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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 MUSICOTERAPIA E SAÚDE MENTAL ...................................................... 4

2.1 Áreas de atuação do musicoterapeuta ................................................. 9

2.2 Psiquiatria, uma das primeiras áreas a ser atendida por


musicoterapeuta .................................................................................................... 12

3 PSICOLOGIA DA MÚSICA ....................................................................... 16

4 TÉCNICAS E MÉTODOS EM MUSICOTERAPIA .................................... 20

4.1 Atividades realizadas em Musicoterapia ............................................ 25

5 MUSICOTERAPIA APLICADA À REABILITAÇÃO NEUROLÓGICA. ....... 27

5.1 Reabilitação Cognitiva e Musicoterapia.............................................. 33

6 MUSICOTERAPIA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL ...................................... 38

6.1 A musicoterapia e a síndrome de Down ............................................. 42

6.2 A musicoterapia e as crianças autistas .............................................. 44

7 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 49

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 MUSICOTERAPIA E SAÚDE MENTAL

Fonte: cenatcursos.com.br

A relação entre música e saúde remonta há milhares de anos. Na Grécia Antiga,


Platão receitava música e dança para os terrores e as angústias fóbicas e Aristóteles
falava sobre o valor medicamentoso da música em relação às emoções incontroláveis
e atribuía seu efeito à catarse emocional. Costa (1989 apud ZANINI, 2016) lembra que
Hipócrates foi a figura mais importante para o progresso da medicina grega. Para ele,
a doença implicava em uma desarmonia da natureza humana. “No restabelecimento
do equilíbrio perdido, a música, por ser ordem e harmonia dos sons, desempenhava
tanto a função de provocar a depuração catártica das emoções, quanto a de
enriquecer a mente e dominar as emoções através de melodias que levam ao êxtase.
” (p.19) Entre Hipócrates e seus seguidores já havia uma visão psicossomática da
doença.
Na Idade Média, caracterizada pela hegemonia do cristianismo, o Estado opôs-
se ao desenvolvimento de estudos médicos e o tratamento dos doentes passou a ser
realizado pelos sacerdotes para a salvação das almas, em detrimento dos enfermos.
A loucura era tratada através de rituais de exorcismo e os que não se curavam eram
levados à fogueira. “O uso médico da música desaparece, persistindo seu emprego
religioso”. (Costa, 1989, p.21 apud ZANINI, 2016).

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No século XII surgem as universidades e a música faz parte dos currículos
regulares, em virtude de sua ligação com a teologia e com a matemática. “A Igreja
assume a tarefa de moldar a forma e o uso da música, para evitar influências
perniciosas sobre a alma dos mortais, reconhecendo o poder dos modos musicais de
provocar comportamentos e emoções”. (Costa, Op. Cit., p.22 apud ZANINI, 2016).
No século XVII, a música torna-se recomendada quase exclusivamente para
Psiquiatria. Um médico, Robert Burton, na obra “Anatomia da Melancolia” (1632)
descreve os efeitos terapêuticos da música sobre os melancólicos. Brown, no século
seguinte, considera a música indicada para problemas nervosos. Graças às ideias de
Pinel, defende-se, para os pacientes psiquiátricos, um tratamento mais humano, que
inclui música doce e harmoniosa. “No final do século XIX, desponta, então, a
esperança de fundamentar „cientificamente‟ a meloterapia, a partir dos efeitos
neurofisiológicos da música”. (Costa, 1989, p.31 apud ZANINI, 2016).
Uma vertente da Musicoterapia é a recreação musical, denominada “ajuda
musical”, que acontecia nos Estados Unidos, no pós-guerra mundial, quando os
hospitais de veteranos contratavam músicos profissionais para fazer audições. “Os
resultados positivos de algumas dessas experiências atraíram o interesse dos
médicos e se compreendeu, cada vez mais, a necessidade de um treinamento
específico para fazer do músico um terapeuta”. (Benenzon, Op. Cit., p.174 apud
ZANINI, 2016). Assim, a partir de 1950, começam a surgir cursos de formação em
Musicoterapia em vários países.
Na perspectiva de ligação entre áreas de conhecimento, de transposição de
imagens, símbolos, linguagens e, com o desenvolvimento de diversas pesquisas,
surgem novos campos do saber e várias ciências emergem. Focaliza-se, então, a
Musicoterapia, como uma ciência em emergência, mas que é fruto de uma longa
história que envolve o som, o ser humano, o meio em que vive e as inúmeras relações
existentes entre estes, principalmente as que dizem respeito à saúde. (ZANINI, 2016).
Bruscia (2000 apud ZANINI, 2016) ainda ressalta que é muito difícil definir
Musicoterapia por ser, como corpo de conhecimentos e de práticas, um híbrido
transdisciplinar de dois campos principais, música e terapia. O autor afirma que “a
musicoterapia é por demais extensa e complexa para ser definida ou contida por uma
única cultura, filosofia, modelo de tratamento, setting clínico ou pela definição de um

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único indivíduo”. (p.21) A seguir a definição “de trabalho”, apresentada pelo autor:
“Musicoterapia é um processo sistemático de intervenção em que o terapeuta ajuda o
cliente a promover a saúde utilizando experiências musicais e as relações que se
desenvolvem através delas como forças dinâmicas de mudança”. (Op. Cit., p.22 apud
ZANINI, 2016).
Em julho de 1996, a Comissão de Prática Clínica da Federação Mundial de
Musicoterapia, reunida durante o Congresso Mundial de Musicoterapia, na Alemanha,
formulou a seguinte definição, que traz uma abordagem mais ampla desta profissão.
(ZANINI, 2016).

Musicoterapia é a utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo,


melodia, harmonia) por um Musicoterapeuta qualificado, com cliente ou
grupo, num processo para facilitar e promover a comunicação, relação,
aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos
terapêuticos relevantes, no sentido de alcançar necessidades físicas,
emocionais, mentais, sociais e cognitivas. A Musicoterapia objetiva
desenvolver potenciais e/ou restabelecer funções do indivíduo para que ele
possa alcançar uma melhor integração intra e/ou interpessoal e,
consequentemente, uma melhor qualidade de vida, pela prevenção,
reabilitação ou tratamento. (Revista da UBAM n.2, 1996, p.4 apud ZANINI,
2016).

Como se pode perceber, muitos são os aspectos inseridos na atuação do


musicoterapeuta. Para melhor compreensão do profissional, faz-se necessário,
inicialmente, comentar a formação acadêmica para, posteriormente, considerar o
desempenho do mesmo no setting musicoterápico, em suas diversas possibilidades
ou áreas de atuação, nas quais poderão ser desenvolvidas pesquisas científicas.
(ZANINI, 2016).
O Curso de Musicoterapia tem a interdisciplinaridade como uma de suas
principais características, baseando-se em três grandes áreas (musical, científica e
de sensibilização) que possibilitam a formação do profissional musicoterapeuta, que
participará, provavelmente, de equipes multi, inter ou transdisciplinares, de acordo
com seu local e área de atuação. (ZANINI, 2016).
A Área Científica tem como objetivo o conhecimento teórico e prático do corpo
humano e seu funcionamento, a normalidade e as patologias, tanto físicas quanto
psicológicas, como sociais. Inclui disciplinas específicas como: Anatomofisiologia,
Neurologia, Neuropsicologia, Psiquiatria Clínica, Psicopatologia, Psiquiatria Infantil,

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Medicina de Reabilitação, Psicologia, Musicoterapia e áreas afins, além de Introdução
à Metodologia Científica e Seminário de Pesquisa. (ZANINI, 2016).
Na Área Musical, busca-se o desenvolvimento da habilidade em relação ao
fazer musical, além de conhecimentos teóricos e históricos, tendo como disciplinas:
Práticas Instrumentais, História da Música, Percepção Musical, Harmonia Funcional e
Linguagem Musical Contemporânea, Psicologia da Música e Psicoacústica, Voz e
Expressão, Métodos e Técnicas de Musicalização, Linguagem Sonora: Criatividade e
Estruturação Musical e outras. (ZANINI, 2016).

“A Área de Sensibilização, que tem disciplinas como: Expressão Corporal.,


Dinâmica de Grupo e Atividades Criativas, visa desenvolver no futuro
profissional, a integração fundamental para o musicoterapeuta da produção
sonoro-musical com a corporal, aguçando seus sentidos, estimulando-o a
observar a sua coordenação motora e do outro e aprofundar seu potencial
criativo, levando-o a ter sempre a consciência e a reflexão necessária sobre
seu contato corporal com o outro e de como isso se desenvolve no contexto
terapêutico. Normalmente as atividades são realizadas através de vivências
levando os alunos a improvisar e criar sempre que necessário, reconhecendo
esses momentos. ” (BARANOW, 1999-a, p.45 apud ZANINI, 2016).

Todos os conhecimentos citados serão imprescindíveis para que o


musicoterapeuta possa fazer estudos interdisciplinares, utilizando, por exemplo,
conhecimentos de neurologia, neuropsicologia e psicoacústica para melhor entender
o funcionamento cerebral de seu paciente, podendo, inclusive, realizar pesquisas
acerca das funções musicais cerebrais. Conhecimentos de Filosofia e Psicologia
serão fundamentais no que diz respeito ao embasamento teórico do musicoterapeuta
que, de acordo com sua área de atuação poderá direcionar seus estudos.
Exemplificando, aborda-se o trabalho com idosos, que pode se fundamentar-se na
Teoria Humanista Existencial, pois esta abordagem “está centrada na condição
humana (...) constitui primariamente uma atitude que valoriza a compreensão das
pessoas. ” (Corey, 1986, p.52 apud ZANINI, 2016) O musicoterapeuta poderá levar
essa clientela a experimentar uma “existência autêntica, tornando-se conscientes de
sua existência e potencial próprios, assim como do modo pelo qual podem abrir para
si mesmos este potencial e atuar sobre ele. ” (Op. Cit., p.53 apud ZANINI, 2016).
Bruscia (2000 apud ZANINI, 2016) afirma que “pelo fato da música envolver e
afetar muitas facetas do ser humano, e em função da grande diversidade de suas

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aplicações clínicas, a musicoterapia pode ser utilizada para se obter um grande
espectro de mudanças terapêuticas. ” (p.161)
O autor relaciona as seguintes áreas como as mais frequentemente visadas
como alvos de mudanças: Fisiologia (frequência cardíaca, pressão arterial,
respiração, ondas cerebrais, respostas musculares, funções neurológicas, respostas
de imunidade, etc.), Psicofisiologia (dor, níveis de lucidez, níveis de consciência,
estado de tensão ou relaxamento), Desenvolvimento Sensório-motor (respostas
reflexas e sua coordenação, esquemas sensório-motores, coordenação motora,
grossa e fina), Percepção (apreensão das relações de figura-fundo, parte-todo, igual-
diferente, etc.), Cognição (atenção; retenção de curto e longo prazo; habilidades de
aprendizagem; padrões e processos do pensamento, etc.), Comportamento (padrões,
nível de atividade, eficiência, segurança e outros), Música (preferências, hábitos de
prática, improvisando ou compondo, etc.), Emoções (extensão, variabilidade,
adequação e congruência das emoções, reatividade, expressividade, ansiedade,
agressividade, depressão, motivação, imagens e símbolos, entre outras),
Comunicação (capacidade expressiva e receptiva da fala, linguagem e outras
modalidades não-verbais), Interpessoal (consciência, sensibilidade, intimidade e
tolerância com os outros) e Criatividade (fluidez, originalidade, inventividade e talento).
(ZANINI, 2016).
De acordo com o local e área de atuação, o musicoterapeuta que, como já se
afirmou, traz uma formação acadêmica multi e interdisciplinar, poderá em sua prática
profissional se relacionar com outros profissionais. (ZANINI, 2016).

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2.1 Áreas de atuação do musicoterapeuta

Fonte: slideplayer.com.br

Após a definição e as considerações acerca da Musicoterapia como uma


profissão que utiliza música com função terapêutica, passa-se a discorrer,
brevemente, sobre as áreas de atuação do musicoterapeuta, um profissional que
poderá exercer seu trabalho de forma preventiva, como tratamento ou para auxiliar na
avaliação de determinadas patologias, podendo atender desde recém-nascidos a
idosos. (ZANINI, 2016).

Educação: Atendimentos a crianças com dificuldade de aprendizagem, com


distúrbio de conduta, com hiperatividade e outros problemas. O musicoterapeuta
desenvolverá atividades que estimulem a criatividade; valorizará a expressão sonoro-
musical, verbal e corporal do paciente, seja ela qual for; favorecerá o desenvolvimento
da função simbólica, graças ao caráter lúdico da atividade musical; e, haverá uma
quebra de estrutura de poder imposta pela linguagem verbal, pelo uso da linguagem
musical livre. Ao favorecer o processamento da realidade através do “fazer musical”
do paciente, a Musicoterapia permite à criança uma transformação da realidade,
integrando-a à sociedade de forma consciente. (ZANINI, 2016).

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Educação Especial: Segundo (ZANINI, 2016), atendimentos a portadores de
necessidades educativas especiais: deficiência mental (o ritmo favorece a
estruturação, a organização; a música estimula a concentração, a memória e
possibilita a elevação da autoestima); deficiência auditiva (estimulação através da
vibração, do contato corporal com o som); deficiência visual (possibilita a melhoria da
orientação espacial e a diminuição da rigidez corporal); deficiência motora (auxilia no
trabalho postural, favorece o desenvolvimento da consciência corporal, pode inibir
reflexos patológicos e auxiliar no processo de verbalização ou de qualquer forma de
sonorização).

Área Social: Desenvolve-se sessões musicoterápicas com meninos de rua,


detentos, prostitutas e outros, possibilitando a melhoria da autoestima, decorrente da
valorização da expressão sonoro-musical, que pode estimular a busca de uma nova
realidade para os pacientes. (ZANINI, 2016).

Área Hospitalar: Atendimentos a portadores de HIV, câncer, pacientes


terminais, em coma e pacientes internados nas diversas áreas/especialidades
médicas, tanto no período pré como no pós-cirúrgico, além de pacientes com
patologias crônicas, que frequentemente têm que ser internados. Nesta área, o
musicoterapeuta terá sempre como principal objetivo minimizar o sofrimento advindo
da patologia, focalizando a dor física e a emocional, para melhoria da qualidade de
“vida” ou, em certos casos, de “morte”. (ZANINI, 2016).

Gestantes: O musicoterapeuta estimulará o contato com o bebê desde o


ambiente intrauterino, podendo possibilitar a diminuição da ansiedade da gestante
neste período, através de exercícios que envolvam respiração, relaxamento e música.
Como o feto já percebe os sons do ambiente externo desde o sexto mês de gestação,
esta capacidade pode ser utilizada para fortalecer o vínculo afetivo não só com a mãe,
mas também com o pai e/ou familiares. (ZANINI, 2016).

Estimulação Essencial: Com crianças de zero a três anos, o musicoterapeuta


poderá estimular a aprendizagem, o conhecimento das partes do corpo, a descoberta
do mundo sonoro e, principalmente, o desenvolvimento dos sentidos, pois os

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instrumentos musicais estimulam as percepções sonora, visual, olfativa e tátil.
(ZANINI, 2016).

Reabilitação Motora: Atendimento, por exemplo, a pacientes com sequelas de


traumatismos cranianos ou que tiveram acidente vascular cerebral (AVC). Nestes
casos, o profissional poderá auxiliar no restabelecimento e no estímulo das funções
cerebrais e, também, atuar em avaliações neuropsicológicas, envolvendo atividades
musicais. (ZANINI, 2016).

Gerontologia e Geriatria: Musicoterapia com idosos, seja de uma forma


preventiva, quando há um envelhecimento normal (gerontologia) ou em tratamento de
patologias diversas, como Doença de Parkinson e de Alzheimer e outras (geriatria).
Os objetivos estão voltados para a melhoria da qualidade de vida, para o resgate da
cidadania, a socialização (trabalhos em grupo), melhoria da memória e aumento da
autoestima, importante fator de motivação para esta faixa etária. (ZANINI, 2016).

Ensino e Pesquisa: O desenvolvimento de atividades voltadas à formação


acadêmica de musicoterapeuta (cursos de graduação e pós-graduação) e
envolvimento de profissionais em pesquisas científicas, apresentações e publicações
de trabalhos decorrentes das mesmas. Estas áreas de atuação são de singular
importância para o reconhecimento da Musicoterapia como área de conhecimento
científico. (ZANINI, 2016).

Recursos Humanos: Trabalho do musicoterapeuta voltado para as empresas,


“buscando uma interação entre seus membros, o fortalecimento das relações
interpessoais, a resolução de conflitos decorrentes das escalas hierárquicas e uma
diminuição no nível de stress. ” (Baranow, 1999-a, p. 55 apud ZANINI, 2016).

Saúde Mental: Na área de Saúde Mental, Vasconcelos (1997 apud ZANINI,


2016) chama a atenção para uma mudança cultural profunda na sociedade, iniciando-
se particularmente na mídia, visando mudar a atitude em relação à loucura, no sentido
de não a rejeitar e segregá-la. O autor afirma que esta área ou campo de atuação é
chamada a refazer-se por inteiro, ampliando o seu foco de abordagem e que ter-se-á,

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necessariamente, que recolocar a questão da interdisciplinaridade, ou mais
radicalmente, da transdisciplinaridade.

2.2 Psiquiatria, uma das primeiras áreas a ser atendida por musicoterapeuta

Fonte: infoescola.com

Dentre os temas da Psiquiatria Infantil, temos o Autismo infantil, o problema


central é a inexistência de relação ou falta de contato com o mundo externo. No setting
musicoterápico, através da vivência com os instrumentos musicais, com os elementos
constitutivos da música, sejam estes estruturados ou não, o musicoterapeuta atuará
buscando estabelecer uma relação para, a partir desta, iniciar um processo de
comunicação através do som, que poderá ser mais suportável e menos ameaçador
para o autista. Ao atingir esta abertura, ou melhor, a ruptura da “caixa transparente”,
alusão feita por Benenzon, em seu livro Musicoterapia en la psicosis infantil (1976),
pode-se abrir um novo caminho para o indivíduo autista, que poderá passar a
desenvolver-se de uma forma mais ampla. Com o psicótico, que atua no mundo de
forma diferente, fora da realidade, o musicoterapeuta trabalhará o contato com a
realidade, através do compartilhar o momento de fazer música, estimulando a auto
percepção e a percepção do outro. (ZANINI, 2016).

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Com relação ao paciente psiquiátrico adulto (com transtornos esquizofrênicos,
obsessivos ou compulsivos, transtornos de humor e pacientes com dependência
química - drogadictos e alcoolistas), neste contexto, o musicoterapeuta deverá fazer
parte de equipes num processo de preparação do indivíduo para o momento de uma
reinserção social. O atendimento poderá ser individual ou, preferencialmente, em
grupo. (ZANINI, 2016).
Costa (1999 apud ZANINI, 2016) afirma que o musicoterapeuta dirige sua
escuta à “música do paciente”, sem críticas inibidoras, por mais que esta produção lhe
seja desagradável. “Sua escuta precisa ser desprovida dos preconceitos sobre o que
é uma boa música, para desenvolver a capacidade de vibrar em comum com seu
cliente, compreender aquilo que deseja expressar, ir ao seu encontro e ajudá-lo a dar
forma a esta expressão”. (p.38)
Percebe-se, ao atuar com esta clientela (área psiquiátrica), o reconhecimento
do “eu”, a diferenciação entre o “eu e o outro” e entre “eu e o mundo”, levando a um
maior contato com a realidade, diminuindo as sensações de estranhamento e
facilitando o reconhecimento, por cada paciente, de parte de si mesmo, antes
percebida como alheia. Depois de algum tempo, pode-se observar a percepção do
outro, quando, por exemplo, eles verbalizavam que um companheiro de grupo repete
uma música na mesma sessão. Pode-se relacionar esta observação com a afirmação
de Vianna, Costa & Silva. (1987 apud ZANINI, 2016):

O resultado sonoro da ação de tocar chega ao sentido da audição do sujeito


que toca, assim como daqueles que estão ao seu redor. Quando o indivíduo
ouve e é ouvido, inicia-se uma forma rudimentar de percepção do outro. Uma
vez que o espaço sonoro é compartilhado, todos os membros do grupo,
inclusive aqueles que permanecem aparentemente passivos, são levados a
uma participação mediada por uma linguagem não verbal - a música -
produzida através da utilização de objetos concretos (os instrumentos
musicais). (p.12)

Com relação aos portadores de transtornos esquizofrênicos, observa-se que a


concretude dos instrumentos musicais vem também favorecer o contato com a
realidade, quando há expressão através deles. Para que o setting musicoterápico
possa servir como via privilegiada de construção é imprescindível a necessidade de
“estar com”, na mesma paisagem sonora, através do fazer musical conjunto. (ZANINI,
2016).

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Trabalhando-se, por exemplo, com o dependente químico - alcoolista, observa-
se que a frequente utilização do microfone como um recurso no setting musicoterápico
faz com que o paciente conheça melhor ou descubra sua voz/ expressão musical. Ao
escutar-se ele pode autovalorizar-se e perceber que pode realmente assumir sua
identidade, ao invés de fugir de sua realidade ao buscar a dependência e “esconder-
se” através dela. O microfone pode amplificar a voz desse paciente que, no início do
processo musicoterápico, parecia não ter voz, reflexo de uma de suas dificuldades em
seu meio social. Isto vem ao encontro da afirmação de Frohne (1991 apud ZANINI,
2016) que quanto mais as pessoas dependentes assumem sua identidade durante o
processo terapêutico, menos necessitam de drogas.
Silva (2003 apud ZANINI, 2016) faz as seguintes considerações sobre o
atendimento musicoterápico com um grupo de pacientes depressivos:

Quando o paciente expõe seus sentimentos, a carga fica mais leve, a culpa
diminui, as relações interpessoais melhoram, as músicas alegres emergem
com mais facilidade e, consequentemente, os sintomas da depressão
diminuem, causando menor sofrimento. Logo, seu corpo, sua alma e sua
psiquê cantam e dançam, enfim, agradecidos, pois o musicoterapeuta
considera as potencialidades, aceitando que cada pessoa é ímpar, singular e
subjetiva! (p. 52)

O musicoterapeuta poderá também atuar de uma forma preventiva, numa ação


profilática, procurando evitar problemas de saúde mental. Pode-se exemplificar,
abordando o atendimento a pessoas sujeitas ao stress, buscando atenuá-lo através
de sensibilizações diversas e, na gerontologia, como elemento motivador e integrador,
aumentando a autoestima do idoso. Baranow (1999-a apud ZANINI, 2016) assinala
que o musicoterapeuta, numa ação profilática, pode ajudar na diminuição do stress,
um dos grandes males da atualidade, promovendo o relaxamento, combinando a
música com técnicas corporais; organizando o ritmo interno e, consequentemente, o
externo; promovendo o autoconhecimento e o autocontrole corporal e mental,
utilizando a expressão sonoro-musical como meio de descarga física e emocional,
equilibrando as tensões internas e externas.
É importante ressaltar que em Musicoterapia, compreende-se a visão
contemporânea de música, na qual todo e qualquer som, qualquer que seja sua fonte
sonora, pode ser considerado como expressão sonoro-musical. O musicoterapeuta,
em sua “escuta” terapêutica, valorizará toda e qualquer produção corporo-
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sonoromusical que aconteça no setting musicoterápico, desde um grito, uma
respiração, um gesto, um ranger de unhas em um instrumento de percussão a uma
música totalmente estruturada, vocal e/ou instrumental. (ZANINI, 2016).
Pode-se sentir que, em Saúde Mental, realmente, além dos pacientes sofrerem
física e emocionalmente com os sintomas provenientes de suas patologias, há um
enorme sofrimento pelos problemas sócios familiares pelos quais passam. Estes
aspectos podem ser vivenciados e trabalhados no decorrer do processo
musicoterápico, com o aparecimento de canções com inúmeros significados e
funções. (ZANINI, 2016).
Ao utilizar os elementos da música, o musicoterapeuta pode possibilitar uma
intervenção que englobe o indivíduo em sua totalidade, em diversos âmbitos, tanto
individualmente, referindo-se ao nível físico, mental, psicológico e espiritual, como
socialmente, num contexto de relações familiares, sociais, culturais, de trabalho e
históricas. (ZANINI, 2016).
A complexidade do atendimento à Saúde Mental requer uma rede de disciplinas
e profissões atuando conjuntamente. No cuidado à Saúde Mental é importante pensar
em como os diferentes tipos de atendimento podem acolher as singularidades dos
sujeitos em sofrimento. A história dos usos terapêuticos da música nos revela o quanto
é antigo o uso da música em diferentes formas de cuidado e como a musicoterapia
surge como resultado da compreensão da importância do papel da música no cuidado
da saúde humana. (PUCHIVAILO; et al., 2014).

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3 PSICOLOGIA DA MÚSICA

Fonte: judao.com.br

A musicoterapia auxilia a minimizar os sinais e sintomas de várias doenças,


pois melhora a comunicação, expressão, organização e relacionamentos. A música é
indicada para o desenvolvimento de potenciais e recuperação de funções, com
objetivos terapêuticos relevantes que envolvem a melhora das necessidades físicas,
emocionais, mentais, sociais e cognitivas do indivíduo. (BARBOSA, 2014).
A música, mais do que qualquer outra arte, tem uma representação
neuropsicológica extensa, com acesso direto à afetividade, controle de impulsos,
emoções e motivação. Ela pode estimular a memória não verbal por meio das áreas
associativas secundárias as quais permitem acesso direto ao sistema de percepções
integradas ligadas às áreas associativas de confluência cerebral que unificam as
várias sensações. Exemplo pode ser dado referindo-se à sensação gustativa,
olfatória, visual e proprioceptiva as quais dependem da integração de várias
impressões sensoriais num mesmo instante, como a lembrança de um cheiro ou de
imagens após ouvir determinado som ou determinada música. O conjunto dessas
atividades motoras e cognitivas envolvidas no processamento da música é chamado
de função cerebral. Tal função exige várias operações mentais tais como interpretação
de ritmos, harmonias, timbres, expressão motora, processos cognitivos e emocionais
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para a formação de um complexo de interpretação da música. (MUSZKAT, 2012 apud
BARBOSA, 2014).
A música e a linguagem são ferramentas de estudo que exploram funções
cerebrais. Enquanto a voz falada envolve entonação, ritmo, andamento e um contorno
melódico, a música utiliza-se da linguagem de símbolos para comunicação e
expressão. No entanto, ambas dependem de esquemas sensoriais responsáveis pela
percepção e processamento auditivo e visual para que haja uma organização temporal
e motora necessárias para a fala e execução musical. (MUSZKAT et al, 2000 apud
BARBOSA, 2014).
Ao chegarem aos ouvidos, os sons são convertidos em impulsos que percorrem
os nervos auditivos até o tálamo, região do cérebro considerada central para as
emoções, sensações e sentimentos. Os impulsos cerebrais provocados pela música
afetam todo o corpo e podem ser detectados por técnicas de escaneamento cerebral
ou neuroimagem. (GASPARINI, 2003 apud BARBOSA, 2014).
A capacidade de a música influenciar o estado emocional do indivíduo se deve
ao fato dela produzir reações fisiológicas cuja magnitude parece depender do
conteúdo emocional. Portanto, a percepção musical envolve muitas variáveis, muitas
áreas encefálicas e é capaz de influenciar o corpo todo através das reações
emocionais e fisiológicas. (CARTER, 2009 apud BARBOSA, 2014).
O cérebro, sendo um centro cognitivo de atividades mentais superiores que
abrange sentimentos, criatividade e inteligência, é separado por uma grande fissura
que o divide em dois hemisférios cerebrais, hemisfério direito e esquerdo. Um efeito
muito versado é a contralateralidade, onde o hemisfério esquerdo cerebral exerce o
controle do lado direito do corpo e vice-versa. (CUNHA, 2011 apud BARBOSA, 2014).
Essa troca de informação entre os hemisférios se dá em virtude de algumas estruturas
nervosas como o corpo caloso. (SILVERTHORN, 2003 apud BARBOSA, 2014). De
uma forma geral, o hemisfério cerebral esquerdo contém as habilidades verbais,
analítica e o controle da linguagem em seus aspectos lógicos, enquanto as não
verbais, holísticas, afetivas, emoções e intuitiva, dependem do hemisfério cerebral
direito. (SCHMIDEK, 2005 apud BARBOSA, 2014).
Existe uma lateralização hemisférica para a música de forma que no hemisfério
direito ocorre a discriminação do contorno melódico, do aspecto emocional da música

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e dos timbres nas regiões temporais e frontais. No entanto, o ritmo, a duração, a
métrica e a discriminação da tonalidade ocorrem no hemisfério esquerdo do cérebro
o qual também processa a altura estando relacionado exatamente às áreas da
linguagem que reconhecem o arranjo musical. (MUSZKAT, 2012 apud BARBOSA,
2014).
O intento da Psicologia da Música consiste em estudar a natureza dos
processos perceptivos, cognitivos, motores, emocionais e psicossociais envolvidos na
experiência musical. Como campo de investigação, a Psicologia da Música procura
desvendar características comuns sobre os processos de percepção, produção,
criação, assim como referentes às respostas e às formas de integração de músicas
em suas vidas (Tan, Pfordresher & Harré, 2010 apud SANTOS, 2012) trazendo
aportes acerca de: (i) bases neurais para percepção e cognição da música; (ii)
emergência e desenvolvimento das capacidades auditivas desde habilidades
musicais até aquisição da expertise; e (iii) significado musical: significado emocional,
social, e universal.
Emoção é uma função mental superior, o cérebro regula esta atividade, é
comportamental e apresenta um substrato neuroanatômico, podemos citar o sistema
límbico como parte deste substrato, composto pelo telecéfalo, diencéfalo e
mesencéfalo, situados nos lobos temporais e frontais e com ligação com o tálamo, o
hipotálamo e outras áreas do Sistema Nervoso Central. Outra estrutura envolvida no
substrato neuroanatômico é o núcleo accumbens, onde ao ouvir uma música, há a
liberação do neurotransmissor dopamina neste núcleo, neurotransmissor que é
responsável pela sensação de prazer e ativador do sistema de recompensas no
cérebro. (ARAUJO; SEQUEIRA, 2013 apud SANTOS, 2015).
O hipocampo é uma das áreas responsáveis pela memória e é ativada sempre
que se acompanha uma canção familiarizada, o acompanhamento de um ritmo
envolve circuitos de regulação temporal do cerebelo, a orquestração ativa o cerebelo
e o tronco cerebral, a leitura de partituras ativa o córtex visual situado no lobo occipital,
ouvir e cantar e relembrar letras de músicas ativa as áreas de linguagem Broca e
Wenicke, atividades musicais que exijam sistemas cognitivos mais avançados, como
por exemplo, planejamento, ativará os lobos frontais. (LEVITIN, 2011 et al ARAUJO;
SEQUEIRA, 2013 apud SANTOS, 2015).

18
A música, na perspectiva de Avila (2009 apud SÁ; et al., 2017) é o evento sobre
o qual o ser humano com todas as suas potencialidades se permite manifestar-se da
forma como realmente é, ou seja, desvela-se revelando o seu próprio eu. Esta
proporciona encontros consigo mesmo, com o mundo que o circunda e com as
inúmeras possibilidades de relação. Torna-se um instrumento eficaz proporcionando
que o eu entre em contato com o exterior, muitas vezes compreendido como o outro,
possibilitando a recordação e/ou lembrança de vivencias.
Assim, a música permite o encontro do sujeito com sua alteridade. Tal encontro,
consequentemente, reúne condições que possibilitem uma atualização das
potencialidades externas a realidade intrínseca e subjetiva do indivíduo. (SÁ; et al.,
2017).

A peculiaridade da música na promoção de tal encontro é que ela estabelece


um espaço seguro, onde o fora aparece desprovido de suas forças maléficas,
onde o contato não é temido por seus riscos e limitações, onde, pelo contrário,
em uma afirmação absoluta da potência, as relações do sujeito com o fora se
apresentam dinamizadas sob o signo da harmonia É também por meio da
música que as categorias socialmente construídas e realizadas pelo sujeito,
tais como espaço, tempo, corpo e identidade social, são reordenadas de
modo a permitir a criação do novo e a atualização do sujeito a partir de sua
alteridade. Para os Suyá, cada performance musical “reestabelece certas
relações entre seres humanos e animais, entre a aldeia e seus arredores,
entre os Suyá e o universo que eles criaram e dentro do qual eles vivem”
(Seeger, 1987, p. 2 apud SÁ; et al., 2017). Cantando, saltando e dançando,
é esta a maneira pela qual eles incorporam o fora domando sua
destrutividade pela suspensão da ordem vigente, por uma metamorfose do
mundo e de si [...] a música possibilita um modo de subjetivação pelo encontro
com o fora e, assim, oferece ao sujeito os meios de estabelecer identificações
e diferenças consigo mesmo e com o exterior, de criar e romper alianças com
os objetos, de compor e decompor relações com sua alteridade (AVILA, 2009,
p. 95-96 apud SÁ; et al., 2017).

Percebe-se então, que a música pertinente ao contexto psicológico origina e


apresenta em si elementos cognitivos e intelectuais, bem como, sociais e afetuosos.
A música em relação à psicologia cria uma possibilidade de manifestação, de
expressão e, sobretudo, de reflexão sobre os sentimentos, a realidade, o poético, o
musical, o que almeja evocar enquanto vivência, experiência. (SÁ; et al., 2017).

19
4 TÉCNICAS E MÉTODOS EM MUSICOTERAPIA

Fonte: querobolsa.com.br

O cenário mundial apresenta métodos musicoterapêuticos com


particularidades que ampliam o campo de atuação do Musicoterapeuta em função do
contexto e da patologia que será atendida, “um método é um tipo particular de
experiência musical em que o cliente se engaja com propósitos terapêuticos”
(BRUSCIA, 2000, p.123 apud ROMÃO, 2015).
Dentre os mais difundidos e conhecidos no Brasil, podemos citar o Método
NordoffRobbins, o Método das Imagens Guiadas e Música, de Hellen Bonny, as
experiências musicais de Bruscia e o Método da Identidade Sonora de Bennezon.

Método Nordoff-Robbins:
Baseado nos trabalhos musicais de Paul Nordoff e Clive Robbins, utiliza a
improvisação musical como principal ferramenta clínica. Originalmente este método
foi criado para o tratamento de crianças com comprometimento neurológico e/ou
físico, sendo atualmente muito procurado para o tratamento do Transtorno do
Espectro Autista. Tem como premissa que todas as pessoas possuem uma
musicalidade inata, independentemente de suas limitações e deficiências, chamada
20
de “music child”. Tal musicalidade, permite que a música atue como comunicação,
sensibilizando e facilitando a relação deste indivíduo com o meio social. (ROMÃO,
2015).
Chagas (2008 apud ROMÃO, 2015) explica que através da improvisação
criativa, os terapeutas estimulam esta condição musical inata do indivíduo trazendo
para a sessão conteúdos musicais que serão decodificados posteriormente. A
comunicação acontece totalmente através deste jogo musical sem que o verbal
apareça. Este método é realizado na presença de dois terapeutas, onde um deles
preocupa-se com a improvisação, geralmente no piano, e o outro está diretamente
ligado à criança, facilitando a expressão musical através dos instrumentos escolhidos
pela criança, para que haja uma resposta à intenção clínica planejada.

Método das Imagens Guiadas e Música (GIM):


Criada por Hellen Bony, este método utiliza-se da música erudita instrumental
como possibilidade de alterar os estados de consciência dos indivíduos. Chagas (2008
apud ROMÃO, 2015) explica que a música é apresentada ao paciente como audição
musical num processo de relaxamento para eliciar imagens, símbolos ou sentimentos,
que são compartilhados verbalmente com o musicoterapeuta. A capacidade da
música de provocar estes estados alterados de consciência, propõe que o paciente
possa se livrar de comportamentos indesejáveis se conectando com sensações e
sentimentos mais profundos vividos por ele. A seleção das músicas fica a cargo do
terapeuta, procurando sempre seguir um objetivo terapêutico individual que faça
sentido para cada paciente.

Experiências Musicais de Bruscia:


Podemos dizer que este método é atualmente um dos mais utilizados no Brasil.
Kenneth Bruscia, separou os principais tipos de experiências musicais e transformou
o fazer musical em potencial terapêutico. Os quatro tipos de experiências musicais
são: a improvisação, a execução (ou recriação), a composição e a audição (BRUSCIA,
2000 apud ROMÃO, 2015). A escolha das experiências musicais utilizadas no
processo terapêutico vai depender da abordagem de cada terapeuta e de sua área de
trabalho.

21
O mais importante é que toda e qualquer expressão musical que seja
produzida pelo cliente/paciente sozinho ou junto com o terapeuta não contenha
julgamento de valor, sendo que a prioridade e a escolha de tais elementos musicais
estejam pautadas nos objetivos propostos para o tratamento. Falamos em
experiências musicais porque neste processo o que está em jogo é a experiência que
o cliente/paciente terá com a música e não apenas a música que será tocada/cantada
como uma produção estética. Cada experiência musical envolve uma pessoa, um
processo musical específico, um produto e um contexto/ambiente (BRUSCIA, 2000
apud ROMÃO, 2015).

Método da Identidade Sonora (ISO)


Criado por Roland Benenzon, este método propõe que todo indivíduo possui
uma identidade sonora que se inicia desde a vida intrauterina e se modifica como um
processo dinâmico e complexo. (ROMÃO, 2015).

“As bases que integram o Princípio de ISO podem ser definidas da seguinte
maneira: as relações do contexto não-verbal e o homem devem ser buscadas
nas estruturas vinculares entre a mãe e seu feto (intrauterino); posteriormente
as expressões não-verbais como a música, dança, gestos são a necessidade
de evocar e reviver os vínculos materno-fetais, materno-infantis e com a
natureza, como desdobramento dos mesmos” (BENENZON,1988, p. 40 apud
ROMÃO, 2015).

Esta identidade sonora sofrerá modificações ao longo de nossas vidas e como


um conceito dinâmico, o Princípio de ISO, caracteriza e individualiza cada indivíduo.
Em qualquer que seja o Método, a não ser aqueles que privilegiam a audição de
músicas previamente gravadas, a canção aparece como uma das experiências
musicais mais presentes nas sessões de Musicoterapia. A canção popular, inserida
no universo simbólico de diferentes culturas, apresenta uma diversidade de expressão
que reflete nas várias situações da vida humana (RUUD, 1990 apud ROMÃO, 2015).
Para Chagas (2001 apud ROMÃO, 2015), na prática clínica, o cliente não apenas
reproduz a canção, mas apropria-se dela. A canção passa a ter um significado próprio
quando ali recriada, “a canção não é passível de ser repetida, é única. Não se
confunde com a sua gravação oficial” (p.122). Desta forma, a escuta terapêutica desta
produção sonora vai além do limite musical. “A escuta terapêutica exige escutar o dito
e o não dito, observar o que há por traz do dito (entonação da voz, os tônus, os
22
movimentos corporais, as expressões faciais) ”. (COSTA, 2009, p.6 apud ROMÃO,
2015).
Destacamos, dessa maneira, que o uso da música para trabalhos terapêuticos
e/ou de estimulação de fala requer conhecimento aprofundado a respeito dos efeitos
que determinadas melodias e ritmos podem desempenhar. Ademais, muito do que
pode ser utilizado dependerá das necessidades do assistido e dos objetivos do
pesquisador. A literatura musicoterapêutica destaca quatro tipos básicos de
experiência musical que podemos utilizar (BRUSCIA, 2000, p. 31 apud BAIA, 2019):

Improvisação: Livre ou dirigida, instrumental, vocal, corporal, com integração


às artes plásticas etc, significa trabalhar com a possibilidade de criar no momento
presente a partir de conteúdos que emergem e vão se organizando e sequenciando
espontaneamente, da mesma forma como acontece na vida diária na qual precisamos
improvisar para atender às variantes que se apresentam. Na arte de improvisar o
musicoterapeuta constrói uma “ ponte” em direção ao indivíduo. (Fato esse de primária
importância com pacientes em depressão). Essa ponte possibilita a cura pelo
encontro, pois restabelece a relação de confiança com os outros que estava
danificada, que não estava inteira. O indivíduo que se sentia fragmentado, torna-se
inteiro. Curar significa tornar inteiro. Em princípio isso não acontece de uma vez, mas
sim através de um processo contínuo que se aprofunda progressivamente à medida
que a terapia se desenvolve. (MEDEIROS, 2015).
A improvisação psicanalítica possibilita a análise do indivíduo e da música em
termos de funções do EU, EGO e SUPER-EGO, níveis de consciência, mecanismos
de defesa, transferência e contratransferência e seu objetivo principal é acessar o
inconsciente trazendo os conflitos reprimidos para o nível consciente. (MEDEIROS,
2015).
Os clientes, em sua grande maioria, nunca chegaram perto de um instrumento
e nunca usaram a sua voz cantante. Então, eles começam a usar os instrumentos de
sua escolha ou da escolha do musicoterapeuta. Inúmeras vezes, no começo, o
musicoterapeuta escolhe o instrumento porque a pessoa que está sendo trabalhada
apresenta uma espécie de pudor. Com a voz e com o corpo o trabalho se torna mais
difícil, em trabalhos com clientes adultos, pois o adulto, em geral, já deixou de lidar

23
com sua voz e com o seu corpo há muito tempo e com eles têm uma relação de meros
conhecidos. (MEDEIROS, 2015).

Recriação: através desta técnica o indivíduo canta e toca, de memória ou


utilizando partitura, uma peça musical composta anteriormente. (MEDEIROS, 2015).

Composição: com a ajuda do terapeuta o indivíduo compõe e escreve uma


canção, peça instrumental ou parte de uma peça. (MEDEIROS, 2015).

Audição: O indivíduo escuta e reage a uma música gravada ou ao vivo.


(MEDEIROS, 2015).

Voz e canto: A utilização da voz e do canto permite um acesso mais ressonante


e arquetípico ao inconsciente, pois a voz e o canto saem das profundezas do ser
humano e exige que o profissional tenha conhecimento profundo da psicologia e do
desenvolvimento humano através dos milhões de anos que prepararam a espécie. A
pessoa pode entrar em catarse e acessar memórias remotas trazidas pela sua própria
voz, pelo seu próprio som que pode estar vindo de trezentos milhões de anos atrás.
Pensamos que todas as técnicas proporcionam alívio imediato de dores e sofrimentos,
mas devem ser casadas ou acopladas e acompanhadas com a análise e
decodificação dos conteúdos. (MEDEIROS, 2015).

Millecco Filho et al (2001 apud JÚNIOR, 2008) desenvolveram uma


categorização das funções do canto:

 O canto falho, que pode revelar tanto uma tentativa de mascaramento


defensivo, principalmente nos casos de esquecimento da letra da
música, quanto “uma falha na repressão de algum pensamento ou
desejo inconsciente, mais notável nos casos de troca de palavras da
letra, ou da lembrança insistente de algum fragmento da canção” (p. 96);
 O canto como prazer, mobilizando emoções e revelando sentimentos;

24
 O canto como expressão de vivências inconscientes, nos momentos
onde as palavras não conseguem ser ditas, nas canções podem emergir
os conteúdos bloqueados;
 O canto como resgate, possibilitando resgatar um momento vivido pelo
paciente;
 O canto desejante, na espera de algo que ainda se espera viver;
 O canto comunicativo, entre o musicoterapeuta e o paciente, ou entre os
membros de um grupo terapêutico;
 O canto corporal, afetando o corpo de duas maneiras: objetivamente,
pela ação do canto no organismo humano e, subjetivamente, agindo
sobre as emoções.

4.1 Atividades realizadas em Musicoterapia

Fonte: encenasaudemental.com

As atividades realizadas em Musicoterapia são desenvolvidas de acordo com


as necessidades do paciente, visando alcançar objetivos terapêuticos (BARCELLOS,
1980 apud JÚNIOR, 2008). A autora apresenta algumas atividades que podem ser
realizadas em Musicoterapia e o que as mesmas podem desenvolver. Essas
atividades são comuns à recreação musical e à educação musical, mas não têm
objetivos terapêuticos como na Musicoterapia. São elas: a utilização de instrumentos

25
musicais; a utilização da voz; a utilização do corpo; rodas; jogos rítmicos e audição de
músicas. A autora ainda relata que, o homem primitivo tinha necessidade de criar o
instrumento musical. Inicialmente extraia os sons do próprio corpo. Aos poucos, o
instrumento musical surgiu e foi evoluindo. A princípio, junto ao corpo, depois
executado com as mãos e pés, e em seguida, como um prolongamento do próprio
braço – a baqueta.
Os instrumentos musicais são utilizados em grande parte das atividades
musicoterápicas tanto de forma convencional quanto não convencional. Para
Barcellos (1980 apud JÚNIOR, 2008), a utilização de instrumentos musicais pode
possibilitar: a) a comunicação; b) a integração grupal; c) a liberação de conteúdo
internos; d) a descoberta de potencialidades; e) o desenvolvimento da criatividade; f)
o desenvolvimento da coordenação motora ampla e fina; g) o desenvolvimento da
percepção auditiva (timbre, altura, intensidade e ritmo), da percepção visual
(diferentes formas e cores), da percepção tátil; h) o desenvolvimento da capacidade
respiratória.
A primeira manifestação sonora do homem, ao nascer, é sonora, através do
choro. A voz pode ser utilizada de forma convencional através da linguagem e do
canto, e também de forma criativa, através de sons pré-vocais. Através do canto é
possível dar condições àqueles que têm dificuldade em se expressar verbalmente.
Através da utilização da voz podemos ajudar o paciente: a) a explorar e conhecer
potencialidades; b) a desenvolver o aparelho fonador; c) a desenvolver a percepção
auditiva e tátil; d) a aumentar a capacidade respiratória; e) a fala e a linguagem; f) a
auto expressão; g) a criatividade; h) a liberação de conteúdo interno. (JÚNIOR, 2008).
Através da expressão corporal podemos: a) dar condições de aquisição do
esquema corporal; b) desenvolver o ritmo individual; c) desenvolver a orientação
espaço temporal; d) possibilitar a comunicação; e) facilitar a auto expressão; f)
desenvolver a percepção visual. A dança é uma atividade que engloba ritmo,
movimento, expressão, induz a criação, socialização e leva a comunicação. (JÚNIOR,
2008).
O principal objetivo da roda é a socialização, pois o fato de dar as mãos
estabelece contato mais próximo. Através dela podemos desenvolver: a) a atenção e
memória; b) a coordenação motora; c) a capacidade criadora. (JÚNIOR, 2008).

26
Através da realização de jogos rítmicos, os quais podem ser feitos com sons
do próprio corpo, com instrumentos musicais ou ainda, com objetos auxiliares,
podemos desenvolver: a) a atenção e memória; b) a capacidade de expressão; c) a
capacidade rítmica; d) a orientação espaço-temporal; e) a disciplina; f) a aquisição do
esquema corporal. (JÚNIOR, 2008).
A audição de música é, em geral utilizada como estímulo para movimentação,
execução de instrumentos ou dança. É importante destacar que, na Musicoterapia,
quando isto acontece, em geral o material (fitas, CD’s) é trazido pelo próprio paciente.
(JÚNIOR, 2008).

5 MUSICOTERAPIA APLICADA À REABILITAÇÃO NEUROLÓGICA.

Fonte: portalcarlosbyington.jungnapratica.com.br

Segundo MOREIRA; et al., 2012, a música está presente em todas as culturas


e, desde épocas mais remotas, os indivíduos apresentam capacidades básicas para
seu processamento, o qual está organizado em módulos diferenciados que envolvem
regiões diferentes do cérebro. A produção e percepção da música estão relacionadas
às nossas capacidades cognitivas, envolvendo áreas do córtex auditivo e do córtex
motor. Por outro lado, a música produz respostas emocionais que englobam outras
áreas corticais e subcorticais. A música é um estímulo multimodal muito potente que
27
transmite informação visual, auditiva e motora para o cérebro, o qual tem uma rede
específica para seu processamento, representada por regiões frontotemporoparietais.
Esta ativação pode ser muito benéfica no tratamento de diversas doenças
neurológicas, seja através da reabilitação ou da estimulação de conexões neuronais
alteradas. De acordo com Thaut e cols (apud MOREIRA; et al., 2012), musicoterapia
neurológica é a aplicação terapêutica da música para estimular mudanças nas áreas
cognitivas e motoras após doença neurológica.
A história da musicoterapia e da reabilitação apresentam percurso semelhante.
Tentativas de reabilitar pacientes neurológicos são mencionadas desde a antiguidade
grega e egípcia. Na era moderna, a reabilitação de pacientes com lesões cerebrais
iniciou-se, provavelmente, na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial,
resultando em taxas melhores de sobrevivência de militares com traumatismo
craniano (WILSON, 1996; POSER, KOHLER e SCHONLE, 1996 apud MOREIRA; et
al., 2012).
A reabilitação desenvolveu-se durante a Segunda Guerra Mundial, com
desdobramentos na Alemanha, Inglaterra, União Soviética e Estados Unidos. Nesta
época, na antiga União Soviética, Luria e seus colaboradores trabalharam com
reabilitação neuropsicológica em militares vítimas de traumatismos cranianos. Em
1943, Luria havia tratado cerca de 800 soldados com lesões cerebrais por arma de
fogo (WILSON, 1998 apud MOREIRA; et al., 2012).
A musicoterapia foi estabelecida como profissão principalmente a partir da
Segunda Grande Guerra como resultado do trabalho nos hospitais de veteranos. Os
musicoterapeutas organizavam programas que utilizavam música para soldados
feridos em guerra (DAVIS e GFELLER, 2000 apud MOREIRA; et al., 2012). Na década
de 50, surgem metodologias em musicoterapia como forma de tratamento de
pacientes.
A neurorreabilitação é um processo de tratamento que envolve profissionais de
várias especialidades voltadas à recuperação parcial ou total de pessoas portadoras
de algum tipo de deficiência neurológica física, sensorial e/ou cognitiva, definitivas ou
temporárias. Este processo engloba o paciente, sua família e os especialistas
responsáveis pelo atendimento. A equipe de especialistas deve discutir todas as
dificuldades apresentadas pelo paciente, decidindo sobre o que é possível de ser

28
alcançado através de um programa de tratamento. Os objetivos do programa de
tratamento são definidos e acordados e, em seguida, acompanhados para análise do
progresso do tratamento. (MOREIRA; et al., 2012).
A neurorreabilitação é um processo que pode ajudar qualquer pessoa com
incapacidade neurológica, sejam pacientes com quadro agudo de acidente vascular
cerebral ou pacientes com deterioração funcional, como pacientes com esclerose
múltipla. Há evidências consistentes de que uma equipe de neurorreabilitação está
associada a melhora de função, menor taxa de complicações e uma melhor qualidade
de vida. A neuromusicoterapia, especialidade recentemente introduzida no Brasil,
aborda a aplicação terapêutica da música em doenças neurológicas com base em
modelo de neurociências e técnicas de tratamento musicoterapêuticas. (MOREIRA; et
al., 2012).
Atualmente, técnicas de neuroimagem investigam regiões neurais específicas
e suas respostas à diversos estímulos, incluindo música, em determinado indivíduo.
Os estudos sobre a música têm sido conduzidos no campo das neurociências
(ZATORRE, 2003; ZATORRE e McGILL, 2005 apud MOREIRA; et al., 2012). Estudos
têm mostrado que a música aumenta a plasticidade sináptica cerebral através da
comparação de cérebros de musicistas e não-musicistas (ABBOTT, 2002 apud
MOREIRA; et al., 2012). Em pacientes com doença de Alzheimer, foi observado
melhora cognitiva através da escuta de músicas relacionadas à memória remota dos
pacientes (SARKAMO, TERVANIEMI, LAITINEN et al, 2008 apud MOREIRA; et al.,
2012). Nos pacientes que sofreram episódio recente de acidente vascular cerebral, a
escuta musical pode ajudar na recuperação da função cognitiva e na prevenção do
transtorno de humor (SARKAMO, TERVANIEMI, LAITINEN et al, 2008 apud
MOREIRA; et al., 2012). Esta recuperação da função cognitiva está associada a uma
reconfiguração das redes de neurônios interferindo na memória de longo prazo.
O sistema nervoso central possui uma rede neural com células altamente
especializadas que através de suas sinapses determinam ações motoras e sensórias,
traduzindo-as em comportamento. Na presença de lesões, há um desarranjo desta
rede e o sistema nervoso inicia seus processos de reorganização e regeneração.
(MOREIRA; et al., 2012).

29
A plasticidade neural é a responsável pela grande capacidade adaptativa do
sistema nervoso humano, permitindo-lhe ao longo do desenvolvimento ontogenético,
estruturar-se e modificar-se durante o processo de interação ativa de cada indivíduo
com o mundo que o cerca, em todos os seus aspectos (NETO, 2012 apud MOREIRA;
et al., 2012).
A interação entre o indivíduo e o ambiente diferencia e molda os circuitos
neurais, o que caracteriza a neuroplasticidade e a individualidade neural do
organismo. As alterações ambientais, portanto, interferem direta ou indiretamente nos
aspectos plásticos do sistema nervoso e, consequentemente, na reabilitação do
paciente neurológico (CHAVES, FINKELSZTEJN e STEFANI, 2008 apud MOREIRA;
et al., 2012). O cérebro pode ser “moldado” pela experiência, sendo que as primeiras
experiências podem ter efeitos duradouros na capacidade do sistema nervoso central
de aprender e armazenar informações (PAPALIA e OLDS, 2000 apud MOREIRA; et
al., 2012).
Desta forma, a plasticidade depende da experiência e diz respeito à capacidade
que diferentes tipos de desafios têm de promover mudanças em determinados
circuitos relacionados a mudanças de padrões comportamentais, no sentido do
aprimoramento de conexões neurais, somatossensoriais e motoras específicas. Neste
sentido, a plasticidade está relacionada à aprendizagem. Pode-se dizer que
representa uma potenciação de longo prazo que ocorre a partir da estimulação intensa
de grupos funcionais e morfológicos causando alterações morfológicas nas sinapses,
que vão desde a facilitação transitória até o fortalecimento permanente de vias
sinápticas já existentes. Pode ocorrer a criação de novas sinapses e o recrutamento
de neurônios formando novas conexões. A expansão do mapa funcional resultante da
capacidade de recrutamento neuronal está envolvida com determinada habilidade.
Esse fenômeno ocorre, por exemplo, com instrumentistas profissionais, sendo que o
córtex sensorial do violinista relacionado com as polpas digitais está mais expandido
quando comparada com indivíduos sem treino musical (MÜNTE, ALTENMÜLLER e
JÄNCKE, 2002; RAUSCHECKER, 2001 apud MOREIRA; et al., 2012).
A musicoterapia pode atuar como função compensatória no processo de
reabilitação, isto é, identificando habilidades ou funções preservadas do paciente e
utilizando-as para desenvolver novas habilidades que podem compensar o déficit

30
adquirido. A musicoterapia pode potencializar tratamentos desenvolvidos
conjuntamente, por exemplo, utilizando a música em pacientes com distúrbios de
comunicação e/ou linguagem, através de canções pré-gravadas ou especificamente
compostas para esse fim, no sentido de melhorar a expressão do paciente. A
musicoterapia pode ser usada como estratégia para compensar distúrbios de memória
e também para aprender e reter novas informações. A música facilita a sequência de
movimentos em reabilitação motora, facilitando o engajamento do paciente na
realização de atividades e, consequentemente, potencializando ganhos funcionais.
Um esforço analítico compreensivo realizado por pesquisadores em musicoterapia
levou à criação do termo “musicoterapia neurológica” pela equipe do professor
Michael Thaut nos Estados Unidos. Essa codificação – que se iniciou no final da
década de 1990 – resultou no desenvolvimento sem precedentes de técnicas clínicas
que foram padronizadas em aplicações e terminologias, baseadas em pesquisas
científicas. (MOREIRA; et al., 2012).
A música, baseada nas suas propriedades de estímulos únicos e processos
diferenciais no sistema nervoso central, evoca respostas que podem ser usadas para
modificar o comportamento humano de maneira previsível e terapeuticamente
significativa nas atividades funcionais. Thaut definiu a musicoterapia neurológica
(MTN) como aplicação terapêutica da música para estimular mudanças nas áreas
cognitivas, motoras e de linguagem após doença neurológica (THAUT, 2008 apud
MOREIRA; et al., 2012). A MTN baseia-se em modelo neurocientífico de percepção e
produção musical; na influência da música em regiões não-musicais do cérebro e no
uso da música como tratamento. O modelo atual de MTN criado por Thaut e cols.
busca o efeito terapêutico da música nas funções cerebrais paralelas e
compartilhadas relacionadas à cognição, linguagem, motricidade e emoção. Desta
forma a musicoterapia na reabilitação neurológica pode auxiliar significativamente
capacidades funcionais no processo de recuperação do paciente. (MOREIRA; et al.,
2012).
Segundo MOREIRA; et al., 2012 a musicoterapia neurológica fundamenta-se
em quatro premissas:
 A reabilitação orientada pela neurociência é focalizada no tratamento
baseado em conceitos de estudos clínicos;

31
 O aprendizado e o modelo de treinamento estão direcionados para o
aprendizado motor rítmico; treinamento da estrutura temporal;
organizações de intervenções terapêuticas e recuperação da função
cognitiva, do discurso e da linguagem;
 Nos modelos de plasticidade cerebral, a música é considerada uma
linguagem complexa, ritmicamente organizada e espectralmente diversa
para determinar padrões da cadeia neural através da modulação
temporal da entrada sensória;
 Os modelos de facilitação neurológica e a entrada de energia sensória
padronizada (p.e. padrões musicais e rítmicos auditivos) estimulam a
recuperação do movimento motor, do discurso e das funções cognitivas.

Segundo MOREIRA; et al., 2012 deste modo, a MTN pode ajudar o processo
de reabilitação por:
 Auxiliar na prevenção de complicações, tais como, debilidades
musculares que podem obstruir o processo de recuperação;
 Ensinar estratégias adaptadas para que o paciente aprenda a utilizar a
parte não afetada do corpo;
 Exercitar partes afetadas do sistema nervoso mediante técnicas
específicas de exercícios;
 Assegurar a disponibilidade e o uso correto de ajudas físicas apropriadas
(rampas, elevadores, corrimão, entre outros) no cotidiano do paciente;
 Promover a reabilitação do paciente através de técnicas específicas para
que o movimento se torne possível em membros deficientes.

As aplicações clínicas da musicoterapia neurológica podem ser subdivididas


em três domínios de reabilitação: (a) reabilitação sensório-motora; (b) reabilitação do
discurso e da linguagem e (c) reabilitação cognitiva. Em cada domínio, a MTN pode
ser aplicada no tratamento de pacientes em diferentes campos de atuação da área de
saúde, tais como, reabilitação neurológica de pacientes hospitalizados e domiciliares,
pacientes geriátricos e neuropediátricos. (MOREIRA; et al., 2012).

32
5.1 Reabilitação Cognitiva e Musicoterapia

Fonte: fisioterapia.com.br

O sistema nervoso possui a capacidade de modificar sua estrutura e função em


decorrência dos padrões de experiência, o que é definido como neuroplasticidade ou
plasticidade neural (HAASE, 2004 apud ROSÁRIO; et al., 2016). Pesquisas
demonstram que a ativação cortical durante o processamento auditivo da música
reflete as experiências pessoais acumuladas ao longo do tempo (ANTENMÜLLER,
2001 apud ROSÁRIO; et al., 2016). Técnicas de neuroimagem, que permitem a
documentação de alterações plásticas no cérebro humano relacionadas ao fazer
musical, demonstram que o cérebro, além de processar a música, é modificado por
ela (PASCUAL-LEONE, 2001 apud ROSÁRIO; et al., 2016).
O papel da música na reabilitação cognitiva tem assumido uma posição de
destaque com base nas descobertas recentes da neuromusicologia e cognição
musical. Os resultados obtidos nas investigações destes campos têm contribuído
significativamente para a compreensão das bases neurais que dão suporte à
percepção e cognição musical. De uma perspectiva neurocientífica, a música é
considerada como um dos melhores exercícios cognitivos (HEGDE, 2014 apud
ROSÁRIO; et al., 2016). Os avanços da neurociência na área de cognição musical
indicam a possibilidade de explicações científicas sobre como a música pode

33
estimular as respostas não-musicais observadas em pesquisas clínicas realizadas na
área da musicoterapia (TOMAINO, 2014 apud ROSÁRIO; et al., 2016). A
musicoterapeuta Concetta Tomaino afirma:

O resultado da interação complexa da música com áreas distribuídas pelo


cérebro é que ela tem a habilidade de engajar pacientes com deficiências que
têm dificuldades com funcionamento executivo, superando seus
impedimentos funcionais e psicológicos e efetuando resultados terapêuticos.
(TOMAINO, 2014, p.10 apud ROSÁRIO; et al., 2016).

Concetta Tomaino (2015 apud ROSÁRIO; et al., 2016) ressalta que os campos
da neurociência cognitiva e da percepção da música vêm contribuindo
significativamente para um novo entendimento de como processamos a música e
somos influenciados por ela. Portanto, é importante que o musicoterapeuta mantenha-
se atualizado com a pesquisa científica sobre música e cérebro de forma a utilizar tais
conhecimentos para a validação de práticas padronizadas em musicoterapia. Ao
incorporar a música em um contexto clínico e interpessoal, torna-se necessário
avaliar, além do efeito direto da música nas funções cerebrais, qual o impacto da troca
interpessoal que acompanha a interação musical (TOMAINO, 2015 apud ROSÁRIO;
et al., 2016).
O campo mais recente de investigação da musicoterapia neurológica é a
reabilitação cognitiva. As técnicas de neuroimagem que estudam as funções
cognitivas superiores no cérebro em atividade e os avanços teóricos a respeito de
música e funções cerebrais facilitaram o desenvolvimento desta abordagem.
Mecanismos cognitivos e perceptuais compartilham sistemas neurais que envolvem
cognição musical e funções cognitivas não-musicais paralelas, fornecendo o acesso
da música a funções gerais como memória, atenção e funções executivas (THAUT,
2010 apud ROSÁRIO; et al., 2016).
As técnicas da musicoterapia neurológica na reabilitação cognitiva procuram
estimular habilidades cognitivas como atenção, memória e funções executivas
(THAUT, 2008 apud ROSÁRIO; et al., 2016).

Atenção:
A reabilitação atencional na musicoterapia neurológica baseia-se na
compreensão de que a atenção é uma habilidade fundamental dentre os processos

34
cognitivos. Tal abordagem de reabilitação inclui estudos sobre a neuroanatomia da
atenção (MIRSKY et al., apud THAUT, 2008 apud ROSÁRIO; et al., 2016) e envolve
os modelos de função atencional que dividem a atenção em cinco categorias: foco,
sustentação, seletividade, alternância e divisão (MATEER & SOHLBERG, 1989 apud
ROSÁRIO; et al., 2016). Os diferentes elementos da música podem apresentar-se por
meio de repetição e contraste, possibilitando a utilização do estímulo musical na
reabilitação cognitiva para o desenvolvimento da atenção sustentada, seletiva,
alternada e dividida (DAVIS; GFELLER; THAUT, 2008 apud ROSÁRIO; et al., 2016).
Para Thaut e Gardiner (2014 apud ROSÁRIO; et al., 2016), a atenção é uma
habilidade com potencial de reabilitação bem-sucedida, sendo frequentemente
escolhida por especialistas como o primeiro alvo em programas de reabilitação
cognitiva. Os exercícios de musicoterapia oferecem uma estimulação sensorial
poderosa nos complexos sistemas atencionais do cérebro, auxiliando o processo
reabilitativo. Os preceitos da musicoterapia neurológica consideram o ritmo como
elemento vital no treinamento musical da atenção. Tal abordagem desenvolveu quatro
técnicas com o objetivo específico de treinamento da atenção (THAUT; GARDINER,
2014 apud ROSÁRIO; et al., 2016).
O Treinamento de Orientação Sensorial Musical (Musical Sensory Orientation
Training – MSOT apud ROSÁRIO; et al., 2016) é uma técnica da musicoterapia
neurológica que utiliza música ao vivo ou gravada para estimular e recuperar estados
de alerta e para facilitar respostas significativas. Em estágios mais avançados se
utilizam exercícios musicais simples para aumentar a vigilância e treinar a
manutenção da atenção básica com ênfase na quantidade, mais do que na qualidade,
das respostas. Inclui também estimulação sensorial (THAUT, 2008 apud ROSÁRIO;
et al., 2016).
Através do Treinamento Musical do Controle da Atenção (Musical Attention
Control Training – MACT apud ROSÁRIO; et al., 2016), são aplicados exercícios
musicais estruturados, ativos ou receptivos, envolvendo performances já compostas
ou improvisadas onde os elementos musicais sinalizam diferentes respostas musicais
com o objetivo de desenvolver os mais diversos tipos de atenção (THAUT, 2008 apud
ROSÁRIO; et al., 2016).

35
Memória:
Memória pode ser definida como a capacidade neurocognitiva de decodificar,
armazenar e recuperar uma informação (TULVING, 2000 apud ROSÁRIO; et al.,
2016). Enquanto o aprendizado é o processo de aquisição de informação, a memória
refere-se à persistência do aprendizado em um estado que pode ser evidenciado
posteriormente (SQUIRE, 1987 apud ROSÁRIO; et al., 2016). Sendo assim, a
memória é uma habilidade cognitiva que permite recriar informações mentais com
base em experiências anteriores. A reabilitação cognitiva da memória é indicada
quando há um dano neurológico ou doença que interrompe ou impossibilita a ativação
mnemônica. A música pode assumir um papel especial na reabilitação da memória
(THAUT; GARDINER, 2014 apud ROSÁRIO; et al., 2016).
Pesquisas demonstram que a música pode ser utilizada como um recurso
mnemônico para facilitar o aprendizado e relembrar informação (GFELLER, 1983;
WOLEFE; HOM, 1993; WALLACE, 1994; CLAUSSEN; THAUT, 1997 apud ROSÁRIO;
et al., 2016). A estrutura temporal altamente desenvolvida nestes estímulos (música,
canto, rimas) funcionaria como um modelo métrico que ajuda a organizar informações
em unidades mais gerenciáveis (THAUT, 2010 apud ROSÁRIO; et al., 2016).
A técnica proposta pela musicoterapia neurológica, denominada de
Treinamento Musical Mnemõnico (Musical Mnemonics Training - MMT), utiliza a
música como um recurso para sequenciar e organizar informações adicionando
significado, prazer, emoção e motivação para elevar a capacidade da pessoa de
aprender e recordar a informação envolvida (THAUT; GARDINER, 2014 apud
ROSÁRIO; et al., 2016) Por meio do Treinamento de Memória e Humor Associativo
(Associative Mood and Memory Training - AMMT), são aplicadas técnicas de indução
de humor para: (a) produzir estados de humor condizentes visando a recuperação da
memória, (b) acessar o humor associativo e a memória encadeada direcionando o
acesso para uma memória específica, (c) melhorar funções de memória e
aprendizagem através da indução positiva de estados emocionais no processo de
aprendizagem e recordação (THAUT, 2008 apud ROSÁRIO; et al., 2016).

36
Funções Executivas:
As funções executivas compreendem a capacidade de engajamento em um
comportamento orientado a objetivos específicos através de realização de ações
voluntárias e auto organizadas (CAPOVILLA; ASSEF; COZZA, 2007 apud ROSÁRIO;
et al., 2016). Através das funções executivas o indivíduo se capacita a formular
objetivos; iniciar comportamentos; antecipar a consequências de suas ações; planejar
e organizar o comportamento de acordo com uma sequência lógica, espacial e
temporal; e adaptar seu comportamento de acordo com o contexto (CICERONE et al.,
2000 apud ROSÁRIO; et al., 2016). A música pode oferecer mecanismos terapêuticos
na reabilitação de funções executivas (THAUT; GARDINER, 2014 apud ROSÁRIO; et
al., 2016).
Dentre as diversas populações que podem se beneficiar com a aplicação da
musicoterapia neurológica no treinamento das funções executivas encontramos
portadores de: transtorno de déficit de atenção, lesão cerebral pós-traumática,
acidente vascular cerebral (AVC) e pessoas com transtorno de comportamento.
Também pode ser aplicada às pessoas que apresentaram dificuldades nas funções
executivas após: tumores cerebrais, esclerose múltipla, doença de Parkinson, anoxia,
exposição a toxinas e outras desordens ou acidentes neurológicos. Também pode ser
utilizada para o fortalecimento de habilidades de planejamento, organização e
resolução de problemas em pessoas saudáveis que desejam estimular funções
executivas (THAUT; GARDINER, 2014 apud ROSÁRIO; et al., 2016).
A técnica da musicoterapia neurológica utilizada na reabilitação de funções
executivas é o Treinamento Musical da Função Executiva (Musical Executive Function
Training - MEFT). Inclui improvisação e exercícios de composição apresentados
individualmente ou em grupos para praticar funções executivas em habilidades tais
como organização, resolução de problemas, tomadas de decisões, racionalizações e
entendimentos. O contexto musical promove elementos terapêuticos importantes, tais
como produtos de execução em tempo real, estrutura temporal, processos criativos,
conteúdo afetivo, estrutura sensorial, ou padrões de interações sociais (THAUT, 2008
apud ROSÁRIO; et al., 2016).

37
6 MUSICOTERAPIA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Fonte: gazetadocerrado.com.br

Segundo ALLEY, (1979, p. 118) apud BRUSCIA (2000 apud NICEIAS; et al.,
2011), a musicoterapia nas escolas é a utilização funcional da música para atingir o
progresso dos alunos nas áreas acadêmicas, social, motora ou da linguagem. Ainda
segundo a autora, a musicoterapia para crianças especiais lida com comportamento
inadequado ou incapacidades e funções, como um serviço integrado, um serviço de
apoio que auxilia a criança deficiente a se beneficiar da educação especial, temporal,
motricidade e no aspecto cognitivo.
Para BRUSCIA, (2000 apud NICEIAS; et al., 2011) neste tratamento o
musicoterapeuta utiliza a música para ajudar os estudantes com deficiências a
adquirirem conhecimentos e habilidades não-musicais que são essenciais para sua
educação. A música é utilizada como o mais importante recurso terapêutico, uma vez
que está ligada aos objetivos educacionais, para que através dela, se chegue ao
objetivo final que a melhora do aluno na sua sociabilização e aprendizagem no
contexto educacional. Para BARCELLOS (1992 apud NICEIAS; et al., 2011), na
musicoterapia, existem diversas técnicas terapêuticas como composição,

38
improvisação, recriação, e audição e neste trabalho será enfocado a composição
(BRUSCIA, 2000 apud NICEIAS; et al., 2011).
O musicoterapeuta que atua no ambiente educacional poderá ter por objetivo
estimular o desenvolvimento de habilidades cognitivas, motoras, sociais e emocionais
dos alunos, ampliando suas possibilidades de aprendizado. Nesse sentido, o processo
musicoterapêutico poderá incidir sobre o desenvolvimento individual do aluno com
vistas a também colaborar com os objetivos gerais da escola. (CUNHA; et al., 2008)
Pesquisadores dedicados ao estudo dos efeitos da vivência musical sobre a
criança em idade escolar concordam com a possibilidade de que essas vivências
contribuam com a educação em geral. Ganhos extramusicais como disciplina,
concentração, desenvolvimento das funções cognitivas e criativas, expressão de
sentimentos, desenvolvimento da vida afetiva e social foram apontados por pais e
professores de crianças que participaram de atividades musicais. As experiências
musicais são favoráveis tanto do ponto de vista acadêmico e intelectual, como
também sob a perspectiva de que os aspectos musicais, artísticos e estéticos
inerentes à arte musical aproximam os alunos da produção cultural enriquecendo suas
vidas. (COSTA-GIOMI, 2006; SEKEFF, 2002 apud CUNHA; et al., 2008). Estes
benefícios podem ser considerados tanto no âmbito da escola de ensino regular como
na especial.
No contexto da escola de ensino regular a realidade a ser enfrentada coloca
problemas de outra ordem. São os aspectos da psicomotricidade, de atenção, da
percepção, emocionais e psicolinguísticos que constituem a problemática existente no
cotidiano do ambiente ensino aprendizagem. A criança que apresenta dificuldades no
processo de aprender pode mostrar sinais como a dispersão da atenção, baixo limiar
de concentração na fala do outro, no seu próprio pensamento ou numa tarefa
específica. São lapsos de atenção e de memória que acontecem seguidamente. Esse
comportamento gera problemas no relacionamento social, na organização do
cotidiano, na aprendizagem e execução de cumprimento de metas e prazos (SILVA,
2003 apud CUNHA; et al., 2008).
A musicoterapia se insere neste espaço como uma opção de trabalho com a
arte ao possibilitar que a pessoa interaja com a linguagem musical. No ambiente
musicoterapêutico a música passa a ser catalizadora de outras manifestações

39
criativas como a expressão corporal, a dramatização, a poesia. Nesse sentido, a
musicoterapia pode suprir a atual demanda escolar por um espaço criativo no qual a
pessoa possa perceber-se como um ser social, portador de uma história construída
com os elementos de sua cultura. Acredita-se que ao perceber-se na expressão de
seu repertório de significados e sentidos afetivo-musicais, os alunos possam
apropriar-se de sua realidade passando a agir no meio social de forma mais crítica e
criativa (CUNHA, 2003 apud CUNHA; et al., 2008).
Um diagnóstico comumente encontrado nas escolas nesses períodos é o
Atraso do Desenvolvimento, definido como um grupo de disfunções com distúrbios
essencialmente predominantes na aquisição de habilidades motoras, cognitivas, de
linguagem e amadurecimento psicossocial. Estas disfunções podem se apresentar de
forma conjunta, envolvendo um atraso global, como nos casos de Deficiência Mental,
ou se apresentar com características de atraso em áreas específicas de aquisição de
habilidades, como nos Distúrbios Específicos do Desenvolvimento em aritmética,
escrita, leitura, linguagem e fala que muitas vezes só são identificados e
diagnosticados nos dois primeiros anos do ensino fundamental. Pertencentes a este
grupo encontram-se também os casos de disfunções em áreas múltiplas, onde
existem distorções qualitativas do desenvolvimento normal, como os casos de
Transtorno do Desenvolvimento, como por exemplo, o Autismo. Esses casos
apresentam diferentes graus de desvios na qualidade do desenvolvimento de
interação social, na capacidade imaginativa ou de criatividade, na comunicação verbal
e não verbal, no interesse estereotipado e repetitivo. Ainda pertencente a esse grupo
de Atraso do Desenvolvimento estão os Distúrbios de Comportamento como a
hiperatividade, hipercinesia, ansiedade, agressividade, tiques e gagueira nervosa
(DSM-IV-R, 1994 apud LOUREIRO; et al.; 2005).
O estímulo musical produz reações neuropsicofisiológicas específicas que são
fatores primordiais no processo de aprendizagem que ocorre no período de
desenvolvimento do Sistema Nervoso da criança e que o acompanhará por toda sua
vida. A percepção sonora e a música estão presentes desde o período pré-natal e
passam por constantes transformações através de experiências que são adquiridas
na primeira infância até atingirem a idade escolar (CRITCHLEY e HENSON, 1977;
STANDLEY, 1991; JOURDAIN, 1998 apud LOUREIRO; et al.; 2005).

40
Os aspectos do uso e função da música no desenvolvimento global dessas
crianças fazem parte da literatura histórica da Musicoterapia na Educação Especial
Os estudos realizados com esse objetivo envolvem aspectos específicos nas áreas
da Neurologia e Psicologia por estarem altamente relacionadas com as diferentes
etapas, características e níveis de aquisição de conhecimentos focalizando-se a idade
cronológica e mental das crianças. Citam-se diferentes abordagens precursoras da
psicologia do desenvolvimento da criança entre elas os estudos de Jean-Marc-
Gaspard Itard, Edouard Seguin e Maria Montessori, que resultaram em métodos
educacionais que enfatizavam a necessidade da música para o desenvolvimento
completo das capacidades intelectuais e expressivas da criança que apresentavam
atraso no desenvolvimento (ADAMEK, 1996 apud LOUREIRO; et al.; 2005).
Aspectos originais da teoria de Jean Piaget vem sendo objeto de estudos
realizados por profissionais das áreas da Música, Medicina e Musicoterapia
(GFELLER, 1989 LOUREIRO; et al.; 2005). Várias são as referências quanto aos
componentes do processo biológico do desenvolvimento cognitivo da criança
deficiente, fundamentados na “teoria dos estágios”. Levantam questões sobre “nature”
e “nurture” envolvidas no desenvolvimento de suas habilidades musicais, entre elas
as “capacidades inerentes ou cognitivas”, “fatores do desenvolvimento” e do “meio
ambiente”. As capacidades inerentes (nature) incluem as limitações cognitivas
resultantes de alterações genéticas, tais como na Síndrome de Down, e as adquiridas
na infância resultantes de doenças ou traumas, tais como a Poliomielite ou
Traumatismo Craniano. Componentes do processo de desenvolvimento cognitivo
desta população incluem as aquisições de habilidades musicais que influenciam ou
interagem com a aprendizagem musical, tais como memória, atenção e discriminação,
além de fatores específicos do meio ambiente (nurture), como, por exemplo, a
integração desse aluno nas atividades musicais. Essas crianças passam pelo mesmo
processo de desenvolvimento que as demais crianças e tem necessidades similares
de estimulação, afeição, criatividade e estruturação no processo de aprendizagem
musical.

41
6.1 A musicoterapia e a síndrome de Down

Fonte: movimentodown.org.br

Distúrbio genético causado pela presença de um cromossomo 21, Síndrome


de Down ou Trissomia 21, recebe esse nome em homenagem a John Langdon Down,
médico britânico que descreveu a Síndrome em 1862. Porém, a sua causa genética
foi descoberta em 1958, pelo professor Jérôme Lejune. A Síndrome de Down não é
uma doença, mas sim uma alteração genética. As principais características são:
retardamento mental, baixa estatura, perfil achatado, mãos grossas e curtas, língua
sulcada e protusa para fora da boca. (MENEZES; et al., 2010).
Pelo fato do amadurecimento em seu sistema nervoso central ser constante
Lefèvre (1981, p. 17 apud MENEZES; et al., 2010) relata que:

Esta criança se desenvolverá diariamente e, mesmo que este caminhar seja


bem mais vagaroso, evoluirá patentemente em inteligência e habilidades até
a idade adulta. Apesar de o desenvolvimento lento ser comum em todas as
crianças Down, existem diferenças marcantes entre elas: cada uma terá suas
graças, seu jeito de ser, de brincar, de se comunicar e também o seu tempo
de aprendizado, ficando a nosso encargo perceber a hora e a forma mais
carinhosa de nos aproximarmos dela.

Augusto (2003 apud MENEZES; et al., 2010), afirma em seus relatos, que os
estímulos das funções sensoriais, certamente facilitarão a compreensão pelas
crianças do que ocorre ao seu redor. Sendo assim, a musicoterapia auxilia no
desenvolvimento de estímulos, tais como:

42
 Auditivo - tem o objetivo de fazer a criança virar a cabeça para o lado de
onde vem o som e com a introdução de sons diferentes estaremos
suscitando sua atenção. (MENEZES; et al., 2010)
 Linguístico - tem o objetivo de estimular a fala, lembrando aos pais que
esse processo pode ser lento e não significa que a estimulação esteja
sendo ineficaz, considerando o fato de que cada indivíduo tem seu
desenvolvimento particular. (MENEZES; et al., 2010)
 Motor - tem o objetivo de fazer a criança se movimentar, trabalhar o
corpo sentindo sua postura e equilíbrio, movimentando todos os seus
membros. (MENEZES; et al., 2010)
Sabendo que a musicoterapia atua diretamente no desenvolvimento corporal,
o professor pode se utilizar desse recurso em sala de aula, para assim, atingir com
mais facilidade e eficácia o objetivo da aprendizagem com os alunos portadores da
Síndrome de Down, porque de acordo com Lefèvre (1981, p.96 apud MENEZES; et
al., 2010) “Devemos lembrar que o nosso corpo, nas suas relações com o espaço e
com os objetos vai proporcionar as condições para o aprendizado da leitura e da
escrita”.
As canções infantis, por sua simplicidade, devem ser usadas, em andamento
lento, com as palavras bem articuladas, para que sejam bem compreendidas. Este
tipo de música geralmente atrai as crianças, estimulando a sua atenção e sua
discriminação auditiva. Percebe-se diante do exposto, que a musicoterapia no
trabalho pedagógico com crianças com Down tem uma contribuição muito eficaz para
o desenvolvimento destes alunos. (MENEZES; et al., 2010).

43
6.2 A musicoterapia e as crianças autistas

Fonte: melhorcomsaude.com.br

O autismo é um distúrbio do desenvolvimento humano que se manifesta


durante toda a vida. É definido por um quadro comportamental peculiar, que envolve
sempre as áreas de interação social, da linguagem comunicativa e do comportamento,
em graus variáveis de severidade. O autismo é encontrado em todo o mundo e em
famílias de todas as etnias e classes sociais, sendo mais comum em meninos que em
meninas. As principais características são: dificuldade em estabelecer contato com os
olhos, parece surda, apesar de não ser, age como se não tomasse conhecimento do
que acontece com os outros, cheira, morde ou lambe roupas e brinquedos, por vezes
ataca e fere outras pessoas mesmo não existindo motivo para isso, apresenta certos
gestos repetitivos e imotivados como balançar as mãos ou balançar-se, entre outros.
(MENEZES; et al., 2010).

O autismo infantil suscita um interesse imenso, em boa parte, sem dúvida,


em decorrência da fascinação que inspiram essa doença e seu mistério, e em
grande parte, devido aos importantes movimentos de associação de
familiares. Estes lutam pelos tratamentos que lhes parecem os melhores,
mas, também para mobilizar o poder público de modo que atenuem a
carência, ou mesmo a penúria, de estabelecimentos especializados. (AMY,
2001, p. 26 apud MENEZES; et al., 2010).

44
Essa modalidade de intervenção na musicoterapia se caracteriza por oferecer
ao autista a possibilidade de se comunicar de forma não verbal e assim contribuir para
o desenvolvimento de sua interação social. As técnicas da musicoterapia podem
facilitar o estabelecimento da comunicação com essas crianças por meio das
experiências musicais e do uso dos instrumentos musicais, fato que, em alguns casos,
seria impossível se a música não estivesse presente. (CUNHA; et al., 2015).
Embora as dificuldades em estabelecer trocas sociais compartilhadas sejam
marcantes no convívio com as pessoas com autismo, a literatura consultada indicou
que as relações com sons, timbres e melodias chamam sua atenção, despertam
algum interesse. Isso porque os indivíduos com TEA possuem facilidade para
expressar e compreender a comunicação não verbal por meio da interação com a
música (FIGUEIREDO, 2014; GATTINO, 2012 apud CUNHA; et al., 2015). As
experiências musicais permitem uma participação ativa, uma vez que ouvem, vêem e
tocam, favorecendo o desenvolvimento dos sentidos destas pessoas (PADILHA,
2008; SOUSA, 2010 apud CUNHA; et al., 2015).
Através da música os sujeitos com TEA encontram uma forma para a
expressão e compreensão da comunicação não verbal, tornando a utilização
terapêutica da música para essa população, alvo de estudos no campo da
musicoterapia nas últimas décadas. Atualmente há um reconhecimento da utilização
de técnicas da musicoterapia para restauração ou desenvolvimento de habilidades
sociais, emocionais, cognitivas, motoras e de comunicação para esses indivíduos
(FIGUEIREDO, 2014; GATTINO, 2012 apud CUNHA; et al., 2015).
Ao trabalhar com elementos e padrões sonoros, como timbres diversos, ritmos,
melodias e harmonias, os indivíduos com autismo podem desenvolver a acuidade
auditiva, ao acompanhar gestos ou dançar podem trabalhar a coordenação motora, o
ritmo e a atenção, e ao cantar ou imitar sons são estimulados a experimentar ações
que os aproximam do mundo que os rodeia (BERNARDINO, 2013; PADILHA, 2008
apud CUNHA; et al., 2015). A execução partilhada dos instrumentos musicais e
objetos que produzem som promove a estimulação visual e tátil. Atividades que
também podem possibilitar relações facilitadoras do êxito na terapia (SOUSA, 2010
apud CUNHA; et al., 2015).

45
Segundo SILVA, et al., 2017 alguns comportamentos atípicos, repetitivos e
estereotipados severos, indicam a necessidade de encaminhamento para avaliação
diagnóstica de TEA. De acordo com as Diretrizes de Atenção à Reabilitação da
Pessoa com TEA (Ministério da Saúde), algumas características nas áreas motora,
sensorial, emocional e social, são comuns nas crianças autistas:
 Não estabelece contato com os olhos;
 Às vezes age como se fosse surdo;
 Tem isolamento em graus variados;
 Retardo na aquisição da linguagem, por um déficit na compreensão da
linguagem falada;
 Age como se não tomasse conhecimento do que acontece com os
outros;
 Ataca e fere outras pessoas mesmo que não exista motivos para isso;
 Tem dificuldade de criar vínculos de amizade e cooperação em
brincadeiras de grupo;
 Não utiliza objetos de acordo com sua função;
 Tem resistência a mudança de rotina e de ambiente;
 Tem rotinas e estereotipias (mãos, balanceio do corpo) e às vezes,
automutilação;
 Tendência a tocar, cheirar e lamber pessoas e objetos;
 São raras as brincadeiras de faz de conta;
 A imitação é prejudicada;
 Tem atenção excessiva em detalhes;
 Ecolalia imediata ou tardia;
 Distração;
 Pensamento concreto e literal;
 Hiperatividade; passividade;
 Pode estudar um tema único até saber tudo a respeito, falando
incessantemente sobre o assunto;
 Podem ter deficiência intelectual associada;
 Podem ser super ou sub-responsivos aos estímulos sensoriais;

46
 Alguns têm boa coordenação motora, enquanto outros, têm déficits
motores variados;
 Muitos têm resposta alterada à dor, podendo ferir-se gravemente sem
chorar;
 Podem apresentar distúrbios do sono e epilepsia;
 Muitos são alegres, outros, porém, irritadiços, demonstram
descontentamento crônico, outros agressivos podendo bater sem
provocação.
A música tem um impacto positivo, mas o uso da música deve respeitar as
diferentes necessidades de cada um, e os objetivos do uso da música devem ser
estritamente estabelecidos e observados. Dependendo do grau de autismo, a criança
pode gostar ou não de música e pode ou não suportar certos sons. Em alguns casos
os autistas são muito sensíveis a certos sons; mesmo que não entendam os efeitos
do som, seu corpo aumentará sua adrenalina e aumentará seu ritmo. E sofrendo de
perda de pressão arterial, levando a crises comportamentais.
A maioria das crianças com autismo responderá positivamente à música,
porque o ritmo tende a favorecer a disciplina e a coordenação, que muitas vezes estão
ausentes: a melodia leva à expressão emocional, que é tanto para ela quanto para os
profissionais que trabalham com ela muito importante; a harmonia estimula a ordem e
a lógica do pensamento, equilibrando assim suas funções psíquica.
A música ainda aumenta o poder de atenção, o que nessa criança não é tão
fácil conseguir, ela satisfaz algumas necessidades inconfessas, permitindo que este
indivíduo às vezes consiga se envolver entre a fantasia e a realidade através de
experiências musicais. Ela estimula a criatividade, integra experiências que levarão
esta criança a um armazenamento de material em seu consciente. Seus benefícios
fisiológicos e psicológicos são muitos; ao ter a possibilidade de fazer música, escutar,
cantar, vivenciá-la, esta criança poderá mudar seus pensamentos, alterando suas
emoções, trazendo uma maior harmonia entre a saúde física e mental. (SILVA, et al.,
2017).
A aula de música precisa ter uma rotina estabelecida para todos, uma estrutura
fixa, começo, meio e fim, seguindo os objetivos, mas variando conforme necessidades
pessoais que venham surgir. É preciso observar aspectos psicomotores antes de se

47
programar as atividades musicais (lateralidade, esquema corporal, organização
espacial...). Utilizar vários recursos, materiais concretos, figuras, imagens para facilitar
a aprendizagem desta criança que, muitas vezes, não é verbal. (SILVA, et al., 2017).
Os exercícios musicais estimulam o potencial do cérebro, levando-o a maior
eficiência e, alimentando a memória. A música é sem dúvida, um poderoso auxiliar no
desenvolvimento pessoal e da saúde do indivíduo. Com base em experiências vividas
no dia a dia com pessoas com TEA, percebe-se que a música pode transformá-los de
alguma maneira, cada um de seu jeito respeitando seu grau de compreensão. (SILVA,
et al., 2017).

48
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