Você está na página 1de 22

FACULDADE IGUAÇU

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CULTURA LTDA - IECC

GLEIDIANE SUELEN DE OLIVEIRA DA SILVA

NEUROCIÊNCIA E SUAS RELAÇÕES COM A DEPRESSÃO E SUICÍDIO

Brasília - DF
2023
GLEIDIANE SUELEN DE OLIVEIRA DA SILVA

NEUROCIÊNCIA E SUAS RELAÇÕES COM A DEPRESSÃO E SUICÍDIO

Artigo Científico apresentado à


Faculdade Iguaçu, como parte das
exigências para a obtenção do título de
pós-graduação em Neurociência.

Brasília - DF
2023
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu Mestre por sua bondade em me abençoar com sabedoria e


discernimento no estudo da ciência, e por todos os dons que têm me entregado,
sinto-me honrada por essa tarefa que é poder contribuir com o estudo científico. Me
aprofundar no ensino da Neurociência é mais que um objetivo, é um propósito,
agradeço a oportunidade de ter acesso a esse maravilhoso campo de conhecimento,
e poder contribuir para que diferentes olhares o acessem também. Meu muito
obrigada a todos que fazem parte dessa caminhada, seja orientando, apoiando e
contribuindo.
“Segundo a neurociência; o cérebro não
distingue a realidade da ficção. Talvez
este seja o principal fator para a
humanidade ser tão suscetível à
manipulação e facilmente enganada”.
Oséias Gulart
SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................6

1 Introdução.....................................................................................................7

1.1 Neurociência Cognitiva..........................................................................9

1.2 Sistema Nervoso..................................................................................10

1.3 Cérebro - Córtex cerebral....................................................................10

1.4 Plasticidade..........................................................................................11

1.5 Depressão............................................................................................12

1.6 Aspectos neuropsicológicos da depressão.........................................14

1.7 Suicídio................................................................................................15

1.8 A neurociência da depressão e do suicídio.........................................16

2 Conclusão...................................................................................................18

Referências.......................................................................................................20
RESUMO

A neurociência é um campo interdisciplinar de investigação que se dedica ao


estudo do sistema nervoso central, buscando a compreensão da base biológica da
consciência e dos processos mentais pelos quais percebemos, agimos, aprendemos
e lembramos. Defende que as ações cerebrais são subjacentes a todo
comportamento. A fim de dialogar neste âmbito do comportamento, este trabalho
propõe discutir as relações associadas da depressão e suicídio, os processos
mentais, as internalizações e suas respostas. Realizou-se uma revisão bibliográfica
acerca dos principais campos de estudos, sobre a neurociência, a depressão e o
suicídio e suas principais conexões. Constatou-se a relação entre a mente e a
realidade, o sistema de recompensa de motivação com o intuito de mostrar que as
práticas desenvolvidas são capazes de ativar o sistema nervoso central e gerar
novas conexões sinápticas. Por essas e várias características que a Neurociência
tem sido especial e de grande utilidade para várias investigações de diferentes
campos científicos, com marcantes contribuições para ciência.

Palavras-Chaves: neurociência; cérebro; depressão; suicídio. sinápticas, bem como


a forma que enviamos estímulos ao nosso cérebro. Por essas e várias
características que a Neurociência tem sido especial e de grande utilidade para
várias investigações de diferentes campos científicos, com marcantes contribuições
para ciência.
1 INTRODUÇÃO

“Não muito tempo atrás, cientistas acreditavam que o cérebro era uma
máquina rígida e fixa, rotulando-o a partir desse conhecimento como incurável e
prejudicado. Eles acreditavam que os danos sofridos não poderiam ser revertidos. A
sabedoria dessa época passada tratava algumas condições como traumas,
depressões, Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), dificuldades de
aprendizagem e até mesmo o envelhecimento como muitas vezes irreversíveis”.
(LEAF, 2018)
A neurociência é um campo interdisciplinar de investigação dedicada ao
estudo do sistema nervoso, com a finalidade de compreender a base biológica da
consciência e dos processos mentais. “De acordo com Teixeira (2022), o homem
deve saber que, de nenhum outro lugar, se não do cérebro vem a alegria, o prazer, o
riso, a tristeza, pessimismo, e que, de uma maneira especial, adquirimos sabedoria
e conhecimento e, pelo mesmo órgão, nos tornamos loucos e delirantes, sentimos o
medo que nos assola”.
“Estudos recentes indicam que o cérebro está longe de ficar fixo na toxidade e
que é possível alcançar bons níveis de saúde mental com esforços conscientes.
Além disso, é possível prevenir doenças mentais e melhorar a qualidade de vida”.
(LEAF, 2018).
O comportamento humano tem sido um dos assuntos mais estudados pela
neurociência, e as várias interpretações que encontramos tornam-se certamente
interessante para a compreensão dos processos mentais e sua influência sobre as
ações, emoções e sentimentos. Como afirmou Leaf (2018) nosso cérebro é
neuroplástico, ou seja, pode mudar e se regenerar. Enquanto pensamos, nós
mudamos a natureza física do nosso cérebro, e a plasticidade sináptica é uma
resposta de adaptação do nosso sistema nervoso aos estímulos que percebemos. A
maioria dos sistemas que compõe o cérebro são plásticos. Assim as sinapses
envolvidas são alteradas por estímulos percebidos e novas redes de pensamento
crescem, nos trazendo a compreensão de que o cérebro é o que a mente faz.
(LeDOUX 2002).
O debate da ciência está entre a mente ser o que o cérebro faz versus o
cérebro obedecer ao comando da mente. A Neurocientista Dra. Caroline Leaf, em
seu livro “Ative seu cérebro”, traz que nossa mente está estruturada para controlar
nosso corpo, do qual o cérebro faz parte, e mostra que 75 a 98% das doenças
comportamentais, físicas e mentais tem origem na vida mental da pessoa (LEAF,
2018 p.35).
A neurociência do comportamento busca compreender as bases biológicas da
consciência, juntamente com os processos mentais, visto que é por eles que
ocorrem nossas ações. Isso traz implicações sobre os aspectos motores e
psicológicos, bem como sobre ações complexas do corpo. Agregando a esse estudo
as áreas que envolve o sistema nervoso e que controlam todos os nossos
comportamentos, sejam voluntários ou não. Tendo em vista que o comportamento
humano pode ser estudado por meio da sua base biológica, os adoecimentos
psíquicos e os processos de formação de transtornos mentais podem ser
identificados e tratados, desmitificando grande parte da vulnerabilidade mental,
social, orgânica e biológica (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 1997).
A depressão é uma condição que não apenas impacta o humor, mas também
tem efeitos em vários aspectos do nosso sistema biológico. De fato, ela é agora
classificada como uma doença cerebral, e exames tem evidenciado que, na
depressão o cérebro funciona de maneira alterada em indivíduos que sofrem de
depressão, apresentando diferenças físicas em comparação com aqueles que não
são afetados pela doença (CHARNEY, 2004).
Podemos encontrar na literatura informações que mostram que a presença de
pensamentos negativos pode desencadear o estresse, bem como prejudicar as
habilidades de regeneração natural do corpo, pois uma mentalidade tóxica provoca
desgaste no cérebro. Encontramos também informações que a associação entre
suicídio e transtornos mentais tem níveis elevados, existindo uma relação estreita
entre quadros psicopatológicos e o suicídio, elevando essa prevalência quando
associada a depressão (BARBOSA, et al 2011).
Busco através dessa revisão demonstrar que grandes transformações e um
comportamento visivelmente alterado, instável, inquietante ou até mesmo apáticos e
conflitante, requer estudo e observação. Pretendo nesse trabalho associar as
interações entre a depressão e o suicídio e como a neurociência vem atuando nesse
papel de extrema relevância e contribuição para a ciência. Para alcançar esse
objetivo recorro a pesquisas bibliográficas, aos principais autores do campo e as
descobertas valiosíssimas da neurociência. (PUBMED, MEDLINE, SCOPUS E
SCIELO).
1.1 Neurociência Cognitiva

Para compreender o comportamento humano, é necessário recorrer a


diversas ciências complementares, pois as propriedades dos processos mentais são
complexas e exigem um estudo amplo de diferentes disciplinas. A tarefa da ciência
neural é a de fornecer explicações do comportamento em termos de atividade
cerebral, de explicar como milhões de células neurais individuais, no cérebro, atuam
para produzir o comportamento e como por sua vez, elas são influenciadas pelo
ambiente e também pelo comportamento de outras pessoas. (KANDEL;
SCHWARTZ; JESSELL, 1997).
Entender sobre o desenvolvimento de habilidades mentais é fundamental
para compreender a organização e o funcionamento da mente humana é uma
análise minuciosa. Uma abordagem comum em neurociência é correlacionar a
maturação de funções cognitiva específicas com um estágio particular do
desenvolvimento neural, não apenas dos comportamentos motores simples, como
andar e comer, mas a todas as complexas ações cognitivas que associamos ao
comportamento humano (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002).
A neurociência segue seu trabalho em revelar essas complexidades e
especializações, nos estudos experimentais da neurociência cognitiva, cada nível de
função do cérebro é acessado por uma metodologia diferente, encontrando-se
possíveis correlações quando os resultados são comparados, tornando as
explicações causais de cognição em termos de processos cerebrais possíveis e
cientificamente desejáveis (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 1997).
O avanço do conhecimento da fisiologia cerebral tem trazido mudanças
significativas e fornecido explicações científicas para diversos fenômenos e
processos cognitivos. A pesquisa em neurociência tem permitido uma melhor
compreensão do desenvolvimento de habilidades mentais, da organização e do
funcionamento da mente humana. A neurociência cognitiva tem contribuído para
uma melhor compreensão do desenvolvimento cerebral em diferentes etapas da
vida, e tem sido utilizada para investigar bases neurais do pensamento abstrato, da
percepção, atenção, memória, utilizando métodos como a neuroimagem, permitindo
assim direcionar de forma mais precisa os tratamentos e terapias. (KANDEL;
SCHWARTZ; JESSELL, 1997).
1.2 Sistema Nervoso

O sistema nervoso é único em relação à vasta complexidade dos processos


cognitivos e das ações de controle que pode executar, o mesmo contém mais de
100 bilhões de neurônios, uma das mais importantes funções do sistema nervoso é
a de processar a informação aferente, de modo que sejam efetuadas respostas
mentais e motoras apropriadas. Mais de 99% de toda a informação sensorial é
descartada pelo cérebro como irrelevante e sem importância, apenas pequena
fração das informações sensoriais, mesmo considerando as mais relevantes,
provoca normalmente respostas motora imediata. No entanto, a maior parte dessas
informações é armazenada para o controle futuro das atividades motoras e para uso
nos processos cognitivos (GUYTON, 1997).
O controle do organismo é amplamente governado pelo sistema nervoso e
pelo sistema endócrino. O cérebro humano está constantemente envolvido em um
intrincado intercâmbio de impulsos nervosos em múltiplas direções, evidenciando a
notável complexidade desse sistema (JOHNSON, 2000).
As emoções dos seres humanos são facilmente influenciadas por
acontecimentos da vida, podendo oscilar entre a tristeza e a felicidade. Essas
flutuações diárias em nosso humor são consideradas normais e universais. No
entanto, em algumas pessoas, essas mudanças podem se tornar excessivamente
intensas ou prolongadas, afetando significativamente sua vida cotidiana. Na
depressão, há uma diminuição na quantidade de neurotransmissores liberados.
(JOHNSON, 2000).

1.3 Cérebro - Córtex cerebral

O cérebro é um órgão exclusivo e crucial para o funcionamento do corpo


humano. Ele é responsável por diversas funções essenciais, como a inteligência, a
linguagem e a consciência, além de ser responsável pelo controle de diversas
atividades que garantem a nossa existência. De todas as partes que conhecemos do
cérebro a que menos sabemos sobre as funções é o córtex cerebral, apesar de este
ser, de longe, a maior porção do sistema nervoso. A parte funcional do córtex
cerebral é a delgada camada de neurônios que cobre a superfície de todas as
circunvoluções do cérebro. Trata-se de uma das partes mais importantes do sistema
nervoso, nele chegam os impulsos provenientes de todas as vias da sensibilidade e
são interpretadas, saem também os impulsos nervosos e também tem relação com
os fenômenos psíquicos. (SINGI, 1996).
Nosso problema mais difícil a discutir a consciência, os pensamentos, a
memória e a aprendizagem, é que não conhecemos os mecanismos neurais do
pensamento e sabemos pouco sobre os mecanismos da memória. Sabemos que a
destruição de grandes porções do córtex cerebral não impede a pessoa de ter
pensamentos, mas reduz sim a profundidade dos pensamentos e, também, o grau
de consciência do ambiente. (LEAF, 2018).

1.4 Plasticidade

Compreender como a mente humana é organizada e funciona requer uma


compreensão do desenvolvimento de habilidades mentais. A neurociência
frequentemente associa a maturação de funções cognitivas específicas a estágios
particulares do desenvolvimento neural. (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 1997).
Os pesquisadores estão descobrindo os mecanismos pelos quais mudanças
na nossa consciência pode afetar nossos corpos e cérebros. Nossa capacidade
consciente ativa nossos genes e modifica nossa estrutura cerebral, e nossos
pensamentos, escolhas e reações moldam nossa “arquitetura cerebral”. (LEAF,
2018.).
A plasticidade neuronal é a capacidade do sistema nervoso de se adaptar a
estímulos ambientais, levando a mudanças estruturais e funcionais. Esse processo é
especialmente notável durante o desenvolvimento e também pode ser observado em
casos de regeneração neural. A aprendizagem e a memória também podem estar
relacionadas a processos semelhantes de organização e conexão. (DeGROOT,
1994).
“A plasticidade sináptica refere-se à habilidade do sistema nervoso de
adaptar-se a estímulos ambientais, ocasionando mudanças nas sinapses
responsáveis pela percepção sensorial. Essa propriedade foi definida há mais de
100 anos pelo fisiologista Charles Sherrigton e é fundamental para o
desenvolvimento e as funções cerebrais”. (SHERRINGTON, 1906).
A plasticidade neuronal se refere a capacidade do sistema nervoso de
modificar suas propriedades estruturais e funcionais em resposta às mudanças
ambientais. Esse processo promove alterações plásticas no sistema nervoso central,
otimizando a expressão genética. É relevante destacar que o estado emocional tem
influência direta nesse processo, com dois estados emocionais em particular sendo
especialmente relevantes: Motivação e depressão.
Entendemos que a motivação é o procedimento que incita o indivíduo a tomar
medidas, abrangendo o desejo, a vontade e o interesse em atuar. É crucial que o ser
humano esteja disposto a manter-se motivado. Em contrapartida, a depressão é um
conjunto de sintomas clínicos que envolvem mudanças físicas e psicossociais, que
podem se manifestar em um quadro clínico. (LEAF, 2017).

1.5 Depressão

Os estados mentais de depressão, dor e angústia são comuns e familiares


para a maioria das pessoas, ao ponto de questionar sua inclusão nas categorias de
transtornos psicopatológicos. No entanto, esses estados estão intimamente ligados
ao que é essencialmente humano e profundo, ou seja, àquilo que nos faz
reconhecer como seres humanos. (DELOUYA, 2000).
Segundo relatos históricos, a depressão, conhecida como “melancolia”, foi
descrita pelos antigos. Hipócrates, no século IV a.C, realizou a primeira descrição
clínica da “melancolia”, evidenciando oscilações semelhantes à mania e a
depressão. Já no Século II d.C, Arataeus descreveu pacientes melancólicos como
triste, consternados e com insônia, apresentando perda de peso e agitação. (Silva,
2013).
A depressão é uma das principais causas de incapacidade, afetando cerca de
350 milhões de pessoas no mundo todo, sendo mais frequente em mulheres. Ela é
definida por uma variedade de emoções e modificações no comportamento das
pessoas, incluindo tristeza, perda de interesse ou satisfação, sentimento de culpa ou
autoestima reduzida, perturbações do sono ou do apetite, fadiga e dificuldade de
concentração. (World Health Organization, 2017).
Pessoas de todos os estratos sociais e idades são afetadas pela depressão,
embora certos fatores aumentem o risco, como a pobreza, o desemprego, eventos
estressantes da vida, doenças físicas e o uso de álcool e drogas. Alguns fatores
genéticos ou biológicos podem contribuir para a maior vulnerabilidade de certos
indivíduos. Além disso, problemas de convivência e relacionamentos no ambiente de
trabalho são fatores psicossociais fundamentais no desenvolvimento da depressão.
A depressão pode ser resultado de uma disfunção bioquímica no cérebro,
além de ter fatores genéticos e hereditários envolvidos. O tratamento mais comum é
realizado por meio do uso de medicamentos, embora em alguns casos seja
necessário adcionar a psicoterapia. Há evidências que sugerem que a prática da
atividade física pode ajudar a combater os sintomas da depressão. No entanto, é
importante ressaltar que cada indivíduo pode reagir de forma diferente diante dos
fatores que desencadeiam as crises, como traumas na infância, estresse físico e
psicológico, doenças sistêmicas, consumo de drogas e alguns medicamentos.
(RODRIGUES, 2000)
Infelizmente, até os profissionais da área costuma confundir estado de tristeza
e depressão. Tristeza é uma emoção natural, normal do ser humano, reação afetiva
básica frente a situações de perda. Devemos nos lembrar que muitos dos problemas
emocionais não são problemas patológicos, mas existenciais, a não ser que
tenhamos a vida como uma doença.
De acordo com Atkinson et al. (2002), os sinais cognitivos se caracterizam
primordialmente por pensamentos negativos, baixa auto estima e sentimentos de
culpa em relação aos fracassos. O paciente questiona sua capacidade de fazer algo
para melhorar sua vida. Os sinais físicos incluem alterações no apetite, distúrbios de
sono, fadiga e perda de energia. O individuo se volta para o interior e não presta
atenção aos eventos externos, podendo ampliar pequenas dores e desconfortos e
preocupar-se excessivamente com a saúde. (ATKINSON et al., 2002).
“A vida torna-me tão infeliz!
Tenho que voltar ao Útero”
(Freud)
Freud afirmava, com bastante precisão, que as emoções são uma carga de
energia bastante violenta, cuja repressão sempre haverá de causar algum dano
físico e/ou psíquico ao indivíduo.
“O ser humano é um todo, impossível afirmar que algo que esteja
acontecendo com ele seja apenas orgânico, psíquico ou social. Esta tríade forma o
alicerce de toda sua personalidade. A mente tem montanhas, penhascos de queda,
aterradores escarpados, insondáveis ao homem. Desvalorizá-los pode aquele que
jamais deles despencou.” (Gerard M. Hopkins).

1.6 Aspectos neuropsicológicos da depressão

Atualmente, a neuropsicologia está ganhando destaque no estudo das


desordens psiquiátricas, sendo definida como uma ciência aplicada que busca
analisar como as disfunções cerebrais afetam o comportamento e a cognição. Além
disso, a neuropsicologia contribui para o diagnóstico clínico e permite correlacionar
as informações obtidas com outros exames complementares, como os que avaliam
a atividade eletrogênica, metabólica e de neuroimagem.
Existem diversas queixas neurocognitivas que aparecem durante o estado
depressivo, tais como a diminuição da capacidade de atenção e memória, além de
lentidão no processo de pensamento. Devido à complexidade dessas funções e ao
maior entendimento das alterações neurofuncionais que as acompanham, a
neuropsicologia tem se aprimorado cada vez mais para separar essas funções e
identificar fatores ou padrões neuropsicológicos que sejam cruciais na depressão. É
importante ressaltar que os resultados neuropsicológicos observados na depressão
não podem ser completamente atribuídos aos aspectos motivacionais, uma vez que
algumas alterações cognitivas podem estar presentes mesmo na ausência do
estado depressivo. Na depressão recorrente com melancolia, é interessante notar
que a melhora do humor à noite não é acompanhada de melhora cognitiva.
(ROZENTHAL, et al. 2004).
As regiões mais estudadas têm sido as áreas frontais e suas conexões, bem
como as áreas temporais, a amígdala também vem sendo amplamente estudada
nos transtornos afetivos por estar intimamente relacionada ao aprendizado
emocional.
A importância de alterações frontais em quadros depressivos vem sendo
ressaltadas, levando-se em conta as alterações clínicas relacionadas à atenção,
psicomotricidade, capacidade executiva e de tomada de decisão, através dos
estudos anatômicos e de neuroimagem são relatadas alterações anatômicas do
córtex orbital bilateral
Os estudos de alteração neurofuncionais e neuropsicológicas ainda estão
longe de elucidar os fatores causais referentes aos processos mentais. Além de
aspectos genéticos e constitucionais poderem interferir na estrutura do SNC e,
assim, na gênese dos transtornos mentais, a demonstração de que o aprendizado é
acompanhado por modificações da eficácia das conexões neurais tem provocado a
revisão de conceitos sobre as relações entre os processos socias e biológicos
na determinação dos padrões de comportamento. (ROZENTHAL, et al. 2004).

1.7 Suicídio

“Preocupamo-nos com a destruição provocada pelos outros, mas evitamos


falar sobre autodestruição” (Edwin Schneidman).
Inicialmente, a definição de “suicídio” remete à ideia de “morte
autoprovocada”. Apesar de parecer uma definição satisfatória, ao considerarmos os
elementos envolvidos nos comportamentos suicidas e as suas diversas
manifestações, torna-se evidente que o conceito é mais abrangente e pode englobar
comportamentos que não seriam, à primeira vista, associados a atos de suicídio,
mas que, de alguma forma, possuem uma relação com essa temática.
As pessoas podem apresentar comportamentos autodestrutivos, de forma
consciente ou inconsciente. O ser humano é movido por dois tipos de impulsos,
denominados pulsões de vida e pulsões de morte. Enquanto as pulsões de vida
incentivam o crescimento, o desenvolvimento, a reprodução e a ampliação da
capacidade de pensar, sentir e viver, as pulsões de morte tendem a levar o indivíduo
a um estado de inércia, atacando sua habilidade de lidar com as adversidades e
desvitalizando suas relações consigo mesmo e com o mundo (CARSSOLA, 1984).
Refletir sobre o suicídio é também analisar porque este fenômeno tem sido
silenciado ao longo dos anos pela sociedade, autoridades, profissionais, familiares,
camuflado assim um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo
(Botega, 2002). O silencio não ajuda e é necessário enfrentar de forma responsável
e realística.
O suicídio ocupa uma posição alarmante entre as principais causas de morte
de indivíduos com idade entre 15 e 44 anos. De acordo com dados da Organização
Mundial de Saúde (OMS), ele é responsável por cerca de um milhão de mortes por
ano, representando 1,4% do total de mortes. No entanto, é importante destacar que
esses números não incluem as tentativas de suicídio, que ocorrem de 10 a 20 vezes
mais frequentemente do que o próprio ato suicida. (World Health Organization
[WHO], 2014).
Os fatores predisponentes de um suicídio são geralmente complexos. Na
maioria dos casos, a presença de um transtorno mental é um fator significativo. Os
transtornos mentais mais frequentes associados ao suicídio incluem depressão,
transtorno bipolar e dependência de álcool e outras drogas psicoativas. Outros
fatores de risco importantes incluem esquizofrenia e certas características de
personalidade. O risco de suicídio é aumentado quando mais de uma dessas
condições está presente, como a combinação de depressão e alcoolismo ou a
coexistência de depressão, ansiedade e agitação. (BERTOLOTE, 2002).
Segundo o relatório “Suicide wordwide in 2019” da Organização Mundial de
Saúde (OMS), publicado recentemente, o suicídio continua sendo uma das
principais causas de morte em todo o mundo. Em 2019, mais de 700 mil pessoas
morreram por suicídio, o que equivale a uma em cada 100 mortes.
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom,
destacou a importância de não ignorar o problema do suicídio, enfatizando que cada
morte é uma tragédia. Ele ressaltou que a atenção à prevenção do suicídio é ainda
mais crucial.
Este relatório mostra que a taxa de mortalidade por suicídio é maior entre
homens do que mulheres, com 12,6 homens por cada 100 mil em comparação com
5,4 mulheres por cada 100 mil. (OMS, 2019).

1.8 A neurociência da depressão e do suicídio

Novas pesquisas sobre o papel da neuroplasticidade na etiologia da


depressão mostram como o campo da neurociência está em constante evolução. Há
algumas décadas estávamos apenas começando a compreender que novos
neurônios são gerados ao longo da vida humana. Hoje, estamos descobrindo que
tanto a produção de novos neurônios quanto a expansão dos já existentes podem
contribuir para casos de depressão. Em pouco tempo, evidências convincentes do
envolvimento da neuroplasticidade na depressão foram publicadas, tornando este
campo uma das áreas de pesquisa mais animadoras em relação a esse transtorno.
(ERIKSSON et al, 1998).
As pesquisas sobre mudanças estruturais na depressão tem sido um campo
de estudo muito promissor e as evidências encontradas são de grande impacto no
diagnóstico, tratamento biológico e psicoterapia do transtorno. (GAGE, 2000).
Com o avanço dos progressos, a neurociência está desmistificando crenças
errôneas e tabus em torno do funcionamento cerebral e sua relação com o
comportamento humano. Hoje, sabemos com certeza que o sistema nervoso central
é capaz de se regenerar, através do processo da neuroplasticidade, aumentando
significativamente as conexões neurais, ampliando a capacidade psíquica com base
em novas experiências adquiridas ao longo da vida. A neuroplasticidade pode ser
avaliada tanto estruturalmente (por meio da configuração sináptica) quanto
funcionalmente (por meio da modificação do comportamento).
Compreender essa capacidade do cérebro humano para formar novas
conexões e experiências pode levar a mudanças positivas e interrupção de padrões
negativos, um conceito que a psicologia tem investido há muito tempo, e agora
outras áreas também estão explorando. A transdisciplinaridade é necessária para
entender completamente o ser humano e buscar uma melhor qualidade de vida.
(RUSSO et al, 2015).
O mistério do suicídio envolve o sistema nervoso, onde as linhas de
comunicação se emaranham em nós dolorosos e complicados. Os pesquisadores
Victoria Arango e J. John Mann, lideram um esforço para desvendar a
neuropatologia do suicídio. Examinam mais de 200 cérebros em busca de alterações
neuro anatômicas, químicas ou genéticas que possam ser específicas daqueles que
tiraram as próprias vidas. Para esse estudo cada cérebro é submetido a uma
autópsia e comparado a um cérebro controle de uma pessoa deprimida, que morreu
com a mesma idade de causas diferentes.
Tem se apontado a conexão entre baixos níveis de serotonina no cérebro e
depressão, são encontradas também evidências da falta de serotonina em certas
partes do cérebro, porém em outras não.
Esses estudos vêm mostrando que os cérebros de pessoas que sofriam de
depressão e cometeram suicídio continham menos neurônios no córtex pré-frontal,
menos transportadores pré-sinápticos de serotonina, mas cerca de 30% mais de
receptores pós-sinápticos de serotonina, sugerindo que os suicidas tentam
maximizar o uso da molécula de serotonina aumentando o número de receptores
para cada neurotransmissor. (ARANGO et al, 2001).
2 CONCLUSÃO

“A tendencia suicida que resulta da


melancolia é uma doença e não um
pecado satânico”.
Robert Burton

Atualmente a depressão é uma condição que afeta significativamente a saúde


mental das pessoas, e seu tratamento adequado é fundamental, uma vez que seus
sintomas podem ser incapacitantes. Como citados ao longo dessa pesquisa os
sintomas como alteração de humor, tristeza, anedonia entre vários outros são
sintomas que podem gerar alterações cognitivas e psicomotoras, trazendo agravo da
depressão e se tornando um transtorno ainda maior, onde podemos encontrar um
risco maior para o suicídio.
No Brasil, 24 pessoas morrem diariamente por suicídio, embora essas
informações não sejam amplamente divulgadas, o que obscurece o impacto dessa
realidade, quando buscamos informações nos estudos da Organização Mundial de
Saúde (OMS), observamos que as taxas de mortalidade global por suicídio
aumentaram em 60% nos últimos 45 anos, abarcando especialmente adultos jovens.
Não obstante podemos deixar de fora a informação que para cada caso consumado,
existem entre 10 e 20 tentativas, o que destaca a importância da detecção precoce
dos riscos associados à depressão em indivíduos suicidas.
Em nossa sociedade, o estigma é frequentemente associado ao sofrimento
emocional, o que pode fazer com que as pessoas se sintam envergonhadas de
admitir suas angústias e aflições. Expressar o desejo de que a morte possa ser um
alívio para o sofrimento pode ser ainda mais difícil, o que muitas vezes incapacita a
oferta de ajuda e suporte especializado.
Os estudos da neurociência evidenciam que o cérebro é composto de vários
circuitos neurais interligados e que nossas escolhas e pensamentos trazem
impactos bastante significativos ao nosso comportamento. A automação se aplica a
todas as áreas da vida, pois tudo o que dizemos e fazemos começa como um
pensamento que cria conexões e influencia nossas palavras, ações e
comportamentos.
A capacidade do cérebro de se adaptar, conhecida como neuroplasticidade,
pode ter efeitos positivos ou negativos. Nossos pensamentos podem se aprofundar
na mente, tornando-se filtros principais que afetarão nosso funcionamento mental.
No entanto, mudar nossos pensamentos pode desfazer essas conexões tóxicas e
desativar as emoções disfuncionais, graças a liberação de substâncias químicas
como a ocitocina, dopamina e serotonina, que ajudam a dessincronizar os
neurônios. Sendo assim uma mente ativa pode mudar o cérebro.
Viver requer muitas decisões importantes, que exigem liberdade e
responsabilidade, nossas percepções do ambiente e nossa forma de lidar com ele
trás direta influencia sobre nós, portanto se mudarmos nossa percepção, também
mudamos nossa biologia. À medida que aprendemos a controlar conscientemente
nossos pensamentos afetamos o processo sensorial do cérebro, sua reestruturação,
expressão genética e atividades celulares, somos direcionados a explorar nossos
sentidos oportunizando uma melhora significativa nos processos mentais.
Concluo que as neurociências comprovam que existe o potencial de
autorregulação do sistema nervoso e vêm fornecendo informações valiosas sobre o
comportamento humano e sua base neuropsicológica, bem como influenciando o ser
humano e seu meio social, sendo este um recurso natural e precioso presente em
nosso organismo para trazer equilíbrio.
REFERÊNCIAS:

ATKINSON, L. R.; et al. Introdução à Psicologia de Hilgard. Tradução Bueno, D.; 13.
ED. Porto Alegre: Artmed, 2002. P. 562-563.

BARBOSA, F.; MACEDO, P.; SILVEIRA, R. Depressão e o suicido. Rev.


Bear, M. F., Connors, B.W., 7 Paradiso, M.A. (2002). Neurociências: Desvendando o
sistema Nervoso.

BERLIM, R. G., & Tavares, H. (2016). Depressão: uma abordagem neuropsicológica.


Casa do Psicólogo.

BERTOLOTE, J. M., 7 Fleischmann, A. (2002). Suicide and Psychiatric diagnosis: A


worldwide perspectiv. World Psychiaatry, 1, 181-185.

BORGES, V.R., Werlang, B.S.G., & Copelli, F.H. (2017). Prevenção do suicídio:
revisão integrativa da literatura. Psicologia USP, 28(2), 221-229. doi: 10.1590/0103-
656420160069

CARSSOLA, Roosevelt Moises Smeke. O que é suicídio. São Paulo: Brasiliense,


1984.

CAVALCANTE, J. N., de Albuquerque Júnior, R. L., & Silva, M.V. (2012) O uso de
plantas medicinais no tratamento de distúrbios do sono: uma revisão. Ciências
Farmacêuticas, 1(1), 47-555.

DEGROOT, J.1994. Neuroanatomia 20ª edição, Editora Guanabara. Rio de Janeiro,


362p.

ERIKSSON, P. S. Neurogenesis in the adult human hippocampus. Nature Medicine,


v. 4, n. 11, p. 1313-1317, 1998. DOI: 10.1038/3305.

GUYTON, A. C., & HALL, J.E. (1997). Tratado de fisiologia médica (9ª ed.). Editora
Guanabara Koogan.

HAASE, Vitor Geraldi. LACERDA, Shirley Silva. Neuroplasticidade, variação


interindividual e recuperação funcional em neuropsicologia. Temas em Psicologia da
SBP, 2014, Vol. 12, n. 1.

JOHSON, L.R. (2000). Fundamentos de Fisiologia Médica. Guanabara-Koogan.


Kandel, E.R., Schwartz, J.H., & Jessell, T.M. (1997). Principles of neural Science
(Vol.4). McGraw-hill.

LEAF, Caroline. Ative seu Cérebro: Como desenvolver o Poder de Seu Cérebro. São
Paulo: Editora Thomas Nelson Brasil, 2018.

LEDOUX, J.E. (2002). Emotion, memory and the brain. Scientific American, 286(3),
62-71
RODRIGUES, F. de A., & Silveira, F. M. da. (2023). JEFFREY DAHMER:
MULTIFATORIEDADE À LUZ DA NEUROCIÊNCIA. Revista Ibero-Americana De
Humanidades, Ciências E Educação, 9(1), 532–548.

RODRIGUES, M.J.S.F. O diagnóstico de depressão. Psicol.USP, v.11, n. 1, p. 155-


187, 2000.

ROZENTHAL, Marcia; LAKS, Jerson; ENGELHARDT, Eliasz. Aspectos


neuropsicológicos da depressão. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, v.
26, n. 2, p. 204-212, ago. 2004.

SBPH [online], v.14, n.1, p. 233-243, 2011.

SHERRINGTON, C. S. (1906). The Integrative Action of the Nervous System. New


York: Charles Scribner´s Sons.

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Depressivas: as três dimensões da doença do


século. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2013.

SILVA, G. M. A neurociência do suicídio. Revista Debates em Psiquiatria, n. 2, p. 69-


84, 2013.

SILVA, M. R.; GONÇALVES, G. L. M. Habilidades Sociais Educativas e Estilos


Parentais: Estudo de Revisão. Psicologia USP, São Paulo, v.26, n.2, p. 192-203,
2015.

SINGI, G. (1996). Fisiologia Dinâmica. Editora Atheneu, São Paulo.


SOARES, P. B. et al. Análise neuropsicológica de pacientes com transtornos de
ansiedade. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, v. 27, n. 1, p. 22-29, 2005

TEIXEIRA, C. Fundamentos do Sono, Sonho e Qualidade de Vida Sob Perspectiva


Neurocientífica. Epitaya E-Books, v. 1, n. 9, p. 30-37, 2022.
Wainer, R. (2012). Depressão: O que é, como superar. Casa do Psicólogo

World Health Organization (WHO). (2021). Uma em cada cem mortes ocorre por
suicídio, revelam estatísticas da OMS.

Você também pode gostar