse caso, não se refere a um número menor de pessoas, à sua quantidade, mas sim a
uma situação de desvantagem social. Ou seja, apesar de muitas vezes coincidir de um grupo
minoritário ser realmente a menor parte da população, não é o fator numérico o essencial para
que uma população possa ser considerada uma minoria. São as relações de dominação entre
os diferentes subgrupos na sociedade e o que os grupos dominantes determinam como padrão
que delineiam o que se entende por minoria em cada lugar.
Comportamentos discriminatórios e preconceituosos também costumam afetar os grupos
minoritários.

11
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

A sigla LGBTQIA+, abarca o grupo composto por lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros,
transexuais e travestis, queer, intersexuais, assexuais e outras identidades de gênero ou
orientação sexual não compreendidas pelas letras da sigla. Atualmente, outras siglas também
passaram a ser utilizadas oficialmente, como LGBTQIAPN+.
A sigla LGBTQIA+ (GONÇALVES et al., 2020), abarca o grupo composto por lésbicas,
gays, bissexuais, transgêneros, transexuais e travestis, queer, intersexuais, assexuais e outras
identidades de gênero ou orientação sexual não compreendidas pelas letras da sigla.

Identidade de gênero é definida como uma experiência individual e interna de cada pessoa
que pode ou não corresponder ao sexo designado ao nascimento. Há duas classificações:
cisgênero e transgênero. A primeira se refere à identificação de gênero que corresponde às
expectativas do sexo atribuído ao nascer. Já a segunda se refere à identificação de gênero
divergente do sexo atribuído ao nascer.
Orientação sexual é a atração física, sexual e afetiva por indivíduos que podem ser de
gênero diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gênero.

12
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

Nesse contexto, o Poder Judiciário, que se posicionou em temas como: a permissão da


alteração do registro civil de pessoas trans ou não binárias – inclusive sem a necessidade de
cirurgia de redesignação –, a extensão de direitos de herança e direitos previdenciários a
cônjuges de relações homoafetivas – mesmo sem comprovação da união homoafetiva – e o
direito de pessoas LGBTQIA+ se tornarem doadores(as) de sangue, entre outros.

Disponível em https://www.cnj.jus.br/mulheres-trans-podem-optar-onde-cumprirao-pena-decide-barroso/.

Mais recentemente, o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão n.


26/DF pelo STF, conjuntamente com o MI n. 4.733, determinou a extensão da tipificação dos
crimes previstos pela Lei n. 7.716/89 aos atos LGBTfóbicos, até que haja uma lei específica para
criminalização dessa conduta pelo Congresso Nacional.
Veja a imagem na página a seguir...

13
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

Confira a tese fixada pelo Supremo Tribunal Federal:

1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os


mandados de criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da
República, as condutas homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem
aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero de alguém, por traduzirem
expressões de racismo, compreendido este em sua dimensão social, ajustam-se, por
identidade de razão e mediante adequação típica, aos preceitos primários de incriminação
definidos na Lei nº 7.716, de 08.01.1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio
doloso, circunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121,
§ 2º, I, “in fine”);
2. A repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe ou limita o
exercício da liberdade religiosa, qualquer que seja a denominação confessional
professada, a cujos fiéis e ministros (sacerdotes, pastores, rabinos, mulás ou clérigos
muçulmanos e líderes ou celebrantes das religiões afro-brasileiras, entre outros) é
assegurado o direito de pregar e de divulgar, livremente, pela palavra, pela imagem ou por
qualquer outro meio, o seu pensamento e de externar suas convicções de acordo com o
que se contiver em seus livros e códigos sagrados, bem assim o de ensinar segundo sua
orientação doutrinária e/ou teológica, podendo buscar e conquistar prosélitos e praticar
os atos de culto e respectiva liturgia, independentemente do espaço, público ou privado,
de sua atuação individual ou coletiva, desde que tais manifestações não configurem
discurso de ódio, assim entendidas aquelas exteriorizações que incitem a discriminação,
a hostilidade ou a violência contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua
identidade de gênero;
3. O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-se para além de
aspectos estritamente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto manifestação de
poder, de uma construção de índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a
desigualdade e destinada ao controle ideológico, à dominação política, à subjugação
social e à negação da alteridade, da dignidade e da humanidade daqueles que, por
integrarem grupo vulnerável (LGBTI+) e por não pertencerem ao estamento que detém
posição de hegemonia em uma dada estrutura social, são considerados estranhos e
diferentes, degradados à condição de marginais do ordenamento jurídico, expostos, em
consequência de odiosa inferiorização e de perversa estigmatização, a uma injusta e
lesiva situação de exclusão do sistema geral de proteção do direito.
STF. Plenário. ADO 26/DF, Rel. Min. Celso de Mello; MI 4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin,
julgados em em 13/6/2019 (Info 944).

14
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

Os "Princípios de Yogyakarta" são um conjunto de princípios sobre a aplicação das


normas internacionais de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de
gênero. Eles foram formulados em 2006 por um grupo de especialistas em direitos humanos,
acadêmicos e ativistas de várias partes do mundo, durante uma reunião realizada na cidade de
Yogyakarta, na Indonésia.
Esses princípios foram desenvolvidos em resposta às violações sistemáticas dos direitos
humanos enfrentadas por pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) em
diferentes partes do mundo. Eles visam fornecer orientações para governos, organizações
internacionais, defensores de direitos humanos e outros atores envolvidos na promoção e
proteção dos direitos LGBT.
Os Princípios de Yogyakarta abordam uma ampla gama de questões relacionadas aos
direitos LGBT, incluindo a criminalização da homossexualidade, discriminação, liberdade de
expressão e associação, direito à privacidade, direito à saúde, direito ao trabalho e educação,
entre outros. Eles reafirmam que os direitos humanos são universais e se aplicam igualmente a
todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.
Esses princípios têm sido amplamente reconhecidos e utilizados como uma referência
pelos defensores dos direitos LGBT, organismos internacionais e tribunais ao redor do mundo.
Eles desempenham um papel importante na defesa dos direitos humanos das pessoas LGBT e
na promoção da igualdade e não discriminação com base na orientação sexual e identidade de
gênero.
É importante ressaltar que a Resolução Conjunta nº 1, de 15 de abril de 2014, do Conselho
Nacional de Combate à Discriminação e do Conselho Nacional de Política Criminal e

15
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

Penitenciária 1estabelece os "parâmetros de acolhimento de LGBT em privação de liberdade no


Brasil" e faz referência expressa aos Princípios de Yogyakarta).

Mulheres
Apesar de serem maioria na população, mulheres enfrentam desigualdades em várias
esferas da sociedade.

Normativa dos sistemas interamericano e global


• Sistema global: Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher (1979) e seu Protocolo Facultativo (1999). O Brasil
internalizou tanto a Convenção (Decreto nº 4.377/2002) quanto o Protocolo
Facultativo (Decreto nº 4.316/2002).

Podemos citar, ainda, a Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial


sobre a Mulher de 1995 (soft law).

• Sistema interamericano: Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e


Erradicar a Violência contra a Mulher (1994), também conhecida como Convenção
de Belém do Pará.

Lei Maria da Penha - Lei 11.340/2006

1
(https://www.gov.br/senappen/pt-br/pt-br/composicao/cnpcp/resolucoes/2014/resolucao-conjunta-no-1-de-15-de-
abril-de-2014.pdf/view).

16
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

Sancionada em 7 de agosto de 2006, a Lei 11.340/2006 é fruto da atuação da comissão


Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), que concluiu pela pela
omissão, negligência e tolerância do Estado brasileiro em relação à violência doméstica contra
a mulher, em razão de denúncia formulada perante à Comissão por Maria da Penha Maia
Fernades, que foi vítima de tentativa de homicídio por parte de seu então marido, crime que a
deixou paraplégica.
A Lei Maria da Penha cria mecanismos para prevenir e coibir a violência doméstica e
familiar contra a mulher em conformidade com a Constituição Federal (art. 226, § 8°) e os
tratados internacionais ratificados pelo Estado brasileiro.

Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra as


Mulheres (CEDAW)
É um tratado internacional adotado pelas Nações Unidas em 1979, que tem como objetivo
principal promover a igualdade de gênero e a eliminação de todas as formas de discriminação
contra as mulheres. É considerada um dos principais instrumentos internacionais de direitos
humanos que aborda especificamente a igualdade de gênero e os direitos das mulheres.
A CEDAW reconhece que a discriminação contra as mulheres persiste em muitas
sociedades ao redor do mundo e visa combater essa discriminação em todas as suas formas. A
convenção define discriminação contra as mulheres como qualquer distinção, exclusão ou

17
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

restrição baseada no sexo que tenha o objetivo ou efeito de prejudicar ou anular o


reconhecimento, o gozo ou o exercício dos direitos humanos e liberdades fundamentais das
mulheres em diversas áreas da vida.
A CEDAW abrange várias áreas importantes, incluindo:
• Igualdade de direitos civis e políticos;
• Igualdade na vida econômica, social e cultural;
• Eliminação da discriminação contra mulheres em áreas rurais;
• Eliminação da exploração e tráfico de mulheres;
• Eliminação de estereótipos e práticas culturais prejudiciais.

Os países que ratificam a CEDAW se comprometem a adotar medidas legislativas e outras


medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra as mulheres e promover a igualdade
de gênero em seus sistemas legais e políticos. Eles também devem relatar periodicamente ao
Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres, um órgão independente de
especialistas que monitora a implementação da convenção pelos estados partes.
A Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra as
Mulheres (CEDAW) foi internalizada no Brasil. Isso significa que o Brasil é um país signatário da
convenção e comprometeu-se a cumprir suas disposições e princípios. Isso reflete o
compromisso do país em proteger e promover os direitos das mulheres, combater a
discriminação de gênero e trabalhar para alcançar a igualdade de oportunidades para mulheres
e meninas em todas as esferas da sociedade.
A CEDAW baseia-se em três princípios básicos inter-relacionados, que se considerados
num todo proporcionam uma cobertura holística de realização dos direitos da mulher.
• Igualdade Substantiva: Uma igualdade que não é apenas na lei e nos princípios,
mas também na prática da vida cotidiana. A igualdade substantiva põe em questão
conceitos e estereótipos que estão na base da própria organização social e das
chamadas relações de gênero, isto é, das interações estabelecidas entre homens
e mulheres na base dos seus papéis sociais.
• Não discriminação: Visa eliminar comportamentos, ações e omissões
discriminatórias no que diz respeito às mulheres e às meninas.

18
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

• Obrigações dos Estados-Partes: A CEDAW torna os Estados Partes responsáveis


por reagir a situações de discriminação contra as mulheres, garantindo que os
Estados Partes atuem para prevenir e evitar comportamentos discriminatórios.

Objetivos
1. Eliminar a discriminação contra as mulheres;
2. Alcançar a igualdade substantiva, a igualdade na prática do dia a dia;
3. Agir em todas as áreas da vida das mulheres;
4. Agir em prol de todas as mulheres.

19
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a


Mulher - Convenção de Belém do Pará

A "Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a


Mulher", também conhecida como "Convenção de Belém do Pará", é um tratado internacional
adotado em 1994 pela Organização dos Estados Americanos (OEA). O nome da convenção é
uma referência à cidade de Belém do Pará, no Brasil, onde foi assinada.
A Convenção de Belém do Pará foi um marco importante na luta contra a violência de
gênero e é o primeiro tratado internacional a abordar especificamente essa questão. Seu objetivo
é prevenir, punir e erradicar todas as formas de violência contra as mulheres, bem como
promover a igualdade de gênero e eliminar a discriminação baseada no sexo.
A convenção define a violência contra a mulher como qualquer ato de violência de gênero
que resulte em danos físicos, sexuais ou psicológicos para a mulher, tanto na esfera pública
quanto na privada. Ela abrange uma ampla gama de formas de violência:
Violência Doméstica: A convenção pode ser invocada em casos de violência doméstica,
onde a vítima é agredida fisicamente, emocionalmente ou sexualmente por um parceiro íntimo
ou membro da família.
Feminicídio: A convenção pode ser aplicada em casos de homicídio de mulheres devido
ao fato de serem mulheres, uma prática conhecida como feminicídio.
Assédio Sexual: A convenção pode ser relevante em casos de assédio sexual no
ambiente de trabalho, em instituições educacionais ou em outros contextos, onde uma pessoa é
sujeita a avanços indesejados ou hostis com conotação sexual.

20
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

Tráfico de Mulheres: A convenção também pode ser aplicada em casos de tráfico de


mulheres e exploração sexual, que envolvem o recrutamento, transporte ou acolhimento de
mulheres para fins de exploração sexual.
Exploração Sexual: Casos de exploração sexual comercial de mulheres, como a
exploração através da prostituição forçada ou tráfico para fins de exploração sexual.
Mutilação Genital Feminina: A convenção pode ser invocada em casos de mutilação
genital feminina, uma prática cultural prejudicial que afeta a saúde e o bem-estar das mulheres.
Violência Sexual em Conflitos: A convenção também pode ser relevante em situações
de conflito armado, onde mulheres são alvo de violência sexual como uma tática de guerra.
Discriminação de Gênero: A convenção também aborda a discriminação de gênero,
portanto, pode ser aplicada em casos onde as mulheres enfrentam discriminação em várias
esferas da vida.
Além disso, a convenção estabelece obrigações para os Estados signatários, incluindo a
adoção de medidas legislativas e políticas para prevenir, punir e erradicar a violência contra as
mulheres, bem como para garantir que as vítimas tenham acesso à justiça e aos serviços de
apoio necessários. Também enfatiza a importância da educação e da conscientização para
promover uma cultura de respeito pelos direitos das mulheres.
A Convenção de Belém do Pará representa um passo significativo na promoção dos
direitos das mulheres e na luta contra a violência de gênero nas Américas. Vários países da
região são signatários da convenção e têm trabalhado para implementar suas disposições em
nível nacional.

21
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

Órgãos específicos de proteção internacional


Sistema interamericano: Relatoria sobre os Direitos das Mulheres e a Comissão
Interamericana de Mulheres (criada em 1928, depois se tornou um organismo especializado da
OEA), que tem como missão, de acordo com o seu Estatuto:

como foro político hemisférico para os direitos das mulheres e a igualdade de gênero,
apoiar os Estados Membros da Organização em seus esforços para cumprir com seus
respectivos compromissos adquiridos a nível internacional e interamericano em matéria
de direitos humanos das mulheres e equidade e igualdade de gênero, para que estes se
convertam em políticas públicas efetivas, contribuindo para a plena e igualitária
participação das mulheres nos âmbitos civil, político, econômico, social e cultural.

Sistema global: Comitê para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, criado pela
respectiva Convenção temática, e a ONU Mulheres, criada em 2010.

Destaques da normativa internacional


Abrangência: diferentemente da Lei Maria da Penha, que trata apenas de violência
doméstica, a Convenção da OEA trata da violência num sentido mais amplo e a Convenção da
ONU trata de “todas as formas de discriminação contra a mulher”.
Mandado internacional de criminalização: ambas as Convenções (da OEA e da ONU)
veiculam a obrigação dos Estados de punir a violência contra a mulher.
Interseccionalidade: o art. 9º da Convenção da OEA estabelece que os Estados partes
devem levar em consideração a multiplicidade de fatores de vulnerabilidade (como raça, origem
étnica ou condição de migrante) na adoção de medidas de proteção.
Legitimidade para pedir opinião consultiva: o art. 11 da Convenção da OEA confere à
Comissão Interamericana de Mulheres legitimidade para pedir OC à Corte IDH para interpretação
desta Convenção.
Monitoramento no sistema interamericano: petição para a CIDH (Convenção de Belém do
Pará, art. 12) e possibilidade de encaminhamento do caso à Corte IDH.
Conceito de discriminação contra a mulher de acordo com a Convenção da ONU (art. 1º):

toda a distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou
resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher,
independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem, dos direitos
humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil
ou em qualquer outro campo.

22
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

A Lei Maria da Penha tem como objetivo:


1. Criar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.
2. Dispor sobre a criação de Juizados contra a violência doméstica e familiar da
mulher
3. Estabelecer medidas de assistência e proteção à mulher que se encontre em
situação de violência doméstica e familiar.

Das formas de violência doméstica e familiar contra a mulher


São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I. a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade
ou saúde corporal;
II. a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto,
chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do
direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica
e à autodeterminação
III. a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à

23
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite


ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV. a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de
trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos,
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V. a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,
difamação ou injúria.

Configura violência doméstica e familiar contra a mulher:


Qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause:
• morte;
• lesão;
• sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.

Atenção!
Os efeitos da Lei Maria da Penha não se restringem apenas ao ambiente doméstico
e familiar e independem de orientação sexual.

I. no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente


de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II. no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são
ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade
expressa;
III. em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com
a ofendida, independentemente de coabitação.

Lei 14.550/2023
Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), para:
1. dispor sobre as medidas protetivas de urgência;
2. estabelecer que a causa ou a motivação dos atos de violência e a condição do
ofensor ou da ofendida não excluem a aplicação da Lei.

24
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu


sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º O art. 19 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), passa a
vigorar acrescido dos seguintes §§ 4º, 5º e 6º:
Art.19....................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
§ 4º As medidas protetivas de urgência serão concedidas em juízo de cognição sumária a
partir do depoimento da ofendida perante a autoridade policial ou da apresentação de suas
alegações escritas e poderão ser indeferidas no caso de avaliação pela autoridade de
inexistência de risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da
ofendida ou de seus dependentes.
§ 5º As medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da
tipificação penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de
inquérito policial ou do registro de boletim de ocorrência.
§ 6º As medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto persistir risco à integridade
física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes.”
(NR)
Art. 2º A Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006(Lei Maria da Penha), passa a vigorar
acrescida do seguinte art. 40-A:
Art. 40-A. Esta Lei será aplicada a todas as situações previstas no seu art. 5º,
independentemente da causa ou da motivação dos atos de violência e da condição
do ofensor ou da ofendida.
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 19 de abril de 2023; 202º da Independência e 135º da República.
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150,
de 2015)
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente
de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que
são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade
expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido
com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação
sexual.

Presunção de vulnerabilidade da mulher? Entendimento dourionário: por que


questionamos a aplicação da LMP e não questionamos CDC, ECA e CLT?
Com a nova lei, não há mais essa discussão acerca da vulnerabilidade da mulher:
legislador optou por sempre aplicar a LMP.

Das medidas protetivas de urgência

Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a
requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.
§ 4º As medidas protetivas de urgência serão concedidas em juízo de cognição sumária
a partir do depoimento da ofendida perante a autoridade policial ou da apresentação de
suas alegações escritas e poderão ser indeferidas no caso de avaliação pela autoridade
de inexistência de risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da
ofendida ou de seus dependentes.(Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)

25
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

In dubio pro reo x in dubio pro tutela

§ 5º As medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da


tipificação penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de
inquérito policial ou do registro de boletim de ocorrência. (Incluído pela Lei nº 14.550, de
2023)
§ 6º As medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto persistir risco à integridade
física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes.
(Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)

26
Ceisc Concursos
Direitos Humanos

27

Você também pode gostar