Você está na página 1de 18

FACULDADE ANHANGUERA

ANA LÚCIA
RA:
GLEIDIANE SUELEN DE OLIVEIRA DA SILVA
RA: 128927216246
GRACIELE
RA:
MARIA EDUARDA
RA:
WERLANNY
RA:

ESTÁGIO BÁSICO I

Brasília - DF
2023
18 DE MAIO DIA NACIONAL DE COMBATE AO ABUSO E EXPLORAÇÃO
SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTE, VULNERABILIDADE E
DIREITOS DOS ADOLESCENTE, GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA E
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA)

Brasília - DF
2023
“Investir na saúde da população
adolescente e jovem é um custo
efetivo porque garante também a
energia, espírito criativo, inovador e
construtivo dessas pessoas, que
devem ser consideradas como um
rico potencial, capaz de influenciar
de forma positiva o desenvolvimento
do País”.

Zilda Arns
RESUMO

A ética do psicólogo em casos de violação de direitos de crianças e


adolescentes é um assunto importante e sensível. Importa que o profissional
proteja os direitos e o bem-estar da criança ou adolescente acima de qualquer
outra consideração.
Estar atento a sinais de abuso ou negligência exige que o profissional
esteja familiarizado com as leis e regulamentações aplicáveis e trabalhe em
estreita colaboração com outros profissionais, exigindo uma abordagem
cuidadosa e colaborativa em todas as etapas do processo.
Um dos temas que abrange essa violação de direitos é a violência
sexual, sendo considerada um grande problema que afeta milhões de crianças
e adolescentes no mundo todo. De acordo com dados de organizações
nacionais e internacionais, nosso país ocupa um lugar de destaque com
aumento de vítimas a cada ano.
Nesse contexto, o papel do psicólogo é fundamental para prevenir,
identificar e tratar os casos de violência sexual infantil. É importante que o
profissional tenha uma escuta qualificada e acolhedora, que permita à criança
ou adolescente se sentir segura para relatar a situação.
A observação e a atenção às necessidades específicas de cada caso
fazem com que o psicólogo tenha o compromisso de fornecer informações
claras e precisas sobre procedimentos e consequências de denúncias, além de
estabelecer uma rede de proteção à criança e ao adolescente.

Palavras-Chaves: Abuso sexual, ética, rede de proteção.


1 INTRODUÇÃO

“Dezoito de maio é o Dia Nacional


de Combate ao Abuso e à
Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes. A data foi escolhida
para marcar o caso de Araceli
Crespo, que em 1973, aos 8 anos de
idade, foi sequestrada na saída da
escola e por dois dias foi espancada,
drogada e estuprada, antes de ser
assassinada”

Desde a colonização do Brasil até os dias atuais, crianças e


adolescentes vivenciam experiências de violência, exclusão, abuso sexual e
maus-tratos. Esse processo de violação teve seu início em Portugal, *( alguma
outra referência bibliográfica?) quando crianças e adolescentes entre 9 a 16
anos foram recrutadas de orfanatos ou até mesmo, raptadas para um trabalho
de exploração. (RAMOS, 2002)
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, nosso país
ocupa o segundo lugar no ranking mundial de exploração sexual de crianças e
jovens, com cerca de meio milhão de vítimas a cada ano. Quase 20% das
denúncias de agressões contra crianças envolvem violência sexual e a maioria
é cometida por conhecidos ou familiares.
O dia 18 de maio foi escolhido pois remonta um triste episódio ocorrido
em 1973 na cidade de Vitória, no Espírito Santo. Onde a menina Araceli
Cabrera Sánchez Crespo, de 8 anos, foi sequestrada, drogada, violentada e
brutalmente assassinada, sendo encontrada carbonizada seis dias depois do
sequestro, em uma região de mata próxima a cidade. Embora os autores nunca
tenham sido punidos, o caso teve grande repercussão, evidenciando a
necessidade de se combater a violência sexual contra crianças e adolescentes,
criando diversas campanhas e iniciativas para conscientização da sociedade
sobre a importância de proteger e garantir os direitos das crianças e
adolescentes.
As crianças são as principais vítimas da violência. Elas vivenciam mais
situações de vitimização do que outros segmentos da população, isso inclui
estupros, exposição à violência doméstica, abusos físicos entre outros.
(TUCKER, 2015).
O abuso sexual cometido contra crianças e adolescentes é amplamente
reconhecido como uma questão de interesse público, uma vez que é bastante
comum e pode ter efeitos duradouros e imediatos na vida das vítimas e de
suas famílias. (WHO, 2017).
Ao longo da história, a violência sexual tem sido mais frequentemente
direcionada a meninas e mulheres em todo o mundo, embora meninos também
tenham sido vítimas. De acordo com o Código Penal, o crime de estupro é
definido como a prática de atos sexuais ou libidinosos sem o consentimento da
vítima, seja por meio de violência ou ameaça grave. Devido à sua gravidade, o
estupro é considerado um dos crimes mais brutais previstos no código penal e
é classificado como um crime hediondo. É importante destacar que a vítima
pode ser considerada incapaz de resistir devido à agressão física real ou
presumida
O abuso sexual que ocorre dentro do ambiente familiar é o mais comum,
em comparação ao abuso cometido por indivíduos que não possuem vínculos
próximos com a vítima. Estudos realizados no Brasil identificaram que os
principais agressores são pais, padrastos e tios. (HABIGZANG; RAMOS;
KOLLER, 2011).
O abuso sexual pode acarretar graves e variadas consequências, sendo
considerado um fator desencadeante de psicopatologias graves e de prejuízos
ao desenvolvimento psicológico, social e afetivo da vítima. Esses efeitos
podem ser percebidos em diferentes momentos da vida, tanto imediatamente
após o abuso, quanto a médio ou longo prazo. A extrema violência associada a
esse tipo de violência, aliada à vulnerabilidade da vítima em termos de
desenvolvimento, torna o abuso sexual potencialmente traumático.
(FLORENTINO, 2015).
O Anuário de Segurança Pública relata que o crime que possui dados
mais relevantes é o estupro de vulnerável, sendo notável que ainda exista uma
certa incompreensão em relação à importância de separarmos os registros de
estupro de vulneráveis dos demais crimes. Entre os 66.020 boletins de
ocorrência examinados, constatou-se que 6.874 foram registrados somente
como estupro, mesmo as vítimas sendo menores de 13 anos. É fundamental
que as pessoas e instituições entendam a importância de identificar se a vítima
é uma mulher ou uma menina, já que a construção de estratégias de combate
a essa violência é completamente diferente em cada situação. Quando fica
evidente que a maioria das vítimas de violência sexual são crianças e
adolescentes, precisamos pensar em políticas de prevenção, não somente de
repressão.
Quanto ao perfil do criminoso, este continua o mesmo: homem (95,4%) e
conhecido da vítima (82,5%), sendo que 40,8% eram pais ou padrastos; 37,2%
irmãos, primos ou outro parente e 8,7% avós. Relação entre vítima e autor
(82,5% conhecido) e (17,5 Desconhecido).
É comum que os estupros de vulneráveis ocorram no ambiente familiar,
sendo que 76,5% deles acontecem dentro de casa. Nesse contexto, a escola
pode se tornar uma importante aliada na prevenção e combate a esse tipo de
violência, já que pode contribuir na identificação e denúncia de casos de abuso,
além de conscientizar as crianças sobre o assunto para prevenir futuros casos.
Apesar de não se saber ao certo quantas denúncias de violência sexual
chegam por meio da escola, é relevante explorar essa possibilidade. É válido
lembrar que somente 1% dos casos registrados ocorreram em instituições de
ensino. (Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social;
Observatório de Análise Criminal / NAT / MPAC; Coordenadoria de
Informações Estatísticas e Análises Criminais - COINE/RN; Instituto de
Segurança Pública/RJ (ISP); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE); Fórum Brasileiro de Segurança Pública).
Embora exista falta de informações precisas e registros subnotificados
em relação à violência sexual sofrida por meninas no Brasil, é importante
destacar que a preocupante estatística de mais de 4 casos de estupro de
meninas com menos de 13 anos por hora é verídica. É fundamental que a
sociedade tenha discussões diárias sobre essa violência estrutural e a inclua
em sua agenda. Como adultos, precisamos romper o silêncio e discutir
abertamente sobre esse tema, pois somente assim podemos aumentar a
conscientização e pressionar pela criação de políticas públicas que possam
mudar essa realidade. (Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022).
2 JUSTIFICATIVA

A necessidade de conscientizar a sociedade sobre a violência sexual


contra crianças e adolescentes, especialmente no Brasil, onde a incidência
desses crimes é alta e muitos casos não são denunciados ou investigados
adequadamente. A divulgação de informações sobre as consequências do
abuso sexual e as medidas preventivas e de combate a essa forma de
violência pode estimular a discussão pública e pressionar as autoridades a
adotarem políticas públicas efetivas para proteger a infância e adolescência.
Do ponto de vista científico, a importância do papel do psicólogo na
prevenção, identificação e tratamento dos casos de violência sexual infantil. O
estudo da conduta do psicólogo nesse contexto é crucial para aprimorar as
práticas clínicas e orientar os profissionais que trabalham nessa área. Além
disso, a pesquisa científica pode contribuir para a compreensão dos fatores de
risco e das consequências do abuso sexual infantil, o que pode subsidiar o
desenvolvimento de políticas públicas mais efetivas e programas de prevenção
e tratamento mais adequados.
3 OBJETIVOS

Abordar a problemática da violência sexual contra crianças e


adolescentes no Brasil, bem como a necessidade de conscientização da
sociedade e adoção de políticas públicas efetivas para prevenção e combate a
essa forma de violência. Destacar a importância do papel do psicólogo na
prevenção, identificação e tratamento dos casos de violência sexual infantil,
bem como apresentar a relevância das pesquisas científicas nesse campo para
aprimorar as práticas clínicas e contribuir para o desenvolvimento de políticas
públicas mais efetivas.
.

3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Destacar a importância da conscientização da sociedade sobre a


violência sexual infantil e apresentar informações relevantes sobre as
consequências desse tipo de abuso, as características dos agressores e os
locais onde esses crimes são mais frequentes, com o objetivo de elevar a
conscientização e pressionar por políticas públicas efetivas para proteger as
crianças e adolescentes.
Analisar o papel do psicólogo na prevenção, identificação e tratamento
dos casos de violência sexual infantil, abordando aspectos como a conduta
adequada do profissional em relação às vítimas e suas famílias, as práticas
clínicas e orientações legais necessárias para lidar com esses casos, e como a
pesquisa científica pode contribuir para aprimorar a atuação dos psicólogos
nessa área.
4 MÉTODO

Foi realizada uma pesquisa bibliográfica abrangente, que envolveu


artigos científicos, livros, relatórios e outros materiais relevantes para identificar
as principais teorias e pesquisas relacionadas ao abuso sexual de crianças e
adolescentes, além da importância da conscientização da sociedade e do papel
do psicólogo na prevenção, identificação e tratamento desses casos.
Adicionalmente, foram examinados dados estatísticos apresentados pelas
instituições governamentais e fontes pertinentes disponível. Para ampliar ainda
mais nosso entendimento, nos reunimos com profissionais referência no
assunto, a fim de aprofundar a compreensão da conduta do psicólogo em
relação à prevenção, identificação e tratamento dos casos de violência sexual,
para conhecer melhor suas experiências e necessidades nesse sentido.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Discutir a violência intrafamiliar, especialmente contra crianças,


adolescentes e mulheres, é fundamental para enfrentar um grave problema
social no Brasil. O abuso sexual infantil é uma das formas mais graves dessa
violência, que muitas vezes é praticado sem o uso de força física e pode ter
várias formas. As pesquisas indicam que os agressores são geralmente
homens e as vítimas são mulheres, mas meninos também podem ser vítimas.
(Azevedo & Guerra, 1988; Cohen, 1993; Saffioti, 1997)
O abuso sexual infantil é um problema complexo que afeta não só a
criança, mas também a família e os profissionais envolvidos. É difícil para a
criança e para a família denunciar o abuso, o que exige uma abordagem
multidisciplinar que integre ações punitivas, protetoras e terapêuticas. Além
disso, as consequências psicológicas do abuso sexual infantil estão
relacionadas a diversos fatores, como a idade da criança, a duração do abuso,
as condições em que ocorre e o relacionamento com o agressor.
Realizou-se uma visita institucional na Unidade do CREAS (Centro de
referência especializado em Assistência Social) na cidade satélite de Ceilândia,
para identificar as propostas de atendimento às vítimas de violência sexual. Na
ocasião foi mostrada a 1º Ludoteca inaugurada no Distrito Federal, uma
parceria com o laboratório Sabin, inaugurada em 27/09/2011 para acolhimento
e ressignificação da violência sexual sofrida pelas crianças e adolescentes,
onde a equipe institucional promove um trabalho articulado de fortalecimento
de vínculos familiares e comunitários.
Por ocasião da visita a Psicóloga gestora da Unidade ressaltou como é
feito esse trabalho. “Existe um olhar técnico em relação ao atendimento dentro
da assistência social, o psicólogo não está voltado para a psicoterapia, a
estratégia de intervenção não é imposta e o profissional tem autonomia para
desenvolver seu trabalho”.
Observou-se que dentro da política pública de referência para esses
casos de violação de direitos existe um fluxo a ser seguido que é obrigatório,
porém todas as estratégias são traçadas no setor de acordo com o dilema ético
de cada demanda.
Enquanto gestor o psicólogo é responsável por trabalhar estratégias de
orientação para as demandas reprimidas e que serão pensadas para o coletivo
e discutidas entre os demais órgãos como CREAS, CRAS, PAV e Conselhos
Tutelares da região. Ficou evidente que o papel do profissional de psicologia
dentro desse sistema não é investigativo e sim de proteção à família, atuando
na sensibilização do que é a violência, orientando, acolhendo e encaminhando
às redes de apoio e articulação
Oferecer atendimento à família, vítimas e agressores é crucial para
minimizar os danos causados pelo abuso e suas consequências. A integração
de ações punitivas, protetoras e terapêuticas é essencial para proteger a
criança e promover sua recuperação física e psicológica, bem como a de sua
família. É necessário abordar o abuso sexual infantil como uma violação dos
direitos humanos e um problema social grave, que exige uma abordagem
integrada e multidisciplinar para proteger as vítimas e prevenir sua ocorrência.
Este estudo aborda um tipo particular de violência doméstica, mais
precisamente o abuso sexual infantil cometido por parentes próximos dentro do
ambiente familiar, conforme aponta pesquisa realizada por Saffioti (1997).
Baseia-se em reflexões originadas de experiências de supervisão e assistência
a famílias encaminhadas para tratamento psicológico após denúncia ou
suspeita de abuso sexual infantil.
Um aspecto particularmente complexo do abuso sexual infantil é a
violência intrafamiliar, que ocorre quando os pais usam seu poder para fins de
domínio e exploração. Quando o abuso sexual é cometido pelo pai biológico, a
situação se torna ainda mais difícil e delicada, pois há uma situação incestuosa
em jogo, (Lévi-Strauss, 1976). Isso pode resultar em conflitos emocionais e
sentimentos confusos para a criança e a mãe.
Além disso, a mãe pode negar os indícios de abuso e culpar a criança
pela sedução, o que agrava ainda mais a situação. Essa negação pode ter
raízes em questões culturais e psicológicas complexas e pode tornar mais
difícil para as equipes de saúde e as varas da família agir para proteger a
criança e fornecer o atendimento adequado.
Em resumo, o atendimento aos casos de abuso sexual infantil apresenta
desafios significativos para as equipes de saúde e para as varas da família. É
essencial que haja treinamento adequado e recursos institucionais disponíveis
para lidar com esses casos e que sejam tomadas medidas para ajudar a
proteger as crianças vulneráveis e fornecer o atendimento necessário.
O abuso sexual infantil intrafamiliar é uma situação grave que pode ter
consequências traumáticas na vida da criança ou adolescente vitimado. É
importante lembrar que a intervenção não deve se restringir apenas à criança,
mas envolver toda a família. A terapia do grupo familiar é uma abordagem
terapêutica adequada para esses casos, pois busca criar um espaço de
reflexão e acolhimento para que a família possa pensar sobre o problema e
buscar soluções criativas para resolver o conflito. Essa abordagem implica
redefinir papéis e funções, romper a cumplicidade silenciosa e restabelecer a
comunicação entre os membros da família. A proposta é trabalhar o grupo
familiar no enfoque operativo, como propõe Pichon-Rivière (1994), para
possibilitar uma contenção da ansiedade e desbloqueio da espontaneidade
para que o grupo possa se adaptar ativamente à realidade. É necessário
conscientizar todos os membros da família sobre a gravidade do problema e
que todos têm responsabilidade em solucioná-lo. Dessa forma, a terapia do
grupo familiar pode ser uma forma efetiva de intervenção nos casos de abuso
sexual infantil intrafamiliar.

“um grupo obtém uma adaptação


ativa à realidade quando adquire
insight, quando se torna consciente
de certos aspectos de sua estrutura
e dinâmica, quando cada sujeito
conhece e desempenha seu papel
específico e o grupo se abre a
comunicação e ao processo de
aprendizagem e interação com o
meio”
(Pichon Riviére, 1994, p.53).

O atendimento familiar proposto visa enfrentar o desafio ético que


envolve o abuso sexual intrafamiliar, expondo a cumplicidade inconsciente e o
funcionamento incestuoso dos membros da família. Esse processo mobiliza
sentimentos ambivalentes, como amor e ódio, proteção e rejeição, negação e
enfrentamento da realidade, e pode ser emocionalmente desafiador para todos
os envolvidos, inclusive o terapeuta, que precisa estar atento às suas próprias
defesas e resistências. Embora o objetivo não seja investigar a veracidade da
denúncia, a existência de uma suspeita ou denúncia de abuso sexual infantil
pode exigir intervenção para desestabilizar a família. O terapeuta pode explorar
conceitos como violência e abuso sexual infantil ou discutir papéis e relações
familiares para começar o trabalho, mas é fundamental que a família assuma a
demanda pela terapia. A falta de confirmação da denúncia pode dificultar o
processo, mas o terapeuta deve ser hábil para lidar com a resistência da
família, principalmente do agressor, e transformar a indicação da terapia
familiar em uma demanda da própria família.
Em determinados momentos, surgem situações inéditas que trazem à
tona dilemas éticos, evidenciando um bom desenvolvimento cognitivo de
linguagem e habilidades. Essas situações nos fazem refletir sobre nossas
ações e comportamentos em relação a elas. O ineditismo das relações é o que
nos surpreende, gera impacto e emociona, levando-nos a questionar nossos
valores pessoais e profissionais. Nossos valores pessoais são moldados pelas
crenças e costumes que aprendemos ao longo da vida, e influenciam nossas
escolhas e decisões. Por isso, é importante que reflitamos juntos sobre a
diversidade das práticas em psicologia, seja na comunidade, em clínicas ou em
pesquisas, buscando fundamentar melhor nossas ações em seus contextos de
referência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o que foi apresentado, é possível destacar a importância


do atendimento adequado e sensível às vítimas de abuso sexual infantil
intrafamiliar, assim como o papel fundamental da terapia familiar como uma
forma efetiva de intervenção nesses casos.
A violência intrafamiliar e o abuso sexual cometido pelos pais biológicos
apresentam desafios significativos para as equipes de saúde e as varas da
família. A negação do abuso pela mãe e a culpa atribuída à criança podem
tornar mais difícil para as equipes de saúde e as varas da família agir para
proteger a criança e fornecer o atendimento adequado.
Por outro lado, a terapia do grupo familiar pode ser uma abordagem
terapêutica adequada para esses casos, pois busca criar um espaço de
reflexão e acolhimento para que a família possa pensar sobre o problema e
buscar soluções criativas para resolver o conflito. Essa abordagem implica
redefinir papéis e funções, romper a cumplicidade silenciosa e restabelecer a
comunicação entre os membros da família.
No entanto, o processo de terapia familiar pode ser emocionalmente
desafiador para todos os envolvidos, inclusive o terapeuta, que precisa estar
atento às suas próprias defesas e resistências. Além disso, o terapeuta precisa
ser hábil para lidar com a resistência da família, principalmente do agressor, e
transformar a indicação da terapia familiar em uma demanda da própria família.
Portanto, é fundamental que haja treinamento adequado e recursos
institucionais disponíveis para lidar com esses casos e que sejam tomadas
medidas para ajudar a proteger as crianças vulneráveis e fornecer o
atendimento necessário. É importante lembrar que a intervenção não deve se
restringir apenas à criança, mas envolver toda a família. O trabalho em equipe
entre profissionais de saúde e terapeutas familiares pode ser uma forma efetiva
de intervenção nos casos de abuso sexual infantil intrafamiliar.
É fundamental garantir que esses indivíduos possam crescer e se
desenvolver em um ambiente seguro e saudável, tendo seus direitos
fundamentais preservados e respeitados.
Ao proteger as crianças e adolescentes de abusos e gravidez precoce,
estamos contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e
igualitária, na qual esses jovens possam crescer com dignidade e respeito,
tendo suas vozes ouvidas e seus direitos preservados.
REFERÊNCIAS

Amorim, K. O., & Fernandes, M. H. (2011). Abuso sexual na infância: a


visão dos psicólogos sobre o dilema ético do sigilo e a denúncia. In M. A.
Schettini & C. A. C. M. Alchieri (Eds.), Psicologia Jurídica no Brasil:
perspectivas e desafios (pp. 186-204). Casa do Psicólogo.
Avoglia, H. R. C., Garcia, V. P., & Frizon, V. C. Violência sexual: as
marcas na representação da imagem corporal da criança vitimizada. Boletim de
psicologia. Vol 65 (142), p. 29-43, 2015.
Azevedo, M.A. & Guerra, V.N. (1989). Crianças Vitimizadas: A síndrome
do pequeno poder. São Paulo: Iglu Editora.
Bastos, J. A. Saúde mental e trabalho: metassíntese da produção
acadêmica no contexto da pós-graduação brasileira. Dissertação. Universidade
Federal de Alagoas, 2015.
Brasil. Lei nº 13.798, de 3 de janeiro de 2019. Institui o “Dia Nacional de
Prevenção da Gravidez na Adolescência”. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
4 jan. 2019.
Cohen, C. (1993). O incesto. Em M.A. Azevedo & V.N. Guerra (Orgs.),
Infância e Violência Doméstica: fronteiras do conhecimento (pp. 211-225). São
Paulo: Cortez.
Furniss, T. (1993). Abuso sexual da criança: Uma abordagem
multidisciplinar. (M.A.V. Veronese, Trad.) Porto Alegre: Artes Médicas.
(Trabalho original publicado em 1991).
Instituto Sou da Paz. (2021). Anuário Brasileiro de Segurança Pública
2022.
Justiça de São Paulo. (s.d.). Gravidez na adolescência e agora? Seus
direitos. Recuperado em 30 de março de 2023.
Lèvi-Strauss, C. (1976). As estruturas elementares do parentesco. (M
Ferreira, Trad.) Petrópolis: Vozes. (Trabalho original publicado em 1967).
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH). (2021).
O Estatuto da Criança e do Adolescente. Recuperado em 30 de março de 2023
Ministério Público Federal. Turminha do MPF - Direitos das Crianças. 18
de maio: Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de
Crianças e Adolescentes.
Oliveira, A. B. de, & Correa, H. F. (2019). A ética do psicólogo: desafios
e possibilidades na prática clínica. Appris Editora e Livraria Eireli.
Pichon-Riviére, E. (1994). O processo grupal. (M.A.F. Velloso, Trad.)
São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1980).
Saffioti, H.I.B. (1997). No Fio da Navalha: Violência Contra Crianças e
Adolescentes no Brasil Atual. In F.R. Madeira (Ed.), Quem Mandou Nascer
Mulher? (pp. 134-211). São Paulo: Editora Rosa dos Tempos.
SANTOS, Juliana Gonçalves dos; MENDES, Adriana da Silva.
Desenvolvimento profissional docente: conceitos e pesquisas. Paideia
(Ribeirão Preto), v. 30, n. 75, p. 273-281, 2020.

Você também pode gostar