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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

COORDENAÇÃO DO CURSO DE PSICOLOGIA


CENTRO DE ESTUDOS, PESQUISAS E PRÁTICAS PSICOLÓGICAS – CEPSI

RELATÓRIO FINAL DE CURSO

1. IDENTIFICAÇÃO DA ESTAGIÁRIA:

Nome: Sheila Rosendo Sanches Monteiro


Campo: Centro de Estudos Pesquisa e Prática Psicológica- CEPSI
Área: Psicologia Social
Supervisor: Gabriella Assumpção Alvarenga Schimchak, CRP: 09-139552
Drª. em Ciências da Saúde pela UFG
Início do Estágio: 07/08/2017 Término do Estágio: 22/06/2018

2. IDENTIFICAÇÃO / DESCRIÇÃO DO CAMPO / ÁREA:

O CEPSI (Centro de Estudos e Praticas Psicologias),é um espaço da

Pontifícia Universidade Católica de Goiás, direcionado ao atendimento clínico

individual e grupal, pelos estagiários do curso, oferecido a comunidade. Possui 18

consultórios clínicos, para os atendimentos individuais, além de salas de aulas, e

uma sala equipada para atendimento em grupo. O serviço é oferecido de forma

gratuita a qualquer pessoa da comunidade, que passar pela triagem no processo

de inscrição ofertado todo inicio de período pela clínica escola, ou seja, duas

vezes ao ano. A triagem assim como os atendimentos, é realizada pelos

estagiários em conclusão de curso, e supervisionados por um professor

orientador, assim como são ofertados atendimentos de plantão, tem sempre um

estagiário disponível no horário de funcionamento do CEPSI. Ao todo

aproximadamente 1000 pessoas são atendidas por semestre.

A psicologia é um campo aberto de possibilidades de intervenção, e

atuação, no entanto a que vamos adentrar neste estudo é a psicologia social,


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área da psicologia que dedicou ao estudo dos grupos, onde apresento a

experiência em dois grupos reflexivos com mulheres em situação de violência

doméstica, como prática escolhida apara a conclusão do curso.

3. JUSTIFICATIVA / DESCRIÇÃO DA DEMANDA / QUEIXA:

Falar de Violência doméstica no Brasil ainda é zona de desconforto para

muitos, muito além da zona de desconforto para quem sofre a violência, é mexer

na zona de conforto de quem é conivente com a violência e permanece calado,

com o costumeiro ditado popular “briga de marido e mulher não se mete a colher”.

O intuito aqui não é abordar sobre a violência doméstica limitada a relação

conjugal, o exemplo veio para representar a violência doméstica referente à

condição de gênero “homem e mulher”. Embora sabemos que em sua maioria as

mulheres vivenciam essa situação dentro de casa, pelo companheiro, ou ex-

companheiro.

De acordo com a pesquisa DataSenado de 2017, constatou-se um

aumento significativo do percentual de mulheres que se declararam vítimas de

algum tipo de violência, passando de 18% em 2015 para 29% em 2017. Esta

pesquisa é realizada desde 2005, e em todas as edições até 2015 o percentual de

mulheres que declararam ter sofrido violência se manteve relativamente constante

entre 15% e 19%, revelando talvez não um aumento de mulheres em situação de

violência, mas mulheres que tiveram a coragem de falar sobre essa vivência.

Vivemos num pais onde valores, cultura e religião, são fenômenos

fortemente empregados pela sociedade, direcionando o funcionamento e papeis


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de homens e mulheres, construindo desta forma relações adoecidas, onde a

violência em sua maioria aparece como mecanismo de defesa para manter-se no

lugar que a sociedade cruelmente o coloca.

Nesta perspectiva propomos refletir com mulheres em situação de violência

doméstica, as nuance que envolve esse fenômeno, através da experiência em

grupo. Possibilitando um espaço de acolhida e escuta, no intuito de conscientiza-

las do todos que envolve a relação de violência, na perspectiva de poderem

repensar e reconstruir sua história, com autonomia, e não vitimização.

Não há uma regra para a violência, e nem mesmo para que a mulher

permaneça na relação de violência, são inúmeros os fatores que levam uma

mulher a manter essa relação, seja com a mesma pessoa, ou repetição em

futuros relacionamentos; desta forma pensamos em contribuir com um fator “o

grupo”, espaço este de apoio e acolhida, acolhida que a maioria das mulheres

não encontra, seja pelos profissionais aos quais tem que passar no processo da

denuncia, seja com os amigos e colegas, e o meio familiar.

O grupo possibilita o encontro com mais de duas pessoas, uma ferramenta

de trabalho que tornou valiosa para a psicologia, especificamente a psicologia

social, que se preocupa com os indivíduos e não com o indivíduo isolado.

Desta forma, foi escolhida a psicologia social como área de atuação, como

forma de contribuir com os saberes da psicologia, no intuito de atingir pessoas e

não pessoa; a temática violência doméstica foi uma escolha que provocou a

minha própria zona conforto, assim como o desafio de introduzir esta temática

como campo de estágio na Faculdade, a partir desta experiência.


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4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-EXISTENCIAL:

Segundo Sanches e Kahhale (2003) a psicologia surgiu a partir da

história social do homem, de condições materiais que configuraram a

necessidade de descrição, investigação e explicação do homem enquanto ser

subjetivo.

O surgimento da psicologia social se deu paralelo ao surgimento da

psicologia, e foi sofrendo variadas alterações em suas características, desde o

seu surgimento, porém, a essência de sua característica permaneceu: o interesse

por questões que não se limitavam ao indivíduo isoladamente. (Bock e

Gonçalves, 2003)

Estes autores ressaltam a importância do estudo da relação indivíduo com

a sociedade para a psicologia social, trazendo alguns nortes essenciais para a

compreensão desta relação: como o individuo é, como se apresenta, se o modo

como está constituído tem relação com as formas de organizações, de produção

e de relações mantidas na sociedade em que este está inserido; e qual a relação

deste indivíduo com a sociedade.

Bock e Gonçalves (2003) ainda definem a psicologia social como uma

área de conhecimento da psicologia com variados objetos de estudos: estudo dos

grupos, das massas, e do comportamento dos indivíduos através das relações. É

uma área da psicologia que dedica a compreender o campo relacional do homem,

e como este seleciona para si os elementos que constituíram sua subjetividade.


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Neste sentido Lane (1984) vem abordar que um dos fatores fundamentais

para o conhecimento do homem é que este não sobrevive a não ser em relação

com outros homens, desmistificando a dicotomia individuo x grupo, o homem

desde sua gestação está inserido num grupo social. Ressalta que este resgate

permite ao psicólogo social se aprofundar na análise do indivíduo concreto,

considerando a imbricação entre relações grupais, linguagem, pensamento e

ações na definição de características fundamentais para a análise psicossocial.

Partindo dessa visão de indivíduo indissociável da sociedade, vários

teóricos vão emergindo em interesse pela psicologia social, pelo estudo e

compreensão dos grupos, assim como as entidades e organizações cada vez

mais tem utilizado o grupo para desenvolverem suas atividades. O estudo aqui

apresentado se deu através da experiência com dois grupos de mulheres, no

intento de promover reflexão, uma experiência de grupo já realizada por várias

pessoas/organizações, alguns denominados como grupo reflexivo, outros por

grupo de encontro, rodas de conversa, grupo de mulheres, dentre outras

denominações.

Definição de grupo

Para Pichon –Rivière (n.d.) citado por Bastos (2010) o grupo apresenta-

se como instrumento de transformação da realidade, e seus integrantes passam a

estabelecer relações grupais que vão se constituindo, na medida em que

começam a partilhar objetivos comuns, a ter uma participação criativa e crítica e a

poder perceber como interagem e se vinculam.

Segundo Lane (2004), citado por Duarte (2011) o estudo dos pequenos

grupos é essencial para a compreensão das relações indivíduo-sociedade, uma


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vez que o grupo é condição necessária para que o sujeito supere sua condição

individualista, tornando-se agente consciente na produção de sua própria história.

Para este autor os grupos compõem um conjunto de fatores para a

mudança social, sendo uma constante: influência, instrumento e contexto para

que ocorra esta mudança. O grupo é como um campo de forças, onde a

participação ativa dos membros compõe a forma deste acontecer, ou seja, a sua

dinâmica, o que faz do grupo o resultado de um conjunto de relações em

constante movimento.

Ao fundamentar nosso grupo, encontramos algumas experiências com

grupos desenvolvidos no Brasil a fora, e compartilhadas através de artigos, teses

de doutorados entre outras formas, experiências que nos embasaram e deram

suporte quanto á certeza da funcionalidade do trabalho em grupo.

Moreira (1999) ao falar de sua experiência com grupo, denominado grupo

de encontro com mulheres vítimas de violência intrafamiliar, desenvolvida pelo

Consultório Externo da Escuela de Psicología da Pontifícia Universidad Católica

de Chile - Programa de Maus Tratos à Mulher, trás a perspectiva de Rogers

(1978), o qual define o grupo de encontro como um método de trabalho que

“pretende acentuar o crescimento pessoal, o desenvolvimento e aperfeiçoamento

da comunicação e relações interpessoais, através de um processo experiencial”.

Afonso e Abade (2008) descrevem sobre as rodas de conversa

promovidas pela REDE DE CIDADANIA MATEUS AFONSO MEDEIROS

(RECIMAM), em Belo Horizonte – MG, onde estas rodas compõe um projeto

voltado para a comunidade, na promoção de discussões, reflexões e diálogo, com

temas ligados a Cidadania e direitos humanos.


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Meneghel e colaboradores (2004 ) abordam suas experiências com grupo,

denominado grupo de mulheres no enfrentamento a violência de gênero,

desenvolvido através do Programa de Extensão da Universidade do Vale do Rio

dos Sinos, Rio Grande do sul, onde abordam a importância dos grupos para o

processo de enfrentamento desse fenômeno.

“Os grupos representam um caminho para a construção de estratégias coletivas


de resistência para as mulheres. O grupo é uma estrutura básica de trabalho e
investigação, assim como uma instância de ancoragem do cotidiano. As forças
interacionais internas dos grupos implicam sustentação e apoio socioemocional,
no fortalecimento das interações emocionais, na comunicação aberta, no
compromisso e responsabilidade, na participação efetiva e na construção de uma
individualidade crítica (Meneghel et al., 2000).”

Meneghel e colaboradores (2000) em seus estudos: Mulheres cuidando

de mulheres, uma experiência na Casa de Apoio Viva Maria , Rio Grande do Sul ,

delineiam o grupo como local de encontro e renovação dos indivíduos, um espaço

social onde se viabiliza tecer relações estáveis e nutritivas, interação, confiança,

e apoio, possibilitando o afeto, o compartilhar, e o confrontar.

É nesta perspectiva que idealizamos o grupo reflexivo com mulheres em

situação de violência doméstica, visando proporcionar um espaço de apoio e

confiança, em que as mulheres possam ser protagonistas na identificação dos

elementos que envolvem essa relação, bem como suas forças e fraquezas,

possibilitando um novo olhar sobre essa relação; o grupo tem a perspectiva de um

lugar de encontro, de descobertas, reflexão, partilhas, e de tomada de

consciência.

Dewey (1959a), citado por Pivetta (2011) em sua tese de doutorado “O

Grupo Reflexivo como Dispositivo de Aprendizagem Docente na Educação

Superior”, descreve sobre o pensar reflexivo, um pensar que apresenta uma

ordem consecutiva, onde as ideias se sustentam umas nas outras, um pensar


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ordenado nos fatos e fenômenos experimentados e vivenciados pela pessoa que

reflete, gerando significados e sentido para o objeto refletivo. É um pensar com

propósito, e voltado para um fim, ou seja, que gere soluções a fim de modificar,

de identificar outras possibilidades quanto o objeto da reflexão.

Acosta (2004), citado por Ramos e Oltramari (2010) afirma que o grupo

possibilita a troca de vivências, situações, sentimentos e histórias semelhantes

que serão compartilhadas entre seus membros. As conversas são um meio para o

processo de identificar e diferenciar fatores, que vão viabilizar a construção de

alternativas para as situações de violência doméstica.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: UMA QUESTÃO DE GÊNERO

De acordo com a Lei 11.340 de 7de agosto de 2006(Lei Maria da Penha), é

considerado como violência doméstica e familiar contra a mulher: a violência

física, qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde física; violência

psicológica, qualquer conduta que cause dano emocional; violência sexual,

qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação

sexual não desejada; violência patrimonial, qualquer conduta que configure

retenção, subtração ou destruição parcial ou total de seus objetos, recursos

econômicos e qualquer pertence de seu direito; e a violência moral, qualquer

conduta que configure calunia, difamação, ou injuria.

O art. 5º da LMP (2006) define a violência doméstica contra a mulher como

qualquer ação ou omissão baseada no gênero, podendo ocorrer em variados

âmbitos: unidade doméstica, “espaço este de convívio permanente de pessoas,

com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas”; no âmbito

familiar inclui “a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram


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aparentados, unidos por laços naturais, por afinidades ou por vontade expressas”;

e por fim a violência conjugal, considerada “em qualquer relação íntima de afeto

onde o agressor conviva ou tenha convívio com a ofendida, independente da

coabitação.”

Falar de violência doméstica implica falar de gênero, de acordo com a

Cartilha Lei Maria da Penha Violência Doméstica: Uma Superação Coletiva,

gênero é uma questão social e cultural envolvendo o masculino e feminino, onde

sexo se refere a diferenças anatomofisiológicas entre homem e mulher; gênero é

a expressão da maneira de ser de homens e mulheres, nas diferentes

sociedades, onde se é estabelecido o masculino e o feminino.

O ser feminino e masculino começa a ser imposto desde criança, onde se

diferencia o que é de meninas e o que de meninos, brinquedos, cores,

comportamentos, e enfim; os papeis também começam a ser definidos na infância

, quando se fala que meninas brincam de casinha, comidinha, boneca, e os

meninos de carrinho. A mulher se torna adulta, já internalizado que a ela deve os

cuidados da casa e filhos, e o homem que este deve ser o provedor, natural, em

fim foi aprendido desde criança. Só que não podemos naturalizar papéis quando

estes são impostos, onde se atribui funções como de homens e mulheres,

formando pessoas e consequentemente relações disfuncionais.

A cartilha acima mencionada alude que a identidade de gênero é a

construção do que a pessoa se percebe capaz de ser e de fazer independente do

sexo, diferente do que é pregado quanto a essa identidade, uma identidade

baseada na construção social, onde se estabelece o que é de homens e

mulheres.
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A cultura e a religião são fenômenos que influenciam diretamente na

formação de pessoas, implicando em homens e mulheres marxistas, a criança já

houve nos seus primeiros anos de vida: “homem não chora”, chorar significa

fragilidade, e fragilidade é coisa de mulher.

É neste cenário, onde papéis são fortemente impostos, invadindo o

verdadeiro querer ser da pessoa, que inconscientemente luta para dar conta de

se manter neste lugar imposto pela sociedade, que se estabelecem relações

violentas, onde mulheres apanham porque deixaram de fazer o jantar, e este é o

papel que ela não cumpriu, onde homens tem que dar conta de tudo sem

expressar suas fragilidades, pois afinal homem deve ser forte.

A violência de gênero é então definida na Cartilha aqui mencionada, como

aquela que ocorre contra a mulher pelo fato de ser mulher, quando o homem se

julgar superior, pelo fato de ser homem, ou por ter uma renda superior a da

mulher, e assim, utiliza de força física a agredindo de variadas formas: violência

física, sexual, psicológica, e entre outras formas, o homem também pratica a

violência por se sentir diminuído, quando a renda da mulher é superior a sua.

Segundo os colaboradores da Cartilha Lei Maria da Penha, a violência

acontece no dia a dia através das relações interpessoais e geralmente segue um

padrão de agressão, composto por fases: primeiro vem acumulação de tensão,

onde a o stress, pode haver um espancamento leve, a mulher tenta amenizar

procurando fazer de tudo que o companheiro julga correto para evitar a violência;

a segunda fase é caracterizada pelo espancamento grave, onde não se tem

controle, nesta fase é que a mulher busca ajuda, seja na policia, ou outro tipo de

apoio; e por fim a lua de mel, compondo a ultima fase, o homem se torna
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amoroso, pede desculpas, promete mudanças. Este é o ciclo da violência, que

ocorre de forma gradativa e repetitiva, primeiro o nervosismo, um ato de violência,

seguida por um comportamento amoroso.

Foram no olhar amplo aos fenômenos que envolvem a violência doméstica,

alguns poucos citados acima, e na precariedade quanto á socialização destes,

que pensamos o grupo reflexivo com mulheres que já vivenciaram/e ou vivenciam

esta situação.

5. PROCEDIMENTOS UTILIZADOS:

População

90 mulheres em situação de violência doméstica, 30 sob Medida Protetiva,

com o processo em andamento no SAVID (Setor de atuação Contra Violência

Doméstica) e/ou no sistema do TJ (Tribunal de Justiça) específicos na 63ª

Promotoria da Mulher do MP- GO, as outras 60 com registro de Boletim de

Ocorrência na DEAM (Delegacia Especializada no Atendimento á Mulher).

Instrumentos

 Sala com cadeiras e colchonetes;

 Computador, impressora, caneta, papel;

 Livro: Mas ele diz que me ama (Penfold, 2005);

 Questionário sobre o livro supracitado (Guimarães, Diniz e Angelim, 2016),

descrito abaixo;

 Barbante, fósforo, copos descartáveis, guardanapos, lenços de papeis;

 Lanche;

1. Descreva qual foi o sentimento que você teve ao ler esse livro.
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2. O que tem em comum na história do seu relacionamento e na história da personagem do


livro - Roz?
3. O que tem de diferente em sua história?
4. Na folha em anexo, marque com um "X" os pensamentos/sentimentos da Roz que são
parecidos com os pensamentos que você teve.
5. Escolha três desses pensamentos que mais influenciaram sua história.
6. Além dos pensamentos apresentados pela Roz, você teve outros que te impediram de
pedir ajuda, de quebrar o ciclo de violência ou de sair do relacionamento?
7. A Roz resumiu a história dela com o título: "Mas ele diz que me ama...". Qual seria o título
da sua história?
8. Inspirada em sua história, complete o título do livro: Mas ele diz que me ama...

Obs: A questão 4 foi acompanhada por um material anexo - as 35 anestesias apresentadas


pela autora em forma de quadrinhos nas duas contracapas do livro.

Procedimentos
Foram desenvolvidos dois grupos, para o primeiro grupo (segundo

semestre de 2017) foram convidadas 30 mulheres sob medida protetiva, 15 com o

processo no TJ e 15 no SAVID, vale salientar que as mulheres são encaminhadas

para o SAVID para a verificação mais apurada, se o caso é de crime de gênero,

se as medidas protetivas são necessárias, bem como em casos onde são

envolvidas crianças, briga patrimonial, transtornos psiquiátricos e histórias que

faltam elementos claros para aplicação das medidas cabíveis. No SAVID são

feitos laudos, avaliações de fatores de risco, violências ocorridas, fatores de

proteção e investigam a pergunta gerada pelo juiz responsável pelo caso, bem

como encaminhamentos para a rede de atenção à mulher em situação de

violência (CREAS, CAPS, Conselho Tutelar, SOGEP e ITGT).

A seleção foi feita em parceria com a 63ª Promotoria da Mulher do MP-

GO, na pessoa da promotora de justiça Rúbia Corrêa Coutinho, com base nas

medidas protetivas concedidas nos meses de julho, agosto e setembro de 2017,

sendo convidadas aleatoriamente, 10 de cada de mês, 5 do TJ e 5 das

encaminhadas para o SAVID. Tanto a seleção quanto o convite foram feitos


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através da 63ª Promotoria da Mulher do MP- GO, o convite foi efetivado por

telefone e posteriormente via Correios.

Para o segundo grupo (primeiro semestre de 2018) 60 mulheres foram

convidadas, a seleção foi realizada pelas facilitadoras/ estagiárias do grupo,

através de Registros de Ocorrência na DEAM, nos meses de janeiro a março de

2018, onde 150 fichas de registros , 50 de cada mês, foram acessadas em

parceria com a Delegada ........ desta delegacia, sendo efetuado contado via

telefone, tendo destes 150 registros, o contato com sucesso com 60 mulheres,

onde seus endereços foram confirmados, e posterior os dados foram

encaminhados para a 63º Promotoria da Mulher, para efetivação do convite, feito

através de notificação. Ainda na semana antecedente ao primeiro encontro, foram

feitas ligações pelas facilitadoras/estagiarias, as 60 mulheres, confirmando a

notificação.

O primeiro grupo foi composto por 7encontros, o segundo por 6, ambos

com duração de aproximadamente uma hora e meia cada, realizado todas as

terças-feiras as dezenove horas, no CEPSI (Centro de Estudos e Praticas

Psicológicas), situado na Área V da PUC (Pontifícia Universidade Católica), setor

universitário, em Goiânia. que este era um grupo fechado

Os encontros foram conduzidos pela Psicóloga e supervisora do estágio

final, pelas estagiárias, onde duas acompanharam o primeiro grupo, e três o

segundo grupo, e a participação ativa da promotora Rúbia no primeiro grupo.


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6. ANÁLISE / RESULTADOS OBTIDOS:

Ao pensar, planejar o grupo, um conjunto de emoções foi emergindo, a

expectativa pelo primeiro encontro vem carregada do como vai ser, de quantas

mulheres viram, do cuidado do como acolher para estas permanecerem. Ao ler as

variadas literaturas e estudos envolvendo este tema, ouvir relatos da orientadora

de outras experiências no intuito de refletir com mulheres nesta situação, foi

sendo internalizada a realidade, uma realidade onde as mais variadas nuances

que envolve esse fenômeno da violência doméstica, faz com que as pessoas não

queiram falar sobre.

No primeiro encontro já houve o contato com essa realidade, 30 mulheres

foram convidadas, e expectativa era de pelo menos um terço, e compareceram 3;

não vou omitir os sentimentos de frustação, embora tenha sido preparada,

alertada para esta realidade, esperava um número maior.

A proposta do grupo foi apresentada para localizar as mulheres do espaço

onde estavam, seguido da apresentação de cada uma, através da técnica do

fósforo (anexo), em seguida a proposta do grupo foi aprofundada utilizando a

técnica do barbante (anexo), onde cada mulher foi convidada a falar “como era

estar em medida protetiva”. A escolha da pergunta se deu pelo fato de todas

estarem em medida protetiva, sabendo que a LMP assim como a medida protetiva

em específico, não é compreendida pela população como um todo, bem como

pelas portadoras dessa medida.

E não foi distante disso, os relatos revelaram histórias diferentes, mas algo

em comum, as sensações que a medida protetiva causa, a busca pela proteção


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que a LMP não garante, e ao mesmo tempo a insegurança da proteção que ela

garante. A maioria demostrou insegurança com a lei, e falta de conhecimento :

“não, eu não tenho papel nenhum, e o fulano mora dentro da minha casa”, assim

como, surgiram questionamentos em relação a não prisão dos autores da

agressão. A presença da promotora foi essencial neste primeiro momento, para

esclarecer , para provocar a tomada de consciência destas mulheres quanto ao

real funcionamento, e beneficio proposto pela Lei. A Lei Maria da Penha é

educativa e não punitiva, a falta de compreensão gera revolta e indignação pela

não punição dos autores de agressão, a prisão pode acontecer sim, de forma

preventiva, em qualquer fase do processo, como previsto no artigo 20 da Lei, o

que não determinará como sentença a sua prisão, e mesmo que determine,

algum dia essa pessoa estará livre, então falar da LMP neste primeiro dia, foi uma

escolha, considerando ser a vivencia de todas naquele momento, e que

repercutiria nos demais encontros, considerando as suas expectativas

equivocadas, se não fosse dado esse espaço.

Concluindo o momento de partilha, foi feito a leitura do que se formou

com o barbante (uma teia), direcionando as essas mulheres que cada uma tem

sua teia de relações, algumas relações não saudáveis, outras que são suportes, e

que o objetivo é desperta-las para estas relações, para tomada de consciência, e

empoderamento, assim como, o grupo também se tornará uma nova teia,

composta por cada uma ali presente, em um espaço de partilha e de sua escuta,

somando força uma para a outra.

Ao finalizar foi discutido com elas o enquadre do grupo, sendo explicada

toda a funcionalidade, onde todas estiveram de acordo com o horário de começar,


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foi feito o acordo de sigilo, esclarecendo que o conteúdo emergente no grupo só

seria discutido fora daquele ambiente, entre as estagiarias e a psicóloga, e que

qualquer relato escrito do grupo seria sem identificação dos membros

participantes; a forma do contrato foi decidida por elas também, optaram por ser

verbal, relatando a confiança em cada um ali presente.

No segundo encontro compareceram duas mulheres, sendo uma delas

uma nova integrante; os sentimentos de frustação foram alimentados, desta vez

acrescentados pela indagação, o que será que não as motivou a comparecer, um

questionamento que chegou a várias possibilidades, mas não a respostas para a

insegurança instalada.

Tendo novo membro, foi aberto espaço para acolhida, e apresentação da

integrante assim como da funcionalidade e proposta do grupo.

Foi necessário um espaço além da apresentação para esta integrante,

também estava sob a medida protetiva, e não diferente das que compareceram

ao primeiro encontro, não tinha clareza do funcionamento da medida, das garantia

da LMP. Novamente foi aberto o espaço para refletir sobre a funcionalidade da

LMP, onde foi sendo explicado pela promotora, a partir das queixas e dúvidas

trazidas pela nova integrante; o que foi válido não so para ela, mas para a

integrante que já viera do primeiro grupo, onde foi reforçando a compreenção da

Lei, pois ela voltou a partilhar que o autor da agressão estava residindo em sua

casa, quando a promotora falava da efetividade da Lei no artigo 22, em que

garante o afastamento do autor da agressão, em relação á vítima.

Ao falar de sua história, a nova integrante verbalizava com firmeza, o que

transparece no tom de sua voz, a relação de violência com o parceiro o qual havia
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rompido o relacionamento recentemente, trazia angustia e medo em seu relato,

por não saber até onde a medida a protegia, o sofrimento interno de ter que tomar

a decisão de denunciar, de ter que ir a uma delegacia.

Após a acolhida, através de escuta e partilha, foi apresentado o livro,

instrumento escolhido para provocador as reflexões. A leitura foi iniciada no grupo

este dia, em conjunto, no intuito de apresentar a elas a didática do livro, e instigar

a continuação da leitura, como uma das integrantes apresentava dificuldade na

visão, foi adaptada a proposta da leitura, onde esta também foi realizada em

conjunto no grupo.

No terceiro encontro compareceram três mulheres, permaneceram as duas

do segundo encontro, acrescentando a presença de um novo membro “CD”. A

proposta para este encontro compunha a partilhar sobre a leitura do livro e parte

do questionário, porém, foi necessário o acolhimento, espaço de apresentação

desta mulher. Ao proporcionar este espaço notou-se a necessidade imensa que

esta mulher tinha de falar, expresso pelo tom de voz que se alternava ao decorrer

de sua fala, era preciso um momento de escuta acolhedora, e desta forma o

encontro fora conduzido a partir da escuta de sua história, tendo de deixar a

proposta inicial, priorizando este espaço de acolhida para estas mulheres.

Ao falar de si CD não contém suas lágrimas em compartilhar que de todas

as formas foi violentada, que foi tão subestimada e desqualificada pelo ex-

companheiro: “eu perdi minha dignidade e expressão de ser mulher, aliás, eu não

sabia mais quem eu era... minha filha foi que meu deu forças, sozinha eu não

tinha força para pedir ajuda a justiça”. Era claro em seu corpo as palavras

descritas acima, de cabelos amarrados (feito um coque), seu rosto com


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expressão triste, sem vida, de calça jeans e camisa, e assim ela descreve: “é

assim que eu ando, eu não solto o cabelo, as roupas que visto é assim, todas

fechadas sem mostrar nada”, ainda relata que os vizinhos começaram a apelida-

la com nome masculino, momento em que não contem suas emoções.

As outras integrantes se interagiram na partilha, ao passo que C trazia algo

que elas se identificavam, elas mesmas tomavam um espaço para falar.

Como visto o encontro deste dia se deu na acolhida, através de uma

escuta íntegra, de um espaço onde pode falar de suas dores, e ser ouvido; e pra

finalizar, foi explicado pra nova integrante a metodologia usada no grupo, e lhe

entregue o livro pra leitura e o questionário.

Do quarto encontro em diante, uma das três mulheres não compareceu

mais, a que viera desde o primeiro encontro, ela já havia expressado a dificuldade

de se deslocar para estar ali, onde dependia de outras pessoas, pois já era mais

velha e morava longe.

E foi no quarto encontro que foi possível iniciar a reflexão encima do livro,

ao perguntar sobre a leitura, falam que se identificaram muito com a personagem

do livro, CD assim descreve: “eu não sabia que tinha história tão parecida com a

minha”. Ainda nos seus relatos trás que ao ler o livro estava ansiosa para terminar

logo a fim de saber como o foi o fim do relacionamento do casal, e ao mesmo

tempo, se auto criticava: “enquanto eu fui lendo eu fui refletindo muito mais sobre

o meu próprio relacionamento sabe, me trouxe tantos prejuízos, que luto para

superar, minha autoestima, meu ser mulher, minha dignidade como ser humano”.

Neste encontro foram partilhadas sobre as 4 primeiras questões do

questionário, e ambas as participantes trouxeram estarem impressionadas em ver


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suas histórias ao ler o livro, ou seja, estas mulheres sofriam sozinhas, ao ter a

crença de que só ela estava vivendo aquela situação.

No quinto encontro CD não compareceu, a proposta de continuar a

reflexão com o questionário procedeu, onde foi finalizada a reflexão em cima de

todas as perguntas.

Ao falar sobre o grupo, sobre as reflexões a partir da leitura do livro, e do

grupo em si, L trás: “consegui ver meus relacionamentos anteriores, namoros e

também do meu pai, dentro de casa” (o pai de L agredia psicológico, e

fisicamente a sua mãe, ela cresceu vivenciando as agressões em casa). “Me

ajudou a ver como é comum, e que não deve ser visto como comum”. Para ela

era normal um relacionamento ter violência, pois cresceu e se desenvolveu num

ambiente de violência: “pra mim toda relação era normal ter a agressão, mas é

possível sem agressão”.

Par o ultimo encontro, foi deixado livre propositalmente, para que as

próprias mulheres sugerissem o que gostariam que falássemos neste dia, como

CD não compareceu a este encontro, e as reflexões com o livro foram finalizadas

com L que esteve presente, ela sugeriu o tema infidelidade.

O sexto encontro seria o último segundo a programação, compareceu

tanto L quanto CD, foi seguido a proposta, refletir sobre o tema infidelidade, CD

foi atualizada do encontro passado, e lhe proposto um espaço na semana

seguinte para concluir a reflexão sobre o questionário.

A pergunta geracional da reflexão foi ‘ o que é traição?” tanto C quanto L

trazem seus conceitos de forma fechada, o que é normal, assim como a maioria

das pessoas entendem pela traição/ infidelidade: uma relação a dois onde um dos
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parceiros tem uma relação com outra pessoa; partindo do conceito trazido por

elas a psicóloga explora sobre os variados fatores que envolvem a traição em

uma relação, sintoma este que vai muito além do envolvimento com uma terceira

pessoa, que está presente bem antes do aparecimento desta terceira pessoa, e

que envolve as duas pessoas da relação, enfatizando que é preciso compreender

a complexidade que envolve a infidelidade. A infidelidade começa quando não se

é justo com o outro, seja no financeiro, na vida sexual, em fim, em todas esferas

da relação a dois.

A promotora provoca um olhar mais atualizado: “é possível uma relação

aberta?” trás as variadas formas de relações existentes hoje, no intuito de ampliar

a compreensão, no quesito em que em uma relação vale tudo, desde que, esteja

de comum acordo entre os envolvidos.

A priore, o olhar e a expressão de ambas demostraram não concordarem

com a pergunta acima feita, o estranhamento ficou presente, visto nas

expressões, de seriedade, e na ausência de comentários por parte delas.

A discussão prosseguiu, e a psicóloga trilha neste tema no intuito de

ampliar a compreensão destas mulheres, nota que o estranhamento vem das

crenças de cada uma, da cultura em relação à mulher, e isto é verbalizado pra

elas.

No primeiro momento se discutiu sobre infidelidade masculina, e depois

feminina, e em contraste, os homens são mais infiéis, e ai vários fatores

envolvem, a cultura machista, o homem é estimulado desde cedo ao sexo, à

mulher nem se quer conhece seu corpo, esta não é de forma alguma estimulada a
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tocar seu corpo, pelo contrario, é um tabu, já para o homem lhe é imposto como

questão de honra provar a sua masculinidade.

Pra finalizar a psicóloga trás que, a infidelidade vista com anormalidade,

na realidade o que vemos é um fenômeno normal, considerando a complexidade

que envolve.

No decorrer das partilhas, C comenta sobre seu relacionamento passado,

e como vivia com o ex- companheiro, a união do casal era estável, e o

companheiro é quem tomava conta de suas coisas, inclusive de seu cartão de

banco; falávamos sobre a autonomia da mulher, que culturalmente delega muitas

coisas aos homens, e é necessário cuidado por não saber ate aonde a relação

vai, o que não foi diferente com C, que trazia várias dúvidas quanto aos seus

direitos quanto aos bens materiais e neste momento promotora pode orienta-la

quanto as questões jurídicas, notava-se muita inocência e assim a a promotora

pode lhe orientar.

O grupo se encerra hoje, e o último momento foi para dizerem como foi

participar do grupo. C conta que se não tivesse participado do grupo, ainda

estaria com todos os medos de antes: “o grupo tem mudado minha vida,... o

grupo está sendo uma família pra mim... se eu tivesse conhecido o grupo na

minha primeira relação eu tinha esperado mais ou ficado sozinha”. L relata: “ me

ajudou a superar e reconstruir, me deu força”.

A promotora as questiona, o que mais dificultou a participação no grupo,

pensando em tantas mulheres que foram convidadas, poucas compareceram e só

as duas permaneceram? C trás, que tinha muita dificuldade em falar sobre esse

assunto: “eu não gostava de falar, não queria nem lembrar, eu pensei em ir só pra
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ouvir, e já no segundo...” C relata que já no segundo encontro estava se sentindo

muito vontade, logo no seu primeiro contato com o grupo já sentiu abertura pra

falar de sua história, complementa que o grupo foi muito importante, que entrou

de uma forma e esta saindo de outra, “aprendi muitas coisas importantes para o

resto da minha vida”. L diz do desejo de se fechar e não falar sobre o assunto, diz

também de não saber bem do que se tratava o grupo, qual era a finalidade do

grupo, que a finalidade do grupo não ficou clara no convite que lhe foi feito, C

concordou com a falta de clareza no convite, e L também trás do medo da

exposição, de vergonha da situação em que esta vivendo, e que o primeiro

encontro é bem difícil.

Através do feedback de ambas, foi fechado com elas a possibilidade de

comparecerem ao primeiro encontro do próximo grupo para falarem de suas

experiência com o grupo, L e C reforçam quanto a clareza do convite, que com

certeza mais mulheres viram, pois elas ficaram inseguras com o convite.

Sétimo Encontro

Este encontro foi para fechar com C as últimas reflexões encima do

questionário, considerando ela não ter participado do encontro em que foi

finalizado o questionário, sendo assim L já não participa deste momento. E então

C chega com um olhar radiante, com os cabelos escovados, soltos, com uma leve

maquiagem, e mais do que isso com sorriso no rosto, carregada de vontade de

partilhar que esta conseguindo dormir, que essa semana já conseguiu dormir,

dizendo que ela mesma interrompeu a medicação para dormir, que em janeiro

tem retorno ao médico, mas que já suspendeu e conseguiu dormir: “eu dormi, isso
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é o máximo, eu to dormindo”, ela trás essa fala com um sorriso no rosto,

carregado de alegria.

Ao falar das três últimas questões, relata que o maior medo era o de não

dar conta da vida financeira, pois tem dois filhos pra sustentar, relata que o ex-

companheiro costumava dizer que ela não dava conta de se manter, medo da

cobrança social, e da própria família que não a apoiava quando falava em

separação, ela já havia se separado de outro relacionamento, e dessa forma era

julgada pela família: “não sei como cheguei até aqui, sei que foi Deus, só ele

mesmo, estava comigo o todo o tempo”.

Na partilha da penúltima questão, ressalta o desejo que só queria uma

família, que queria comer na mesa: “agente comia no quarto, meu sonho era

comer na mesa, não tinha paz nem na hora de comer”.

A última questão C não conseguiu respondeu, diz que foi como se

travasse, e ao conversarmos um pouco sobre esta ultima questão, a própria C

chegou à conclusão que nunca lhe foi dito a frase (eu te amo), por parte do

companheiro agressor.

E já finalizando C foi motivada a pensar e falar o como ela se via hoje se

não tivesse participado do grupo, então ela disse: “eu estaria no mesmo lugar,

deitada na cama, chorando e olhando pela janela sem dormir, com medo dele

aparecer, sem ação”. Outra pergunta foi o que ela estava deixando, o que

gostaria de deixar no grupo, e o que estava levando, e assim descreve: “eu nunca

imaginei que eu encontraria pessoas que pudessem ouvir sem levar nada em

troca, ouvir uma história tão insignificante, mas que pra mim foi importante,

pessoas que ouvem de graça, e aqui eu encontrei quatro pessoas disponíveis só


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pra me ouvir, fiquei maravilhada desde o primeiro dia, eu não sabia que existia

isso”. Que tudo isso estava levando com ela, que hoje já consegue falar, o que

antes não conseguia, falar sobre esse assunto com ninguém, pois só chorava, e

hoje já consegue falar com mais naturalidade, sem tantas emoções, “esse tempo

que fiquei aqui foi de muito aprendizado, hoje sou outra pessoa”.

7. DEVOLUTIVA AO CAMPO:

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS / SUGESTÕES PARA CONTINUIDADE:

O grupo foi idealizado por um conjunto de pessoas, e parcerias, incluindo a

mim, que diretamente contribuí para que ele se tornasse concreto.

......e caminhando junto estava a supervisora que não deixava de motivar,

dizendo que esta era a realidade mesmo, a adesão

9. REFERÊNCIAS: formatar

Duarte, K. R. OFICINAS EM DINÂMICA DE GRUPO COM MULHERES VÍTIM-


AS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: CONTRIBUIÇÕES METODOLÓGICA
S AOS ESTUDOS SOBREVIOLÊNCIA DE GÊNERO. OPSIS, Catalão,v.
11, n. 1, p. 111-124 - jan-jun 2011. Retirado do site
https://www.revistas .ufg.br/Opsis/article/download/14239/9510
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Ramos, M.E. Oltramari, L.C. Atividade reflexiva com mulheres que sofreram
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Silva, L.I.L., Rousseff, D. LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006. Presi-


dência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Brasília,  7  de  agosto  de 2006; 185o da Independência e 118o da
República. Retirado do site http://www.planalto.gov.br/ccivil03/ato2004-
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(Apostila: Psicologia Social III, Departamento de psicologia, Pontifícia Universidade


Catolica de Goias, Profª. Ana Candida Cardoso Cantarelli)

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Publicação eletrônica.
Ver site
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Figueirêdo, A. A. F. e Queiroz, T. N. (2012). A UTILIZAÇÃO DE RODAS DE


CONVERSA COMO METODOLOGIA QUE POSSIBILITA O DIÁLOGO. Seminário
Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis. ISSN 2179-510X.
Ver site

Meneghel, S. N. (2004). Cotidiano ritualizado: grupos de mulheres no enfrentamento à


violência de gênero. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. São Leopoldo/ RS.
Ver site – artigos sobre vcd 1...ver data tbm 2004 ou 2005????
confirmar esta data com com citação tbm

Meneghel, S. N. e Colaboradores (2000). Mulheres cuidando de mulheres: um estudo


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%C3%8ANCIA-DOM%C3%89STICA-E-FAMILIAR-CONTRA-A-MULHER-
2017.pdf

Goiânia, / Junho /2018.

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ESTAGIÁRIO (A) PROFESSOR-SUPERVISOR (A)
Assinatura Assinatura / CRP

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