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1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4
2 MUSICOTERAPIA ...................................................................................... 5
5 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 56
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 MUSICOTERAPIA
Fonte: letras.mus.com
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encantamento da música relacionado à influência na fertilidade feminina. Também
encontramos o relato bíblico no qual Davi, com o toque de sua harpa, alivia a
depressão do rei Saul.
Na Grécia antiga, a doença consistia no desequilíbrio dos elementos que
constituíam a natureza humana. A música aparecia para reequilibrar, por ser de ordem
e harmonia dos sons. Desempenhava as seguintes funções: catarse das emoções,
enriquecimento da mente e domínio das emoções através de melodias que levavam
ao êxtase. Toro (2000a apud JÚNIOR J; 2008) comenta sobre o importante papel
terapêutico atribuído à música pelos grandes filósofos gregos, como Platão, o qual
considerava que a música trazia serenidade; Aristóteles, que valorizava a música por
suas capacidades de facilitar uma catarse emocional; e Pitágoras, que considerava a
possibilidade de a música restabelecer a harmonia espiritual, descrevendo-a como a
medicina da alma. A aplicação de drogas mais bizarras, acompanhada de práticas
mágicas marcaram o tratamento das doenças durante o Império Romano. Durante a
Idade Média, o uso médico da música desapareceu, persistindo seu emprego
religioso.
No século XI surgiram as primeiras escolas médicas, retomando as tradições
gregas, mas muito impregnada pelo código religioso. As universidades surgiram no
século XII, em cujos currículos também incluíam a música. No entanto, a Igreja
assumiu a tarefa de moldar a forma e o uso da música. No século XIII, volta-se a fazer
referências à música como tratamento para algumas doenças, principalmente para as
“epidemias da dança”, cuja aplicação da música consistia em fazer os doentes
dançarem até a exaustão, ao som de músicas aceleradas. Também se utilizava
música no tratamento dos melancólicos, conforme JÚNIOR J; (2008).
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Conselho Federal de Educação (VON BARANOW, 1999 apud JÚNIOR J; 2008). No
ano de 2001 foi apresentado o Projeto de Lei Original nº 4.827, de 2001, que dispõe
sobre a regulamentação do exercício da profissão de musicoterapeuta. Este projeto
ainda se encontra tramitando no Congresso Nacional, em Brasília.
O uso da música no campo da saúde não tem sido somente uma prática de
musicoterapeutas. Outros profissionais da área da Saúde, médicos, dentistas,
fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, enfermeiros,
dentre outros, utilizam a música como mais um recurso em suas práticas profissionais,
conforme JÚNIOR J; (2008).
Todres (2006 apud JÚNIOR J; 2008), médico pediatra, fez um apanhado de
trabalhos científicos sobre o uso da música na medicina. Segundo o autor, “a música
afeta as necessidades físicas, emocionais, cognitivas e sociais de indivíduos de todas
as idades” (p. 166). Ao fazer referências a alguns artigos, o autor relata que a música
é benéfica para pacientes com dor, alivia a ansiedade pré-operatória nas crianças,
age sobre o sistema nervoso autônomo, reduz os batimentos cardíacos, a pressão
arterial e a dor pós-cirúrgica, diminui a confusão e o delírio em idosos submetidos a
cirurgias eletivas de joelho e quadril, auxilia na redução de distúrbios de humor em
pacientes submetidos a tratamento com altas doses de quimioterapia seguido de
transplante autólogo de células-tronco.
A música na medicina também é benéfica para pacientes que sofreram infarto
agudo do miocárdio, reduz a ansiedade e a dor em cirurgias cardíacas de pacientes
adultos. De acordo com o autor mencionado, os efeitos da música na redução da dor
são explicados pela teoria do portal do controle da dor, pois a música distrai o
paciente, desvia a atenção da dor, modulando o estímulo doloroso, conforme JÚNIOR
J; (2008).
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O referido autor comenta que, para que haja uma maior otimização dos efeitos
benéficos da música na medicina, é preciso reconhecer que, se por um lado, pode ser
oferecida música de maneira passiva através da audição musical, por outro, esses
efeitos positivos podem ser aumentados com a participação de um musicoterapeuta,
conforme JÚNIOR J; (2008).
Weber (2004 apud JÚNIOR J; 2008) trata das propriedades medicinais do som
e da música na acupuntura. Ele afirma que a música pode ser utilizada nesta
modalidade terapêutica, pois tanto o som quanto a música influenciam os pontos de
acupuntura, os quais podem ser vistos como regiões de ressonância do meio interno
e do meio externo, proporcionam uma base física anatômica para a integração do som
terapeuticamente. De modo geral, as músicas são escolhidas conforme os sintomas
dos pacientes, a partir da lei dos cinco elementos (Terra, Madeira, Fogo, Metal e
Água).
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se, então, que eles se expressassem diante da realidade mostrada pela música,
conforme JÚNIOR J; (2008).
Pimentel et al. (2005 apud JÚNIOR J; 2008) realizaram estudos na área da
psicologia com o objetivo de buscar fatores que pudessem, potencialmente, explicar
a adesão por um ou outro estilo musical e suas implicações no comportamento
humano, mais especificamente, investigar se os estilos musicais estão relacionados
aos comportamentos antissociais e às atitudes frente ao uso da maconha entre os
adolescentes. Seguindo esta mesma linha, Mc Namara e Ballard (apud Pimentel et
al., 2005 apud JÚNIOR J; 2008) procuraram estabelecer relações entre os aspectos
fisiológicos, a preferência musical e o comportamento. Segundo os autores, a
preferência por músicas excitantes como o rap e heavy metal por adolescentes do
sexo masculino é explicada, pois essas músicas provocam uma excitação fisiológica,
verificada através da pressão sanguínea. Esta excitação está ligada à busca de
sensações e comportamento antissocial.
Pimentel et al. (2005 apud JÚNIOR J; 2008) alertam para o fato que não se
pode dar uma resposta definitiva entre comportamento antissocial e preferência
musical, mas seu estudo apresenta uma contribuição para entender esse fenômeno.
Concluem que estilos musicais, tais como o heavy metal, rock, punk e rap, chamados
pelos autores de preferência musical anti-convencional, têm correlação direta com
comportamentos antissociais e atitudes favoráveis frente ao uso da maconha.
A música popular utilizada durante exercícios aeróbicos (nadar, saltar, dança
aeróbica, etc.) na fisioterapia, foi estudada por Seath e Thow (1995 apud JÚNIOR J;
2008). As autoras buscaram conhecer os efeitos da música na percepção individual
durante exercícios que exigiam esforço e a associação entre prazer e desprazer. A
música foi usada para apoiar o ritmo da dança e distrair a atenção nos momentos de
esforços que exigem os exercícios. Também alterou informações sobre a percepção
interna e externa do corpo e do ambiente.
As experiências dos exercícios com o uso da música foram mais positivas do
que aquelas onde não havia música. Os sujeitos da pesquisa, ao responderem a um
questionário após a realização de exercícios com música e sem música, relatam que,
quando era colocada música, havia um aumento de entusiasmo, os exercícios
pareciam fáceis, aumentava a motivação, enquanto aqueles que fizeram os mesmos
exercícios sem música relataram desconforto, pouca motivação e dificuldade em
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manter o ritmo do exercício. As autoras alertam para o cuidado que se deve ter com
pacientes hipertensos, com problemas cardíacos ou respiratórios, pois o excesso de
exercícios pode agravar a condição clínica desses pacientes. Também chamam a
atenção que, ao se utilizar música, há a necessidade de um cuidadoso planejamento
e monitoramento durante os exercícios, conforme JÚNIOR J; (2008).
De acordo com Ferreira et al. (2006 apud JÚNIOR J; 2008), os terapeutas
ocupacionais utilizam a música associada à dança, trabalhos corporais e teatro, com
o objetivo de proporcionar autoconhecimento, reflexão e reabilitação para o convívio
social. De modo geral, a música é utilizada na fonoaudiologia como um dos meios
para avaliação auditiva, e os estudos têm se dirigido na investigação de perdas
auditivas entre músicos.
Nakamura et al. (2006 apud JÚNIOR J; 2008) recomendam a utilização de
sons de instrumentos gravados, padronizados e limitados em faixas de frequência
(bandinha digital), como um novo método para avaliação do comportamento auditivo
infantil, pois a qualidade do som não sofre alteração de suas características pelo
examinador. Zaidan et al. (2008 apud JÚNIOR J; 2008) apresentam a música como
um dos estímulos sonoros para testes de avaliação da percepção auditiva.
Mendes e Morata (2007 apud JÚNIOR J; 2008) realizaram estudo sobre a
perda auditiva entre músicos, decorrente da exposição à música. Alertam para a
necessidade de alternativas preventivas e um maior envolvimento entre
fonoaudiólogos na prevenção da saúde auditiva dos músicos.
“Identificar a presença de hiperacusia e investigar as características de sons
desconfortáveis e os comportamentos desencadeados pelo desconforto, em músicos
de uma Banda Militar” foi o objetivo realizado por um grupo de fonoaudiólogos
(GONÇALVES et al., 2007, p. 298 apud JÚNIOR J; 2008). A hiperacusia foi verificada
em 37 % dos músicos, os sons desconfortáveis foram, predominantemente, os de
forte intensidade e as reações emocionais citadas pelos sujeitos da pesquisa foram:
tensão, ansiedade e necessidade de afastar-se do som (GONÇALVES et al., 2007
apud JÚNIOR J; 2008).
Maia e Russo (2008) fizeram um estudo com o objetivo de avaliar a audição de
músicos de rock and roll. Dentre os resultados apresentados pelas autoras,
destacamos que não houve perda auditiva na população estudada, apesar da
possibilidade de ter havido alteração coclear, e os músicos com uma carreira superior
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a dez anos apresentaram resultados piores do que aqueles músicos expostos há
menos tempo à música.
As áreas acima relacionadas utilizam a música com objetivos terapêuticos. No
entanto a Musicoterapia é a única área que utiliza a música “como terapia”, ou seja, a
música aparece como principal instrumento de trabalho do musicoterapeuta, conforme
JÚNIOR J; (2008).
Todas as questões trabalhadas na Musicoterapia surgem da música e com a
música. Todas as questões que aparecem no contexto da Musicoterapia vêm por meio
das experiências musicais, que são, segundo Bruscia (2000 apud JÚNIOR J; 2008):
experiências de improvisação, experiências recreativas, experiências de composição
e experiências receptivas. Tendo em vista estas especificidades, abrimos um capítulo
para um estudo mais detalhado sobre esta área em questão.
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Para que possamos compreender melhor os referidos efeitos, iremos abordar
alguns deles, seguindo o esquema feito por Poch Blasco (1999 apud JÚNIOR J; 2008),
ou seja, efeitos biológicos, fisiológicos, psicológicos, intelectuais, sociais,
espirituais/transcendentes. Vale ressaltar que somos, na verdade, um conjunto que
funciona de forma integrada, corpo físico, emoções, processos mentais e vida
espiritual e que nenhum desses aspectos pode ser afetado sem afetar os demais de
alguma forma (McCLELLAN, 1994 apud JÚNIOR J; 2008).
Miller (apud POCH BLASCO, 1999) mostra que o efeito biológico na música
está no fato de atuar sobre a bioquímica do nosso organismo, positiva ou
negativamente, de acordo com o tipo de música.
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Ocorre a mudança da pressão sanguínea, devido a aspectos pessoais e não
se a música é sedante ou estimulante (BINET y COURTIER, 1895; DIGIEL, 1880;
FOSTER y GAMBLE, 1906; HYDE, 1927 apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR
J; 2008). Vincent y Thompson (apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008)
verificaram que o importante não era o tipo de música, mas o interesse despertado
pela música em cada um dos ouvintes. Entendemos por música sedante, aquela
música cujo andamento é mais lento e a música estimulante aquela que apresenta
ritmo mais irregular e/ou um andamento mais rápido.
As alterações no ritmo cardíaco e pulso provocadas pela música têm resultados
diferentes, dependendo da experiência realizada, e algumas vezes são contraditórios,
bem como os resultados quanto às alterações na respiração, como mostra Hodges
(apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008): a música estimulante aumenta
a FC (frequência cardíaca) e a FP (frequência de pulso) e a música sedante diminui-
os, qualquer música sedante ou estimulante tende a aumentar a FC a FP, a música
sedante e estimulante provoca mudanças na FC e FP, mas essas mudanças não são
percebidas, a música não tem efeitos na FC e na FP, a alteração da FC está
relacionada à altura tonal e a complexidade dos elementos musicais na composição.
A diminuição da FC está relacionada com o conflito musical que é caracterizado por
um tempo lento, cadências finais e movimento harmônico lento.
A FC acelera quando o andamento fica rápido e diminui quando o som e o
andamento ficam lentos. Leinig (1977 apud JÚNIOR J; 2008) mostra que a razão para
flutuações na taxa de pulsações, encontradas em pesquisas, pode ser causada pelo
estímulo musical, ou seja, pela emoção despertada no ouvinte.
Os argumentos existentes sobre as mudanças na respiração são: a música
estimulante aumenta a respiração e a música sedante diminui, qualquer música tende
a aumentar a respiração; a música alegre tende a aumentar a respiração (POCH
BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008). McCLELLAN (1994 apud JÚNIOR J; 2008)
descreve que todos os estudos sobre os efeitos da música na respiração concluíram
que sua velocidade, de fato, aumenta, e a mudança no ritmo é a causa do aumento
na velocidade da respiração.
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Hodges (apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008) comenta que a
resposta galvânica da pele em situações de audição de músicas, não tem resultados
muito definidos. Isso, segundo o autor, pode ocorrer devido ao fato de a emoção
musical despertada ser de difícil medida. Somente é possível medir se houver ou não
uma emoção com a música, mas isto pode estar relacionado às preferências musicais
do ouvinte. Alguns dos argumentos relacionados à resposta galvânica são: as músicas
estimulantes e sedantes produzem efeitos diferentes; há uma relação significativa
entre as preferências musicais ou não no resultado, vários elementos da música,
como a tonalidade, melodia e ritmo afetam a resposta galvânica da pele.
Com relação às respostas musculares e motoras, Lowenstein (apud POCH
BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008) fala do fenômeno da restituição, no qual a
música pode devolver o tamanho natural da pupila, quando esta se encontra dilatada
por exposição à luz. Isto não ocorre por um estímulo tonal, mas por um estímulo
psicológico, ou seja, estímulos sonoros que tenham significação para a pessoa. A
música estimulante causaria dilatação pupilar (SLAUGHTER apud POCH BLASCO,
1999 apud JÚNIOR J; 2008). Sears (apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J;
2008) demonstrou que a música sedante, muito mais que a música estimulante,
produz fortes contrações peristálticas no estômago.
A música sedante tem efeitos benéficos na digestão e a música estimulante
pode causar indigestão. A explicação é dada por uma pesquisa feita pelo Dr. George
W. Crilen, na qual investigou a relação entre as glândulas endócrinas e os nervos. O
pesquisador comprovou que a música tem influência nas glândulas, as quais causam
aumento ou diminuição de secreções no sangue. Então, dependendo do tipo de
música (estimulante ou calmante), ela pode causar espasmos no estômago e no
piloro, resultando em uma indigestão. Da mesma forma, os ruídos inesperados e sons
estridentes interferem no ritmo do estômago e dificultam a digestão (POCH BLASCO,
1999 apud JÚNIOR J; 2008).
Leinig (2008 apud JÚNIOR J; 2008) trata da comprovação dos efeitos da
música sobre o metabolismo. Ribas (apud LEINIG, 2008, p. 261 apud JÚNIOR J;
2008) diz “que a maioria dos autores é de opinião que a ação física da música sobre
as funções orgânicas deve depender da sua repercussão no encéfalo e deste ao
sistema nervoso vegetativo que superintende a atividade dos diversos órgãos”.
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Tarchanoff (apud LEINIG, 2008 apud JÚNIOR J; 2008) afirma que, sob a ação
da música, as correntes elétricas do corpo provocam modificações nas
secreções cutâneas. As correntes elétricas foram medidas, por meio do
galvanômetro, de um homem em repouso, e depois sob a ação da música. O
desvio da agulha do galvanômetro mostrou as variações nas correntes
elétricas durante a execução musical, comprovando, assim, que a música tem
capacidade para excitar as secreções sudoríparas e, dessa maneira,
acarretar as modificações elétricas cutâneas (p. 264).
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cerebrais para um único evento, a música, ocorre o acionamento do corpo caloso,
portanto a música ajuda na plasticidade cerebral:
A partir do modo como o cérebro organiza-se para processar a música, a
musicalidade parece ser uma função integradora, uma função que coordena outras
funções ou que as enriquece e, ainda, uma função capaz de colocar o meio cerebral
em movimento, em fluxo, pois para processar a música formam-se diversas cadeias
neurais e ativam-se diferentes centros trabalhando em conjunto (QUEIROZ, 2003,
p.33 apud JÚNIOR J; 2008).
Um outro fundamento fisiológico para explicar a influência da música no ser
humano foi demonstrado por Hans Berber (apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR
J; 2008) que, em 1923, identificou, pela primeira vez, em seu laboratório de fisiologia,
a presença de ritmos no cérebro, sua regularidade e como podiam ser influenciados
por diferentes estados mentais. Antes da demonstração da presença de ritmo nos
hemisférios cerebrais, em 1896, o Dr. M. L. Patrizzi realizou estudos nos quais pôde
verificar a influência das excitações musicais não só no cérebro, mas também na
circulação periférica.
Percebemos a existência de um discurso afirmando que a música, em si só,
não é sedante ou estimulante, mas que seu efeito depende da memória, das emoções,
das preferências do ouvinte e do seu humor momentâneo. Por outro lado, alguns
acreditam que a música tem propriedades em si mesma, ou seja, a música provoca
reações por seus próprios elementos. Concordamos com Moura Costa (1989 apud
JÚNIOR J; 2008) e Barcellos (1992a apud JÚNIOR J; 2008) quando defendem que o
valor terapêutico da música encontra-se em suas qualidades musicais, isto é, em sua
própria natureza polissêmica (BARCELLOS e SANTOS, 1996 apud JÚNIOR J; 2008)
e não apenas nos efeitos que ela produz no ser humano.
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O neurologista Damásio, na obra “O erro de Descartes”, trouxe uma visão
inovadora sobre os sentimentos e as emoções como uma percepção direta de nossos
estados corporais, constituindo um elo entre o corpo e a consciência. Segundo o autor
“a emoção humana, em seu refinamento, é desencadeada até mesmo por uma música
[...], cujo poder nunca devemos subestimar” (DAMÁSIO, 2000, p. 56 apud JÚNIOR J;
2008).
Os efeitos da música sobre as emoções, explicam em parte “porque a música
é um instrumento terapêutico tão poderoso no processo de cura” (McCLELLAN, 1994,
p. 151 apud JÚNIOR J; 2008). O referido autor comenta que a emoção despertada
pela música vem de dentro de nós e a maneira como reagimos à audição musical
depende do dia que tivemos, as preocupações e cuidados que podem influenciar
nossa audição à música, se estamos confortáveis durante a escuta da música, nossa
familiaridade com a música, associações passadas e gostos pessoais. Ainda afirma
que a música ouvida pode provocar a qualidade de humor ou o humor correspondente,
ou uma emoção, se o ouvinte estiver prestando atenção total à música.
Pelo fato de a música atuar no sistema nervoso central, ela pode provocar
efeitos sedantes ou estimulantes, dependendo se ouvinte gosta da música e está em
um ambiente pessoal e adequado (POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008). A
conceitualidade e indução são duas características psicológicas da música
apresentadas por Sekeff (2007 apud JÚNIOR J; 2008). A conceitualidade da música
favorece muitas leituras da música, “ela nunca diz nada” (p.33). Esta característica de
a conceitualidade estabelece na escuta uma lacunosidade e “acaba por facultar
associação, evocação e integração de experiências, entende-se quão rica é sua
natureza psicológica” (ibid, p. 32).
Segundo a autora mencionada, a música induz atividades motoras, afetiva e
intelectual, em razão de seus elementos constitutivos, o ritmo, a melodia, a harmonia
e o timbre. O ritmo tem efeitos fisiológicos e psicológicos. Através de um ritmo “pode-
se condicionar uma resposta inconsciente automática em nível subcortical, em nível
de tálamo propriamente dito” (ibid, p. 44). Os efeitos psicológicos estão relacionados
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à intensidade do ritmo, se é mais intenso ou menos intenso, mais forte ou mais fraco.
A melodia, através da sequência de alturas, está vinculada à consciência afetiva,
conforme JÚNIOR J; (2008).
A harmonia engloba o aspecto sensorial, no momento em que há uma
simultaneidade de sons que é percebido pelo ouvido interno; o aspecto afetivo, nas
relações entre os sons que formam o acorde através de consonância e dissonância,
tensão e relaxamento e; o aspecto mental, pois é preciso fazer uma análise para
estabelecer as relações entre os sons. O timbre favorece respostas talâmicas nos
homens e nos animais, que “são aquelas sensações que não necessitam de
interpretação pelas funções superiores do cérebro” (SEKEFF, 2007, p. 48 apud
JÚNIOR J; 2008).
Realizou-se um estudo no qual se buscavam respostas a algumas questões
envolvendo a audição musical. Uma das questões era se havia respostas similares
tanto na audição de música vocal quanto na audição de música instrumental. Os
sujeitos da pesquisa eram graduados ou não em música, os quais descreveram seu
estado de ânimo à audição de fragmentos de músicas. As músicas vocais incluíam
rock, folk, country, balada e hino e as músicas instrumentais eram compostas por jazz,
marchas e música clássica. Concluíram-se que as respostas não se mantêm iguais
na música vocal e instrumental (EAGLE apud BLASCO, 1996 apud JÚNIOR J; 2008).
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A música estimula a criatividade (SEKEFF, 2007 apud JÚNIOR J; 2008),
através do estímulo neuronal e do clima afetivo que pode gerar (POCH BLASCO, 1999
apud JÚNIOR J; 2008). A criatividade pressupõe fluência, flexibilidade e originalidade,
estas três características estão presentes na música (GUILFORD apud POCH
BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008).
A música fomenta a memória e estimula a inteligência (SEKEFF, 2007 apud
JÚNIOR J; 2008). O prazer da música parece ocorrer pelo fato dela poder ativar
grande quantidade de segmentos da memória (POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR
J; 2008). O estímulo da inteligência ocorre “tanto no domínio do cérebro-racional
(neocórtex) quanto do cérebro-emocional e do cérebro-sentimental (sistema límbico),
todos constitutivos do córtex, embora exerçam funções diferentes” (SEKEFF, 2007, p.
122 apud JÚNIOR J; 2008).
Quando trata de música e demência, Sacks (2007 apud JÚNIOR J; 2008) fala
sobre musicoterapia e dos efeitos provocados pela música, a musicoterapia com
esses pacientes é possível porque a percepção, a sensibilidade, a emoção e a
memória para a música podem sobreviver até muito tempo depois de todas as outras
formas de memória terem desaparecido (...) para pessoas com demência, porém, a
música pode ter efeitos mais duradouros melhora do humor, do comportamento e até
da função cognitiva, que persistem por horas ou dias depois de terem sido
desencadeados pela música (p. 321; 328).
A música é uma ferramenta para a educação. Gardner (1994 apud JÚNIOR J;
2008) descreve a inteligência musical como um dos tipos de inteligência, juntamente
com a inteligência lógico matemática; linguística; cinestésico-corporal; espacial;
interpessoal e naturalista. Segundo Sekeff (2007, p. 169 apud JÚNIOR J; 2008), a
habilidade adquirida na escuta e no fazer musical amplia a capacidade de cognição
do educando, alimenta mudanças no seu potencial perceptivo, além do que o
exercício da música e o canto em conjunto possibilitam acessar aquela parte do
cérebro que funciona criativa e intuitivamente, favorecendo novas formas de sentir,
pensar, de expressar.
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3.6 Efeitos sociais da música
Segundo Poch Blasco (1999 apud JÚNIOR J; 2008), a música pode sugerir
ideias e sentimentos, sem a necessidade de palavras, por isso ela é acessível a todos.
Também pode ser um agente socializante, através do canto, da dança, da execução
de instrumentos, nos quais pode ocorrer a união entre as pessoas na expressão de
sentimentos comuns.
Ruud (1990, p.96 apud JÚNIOR J; 2008) trata da importância de se “considerar
a música como uma instituição cultural, isto é, apto a fazer a leitura dos contextos
culturais que originam interconexões entre música e identidade (...)”. Merriam (apud
MAFFIOLLETTI, 1993 apud JÚNIOR J; 2008) categorizou as funções sociais da
música. Segundo o autor essas funções são:
Função de expressão emocional;
Função de prazer estético;
Função de divertimento;
Função de comunicação;
Função de representação simbólica;
Função de reação física;
Função de impor conformidades a normas sociais;
Função de validação das instituições sociais e dos rituais religiosos;
Função de contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura;
Função de contribuição para a integração da sociedade, conforme
JÚNIOR J; (2008).
O referido autor comenta que, na função de expressão emocional, a música
serve como meio de expressar ideias e emoções não reveladas no discurso comum.
Na função de prazer estético “os sons que constituem o universo musical de cada
comunidade têm influências ambientais e é resultante do gosto e do prazer estético
dos seus participantes” (MAFFIOLLETTI, 1993, p.23 apud JÚNIOR J; 2008). A função
de divertimento da música é a sua capacidade de alegrar e divertir a sociedade. A
função de comunicação expressa o fato de que a música comunica algo, mesmo que
não exista um significado geral. Na função de representação simbólica, a música
funciona como símbolo de ideias e comportamentos.
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A função de reação física pode ser relacionada aos efeitos fisiológicos da
música citada. Na função de impor conformidade a normas sociais, ressaltam-se as
letras das músicas que chamam a atenção para comportamentos convenientes ou
não. Na função da validação das instituições sociais e dos rituais religiosos, a música
é utilizada para preservação da ordem e do sistema religioso. A função de contribuição
para a continuidade e estabilidade da cultura é expressa através da preservação da
história, mitos e lendas e do uso da música na educação. Na função de contribuição
para a integração da sociedade, a música é usada para agregar à sociedade e reduzir
conflitos, conforme JÚNIOR J; (2008).
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O segundo tipo de música é aquele que leva a um estado meditativo. De forma
contrária ao que acontece na música que leva ao transe, onde os efeitos da música
manifestam-se primeiro no corpo, a música para meditar afeta primeiro a mente e
depois o corpo. Geralmente são músicas lentas, com frases melódicas longas e
muitas pausas. O objetivo da música para meditação é alterar a nossa percepção de
tempo, conforme JÚNIOR J; (2008).
Gaston (apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008) acredita que a
razão para a música e a religião estarem unidas é pela luta contra o medo e a solidão,
assim como pelas qualidades da música para unir os homens.
26
Barcellos (1990 apud JÚNIOR J; 2008) define os princípios como preceitos; a
teoria é o “conhecimento especulativo puramente racional, conjunto sistematizado de
opiniões sobre um determinado assunto”; método é a “ordem que se segue para
alcançar um fim determinado, modo de proceder”; técnica é o “conjunto de processos
e recursos práticos de que se serve uma ciência, uma arte, uma especialidade. A parte
material. Prática”; atividade é a “qualidade de ser ativo. Que exerce uma ação, que
atua”.
27
ser igual ao humor ou à emoção da pessoa para quem estiver sendo tocada”
(McCLELLAN, 1994, p.161 apud JÚNIOR J; 2008).
Fonte: news.med.br
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Falar de musicoterapia incita automaticamente a falar de música, do corpo e de
comunicação.
A música: Não se pode falar da prática da musicoterapia sem se falar de
música. Bruscia (2000 apud SILVA M; 2016) especifica que na musicoterapia o
elemento-chave é a música e a forma como paciente e a música interagem é o foco
central da musicoterapia. Na prática da musicoterapia não importa se o som resultante
é bonito ou feio, agradável ou desagradável dado não serem julgados pelas regras
estéticas, o que importa é o som produzido pelo paciente uma vez que este sim é a
sua música, sendo objetivo primordial a terapia e não a música.
Nordoff Robbins citado por Bruscia (2000 apud SILVA M; 2016) considera que
a música rompe as barreiras da doença ou deficiência e permite que as pessoas
encontrem uma voz, quando estão isoladas pelos efeitos da doença, deficiência ou
trauma, as pessoas muitas vezes têm dificuldade para comunicar ou tomar parte da
vida quotidiana, a música permite a construção de uma ponte para o contato social.
29
Tendo em conta o valor terapêutico da música e o seu papel na sociedade,
Bruscia (2000 apud SILVA M; 2016) aponta que “A música é uma instituição humana
na qual os indivíduos criam significância e beleza através do som, utilizando as artes
da composição, da improvisação, da apresentação e da audição (…) ”. (p. 111) Já
Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016) referindo-se às crianças, define a música
como: Modalidade não-verbal de comunicação, a música é a linguagem natural do
sentimento, da intuição e da afetividade. Combina naturalmente com o mundo da
criança porque o confirma no seu mundo sensorial, motor e intelectual e porque se
adapta a ela”.
A música tem efeitos físicos, intelectuais, afetivos e sociais sempre muito
beneficiosos. Alcança a criança em todas as esferas do seu desenvolvimento (p. 27).
Portanto, na musicoterapia a música flui através dos seus efeitos que pode produzir
no ser humano, pode atuar como elemento facilitador de comunicação/expressão, de
exploração de sentimentos e movimentos, conforme SILVA M; (2016).
O corpo: na musicoterapia o corpo é considerado por muitos autores como o
instrumento musical mais completo. Von Baranow (1999 apud SILVA M; 2016) refere
que o corpo foi o primeiro instrumento produtor de sons, através da exploração de
ritmos (consciente ou inconsciente), do movimento (nomeadamente a dança), ou da
voz, todos estes elementos se tornaram numa importante fonte de comunicação. Este
autor considera que a música influencia o nosso corpo, pois atinge áreas do nosso
psiquismo que dificilmente são atingidas por outros estímulos. Com a fonte musical, o
nosso corpo manifesta mais facilmente sensibilidade e emoções.
Também Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016) partilha da mesma opinião
que Von Baranow e alega que:
Em musicoterapia, considera-se o corpo humano como um instrumento
musical. É uma caixa-de-ressonância formada pelo esqueleto, pelos músculos, pela
pele, pelas cordas vocais e pelo sopro. É também um instrumento de sopro,
instrumento melódico que vibra de acordo com o que o rodeia. Por último, é um
instrumento de percussão e de ritmo. E a música está constituída precisamente por
um conjunto de melodias, ritmos e texturas sonoras que faz vibrar e reagir. Estas
ressonâncias revelam a identidade sonora de uma pessoa, o som que a caracteriza
num dado momento (p. 59), conforme SILVA M; (2016).
30
Foi a partir do corpo humano que surgiram os instrumentos musicais
convencionais inspirados nos fenômenos sonoros naturais produzidos pela nossa
boca (como o canto, falar, rir, gritar, chorar, bocejar) e pelo resto do corpo (estalar os
dedos, bater palmas e bater com os pés). Benenzon (2011 apud SILVA M; 2016)
considera que na aplicação com os deficientes mentais é importante o uso do corpo
como instrumento de movimento e de percussão.
Considera-se que através da música, somos capazes de transformar
sensações corporais internas, permitindo a expressão corporal através do som
quando cantamos, dançamos ou executamos qualquer instrumento musical ou ritmos
corporais. Neste contexto, libertam-se energias internas para o exterior fazendo do
nosso corpo fonte de comunicação, conforme SILVA M; (2016).
A comunicação: falar de musicoterapia é falar de comunicação, segundo Poch
Blasco (2006 apud SILVA M; 2016), a música pode abrir canais de comunicação,
sugerir ideias e sentimentos, sem a necessidade de palavras, tornando-se acessível
a todos. A comunicação é um elemento muito presente na música, porque se
considera que, em todas as culturas, a música tem uma representação simbólica de
coisas, ideias e comportamentos (Blasco, 2006 apud SILVA M; 2016).
Sendo um dos objetivos da musicoterapia, a abertura de canais de
comunicação, através dela pode-se efetuar a troca de ideias e de sentimentos com os
outros, levando a que haja uma interação com o objetivo de codificar e descodificar a
troca de mensagens (Bruscia, 2000 apud SILVA M; 2016). Para este autor, a
comunicação verbal é diferente da comunicação musical, quer pelo seu conteúdo,
quer pelo processo, ou seja, não é apenas o que pode ser comunicado com a
respetiva segurança, mas também pela forma como se comunica.
Reforça ainda que, por vezes, somos capazes de comunicar através da música,
o que não conseguimos através de palavras e vice-versa. No entanto, nem sempre se
podem utilizar as formas pelas quais se comunica musicalmente para a comunicação
verbal, pelo que a comunicação musical não pode ser substituída por nenhuma
modalidade de interação e comunicação, conforme SILVA M; (2016).
A música como modalidade não-verbal de comunicação é considerada por
vários autores a linguagem do sentimento, da intuição e da afetividade, onde a criança
se insere na perfeição sendo combinar naturalmente com o seu mundo, e tendo uma
interligação e adaptação ao nível sensorial, motor e intelectual (Vaillancourt, 2009
31
apud SILVA M; 2016). Este autor considera que a comunicação não-verbal, ou seja,
a linguagem corporal, a expressão facial e a entoação da voz, é, por vezes, mais eficaz
que a comunicação verbal.
Neste sentido, este autor argumenta que a música não é apenas um som não-
verbal, porque ela pode incluir palavras, imagens e movimentos, elementos estes,
parte integrante do processo de comunicação, sendo assim, a música não comunica
apenas o que é musical, mas também explora, desenvolve e enriquece as outras
formas de comunicação verbal e não-verbal, conforme SILVA M; (2016).
Para as crianças que não desenvolveram a linguagem ou que não têm palavras
para dizerem o que sentem, uma melodia, uma improvisação ou uma canção
cumprem na perfeição esse papel (Vaillancourt, 2009 apud SILVA M; 2016). Para este
autor as canções infantis e as rimas contribuem muito para o desenvolvimento da
linguagem, da dicção e da memória, pela estrutura rítmica das palavras, que
contribuem também para o desenvolvimento do sentido rítmico.
32
definida como a compreensão do paciente através da musicalidade que ele expressa
e como expressa. Isto em relação aos parâmetros da música, à escolha dos
instrumentos e à forma de tocar os mesmos.
Consiste em improvisar com instrumentos e/ou com a voz, assim como compor
e utilizar canções. No método receptivo, o musicoterapeuta coloca/toca música para
o paciente, não tendo este um envolvimento ativo na intervenção, ou seja, consiste
em escutar música em função das necessidades, Vaillancourt (2009 apud SILVA M;
2016). Este método normalmente limita-se a pacientes com grandes dificuldades
motoras.
33
4.4 Modelos de intervenção
35
coordenação psicomotora. Deste modo, praticar música, exige uma coordenação
auditiva, visual e motora bastante complexa que deve sempre ser adaptada às
capacidades ou à idade da pessoa, Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016).
36
Se entende a musicoterapia como uma técnica de comunicação, devemos
considerar que a criança com paralisia cerebral tome consciência de um movimento,
através da sua imagem mental do movimento produzido pelos sons associados com
uma emoção, e não que o movimento se converta automaticamente (p. 173),
conforme SILVA M; (2016).
Leinig (2008 apud SILVA M; 2016) argumenta que pela dificuldade de
abstração do deficiente mental, a Musicoterapia contribui com o desenvolvimento
psicomotor através de atividades lúdicas. A música é o meio ideal para estabelecer
contato com o deficiente mental, provocar a manifestação de sentimentos e contribuir
para aumentar a autoconfiança.
Na deficiência mental, o terapeuta perante o paciente deve despojar-se dos
conhecimentos do seu consciente intelectual, idade cronológica do paciente e dirigir-
se a ele através de uma linguagem de comunicação especial. Na paralisia cerebral, a
musicoterapia deverá atuar mais como um estímulo motor (Benenzon, 2011 apud
SILVA M; 2016).
37
aplicações clínicas (…) ”. Refere-se ainda que a “musicoterapia atua
fundamentalmente como técnica psicológica… “ (p. 163). Segundo Leinig (2008 apud
SILVA M; 2016), nos pacientes com autismo, a musicoterapia abre banais de
comunicação, rompe com determinados comportamentos delirantes, estereotipias e
outros distúrbios psíquicos.
Para Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016), no plano social, a música reforça
vínculos e preserva a identidade cultural, podendo estabelecer formas de
comunicação. Os efeitos da música sobre as emoções, McClellan (1994 apud SILVA
M; 2016) considera que explicam em parte “porque a música é um instrumento
terapêutico tão poderoso no processo de cura” (p. 151). Este autor refere que a
emoção que a música desperta vem de dentro de nós e a forma como reagimos à
audição musical depende de como nos correu o dia e das preocupações, em suma,
do nosso estado emocional no momento.
38
Para Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016), “as canções infantis e as rimas
contribuem para o desenvolvimento da linguagem e forma parte dos métodos de
aprendizagem. As suas estruturas rítmicas sustem as palavras. As crianças
desenvolvem também o seu sentido rítmico” (p.30). Para este autor, a canção pode
contribuir para o desenvolvimento da criança no seu todo, dado ser uma forma natural
de manifestação, a criança canta espontaneamente quando tem o coração alegre.
Permite-lhe ainda desenvolver a memória que por seu turno, beneficia as restantes
áreas do desenvolvimento.
O ritmo na criança passa pelo corpo, é uma forma de conhecer-se a si mesmo
e de conhecer o mundo. A música é ritmo e a criança relaciona com toda a
naturalidade. Sem ritmo não há música nem linguagem falada. O ritmo da música tem
influência no ritmo cardíaco, nas palmas, bater com os pés, fazer clicks com os dedos,
estes jogos, assim como os vocalizes, as imitações e criação de sonoridades
contribuem para o desenvolvimento da lateralização, para o reconhecimento do ritmo
interior, do esquema corporal e para a concentração, conforme SILVA M; (2016).
39
Leinig (2008 apud SILVA M; 2016) descreve as atividades sonoro-musicais nas
sessões terapêuticas, as quais estão englobadas em duas áreas: área de expressão
sonoro musical e área de movimento e expressão corporal. Para Blasco (2006 apud
SILVA M; 2016), através do canto é possível dar condições àqueles que têm
dificuldade em se expressar verbalmente. Através da utilização da voz podemos
ajudar a pessoa a explorar e conhecer potencialidades, a desenvolver o aparelho
fonador, a desenvolver a percepção auditiva e tátil, a aumentar a capacidade
respiratória, a fala e a linguagem, a auto expressão e a criatividade.
41
4.13 Técnicas clínicas de musicoterapia de improvisação
42
Fonte: core.ac.uk : Extraído de: Bruscia (2010, p.382 apud SILVA M; 2016)
43
Fonte: core.ac.uk : Extraído de: Bruscia (2010, p.382 apud SILVA M; 2016)
44
Fonte: core.ac.uk : Extraído de: Bruscia (2010, p.382 apud SILVA M; 2016).
45
Pausing: consiste em fazer uma pausa em momentos inesperados no meio de
alguma ação musical que esteja a decorrer, pretendendo captar a atenção do cliente,
conforme MARTINS R; 2020.
Expectation: quando existe uma expectativa sobre a música que está a ser
desenvolvida e o musicoterapeuta faz uma pausa, permitindo o cliente completar a
frase espontaneamente revelando maior autonomia, conforme MARTINS R; 2020.
Grounding: consiste na criação de uma base sonora estável servindo como
âncora e base para a musicalidade do cliente, sendo extremamente útil quando
aplicado a clientes que tocam sem estrutura e com flutuações), conforme MARTINS
R; 2020.
Mirroring: consiste na imitação exata do cliente em termos musicais,
expressivos e linguagem corporal ao mesmo ritmo e ao mesmo tempo que o tempo.
Esta técnica promove a empatia e proporcionar ao cliente ver o espelho do seu próprio
comportamento no comportamento do terapeuta, conforme MARTINS R; 2020.
Segundo Bruscia (1995 apud MARTINS R; 2020), antes da análise das
improvisações começar, um objetivo específico deve ser formulado. Há duas razões
principais para analisar improvisações dos clientes, com muitas variações. O primeiro
objetivo é entender melhor o cliente e, assim, informar e aprimorar os esforços de
tratamento do terapeuta. Aqui, o objetivo é de natureza clínica e sempre vinculado a
um cliente e a um processo terapêutico específicos.
Os objetivos específicos podem ser: entender o cliente e a natureza de seus
problemas e necessidades terapêuticas, fornecer diretrizes sobre como o terapeuta
pode trabalhar melhor com o cliente e / ou avaliar o progresso do cliente e a eficácia
da terapia. Assim, as análises de improvisação podem fazer parte de uma avaliação
formal no início da terapia, parte integrante do processo de tratamento ou parte de
uma avaliação formal do progresso na conclusão da terapia, conforme MARTINS R;
2020.
O segundo objetivo principal é entender melhor o papel e a natureza da
improvisação na Musicoterapia. Esse objetivo está mais relacionado à pesquisa e à
teoria e, como tal, lida com clientes em geral e com tópicos muito mais amplos.
Improvisar é um processo criativo que resulta num produto musical, o que contribui
para a experiência do cliente. Analisando este processo, pode-se considerar que,
quando a análise é focada no processo “ao vivo”, o terapeuta está interessado nos
46
eventos, ações e interações momento a momento do cliente tanto musicais quanto
não musicais, como eles ocorrem na relação temporal com condições e circunstâncias
prevalecentes, conforme MARTINS R; 2020.
Aqui, o foco principal é quem faz o quê e o que acontece quando, e não os
materiais musicais. Por outro lado, quando a análise é focada no “produto”, o terapeuta
está interessado nos materiais musicais que resultam do processo de improvisação.
Aqui, o foco principal está na improvisação como objeto musical, e não nas sequências
comportamentais e temporais e nas circunstâncias envolvidas na sua produção.
Quando o foco da análise é a experiência, o terapeuta está interessado em saber o
que o cliente estava pensando ou sentindo enquanto improvisava, como o cliente
descreveria a música em si ou que significado daria à improvisação, conforme
MARTINS R; 2020.
47
Para Juliete Alvin (1976 apud MARTINS R; 2020) um dos primeiros e
principais objetivos da intervenção da musicoterapia com estas crianças, é
de promover uma evolução das suas capacidades relativas à execução das
suas necessidades básicas, de forma a potenciar o seu funcionamento dentro
do seu quotidiano. Isto envolve criar um ambiente emocionalmente. Estável
e previsível que promova sentimentos de segurança e aceitação de forma a
estimular a auto expressão própria. Outro dos objetivos principais é estimular
o desenvolvimento da identidade da criança, através da promoção da sua
relação com música, instrumentos musicais, e com o terapeuta.
48
1997 apud MARTINS R; 2020). A música pode ser vista como uma forma eficaz de
educação e tratamento de indivíduos com necessidades especiais.
Quando a música é considerada um meio de educação em educação especial,
é chamada de "educação através da música" e é usada para apoiar áreas de
desenvolvimento além do desenvolvimento musical. Esses objetivos estão na área do
domínio cognitivo em que as atividades mentais são dominantes, na área do domínio
afetivo em que as emoções aprendidas são codificadas, e na área do domínio
psicomotor. Crianças com necessidades educativas especiais precisam também de
ser apoiadas em muitos outros domínios de desenvolvimento (Gunes, 2005 apud
MARTINS R; 2020).
Para além das contribuições do estudo da música para o tratamento de
perturbações neurológicas, pode-se indicar um possível uso da música na área de
educação, uma vez que há indícios de correlações entre habilidades musicais e outros
tipos de habilidades, desde cognitivas até relacionadas à socialização e integração
dos indivíduos, apesar de não se saber ainda por que razão a música estimula a
memória, a existência de clientes com demência que se esquecem de fatos da própria
vida, mas que são capazes de cantar canções da infância de cò, indica que a forma
como memória funciona para a música é diferente da forma como funciona com
informação e conhecimento do quotidiano. (Koelsch,2010 apud MARTINS R; 2020).
Um dos objetivos mais importantes da musicoterapia na Educação Especial
consiste no apoio do desenvolvimento emocional, perceptivo e comunicativo, incidindo
também no sistema neuromuscular, e em algumas funções psicomotoras (Lacárcel
Moreno, 1995 apud MARTINS R; 2020). Em contrapartida, segundo Gomes e
Carvalho (2011 apud MARTINS R; 2020) o ensino da música na educação especial
pretende promover a aquisição de conhecimentos musicais, os quais através deles
estimulam o crescimento intelectual da criança, e por sua consequência a aquisição
de novas competências através da prática musical.
Pode-se concluir então que a principal função da musicoterapia dentro da
educação especial é de através da música promover uma intervenção com objetivos
não musicais os quais se pretendem ser transferidos para fora do contexto das
sessões e por sua vez elevar a qualidade de vida da criança. A principal função da
educação musical no ensino especial, não tendo a total intenção de formar músicos,
mas sim a evolução de competências musicais que facilitam a abertura de canais
49
sensoriais onde através da prática musical é explorada a expressão emocional,
contribuindo para a formação integral da criança (Sousa, 2003 apud MARTINS R;
2020).
Cada criança apresenta uma variedade de características, interesses e
necessidades. As diferenças da criança podem ser físicas, como também podem ser
sobre recursos de aprendizagem (Akçamete, 2009 apud MARTINS R; 2020). Crianças
com necessidades educativas especiais são definidas como crianças que mostram
uma diferença significativa ao nível esperado em termos de características individuais
e competências educacionais.
Crianças com necessidades educativas especiais são classificadas de acordo
com uma perturbação a nível mental, auditiva, visual, ortopédica, deterioração do
sistema nervoso, problemas de fala e linguagem, dificuldades de coesão emocional,
perturbação do espectro de autismo, déficit de atenção, hiperatividade, entre outros.
(MEB, 2006; Cavkaytar, 2008 apud MARTINS R; 2020).
Sabe-se que a música tem o poder de afetar o cérebro humano, corpo, nível de
energia, humor e ideias. A música pode excitar ou acalmar, estimular ou relaxar
(Harley, 2004 apud MARTINS R; 2020). É necessária uma abordagem educacional
em que cada criança se expresse dentro das suas capacidades e necessidades, com
o recurso diversas abordagens que envolvam distintas disciplinas, apropriadas para
as abordagens educacionais dos indivíduos com necessidades especiais (Eren, 2012
apud MARTINS R; 2020).
Considerando que há muito poucas plataformas onde crianças com
necessidades educativas especiais se unem com os seus colegas de
desenvolvimento normal, as atividades musicais estão ficando cada vez mais
importantes devido ao fato de estarem abertas a várias abordagens oferecendo
diversas oportunidades de criatividade, conforme MARTINS R; 2020.
50
construir personalidades mais ricas e fortes, para melhorar a liberdade e criatividade
interpessoais e dissipar padrões de comportamento patológico.
A musicoterapia criativa pode ser implementada individualmente ou em
configurações de grupo. Idealmente, dois terapeutas trabalham em equipe, com um
improvisando ao piano para envolver o cliente em uma experiência musical
terapêutica e o outro ajudando o cliente a responder à improvisação e às intenções
clínicas do terapeuta ao piano. A sessão individual pode ser dividida em três fases
processuais: conhecer o cliente musicalmente; evocando respostas musicais; e
desenvolver habilidades musicais, liberdade expressiva e inter-responsividade,
conforme MARTINS R; 2020.
Estas fases ocorrem espontaneamente, pois as respostas do cliente variam de
caso a caso. Assim, com alguns clientes, uma sessão inteira pode ser dedicada a uma
fase, com outros, uma sessão pode incluir todas as três fases ou todo o ciclo repetido
várias vezes, conforme MARTINS R; 2020.
51
estágios de desenvolvimento. Relação com objetos, relação consigo mesmo e com o
terapeuta, e relação com os outros.
Cada estágio é caracterizado por certas técnicas, que podem ser ativas
(quando o cliente faz música) ou receptivas (quando o cliente ouve música). O
terapeuta escolhe as técnicas mais apropriadas de acordo com as necessidades
imediatas do cliente, conforme MARTINS R; 2020.
No primeiro estágio, técnicas "ativas" são usadas para ajudar o cliente a
relacionar-se com instrumentos e música, e a desenvolver consciência sensório-
motora, percepção e integração. Técnicas "receptivas" são usadas para introduzir o
cliente para o instrumento e a música produzida pelo terapeuta. Nesta fase, o
terapeuta é não-diretivo e respeita a territorialidade do cliente, conforme MARTINS R;
2020.
No segundo estágio, técnicas "ativas" servem para projetar sentimentos do
cliente sobre o instrumento e desenvolver algum nível de confiança para com o
terapeuta. Exemplos incluem: improvisando diálogos e duetos, compartilhando
instrumentos e explorar os componentes terapêuticos de cada instrumento. Técnicas
"receptivas" visam trazer ao cliente uma consciência do seu próprio produto de
improvisação musical e aos seus problemas e sentimentos pessoais. Isto pode ser
feito através de várias atividades de escuta de gravações das próprias sessões,
conforme MARTINS R; 2020.
No terceiro estágio (que pode ou não ser necessário ou apropriado para todos),
o cliente é transferido de terapia individual para uma terapia de grupo. As atividades
e experiências musicais desenvolvidas com o terapeuta nos estágios anteriores
fornecem uma estrutura para desenvolver e melhorar os seus relacionamentos com
outros. As técnicas de grupo incluem improvisações livres, ouvir, cantar, atividades de
movimentos e discussão, conforme MARTINS R; 2020.
52
a presença do terapeuta, que tem como função ajudar o paciente a compreender e
ultrapassar o seu conflito, conforme MARTINS R; 2020.
Caso o indivíduo se expresse musicalmente, o terapeuta induz gradualmente o
diálogo, e vice-versa (Bruscia, 1988 apud MARTINS R; 2020). É através da interação
musical que, subconscientemente, os conflitos se tornam claros e são comunicados,
o que permite ao indivíduo a expressão mais livre dos seus sentimentos e problemas
(Bruscia, 1988:17 apud MARTINS R; 2020). A musicoterapia promove, então, uma
maior reflexão pessoal que mune o indivíduo das capacidades psicossociais que o
permitem resolver os seus conflitos interiores e, assim, integrar-se mais facilmente
num ambiente social.
A aceitação das diferenças passa a ser encarada de uma maneira mais ligeira
e positiva. Constataram-se resultados positivos tanto em indivíduos com
incapacidades motoras, físicas e psicológicas, tal como naqueles que não evidenciam
tais (Kern, 2015 apud MARTINS R; 2020). Demonstra-se, então, que incluir indivíduos
sem incapacidades e que, à partida, não apresentariam uma necessidade evidente de
participar em atividades de musicoterapia, proporciona ganhos a nível da inclusão dos
pacientes num meio social. Estes fenômenos de inclusão são alcançados através do
caráter universal da música, esta é intrínseca a todos os meios e culturas.
A música é, então, algo familiar a todos, tornando-se num método eficaz que
favorece a comunicação entre indivíduos sem outra base comum. Deste modo,
recorre-se aos instrumentos e aos sons para que o paciente se sinta cativado a
expressar-se e propenso a participar em atividades que o coloquem confortavelmente
num meio do qual provavelmente se auto excluía. A participação através da dança,
coro, instrumentos, entre outros, encoraja a coordenação e partilha com outros
participantes, tal como uma aproximação a níveis pessoais, conforme MARTINS R;
2020.
53
A implementação da musicoterapia, embora tenha vindo a ganhar terreno como
instrumento terapêutico eficaz, ainda aparenta não ter muito apoio. É crucial que o
paciente seja acompanhado pelo seu sistema de apoio, aqueles que lhe são mais
próximos no dia a dia, visto que uma colaboração entre as entidades que mais tempo
passam com o indivíduo, professores e familiares, e o terapeuta promove resultados
positivos no bem-estar do indivíduo e, em consequência, a sua melhor inclusão no
ambiente social (Kern, 2015 apud MARTINS R; 2020).
Os objetivos e meios são, frequentemente, postos em causa pela família dos
pacientes (Kern, 2015 apud MARTINS R; 2020), apesar dos estudos feitos acerca
deste assunto apontarem para um aumento na qualidade de vida. Dado que os
profissionais que lidam com as crianças durante uma grande parcela do seu dia, como
professores e educadores, não estão, muitas vezes, habilitados a lidar com as
condições de saúde que os indivíduos apresentam, é necessário que se promovam
formas de acompanhamento e terapia para quem não se enquadra nos métodos
convencionais.
54
com Dr. Irvin D. Yalom (cit. por American Addiction Centers, 2019 apud MARTINS R;
2020), este fenômeno denomina-se por “princípio da universalidade”, que consiste na
ideia de que a visualização de outros indivíduos com problemas do mesmo tipo pode
permitir um maior reconhecimento e interiorização do seu conflito, o que demonstra
que a situação por que passa não é única e individual, mas sim algo que partilha com
os outros indivíduos e que, tal como ele, também são afetados.
Ou seja, em casos onde o paciente demonstra totalmente não estar à vontade
para estar sozinho, nem reconhece o seu problema, pode haver uma maior dificuldade
na expressão do conflito numa modalidade de terapia individual. Nestas
circunstâncias, a melhor alternativa seria a musicoterapia coletiva, onde as
parecenças problemáticas podem funcionar como um ponto mútuo, criando segurança
e, por consequência, um clima mais propenso à partilha de experiências (American
Addiction Centers, 2019 apud MARTINS R; 2020).
Visto que é criado um laço entre colegas, existe um maior apoio entre si,
permitindo a expressão e verbalização do conflito com mais facilidade. Para além
disso, o fator financeiro tem um papel importante na decisão do método terapêutico o
custo de uma sessão coletiva não se aproxima do custo de uma sessão individual,
pelo que o menor valor pode levar a que um paciente opte pela musicoterapia de
grupo mesmo que beneficie mais de uma dinâmica individual, conforme MARTINS R;
2020.
55
5 BIBLIOGRAFIA
SAMPAIO COSTA, Giseli. O papel da música na terapia. Edu, [S. l.], p. 1-39, 1 jan.
2011.
56
SANTOS GONTIJO, Beatriz; REGINA DE OLIVEIRA ZANINI, Claudia; RAY, Sonia.
Musicoterapia para músicos: um estudo sobre relações entre a autoestima e a
improvisação musical. DOI, [S. l.], p. 1-24, 1 out. 2020.
57