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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4

2 MUSICOTERAPIA ...................................................................................... 5

3 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A UTILIZAÇÃO DA MÚSICA NA


SAÚDE 6

3.1 A música com objetivos terapêuticos em diferentes contextos clínicos 9

3.2 Da música à musicoterapia ................................................................ 15

3.3 Efeitos biológicos e fisiológicos da música ......................................... 16

3.4 Efeitos psicológicos da música ........................................................... 20

3.5 Efeitos intelectuais da música ............................................................ 22

3.6 Efeitos sociais da música ................................................................... 24

3.7 Efeitos espirituais/transcendentes da música ..................................... 25

3.8 Musicoterapia: inter-relações entre música e terapia ......................... 26

3.9 Princípios básicos da musicoterapia .................................................. 27

4 ELEMENTOS ESSENCIAIS DA MUSICOTERAPIA, MÚSICA, CORPO E A


COMUNICAÇÃO ....................................................................................................... 28

4.1 Principais métodos e modelos ............................................................ 32

4.2 Métodos ativo e receptivo ................................................................... 32

4.3 Experiências de improvisação, recreativas, composição e receptivas


33

4.4 Modelos de intervenção ..................................................................... 34

4.5 Potencialidades/qualidades terapêuticas da musicoterapia ............... 35

4.6 Áreas de intervenção e aplicação da musicoterapia .......................... 36

4.7 Deficiência física/ multideficiência ...................................................... 36

4.8 Deficiência sensorial........................................................................... 37

4.9 Doenças mentais ................................................................................ 37

4.10 Área psicossocial ............................................................................ 38


2
4.11 Área da educação ........................................................................... 38

4.12 Aspetos técnicos de aplicação da musicoterapia ............................ 39

4.13 Técnicas clínicas de musicoterapia de improvisação ...................... 42

4.14 Musicoterapia na multideficiência infantil ........................................ 47

4.15 Musicoterapia na educação especial .............................................. 48

4.16 Musicoterapia criativa ..................................................................... 50

4.17 Musicoterapia improvisacional livre ................................................. 51

4.18 Musicoterapia inclusiva ................................................................... 52

4.19 Musicoterapia individual e de grupo ................................................ 54

5 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 56

3
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 MUSICOTERAPIA

Fonte: letras.mus.com

A musicoterapia consiste na aplicação clínica de um contexto musical e de uma


relação terapêutica entre o cliente e um profissional qualificado, analisando as
intervenções musicais de forma a atingir objetivos personalizados às necessidades
físicas, emocionais, cognitivas e sociais do cliente, os quais serão transferidos para
fora das sessões e por consequência elevar a sua qualidade de vida, conforme
MARTINS R; 2020.
De um ponto de vista mais dentro da psicologia humanista, a musicoterapia
entende-se como um ponto de encontro único entre arte e ciência, medicina e
humanidade. É uma profissão de intervenção terapêutica onde as experiências,
reflexões, diálogos e processos estão em oposição às terapias que acreditam
somente no controle e nos resultados. (Ruud, 1990 apud MARTINS R; 2020).
Segundo Bruscia (1997 apud MARTINS R; 2020) a musicoterapia é um
processo sistemático de intervenção, dirigindo-se a um objetivo terapêutico, no
entanto com um processo experimental que não é possível de ser planeado
totalmente. Esta intervenção consiste num processo de comunicação através de som
com objetivos terapêuticos, criando um espaço de relação interpessoal entre o
terapeuta e o cliente, onde se comunica dentro da música, através de instrumentos
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musicais, da voz, e do corpo, de forma a estabelecer um diálogo entre o terapeuta e
o cliente (ou grupo, caso sejam sessões coletivas) permitindo que a expressão e a
criação exponham o que existe no inconsciente, explorando novos códigos de relação
e de comportamento permitindo ir de encontro ao fundo das emoções e reações do
cliente.
A Musicoterapia tem intenção de intervir terapeuticamente de forma a promover
aspectos psicomotores, tais como a organização espacial, temporal e corporal, a
coordenação e equilíbrio. A musicoterapia permite uma vivência musical que
enriquece e estimula a atividade física, psíquica e emocional. Desta forma, promove
a estimulação da percepção sensorial, dos reflexos e de respostas dinâmicas, assim
como a destreza, e meios de expressão corporal, instrumental e espacial. Promove a
expressão oral e da fala por meio de articulação, vocalização, acentuação e entoação,
conforme MARTINS R; 2020.
A nível de aspectos cognitivos a Musicoterapia promove a expressão
emocional, a aquisição de novos interesses relacionados com o mundo sonoro de
forma a integrá-los na sua própria experiência. Visa desenvolver capacidades
intelectuais como a imaginação, criatividade, atenção, memória, compreensão de
conceitos, observação, concentração e agilidade mental, aumentar a confiança e
adaptação. A nível de aspetos sociais permite o treino de comportamentos adequados
que facilitem a interação e adaptação interpessoal e social, abrindo novos canais de
comunicação facilitando deste modo as suas relações, conforme MARTINS R; 2020.

3 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A UTILIZAÇÃO DA MÚSICA NA SAÚDE

Os parágrafos seguintes abordam concepções históricas apresentadas por


Moura Costa (1989 apud JÚNIOR J; 2008) sobre o uso da música na saúde, até
chegar à sistematização de seu uso pela Musicoterapia.
Entre os povos primitivos, o tratamento do doente cabia ao feiticeiro, que incluía
danças e músicas cerimoniais, a “música de cura”. Acreditavam que a música tinha
capacidade de livrar o doente da possessão de espíritos, levando-o à cura. Segundo
Leinig (1977 apud JÚNIOR J; 2008), os primeiros relatos escritos sobre a influência
da música no ser humano foram encontrados em papiros médicos egípcios pelo
antropólogo inglês Flandres Petrie, por volta de 1899. Esses papiros referem-se ao

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encantamento da música relacionado à influência na fertilidade feminina. Também
encontramos o relato bíblico no qual Davi, com o toque de sua harpa, alivia a
depressão do rei Saul.
Na Grécia antiga, a doença consistia no desequilíbrio dos elementos que
constituíam a natureza humana. A música aparecia para reequilibrar, por ser de ordem
e harmonia dos sons. Desempenhava as seguintes funções: catarse das emoções,
enriquecimento da mente e domínio das emoções através de melodias que levavam
ao êxtase. Toro (2000a apud JÚNIOR J; 2008) comenta sobre o importante papel
terapêutico atribuído à música pelos grandes filósofos gregos, como Platão, o qual
considerava que a música trazia serenidade; Aristóteles, que valorizava a música por
suas capacidades de facilitar uma catarse emocional; e Pitágoras, que considerava a
possibilidade de a música restabelecer a harmonia espiritual, descrevendo-a como a
medicina da alma. A aplicação de drogas mais bizarras, acompanhada de práticas
mágicas marcaram o tratamento das doenças durante o Império Romano. Durante a
Idade Média, o uso médico da música desapareceu, persistindo seu emprego
religioso.
No século XI surgiram as primeiras escolas médicas, retomando as tradições
gregas, mas muito impregnada pelo código religioso. As universidades surgiram no
século XII, em cujos currículos também incluíam a música. No entanto, a Igreja
assumiu a tarefa de moldar a forma e o uso da música. No século XIII, volta-se a fazer
referências à música como tratamento para algumas doenças, principalmente para as
“epidemias da dança”, cuja aplicação da música consistia em fazer os doentes
dançarem até a exaustão, ao som de músicas aceleradas. Também se utilizava
música no tratamento dos melancólicos, conforme JÚNIOR J; (2008).

A partir do Renascimento, houve a valorização do homem como um ser


racional, volitivo e sensível. A doença mental deixou de ser considerada como
algo sobrenatural para ser abordada de forma científica e, “entre os
processos de tratamento (do doente mental) pela recreação, a música se
impôs como um dos meios mais eficazes” (LEINIG, 1977, p. 16 apud JÚNIOR
J; 2008).

No século XV ressurgiu a meloterapia, integrada à música de tendência


metafísica, que unia filosofia, magia e astrologia. No século XVI, o médico, músico e
astrólogo para celso afirmou que os loucos eram doentes, necessitando de tratamento
humano, médico e espiritual. A música integrava-se nesses tratamentos. Havia a
discussão do agente curativo da música o material do qual o instrumento era feito, o
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modo musical empregado ou o aspecto mecânico do próprio instrumento. Durante o
século XVII a música foi recomendada quase exclusivamente aos casos hoje ditos
psiquiátricos. O médico Robert Burton (1632 apud JÚNIOR J; 2008) descreve casos
clínicos do uso da música com melancólicos.
A música passou a ocupar um lugar privilegiado na busca das terapias que
tocassem o sensorial, a partir do século XVIII. Iniciaram-se as investigações sobre os
efeitos puramente fisiológicos da música. No século XIX, Philippe Phinel, médico
fundador da Psiquiatria na França, iniciou o trato moral nos asilos, no qual incluía a
música que deveria ser “harmoniosa”. Difundiram-se vários textos de psiquiatras
elogiando ou criticando os resultados obtidos com a música, conforme JÚNIOR J;
(2008).
O médico Esquirol realizou tentativas de tratamento coletivo com pacientes
alienadas, através da audição de concertos executados por alunos e professores do
Conservatório de Música de Paris. Em 1880, com a aproximação da Psiquiatria com
a Neurologia surge a esperança de fundamentar “cientificamente” a meloterapia, a
partir dos efeitos neurofisiológicos da música. A frustração de criar uma farmacopéia
musical diminui o uso da música na psiquiatria. Com o advento da psicanálise ocorre
uma pausa no desenvolvimento do uso da música como terapia, conforme JÚNIOR J;
(2008).
Durante a Primeira Guerra Mundial a música foi utilizada nos hospitais dos
Estados Unidos por músicos profissionais, após comprovação dos efeitos relaxante e
sedativo, produzidos pela audição musical nos doentes de guerra. Na Segunda
Guerra Mundial ressurgiu a música como terapia nos Estados Unidos, em hospitais
para recuperação de neuróticos de guerra e, na Argentina, por ocasião de uma
epidemia de poliomielite, que dizimou centenas de pessoas. Esses fatos levaram à
criação dos primeiros cursos de formação de musicoterapeutas na Argentina e nos
Estados Unidos, conforme JÚNIOR J; (2008).
Em 1970, deu-se início a carreira de Musicoterapia no Brasil, como uma
especialização, na Faculdade de Educação Musical no Paraná, conhecida hoje como
Faculdade de Artes do Paraná e em 1972, iniciou-se o primeiro curso de graduação
em Musicoterapia, no Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro (SMITH,
2007 apud JÚNIOR J; 2008). No ano de 1978 ocorreu o reconhecimento da
Musicoterapia como uma carreira de nível superior, através do Parecer nº 829/78 do

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Conselho Federal de Educação (VON BARANOW, 1999 apud JÚNIOR J; 2008). No
ano de 2001 foi apresentado o Projeto de Lei Original nº 4.827, de 2001, que dispõe
sobre a regulamentação do exercício da profissão de musicoterapeuta. Este projeto
ainda se encontra tramitando no Congresso Nacional, em Brasília.

3.1 A música com objetivos terapêuticos em diferentes contextos clínicos

O uso da música no campo da saúde não tem sido somente uma prática de
musicoterapeutas. Outros profissionais da área da Saúde, médicos, dentistas,
fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, enfermeiros,
dentre outros, utilizam a música como mais um recurso em suas práticas profissionais,
conforme JÚNIOR J; (2008).
Todres (2006 apud JÚNIOR J; 2008), médico pediatra, fez um apanhado de
trabalhos científicos sobre o uso da música na medicina. Segundo o autor, “a música
afeta as necessidades físicas, emocionais, cognitivas e sociais de indivíduos de todas
as idades” (p. 166). Ao fazer referências a alguns artigos, o autor relata que a música
é benéfica para pacientes com dor, alivia a ansiedade pré-operatória nas crianças,
age sobre o sistema nervoso autônomo, reduz os batimentos cardíacos, a pressão
arterial e a dor pós-cirúrgica, diminui a confusão e o delírio em idosos submetidos a
cirurgias eletivas de joelho e quadril, auxilia na redução de distúrbios de humor em
pacientes submetidos a tratamento com altas doses de quimioterapia seguido de
transplante autólogo de células-tronco.
A música na medicina também é benéfica para pacientes que sofreram infarto
agudo do miocárdio, reduz a ansiedade e a dor em cirurgias cardíacas de pacientes
adultos. De acordo com o autor mencionado, os efeitos da música na redução da dor
são explicados pela teoria do portal do controle da dor, pois a música distrai o
paciente, desvia a atenção da dor, modulando o estímulo doloroso, conforme JÚNIOR
J; (2008).

Estudos de imagem do cérebro mostraram atividades nos condutos auditivos,


no córtex auditivo e no sistema límbico, em resposta à música. Mostrou- se
que a música é capaz de baixar níveis elevados de estresse e que certos
tipos de música, tais como a música meditativa ou clássica lenta, reduzem os
marcadores neuro-hormonais de estresse (TODRES, 2006, p. 167 apud
JÚNIOR J; 2008).

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O referido autor comenta que, para que haja uma maior otimização dos efeitos
benéficos da música na medicina, é preciso reconhecer que, se por um lado, pode ser
oferecida música de maneira passiva através da audição musical, por outro, esses
efeitos positivos podem ser aumentados com a participação de um musicoterapeuta,
conforme JÚNIOR J; (2008).
Weber (2004 apud JÚNIOR J; 2008) trata das propriedades medicinais do som
e da música na acupuntura. Ele afirma que a música pode ser utilizada nesta
modalidade terapêutica, pois tanto o som quanto a música influenciam os pontos de
acupuntura, os quais podem ser vistos como regiões de ressonância do meio interno
e do meio externo, proporcionam uma base física anatômica para a integração do som
terapeuticamente. De modo geral, as músicas são escolhidas conforme os sintomas
dos pacientes, a partir da lei dos cinco elementos (Terra, Madeira, Fogo, Metal e
Água).

O autor exemplifica a aplicação da música na acupuntura, citando o caso de


um paciente que esteja com problema no fígado, com um quadro de
irritabilidade, depressão e mau humor. Nesse caso, seriam utilizadas músicas
com sons mais graves, lentas e serenas, as quais compõem o repertório do
elemento Água. Ainda comenta que a música, em uma sessão de acupuntura,
é um recurso terapêutico, simples, eficaz, barato, prático, sem efeitos
colaterais, contribuindo como fator de humanização e melhora na relação
médico-paciente, bem como do médico no dia a dia do seu trabalho (WEBER,
2004, p.109 apud JÚNIOR J; 2008).

No artigo “O ambiente do consultório odontopediátrico e sua provável influência


sobre o comportamento”, Corrêa et al. (2002 apud JÚNIOR J; 2008) descrevem a
importância de se organizar a estrutura física do consultório odontopediátrico, o qual
deve transmitir segurança e tranquilidade. É recomendado que se use som ambiente
na sala de espera, porque “os sons preenchem espaços que eventualmente ficam
'vazios'” (p. 311). Esse som pode ser produzido por uma televisão ou aparelho de CD.
Segundo as autoras, se for utilizada a música, é preciso considerar alguns
fatores: o primeiro fator a ser considerado é a escolha do repertório. Esta escolha deve
ser feita verificando-se a faixa etária dos pacientes. Caso as faixas etárias sejam
variadas, entre crianças, adolescentes e adultos, devem ser colocadas músicas que
contemplem a todos. Nesse caso, segundo as autoras, recomenda-se música
clássica, pois são “amplamente estudadas e comprovadamente de efeito
tranquilizante, e aquelas de ritmo calmo” (p.313). O segundo fator refere-se ao
ambiente em que será utilizada a música, conforme JÚNIOR J; (2008).
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A sala de espera é um deles. O outro ambiente é a sala de atendimento.
Durante o atendimento no consultório, quem decide se utiliza a música, ou não, é o
profissional dentista, sendo a escolha do repertório feita por ele também, cujo objetivo
é auxiliar na obtenção de relaxamento, conforme JÚNIOR J; (2008).
No ano de 2005 foi realizado um estudo com quarenta crianças com idade entre
quatro e oito anos. O objetivo do estudo era avaliar se o uso da música como técnica
poderia diminuir a ansiedade de pacientes no contexto da odontologia pediátrica.
Controlar a ansiedade de pacientes pediátricos em consultório odontológico tem sido
um objetivo a se alcançar durante muitos anos. O resultado da pesquisa foi publicado
no (Journal of Indian Society of Pedodontics and Preventive Dentistry – Jornal da
Sociedade Indiana de Pedodontia e Odontologia Preventiva). Concluiu-se que o uso
da música diminui o nível de ansiedade, mas a níveis não muito significativos
(MARWAH et al., 2005 apud JÚNIOR J; 2008).
Em um estudo realizado por Andrade e Jorge Pedrão (2005 apud JÚNIOR J;
2008), buscaram-se identificar modalidades terapêuticas não tradicionais utilizadas
por enfermeiros no campo da psiquiatria. Dentre as modalidades citadas no estudo,
destacamos a música, cujos objetivos na sua utilização foram: reconstruir identidades,
integrar pessoas, reduzir a ansiedade, proporcionar a construção de autoestima
positiva e funcionar como meio de comunicação. A forma de aplicação da música era
exclusivamente pela audição, visando, inicialmente, o relaxamento e o resgate de
lembranças de acontecimentos passados na vida do cliente. Estes autores também
sinalizam possíveis iatrogenias:

Utilizar-se de músicas que o paciente não goste, ou que cause irritação ao


mesmo, pode prejudicar o tratamento ao invés de ajudar. Pode-se entender
que não existe um tipo padrão de música. Músicas escolhidas para diferentes
finalidades específicas dizem respeito a áreas e profissionais específicos, por
exemplo, a musicoterapia (ANDRADE; JORGE PEDRÃO, 2005. p. 740 apud
JÚNIOR J; 2008).

Puggina et al. (2005 apud JÚNIOR J; 2008) fizeram um levantamento


bibliográfico sobre a percepção auditiva dos pacientes em estado de coma.
Constataram que 80% (oitenta por cento) dos estudos realizados utilizaram a música
como o principal estímulo auditivo, sendo a percepção da audição dos pacientes
comprovada por (EEG: exame que analisa a atividade elétrica cerebral espontânea,
captada através da utilização de eletrodos colocados sobre o couro cabeludo) e
observação comportamental.
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Também foi realizado um estudo bibliográfico por Ferreira et al. (2006 apud
JÚNIOR J; 2008), com o objetivo de analisar a produção bibliográfica da enfermagem
pediátrica quanto à utilização da música como recurso terapêutico no espaço
hospitalar. As autoras relataram que, devido à necessidade de humanização do
atendimento pediátrico passou-se a utilizar a arte aplicada à medicina. Dentre essas
expressões artísticas encontrava-se a música.
Com o objetivo de promover a saúde e bem-estar do paciente, buscando os
benefícios fisiológicos e psicológicos da música, os enfermeiros fizeram intervenções
musicais. O tipo de intervenção musical mais utilizada pelos enfermeiros foi a audição
musical, buscando músicas de acordo com a preferência do paciente, conforme
JÚNIOR J; (2008).

Vale mencionar que musicoterapeutas são profissionais que buscam, através


da terapia com a música, atender às necessidades físicas, sociais e
psicológicas de uma pessoa, e o fazem mediante a elaboração de um plano
terapêutico do qual deve constar a avaliação, o desenvolvimento da
intervenção, o monitoramento do progresso e a reformulação da mesma,
quando necessária. Portanto, para se estabelecer um plano de cuidados que
utilize a música como forma de terapia, visando atender às necessidades
individuais dos pacientes, deve primeiramente consultar um musicoterapeuta
(FERREIRA et al., 2006, p. 6912006 apud JÚNIOR J; 2008).

As autoras ainda afirmam que, a música, é uma intervenção de baixo custo,


não-farmacológica e não invasiva, pode ser empregada no espaço hospitalar visando
promover os processos de desenvolvimento e a saúde da criança, da família e dos
trabalhadores (p.692), conforme JÚNIOR J; (2008).
Zanella et al. (2004 apud JÚNIOR J; 2008) apresentam um projeto
desenvolvido na área da psicologia social, no qual se utilizou o fazer musical como
mediação na constituição dos sujeitos (adolescentes em situação de risco). O projeto
intitulado “Psicologia Social e música: uma atuação junto a adolescentes da Casa da
Criança do Morro da Penitenciária de Florianópolis” teve como atividades musicais a
audição de músicas de diversos estilos e a análise de letras de algumas músicas.
Segundo as autoras, através dessas atividades, afirmaram-se e ampliaram-se
os gostos músicas dos adolescentes e também se permitiu a exteriorização da
subjetividade de cada um pelo significado que davam às letras da música. É citada
em especial a música “Ei moleque”, a qual retrata uma situação de vida similar à vivida
pelos adolescentes moradores no Morro da Penitenciária, de Florianópolis. Objetivou-

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se, então, que eles se expressassem diante da realidade mostrada pela música,
conforme JÚNIOR J; (2008).
Pimentel et al. (2005 apud JÚNIOR J; 2008) realizaram estudos na área da
psicologia com o objetivo de buscar fatores que pudessem, potencialmente, explicar
a adesão por um ou outro estilo musical e suas implicações no comportamento
humano, mais especificamente, investigar se os estilos musicais estão relacionados
aos comportamentos antissociais e às atitudes frente ao uso da maconha entre os
adolescentes. Seguindo esta mesma linha, Mc Namara e Ballard (apud Pimentel et
al., 2005 apud JÚNIOR J; 2008) procuraram estabelecer relações entre os aspectos
fisiológicos, a preferência musical e o comportamento. Segundo os autores, a
preferência por músicas excitantes como o rap e heavy metal por adolescentes do
sexo masculino é explicada, pois essas músicas provocam uma excitação fisiológica,
verificada através da pressão sanguínea. Esta excitação está ligada à busca de
sensações e comportamento antissocial.
Pimentel et al. (2005 apud JÚNIOR J; 2008) alertam para o fato que não se
pode dar uma resposta definitiva entre comportamento antissocial e preferência
musical, mas seu estudo apresenta uma contribuição para entender esse fenômeno.
Concluem que estilos musicais, tais como o heavy metal, rock, punk e rap, chamados
pelos autores de preferência musical anti-convencional, têm correlação direta com
comportamentos antissociais e atitudes favoráveis frente ao uso da maconha.
A música popular utilizada durante exercícios aeróbicos (nadar, saltar, dança
aeróbica, etc.) na fisioterapia, foi estudada por Seath e Thow (1995 apud JÚNIOR J;
2008). As autoras buscaram conhecer os efeitos da música na percepção individual
durante exercícios que exigiam esforço e a associação entre prazer e desprazer. A
música foi usada para apoiar o ritmo da dança e distrair a atenção nos momentos de
esforços que exigem os exercícios. Também alterou informações sobre a percepção
interna e externa do corpo e do ambiente.
As experiências dos exercícios com o uso da música foram mais positivas do
que aquelas onde não havia música. Os sujeitos da pesquisa, ao responderem a um
questionário após a realização de exercícios com música e sem música, relatam que,
quando era colocada música, havia um aumento de entusiasmo, os exercícios
pareciam fáceis, aumentava a motivação, enquanto aqueles que fizeram os mesmos
exercícios sem música relataram desconforto, pouca motivação e dificuldade em

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manter o ritmo do exercício. As autoras alertam para o cuidado que se deve ter com
pacientes hipertensos, com problemas cardíacos ou respiratórios, pois o excesso de
exercícios pode agravar a condição clínica desses pacientes. Também chamam a
atenção que, ao se utilizar música, há a necessidade de um cuidadoso planejamento
e monitoramento durante os exercícios, conforme JÚNIOR J; (2008).
De acordo com Ferreira et al. (2006 apud JÚNIOR J; 2008), os terapeutas
ocupacionais utilizam a música associada à dança, trabalhos corporais e teatro, com
o objetivo de proporcionar autoconhecimento, reflexão e reabilitação para o convívio
social. De modo geral, a música é utilizada na fonoaudiologia como um dos meios
para avaliação auditiva, e os estudos têm se dirigido na investigação de perdas
auditivas entre músicos.
Nakamura et al. (2006 apud JÚNIOR J; 2008) recomendam a utilização de
sons de instrumentos gravados, padronizados e limitados em faixas de frequência
(bandinha digital), como um novo método para avaliação do comportamento auditivo
infantil, pois a qualidade do som não sofre alteração de suas características pelo
examinador. Zaidan et al. (2008 apud JÚNIOR J; 2008) apresentam a música como
um dos estímulos sonoros para testes de avaliação da percepção auditiva.
Mendes e Morata (2007 apud JÚNIOR J; 2008) realizaram estudo sobre a
perda auditiva entre músicos, decorrente da exposição à música. Alertam para a
necessidade de alternativas preventivas e um maior envolvimento entre
fonoaudiólogos na prevenção da saúde auditiva dos músicos.
“Identificar a presença de hiperacusia e investigar as características de sons
desconfortáveis e os comportamentos desencadeados pelo desconforto, em músicos
de uma Banda Militar” foi o objetivo realizado por um grupo de fonoaudiólogos
(GONÇALVES et al., 2007, p. 298 apud JÚNIOR J; 2008). A hiperacusia foi verificada
em 37 % dos músicos, os sons desconfortáveis foram, predominantemente, os de
forte intensidade e as reações emocionais citadas pelos sujeitos da pesquisa foram:
tensão, ansiedade e necessidade de afastar-se do som (GONÇALVES et al., 2007
apud JÚNIOR J; 2008).
Maia e Russo (2008) fizeram um estudo com o objetivo de avaliar a audição de
músicos de rock and roll. Dentre os resultados apresentados pelas autoras,
destacamos que não houve perda auditiva na população estudada, apesar da
possibilidade de ter havido alteração coclear, e os músicos com uma carreira superior

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a dez anos apresentaram resultados piores do que aqueles músicos expostos há
menos tempo à música.
As áreas acima relacionadas utilizam a música com objetivos terapêuticos. No
entanto a Musicoterapia é a única área que utiliza a música “como terapia”, ou seja, a
música aparece como principal instrumento de trabalho do musicoterapeuta, conforme
JÚNIOR J; (2008).
Todas as questões trabalhadas na Musicoterapia surgem da música e com a
música. Todas as questões que aparecem no contexto da Musicoterapia vêm por meio
das experiências musicais, que são, segundo Bruscia (2000 apud JÚNIOR J; 2008):
experiências de improvisação, experiências recreativas, experiências de composição
e experiências receptivas. Tendo em vista estas especificidades, abrimos um capítulo
para um estudo mais detalhado sobre esta área em questão.

3.2 Da música à musicoterapia

A música vem sendo utilizada com objetivos terapêuticos há muito tempo.


Diferentes culturas e comunidades que utilizam a música com base em suas crenças
e modos de vida. Entretanto, a música tornou-se, efetivamente, elemento terapêutico
através da sistematização feita pela Musicoterapia após a segunda guerra mundial,
conforme JÚNIOR J; (2008 apud JÚNIOR J; 2008).
As mudanças do tipo emocional e fisiológica que a música pode provocar nos
ouvintes é ponto pacífico entre músicos, psicólogos e filósofos (BLASCO, 1996 apud
JÚNIOR J; 2008). Segundo Poch Blasco (1999 apud JÚNIOR J; 2008), o valor
terapêutico da música está no fato dela produzir, no ser humano, efeitos biológico,
fisiológico, psicológico, intelectual, social e espiritual. Todavia, Moura Costa (1989
apud JÚNIOR J; 2008) conclui que o valor terapêutico da música não está somente
nos efeitos que o som pode provocar sobre o organismo e psiquismo humano, mas
sim no significado que é dado à música por cada ouvinte. Da mesma forma, Barcellos
(1992a apud JÚNIOR J; 2008), afirma que a música dever ser usada na terapia por
suas qualidades musicais, e não apenas pelos efeitos do som no organismo.

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Para que possamos compreender melhor os referidos efeitos, iremos abordar
alguns deles, seguindo o esquema feito por Poch Blasco (1999 apud JÚNIOR J; 2008),
ou seja, efeitos biológicos, fisiológicos, psicológicos, intelectuais, sociais,
espirituais/transcendentes. Vale ressaltar que somos, na verdade, um conjunto que
funciona de forma integrada, corpo físico, emoções, processos mentais e vida
espiritual e que nenhum desses aspectos pode ser afetado sem afetar os demais de
alguma forma (McCLELLAN, 1994 apud JÚNIOR J; 2008).

3.3 Efeitos biológicos e fisiológicos da música

A música envolve a transformação dos estímulos sonoros em fenômenos


elétricos e químicos, os únicos que podem circular no interior do cérebro. O ouvido
capta o som, que faz vibrar os tímpanos. Iniciam-se fenômenos fisiológicos que
passam pelas vias nervosas acústicas, as quais modificam suas qualidades físicas e
químicas, devido a intervenção de vários agentes inter-cerebrais, até chegar às
estruturas centrais, que percebem consciente ou inconscientemente os sons musicais
(DELGADO, 2000 apud JÚNIOR J; 2008).
“ Em seguida, começa outra série de estímulos nervosos que podem dar origem
a manifestações externas de comportamento, ou interiores intacerebrais”. (ibid, p. 17).
A música nos afeta fisicamente “porque se desloca pelo ar mediante ondas de pressão
molecular que podem ser sentidas corporalmente” (McCLELLAN, 1994, p.143 apud
JÚNIOR J; 2008).

Miller (apud POCH BLASCO, 1999) mostra que o efeito biológico na música
está no fato de atuar sobre a bioquímica do nosso organismo, positiva ou
negativamente, de acordo com o tipo de música.

Leinig (1977 apud JÚNIOR J; 2008) apresenta alguns efeitos fisiológicos da


música, relacionando-os a reações sensoriais, hormonais e fisiomotoras. Cannon
(apud LEINIG, 1977, p.40 apud JÚNIOR J; 2008) “constatou que ao despertar
emoções, a música libera adrenalina e talvez outros hormônios”. Poch Blasco (1999
apud JÚNIOR J; 2008) apresenta alguns efeitos fisiológicos causados pela música,
baseada em diversos autores.

16
Ocorre a mudança da pressão sanguínea, devido a aspectos pessoais e não
se a música é sedante ou estimulante (BINET y COURTIER, 1895; DIGIEL, 1880;
FOSTER y GAMBLE, 1906; HYDE, 1927 apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR
J; 2008). Vincent y Thompson (apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008)
verificaram que o importante não era o tipo de música, mas o interesse despertado
pela música em cada um dos ouvintes. Entendemos por música sedante, aquela
música cujo andamento é mais lento e a música estimulante aquela que apresenta
ritmo mais irregular e/ou um andamento mais rápido.
As alterações no ritmo cardíaco e pulso provocadas pela música têm resultados
diferentes, dependendo da experiência realizada, e algumas vezes são contraditórios,
bem como os resultados quanto às alterações na respiração, como mostra Hodges
(apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008): a música estimulante aumenta
a FC (frequência cardíaca) e a FP (frequência de pulso) e a música sedante diminui-
os, qualquer música sedante ou estimulante tende a aumentar a FC a FP, a música
sedante e estimulante provoca mudanças na FC e FP, mas essas mudanças não são
percebidas, a música não tem efeitos na FC e na FP, a alteração da FC está
relacionada à altura tonal e a complexidade dos elementos musicais na composição.
A diminuição da FC está relacionada com o conflito musical que é caracterizado por
um tempo lento, cadências finais e movimento harmônico lento.
A FC acelera quando o andamento fica rápido e diminui quando o som e o
andamento ficam lentos. Leinig (1977 apud JÚNIOR J; 2008) mostra que a razão para
flutuações na taxa de pulsações, encontradas em pesquisas, pode ser causada pelo
estímulo musical, ou seja, pela emoção despertada no ouvinte.
Os argumentos existentes sobre as mudanças na respiração são: a música
estimulante aumenta a respiração e a música sedante diminui, qualquer música tende
a aumentar a respiração; a música alegre tende a aumentar a respiração (POCH
BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008). McCLELLAN (1994 apud JÚNIOR J; 2008)
descreve que todos os estudos sobre os efeitos da música na respiração concluíram
que sua velocidade, de fato, aumenta, e a mudança no ritmo é a causa do aumento
na velocidade da respiração.

17
Hodges (apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008) comenta que a
resposta galvânica da pele em situações de audição de músicas, não tem resultados
muito definidos. Isso, segundo o autor, pode ocorrer devido ao fato de a emoção
musical despertada ser de difícil medida. Somente é possível medir se houver ou não
uma emoção com a música, mas isto pode estar relacionado às preferências musicais
do ouvinte. Alguns dos argumentos relacionados à resposta galvânica são: as músicas
estimulantes e sedantes produzem efeitos diferentes; há uma relação significativa
entre as preferências musicais ou não no resultado, vários elementos da música,
como a tonalidade, melodia e ritmo afetam a resposta galvânica da pele.
Com relação às respostas musculares e motoras, Lowenstein (apud POCH
BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008) fala do fenômeno da restituição, no qual a
música pode devolver o tamanho natural da pupila, quando esta se encontra dilatada
por exposição à luz. Isto não ocorre por um estímulo tonal, mas por um estímulo
psicológico, ou seja, estímulos sonoros que tenham significação para a pessoa. A
música estimulante causaria dilatação pupilar (SLAUGHTER apud POCH BLASCO,
1999 apud JÚNIOR J; 2008). Sears (apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J;
2008) demonstrou que a música sedante, muito mais que a música estimulante,
produz fortes contrações peristálticas no estômago.
A música sedante tem efeitos benéficos na digestão e a música estimulante
pode causar indigestão. A explicação é dada por uma pesquisa feita pelo Dr. George
W. Crilen, na qual investigou a relação entre as glândulas endócrinas e os nervos. O
pesquisador comprovou que a música tem influência nas glândulas, as quais causam
aumento ou diminuição de secreções no sangue. Então, dependendo do tipo de
música (estimulante ou calmante), ela pode causar espasmos no estômago e no
piloro, resultando em uma indigestão. Da mesma forma, os ruídos inesperados e sons
estridentes interferem no ritmo do estômago e dificultam a digestão (POCH BLASCO,
1999 apud JÚNIOR J; 2008).
Leinig (2008 apud JÚNIOR J; 2008) trata da comprovação dos efeitos da
música sobre o metabolismo. Ribas (apud LEINIG, 2008, p. 261 apud JÚNIOR J;
2008) diz “que a maioria dos autores é de opinião que a ação física da música sobre
as funções orgânicas deve depender da sua repercussão no encéfalo e deste ao
sistema nervoso vegetativo que superintende a atividade dos diversos órgãos”.

18
Tarchanoff (apud LEINIG, 2008 apud JÚNIOR J; 2008) afirma que, sob a ação
da música, as correntes elétricas do corpo provocam modificações nas
secreções cutâneas. As correntes elétricas foram medidas, por meio do
galvanômetro, de um homem em repouso, e depois sob a ação da música. O
desvio da agulha do galvanômetro mostrou as variações nas correntes
elétricas durante a execução musical, comprovando, assim, que a música tem
capacidade para excitar as secreções sudoríparas e, dessa maneira,
acarretar as modificações elétricas cutâneas (p. 264).

A música aumenta à resistência a dor. Esta aplicação é importante na


anestesiologia, ginecologia, odontologia, etc., ou seja, em qualquer circunstância onde
haja dor física ou moral (JACOBSEN; MELZACK; WISZ y SPRAGUE; UNKEFER;
FEIJOO; VINARD; CONSTANTIN; MELLGREN; LAVINE; GARDNER; MOORDE;
GABAU, apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008).
Tarchanoff (apud LEINIG, 1977 apud JÚNIOR J; 2008), em comunicação sobre
os resultados de sua pesquisa sobre a influência da música na força muscular, relatou
que “excitações sonoras agradáveis determinavam geralmente, um aumento da força
muscular, enquanto que as desagradáveis provocavam a sua diminuição” (p. 49).
Experiências realizadas por Sears, com a ajuda de eletromiograma e realizadas por
Brickman y Stevens, com a observação da atividade do corpo, concluíram que a
música incrementa a atividade muscular (POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J;
2008). A música pode estimular imagens cinestésicas (SEKEFF, 2007). Mesmo sem
ouvir a música, simplesmente imaginando-a, há a estimulação do córtex motor
(ZATORRE apud SACKS, 2007 apud JÚNIOR J; 2008).
A música sedante tem efeito relaxante, tanto em indivíduos normais como em
pessoas com alguma patologia, como paralisia cerebral e autismo. Este tipo de música
(música sedante) induz ao relaxamento nas crianças normais, e nas crianças autistas
induz a uma ação, a sair de sua inatividade (POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J;
2008). Scheneider (apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008) assegura que
uma música sedante produz efeito relaxante na paralisia cerebral do tipo atetóide, e a
música estimulante produz relaxamento na paralisia cerebral espástica.
Estudos recentes mostram que não existe um hemisfério específico para o
processamento da música (ALTENMÜLLER apud QUEIROZ, 2003 apud JÚNIOR J;
2008). A análise de um padrão durante um tempo, a sequência e aspectos rítmicos
estão localizados no hemisfério esquerdo, enquanto a harmonia, análise de padrão
num instante e aspectos simultâneos da música estão localizados no hemisfério direito
(BORCHGREVINK, 1990 apud JÚNIOR J; 2008). Ao utilizar os dois hemisférios

19
cerebrais para um único evento, a música, ocorre o acionamento do corpo caloso,
portanto a música ajuda na plasticidade cerebral:
A partir do modo como o cérebro organiza-se para processar a música, a
musicalidade parece ser uma função integradora, uma função que coordena outras
funções ou que as enriquece e, ainda, uma função capaz de colocar o meio cerebral
em movimento, em fluxo, pois para processar a música formam-se diversas cadeias
neurais e ativam-se diferentes centros trabalhando em conjunto (QUEIROZ, 2003,
p.33 apud JÚNIOR J; 2008).
Um outro fundamento fisiológico para explicar a influência da música no ser
humano foi demonstrado por Hans Berber (apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR
J; 2008) que, em 1923, identificou, pela primeira vez, em seu laboratório de fisiologia,
a presença de ritmos no cérebro, sua regularidade e como podiam ser influenciados
por diferentes estados mentais. Antes da demonstração da presença de ritmo nos
hemisférios cerebrais, em 1896, o Dr. M. L. Patrizzi realizou estudos nos quais pôde
verificar a influência das excitações musicais não só no cérebro, mas também na
circulação periférica.
Percebemos a existência de um discurso afirmando que a música, em si só,
não é sedante ou estimulante, mas que seu efeito depende da memória, das emoções,
das preferências do ouvinte e do seu humor momentâneo. Por outro lado, alguns
acreditam que a música tem propriedades em si mesma, ou seja, a música provoca
reações por seus próprios elementos. Concordamos com Moura Costa (1989 apud
JÚNIOR J; 2008) e Barcellos (1992a apud JÚNIOR J; 2008) quando defendem que o
valor terapêutico da música encontra-se em suas qualidades musicais, isto é, em sua
própria natureza polissêmica (BARCELLOS e SANTOS, 1996 apud JÚNIOR J; 2008)
e não apenas nos efeitos que ela produz no ser humano.

3.4 Efeitos psicológicos da música

A música nos afeta emocionalmente “porque cria ambientes de humor aos


quais reagimos em um nível subconsciente e não-verbal” (McCLELLAN, 1994, p.143
apud JÚNIOR J; 2008). Quando ouvimos música, ocorre um processo no qual os sons
são captados pelos ouvidos, convertidos em impulsos e percorrem os nervos auditivos
até o tálamo, que é a estação central das emoções, sensações e sentimentos (ibid).

20
O neurologista Damásio, na obra “O erro de Descartes”, trouxe uma visão
inovadora sobre os sentimentos e as emoções como uma percepção direta de nossos
estados corporais, constituindo um elo entre o corpo e a consciência. Segundo o autor
“a emoção humana, em seu refinamento, é desencadeada até mesmo por uma música
[...], cujo poder nunca devemos subestimar” (DAMÁSIO, 2000, p. 56 apud JÚNIOR J;
2008).
Os efeitos da música sobre as emoções, explicam em parte “porque a música
é um instrumento terapêutico tão poderoso no processo de cura” (McCLELLAN, 1994,
p. 151 apud JÚNIOR J; 2008). O referido autor comenta que a emoção despertada
pela música vem de dentro de nós e a maneira como reagimos à audição musical
depende do dia que tivemos, as preocupações e cuidados que podem influenciar
nossa audição à música, se estamos confortáveis durante a escuta da música, nossa
familiaridade com a música, associações passadas e gostos pessoais. Ainda afirma
que a música ouvida pode provocar a qualidade de humor ou o humor correspondente,
ou uma emoção, se o ouvinte estiver prestando atenção total à música.

Além de a música provocar uma emoção, esta emoção pode estar


relacionada a própria estrutura musical. Sekeff (2007, p.66 apud JÚNIOR J;
2008) trata da emoção-estética provocada pela música, a qual “se
fundamenta numa particular sensibilidade do indivíduo aos valores sonoros,
que transcende a pura experiência sensorial e assenta numa maior
discriminação intelectual”.

Pelo fato de a música atuar no sistema nervoso central, ela pode provocar
efeitos sedantes ou estimulantes, dependendo se ouvinte gosta da música e está em
um ambiente pessoal e adequado (POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008). A
conceitualidade e indução são duas características psicológicas da música
apresentadas por Sekeff (2007 apud JÚNIOR J; 2008). A conceitualidade da música
favorece muitas leituras da música, “ela nunca diz nada” (p.33). Esta característica de
a conceitualidade estabelece na escuta uma lacunosidade e “acaba por facultar
associação, evocação e integração de experiências, entende-se quão rica é sua
natureza psicológica” (ibid, p. 32).
Segundo a autora mencionada, a música induz atividades motoras, afetiva e
intelectual, em razão de seus elementos constitutivos, o ritmo, a melodia, a harmonia
e o timbre. O ritmo tem efeitos fisiológicos e psicológicos. Através de um ritmo “pode-
se condicionar uma resposta inconsciente automática em nível subcortical, em nível
de tálamo propriamente dito” (ibid, p. 44). Os efeitos psicológicos estão relacionados
21
à intensidade do ritmo, se é mais intenso ou menos intenso, mais forte ou mais fraco.
A melodia, através da sequência de alturas, está vinculada à consciência afetiva,
conforme JÚNIOR J; (2008).
A harmonia engloba o aspecto sensorial, no momento em que há uma
simultaneidade de sons que é percebido pelo ouvido interno; o aspecto afetivo, nas
relações entre os sons que formam o acorde através de consonância e dissonância,
tensão e relaxamento e; o aspecto mental, pois é preciso fazer uma análise para
estabelecer as relações entre os sons. O timbre favorece respostas talâmicas nos
homens e nos animais, que “são aquelas sensações que não necessitam de
interpretação pelas funções superiores do cérebro” (SEKEFF, 2007, p. 48 apud
JÚNIOR J; 2008).
Realizou-se um estudo no qual se buscavam respostas a algumas questões
envolvendo a audição musical. Uma das questões era se havia respostas similares
tanto na audição de música vocal quanto na audição de música instrumental. Os
sujeitos da pesquisa eram graduados ou não em música, os quais descreveram seu
estado de ânimo à audição de fragmentos de músicas. As músicas vocais incluíam
rock, folk, country, balada e hino e as músicas instrumentais eram compostas por jazz,
marchas e música clássica. Concluíram-se que as respostas não se mantêm iguais
na música vocal e instrumental (EAGLE apud BLASCO, 1996 apud JÚNIOR J; 2008).

3.5 Efeitos intelectuais da música

Qualquer atividade musical, seja compor, executar um instrumento musical ou


ouvir música envolve os dois hemisférios cerebrais, logo, equilibra os dois aspectos
dos processos mentais (McCLELLAN, 1994 apud JÚNIOR J; 2008). A música ajuda a
desenvolver a atenção. Michel (apud POCH BLASCO, 1999, p.73 apud JÚNIOR J;
2008) afirma que a música “é a arte do tempo”, como algo que é e que deseja ser, ao
mesmo tempo. Este efeito da música é importante no tratamento de doentes mentais,
como um meio para fazê-los voltar ou permanecer na realidade (POCH BLASCO,
1999 apud JÚNIOR J; 2008). O poder de atenção alimentado pela música é
prolongado, em pessoas predispostas “por períodos mais longos do que o provocado
por determinadas drogas” (SEKEFF, 2007, p. 119 apud JÚNIOR J; 2008).

22
A música estimula a criatividade (SEKEFF, 2007 apud JÚNIOR J; 2008),
através do estímulo neuronal e do clima afetivo que pode gerar (POCH BLASCO, 1999
apud JÚNIOR J; 2008). A criatividade pressupõe fluência, flexibilidade e originalidade,
estas três características estão presentes na música (GUILFORD apud POCH
BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008).
A música fomenta a memória e estimula a inteligência (SEKEFF, 2007 apud
JÚNIOR J; 2008). O prazer da música parece ocorrer pelo fato dela poder ativar
grande quantidade de segmentos da memória (POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR
J; 2008). O estímulo da inteligência ocorre “tanto no domínio do cérebro-racional
(neocórtex) quanto do cérebro-emocional e do cérebro-sentimental (sistema límbico),
todos constitutivos do córtex, embora exerçam funções diferentes” (SEKEFF, 2007, p.
122 apud JÚNIOR J; 2008).

Ainda sobre a memória, Sacks (2007 apud JÚNIOR J; 2008) comenta,


quando “lembramos” uma melodia, ela toca em nossa mente, revive. Não
ocorre um processo de evocar, imaginar, montar, recategorizar, como quando
tentamos reconstruir ou lembrar um evento ou cena do passado. Lembramos
uma nota por nota, e cada nota preenche totalmente a nossa consciência,
mas ao mesmo tempo se relaciona com o todo (p. 207-8).

Quando trata de música e demência, Sacks (2007 apud JÚNIOR J; 2008) fala
sobre musicoterapia e dos efeitos provocados pela música, a musicoterapia com
esses pacientes é possível porque a percepção, a sensibilidade, a emoção e a
memória para a música podem sobreviver até muito tempo depois de todas as outras
formas de memória terem desaparecido (...) para pessoas com demência, porém, a
música pode ter efeitos mais duradouros melhora do humor, do comportamento e até
da função cognitiva, que persistem por horas ou dias depois de terem sido
desencadeados pela música (p. 321; 328).
A música é uma ferramenta para a educação. Gardner (1994 apud JÚNIOR J;
2008) descreve a inteligência musical como um dos tipos de inteligência, juntamente
com a inteligência lógico matemática; linguística; cinestésico-corporal; espacial;
interpessoal e naturalista. Segundo Sekeff (2007, p. 169 apud JÚNIOR J; 2008), a
habilidade adquirida na escuta e no fazer musical amplia a capacidade de cognição
do educando, alimenta mudanças no seu potencial perceptivo, além do que o
exercício da música e o canto em conjunto possibilitam acessar aquela parte do
cérebro que funciona criativa e intuitivamente, favorecendo novas formas de sentir,
pensar, de expressar.
23
3.6 Efeitos sociais da música

Segundo Poch Blasco (1999 apud JÚNIOR J; 2008), a música pode sugerir
ideias e sentimentos, sem a necessidade de palavras, por isso ela é acessível a todos.
Também pode ser um agente socializante, através do canto, da dança, da execução
de instrumentos, nos quais pode ocorrer a união entre as pessoas na expressão de
sentimentos comuns.
Ruud (1990, p.96 apud JÚNIOR J; 2008) trata da importância de se “considerar
a música como uma instituição cultural, isto é, apto a fazer a leitura dos contextos
culturais que originam interconexões entre música e identidade (...)”. Merriam (apud
MAFFIOLLETTI, 1993 apud JÚNIOR J; 2008) categorizou as funções sociais da
música. Segundo o autor essas funções são:
 Função de expressão emocional;
 Função de prazer estético;
 Função de divertimento;
 Função de comunicação;
 Função de representação simbólica;
 Função de reação física;
 Função de impor conformidades a normas sociais;
 Função de validação das instituições sociais e dos rituais religiosos;
 Função de contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura;
 Função de contribuição para a integração da sociedade, conforme
JÚNIOR J; (2008).
O referido autor comenta que, na função de expressão emocional, a música
serve como meio de expressar ideias e emoções não reveladas no discurso comum.
Na função de prazer estético “os sons que constituem o universo musical de cada
comunidade têm influências ambientais e é resultante do gosto e do prazer estético
dos seus participantes” (MAFFIOLLETTI, 1993, p.23 apud JÚNIOR J; 2008). A função
de divertimento da música é a sua capacidade de alegrar e divertir a sociedade. A
função de comunicação expressa o fato de que a música comunica algo, mesmo que
não exista um significado geral. Na função de representação simbólica, a música
funciona como símbolo de ideias e comportamentos.

24
A função de reação física pode ser relacionada aos efeitos fisiológicos da
música citada. Na função de impor conformidade a normas sociais, ressaltam-se as
letras das músicas que chamam a atenção para comportamentos convenientes ou
não. Na função da validação das instituições sociais e dos rituais religiosos, a música
é utilizada para preservação da ordem e do sistema religioso. A função de contribuição
para a continuidade e estabilidade da cultura é expressa através da preservação da
história, mitos e lendas e do uso da música na educação. Na função de contribuição
para a integração da sociedade, a música é usada para agregar à sociedade e reduzir
conflitos, conforme JÚNIOR J; (2008).

3.7 Efeitos espirituais/transcendentes da música

Segundo McClellan (1994 apud JÚNIOR J; 2008) há um domínio da música


que fica além das emoções, além processos mentais e intelectuais. Essa música
transcende o domínio das atividades e preocupações humanas. “Experimentamos a
unidade essencial do universo manifesto como um reflexo da criação não-manifesta
mantida coesa pelo movimento incessante da energia vibracional” (p. 176).
Bruscia (1999 apud JÚNIOR J; 2008) apresenta estágios do desenvolvimento
musical. Um desses estágios é o transpessoal, no qual a experiência musical se
aproxima do sublime. Os sons passam a fazer parte do espaço espiritual e podem nos
lançar no infinito, assim como o ritmo pertence ao tempo espiritual, atemporal.
Compreendemos que os efeitos espirituais da música ocorrem no estágio
transpessoal e, conforme McClellan (1994 apud JÚNIOR J; 2008) os efeitos são
acumulativos.
O autor mostra dois tipos de músicas usadas para fins espirituais. Um tipo é a
música que conduz a um estado de transe, o qual ocorre, geralmente, quando padrões
rítmicos repetitivos são ouvidos simultaneamente por muito tempo. Possivelmente,
quando a energia vibratória da fonte externa (os cânticos, toques dos instrumentos de
forma repetitiva) interage com a energia vibratória dos indivíduos através da
ressonância, ocorre o transe, conforme JÚNIOR J; (2008).

25
O segundo tipo de música é aquele que leva a um estado meditativo. De forma
contrária ao que acontece na música que leva ao transe, onde os efeitos da música
manifestam-se primeiro no corpo, a música para meditar afeta primeiro a mente e
depois o corpo. Geralmente são músicas lentas, com frases melódicas longas e
muitas pausas. O objetivo da música para meditação é alterar a nossa percepção de
tempo, conforme JÚNIOR J; (2008).
Gaston (apud POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008) acredita que a
razão para a música e a religião estarem unidas é pela luta contra o medo e a solidão,
assim como pelas qualidades da música para unir os homens.

3.8 Musicoterapia: inter-relações entre música e terapia

A musicoterapia é comparada a um rio, cujas águas correm tanto pelo leito


da terapia quanto pelo leito da música (BARCELLOS, 2004b apud JÚNIOR
J; 2008). Esta metáfora revela que a fundamentação da Musicoterapia se
baseia tanto na música como também na terapia. A autora comenta que
alguns poucos musicoterapeutas, principalmente aqueles que têm a música
como a sua área principal de expressão e de estudos, lutam para que haja
uma consciência da importância do papel que a música desempenha na
musicoterapia, mas, não são muitas as modificações vistas nessa direção
(p.12).

A preocupação apresentada pela autora ressoa com as inquietações que


motivaram a realização da presente pesquisa. O musicoterapeuta é um profissional
que usa a música como principal ferramenta de trabalho e não somente um
profissional da saúde que emprega a música como mais um recurso em seus
atendimentos. Assim, é importante que a Musicoterapia tenha seu embasamento na
própria música. A mesma autora desenvolveu o tema “A importância da Análise do
Tecido Musical para a Musicoterapia”, em sua dissertação de mestrado
(BARCELLOS, 1999b apud JÚNIOR J; 2008).
Mostraremos alguns princípios, conceitos, modelos, técnicas e atividades nas
quais a Musicoterapia tem buscado embasamento e direcionamento para a sua
prática clínica. Esta fundamentação na Musicoterapia é importante para que tomemos
consciência da existência de um embasamento técnico-científico do uso da música na
saúde, saindo do senso comum de que a música faz bem e serve apenas para relaxar,
conforme JÚNIOR J; (2008).

26
Barcellos (1990 apud JÚNIOR J; 2008) define os princípios como preceitos; a
teoria é o “conhecimento especulativo puramente racional, conjunto sistematizado de
opiniões sobre um determinado assunto”; método é a “ordem que se segue para
alcançar um fim determinado, modo de proceder”; técnica é o “conjunto de processos
e recursos práticos de que se serve uma ciência, uma arte, uma especialidade. A parte
material. Prática”; atividade é a “qualidade de ser ativo. Que exerce uma ação, que
atua”.

3.9 Princípios básicos da musicoterapia

Devido ao fato de a Musicoterapia ser uma área nova, o desenvolvimento de


sua metodologia tem sido prioritário em relação aos princípios teóricos (POCH
BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008). A autora descreve os princípios que foram
expostos no Simpósio Internacional de Musicoterapia, no ano de 1979. São eles:
princípio do “ethos”; princípio do organismo como um todo ou da totalidade; princípio
homeostático de Altshuler; Princípio de ISO, princípio de liberação de Cid; princípio
de compensação e; princípio do prazer.
O princípio de “ethos”, baseado na teoria grega, trata da influência da música
no ser humano. Os gregos foram os primeiros a falar do assunto. Eles afirmaram que
a música possui um “ethos”, ou seja, pode criar determinado estado de ânimo nas
pessoas (POCH BLASCO, 1999 apud JÚNIOR J; 2008).
A homeostase é o controle automático do organismo para manter a saúde
corporal em equilíbrio. Pelo princípio homeostático de Altshuler, a música contribui
para uma homeostase social, intelectual, estética e espiritual (ibid). ISO significa igual.
Pelo Princípio de ISO, Altshuler comprovou que a utilização de música idêntica ao
estado de ânimo do paciente e seu tempo mental (hiperativo ou hipoativo) era útil para
facilitar a resposta mental e emocional do paciente, conforme JÚNIOR J; (2008).
Os pacientes depressivos estabeleciam melhor contato com a música de
andamento lento, assim como os pacientes em estado de euforia com a música de
andamento mais rápido. Este princípio aplica-se não apenas para doentes mentais,
mas também para pessoas normais em estado de depressão, alegria etc. (ibid). O
princípio de ISO “significa simplesmente que a qualidade de humor da música deve

27
ser igual ao humor ou à emoção da pessoa para quem estiver sendo tocada”
(McCLELLAN, 1994, p.161 apud JÚNIOR J; 2008).

Segundo o criador do princípio de liberação, o doutor Francisco Javier Cid


(1787 apud JÚNIOR J; 2008), a música tem o poder de levar o paciente a
uma viagem mental, sair da realidade e revelar pensamentos fantasiosos,
com o objetivo de distrair sua atenção. Afirma o criador do princípio, se os
médicos tivessem refletido sobre a música e sua maneira de trabalhar, teria
substituído o remédio doloroso, longo e caro de viajar pelo barato, fácil,
inocente, e muito eficaz da música, pois em cada objeto de momento são
renovados de mil maneiras (CID apud 1999, p. 89 apud JÚNIOR J; 2008)

O princípio da compensação mostra que através da audição de músicas,


execução de um instrumento, canto ou dança, a música que escolhemos tem como
função suprir nossas carências, seja a carência de descanso devido ao cansaço, seja
a carência de companhia por causa da solidão ou a carência de alegria por conta da
tristeza (ibid). A música tem a característica de chamar a atenção e apelar ao princípio
do prazer, através do prazer estético. As pessoas identificam-se com a música ou com
a dança pelos sentimentos que surgem a partir delas e encontram um momento de
conforto (ibid), conforme JÚNIOR J; (2008).

4 ELEMENTOS ESSENCIAIS DA MUSICOTERAPIA, MÚSICA, CORPO E A


COMUNICAÇÃO

Fonte: news.med.br
28
Falar de musicoterapia incita automaticamente a falar de música, do corpo e de
comunicação.
A música: Não se pode falar da prática da musicoterapia sem se falar de
música. Bruscia (2000 apud SILVA M; 2016) especifica que na musicoterapia o
elemento-chave é a música e a forma como paciente e a música interagem é o foco
central da musicoterapia. Na prática da musicoterapia não importa se o som resultante
é bonito ou feio, agradável ou desagradável dado não serem julgados pelas regras
estéticas, o que importa é o som produzido pelo paciente uma vez que este sim é a
sua música, sendo objetivo primordial a terapia e não a música.
Nordoff Robbins citado por Bruscia (2000 apud SILVA M; 2016) considera que
a música rompe as barreiras da doença ou deficiência e permite que as pessoas
encontrem uma voz, quando estão isoladas pelos efeitos da doença, deficiência ou
trauma, as pessoas muitas vezes têm dificuldade para comunicar ou tomar parte da
vida quotidiana, a música permite a construção de uma ponte para o contato social.

Considerando que o conceito de música em musicoterapia é diferente do


conceito formal que se atribui à música que dá primazia à estética e à
organização dos sons. Pascoal e colaboradores (2000 apud SILVA M; 2016)
indicam que “a música é um dos elementos mais completos de estimulação
cognitiva e de reabilitação da deterioração de funções mais complexas, que
inexoravelmente se produzem com o passar do tempo” (p. 37).

Reforçam ainda esta ideia ao afirmar que: “a música permite um equilíbrio


dinâmico entre as capacidades hemisféricas esquerdas e as direitas, o que permite
uma aprendizagem muito mais equilibrada e adaptada ao meio ambiente e às próprias
capacidades de cada cérebro individual” (p. 37), conforme SILVA M; (2016).
A importância da música como terapia é indiscutível aos olhos de vários
autores. Para Moura (1989 apud SILVA M; 2016), o valor terapêutico da música não
está somente nos efeitos que o som pode provocar sobre o organismo e psiquismo
humano, mas sim no significado que é dado à música por cada ouvinte. Poch Blasco
(2006 apud SILVA M; 2016) considera que o valor terapêutico da música está no fato
de produzir no ser humano efeitos biológicos, fisiológicos, psicológicos, intelectuais,
sociais e espirituais. Este autor, define música como sendo “a técnica ou a arte de
reunir ou executar combinações inteligíveis de tons de forma organizada e
estruturada, com uma gama de infinita variedade de ritmo, melodia, volume e
qualidade tonal” (p. 522).

29
Tendo em conta o valor terapêutico da música e o seu papel na sociedade,
Bruscia (2000 apud SILVA M; 2016) aponta que “A música é uma instituição humana
na qual os indivíduos criam significância e beleza através do som, utilizando as artes
da composição, da improvisação, da apresentação e da audição (…) ”. (p. 111) Já
Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016) referindo-se às crianças, define a música
como: Modalidade não-verbal de comunicação, a música é a linguagem natural do
sentimento, da intuição e da afetividade. Combina naturalmente com o mundo da
criança porque o confirma no seu mundo sensorial, motor e intelectual e porque se
adapta a ela”.
A música tem efeitos físicos, intelectuais, afetivos e sociais sempre muito
beneficiosos. Alcança a criança em todas as esferas do seu desenvolvimento (p. 27).
Portanto, na musicoterapia a música flui através dos seus efeitos que pode produzir
no ser humano, pode atuar como elemento facilitador de comunicação/expressão, de
exploração de sentimentos e movimentos, conforme SILVA M; (2016).
O corpo: na musicoterapia o corpo é considerado por muitos autores como o
instrumento musical mais completo. Von Baranow (1999 apud SILVA M; 2016) refere
que o corpo foi o primeiro instrumento produtor de sons, através da exploração de
ritmos (consciente ou inconsciente), do movimento (nomeadamente a dança), ou da
voz, todos estes elementos se tornaram numa importante fonte de comunicação. Este
autor considera que a música influencia o nosso corpo, pois atinge áreas do nosso
psiquismo que dificilmente são atingidas por outros estímulos. Com a fonte musical, o
nosso corpo manifesta mais facilmente sensibilidade e emoções.
Também Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016) partilha da mesma opinião
que Von Baranow e alega que:
Em musicoterapia, considera-se o corpo humano como um instrumento
musical. É uma caixa-de-ressonância formada pelo esqueleto, pelos músculos, pela
pele, pelas cordas vocais e pelo sopro. É também um instrumento de sopro,
instrumento melódico que vibra de acordo com o que o rodeia. Por último, é um
instrumento de percussão e de ritmo. E a música está constituída precisamente por
um conjunto de melodias, ritmos e texturas sonoras que faz vibrar e reagir. Estas
ressonâncias revelam a identidade sonora de uma pessoa, o som que a caracteriza
num dado momento (p. 59), conforme SILVA M; (2016).

30
Foi a partir do corpo humano que surgiram os instrumentos musicais
convencionais inspirados nos fenômenos sonoros naturais produzidos pela nossa
boca (como o canto, falar, rir, gritar, chorar, bocejar) e pelo resto do corpo (estalar os
dedos, bater palmas e bater com os pés). Benenzon (2011 apud SILVA M; 2016)
considera que na aplicação com os deficientes mentais é importante o uso do corpo
como instrumento de movimento e de percussão.
Considera-se que através da música, somos capazes de transformar
sensações corporais internas, permitindo a expressão corporal através do som
quando cantamos, dançamos ou executamos qualquer instrumento musical ou ritmos
corporais. Neste contexto, libertam-se energias internas para o exterior fazendo do
nosso corpo fonte de comunicação, conforme SILVA M; (2016).
A comunicação: falar de musicoterapia é falar de comunicação, segundo Poch
Blasco (2006 apud SILVA M; 2016), a música pode abrir canais de comunicação,
sugerir ideias e sentimentos, sem a necessidade de palavras, tornando-se acessível
a todos. A comunicação é um elemento muito presente na música, porque se
considera que, em todas as culturas, a música tem uma representação simbólica de
coisas, ideias e comportamentos (Blasco, 2006 apud SILVA M; 2016).
Sendo um dos objetivos da musicoterapia, a abertura de canais de
comunicação, através dela pode-se efetuar a troca de ideias e de sentimentos com os
outros, levando a que haja uma interação com o objetivo de codificar e descodificar a
troca de mensagens (Bruscia, 2000 apud SILVA M; 2016). Para este autor, a
comunicação verbal é diferente da comunicação musical, quer pelo seu conteúdo,
quer pelo processo, ou seja, não é apenas o que pode ser comunicado com a
respetiva segurança, mas também pela forma como se comunica.
Reforça ainda que, por vezes, somos capazes de comunicar através da música,
o que não conseguimos através de palavras e vice-versa. No entanto, nem sempre se
podem utilizar as formas pelas quais se comunica musicalmente para a comunicação
verbal, pelo que a comunicação musical não pode ser substituída por nenhuma
modalidade de interação e comunicação, conforme SILVA M; (2016).
A música como modalidade não-verbal de comunicação é considerada por
vários autores a linguagem do sentimento, da intuição e da afetividade, onde a criança
se insere na perfeição sendo combinar naturalmente com o seu mundo, e tendo uma
interligação e adaptação ao nível sensorial, motor e intelectual (Vaillancourt, 2009

31
apud SILVA M; 2016). Este autor considera que a comunicação não-verbal, ou seja,
a linguagem corporal, a expressão facial e a entoação da voz, é, por vezes, mais eficaz
que a comunicação verbal.

A música é uma linguagem repleta de colorido, que expressa com frequência


o que as palavras não permitem dizer. Assim, uma canção, por exemplo, ou
uma peça instrumental podem representar, com muita clareza o que sentimos
ou o que gostaríamos de dizer, isto é, a música transcende e expressa mais
do que simples palavras. Lopez (1998 apud SILVA M; 2016) salienta que a
música pode estabelecer contato sem a necessidade de existir linguagem
verbal, também Bruscia (2000 apud SILVA M; 2016) refere que na
musicoterapia se encontra um potencial que não se utiliza noutros meios de
comunicação, sendo a música considerada um elemento valioso para
promover a interação humana.

Neste sentido, este autor argumenta que a música não é apenas um som não-
verbal, porque ela pode incluir palavras, imagens e movimentos, elementos estes,
parte integrante do processo de comunicação, sendo assim, a música não comunica
apenas o que é musical, mas também explora, desenvolve e enriquece as outras
formas de comunicação verbal e não-verbal, conforme SILVA M; (2016).
Para as crianças que não desenvolveram a linguagem ou que não têm palavras
para dizerem o que sentem, uma melodia, uma improvisação ou uma canção
cumprem na perfeição esse papel (Vaillancourt, 2009 apud SILVA M; 2016). Para este
autor as canções infantis e as rimas contribuem muito para o desenvolvimento da
linguagem, da dicção e da memória, pela estrutura rítmica das palavras, que
contribuem também para o desenvolvimento do sentido rítmico.

4.1 Principais métodos e modelos

A prática da musicoterapia é muito ampla e complexa abarcando diferentes


modelos metodológicos, enquadrados em processos tanto clínicos como de
reabilitação e integração (Pascual e colaboradores, 2000 apud SILVA M; 2016).

4.2 Métodos ativo e receptivo

A intervenção em musicoterapia processa-se em alguns casos, através dos


métodos, ativo e o receptivo. No método ativo, o musicoterapeuta e o paciente estão
ativamente envolvidos no processo de fazer música. A leitura musicoterápica é

32
definida como a compreensão do paciente através da musicalidade que ele expressa
e como expressa. Isto em relação aos parâmetros da música, à escolha dos
instrumentos e à forma de tocar os mesmos.
Consiste em improvisar com instrumentos e/ou com a voz, assim como compor
e utilizar canções. No método receptivo, o musicoterapeuta coloca/toca música para
o paciente, não tendo este um envolvimento ativo na intervenção, ou seja, consiste
em escutar música em função das necessidades, Vaillancourt (2009 apud SILVA M;
2016). Este método normalmente limita-se a pacientes com grandes dificuldades
motoras.

4.3 Experiências de improvisação, recreativas, composição e receptivas

Bruscia (2000 apud SILVA M; 2016) descreve quatro tipos de experiências em


Musicoterapia sendo que, cada uma possui caraterísticas particulares onde envolve
uma série de comportamentos sensório motores distintos e requerem diferentes tipos
de habilidades perceptivas e cognitivas levando por sua vez, a diferentes tipos de
emoções.
Apresenta-as como sendo os principais métodos de Musicoterapia:
 Experiências de improvisação: o paciente faz música a tocar ou a
cantar, criando uma melodia, um ritmo, uma canção ou uma peça
musical de improviso, conforme SILVA M; (2016).
 Experiências recreativas: o paciente aprende ou executa músicas
instrumentais ou vocais ou reproduções de qualquer tipo musical
apresentado como modelo, conforme SILVA M; (2016).
 Experiências de composição: O terapeuta ajuda o paciente a escrever
canções, letras ou peças instrumentais, ou a criar qualquer tipo de
produto musical como vídeos com música ou fitas de vídeo, conforme
SILVA M; (2016).
 Experiências receptivas: o paciente ouve música e responde à
experiência de forma silenciosa, verbalmente ou através de outra
modalidade, conforme SILVA M; (2016).

33
4.4 Modelos de intervenção

Os modelos em Musicoterapia têm vindo a ser organizados e têm claramente


teorias de fundamentação e técnicas específicas dando uma grande ênfase à música.
Cinco modelos foram oficializados pela comunidade internacional da Musicoterapia,
no ano de 1999, durante o IX Simpósio Mundial de Musicoterapia, em Washington.
Schapira (2002 apud SILVA M; 2016) apresenta de forma resumida os seguintes
modelos:
 Modelo Nordoff Robbins: ou de Musicoterapia Criativa e
Improvisacional, baseia-se na improvisação musical entre paciente e
terapeuta com instrumentos, canto, conforme SILVA M; (2016).
 Modelo GIM (Guided Imagenery and Music): ou de imagens guiadas
e música, tem como base a audição musical, visando principalmente o
relaxamento físico e psicológico, conforme SILVA M; (2016).
 Modelo de Musicoterapia Analítica: baseia-se na improvisação
musical sobre um tema, tendo como objetivo analisar os sentimentos
obtidos durante a improvisação, conforme SILVA M; (2016).
 Modelo Benenzon: neste modelo o instrumento musical funciona como
objeto intermediário e integrador na relação terapêutica onde o diálogo
musical funciona como canal para abrir a comunicação, conforme SILVA
M; (2016).
 Modelo de Musicoterapia Behaviorista: neste modelo a música pode
ser observada e medida, possibilitando estabelecer uma relação entre
causa e efeito. É um método de manipulação comportamental, conforme
SILVA M; (2016).
Estes modelos, na sua maioria, têm como principal elemento de ação a
improvisação, Bruscia (2010 apud SILVA M; 2016), aponta os objetivos comuns a
todos:
 Conhecimento, físico, emocional, intelectual e social de si mesmo;
 Conhecimento da condição física;
 Conhecimento dos outros, incluindo pessoas significativas da família,
amigos ou grupos;
 Atenção, a si mesmo, aos outros e à sua condição física;
 Percepção e discriminação em áreas sensório motoras;
34
 Visão de si mesmo, dos outros e do meio que o rodeia;
 Expressão;
 Comunicação interpessoal;
 Integração pessoal (experiências sensório motoras, níveis de
consciência, partes de si mesmo, conhecimento temporal, função no
grupo, etc.);
 Relações interpessoais com pessoas significativas, amigos e grupos;
 Liberdade pessoal e interpessoal. (p. 10), conforme SILVA M; (2016).

4.5 Potencialidades/qualidades terapêuticas da musicoterapia

São muitas as potencialidades da musicoterapia, a música atua muito


positivamente e funciona como agente integrador e social. Sousa (2005 apud SILVA
M; 2016) indica que na musicoterapia, o objetivo primordial não é a música (…) mas
o alívio do sofrimento psíquico através de produções no mundo dos sons. Não
interessa tipo de sons, de música ou de ruído que os pacientes produzem, mas que
os produzam, que os criem, e que através deles expressem os seus sentimentos e
emoções (p.127).
Segundo Poch Blasco (2006 apud SILVA M; 2016) a musicoterapia pode
funcionar como um agente socializante, através do canto, da dança, da execução de
instrumentos, com os quais pode ocorrer a união entre as pessoas através da
expressão de sentimentos comuns. Assim de acordo com a World Federation of Music
Therapy a musicoterapia assenta nos seguintes objetivos:
 Melhorar as competências sociais;
 Expressar emoções;
 Aumentar a autoestima;
 Melhorar habilidades motoras;
 Favorecer o relaxamento;
 Melhorar habilidades cognitivas, como a concentração, conforme SILVA
M; (2016).
Sabendo que a música viaja pelo cérebro, pode-se servir dela para desenvolver
capacidades intelectuais. A música estimula zonas do cérebro que são responsáveis
por áreas como a memorização, a atenção, a aprendizagem da língua e a

35
coordenação psicomotora. Deste modo, praticar música, exige uma coordenação
auditiva, visual e motora bastante complexa que deve sempre ser adaptada às
capacidades ou à idade da pessoa, Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016).

4.6 Áreas de intervenção e aplicação da musicoterapia

A musicoterapia destina-se especialmente a pessoas com problemas diversos


de saúde, de relacionamento, comunicação, comportamento e de integração social,
podendo ser aplicada a idosos, adultos, adolescentes e crianças. As mudanças que a
Musicoterapia pode possibilitar nos diferentes contextos são um ponto onde vários
investigadores estão integralmente de acordo. A música nunca pode ser considerada
um luxo, mas sim uma necessidade fundamental do ser humano. Influencia o Homem
mesmo antes de nascer e os seus efeitos sentem-se a todos os níveis (Blasco, 2006
apud SILVA M; 2016).
São muito vastas as áreas onde a musicoterapia pode atuar: na deficiência
física (paralisia cerebral/multideficiência), na deficiência sensorial (surdez e cegueira),
nas doenças mentais (área da psiquiatria, autismo, esquizofrenia, problemas
neurológicos), na área psicossocial (geriatria, estabelecimentos prisionais, gravidez,
neonatologia, hospitais), na área educacional (creches, jardins de infância e
estabelecimentos de ensino básico e secundário). O caráter terapêutico da música
tem as seguintes dimensões: física, mental e psicológica, social e espiritual, conforme
SILVA M; (2016).

4.7 Deficiência física/ multideficiência

Na aplicação de musicoterapia na deficiência física em especial nos portadores


de paralisia cerebral, é importante verificar o tipo de paralisia, realizar um estudo
detalhado, porque a musicoterapia nestes casos deve funcionar como coadjuvante na
reabilitação física e como ajuda para controlar os movimentos estereotipados e
tremores. Benenzon (2011 apud SILVA M; 2016) não deixa de considerar a
musicoterapia de extrema importância para o deficiente mental em especial com
paralisia cerebral onde atua principalmente como estímulo sensorial.

36
Se entende a musicoterapia como uma técnica de comunicação, devemos
considerar que a criança com paralisia cerebral tome consciência de um movimento,
através da sua imagem mental do movimento produzido pelos sons associados com
uma emoção, e não que o movimento se converta automaticamente (p. 173),
conforme SILVA M; (2016).
Leinig (2008 apud SILVA M; 2016) argumenta que pela dificuldade de
abstração do deficiente mental, a Musicoterapia contribui com o desenvolvimento
psicomotor através de atividades lúdicas. A música é o meio ideal para estabelecer
contato com o deficiente mental, provocar a manifestação de sentimentos e contribuir
para aumentar a autoconfiança.
Na deficiência mental, o terapeuta perante o paciente deve despojar-se dos
conhecimentos do seu consciente intelectual, idade cronológica do paciente e dirigir-
se a ele através de uma linguagem de comunicação especial. Na paralisia cerebral, a
musicoterapia deverá atuar mais como um estímulo motor (Benenzon, 2011 apud
SILVA M; 2016).

4.8 Deficiência sensorial

Na deficiência visual, a Musicoterapia auxilia a aquisição do esquema corporal,


melhora a localização no espaço, melhora a autoestima, favorece o relacionamento
interpessoal e a aprendizagem (Leinig, 2008 apud SILVA M; 2016). A Musicoterapia,
na deficiência auditiva, auxilia no desenvolvimento da função respiratória, no
desenvolvimento do sentido rítmico, no desenvolvimento do sentido auditivo (com uso
de aparelhos) e no desenvolvimento do sentido temporal.

4.9 Doenças mentais

A musicoterapia perante a doença mental traz muitos benefícios. Nas pessoas


com problemas de saúde mental, onde a interação é reduzida ou inexistente, ou que
revelam estado de depressão, a música pode ajudar a restaurar a identidade, a
integrar-se, a reduzir estados de ansiedade e a desenvolver uma autoestima muito
positiva. Benenzon (2011 apud SILVA M; 2016), afirma que a musicoterapia “é
aplicável fundamentalmente nos aspetos psiquiátricos, mas também em outras

37
aplicações clínicas (…) ”. Refere-se ainda que a “musicoterapia atua
fundamentalmente como técnica psicológica… “ (p. 163). Segundo Leinig (2008 apud
SILVA M; 2016), nos pacientes com autismo, a musicoterapia abre banais de
comunicação, rompe com determinados comportamentos delirantes, estereotipias e
outros distúrbios psíquicos.

4.10 Área psicossocial

Para Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016), no plano social, a música reforça
vínculos e preserva a identidade cultural, podendo estabelecer formas de
comunicação. Os efeitos da música sobre as emoções, McClellan (1994 apud SILVA
M; 2016) considera que explicam em parte “porque a música é um instrumento
terapêutico tão poderoso no processo de cura” (p. 151). Este autor refere que a
emoção que a música desperta vem de dentro de nós e a forma como reagimos à
audição musical depende de como nos correu o dia e das preocupações, em suma,
do nosso estado emocional no momento.

4.11 Área da educação

Segundo Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016), a música que se escolhe


para o trabalho com os alunos, deve ser também do gosto do professor, porque caso
contrário pode correr o risco de não conseguir passar para a criança momentos de
prazer. A música e os instrumentos que se escolhem devem ser adequados ao
desenvolvimento sensório motor e neurológico da criança.
A audição musical contribui para esse desenvolvimento, despertando a sua
atenção, sensibilidade e afetividade. Quando se ouvem excertos musicais adaptados
à idade e condição da criança, conseguem-se libertar/manifestar emoções que por
vezes se tornam momentos e experiências privilegiadas. Para este autor, a canção é
também muito importante no campo da reabilitação para crianças com problemas de
linguagem e de aprendizagem “aumenta a ressonância das palavras amplifica o seu
alcance e desenvolve a articulação” (p. 66).

38
Para Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016), “as canções infantis e as rimas
contribuem para o desenvolvimento da linguagem e forma parte dos métodos de
aprendizagem. As suas estruturas rítmicas sustem as palavras. As crianças
desenvolvem também o seu sentido rítmico” (p.30). Para este autor, a canção pode
contribuir para o desenvolvimento da criança no seu todo, dado ser uma forma natural
de manifestação, a criança canta espontaneamente quando tem o coração alegre.
Permite-lhe ainda desenvolver a memória que por seu turno, beneficia as restantes
áreas do desenvolvimento.
O ritmo na criança passa pelo corpo, é uma forma de conhecer-se a si mesmo
e de conhecer o mundo. A música é ritmo e a criança relaciona com toda a
naturalidade. Sem ritmo não há música nem linguagem falada. O ritmo da música tem
influência no ritmo cardíaco, nas palmas, bater com os pés, fazer clicks com os dedos,
estes jogos, assim como os vocalizes, as imitações e criação de sonoridades
contribuem para o desenvolvimento da lateralização, para o reconhecimento do ritmo
interior, do esquema corporal e para a concentração, conforme SILVA M; (2016).

4.12 Aspetos técnicos de aplicação da musicoterapia

Há certas caraterísticas que favorecem a aplicação da musicoterapia como é o


caso dos pacientes sem qualquer conhecimento musical, pois caso contrário o
paciente compete com o musicoterapeuta sendo assim difícil de romper com as
defesas musicais que se sobrepõe ao pretender trabalhar com aspetos mais
regressivos. No entanto qualquer paciente é suscetível de ser tratado com
musicoterapia. Barcellos (1992 apud SILVA M; 2016) refere que a música deve ser
usada nas terapias pelas suas qualidades musicais e não apenas pelos efeitos do
som no organismo.
A utilização de instrumentos musicais pode possibilitar a comunicação, a
integração grupal, a liberação de conteúdos internos, a descoberta de
potencialidades, o desenvolvimento da criatividade, o desenvolvimento da
coordenação motora grossa e fina, o desenvolvimento da percepção auditiva (timbre,
altura, intensidade e ritmo), da percepção visual (diferentes formas e cores), da
percepção tátil e o desenvolvimento da capacidade respiratória, conforme SILVA M;
(2016).

39
Leinig (2008 apud SILVA M; 2016) descreve as atividades sonoro-musicais nas
sessões terapêuticas, as quais estão englobadas em duas áreas: área de expressão
sonoro musical e área de movimento e expressão corporal. Para Blasco (2006 apud
SILVA M; 2016), através do canto é possível dar condições àqueles que têm
dificuldade em se expressar verbalmente. Através da utilização da voz podemos
ajudar a pessoa a explorar e conhecer potencialidades, a desenvolver o aparelho
fonador, a desenvolver a percepção auditiva e tátil, a aumentar a capacidade
respiratória, a fala e a linguagem, a auto expressão e a criatividade.

O reportório de música tradicional infantil é muito amplo e as canções são


fáceis de reconhecer na sua maioria, que segundo Vaillancourt (2009 apud
SILVA M; 2016), recorda as raízes culturais da criança e desenvolve o
sentimento de pertença ao grupo, são canções normalmente simples, mas
completas, com motivos repetitivos, facilitando a sua retenção, sendo de
realçar o fato de permanecerem no tempo sem nunca perder o seu valor.

Muitos são os pedagogos que defendem que o canto é um meio de expressão


excepcional que traz numerosos benefícios. Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016)
refere que fisicamente recorre ao alívio, à respiração, à linguagem corporal e à
agudeza auditiva. Contribui para desenvolver o aparelho auditivo nomeadamente o
ouvido, essencial para a aprendizagem da linguagem. Considera ainda que o trabalho
vocal contribui também para reduzir as tensões internas e físicas, porque a criança
implica-se por completo, física e mentalmente, quando canta.
Através da expressão corporal segundo Blasco (2006 apud SILVA M; 2016)
podemos dar condições ao aluno de aquisição do esquema corporal, de desenvolver
o ritmo individual, desenvolver a orientação espaço temporal, possibilitar a
comunicação, facilitar a autoexpressão e desenvolver a percepção visual. As
atividades na área da expressão corporal, nesta investigação foram trabalhadas
através do esquema corporal e da linguagem corporal.
Para Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016), “a música em movimento
permite desenvolver-se fisicamente, mas também a aprender a orientar-se no espaço
e no tempo” (p. 69), sendo muito benéfico para os invisuais.
A dança é uma atividade que engloba ritmo, movimento, expressão, induz a
criação, socialização e leva à comunicação. Aqui salientam-se também as danças de
roda que são um ótimo recurso para promover a socialização, pois o fato de dar as
mãos estabelece um contato mais próximo. Através delas, podemos desenvolver a
atenção e memória, a coordenação motora e a capacidade criadora. Blasco (2006
40
apud SILVA M; 2016) considera que através da realização de jogos rítmicos, os quais
podem ser feitos com sons do próprio corpo, com instrumentos musicais ou ainda,
com objetos auxiliares, podemos desenvolver a atenção e memória, a capacidade de
expressão, a capacidade rítmica, a orientação espaço temporal, a disciplina e a
aquisição do esquema corporal.

Para Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016), “a música deve responder às


preferências de cada um. Não se pode generalizar acerca dos efeitos da
música, porque os gostos e as afinidades dependem de cada um” acrescenta
ainda que há que contar sempre com o nível de receptividade, se a criança
está nervosa, não responderá a uma música tranquila, necessitará de um
momento de transição, pelo contrário, se a criança necessita de estimulação,
deve começar-se por uma peça correspondente com o seu estado para levá-
la depois a escutar uma obra mais animada (p.20).

Esta forma de atuar inspira-se no princípio da ISO (Identidade Sonora), muito


utilizado em musicoterapia. O conceito da ISO não é novo, mas não se aplicou em
musicoterapia, segundo Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016), até à década de
1950. Consiste em improvisar ou em ouvir uma música que reflete o estado físico e
psicológico da pessoa a fim de emocioná-la.
A musicoterapia pode ser aplicada em três vertentes: vertente clínica, vertente
educacional e vertente social, conforme SILVA M; (2016):
 Na vertente clínica, devem ser aplicadas técnicas sonoras,
instrumentais e musicais para reabilitar pessoas com distúrbios físicos,
sensoriais, mentais e emocionais. Segundo Sampaio (2002 apud SILVA
M; 2016) na prática clínica de musicoterapia, devem ser criadas
condições para que o paciente possa explorar o seu potencial no sentido
de procurar novas possibilidades de adaptação, à nova situação ou
condição de vida. Se o conseguir isso diminuirá o seu sofrimento;
 Na vertente educacional, devem-se prevenir e tratar distúrbios de
aprendizagem e dificuldades na leitura e escrita com a utilização de
métodos musicais. Pascual e colaboradores (2000 apud SILVA M; 2016)
consideram que deve ser um processo exploratório, lúdico, artístico e
criativo musicalmente;
 Na vertente social, devem ser desenvolvidas atividades de acordo com
a população alvo, conforme SILVA M; (2016).

41
4.13 Técnicas clínicas de musicoterapia de improvisação

Para Vaillancourt (2009 apud SILVA M; 2016), a improvisação instrumental


consiste em utilizar instrumentos de música normalmente de percussão (o
instrumental Orff oferece várias possibilidades), para expressar-se de forma
espontânea sem necessidade de ter conhecimentos musicais. Improvisar com
instrumentos produz muitos benefícios podendo o terapeuta levar a criança a
expressar-se de forma espontânea, dando-lhe oportunidade de canalizar as suas
emoções de forma construtiva.
A improvisação oferece um espaço extraordinário para explorar a criatividade,
o sentido intuitivo e a sensibilidade. O terapeuta utiliza diversas técnicas de
improvisação. Propõe à criança um tema, um ritmo ou uma melodia. Faz alternar os
instrumentos, o tempo e o ritmo, conforme SILVA M; (2016).
Segundo Bruscia (2010 apud SILVA M; 2016), para participar numa
improvisação instrumental, são necessários alguns requisitos. O paciente deverá ser
capaz de realizar movimentos motores grossos, simples e repetitivos de forma a poder
manipular e controlar o instrumento. Para participar numa improvisação vocal o
paciente deve ser capaz de sequenciar sons vocais e manter os timbres. A
improvisação pode ser menos conseguida nos casos de pacientes portadores de
paralisia cerebral, onde o terapeuta pode adaptar instrumentos para que seja menos
exigente a manipulação motora. Bruscia criou várias técnicas clínicas de improvisação
para aplicar de acordo com o objetivo que se pretende.
De acordo com SILVA M; (2016), sessenta e quatro técnicas clínicas na
musicoterapia de improvisação, segundo Kenneth Bruscia, veja o quadro abaixo:

42
Fonte: core.ac.uk : Extraído de: Bruscia (2010, p.382 apud SILVA M; 2016)

43
Fonte: core.ac.uk : Extraído de: Bruscia (2010, p.382 apud SILVA M; 2016)

44
Fonte: core.ac.uk : Extraído de: Bruscia (2010, p.382 apud SILVA M; 2016).

A musicoterapia utiliza diversas técnicas que permitem evocar resposta por


parte do indivíduo. Considerando a literatura de Wigram (2002, 2004 apud MARTINS
R; 2020), apresentam-se algumas delas abaixo:
Imitation: consiste em imitar os sons e as expressões produzidas pelo cliente,
tendo consciência das notas, tempo e ritmo que produz, incluindo-as de forma
progressivamente em uma imitação musical promovendo a comunicação e interação
musical, conforme MARTINS R; 2020.
Turn-taking: consiste em uma interação com sequências de imitação e
variação musical, onde durante a atividade o papel de quem controla a imitação varia
entre o terapeuta e o paciente, conforme MARTINS R; 2020.

45
Pausing: consiste em fazer uma pausa em momentos inesperados no meio de
alguma ação musical que esteja a decorrer, pretendendo captar a atenção do cliente,
conforme MARTINS R; 2020.
Expectation: quando existe uma expectativa sobre a música que está a ser
desenvolvida e o musicoterapeuta faz uma pausa, permitindo o cliente completar a
frase espontaneamente revelando maior autonomia, conforme MARTINS R; 2020.
Grounding: consiste na criação de uma base sonora estável servindo como
âncora e base para a musicalidade do cliente, sendo extremamente útil quando
aplicado a clientes que tocam sem estrutura e com flutuações), conforme MARTINS
R; 2020.
Mirroring: consiste na imitação exata do cliente em termos musicais,
expressivos e linguagem corporal ao mesmo ritmo e ao mesmo tempo que o tempo.
Esta técnica promove a empatia e proporcionar ao cliente ver o espelho do seu próprio
comportamento no comportamento do terapeuta, conforme MARTINS R; 2020.
Segundo Bruscia (1995 apud MARTINS R; 2020), antes da análise das
improvisações começar, um objetivo específico deve ser formulado. Há duas razões
principais para analisar improvisações dos clientes, com muitas variações. O primeiro
objetivo é entender melhor o cliente e, assim, informar e aprimorar os esforços de
tratamento do terapeuta. Aqui, o objetivo é de natureza clínica e sempre vinculado a
um cliente e a um processo terapêutico específicos.
Os objetivos específicos podem ser: entender o cliente e a natureza de seus
problemas e necessidades terapêuticas, fornecer diretrizes sobre como o terapeuta
pode trabalhar melhor com o cliente e / ou avaliar o progresso do cliente e a eficácia
da terapia. Assim, as análises de improvisação podem fazer parte de uma avaliação
formal no início da terapia, parte integrante do processo de tratamento ou parte de
uma avaliação formal do progresso na conclusão da terapia, conforme MARTINS R;
2020.
O segundo objetivo principal é entender melhor o papel e a natureza da
improvisação na Musicoterapia. Esse objetivo está mais relacionado à pesquisa e à
teoria e, como tal, lida com clientes em geral e com tópicos muito mais amplos.
Improvisar é um processo criativo que resulta num produto musical, o que contribui
para a experiência do cliente. Analisando este processo, pode-se considerar que,
quando a análise é focada no processo “ao vivo”, o terapeuta está interessado nos

46
eventos, ações e interações momento a momento do cliente tanto musicais quanto
não musicais, como eles ocorrem na relação temporal com condições e circunstâncias
prevalecentes, conforme MARTINS R; 2020.
Aqui, o foco principal é quem faz o quê e o que acontece quando, e não os
materiais musicais. Por outro lado, quando a análise é focada no “produto”, o terapeuta
está interessado nos materiais musicais que resultam do processo de improvisação.
Aqui, o foco principal está na improvisação como objeto musical, e não nas sequências
comportamentais e temporais e nas circunstâncias envolvidas na sua produção.
Quando o foco da análise é a experiência, o terapeuta está interessado em saber o
que o cliente estava pensando ou sentindo enquanto improvisava, como o cliente
descreveria a música em si ou que significado daria à improvisação, conforme
MARTINS R; 2020.

4.14 Musicoterapia na multideficiência infantil

Crianças que sofrem de multideficiências apresentam uma combinação de


dificuldades físicas e intelectuais, variando no seu nível de gravidade, que revelam
características as quais necessitam de intervenção única e personalizada. Estas
incapacidades geralmente levam a criança a apresentar limitações de movimento, de
comunicação e de socialização. (Orelove and Sobsey, 1991 apud MARTINS R; 2020).
A capacidade de entender e processar informação pode variar consideravelmente,
desde uma linguagem coerente simples, a uma comunicação simbólica através de
gestos, até à incapacidade total de comunicar ou de responder eficientemente.
As suas capacidades físicas também podem variar consideravelmente, onde
há algumas crianças que demonstram capacidades motoras desenvolvidas em
comparação a outras que apresentam a uma total dependência de movimento físico.
Estas crianças podem ser incapazes de adaptar-se à ambientes ou eventos não
familiares ao seu dia a dia assim como dentro dos próprios contextos sociais onde
estão inseridos com os seus familiares, professores e terapeutas, conforme MARTINS
R; 2020.

47
Para Juliete Alvin (1976 apud MARTINS R; 2020) um dos primeiros e
principais objetivos da intervenção da musicoterapia com estas crianças, é
de promover uma evolução das suas capacidades relativas à execução das
suas necessidades básicas, de forma a potenciar o seu funcionamento dentro
do seu quotidiano. Isto envolve criar um ambiente emocionalmente. Estável
e previsível que promova sentimentos de segurança e aceitação de forma a
estimular a auto expressão própria. Outro dos objetivos principais é estimular
o desenvolvimento da identidade da criança, através da promoção da sua
relação com música, instrumentos musicais, e com o terapeuta.

Estabelecer ou reestabelecer relações interpessoais também é um dos


principais objetivos, isto significa desenvolver as competências da criança de
compreender e ser compreendida pelos outros através de meios de comunicação
verbal e não verbal. A Musicoterapia também pretende promover o desenvolvimento
de capacidades especificas, de forma a aumentar a expressão e as oportunidades
interativas estimulando o desenvolvimento da criança e da sua autoestima, assim
como a aquisição ou desenvolvimento de competências que permitam à criança
funcionar com maior independência. Isto pode incluir um desenvolvimento a nível de
quantidade ou de qualidade de algum fator físico, emocional, cognitivo, social e
comunicativo. (Boxill, 1985 apud MARTINS R; 2020)
Segundo Nordoff & Robbins (1971 apud MARTINS R; 2020) outro objetivo
principal da musicoterapia na intervenção com este tipo de crianças é de dissipar
comportamentos patológicos, diminuindo a incidência de comportamentos
desajustados ou não saudáveis, de forma a promover uma expressão o mais funcional
possível perante o ambiente e as situações que surjam perante esta criança.
Segundo Salas (1990 apud MARTINS R; 2020), um dos principais objetivos é
desenvolver uma consciência e sensibilidade à música, cultivando apreciação e
satisfação através do processo experimental, desta forma estimulando a conexão com
a emoção humana e dando voz sensações ou sentimentos que não são possíveis de
serem expressados através da linguagem.

4.15 Musicoterapia na educação especial

"Educação Especial”, é definida como uma educação que é conduzida por


processos personalizados para atender às necessidades educacionais de indivíduos
com necessidades especiais, através do desenvolvimento especial de programas e
métodos de educação, num ambiente apropriado para suas características (MEB,

48
1997 apud MARTINS R; 2020). A música pode ser vista como uma forma eficaz de
educação e tratamento de indivíduos com necessidades especiais.
Quando a música é considerada um meio de educação em educação especial,
é chamada de "educação através da música" e é usada para apoiar áreas de
desenvolvimento além do desenvolvimento musical. Esses objetivos estão na área do
domínio cognitivo em que as atividades mentais são dominantes, na área do domínio
afetivo em que as emoções aprendidas são codificadas, e na área do domínio
psicomotor. Crianças com necessidades educativas especiais precisam também de
ser apoiadas em muitos outros domínios de desenvolvimento (Gunes, 2005 apud
MARTINS R; 2020).
Para além das contribuições do estudo da música para o tratamento de
perturbações neurológicas, pode-se indicar um possível uso da música na área de
educação, uma vez que há indícios de correlações entre habilidades musicais e outros
tipos de habilidades, desde cognitivas até relacionadas à socialização e integração
dos indivíduos, apesar de não se saber ainda por que razão a música estimula a
memória, a existência de clientes com demência que se esquecem de fatos da própria
vida, mas que são capazes de cantar canções da infância de cò, indica que a forma
como memória funciona para a música é diferente da forma como funciona com
informação e conhecimento do quotidiano. (Koelsch,2010 apud MARTINS R; 2020).
Um dos objetivos mais importantes da musicoterapia na Educação Especial
consiste no apoio do desenvolvimento emocional, perceptivo e comunicativo, incidindo
também no sistema neuromuscular, e em algumas funções psicomotoras (Lacárcel
Moreno, 1995 apud MARTINS R; 2020). Em contrapartida, segundo Gomes e
Carvalho (2011 apud MARTINS R; 2020) o ensino da música na educação especial
pretende promover a aquisição de conhecimentos musicais, os quais através deles
estimulam o crescimento intelectual da criança, e por sua consequência a aquisição
de novas competências através da prática musical.
Pode-se concluir então que a principal função da musicoterapia dentro da
educação especial é de através da música promover uma intervenção com objetivos
não musicais os quais se pretendem ser transferidos para fora do contexto das
sessões e por sua vez elevar a qualidade de vida da criança. A principal função da
educação musical no ensino especial, não tendo a total intenção de formar músicos,
mas sim a evolução de competências musicais que facilitam a abertura de canais

49
sensoriais onde através da prática musical é explorada a expressão emocional,
contribuindo para a formação integral da criança (Sousa, 2003 apud MARTINS R;
2020).
Cada criança apresenta uma variedade de características, interesses e
necessidades. As diferenças da criança podem ser físicas, como também podem ser
sobre recursos de aprendizagem (Akçamete, 2009 apud MARTINS R; 2020). Crianças
com necessidades educativas especiais são definidas como crianças que mostram
uma diferença significativa ao nível esperado em termos de características individuais
e competências educacionais.
Crianças com necessidades educativas especiais são classificadas de acordo
com uma perturbação a nível mental, auditiva, visual, ortopédica, deterioração do
sistema nervoso, problemas de fala e linguagem, dificuldades de coesão emocional,
perturbação do espectro de autismo, déficit de atenção, hiperatividade, entre outros.
(MEB, 2006; Cavkaytar, 2008 apud MARTINS R; 2020).
Sabe-se que a música tem o poder de afetar o cérebro humano, corpo, nível de
energia, humor e ideias. A música pode excitar ou acalmar, estimular ou relaxar
(Harley, 2004 apud MARTINS R; 2020). É necessária uma abordagem educacional
em que cada criança se expresse dentro das suas capacidades e necessidades, com
o recurso diversas abordagens que envolvam distintas disciplinas, apropriadas para
as abordagens educacionais dos indivíduos com necessidades especiais (Eren, 2012
apud MARTINS R; 2020).
Considerando que há muito poucas plataformas onde crianças com
necessidades educativas especiais se unem com os seus colegas de
desenvolvimento normal, as atividades musicais estão ficando cada vez mais
importantes devido ao fato de estarem abertas a várias abordagens oferecendo
diversas oportunidades de criatividade, conforme MARTINS R; 2020.

4.16 Musicoterapia criativa

Durante os seus 17 anos de colaboração, Paul Nordoff e Clive Robbins (1965,


1971, 1977, 1983 apud MARTINS R; 2020) desenvolveram um modelo de
musicoterapia improvisada chamada “ reative Music Therapy”. Os seus principais
objetivos são desenvolver a auto expressão, comunicação e relações humanas, para

50
construir personalidades mais ricas e fortes, para melhorar a liberdade e criatividade
interpessoais e dissipar padrões de comportamento patológico.
A musicoterapia criativa pode ser implementada individualmente ou em
configurações de grupo. Idealmente, dois terapeutas trabalham em equipe, com um
improvisando ao piano para envolver o cliente em uma experiência musical
terapêutica e o outro ajudando o cliente a responder à improvisação e às intenções
clínicas do terapeuta ao piano. A sessão individual pode ser dividida em três fases
processuais: conhecer o cliente musicalmente; evocando respostas musicais; e
desenvolver habilidades musicais, liberdade expressiva e inter-responsividade,
conforme MARTINS R; 2020.
Estas fases ocorrem espontaneamente, pois as respostas do cliente variam de
caso a caso. Assim, com alguns clientes, uma sessão inteira pode ser dedicada a uma
fase, com outros, uma sessão pode incluir todas as três fases ou todo o ciclo repetido
várias vezes, conforme MARTINS R; 2020.

4.17 Musicoterapia improvisacional livre

Segundo este modelo de musicoterapia improvisada, Juliette Alvin


(1975,1976,1978 apud MARTINS R; 2020) usou a improvisação livre como
abordagem dentro da Musicoterapia, que empregava também diversas outras
atividades musicais. As improvisações foram consideradas livres porque o terapeuta
não impõe nenhuma regra, tema ou estrutura, permitindo ao cliente que descubra o
seu próprio caminho musical através dos instrumentos, ao mesmo tempo que
encontra a sua própria maneira de ordenar e sequenciar os sons. Este modelo é
bastante utilizado com crianças que sofrem de (PEA - Perturbações do Espectro do
Autismo), no entanto também com muitas outras problemáticas, conforme MARTINS
R; 2020.
Os seus objetivos principais consistem na promoção de um estabelecer de
vários tipos de relacionamentos com o mundo e com o desenvolvimento do cliente de
forma física, intelectual e social. O terapeuta escolhe o seu próprio instrumento de
acordo com as necessidades e preferências do cliente. No seu trabalho com crianças
com PEA, Alvin (1978 apud MARTINS R; 2020) planeou a terapia de acordo com três

51
estágios de desenvolvimento. Relação com objetos, relação consigo mesmo e com o
terapeuta, e relação com os outros.
Cada estágio é caracterizado por certas técnicas, que podem ser ativas
(quando o cliente faz música) ou receptivas (quando o cliente ouve música). O
terapeuta escolhe as técnicas mais apropriadas de acordo com as necessidades
imediatas do cliente, conforme MARTINS R; 2020.
No primeiro estágio, técnicas "ativas" são usadas para ajudar o cliente a
relacionar-se com instrumentos e música, e a desenvolver consciência sensório-
motora, percepção e integração. Técnicas "receptivas" são usadas para introduzir o
cliente para o instrumento e a música produzida pelo terapeuta. Nesta fase, o
terapeuta é não-diretivo e respeita a territorialidade do cliente, conforme MARTINS R;
2020.
No segundo estágio, técnicas "ativas" servem para projetar sentimentos do
cliente sobre o instrumento e desenvolver algum nível de confiança para com o
terapeuta. Exemplos incluem: improvisando diálogos e duetos, compartilhando
instrumentos e explorar os componentes terapêuticos de cada instrumento. Técnicas
"receptivas" visam trazer ao cliente uma consciência do seu próprio produto de
improvisação musical e aos seus problemas e sentimentos pessoais. Isto pode ser
feito através de várias atividades de escuta de gravações das próprias sessões,
conforme MARTINS R; 2020.
No terceiro estágio (que pode ou não ser necessário ou apropriado para todos),
o cliente é transferido de terapia individual para uma terapia de grupo. As atividades
e experiências musicais desenvolvidas com o terapeuta nos estágios anteriores
fornecem uma estrutura para desenvolver e melhorar os seus relacionamentos com
outros. As técnicas de grupo incluem improvisações livres, ouvir, cantar, atividades de
movimentos e discussão, conforme MARTINS R; 2020.

4.18 Musicoterapia inclusiva

Um dos pontos essenciais da musicoterapia é a expressão livre do indivíduo,


sem que este se sinta restrito ou sujeito a levar à frente ou a um leque de regras. O
musicoterapeuta dá o espaço necessário ao paciente para que este se sinta
confortável para comunicar, seja de forma verbal ou musical. Assim, o indivíduo aceita

52
a presença do terapeuta, que tem como função ajudar o paciente a compreender e
ultrapassar o seu conflito, conforme MARTINS R; 2020.
Caso o indivíduo se expresse musicalmente, o terapeuta induz gradualmente o
diálogo, e vice-versa (Bruscia, 1988 apud MARTINS R; 2020). É através da interação
musical que, subconscientemente, os conflitos se tornam claros e são comunicados,
o que permite ao indivíduo a expressão mais livre dos seus sentimentos e problemas
(Bruscia, 1988:17 apud MARTINS R; 2020). A musicoterapia promove, então, uma
maior reflexão pessoal que mune o indivíduo das capacidades psicossociais que o
permitem resolver os seus conflitos interiores e, assim, integrar-se mais facilmente
num ambiente social.

De todos os impactos positivos observados, destaca-se, predominantemente,


a melhoria na atividade social, promovendo a inclusão dos pacientes no
ambiente dos seus pares (Kern, 2015 apud MARTINS R; 2020). A
musicoterapia abre, então, portas a sentimentos e dimensões da experiência
social como por exemplo, a amizade, as relações interpessoais, o
companheirismo, entre outros que, caso contrário, poderiam permanecer
desconhecidos ao indivíduo. Assim, a participação em atividades regulares
sociais começa a ser algo mais natural, em oposição a um acontecimento
forçado, ou simplesmente rejeitado. A musicoterapia camufla-se com o
ambiente do indivíduo, inserindo-se nele, e cria um lugar seguro que promove
a superação dos conflitos que lhe dificultam a inserção no seu meio.

A aceitação das diferenças passa a ser encarada de uma maneira mais ligeira
e positiva. Constataram-se resultados positivos tanto em indivíduos com
incapacidades motoras, físicas e psicológicas, tal como naqueles que não evidenciam
tais (Kern, 2015 apud MARTINS R; 2020). Demonstra-se, então, que incluir indivíduos
sem incapacidades e que, à partida, não apresentariam uma necessidade evidente de
participar em atividades de musicoterapia, proporciona ganhos a nível da inclusão dos
pacientes num meio social. Estes fenômenos de inclusão são alcançados através do
caráter universal da música, esta é intrínseca a todos os meios e culturas.
A música é, então, algo familiar a todos, tornando-se num método eficaz que
favorece a comunicação entre indivíduos sem outra base comum. Deste modo,
recorre-se aos instrumentos e aos sons para que o paciente se sinta cativado a
expressar-se e propenso a participar em atividades que o coloquem confortavelmente
num meio do qual provavelmente se auto excluía. A participação através da dança,
coro, instrumentos, entre outros, encoraja a coordenação e partilha com outros
participantes, tal como uma aproximação a níveis pessoais, conforme MARTINS R;
2020.
53
A implementação da musicoterapia, embora tenha vindo a ganhar terreno como
instrumento terapêutico eficaz, ainda aparenta não ter muito apoio. É crucial que o
paciente seja acompanhado pelo seu sistema de apoio, aqueles que lhe são mais
próximos no dia a dia, visto que uma colaboração entre as entidades que mais tempo
passam com o indivíduo, professores e familiares, e o terapeuta promove resultados
positivos no bem-estar do indivíduo e, em consequência, a sua melhor inclusão no
ambiente social (Kern, 2015 apud MARTINS R; 2020).
Os objetivos e meios são, frequentemente, postos em causa pela família dos
pacientes (Kern, 2015 apud MARTINS R; 2020), apesar dos estudos feitos acerca
deste assunto apontarem para um aumento na qualidade de vida. Dado que os
profissionais que lidam com as crianças durante uma grande parcela do seu dia, como
professores e educadores, não estão, muitas vezes, habilitados a lidar com as
condições de saúde que os indivíduos apresentam, é necessário que se promovam
formas de acompanhamento e terapia para quem não se enquadra nos métodos
convencionais.

4.19 Musicoterapia individual e de grupo

Quanto à musicoterapia aplicada a um grupo ou em sessões individuais, ambas


claramente apresentam suas vantagens e desvantagens. Individualmente, o paciente
sente uma maior proximidade para com o musicoterapeuta. Deste modo, a atenção
do terapeuta pode ser focada somente no paciente em causa, criando-se uma
estratégia de tratamento individualizada (American Addiction Centers, 2019 apud
MARTINS R; 2020).
Para além disso, nenhum caso é igual, isto é, cada indivíduo demora o seu
tempo a abrir-se, a expor o problema e a confiar no terapeuta. Numa dinâmica
individual, este ritmo pode ser completamente adaptado ao paciente, sendo visível
uma aproximação mais rápida do paciente ao terapeuta na maioria dos casos,
conforme MARTINS R; 2020.
Contudo, relativamente ao último ponto e às desvantagens das sessões de
musicoterapia individual, alguns casos demonstram uma maior empatia e,
consequentemente, confiança, quando apresentados participantes com semelhanças
ao seu caso (American Addiction Centers, 2019 apud MARTINS R; 2020). De acordo

54
com Dr. Irvin D. Yalom (cit. por American Addiction Centers, 2019 apud MARTINS R;
2020), este fenômeno denomina-se por “princípio da universalidade”, que consiste na
ideia de que a visualização de outros indivíduos com problemas do mesmo tipo pode
permitir um maior reconhecimento e interiorização do seu conflito, o que demonstra
que a situação por que passa não é única e individual, mas sim algo que partilha com
os outros indivíduos e que, tal como ele, também são afetados.
Ou seja, em casos onde o paciente demonstra totalmente não estar à vontade
para estar sozinho, nem reconhece o seu problema, pode haver uma maior dificuldade
na expressão do conflito numa modalidade de terapia individual. Nestas
circunstâncias, a melhor alternativa seria a musicoterapia coletiva, onde as
parecenças problemáticas podem funcionar como um ponto mútuo, criando segurança
e, por consequência, um clima mais propenso à partilha de experiências (American
Addiction Centers, 2019 apud MARTINS R; 2020).
Visto que é criado um laço entre colegas, existe um maior apoio entre si,
permitindo a expressão e verbalização do conflito com mais facilidade. Para além
disso, o fator financeiro tem um papel importante na decisão do método terapêutico o
custo de uma sessão coletiva não se aproxima do custo de uma sessão individual,
pelo que o menor valor pode levar a que um paciente opte pela musicoterapia de
grupo mesmo que beneficie mais de uma dinâmica individual, conforme MARTINS R;
2020.

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