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Arthur Brasil Rodrigues de Araujo, Beatriz Araujo de Souza E Silva, Enzo Mazzotti
Almeida, Fernando da Silva Mancebo, Isabella Cunha Alves da Silva, Rita de Cássia
Bittar e Samantha Cristina Albuquerque
NITERÓI
2023.1
2
Resumo: Pensar em arte é pensar nas formas de expressão humana, formas que possibilitam a
transformação de apresentações sensoriais ou emocionais em experiências psíquicas carregadas de
significado próprio. Assim, acreditamos no uso da linguagem artística como ferramenta terapêutica
na ressignificação das experiências, na criação de caminhos possíveis para a elaboração das
emoções, produzindo outros sentidos, sendo a criatividade e a neuroplasticidade partes essenciais
dessa transformação. Dessa forma, por meio de uma revisão de literatura de caráter exploratório,
este artigo busca investigar em que medida as artes visuais, a dança e a música podem contribuir
para a promoção do bem-estar psicológico. Para tanto, também é avaliado como a prática dessas
atividades pode atuar no cérebro e quais áreas estão envolvidas. Além disso, o estudo fez uso de
três eixos de pesquisa: uma contextualização histórica, as bases da neurociência em relação às
diferentes manifestações da arte, bem como suas relações com a criatividade e a saúde mental. A
partir dos estudos, constatou-se que a expressão artística, em suas diversas apresentações, impacta
o bem-estar físico e emocional dos praticantes e produz mudanças significativas na qualidade de
vida. Além disso, sua relevante participação na redução da sintomatologia e na melhora na qualidade
de vida de pacientes oncológicos e de cuidados paliativos indica uma possibilidade interessante de
cuidado não invasivo no cenário hospitalar. Em suma, é verificado que o estudo da criatividade e da
linguagem artística é um caminho relevante no estudo de como promover a saúde mental e o
bem-estar.
Abstract: Thinking about art is thinking about the forms of human expression, forms which enable the
transformation of sensorial or emotional presentations into psychic experiences filled with their own
significance. Thus, we believe in the use of artistic language as a therapeutic tool in the
re-signification of experiences, in the creation of a possible path for the elaboration of emotions, and
in the production of other ways of experiencing the feelings, producing other senses, being creativity
and neuroplasticity essential parts of this transformation. In this way, through a literature review of
exploratory nature, this article seeks to investigate to what extent the visual arts, dance and music can
contribute to promote psychological well-being. To this end, it is also evaluated how the practice of
these activities can act on the brain and which areas are involved. In addition, the study made use of
three axes of research: a historical contextualization, the bases of neuroscience in relation to the
different manifestations of art, as well as their relations with creativity and mental health. From the
studies, it was found that (final considerations) artistic expression, in its various presentations,
impacts the physical and emotional well-being of practitioners and produces significant changes in
quality of life. Moreover, its relevant participation in reducing symptomatology and improving the
quality of life of cancer and palliative care patients indicates an interesting possibility of non-invasive
care in the hospital scenario. In summary, it is verified that the study of creativity and artistic language
is a relevant path in the study of how to promote mental health and well-being. From the studies, it
was found that artistic expression, in its various presentations, impacts the physical and emotional
well-being of practitioners and produces significant changes in quality of life. Moreover, its relevant
participation in reducing symptomatology and improving the quality of life of cancer and palliative care
patients indicates an interesting possibility of non-invasive care in the hospital scenario. In summary, it
is verified that the study of creativity and artistic language is a relevant path in the study of how to
promote mental health and well-being.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 4
2 A ARTE NA HISTÓRIA........................................................................................................ 6
3 CIÊNCIA COMO EMBASAMENTO: NEUROCIÊNCIAS E ARTES.....................................8
4 TRÊS CAMINHOS POSSÍVEIS DA ARTE E SAÚDE MENTAL........................................ 11
4.1 Artes visuais na arteterapia: definição e utilização no espaço oncológico e
paliativo........................................................................................................................... 11
4.1.1 Considerações acerca da flexibilidade da técnica na arteterapia..................... 12
4.1.2 Parâmetros utilizados para explicar a validade da utilização da arteterapia no
âmbito oncológico é paliativo..................................................................................... 12
4.1.3 Resultados das pesquisas acerca da arte-terapia em pacientes oncológicos ou
em cuidados paliativos............................................................................................... 13
4.1.4 A possibilidade terapêutica na observação da arte...........................................15
4.1.5 Conclusões........................................................................................................15
4.2 A Musicoterapia........................................................................................................16
4.2.1 Definição.......................................................................................................... 16
4.2.2 Princípios fundamentais da musicoterapia........................................................17
4.2.3 Potenciais benefícios da musicoterapia............................................................ 17
4.2.4 Conclusões acerca da prática da musicoterapia...............................................20
4.3 Práticas de dança no contexto da saúde mental.................................................. 21
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................24
6 REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 25
4
1 INTRODUÇÃO
A arte é utilizada há séculos enquanto representação da subjetividade
humana, subjetividade esta que não é dada, mas se constrói num campo de
relações que se estruturam e se reestruturam no decorrer do tempo histórico. As
expressões artísticas são, portanto, reflexo da relação que os sujeitos estabelecem
com o mundo e com si próprios. Em especial, vale primeiramente explorar a arte
como promotora de bem-estar e saúde mental por meio de estudos que dialogam
com a neurociência.
Os efeitos da contemplação e produção da arte têm sido estudados a fim de
entender de que forma podem afetar a cognição e em até que grau podem afetar as
disposições emocionais prévias dos indivíduos, visto que fazer e observar as artes
visuais aumentam a capacidade de um indivíduo no processo de mediação das
suas respostas emocionais (JENSEN, 2001). As áreas cerebrais que atuam como
facilitadoras desse processo incluem o tálamo, a amígdala e a via de recompensa
desde o topo do tronco cerebral até aos lobos frontais ventrais. Nesse sentido, os
diferentes tipos de familiaridade do que se vê ativam diferentes áreas do cérebro.
Ver imagens familiares estimula e envolve especificamente as células locais no
hipocampo. O dito estranho ou causador de desconforto ativa o sistema de atenção,
desde o tálamo até à área parietal. Outros elementos artísticos criam entusiasmo e
surpresa, e podem ativar áreas do sistema límbico, como a simetria, a descoberta
de elementos ocultos e a elaboração de novos significados, presentes em muitas
obras que apresentam, por exemplo, ilusões ópticas (JENSEN, 2004). Essa relação
do sistema límbico com tais experiências artísticas pode ser sustentada por
evidências de respostas de condutância da pele (TRANEL; DAMASIO, 1985 apud
JENSEN, 2004), que mostram que, uma vez que algo familiar ou significativo tenha
sido encontrado na arte, ficamos comovidos.
Acerca da criatividade, verifica-se que não existe um conceito único para a
sua definição. Por sua vez, uma das explicações possíveis se encontra no livro The
Neuroscience of Creativity. Na obra, os autores apresentam dois principais
elementos que, segundo especialistas, são centrais ao se articular uma definição de
criatividade. O primeiro elemento se define como a capacidade de gerar ideias
inovativas e originais, e o segundo categoriza que essas ideias devem também
satisfazer um contexto em questão. Essa satisfação de um contexto estabelece uma
5
certa demarcação para que um aspecto inovador seja considerado criativo. Logo, o
estudo da criatividade segundo a definição proposta por Anna Abraham envolveria
áreas cerebrais e transmissões neuroquímicas relacionadas especialmente à
memória – ao pressupor a criação de uma ideia nova deve-se haver o resgate de
uma ideia antiga (KAUFMAN; ABRAHAM, 2019).
Em paralelo, a observação da arte tem sido estudada para compreender de
que maneira essa ação passiva pode desencadear uma produção ativa, isto é,
como a observação da criatividade na forma de arte, música, dança, pode se
relacionar com um processo criativo no espectador. A partir do conceito de
“cognição corporificada”, é possível justificar essa relação, na medida em que ao
observar expressões artísticas, o indivíduo pode potencialmente disparar os
mesmos neurônios que o artista que criou ou executou a obra, produzindo novos
caminhos neurais e estimulando um estado de inspiração (DEVANEY, 2019). O
processo de cognição corporificada envolve os neurônios-espelho, células cerebrais
que são acionadas na observação e na performance de uma ação. Performar uma
ação requer que a informação passe dos centros de controle para os membros, mas
observar uma ação requer que a informação flua da imagem vista para os centros
de controle. Esse fluxo bidirecional é o que é captado no conceito de
neurônios-espelho e permite uma certa vivacidade estética da apreciação da arte
(ZAMBON, 2013).
Em (KYLE, 1990 apud JENSEN, 2004) um pesquisador utilizou obras de
arte tridimensionais para verificar qual o impacto cognitivo que a observação da arte
pode ter nos indivíduos. Os alunos foram solicitados a analisar as formas
compreendidas na estrutura da escultura e a desenvolverem um vocabulário que
pudesse descrever a estrutura e a reação que tiveram àquela arte, sendo
compreendidas nessas demandas, tarefas de rotação espacial de objetos. Foram
realizados questionamentos antes e depois da observação. Os resultados indicaram
um aumento significativo das capacidades de visualização espacial. Isso indica que
fazer e perceber a arte não pode ser dissociada de um processo cognitivo, pois
envolve e desenvolve a resolução de problemas, o pensamento crítico e o
pensamento criativo. Um experimento prático foi feito em uma escola com uma
turma de alunos do 3º ano, no qual os alunos observaram como o desenho
complementa o processo de escrita e de pensamento. Os alunos relataram que o
desenho lhes permitia clarificar melhor as suas ideias, o que melhorava a
6
2 A ARTE NA HISTÓRIA
artistas raramente assinavam suas obras de arte. O próprio termo "artista" era
inexistente ainda no Renascimento (RODRIGUES, 1999). Percebe-se, portanto, que
a arte não emergia como forma de expressão humana, mas construía outros tipos
de relações e produzia diversos discursos e práticas nesse espírito comunitário dos
corpos.
Talvez o jogo de forças que produz a arte como é entendida hoje fique mais
evidente a partir do Renascimento. Há uma virada importante nos paradigmas
epistemológicos, políticos, estéticos, éticos e econômicos que se articulam na
realidade nesse período, produzindo a ontologia artística moderna de expressão da
subjetividade humana. Passando pela Revolução Francesa, Industrial, Científica e a
Reforma Protestante, há transformações nas formas de existir e entender a
subjetividade humana, dando lugar para o indivíduo moderno, produzido no
paradigma tecnocientífico. Percebe-se mudanças, portanto, nas formas de realizar
arte, colocando-a como representação de um íntimo do indivíduo. Assim,
O principal objetivo dos estudos têm sido determinar o efeito a curto prazo de
sessões de arteterapia em sintomas comumente experienciados por pacientes
oncológicos, como dor e fadiga. Também é objetivado entender qualitativamente a
percepção desses pacientes acerca do impacto e da validade dessa prática nos
seus níveis de estresse físico e emocional.
A duração das sessões variam, mas a maioria dos estudos tendem a se
estabelecer num tempo médio de uma hora, durante uma ou duas vezes por
semana. Para garantir que os pacientes de fato pudessem desfrutar de uma
experiência centrada no sujeito, a arte-terapia tende a ser extremamente flexível.
As técnicas podem ser ampliadas e combinadas , diante da demanda de cada
paciente. São utilizados materiais como tintas, argila, giz de cera, pedaços de
papéis para colagem, etc.
Algumas técnicas utilizadas incluíam a contemplação e a interpretação de
reproduções de obras de arte, a associação de uma cor ou de uma forma à
sensação de dor ou de alívio, a representação de si próprio ,a sinestesia (tradução
gráfica de fragmentos poéticos ou poéticos ou musicais), e diálogo entre o doente e
um familiar na produção em conjunto de arte (COLLETTE et al., 2020)
entrevistas ao paciente foi o método mais recorrente nos artigos. O ESAS é uma
ferramenta de auto-avaliação que permite aos pacientes documentar a intensidade
de nove sintomas que ocorrem frequentemente (dor, náuseas, cansaço, sonolência,
perda de apetite, dispneia, depressão, ansiedade e sensação de mal-estar)
utilizando uma escala que varia entre 0 (nenhum sintoma) e 10 (pior sintoma)
(LEFÈVRE; LEDOUX; FILBET, 2015). A soma das respostas dos pacientes a estes
nove sintomas é a pontuação global de angústia da ESAS.
Alguns estudos optaram por aplicar o ESAS modificado, retirando alguns
sintomas julgados como não tão sensíveis à terapia artística, como a náusea, perda
de apetite e dispneia, e adicionando novos, como o sintoma "tristeza". Embora a
tristeza não seja um sintoma validado para a ESAS, a sua adição é relevante pois,
ainda que incluído a “depressão”, é entendido que ela não pode ser aliviada num
período de tempo tão curto, e sua avaliação a curto-prazo não sofreria tantas
alterações quanto objetivamente medir o nível de “tristeza” (LEFÈVRE; LEDOUX;
FILBET, 2015). Os testes eram aplicados em duas ocasiões: antes das sessões de
arte terapia e após a sua conclusão. O tempo de aplicação que antecede a terapia,
no qual aplica-se o teste, é exatamente o mesmo tempo decorrido após o término
dela, e tendem a variar entre alguns minutos até algumas horas.
uma técnica artística, implica na sensação de controle e pode resultar nessa maior
autoconfiança e numa diminuição da ansiedade.
Para melhor avaliação dos impactos diretos da arte-terapia nesses sintomas,
alguns estudos optaram por garantir que os participantes não fossem oferecidos
medicações para dor e ansiedade durante ou antes das sessões (COLLETTE et al.,
2020). Essa melhora parece ter sido rapidamente reduzida (em menos de uma
hora), mas por períodos curtos (menos de 12 horas) .
A sessão de arte-terapia também tem um efeito sobre uma melhor
identificação dos sentimentos, como sugerem os dados recolhidos acerca da
identificação da depressão e da tristeza antes e após as sessões. Os dois sintomas
foram mais fortemente correlacionados antes das sessões do que depois,
demonstrando que foram melhores distinguidos após o seu término (LEFÈVRE;
LEDOUX; FILBET, 2015) .
Alguns pacientes indicaram um aumento na fadiga, entretanto, ela não foi
associada por eles a algo indesejável. Isso porque indicaram que foi um cansaço
resultante de ter conquistado algo, gerando sentimentos de conquista e renovação
da autoconfiança do paciente na sua capacidade (RHONDALI et al., 2007).
Alguns estudos também optaram por avaliar de forma separada a relação
específica do paciente com o processo criativo, a relação entre o processo criativo e
mediada pela presença de um terapeuta (a predominância da valorização da
presença do terapeuta). Nesses casos, mais da metade dos pacientes relacionaram
a melhora no seu bem-estar com o processo criativo em si, indicando que no geral
se divertiram, aprenderam coisas novas e puderam provar para si mesmos que
eram capazes de ter novas ideias, além de escaparem da condição hospitalizada.
Além disso, alguns indicaram a presença do terapeuta em conjunto com a produção
de arte importante, pois sentiram que conseguiram expressar emoções que antes
não conseguiam expressar livremente de outras maneiras, ver como as cores
ganham significado relacionado a memórias, entre outros (COLLETTE et al., 2020).
A respeito do aspecto interpessoal, os participantes também expressaram
que a sessão de arte-terapia promoveu uma melhora na forma com que conseguiam
se relacionar com seus familiares e cuidadores. Isso porque, além de promover uma
sensação de conquista, também promoveu algum tópico de discussão sem ser o
seu quadro clínico (RHONDALI et al., 2007).
15
4.1.5 Conclusões
4.2 A Musicoterapia
4.2.1 Definição
A música é uma das artes que se faz mais presente em praticamente todas
as culturas e que mais profundamente toca o ser humano de diversas formas. A
priori, a percepção primária do som é modulada pela experiência emocional de se
ouvir uma música em uma integração entre o processamento musical influenciado
pela emoção. Nesse sentido, o ato de ouvir, tocar, compor uma música e senti-la
envolve habilidades cerebrais cognitivas (interações auditivo motora) e do sistema
límbico, tanto para quem executa, quanto para quem ouve (ROCHA, 2013).
A musicoterapia é uma abordagem terapêutica amplamente reconhecida que
emprega a música e seus elementos fundamentais, como ritmo, melodia e
harmonia, para facilitar mudanças positivas na saúde e no bem-estar dos indivíduos.
Essa forma de intervenção baseia-se na compreensão de que a música possui
poderosos efeitos psicológicos, emocionais e fisiológicos, podendo ser utilizada
como uma ferramenta eficaz em uma variedade de contextos.
Os musicoterapeutas desempenham um papel fundamental no processo
terapêutico. Eles são especializados em utilizar técnicas específicas, adaptadas às
necessidades e habilidades individuais de cada pessoa, com o objetivo de alcançar
resultados terapêuticos desejados. O musicoterapeuta leva em consideração a
história, preferências musicais, capacidades cognitivas e emocionais, bem como as
metas terapêuticas estabelecidas para cada indivíduo.
Em resumo, a musicoterapia é uma forma de intervenção terapêutica que
reconhece o poder da música como uma ferramenta para promover mudanças
positivas na saúde e no bem-estar. Por meio de técnicas personalizadas e
adaptadas, os musicoterapeutas trabalham para atender às necessidades
individuais de cada pessoa, aplicando a música de maneira terapeuticamente
significativa. A prática da musicoterapia tem se mostrado benéfica em uma ampla
gama de condições de saúde, incluindo tratamento de distúrbios mentais,
17
aspecto pertinente, é que pessoas com autismo podem se destacar na relação com
a música, que, para além de uma manifestação artística e forma de comunicação,
interação e expressão, se mostra também como um importante recurso no processo
psicoterapêutico, sendo ferramenta capaz de possibilitar formas de intervenção que
visam incluir crianças, por exemplo, no meio social, mesmo com as dificuldades
graves de interação social (SILVA, 2021).
Segundo as autoras Silva e Wronski, a Musicoterapia utiliza a música e seus
elementos para promoção de aprendizagem e aquisição de novas habilidades,
como forma de restabelecer ou desenvolver aptidões sociais, emocionais,
cognitivas, motoras e de comunicação. Dentro desse raciocínio, o desenvolvimento
musical pode ser um benéfico influenciador para o estímulo das funções
neurológicas de pacientes com TEA, relacionado com a neuroplasticidade nas áreas
cerebrais associadas à motricidade, linguagem e emoções (SANTIAGO, 2021),
sendo, portanto, uma importante ferramenta no processo e acompanhamento
psicoterapêutico.
São vistas ainda diversas evidências de uso da música na reabilitação de
pacientes acometidos por um AVC. Vários estudos demonstraram que o uso da
música e do ritmo pode facilitar a recuperação do movimento em pacientes com
derrame. Além disso, o uso de ritmo durante a reabilitação de derrame mostrou
melhorias nas habilidades de caminhada, coordenação motora e recrutamento de
unidades motoras, além de proporcionar estabilidade temporal e espacial durante os
movimentos.(THAUT et al., 2014)
No campo da reabilitação da fala e linguagem, a terapia de entoação
melódica (MIT) tem sido amplamente utilizada. A MIT envolve o uso da melodia e do
canto para facilitar a recuperação da fala em pacientes com afasia expressiva
(afasia de Broca). Pesquisas mostram que a MIT pode melhorar a produção da fala,
aumentar a amplitude dos movimentos dos músculos da fala, além de promover a
plasticidade cerebral, permitindo a reorganização das áreas cerebrais envolvidas na
linguagem. (SCHLAUG, 2009)
Na reabilitação cognitiva, a música tem sido aplicada no treinamento de
negligência hemisférica, utilizando exercícios musicais estruturados para direcionar
a atenção para o campo visual negligenciado. Essa abordagem tem demonstrado
efeitos positivos na recuperação da negligência espacial e visual, utilizando
20
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
criação de condições que não reduzem o sujeito internado à sua patologia, sendo
uma forma cabível de promover um bem-estar nos ambientes de recuperação.
Além disso, utilizar obras já existentes como suporte para a elaboração de
sentimentos e vivências difíceis , desde o diagnóstico até o tratamento , também é
interessante em termos de promoção de bem-estar, na medida em que permitem
que o indivíduo expresse e elabore suas afetações através da projeção e da
construção de simbolizações, partindo da construção de ideias e portanto do
engajamento de diversas atividades neurais, inclusive retomam sua história de vida,
o que constrói uma dimensão ética do cuidado, respeitando as construções de
sentido individuais.
No estudo das artes visuais, seja sua produção ou observação, enquanto
suporte para a promoção do bem-estar, entendemos como limitação para a
pesquisa a falta de padronização da arte-terapia. A flexibilidade das técnicas e a
utilização de diferentes suportes, tanto em termos dos materiais usados nas
produções, ou a intervenção de terceiros – sejam eles conhecidos ou psicólogos –
demonstram diferentes faces do benefício dessa prática, mas não reforçam
resultados específicos.
Consideramos que, sim, há uma base de conhecimento empírica que atesta
a produção de bem-estar e saúde mental promovida pelas artes, porém ainda é
necessário maiores estudos para que se desenvolva um entendimento sobre as
melhores formas de aplicação da prática e observação artística como ferramenta
terapêutica.
Acreditamos que em outras pesquisas, também, seja importante explorar
ainda mais a participação da arte-terapia em redes de atenção psicossocial como
política pública de saúde, ressaltando sua participação na integração do sujeito na
comunidade destacando a sua dimensão não violenta no cuidado de condições que
são estigmatizadas, tal qual a esquizofrenia, a bipolaridade e a depressão.
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