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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE


INSTITUTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

Arthur Brasil Rodrigues de Araujo, Beatriz Araujo de Souza E Silva, Enzo Mazzotti
Almeida, Fernando da Silva Mancebo, Isabella Cunha Alves da Silva, Rita de Cássia
Bittar e Samantha Cristina Albuquerque

A LINGUAGEM ARTÍSTICA COMO FERRAMENTA: A RELAÇÃO ENTRE ARTE,


CRIATIVIDADE E SAÚDE MENTAL

Projeto de pesquisa apresentado à disciplina de Neurociências.


Professora Dra. Suelen Adriani Marques.

NITERÓI
2023.1
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A LINGUAGEM ARTÍSTICA COMO FERRAMENTA: A RELAÇÃO ENTRE ARTE,


CRIATIVIDADE E SAÚDE MENTAL
Arthur Brasil Rodrigues de Araujo, Beatriz Araujo de Souza E Silva, Enzo Mazzotti Almeida, Fernando da Silva
Mancebo, Isabella Cunha Alves da Silva, Rita de Cássia Bittar e Samantha Cristina Albuquerque1

Resumo: Pensar em arte é pensar nas formas de expressão humana, formas que possibilitam a
transformação de apresentações sensoriais ou emocionais em experiências psíquicas carregadas de
significado próprio. Assim, acreditamos no uso da linguagem artística como ferramenta terapêutica
na ressignificação das experiências, na criação de caminhos possíveis para a elaboração das
emoções, produzindo outros sentidos, sendo a criatividade e a neuroplasticidade partes essenciais
dessa transformação. Dessa forma, por meio de uma revisão de literatura de caráter exploratório,
este artigo busca investigar em que medida as artes visuais, a dança e a música podem contribuir
para a promoção do bem-estar psicológico. Para tanto, também é avaliado como a prática dessas
atividades pode atuar no cérebro e quais áreas estão envolvidas. Além disso, o estudo fez uso de
três eixos de pesquisa: uma contextualização histórica, as bases da neurociência em relação às
diferentes manifestações da arte, bem como suas relações com a criatividade e a saúde mental. A
partir dos estudos, constatou-se que a expressão artística, em suas diversas apresentações, impacta
o bem-estar físico e emocional dos praticantes e produz mudanças significativas na qualidade de
vida. Além disso, sua relevante participação na redução da sintomatologia e na melhora na qualidade
de vida de pacientes oncológicos e de cuidados paliativos indica uma possibilidade interessante de
cuidado não invasivo no cenário hospitalar. Em suma, é verificado que o estudo da criatividade e da
linguagem artística é um caminho relevante no estudo de como promover a saúde mental e o
bem-estar.

Palavras-chave: Arte. Saúde Mental. Criatividade. Neuroplasticidade.

Abstract: Thinking about art is thinking about the forms of human expression, forms which enable the
transformation of sensorial or emotional presentations into psychic experiences filled with their own
significance. Thus, we believe in the use of artistic language as a therapeutic tool in the
re-signification of experiences, in the creation of a possible path for the elaboration of emotions, and
in the production of other ways of experiencing the feelings, producing other senses, being creativity
and neuroplasticity essential parts of this transformation. In this way, through a literature review of
exploratory nature, this article seeks to investigate to what extent the visual arts, dance and music can
contribute to promote psychological well-being. To this end, it is also evaluated how the practice of
these activities can act on the brain and which areas are involved. In addition, the study made use of
three axes of research: a historical contextualization, the bases of neuroscience in relation to the
different manifestations of art, as well as their relations with creativity and mental health. From the
studies, it was found that (final considerations) artistic expression, in its various presentations,
impacts the physical and emotional well-being of practitioners and produces significant changes in
quality of life. Moreover, its relevant participation in reducing symptomatology and improving the
quality of life of cancer and palliative care patients indicates an interesting possibility of non-invasive
care in the hospital scenario. In summary, it is verified that the study of creativity and artistic language
is a relevant path in the study of how to promote mental health and well-being. From the studies, it
was found that artistic expression, in its various presentations, impacts the physical and emotional
well-being of practitioners and produces significant changes in quality of life. Moreover, its relevant
participation in reducing symptomatology and improving the quality of life of cancer and palliative care
patients indicates an interesting possibility of non-invasive care in the hospital scenario. In summary, it
is verified that the study of creativity and artistic language is a relevant path in the study of how to
promote mental health and well-being.

Keywords: Art. Mental Health. Creativity. Neuroplasticity.


1
Discentes do curso de Graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense e da
disciplina de Neurociências do período de 2023.1.
3

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 4
2 A ARTE NA HISTÓRIA........................................................................................................ 6
3 CIÊNCIA COMO EMBASAMENTO: NEUROCIÊNCIAS E ARTES.....................................8
4 TRÊS CAMINHOS POSSÍVEIS DA ARTE E SAÚDE MENTAL........................................ 11
4.1 Artes visuais na arteterapia: definição e utilização no espaço oncológico e
paliativo........................................................................................................................... 11
4.1.1 Considerações acerca da flexibilidade da técnica na arteterapia..................... 12
4.1.2 Parâmetros utilizados para explicar a validade da utilização da arteterapia no
âmbito oncológico é paliativo..................................................................................... 12
4.1.3 Resultados das pesquisas acerca da arte-terapia em pacientes oncológicos ou
em cuidados paliativos............................................................................................... 13
4.1.4 A possibilidade terapêutica na observação da arte...........................................15
4.1.5 Conclusões........................................................................................................15
4.2 A Musicoterapia........................................................................................................16
4.2.1 Definição.......................................................................................................... 16
4.2.2 Princípios fundamentais da musicoterapia........................................................17
4.2.3 Potenciais benefícios da musicoterapia............................................................ 17
4.2.4 Conclusões acerca da prática da musicoterapia...............................................20
4.3 Práticas de dança no contexto da saúde mental.................................................. 21
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................24
6 REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 25
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1 INTRODUÇÃO
A arte é utilizada há séculos enquanto representação da subjetividade
humana, subjetividade esta que não é dada, mas se constrói num campo de
relações que se estruturam e se reestruturam no decorrer do tempo histórico. As
expressões artísticas são, portanto, reflexo da relação que os sujeitos estabelecem
com o mundo e com si próprios. Em especial, vale primeiramente explorar a arte
como promotora de bem-estar e saúde mental por meio de estudos que dialogam
com a neurociência.
Os efeitos da contemplação e produção da arte têm sido estudados a fim de
entender de que forma podem afetar a cognição e em até que grau podem afetar as
disposições emocionais prévias dos indivíduos, visto que fazer e observar as artes
visuais aumentam a capacidade de um indivíduo no processo de mediação das
suas respostas emocionais (JENSEN, 2001). As áreas cerebrais que atuam como
facilitadoras desse processo incluem o tálamo, a amígdala e a via de recompensa
desde o topo do tronco cerebral até aos lobos frontais ventrais. Nesse sentido, os
diferentes tipos de familiaridade do que se vê ativam diferentes áreas do cérebro.
Ver imagens familiares estimula e envolve especificamente as células locais no
hipocampo. O dito estranho ou causador de desconforto ativa o sistema de atenção,
desde o tálamo até à área parietal. Outros elementos artísticos criam entusiasmo e
surpresa, e podem ativar áreas do sistema límbico, como a simetria, a descoberta
de elementos ocultos e a elaboração de novos significados, presentes em muitas
obras que apresentam, por exemplo, ilusões ópticas (JENSEN, 2004). Essa relação
do sistema límbico com tais experiências artísticas pode ser sustentada por
evidências de respostas de condutância da pele (TRANEL; DAMASIO, 1985 apud
JENSEN, 2004), que mostram que, uma vez que algo familiar ou significativo tenha
sido encontrado na arte, ficamos comovidos.
Acerca da criatividade, verifica-se que não existe um conceito único para a
sua definição. Por sua vez, uma das explicações possíveis se encontra no livro The
Neuroscience of Creativity. Na obra, os autores apresentam dois principais
elementos que, segundo especialistas, são centrais ao se articular uma definição de
criatividade. O primeiro elemento se define como a capacidade de gerar ideias
inovativas e originais, e o segundo categoriza que essas ideias devem também
satisfazer um contexto em questão. Essa satisfação de um contexto estabelece uma
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certa demarcação para que um aspecto inovador seja considerado criativo. Logo, o
estudo da criatividade segundo a definição proposta por Anna Abraham envolveria
áreas cerebrais e transmissões neuroquímicas relacionadas especialmente à
memória – ao pressupor a criação de uma ideia nova deve-se haver o resgate de
uma ideia antiga (KAUFMAN; ABRAHAM, 2019).
Em paralelo, a observação da arte tem sido estudada para compreender de
que maneira essa ação passiva pode desencadear uma produção ativa, isto é,
como a observação da criatividade na forma de arte, música, dança, pode se
relacionar com um processo criativo no espectador. A partir do conceito de
“cognição corporificada”, é possível justificar essa relação, na medida em que ao
observar expressões artísticas, o indivíduo pode potencialmente disparar os
mesmos neurônios que o artista que criou ou executou a obra, produzindo novos
caminhos neurais e estimulando um estado de inspiração (DEVANEY, 2019). O
processo de cognição corporificada envolve os neurônios-espelho, células cerebrais
que são acionadas na observação e na performance de uma ação. Performar uma
ação requer que a informação passe dos centros de controle para os membros, mas
observar uma ação requer que a informação flua da imagem vista para os centros
de controle. Esse fluxo bidirecional é o que é captado no conceito de
neurônios-espelho e permite uma certa vivacidade estética da apreciação da arte
(ZAMBON, 2013).
Em (KYLE, 1990 apud JENSEN, 2004) um pesquisador utilizou obras de
arte tridimensionais para verificar qual o impacto cognitivo que a observação da arte
pode ter nos indivíduos. Os alunos foram solicitados a analisar as formas
compreendidas na estrutura da escultura e a desenvolverem um vocabulário que
pudesse descrever a estrutura e a reação que tiveram àquela arte, sendo
compreendidas nessas demandas, tarefas de rotação espacial de objetos. Foram
realizados questionamentos antes e depois da observação. Os resultados indicaram
um aumento significativo das capacidades de visualização espacial. Isso indica que
fazer e perceber a arte não pode ser dissociada de um processo cognitivo, pois
envolve e desenvolve a resolução de problemas, o pensamento crítico e o
pensamento criativo. Um experimento prático foi feito em uma escola com uma
turma de alunos do 3º ano, no qual os alunos observaram como o desenho
complementa o processo de escrita e de pensamento. Os alunos relataram que o
desenho lhes permitia clarificar melhor as suas ideias, o que melhorava a
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compreensão e a clareza do que era lido e do que eles conseguiam elaborar


criticamente sobre o material (JENSEN, 2004).
Dado este primeiro panorama, o presente artigo é uma produção suscitada
pela disciplina de Neurociências, presente na grade curricular dos alunos do terceiro
período do curso de Psicologia da Universidade Federal Fluminense, e tem como
objetivo articular a relação entre a arte, criatividade e saúde mental. Acreditamos na
validade dessa afirmação na medida em que a arte possibilita a integração de
fenômenos psíquicos que anteriormente eram experienciados pelo indivíduo de
forma individual no seu mundo interno, mas que podem ser incluídos na realidade
compartilhada e, por isso, podem ser elaborados e sustentados individual e
coletivamente. Desse modo, de caráter exploratório qualitativo, este estudo utiliza
como técnica de pesquisa a bibliografia presente em bases da literatura disponível
para compreender, assim, a integração social, o impacto neurofisiológico e a relação
entre autonomia e produção artística enquanto expressões desse bem-estar.

2 A ARTE NA HISTÓRIA

A relação entre arte, subjetividade e neurociências que, inicialmente, pode


parecer dada, emerge em determinado momento no espaço-tempo, a partir de
certos jogos de força e condições de possibilidade que tornam esse conjunto uma
verdade cristalizada. A arte não é, essencialmente, uma expressão da subjetividade
humana, de uma existência profunda que não poderia ser expressada de outra
forma. Sua constituição enquanto expressão humana é produto de variados
acontecimentos, e mapear as linhas que formam esse nó é essencial para legitimar
a arteterapia. É com a arte na história que se percebe essa emergência, rastreando
os diferentes percursos e formatos, discursos e definições que se fizeram sobre a
arte.
Pensando a partir da Idade Média para mapear esses discursos sobre a arte,
entende-se as diferentes relações que são performadas no real. Segundo Rodrigues
(1999), "a obra de arte não era considerada expressão de uma personalidade
autônoma, sendo a grande inspiração justamente a cópia e a imitação dos mestres"
(p. 24). Nesse cenário, o discurso sobre a arte e da arte não é de expressão do
profundo do humano, mas sim da inspiração do divino, e por isso a cópia é sinal de
maestria: representação da luz divina. Nesse espírito comunitário de relações, os
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artistas raramente assinavam suas obras de arte. O próprio termo "artista" era
inexistente ainda no Renascimento (RODRIGUES, 1999). Percebe-se, portanto, que
a arte não emergia como forma de expressão humana, mas construía outros tipos
de relações e produzia diversos discursos e práticas nesse espírito comunitário dos
corpos.
Talvez o jogo de forças que produz a arte como é entendida hoje fique mais
evidente a partir do Renascimento. Há uma virada importante nos paradigmas
epistemológicos, políticos, estéticos, éticos e econômicos que se articulam na
realidade nesse período, produzindo a ontologia artística moderna de expressão da
subjetividade humana. Passando pela Revolução Francesa, Industrial, Científica e a
Reforma Protestante, há transformações nas formas de existir e entender a
subjetividade humana, dando lugar para o indivíduo moderno, produzido no
paradigma tecnocientífico. Percebe-se mudanças, portanto, nas formas de realizar
arte, colocando-a como representação de um íntimo do indivíduo. Assim,

A partir do Renascimento, com a criação da perspectiva na pintura e da


convergência tonal e harmônica na música, há a emergência de uma visão
racionalista de um mundo dividido, que separa o eu (self) do espaço
newtoniano que o circunda (mundo), no qual o tempo, métrico e facetado,
representa e reflete as relações de causa-efeito. A música, basicamente
temática, com um tempo métrico, sendo pulso, marcado na música barroca
como o tiquetaque de um relógio, reflete o pensamento determinista de
tendência racionalista e materialista. Essa música temática e métrica é a
música que dominou a estética ocidental por mais de 500 anos. A visão
dualista e racional desse período apresenta o cérebro como centro orgânico
privilegiado da vida psíquica. (MUSZKAT; CORREIA; CAMPOS, 2000, p.
71)

É nesse momento que o cérebro passa a ocupar essa posição de regente da


vida psíquica. No próprio pensamento cartesiano encontra-se essa relação:
Descartes postulou a glândula pineal como centro da alma, ponto de encontro da
res extensa e res cogitans. Nessa visão dualista e racional do ser e do mundo, a
constituição de um fora e um dentro é primado na constituição do indivíduo
moderno, e a relação entre essas duas instâncias se dá de maneiras diversas nas
variadas teorias que buscam explicar o sujeito. Através das disciplinas de prefixo
psi- e do pensamento filosófico emerge, enfim, a relação entre arte, subjetividade e
o cérebro. E, através desse campo de pensamento, pode-se buscar promover o
bem-estar e a saúde mental utilizando da arte, já que ela é sempre um bloco de
sensações que tomam sentido e mudam sentido. Portanto,
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O objetivo da arte, com os meios do material, é arrancar o percepto das


percepções do objeto e dos estados de um sujeito percipiente, arrancar o
afecto das afecções, como passagem de um estado a um outro. Extrair um
bloco de sensações, um puro ser de sensações. (DELEUZE, GUATTARI,
2010, p. 196)

No bloco de sensações que está presente a tomada de sentido e, o que vai


se constituir com a neurociência, mudanças neuronais pela neuroplasticidade. A
linguagem artística deve ser entendida por si, enquanto linguagem capaz de dar
sentido às sensações que perpassam os sujeitos e promover o bem-estar. É
seguindo a psiquiatra Nise da Silveira que, no presente artigo, aposta-se na
linguagem do imaginário com "seus arcaísmos, seus símbolos condensadores de
intensos afetos." Para Nise, isso "parecia menos difícil que transpor tais formas de
expressão para nosso falar cotidiano" (SILVEIRA, 2021, p. 84). A linguagem
artística, ou linguagem do imaginário, é uma forma de expressão da subjetividade
humana por si só, capaz de produzir intensas sensações e afetos. Nessa
perspectiva, articula-se uma realidade na qual a arte, a subjetividade e o cérebro
estão atuando em conjunto, funcionando como diferentes partes dessa instância
intensiva do real. Está construído, portanto, as condições de possibilidade do estudo
dos efeitos da arte no cérebro e como isso produz bem-estar e saúde mental.

3 CIÊNCIA COMO EMBASAMENTO: NEUROCIÊNCIAS E ARTES

No campo da ciência, pesquisas sobre os efeitos da arte no cérebro já vêm


sendo formuladas e consolidadas, apresentando resultados profundamente
benéficos. Três eixos, separados para uma construção didática da realidade da
produção e apreciação artística, podem ser usados para entender os benefícios que
a arte promove no sujeito em uma dimensão psiconeurofisiológica.
Em primeiro lugar, há o efeito promovido pela liberação ou redução de
hormônios, que está diretamente ligada ao fenômeno estético. Pesquisas já
atestaram a liberação dos famosos “hormônios da felicidade” durante tanto a prática
quanto a apreciação das artes. Sendo eles, endorfina, serotonina, dopamina e
ocitocina. E, somado a isso, é possível averiguar a diminuição do nível de cortisol
durante a experiência estética, o qual é conhecido como “hormônio do estresse”.
Atestando, assim, a liberação ou redução de hormônios de forma benéfica para o
sujeito durante a apreciação e/ ou produção artística (MAGSAMEN; ROSS, 2023).
Já como segundo eixo, podemos destacar a estimulação da neuroplasticidade pelas
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artes, atestado pela importância do ambiente enriquecido para a produção de novas


conexões neurais e poda de sinapses já irrelevantes. Por fim, temos a importância
da Arte para a promoção da criatividade, já que as práticas artísticas e sua
apreciação engajam diferentes redes neurais que conectam diferentes regiões do
cérebro. Portanto, há, nos três eixos, fenômenos que permitem a construção e
permanência do bem-estar físico, mas, principalmente, emocional e cognitivo.
Para atestar o impacto e a realidade da Arte nos eixos apresentados,
diversas pesquisas e estudos já foram realizados, formando, inclusive, novas áreas
do conhecimento científico. O campo interdisciplinar da Neuroestética, por exemplo,
busca compreender como o cérebro processa e responde à arte e à estética,
combinando elementos da neurociência, da psicologia, da filosofia e da arte para
explorar as bases neurais do que consideramos belo, agradável e emocionalmente
impactante, além dos efeitos que essa interação entre o fenômeno e a
neurofisiologia promovem (MAGSAMEN, 2019).
Para isso, tais pesquisas nesse campo, estudam as respostas cerebrais às
várias formas de arte, incluindo pintura, música e dança, por meio de técnicas de
imagem cerebral, como a ressonância magnética funcional (fMRI) e a
eletroencefalografia (EEG), assim se construindo um conhecimento científico sobre
como o encontro com a arte se dá e como a experiência estética pode influenciar
nossas emoções, pensamentos e comportamentos.
No entanto, dependendo de técnicas permitidas por tecnologias mais
avançadas e, portanto, desenvolvidas há pouco tempo, tal campo, o da
Neuroestética, é extremamente recente, começando realmente a partir dos anos
2000. Apesar disso, anteriormente a ele, experimentos já indicavam a importância
de um enriquecimento ambiental, relacionada, principalmente, ao impacto que este
tem na estimulação da neuroplasticidade.
Cientistas, no passado, acreditavam que os nossos cérebros permaneciam
estáticos após o desenvolvimento e só se modificavam à medida que
envelhecíamos. Porém, desafiando a visão científica da época, a neurocientista
Marian Diamond acreditava na capacidade do cérebro de se adaptar e de se moldar
a nível estrutural e funcional. Sua hipótese era de que os cérebros mudavam ao
longo do tempo e ela suspeitava que um estímulo primário para isso era o ambiente
em que vivemos.
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Para comprovar essa teoria, Diamond projetou um experimento que consistia


em colocar grupos de ratos em três tipos diferentes de gaiolas. Cada gaiola tinha o
básico: acesso a comida e água e níveis de luz idênticos. No entanto, um grupo
residia em um “ambiente enriquecido” – uma gaiola que incluía brinquedos, texturas,
objetos para explorar e brincar, entre outros estímulos sensoriais. Diamond trocava
regularmente esses elementos para promover novidade e surpresa. O segundo
grupo habitava uma gaiola padrão com uma roda de exercício básico, mas que
nunca mudava. Já o terceiro grupo foi colocado dentro de um espaço
“empobrecido”, sem objetos exploratórios ou estímulos.
Após várias semanas, Diamond dissecou os cérebros dos ratos e descobriu
que o córtex cerebral, a camada externa do cérebro, do grupo do “ambiente
enriquecido” havia aumentado em espessura em comparação com os ratos do
grupo “empobrecido”, que haviam perdido massa cerebral. Indicando, assim, com
evidências empíricas, a plasticidade do cérebro e a importância do ambiente
(DIAMOND, 2001).
Em relação à criatividade, pesquisas e estudos também já foram realizados,
resultando em uma compreensão empírica e científica sobre as bases neurais que
temos para a sua emergência como fenômeno na realidade dos indivíduos. A
ciência, hoje, entende a criatividade, em uma dimensão neurológica, como sendo
proveniente da interação e arranjo de ativação de três sistemas cerebrais: A rede de
modo padrão, a rede de saliência e a rede de controle executivo (GAVIOLI, 2021).
A rede de modo padrão é uma rede de regiões interconectadas no cérebro,
sendo ela ativa quando não estamos focados no mundo exterior, mas sim em nosso
interior. Ela está envolvida em diversas funções importantes do cérebro e é suposta
de ser a base para o self, já que está envolvida na memória autobiográfica e na
auto-reflexão.
Já a rede de saliência é responsável por filtrar informações e ajudar a decidir
o que é bonito, memorável e significativo, tornando a experiência estética muito
pessoal para cada indivíduo. Ela é uma das redes neurais do cérebro humano que
está envolvida no processo de selecionar e focar a atenção em estímulos
importantes do ambiente, determinando um nível de importância para diferentes
objetos, além do processamento de emoções e da regulação do humor.
Por fim, temos a rede de controle executivo, uma das redes neurais do
cérebro humano envolvida na regulação do cérebro humano, envolvida na
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regulação de processos cognitivos superiores, como o planejamento, a tomada de


decisão, o controle de impulsos e a flexibilidade cognitiva. Ela desempenha um
papel crucial na execução e monitoramento de tarefas complexas que exigem
atenção direcionada, inibição de respostas automáticas e ajuste de comportamento
de acordo com as demandas do ambiente.
Assim, nessa interação e funcionamento das redes para a emergência da
criatividade, a rede de modo padrão estaria ativa na geração de ideias e nos
processos de brainstorming, enquanto a rede de controle executivo, quando
necessário recrutaria a atenção e desempenharia um papel crítico na avaliação das
ideias, enquanto a rede de saliência funcionaria como um mecanismo de alternância
entre as outras redes, elegendo qual a mais adequada para operar em determinado
momento, sendo também fundamental na criticidade que avalia o potencial de uma
ideia gerada.
Desse modo, temos uma base científica de estudos, pesquisas e
experimentos que apontam para como as artes podem transformar o cérebro, seja
através das múltiplas regiões nas quais elas se envolvem, do engajamento de
sistema cerebrais, da estimulação da neuroplasticidade, da liberação de hormônios
da felicidade ou da redução do nível de cortisol no corpo. Tudo isso gera uma
melhora do bem-estar físico, emocional e cognitivo, da criatividade e das funções
executivas do sujeito.

4 TRÊS CAMINHOS POSSÍVEIS DA ARTE E SAÚDE MENTAL

4.1 Artes visuais na arteterapia: definição e utilização no espaço oncológico e


paliativo

A arte-terapia é uma intervenção clínica que utiliza as qualidades expressivas


da arte com o objetivo de melhorar o bem-estar e o funcionamento psicológico. O
processo criativo envolvido na arte permite a expressão de preocupações e
sentimentos que, de outra forma, poderiam ser difíceis de expressar verbalmente
(RHONDALI et. al, 2007). Por essa razão, muitos estudos têm sido feitos para
avaliar os impactos que sessões de arte-terapia podem desencadear no tratamento
de pacientes oncológicos e de que forma podem promover um bem-estar maior em
centros de cuidados paliativos.
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O principal objetivo dos estudos têm sido determinar o efeito a curto prazo de
sessões de arteterapia em sintomas comumente experienciados por pacientes
oncológicos, como dor e fadiga. Também é objetivado entender qualitativamente a
percepção desses pacientes acerca do impacto e da validade dessa prática nos
seus níveis de estresse físico e emocional.
A duração das sessões variam, mas a maioria dos estudos tendem a se
estabelecer num tempo médio de uma hora, durante uma ou duas vezes por
semana. Para garantir que os pacientes de fato pudessem desfrutar de uma
experiência centrada no sujeito, a arte-terapia tende a ser extremamente flexível.
As técnicas podem ser ampliadas e combinadas , diante da demanda de cada
paciente. São utilizados materiais como tintas, argila, giz de cera, pedaços de
papéis para colagem, etc.
Algumas técnicas utilizadas incluíam a contemplação e a interpretação de
reproduções de obras de arte, a associação de uma cor ou de uma forma à
sensação de dor ou de alívio, a representação de si próprio ,a sinestesia (tradução
gráfica de fragmentos poéticos ou poéticos ou musicais), e diálogo entre o doente e
um familiar na produção em conjunto de arte (COLLETTE et al., 2020)

4.1.1 Considerações acerca da flexibilidade da técnica na arteterapia

A oportunidade de escolha dos materiais serem escolhidos livremente se


torna ainda mais valiosa para os pacientes de cuidados paliativos, pois fornece uma
oportunidade de autonomia e a sensação de controle ao fazerem escolhas, quando
estão imersos em uma condição clínica marcada justamente pela falta desses
elementos.
Embora esta flexibilidade explique o apelo da arte-terapia a uma base de
pacientes mais ampla, o formato não uniforme dos estudos anteriores torna difícil
tirar conclusões específicas sobre a eficácia da arte-terapia numa população
específica, como os pacientes oncológicos internados (NAINIS et al., 2006)

4.1.2 Parâmetros utilizados para explicar a validade da utilização da arteterapia no


âmbito oncológico é paliativo

Para as pesquisas, foi utilizado um instrumento de medição do estresse físico


e psicológico. A aplicação do Edmonton Sympttom Assessment Scale (ESAS) e de
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entrevistas ao paciente foi o método mais recorrente nos artigos. O ESAS é uma
ferramenta de auto-avaliação que permite aos pacientes documentar a intensidade
de nove sintomas que ocorrem frequentemente (dor, náuseas, cansaço, sonolência,
perda de apetite, dispneia, depressão, ansiedade e sensação de mal-estar)
utilizando uma escala que varia entre 0 (nenhum sintoma) e 10 (pior sintoma)
(LEFÈVRE; LEDOUX; FILBET, 2015). A soma das respostas dos pacientes a estes
nove sintomas é a pontuação global de angústia da ESAS.
Alguns estudos optaram por aplicar o ESAS modificado, retirando alguns
sintomas julgados como não tão sensíveis à terapia artística, como a náusea, perda
de apetite e dispneia, e adicionando novos, como o sintoma "tristeza". Embora a
tristeza não seja um sintoma validado para a ESAS, a sua adição é relevante pois,
ainda que incluído a “depressão”, é entendido que ela não pode ser aliviada num
período de tempo tão curto, e sua avaliação a curto-prazo não sofreria tantas
alterações quanto objetivamente medir o nível de “tristeza” (LEFÈVRE; LEDOUX;
FILBET, 2015). Os testes eram aplicados em duas ocasiões: antes das sessões de
arte terapia e após a sua conclusão. O tempo de aplicação que antecede a terapia,
no qual aplica-se o teste, é exatamente o mesmo tempo decorrido após o término
dela, e tendem a variar entre alguns minutos até algumas horas.

4.1.3 Resultados das pesquisas acerca da arte-terapia em pacientes oncológicos ou


em cuidados paliativos

De acordo com estudos anteriormente disponíveis, as sessões de


arte-terapia centram-se principalmente nas artes plásticas, duram cerca de uma
hora e meia e reduzem quase para metade (-47%) a sintomatologia dos pacientes
com câncer (NAINIS et al., 2006; RHONDALI et al., 2013, apud EFÈVRE; LEDOUX;
FILBET, 2015).
Através das entrevistas os pacientes expressaram que eles experienciaram
alívio de dor física durante as sessões de arteterapia. Esse alívio foi explicado por
eles pelo fato de poderem concentrar-se em uma tarefa específica, promovendo
uma distração.
Uma inferência psicológica acerca da redução do sintoma angústia parece
estar relacionado ao aumento da autoconfiança e o sentimento de existir
independentemente do estatuto de doente. A sensação de dominar, gradativamente,
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uma técnica artística, implica na sensação de controle e pode resultar nessa maior
autoconfiança e numa diminuição da ansiedade.
Para melhor avaliação dos impactos diretos da arte-terapia nesses sintomas,
alguns estudos optaram por garantir que os participantes não fossem oferecidos
medicações para dor e ansiedade durante ou antes das sessões (COLLETTE et al.,
2020). Essa melhora parece ter sido rapidamente reduzida (em menos de uma
hora), mas por períodos curtos (menos de 12 horas) .
A sessão de arte-terapia também tem um efeito sobre uma melhor
identificação dos sentimentos, como sugerem os dados recolhidos acerca da
identificação da depressão e da tristeza antes e após as sessões. Os dois sintomas
foram mais fortemente correlacionados antes das sessões do que depois,
demonstrando que foram melhores distinguidos após o seu término (LEFÈVRE;
LEDOUX; FILBET, 2015) .
Alguns pacientes indicaram um aumento na fadiga, entretanto, ela não foi
associada por eles a algo indesejável. Isso porque indicaram que foi um cansaço
resultante de ter conquistado algo, gerando sentimentos de conquista e renovação
da autoconfiança do paciente na sua capacidade (RHONDALI et al., 2007).
Alguns estudos também optaram por avaliar de forma separada a relação
específica do paciente com o processo criativo, a relação entre o processo criativo e
mediada pela presença de um terapeuta (a predominância da valorização da
presença do terapeuta). Nesses casos, mais da metade dos pacientes relacionaram
a melhora no seu bem-estar com o processo criativo em si, indicando que no geral
se divertiram, aprenderam coisas novas e puderam provar para si mesmos que
eram capazes de ter novas ideias, além de escaparem da condição hospitalizada.
Além disso, alguns indicaram a presença do terapeuta em conjunto com a produção
de arte importante, pois sentiram que conseguiram expressar emoções que antes
não conseguiam expressar livremente de outras maneiras, ver como as cores
ganham significado relacionado a memórias, entre outros (COLLETTE et al., 2020).
A respeito do aspecto interpessoal, os participantes também expressaram
que a sessão de arte-terapia promoveu uma melhora na forma com que conseguiam
se relacionar com seus familiares e cuidadores. Isso porque, além de promover uma
sensação de conquista, também promoveu algum tópico de discussão sem ser o
seu quadro clínico (RHONDALI et al., 2007).
15

A arteterapia também tem impacto nos familiares e cuidadores do doente.


Mais da metade dos familiares dos participantes afirmaram acreditar em uma
grande relevância da arte-terapia para o bem-estar dos pacientes (COLLETTE et
al., 2020). A Alguns familiares foi oferecida a participação nas sessões de
arte-terapia e relataram o quão benéfico essa experiência pôde ser com a mediação
do terapeuta e do processo criativo individual. Um participante declarou achar
interessante como o marido dela se sentia durante a criação enquanto outra relatou
que Partilhar um momento importante com a mãe ao criarem juntas, Reviver
histórias e emoções, foi a coisa mais positiva que fizeram até o momento das suas
vidas, e isso transmitiu muita paz (COLLETTE et al., 2020).

4.1.4 A possibilidade terapêutica na observação da arte

Com relação à observação da arte, em detrimento da sua produção,


observou-se igualmente que os participantes encontraram uma forma de expressar
seus sentimentos negativos por meio das obras apresentadas. Em Carvalho, Costa
Neto e Ferreira (2020) os indivíduos foram expostos a 6 diferentes obras de Frida
Kahlo, e foram convidados a relatar como eram afetados por cada uma, além de
buscar ressonâncias com o seu estado emocional ou história pessoal.
A arte pode ser considerada como uma via de canalização da realidade
psíquica do sujeito , auxiliando na elaboração e atribuição de sentido aos seus
sentimentos e vivências. Nesse sentido, a arte pode auxiliar na expressão de
sentimentos e vivências desorganizadoras, e dar sentido aos pensamentos e
emoções que são mobilizados pelo diagnóstico médico (VASCONCELLOS; GIGLIO,
2006 apud CARVALHO; COSTA NETO; FERREIRA, 2020).

4.1.5 Conclusões

Em razão de se tratar de uma intervenção complexa,que permite uma


multiplicidade de componentes na sua aplicação , a elaboração de uma conclusão
sólida e geral a respeito dos efeitos da arte-terapia ainda é um desafio. Entretanto,
evidências apontam que o uso dessa abordagem criativa fomenta benefícios
incontáveis, especialmente no âmbito oncológico e paliativos, promovendo o
bem-estar e tendo efeitos sobre sintomas como fadiga e dor. Em suma, a arteterapia
sugere uma relevância ainda maior ao proporcionar o desenvolvimento da
16

individualidade e a autonomia do paciente , no contexto da vivência de uma perda


justamente desses elementos em função de uma doença , podendo permitir um
olhar humanizante e não apenas a redução do indivíduo à sua sintomatologia.

4.2 A Musicoterapia

4.2.1 Definição

A música é uma das artes que se faz mais presente em praticamente todas
as culturas e que mais profundamente toca o ser humano de diversas formas. A
priori, a percepção primária do som é modulada pela experiência emocional de se
ouvir uma música em uma integração entre o processamento musical influenciado
pela emoção. Nesse sentido, o ato de ouvir, tocar, compor uma música e senti-la
envolve habilidades cerebrais cognitivas (interações auditivo motora) e do sistema
límbico, tanto para quem executa, quanto para quem ouve (ROCHA, 2013).
A musicoterapia é uma abordagem terapêutica amplamente reconhecida que
emprega a música e seus elementos fundamentais, como ritmo, melodia e
harmonia, para facilitar mudanças positivas na saúde e no bem-estar dos indivíduos.
Essa forma de intervenção baseia-se na compreensão de que a música possui
poderosos efeitos psicológicos, emocionais e fisiológicos, podendo ser utilizada
como uma ferramenta eficaz em uma variedade de contextos.
Os musicoterapeutas desempenham um papel fundamental no processo
terapêutico. Eles são especializados em utilizar técnicas específicas, adaptadas às
necessidades e habilidades individuais de cada pessoa, com o objetivo de alcançar
resultados terapêuticos desejados. O musicoterapeuta leva em consideração a
história, preferências musicais, capacidades cognitivas e emocionais, bem como as
metas terapêuticas estabelecidas para cada indivíduo.
Em resumo, a musicoterapia é uma forma de intervenção terapêutica que
reconhece o poder da música como uma ferramenta para promover mudanças
positivas na saúde e no bem-estar. Por meio de técnicas personalizadas e
adaptadas, os musicoterapeutas trabalham para atender às necessidades
individuais de cada pessoa, aplicando a música de maneira terapeuticamente
significativa. A prática da musicoterapia tem se mostrado benéfica em uma ampla
gama de condições de saúde, incluindo tratamento de distúrbios mentais,
17

reabilitação física, entre outros. (AMERICAN MUSIC THERAPY ASSOCIATION,


2005)

4.2.2 Princípios fundamentais da musicoterapia

A musicoterapia é fundamentada em princípios que consideram a interação


entre música, mente e corpo. Alguns dos princípios fundamentais incluem a
integração sensorial e a estimulação multissensorial, em que a música oferece
estímulos sensoriais ricos, impactando diversas áreas do cérebro e facilitando a
integração sensorial. Isso é especialmente útil em casos de deficiências
neurológicas ou distúrbios do desenvolvimento. (GERETSEGGER et al., 2017).
Além disso, a musicoterapia busca estabelecer uma relação terapêutica entre
o terapeuta e o cliente. A música é utilizada como meio de comunicação e
expressão, facilitando a conexão emocional e promovendo a confiança, a empatia e
a expressão de emoções. (GOLD et al., 2009)
Outro princípio é o estímulo da expressão criativa e da comunicação não
verbal. A música proporciona uma forma de expressão e linguagem não verbal,
sendo especialmente útil para aqueles que têm dificuldades em se comunicar
verbalmente. Através da música, emoções e pensamentos podem ser expressos e
processados. (BRADT et al., 2017)
Nesse contexto do tratamento, importantes conexões do paciente com o
Musicoterapeuta podem ser levadas em consideração, baseadas na Teoria da
Musicalidade Comunicativa, conceito proposto por Malloch (1999) e Trevarthen
(2009), responsável pela estrutura emocional que garante a experiência musical
compartilhada (MAFFIOLETTI, 2017).
A aplicação do conceito dessa Teoria da Musicalidade Comunicativa na
Musicoterapia é baseada nas trocas musicais afetivas entre terapeuta e paciente,
como a expressão da voz, da mímica facial e dos movimentos corporais, cujo
objetivo é a comunicação e persiste nas interações sociais posteriores do paciente.
Ocorre, portanto, a expansão do nível de comunicação e de desenvolvimento
musical do paciente, caracterizados por processos progressivos, que agrupam as
habilidades sensório motoras, cognitivas e de interação social (FREIRE, 2021).
18

4.2.3 Potenciais benefícios da musicoterapia

A musicoterapia tem sido associada a uma ampla gama de benefícios para


indivíduos de todas as idades e em diferentes contextos de saúde. Alguns dos
possíveis benefícios incluem a redução do estresse e da ansiedade, pois a música
tem o poder de acalmar e relaxar, proporcionando um ambiente seguro para
explorar emoções e encontrar alívio emocional.(THOMA et al., 2013)
Além disso, a prática musical na musicoterapia estimula habilidades
cognitivas, como memória, atenção e pensamento criativo. Isso pode ser
particularmente benéfico para pessoas com distúrbios neurológicos, como o
Alzheimer, ajudando a estimular a cognição e a memória.
A Doença de Alzheimer (DA) é uma doença neurodegenerativa progressiva,
associada ao declínio cognitivo, cujos primeiros sinais são tipicamente problemas de
memória. No entanto, tem sido observado, que a memória musical é poupada
parcialmente nesses pacientes, mesmo com déficits graves (MATZIORINIS, 2022).
Desse modo, devido a essa preservação da memória musical em pacientes
com DA, a música pode ser usada como uma saída para acessar memórias
autobiográficas desses pacientes, conectadas com a sua história de vida e até de
seus entes queridos.
Diante desse dispositivo mnemônico (recurso de memorização) a partir das
memórias autobiográficas de pacientes com DA, a Musicoterapia pode ser um meio
promissor de prevenção ou desaceleração da Neurodegeneração de pessoas com
risco de desenvolverem Doença de Alzheimer, como por exemplo, declínio cognitivo
subjetivo, ou seja, quando há a queixa, mas não há a detecção em testes
neuropsicológicos (JANATA, 2009).
Utilizando do recurso da memória musical, pacientes com DA podem
aprender novas canções, codificar novas informações verbais e reagir
emocionalmente à música. Esses efeitos, trabalhados na Musicoterapia, podem
levar a melhora do humor desses pacientes, reduzir os níveis depressivos e dos
traços de ansiedade, melhorar as recordações da sua autobiografia e até a fluência
verbal e a cognição.
Contribuições clínicas relevantes também são observadas no tratamento do
Transtorno do Espectro Autista (TEA), que tem como característica dificuldades
sociocomunicativas e padrões de comportamentos restritos e repetitivos.Um
19

aspecto pertinente, é que pessoas com autismo podem se destacar na relação com
a música, que, para além de uma manifestação artística e forma de comunicação,
interação e expressão, se mostra também como um importante recurso no processo
psicoterapêutico, sendo ferramenta capaz de possibilitar formas de intervenção que
visam incluir crianças, por exemplo, no meio social, mesmo com as dificuldades
graves de interação social (SILVA, 2021).
Segundo as autoras Silva e Wronski, a Musicoterapia utiliza a música e seus
elementos para promoção de aprendizagem e aquisição de novas habilidades,
como forma de restabelecer ou desenvolver aptidões sociais, emocionais,
cognitivas, motoras e de comunicação. Dentro desse raciocínio, o desenvolvimento
musical pode ser um benéfico influenciador para o estímulo das funções
neurológicas de pacientes com TEA, relacionado com a neuroplasticidade nas áreas
cerebrais associadas à motricidade, linguagem e emoções (SANTIAGO, 2021),
sendo, portanto, uma importante ferramenta no processo e acompanhamento
psicoterapêutico.
São vistas ainda diversas evidências de uso da música na reabilitação de
pacientes acometidos por um AVC. Vários estudos demonstraram que o uso da
música e do ritmo pode facilitar a recuperação do movimento em pacientes com
derrame. Além disso, o uso de ritmo durante a reabilitação de derrame mostrou
melhorias nas habilidades de caminhada, coordenação motora e recrutamento de
unidades motoras, além de proporcionar estabilidade temporal e espacial durante os
movimentos.(THAUT et al., 2014)
No campo da reabilitação da fala e linguagem, a terapia de entoação
melódica (MIT) tem sido amplamente utilizada. A MIT envolve o uso da melodia e do
canto para facilitar a recuperação da fala em pacientes com afasia expressiva
(afasia de Broca). Pesquisas mostram que a MIT pode melhorar a produção da fala,
aumentar a amplitude dos movimentos dos músculos da fala, além de promover a
plasticidade cerebral, permitindo a reorganização das áreas cerebrais envolvidas na
linguagem. (SCHLAUG, 2009)
Na reabilitação cognitiva, a música tem sido aplicada no treinamento de
negligência hemisférica, utilizando exercícios musicais estruturados para direcionar
a atenção para o campo visual negligenciado. Essa abordagem tem demonstrado
efeitos positivos na recuperação da negligência espacial e visual, utilizando
20

estímulos musicais para estimular a ativação de regiões cerebrais relacionadas à


emoção, atenção e integração sensorial. (ABIRU et al., 2007)
Para além dos exemplos supracitados, melhoras clínicas também são
documentadas em quadros de doença de Parkinson (DP). Descrita inicialmente em
1817 por James Parkinson como “paralisia agitante”, a DP é uma doença crônica
degenerativa progressiva do sistema nervoso central, caracterizada
patologicamente pela degeneração dos neurônios dopaminérgicos da substância
negra e, clinicamente, por sintomas motores, autonômicos e cognitivos. (RIEDER et
al, 2010).
Além de dois dos três sintomas motores clássicos essenciais para o
diagnóstico da doença (bradicinesia, rigidez e tremor), que causam diversos sinais e
sintomas motores secundários (como a marcha Parkinsoniana e disartria), o
portador da doença poderá apresentar alterações sensitivas e disautonômicas,
movimentos involuntários (principalmente associado ao uso da levodopa) sintomas
neuropsiquiátricos, e outros sintomas como hiposmia, que podem inclusive preceder
o surgimento dos sintomas motores (WERNECK, 2010).
O uso da musicoterapia no manejo da DP de forma a complementar a atual
terapêutica farmacologia e promover uma melhor qualidade de vida para esses
pacientes, pode auxiliar na motricidade, qualidade de vida, humor, cognição,
inteligibilidade e padrões acústicos de fala em pacientes com DP, utilizando diversas
ferramentas confiáveis, válidas e sensíveis. (CHAVEZ, 2021).

4.2.4 Conclusões acerca da prática da musicoterapia

A música tem o poder de estimular habilidades cognitivas, reduzir o estresse


e a ansiedade, além de promover a expressão criativa e a comunicação não verbal.
Na Doença de Alzheimer, a música pode acessar memórias autobiográficas
preservadas, melhorando o humor, a cognição e a memória dos pacientes. No caso
do Transtorno do Espectro Autista, a musicoterapia possibilita a inclusão social,
estimulando funções neurológicas e promovendo o desenvolvimento de habilidades
sociais, emocionais e de comunicação. Na reabilitação de AVC, a musicoterapia traz
evidências significativas de melhoria na função motora, fala/linguagem e cognição.
Em suma, a musicoterapia reconhece o potencial terapêutico da música e
utiliza seus elementos para melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas. É uma
abordagem personalizada, que oferece benefícios em diversas condições de saúde,
21

estimulando o desenvolvimento cognitivo, a expressão emocional e a interação


social. A música se mostra uma poderosa ferramenta no processo terapêutico e de
acompanhamento psicoterapêutico, proporcionando mudanças positivas
significativas.
Ainda assim, é importante ressaltar que apesar do crescimento do número de
pesquisas em Neurociências da Música nas últimas décadas, muitas questões ainda
precisam ser exploradas para que se possa alcançar mais propostas efetivas e
concretas de tratamento e expandir cada vez mais os estudos de interesse em
associar a música às práticas que busquem amplificar o bem estar e a qualidade de
vida para os pacientes.

4.3 Práticas de dança no contexto da saúde mental.

Na Itália na década de 70, surgiu o Movimento da Psiquiatria Democrática


Italiana um movimento social, político e econômico que tinha como principais
reivindicações tratamento em liberdade e humanizado para pessoas que
apresentavam transtorno psicológico ou estavam em estado de vulnerabilidade
social. No Brasil, esse movimento influenciou a Reforma Psiquiátrica, em um
contexto de ditadura militar, momento no qual teve um aumento na construção de
manicômios. Isso se deu ao fato de profissionais da área da saúde encontrarem,
nos ambientes de saúde mental, locais em condições precárias, desumanas e
violentas que permeavam a assistência psiquiátrica (AMARANTE e NUNES, 2018).
O principal lema da Reforma Psiquiátrica foi o tema “por uma sociedade sem
manicômios”, de forma a pensar um cuidado em saúde mental que não se
restringisse à uma visão biocientífica do, mas considerasse também cultural, social
e psicológica.
Na década de 1980, observa-se mudanças significativas proporcionadas por
esse movimento no campo político-institucional. Em 1989, o deputado Paulo
Delgado (PTMG) apresentou o projeto de lei nº 3.657/89, conhecido como a Lei da
Reforma Psiquiátrica que teve como diretriz estruturante o direcionamento dos
recursos públicos para a criação de “recursos não-manicomiais de atendimento”.
Esse novo modelo propôs a criação de uma rede de serviços chamada Rede de
Atenção composta por serviços territoriais, dentre eles: Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS), ambulatório especializado, hospital-dia, equipes de atenção
22

básica, Consultório na Rua, Centro de Convivência, Núcleo de Apoio à Saúde da


Família (NASF), Sala de Estabilização, Unidade de Pronto Atendimento (UPA),
emergência hospitalar, Unidade de Acolhimento, serviço de atenção em regime
residencial, Serviço Residencial Terapêutico (SRT), leitos de psiquiatria em hospital
geral e serviço hospitalar de referência, assim como estratégias de reabilitação
psicossocial. (ZANARDO et al, 2018).
É nesse contexto, de mudança no tratamento de pessoas com transtornos
psicológicos, que a prática de expressões artísticas como recurso terapêutico, a
exemplo da dança, conquista um espaço notório na Rede de Saúde Mental. Em 27
de Março de 2017 foi lançada a Portaria Nº 849 que Inclui na Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares as práticas de Arteterapia, Ayurveda,
Biodança e Dança Circular. A inclusão desta portaria proporcionou uma maior
visibilidade para a utilização como ferramenta para as práticas que são
invisibilizadas pela medicina tradicional. Assim, a dança no contexto de prática
integrativa ‘’possibilita a criação de rede de apoio e integração entre as pessoas,
reestruturando os serviços, com vistas a atender às suas necessidades de cuidado.’’
(SILVA, 2022, p.7)
Além disso, é preciso destacar as práticas de dança promovidas pelos Centro
de Apoio Psicossociais (CAPS), locais de tratamentos para pessoas em
vulnerabilidade psicossocial. As práticas de dança tem sua importância por inserir o
indivíduo que está em situação de exclusão social em grupos, sendo possível uma
maior sociabilidade e o compartilhamento de afetos e emoções com os demais.
Destaca-se o estudo realizado por Lima e Guimarães (2014), sobre uma oficina
terapêutica de dança em um CAPS II na Bahia o qual concluiu que ‘’os pacientes
tiveram melhora da autoestima, autoimagem, ritmo musical, coordenação motora,
lateralidade, diminuição de medos e exteriorização de emoções e adesão aos
tratamentos rotineiros e complementares.’’ (OLIVEIRA, 2021, p. 10). Nesse sentido,
Moehlecke e Fonseca (2011), afirmam que os pacientes participantes de atividades
de dança veem o grupo como um lugar para expressar suas emoções e sentimentos
sem se sentirem julgados, parte do tratamento e um complemento aos
medicamentos, um lugar de aprendizagem e troca de experiências. Desse modo,
observa-se que os benefícios advindos das práticas de dança não se restringem a
um aumento da capacidade motora, mas também uma ampliação da capacidade de
23

expressar emoções e sentimentos e uma maior aceitação ao tratamento psicológico


e psiquiátrico.
Ademais, é preciso ressaltar que a existência de grupos de dança no serviço
de saúde mental tem efeito positivo nos funcionários do serviço e nos familiares das
pessoas em sofrimento psíquico. No estudo de Castro et al (2017) observa-se que
os familiares de usuários que frequentam oficinas de dança afirmam que estes
grupos facilitam o relacionamento e o convívio com os mesmos, pois a
comunicação e a forma que eles se expressam apresentam uma notória melhora.
Ademais, segundo estudos de Barone e Paulon (2019) e Reis et al (2017) os grupos
de dança para os trabalhadores da Rede de Atenção Psicossocial são ‘’como um
local para desacelerar da rotina do serviço, sendo um ambiente no qual é
estimulado o olhar humanizado, a capacidade de escuta e de acolhimento’’
(OLIVEIRA, 2021, p. 18). As práticas de dança promovem um maior bem-estar para
os praticantes, para os familiares por melhorar o convívio com os usuários e para os
funcionários do serviço que tem uma melhoria no seu ambiente de trabalho.
Junto a isso, também se vale explorar quais os efeitos da dança nas
atividades cerebrais. Considerando que tal atividade é caracterizada pela intenção
de transmitir um apelo estético no espaço através da dinâmica do movimento
coordenado por um ritmo (PRITZKER; RUNCO, 2020), é seguro afirmar que a
dança pode ser compreendida através de dois vieses: sob o olhar do observador ou
de quem dança, realiza a ação. Durante a experiência estética, os espectadores da
dança ativam, além de redes neurais visuais, auditivas e de recompensa, também
redes perceptivas e motoras (PRITZKER; RUNCO, 2020). Assim, o sistema
perceptivo é responsável pelo processamento da informação sensorial e o sistema
de ação por todo o sistema envolvido na produção dos atos motores (BLÄSING;
PUTTKE; SCHACK, 2010). Ou seja, as áreas motoras do cérebro são ativadas não
somente quando se realiza a ação, elas inclusive estão envolvidas durante a
observação de uma performance. Esse fenômeno ocorre em razão dos
neurônios-espelho, visto que a ação observada é refletida sobre uma ação existente
no repertório motor (GALLESE; FADIGA; RIZZOLATTI, 1996).
De todo modo, seja a partir da observação de uma performance, como
exemplo, ou da prática ativa, a dança possui o potencial de induzir a plasticidade
cerebral, tanto a nível estrutural quanto funcional, embora a prática produza efeitos
mais significativos. Algumas das alterações estruturais podem envolver o aumento
24

do volume do hipocampo, giro pré central, fórnix e corpo caloso. Já alterações na


função, estando diretamente associadas com alterações na estrutura ou não, podem
incluir a melhoria da memória, atenção, equilíbrio e postura, além de parâmetros
psicossociais (TEIXEIRA-MACHADO; ARIDA; MARI, 2018). Nesse sentido, é
evidente que a dança é outra possibilidade no campo artístico que impacta
diretamente nas atividades cerebrais e, por isso, possivelmente também na
qualidade de vida dos indivíduos.
Por sua vez, para além dos efeitos neurobiológicos supracitados, dançar é
uma forma de expressão através do corpo, o qual pode ser um meio fértil de
transformações no que tange a subjetividade humana, assim como em outros tipos
de arte. Deste modo, vale explorar os impactos das diferentes modalidades
artísticas no campo da saúde mental, buscando compreender como elas atuam
dentro de intervenções clínicas ou enquanto ferramenta terapêutica.
Assim, conclui-se que a dança é uma ferramenta importante no tratamento de
pessoas em vulnerabilidade psicossocial, com destaque ao contexto da Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS), pois proporciona um cuidado humanizado, focado
nas necessidades do indivíduo e na sua inserção no laço social, além de impactar
diretamente no cérebro do sujeito. As oficinas de dança se configuram “espaços que
se engendram, se experimentam, se criam novas formas de se relacionar, novos
espaços para existir, novos modos de ser” (LIMA, 2004, p. 10). Desse modo, com as
práticas de dança os indivíduos são incentivados a ter um maior conhecimento do
próprio corpo de forma a sentir as sensações e sentimentos provocados pela
atividade. Ademais, por ser uma prática em grupo os usuários são estimulados a
socializar, de forma a ampliar suas habilidades de comunicação. Portanto, vistos os
benefícios concedidos pela dança é preciso pensar em políticas públicas que
pensem a dança como uma ferramenta de promoção da saúde mental.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É visto, portanto, que a produção de arte se constitui como uma ferramenta


interessante para a promoção da dignidade e restauração de um certo grau de
autonomia dos sujeitos em vulnerabilidade, tendo impacto significativo nos sintomas
relatados e na dimensão interpessoal, assim como na promoção de um bem-estar
para a consolidação da saúde mental no cotidiano. Dessa forma, a arte permite a
25

criação de condições que não reduzem o sujeito internado à sua patologia, sendo
uma forma cabível de promover um bem-estar nos ambientes de recuperação.
Além disso, utilizar obras já existentes como suporte para a elaboração de
sentimentos e vivências difíceis , desde o diagnóstico até o tratamento , também é
interessante em termos de promoção de bem-estar, na medida em que permitem
que o indivíduo expresse e elabore suas afetações através da projeção e da
construção de simbolizações, partindo da construção de ideias e portanto do
engajamento de diversas atividades neurais, inclusive retomam sua história de vida,
o que constrói uma dimensão ética do cuidado, respeitando as construções de
sentido individuais.
No estudo das artes visuais, seja sua produção ou observação, enquanto
suporte para a promoção do bem-estar, entendemos como limitação para a
pesquisa a falta de padronização da arte-terapia. A flexibilidade das técnicas e a
utilização de diferentes suportes, tanto em termos dos materiais usados nas
produções, ou a intervenção de terceiros – sejam eles conhecidos ou psicólogos –
demonstram diferentes faces do benefício dessa prática, mas não reforçam
resultados específicos.
Consideramos que, sim, há uma base de conhecimento empírica que atesta
a produção de bem-estar e saúde mental promovida pelas artes, porém ainda é
necessário maiores estudos para que se desenvolva um entendimento sobre as
melhores formas de aplicação da prática e observação artística como ferramenta
terapêutica.
Acreditamos que em outras pesquisas, também, seja importante explorar
ainda mais a participação da arte-terapia em redes de atenção psicossocial como
política pública de saúde, ressaltando sua participação na integração do sujeito na
comunidade destacando a sua dimensão não violenta no cuidado de condições que
são estigmatizadas, tal qual a esquizofrenia, a bipolaridade e a depressão.

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