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BAURU
2020
CASSIANO LIMA DA SILVEIRA SANTOS
BAURU
2020
Aos meus pais, João Batista e Maria Emília.
AGRADECIMENTOS
À professora Maristela de Oliveira Mosca, por aceitar compartilhar seu vasto repertório sobre
Educação Musical e Orff-Schulwerk, com valiosos ensinamentos e orientações.
Aos colegas Marcos Henrique e Karina Torquato, por serem partes importantes desta Pós-
Graduação.
Aos meus pais, João Batista e Maria Emília, e ao meu irmão, Breno, pelo incentivo, suporte e
amor constante.
A toda minha família dos “núcleos” de Barretos e Pedregulho, pelo incentivo, amor e carinho
de uma vida inteira.
Aos professores, amigos e colegas da vida, que tanto me ensinam e incentivam a desenvolver
os mais diversos projetos.
SANTOS, C. L. S. Música e movimento na Educação Infantil: diálogos possíveis e
conexões entre a Base Nacional Comum Curricular e práticas pedagógicas com crianças de 5
anos a partir da perspectiva da abordagem Orff-Schulwerk. 2020. 148f. Dissertação (Mestre
em Educação: Docência para a Educação Básica) – UNESP, Faculdade de Ciências, Bauru,
09 dez. 2020.
RESUMO
With the promulgation of the Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017),
preschools started to adjust their programs in compliance with the document’s structuring
axes, the right to learn, and the curricular organization as proposed by the Experience Fields
(Campos de Experiências) as well as the Learning and Developmental Objectives (Objetivos
de Aprendizagem e Desenvolvimento). Through the light shed by post-redemocratization
curricular references, the BNCC surfaces an arrangement of everyday childhood experiences
that converge with the inventive, interactive and collective approaches of music teaching and
learning. In compliance to these guidelines and conceptions, this research was developed with
the objective of following, describing and pondering over the practices of Music Education
through the Orff-Schulwerk approach, in a field study with 24 students from a private school
in the city of Campinas, São Paulo. This work tries to record and understand the relevance of
two pedagogical practices in the advancement of the Learning and Developmental Objectives
of the “Music” subject program and of the Experience Fields, as sought by the BNCC. The
scope of the study was delimited by the use of the practical and theoretical approach of the
Orff-Schulwerk, and by analyzing the results through the description of interactions with the
children. Drawing from the categorization of the Learning and Developmental Objectives of
the subject’s program, benchmarks were developed as an evaluative reference in the cross-
linking with the collected field data, which once identified, resulted in dialogs, inferences,
causalities and connections between the BNCC and practices in music teaching and learning.
Consequently, it was possible to verify that the curricular arrangements that highlighted
experiences based on interaction, body expression, self-learning and cultural repertoire find in
the Orff-Schulwerk approach more holistic possibilities of development that merge with the
characteristics of the children and their flow towards Music and movement.
INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 13
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 141
APÊNDICES........................................................................................................................... 146
13
INTRODUÇÃO
1
MARQUES, 2018, p. 34.
14
abordagem Orff-Schulwerk e suas implicações para o ensino da música neste contexto e (3)
medir e dialogar acerca da relevância de aspectos da abordagem Orff-Schulwerk por meio de
práticas pedagógicas desenvolvidas ao longo da pesquisa, relacionando-os com os Campos de
Experiências e Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento.
Para tais fins, organizei esta dissertação em quatro partes:
CAPÍTULO I – MÚSICA E EDUCAÇÃO INFANTIL: APRESENTAÇÃO E
DESCRIÇÃO DO PROGRAMA DA DISCIPLINA A PARTIR DO REFERENCIAL DA
BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR, no qual contextualizo as perspectivas da
Música e Movimento nos documentos normativos da Educação Infantil brasileira,
relacionando-as com o programa da disciplina “Música”, substanciado a partir dos Objetivos
de Aprendizagem e Desenvolvimento e os Campos de Experiências da Base Nacional Comum
Curricular.
CAPÍTULO II – A ABORDAGEM ORFF-SCHULWERK: DESCRIÇÕES,
REFLEXÕES E IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO DA MÚSICA E MOVIMENTO, que
apresento o arcabouço prático-teórico desta proposta educacional, fundamentando as práticas
pedagógicas a partir dos processos relacionados à rítmica, linguagem, expressão corporal,
expressão vocal, criação, brincadeira e interação. Para a construção deste referencial, utilizei
publicações de artigos e livros que tratam especificamente sobre a abordagem Orff-Schulwerk,
além da pesquisa e busca nas bases de dados CAPES e SciELO utilizando as palavras-chave:
Educação Musical. Desenvolvimento Infantil. Ludicidade. Música. Movimento. Jogo.
Brincadeira.
CAPÍTULO III – TRABALHO DE CAMPO: METODOLOGIA, DESCRIÇÕES,
DIÁLOGOS E REFLEXÕES A PARTIR DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICO-MUSICAIS
COM CRIANÇAS DE 5 ANOS, nessa parte apresento os métodos de pesquisa e análise das
interações com os alunos. A partir da categorização dos Objetivos de Aprendizagem e
Desenvolvimento do programa da disciplina, desenvolvi indicadores como referenciais
avaliativos no cruzamento com os dados coletados em campo, que uma vez identificados,
resultaram em diálogos, inferências, causalidades e conexões entre a BNCC e as práticas
pedagógico-musicais sob perspectiva da abordagem Orff-Schulwerk.
CONSIDERAÇÕES FINAIS, aqui retomo as principais concepções apresentadas no
trabalho, destacando, a partir da análise dos registros, que os arranjos curriculares que
destacam experiências baseadas na interação, expressão corporal, autoformação e repertório
cultural, encontraram na abordagem Orff-Schulwerk possibilidades holísticas de
16
A trajetória das mudanças nas concepções de infância e criança passou por diversas
fases até que a sociedade compreendesse de maneira efetiva suas características particulares,
dando lugar a um sentimento de atenção às necessidades individuais nos âmbitos físico,
afetivo e emocional (NOGUEIRA, 2012). A infância tal como conhecemos hoje foi uma
invenção do período Moderno, com inúmeros fatores preponderantes para a formação desse
sentimento, dentre eles: o processo de escolarização, a fabricação de brinquedos específicos
para as faixas-etárias e o crescimento do sentimento de família. Desde então, essas
18
educacional básico da criança, mas seu valor, dentre outros, é atribuído à vivência tão natural
que lhe é intrínseca. A distância de certa objetividade, a transgressão das ideais lógicas, o
jogo, a brincadeira e competição, imprimem a ela um caráter lúdico inerente (HUIZINGA,
2018).
A musicalização, termo referente aos processos de educação em Música, caracteriza-se
pelo desenvolvimento de instrumentos de percepção e sensibilização significativa dessa
linguagem artística (PENNA, 2012). Desta forma, não é um fenômeno exclusivo da Educação
Básica, mas quando inserida neste contexto pode representar: “[...] um processo educacional
orientado que se destina a todos que, na situação escolar, necessitam desenvolver ou
aprimorar seus esquemas de apreensão da linguagem musical” (PENNA, 2012, p. 44).
A Educação Musical assumiu diferentes papeis durante a história da sociedade
ocidental, seja na Educação Básica, no conservatório, na rua ou espaço público, sofrendo
constantes modificações culturais e de aproximação. Sua relevância, hoje em dia, se perpetua
por meio da exaltação das tradições culturais e pela promoção de possibilidades expressivas e
interativas da vivência musical (FONTERRADA, 2008). Assim, educadores de diferentes
partes do mundo vêm se dedicando ao desenvolvimento de abordagens que propiciam uma
formação mais holística aos seus educandos.
Porcher (1982) diz que a concepção e utilização destas abordagens implicam em certo
número de princípios em comum, com a constante solicitação da criação e improvisação por
parte da criança, e a concepção “aberta” da música como função gestual e corporal. Teriam
como metodologia um ensino que promove a expressão livre, o jogo, a espontaneidade “sob
forma lúdica-expressiva-criativa, de modo livre, num clima que proporcione a inspiração,
motive a expressão dos sentimentos e estimule a criatividade” (READ apud SOUSA, 2003, p.
24).
São sob essas perspectivas que oriento o desenvolvimento desta investigação e de
minha prática pedagógica: a Música e a criança em caráter intrínseco-natural, e a Educação
Musical no Ensino Básico como possível provedora de esquemas de apreensão e
desenvolvimento da linguagem musical por meio da criação, movimento e brincadeira. Dessa
forma, no âmbito da Educação Infantil, indago como Aristóteles: “não contribuirá ela [a
Música] para a recreação mental e para a aquisição de conhecimentos?” (1399 apud
HUIZINGA, 2018, p. 180).
Este documento apresenta, dentre alguns de seus objetivos gerais, critérios relativos ao
funcionamento e organização das creches, com foco nas práticas concretas adotadas no
trabalho direto com as crianças (BRASIL, 1995). Apesar de não lidar especificamente com a
Música, considero que há muitos elementos que fazem parte do âmbito de uma Educação
Musical holística, na qual a criança tem assegurada o direito à brincadeira, interação e
expressão, como exemplificado nas sentenças abaixo:
[...] apontar metas de qualidade que contribuam para que as crianças tenham um
desenvolvimento integral de suas identidades, capazes de crescerem como cidadãos
cujos direitos à infância são reconhecidos. Visa, também, contribuir para que possa
realizar, nas instituições, o objetivo socializador dessa etapa educacional, em
ambientes que propiciem o acesso e a ampliação, pelas crianças, dos conhecimentos
da realidade social e cultural. (BRASIL, 1998, p. 5).
O RCNEI (BRASIL, 1998) é organizado em três volumes, dentre eles aquele dedicado
ao âmbito de experiência “Conhecimento de Mundo”. Nesta parte apresentam-se eixos de
trabalhos orientados para o estímulo, construção e desenvolvimento das diferentes linguagens
da criança, dentre elas a Música e o Movimento.
No campo “Movimento” para crianças de quatro a seis anos, o documento apresenta
pontos como: “Utilização expressiva intencional do movimento nas situações cotidianas em
suas brincadeiras [e] [...] Percepção de estruturas rítmicas para expressar-se corporalmente
por meio da dança, brincadeiras e de outros movimentos” (BRASIL, 1998, p. 32). Além do
estabelecimento de parâmetros gerais, apresentam-se orientações didáticas para a proposição
de jogos e brincadeiras nas quais a criança irá imitar, se espelhar, observar o próprio corpo,
reconhecer corpos ao seu redor, reconhecer e criar com partes do corpo e explorar o ambiente
(BRASIL, 1998).
No campo “Música”, o documento entende que a promoção desta vivência artística no
contexto da Educação Infantil deve-se:
22
As Orientações Didáticas para a linguagem musical são norteadas pelo aspecto prático,
com enfoque na mediação de atividades com caráter significativo para a criança. Sob o nome
de “Atividades Permanentes”, o Referencial destaca os processos pedagógico-musicais a
partir do jogo e da brincadeira:
[...] os jogos com movimento são fonte de prazer, alegria e possibilidade efetiva para
o desenvolvimento motor e rítmico, sintonizados com a música, uma vez que o
modo de expressão característico dessa faixa etária integra gesto, som e movimento.
Aos poucos ocorre um maior domínio com relação à entoação melódica. [...] A
criança memoriza um repertório maior de canções e conta, consequentemente, com
um “arquivo” de informações referentes a desenhos melódicos e rítmicos que utiliza
com frequência nas canções que inventa (BRASIL, 1998, p. 52).
Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que
vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,
aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza
e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2010, p. 12).
O currículo é:
Conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças
com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental,
científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de
crianças de 0 a 5 anos de idade (BRASIL, 2010, p. 12).
A proposta pedagógica é:
[...] o plano orientador das ações da instituição e define as metas que se pretende
para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças que nela são educados e
cuidados. É elaborado num processo coletivo, com a participação da direção, dos
professores e da comunidade escolar (BRASIL, 2010, p. 13)
A partir dos marcos legais e referências estruturais da BNCC, apresento nos próximos
tópicos o delineamento do programa da disciplina “Música” da instituição de ensino onde esta
investigação foi realizada.
25
O que é a Schulwerk e qual seu objetivo podem ser esclarecidos da maneira mais
eficaz: seguindo seu processo de nascimento [...] a Schulwerk surge a partir de ideias
que estavam no ar naquela época, e que encontraram no meu trabalho, uma terra
adequada (ORFF, 1963 apud REGNER, 2011, p. 64, tradução própria2).
2
Que és el Schulwerk y cuál es su objetivo quizá pueda ser aclarado del modo más efectivo siguiendo el
processo de su nacimiento [...] el Schulwerk surgió a partir de ideas que estaban en el aire en esa época y que
encontraron en mi trabajo uma tierra adecuada para ellas.
35
3
Pedagogias musicais desenvolvidas por Émile Jacques-Dalcroze, Zoltán Kodaly, Edgar Willems e Shinichi
Suzuki.
4
The place where it can be most effective and where there is possibility of continuos and progressive work, and
where the connections with other subjects can be explored and developed.
5
“It’s a holistic music education... it’s a way to learn music by singing, dancing, playing special instruments and
improvising”
6
“[it] can be described as a model for the design of learning experiences; its main thrust is musical learning, but
it has strong implications for cultural and social learning as well”
36
A arte de Mary Wigman foi muito significativa para mim e meu trabalho posterior.
Todas suas danças eram recheadas de uma musicalidade sem precedentes, inclusive
as “danças sem música”. Ela fez música com o seu corpo e a corporalizou. Eu senti
algo elementar em sua dança, e eu também estava buscando o elementar na Música
[...] hoje, o talentoso trabalho de Mary Wigman já faz parte da história (ORFF,
1978, p. 8-9, tradução própria7).
7
The art of Mary Wigman was very significant for me and my later work. All her dances were animated by na
unprecedented musicality, even the “musicless” witches’ dance. She could make music with body and transform
music into corporeality. I felt that her dancing was elemental. I, too, was searching for the elemental, for
elemental music [...] today Mary Wigman’s work is already history.
38
7, tradução própria8): “[Ele] libertou a dança de sua relação quase que escrava da música, e
restaurou sua independência e beleza de linguagem absoluta”. A influência de Laban mostra-
se presente por meio de suas sistematizações e práticas de composição por meio da
organicidade do movimento.
Dorothee Günther (1896-1975), arte-educadora alemã e idealizadora da
GüntherSchule, inclinou-se para a construção de uma escola que oferecesse diferentes
propostas em Educação Física Moderna. Foi a responsável por inserir Carl Orff no universo
das práticas docentes em Dança Rítmica, resultando no início do desenvolvimento de sua
maneira elementar de ensinar Música. A Güntherschule foi fundada em setembro de 1924, na
cidade de Munique (Alemanha), com um corpo discente de 17 alunas entre as idades de 18 e
22 anos (ORFF, 1978).
As práticas exploratórias, criativas e fruitivas de Carl Orff desenvolveram-se por meio
de dinâmicas corporais baseadas na ancestralidade, instrumentação primitiva e promoção de
efeitos estimulantes para atividades rítmicas. Podem-se elencar o uso de chocalhos e soalhas
amarradas aos pés das alunas, as transposições das nuances da palavra para elementos da
percussão corporal e as diferentes práticas improvisatórias por meio do movimento e
regência/condução dinâmica (ORFF, 1978).
A partir de 1925, duas alunas ajudaram a estabelecer novos padrões e perfis para os
trabalhos com Música e Movimento. Maja Lex (1906-1986) e Gunild Keetman (1904-1990)
tornaram-se colegas e auxiliaram Carl Orff no aprimoramento de suas propostas educacionais
por meio da fundação da Güntherschule Dance Group e do desenvolvimento de arranjos e
técnicas de execução para os recentes instrumentos de barras (xilofones Orff). Segundo Orff
(1978, p. 67, tradução própria): “[...] sem a contribuição decisiva de Keetman por meio de seu
duplo talento, a Schulwerk poderia ter vindo a nunca existir”.9
Após vinte anos de atividades ininterruptas, a Güntherschule passou a sofrer as
consequências e desdobramentos da política Nazista e da Segunda Guerra Mundial. Suas
atividades foram classificadas como “indesejáveis”, resultando em seu fechamento e posterior
bombardeamento entre os anos de 1944/45. Com isso, perdeu-se um rico inventário de
arquivos, documentos, equipamentos e materiais dedicados à Educação Musical (ORFF,
1978).
8
[…] liberated dance from its slave-like association with music, and reinstated its independence and beauty of an
absolute language.
9
[…] without Keetman’s decisive contribution through her double talent, “Schulwerk” could never have come
into being.
39
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, Carl Orff é convidado pela Rádio Bávara de
Munique a compor uma série de programas artísticos destinados ao público infantil. Apesar
de distante dos trabalhos educacionais desde o fechamento da Güntherschule, Orff sentiu-se
interessado por uma nova perspectiva pedagógica:
Eu tive muitos anos de experiência com a Schulwerk, no entanto, havia sido com
jovens e adultos, e fazia parte de suas formações profissionais que aspiravam
diferentes objetivos educacionais e artísticos. O que estava sendo oferecido agora
era algo totalmente diferente. Uma música exclusivamente para crianças, que
pudesse ser tocada, cantada e dançada por eles, mas que poderia, de um jeito similar,
ser inventada por ele – um mundo infantil próprio. (ORFF, 1978, p. 212, tradução
própria10).
10
If I had already had many years experience with Schulwerk if had nevertheless been with Young people and
adults, and it had formed part of their professional training that aspired to different educational and artistic aims.
What I was now being offered was something completely different. A music exclusively for children that could
be played, sung and danced by them but that could also in a similar way be invented by them – a world of their
own.
40
genérico. Cada vez mais países do Leste Europeu, Ásia e América Latina se
interessam pelas ideias filosóficas e pedagógicas de Orff e Keetman (HARTMANN
2009 apud CUNHA; CARVALHO; MASCHAT, 2015, p. 32).
Em 2004, foi fundada a Associação Orff Brasil (ABRAORFF): “uma entidade sem
fins lucrativos que tem como objetivo divulgar as ideias pedagógicas desenvolvidas pelo
compositor alemão Carl Orff em todo o Brasil” (ABRAORFF, 2006, p. 1). Criada sob
orientação da Fundação Carl Orff de Munique, seus objetivos são de difundir as ideias
pedagógicas de Carl Orff e Gunild Keetman: “capacitando educadores e professores de
música da rede de ensino infantil, fundamental e médio, arte-educadores, musicoterapeutas,
professores de educação física e de escolas de dança, regentes de coro, compositores e
estudantes de música” (ABRAORFF, 2006, p. 1).
Foi inicialmente instituída em São Paulo, por iniciativa de Verena Maschat, membro
do Orff-Institut; Dom Gabriel Iróffy, reitor emérito do Colégio Santo Américo; Elisabeth
Peissner Sertorio, coordenadora do Departamento de Música do Colégio Santo Américo e
Mayumi Takai, professora de Música.
Durante os últimos anos, a ABRAORFF vem promovendo workshops e encontros em
seus diferentes polos regionais, com o intuito de intercambiar estudos e ideias sobre a
abordagem Orff-Schulwerk. Desde então, muitos educadores ministraram aulas em cursos
internacionais realizados bienalmente, como: Verena Maschat, Helder Parente, Sofia López-
Ibor, Doug Goodkin, Estevão Marques, Fernando Barba, Lucilene Silva, James Harding,
Christa Coogan, dentre outros. A Associação também é responsável pela promoção e
organização de simpósios internacionais Orff-Schulwerk, que até 2020, contavam com três
edições realizadas no Brasil.
Este tópico apresenta uma revisão reflexiva sobre os processos da abordagem Orff-
Schulwerk, considerando que esta proposta educacional não constitui um método, mas uma
sistematização de propostas metodológicas a partir de possibilidades holísticas na vivência
musical. Por meio deste referencial, pretendo evidenciar e descrever algumas possibilidades
nas relações da criança com a Música, o movimento, a criação e a interação.
Os processos em Orff-Schulwerk referem-se a diferentes cenários na facilitação,
desenvolvimento e desdobramento para atingir os mais variados objetivos elencados pelo
grupo. Minha tarefa em sala de aula consiste em mediar algumas destas possíveis sequências
de eventos com certo de grau de autoconfiança, conhecimento, imprevisibilidade e liberdade,
abordando-as com atitudes positivas e ativas (SHAMROCK, 1990; SOUSA, 2003).
Estas possibilidades e entendimentos acerca dos processos de ensino/aprendizagem
perpassam pelos elementos da abordagem Orff-Schulwerk e caminham entrelaçados às
42
11
Diretrizes para um processo de aula eficaz (tradução propria).
12
The imitative aspect of expressiveness may begin as personal express but is soon swept u pinto Community of
musical commonplaces; shaped phrases and received melodies, steady pulse and metric rhythm patterns,
syncopations and repeated tonal formulas [...] we can explore the qualities of sound quite easily alone but if we
want to play with others, then the manipulative ability to repeat, to control, to synchronize, to modify, and to
balance becomes prime. Expressiveness can only be shared with others through a system of mutually held
conventions.
43
13
A partir de la riqueza de experiencia dominada, de sua competencia de movimento y sus habilidades
disponibles, el organismo está preparado para resolver por su propia fuerza las situaciones que la vida le plantea.
45
14
Before work with any other instrument, one should learn to play the body. It’s an instrument everyone has
acess to, and it offers innumerous resources for the teacher to stimulate any number of aspects fundamental to
musical education [...] the musical experience needs to be linked to the body.
46
A criança não pode deixar de criar, de brincar, de ser natural em suas brincadeiras,
pois, se isso acontecer, perde o sentido a educação [...] Precisamos vincular nossos
objetivos às atividades às quais nos propusermos, para que, por meio dos jogos e das
brincadeiras, possamos atingir os objetivos propostos e, então, desenvolver todos os
aspectos necessários (MARANHÃO, 2015, p. 88).
[...] mesmo elementos sutis podem ser apreendidos por crianças pequenas, desde que
inseridos em discursos musicais que sejam significativos para elas [...] As crianças
criaram um vínculo positivo com a peça musical [e] ela passou a fazer parte de suas
experiências de uma maneira “natural”, sem qualquer tipo de imposição [...]
Entendemos que os processos de apropriação da linguagem musical passam
necessariamente pela possibilidade de expressão individual da criança em diversas
linguagens, não apenas na música. Conforme já dito, a conexão com a experiência
vivida parece ser a porta de entrada para qualquer sistema simbólico.
(SCHROEDER, S.; SCHROEDER, J., 2011, p. 111).
15
Conceptual understanding always grows from an experimental base-first doing, then naming, then
conceptualization of underlying principles. Musical concepts serve to clarify, reinforce, deepen and extend
musical experience.
48
16
Each activity or concept is broken down to its most basic parts. When one step is successfully mastered, the
next is introduced. Each activity is complete in itself but is also preparation for the next level of difficulty. The
The emphasis is on an immediately satisfying and successful experience that encourages further exploration.
49
Perigo de imitação superficial, sem experiências e Processo de experiência tem importância elevada.
impressões pessoais, dando importância à conquista e
execução de movimentos específicos.
O produto deve ser um material objetivo para a prática O produto e material dependem das crianças
do movimento, com constantes direcionamentos e envolvidas, englobando o tema do movimento,
correções por parte do professor. soluções individuais e tarefas autosselecionadas.
17
[…] moves beyond motoric function to become personal expression. […] it engages the body, the mind and
the spirit, offers children many ways to learn about themselves.
50
Normalmente atividades para os “mais aptos” são A possibilidade de tarefas individuais faz com que
mais simples, e para os “menos aptos”, mais difíceis cada pessoa se aprofunde em suas necessidades.
O professor é protagonista por meio do controle e A criança é protagonista. O professor assume o papel
avaliação crítica. de mediação.
Por meio da busca e pesquisa das nuances de sua língua materna, Carl Orff passou a
reconhecer a força rítmica e elementar da linguagem e seu papel imprescindível e natural na
aproximação da criança com a Música. Bona (2011) destaca que a obra composicional de Orff
foi desenhada a partir de uma concepção artística na qual a Música deixa de ser o elemento
mais importante e fica a serviço da cena e da palavra:
A partir da conexão inata entre ritmo e linguagem, Orff e Keetman constituíram bases
e princípios da abordagem Orff-Schulwerk compreendendo que: “a linguagem das palavras
poderia ser uma ferramenta útil na construção de uma linguagem significativa de ritmos e
53
sons, e essa linguagem poderia se tornar uma música inteiramente separada de seu sentido”
(GOODKIN, 2013, p. 19, tradução própria18).
As rimas e outros tipos de textos são importantes fontes e recursos para explorações e
criações com Música e Movimento, possibilitando a vivência e experimentação por meio de
diferentes tempos, métricas, rítmicas, dinâmicas, estruturas e formas (LÓPEZ-ÍBOR, 2005).
Os elementos da linguagem provêm combinações rítmicas, texturas sobrepostas, timbres,
nuances e caminha para uma aproximação natural da criança com a audição e prática
polifônica:
18
Orff understood that the language of words could be a useful tool in constructing a meaningful language of
tones and rhythms and that language could be a music in itself entirely separate from its sense.
54
Elencado como base dos elementos musicais, o ritmo possui um caráter unificador das
artes da Dança e Poesia, sendo vivenciado por meio da fala, do movimento, do corpo, do som
e da percussão. A aproximação e desenvolvimento dos elementos rítmicos são inerentes à
cultura tradicional da infância e suas brincadeiras, interações, jogos, textos, gestos e
movimentos, e é dessa forma intrínseca que a criança desenvolve e percebe o “pulso” e suas
subdivisões (ORFF, 1978).
O pulso é um fenômeno perceptível a partir de fortes pressões que imprimem uma
sensação de regularidade na qual os elementos da fala, movimento e Música se alicerçam.
Esse processo e espaço de tempo contínuo é subdividido matematicamente de diferentes
formas, implicando em uma organização de ocorrências percebidas como “ritmos”
(WARNER, 1991).
Esses dois fenômenos são explorados por meio do movimento e sua relação inerente
entre tempo-espaço, e por meio dos textos e palavras do cotidiano infantil, agrupados e
representados de diferentes maneiras nas brincadeiras, canções, peças instrumentais,
improvisações e criações.
O material poético e linguístico da infância nos oferece as mais distintas células
rítmicas, normalmente apresentadas em discursos musicais em métricas de 2 e 3 pulsos (e
seus respectivos agrupamentos ou variações). Dessa forma, a criança passa por um processo
natural de desenvolvimento da percepção e senso rítmico, criando acompanhamentos,
ostinatos, arranjos e sobreposições por meio da brincadeira, dramatização, movimentação,
fala e voz (KEETMAN, 1974).
Já a corporificação dos elementos rítmicos pode se dar por meio daquilo que
conhecemos como “gestos sonoros” ou percussão corporal, descritos desde as primeiras
práticas elementares na Güntherschule: “Começamos com palmas, estalando e batendo os pés
em formas e combinações que variavam de simples a difíceis, e que podiam ser integradas de
55
PULSO
Gestos sonoros
Pequena percussão
Palavra
Movimento com e sem locomoção
19
We began with hand-clapping, finger-snapping and stamping in forms and combinations that ranged from
simple to difficult and that could be integrated in many different ways into the movement lessons
20
For my idea of developing an elemental music style the percussion instruments, whose origins stretch back to
earliest antiquity, had the most decisive significance. They appeared here not accidentally but fundamentally,
shaping form and tone color, developing a life of their own
56
LINGUAGEM RITMO
[...] para o impulso vocal em si, não interessa absolutamente a predefinição de sons
fixos; essa expansão do ser vocal não implica sons fixos, nem graus escalares nem
intervalos determinados, não existe de forma alguma o preconceito de afinação ou
desafinação – tudo é Som (LACHMANN apud ANDRADE, 1980, p. 20).
nuances da fala, parte para as primeiras ações de discriminação de sons, e então definem-se os
intervalos melódicos (WARNER, 1991).
O desenvolvimento do senso e percepção melódica, assim como em outros aspectos da
abordagem da Orff-Schulwerk, parte de um processo irrestrito e sem progressividade,
considerando as características ativas, criativas, reflexivas e participativas da aula, aliadas à
expressão vocal da criança e ao material proveniente das canções e brincadeiras tradicionais
da cultura infantil.
CANTO
Fala ritmada: nuances
Altura: percepção do
grave/agudo
Definição e percepção de
alturas (notas)
21
O cantar de escalas, intervalos e exercícios melódicos (GOODKIN, 2013).
58
segundo Warner (1991, p. 77), normalmente são reconhecidos como sons mais “suaves” (o
grave) e sons mais “intensos” (o agudo).
Uma vez percebidas alturas diferentes, o processo natural no desenvolvimento da
percepção melódica parte para a introdução de intervalos específicos. Este intervalo, na
abordagem Orff-Schulwerk, é o de terça menor descendente, explorado e expressado a partir
de textos tradicionais da cultura, brincadeiras e oralidade.
Ele é característico e proveniente da escala pentatônica22, material modal bastante
utilizado em práticas pedagógicas a partir da perspectiva da abordagem Orff-Schulwerk. Carl
Orff e Gunild Keetman perceberam uma aproximação natural, expressiva, criativa e
exploratória da criança com este material escalar que se abstém de intervalos de semitom:
Carl Orff acreditava em criar uma educação centrada na criança. Ele observou o que
é natural e confortável para crianças pequenas e passou a trabalhar com este ponto
de vista. A exploração melódica inicial com dois sons familiares à criança reforça
essa ideia. Segundo ponto: o canto reduzido em dois sons permite a criança em focar
na diferenciação de sons, de forma reduzida e afastada de melodias elaboradas [...]
finalmente, limitar o canto em dois sons facilita a introdução à notação melódica
(GOODKIN, 2013, p. 142, tradução própria23).
Figura 5 - Você não é de nada, só come marmelada – entoação tradicional da infância brasileira
22
Escala musical com cinco notas que se abstém de intervalos de semitom.
23
Carl Orff believed in creating a child-centered education. He observed what is natural and comfortable for
Young children and proceeded from that vantage point. Beginning melodic exploration with two tones familiar
to the children is an affirmation of this idea. Secondly, singing with two pitches allows the child to focus on
pitch-matching separate from the demands of elaborate melodic shape [...] Finally, limiting the pitches allows for
an easy entry into melodic notation.
24
Considerando a escala pentatônica no modo de Dó.
59
A expressão natural da criança por meio do canto e da voz deve englobar o repertório
tradicional da realidade cultural na qual ela está inserida. Para esse contexto educacional,
considero os elementos da música tradicional da infância brasileira, gênero cancioneiro que
imprime a realidade infantil a partir das dramatizações, brincadeiras e danças, relacionando-se
com as ações de criar, jogar, pular, esconder e correr.
Este repertório caracteriza-se pela promoção de aspectos fundamentais para o
desenvolvimento da criança e para a transmissão e aproximação com a cultura a partir da voz,
do movimento, das brincadeiras e dos desafios.
Foi constituído, basicamente, por matrizes e influências das culturas portuguesa,
indígena e negra, o que nos possibilita perceber aspectos musicais característicos como a
utilização da tonalidade maior, a influência da música religiosa e dos cantos de trabalho, a
forte presença das trovas nas composições poéticas, o ritmo anacrústico em métricas binárias
e a utilização de pequenos intervalos na constituição das melodias (SILVA, 2016).
Silva (2016) nos apresenta alguns gêneros que constituem esse repertório desde a
primeira infância. Seriam eles: (1) o Acalanto, canção de ninar de andamento lento e com
intervalos melódicos simples; (2) os Brincos, brincadeiras para entreter crianças pequenas,
que normalmente são feitas por adultos; (3) os Contos, que se utilizam de melodias para
acompanhar as personagens da história; (4) as Brincadeiras de Roda, iniciadas a partir do
momento em que a criança desenvolve uma maior mobilidade corporal; (5) as Rodas de
Escolha e Representação, nas quais as crianças escolhem umas às outras para executar
movimentos específicos ou realizar determinada tarefa (SILVA, 2016).
Visto a importância do repertório cancioneiro para a valorização e transmissão da
cultura tradicional a partir da naturalidade vocal-expressiva da criança, a abordagem Orff-
Schulwerk promove a exploração, criação e vivência vocal por meio de seus aspectos
inerentes: o movimento, a linguagem e a interação.
Este capítulo teve por objetivo apresentar os pressupostos prático-teóricos da
abordagem Orff-Schulwerk e suas implicações para o ensino da Música no contexto
pedagógico com crianças de 5 anos. Tendo em vista minha formação e investigação
continuada sobre a abordagem, as práticas desenvolvidas ao longo deste Estudo de Campo,
60
naturalmente, partiram da perspectiva dessa proposta educacional criada por Carl Orff e
Gunild Keetman.
Ao abordar os “Processos em Orff-Schulwerk”, tive por intenção delinear os
parâmetros de mediação e vivência musical com as crianças a partir de diferentes arranjos de
possibilidades holísticas que envolvem a imitação, criação, exploração, corpo, instrumento,
coletividade, criação e expressividade.
Na parte sobre “Dança Elementar”, apresentei as perspectivas para o campo do
movimento para crianças de 5 anos, considerando os pressupostos rítmicos, elementares,
inerentes, culturais, exploratórios, composicionais e lúdicos dessa abordagem. O
levantamento partiu de uma revisão de importantes autores como Barbara Haselbach, Christa
Coogan, Doug Goodkin, Rudolf Von Laban, Gunild Keetman e Carl Orff.
No tópico sobre “Ritmo e Linguagem”, descrevi as possibilidades e recursos da
aproximação musical infantil por meio de textos, parlendas, provérbios, canções, falas e
palavras. Também descrevi alguns processos possíveis para o desenvolvimento e exploração
rítmica da criança a partir dos gestos sonoros, brincadeira e instrumentos de pequena
percussão.
Em “Expressão Vocal”, descrevi algumas possibilidades para o desenvolvimento e
exploração do senso e percepção melódica a partir da expressão vocal e do repertório
tradicional da infância. Considerei predominantemente as abordagens apresentadas por
Keetman (1974) e Silva (2016).
Partindo do referenciado nos Capítulos I e II, apresento a seguir os diálogos de duas
práticas pedagógico-musicais com crianças de 5 anos a partir da perspectiva da abordagem
Orff-Schulwerk, analisando causalidades e inferências com a Base Nacional Comum
Curricular para a faixa-etária.
61
3.1 Metodologia
observador e aos esclarecimentos necessários para possíveis elementos que necessitem maior
exploração.
A análise de dados, segundo Lüdke e André (2013), é o momento no qual o material
obtido na pesquisa passa pelos processos de organização, relacionando partes e procurando
identificar tendências que posteriormente devem ser reavaliadas na busca de relações ou
inferências num nível mais elevado. Entretanto, os processos analíticos podem ser feitos
durante toda a pesquisa, verificando a pertinência das questões selecionadas frente às
características específicas da situação.
Para uma organização mais assertiva dos dados, Bogdan e Biklen (1994), sugerem
cinco procedimentos: (1) a delimitação progressiva do foco do estudo; (2) a formulação de
questões analíticas; (3) o aprofundamento da revisão da literatura; (4) a testagem de ideias
junto aos sujeitos; (5) o uso extensivo de comentários, observações e especulações ao longo
da coleta. No processo de finalização da pesquisa qualitativa, os autores alertam para
objetividade da análise dos dados, justamente para evitar implicações éticas:
Outro aspecto presente nos Estudos de Campo que ocorreu neste trabalho foi a minha
participação por um período prolongado junto ao grupo investigado, característica tida como
necessária para a capacidade de interpretar e entender a situação observada. Os Estudos de
Campo destacam-se entre outros métodos de pesquisa por conta da fidedignidade dos
resultados observados, proporcionando inferências confiáveis sobre o grupo investigado a
partir da imersão do pesquisador (GIL, 1987).
Os Estudos de Campo favorecem a utilização de técnicas de observação acima das de
interrogação. Dessa forma, observei o grupo no decorrer de atividades e tomei nota, na forma
de registros descritivos, de seus comportamentos e reações. Com esse material determinei em
cada uma das categorias, como cada prática pode ser percebida no lócus da pesquisa.
A análise ocorreu a partir da combinação destes dois sistemas (registros e categorias),
cabendo a minha interpretação a partir das experiências subjetivas com o grupo de estudo
(GIL, 1987):
O trabalho de campo refere-se a estar dentro do mundo do sujeito, não como alguém
que faz uma pequena paragem ao passar, mas como quem vai fazer uma visita; não
como uma pessoa que sabe tudo, mas como alguém que quer aprender; não como
uma pessoa quer ser como o sujeito, mas como alguém que procura saber como é ser
como ele. Trabalha para ganhar a aceitação do sujeito, não como um fim em si, mas
porque isto abre a possibilidade de prosseguir os objetivos da investigação
(GEERTZ, 1979, p. 241 apud BODGAN; BIKLEN, 1994, p. 113).
Foi construída uma tabela de dupla entrada por indicador e Ação Pedagógica, na qual a
divisão de linhas foi feita a partir dos Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento do
programa da disciplina “Música”, seguindo nomenclatura apresentada anteriormente. As
colunas foram organizadas a partir dos Momentos das Ações Pedagógicas.
Para fins de organização dos dados, defini como prefixos para o “Momento” e a “Ação
Pedagógica”, as siglas M e AP, que aparecem juntas às suas respectivas ordens, por exemplo:
o Momento 1 da Ação Pedagógica 2 tem como prefixo M1AP2 na coluna da tabela. Além
destes, utilizei a sigla RD como sufixo relacionado à “Reconstrução dos Diálogos”.
Assim, me referi aos eventos das práticas com as crianças a partir da união de todas
essas siglas, tendo como resultado, por exemplo, a Reconstrução dos Diálogos do Momento 1
da Ação Pedagógica 2, representado na coluna por “M1AP2RD”.
As células das tabelas foram preenchidas de acordo com as observações coletadas a
partir dos Momentos das Ações Pedagógicas, respeitando os respectivos indicadores e
considerando para isto o valor mínimo observado entre: (1) Muito evidente; (2) Evidente; (3)
Pouco evidente. Por exemplo, no Momento 1 da Ação Pedagógica 1, foi observado que o
indicador “EI03MUS.EO01a” apareceu em duas ocasiões, uma delas de forma pouco evidente
(3) e outra de forma evidente (2). Neste caso, preenchi a respectiva célula da tabela com o
mínimo, ou seja, 2.
69
Justifico essa ação considerando que cada Momento é entendido como um período de
tempo indivisível, logo, a existência de um trecho no qual o indicador analisado seja mais
evidente serve como generalização e classificação para todo o Momento.
A partir das características de um bom processo de categorização, essa pesquisa não
cumpriu critérios de exclusão mútua e homogeneidade, pois um mesmo elemento descrito a
partir das Ações Pedagógicas pode corresponder a dois ou mais indicadores, e a natureza dos
sujeitos da observação dificultam sua generalização (BARDIN, 2016).
Um exemplo hipotético seria: “Os alunos em meio à atividade ora conversavam entre
si, ora cantavam”. Dessa forma, posso dizer que “a conversa entre si” representa um indicador
Evidente (E) de um Objetivo de Aprendizagem e Desenvolvimento do Campo de Experiência
“Eu, o outro e o nós”, enquanto o trecho “e ora cantavam”, representa um indicador Muito
Evidente (ME) de um Objetivo de Aprendizagem e Desenvolvimento do Campo de
Experiência “Corpo, gestos e movimentos”.
Essa pesquisa atendeu critérios como pertinência, dado que as categorias e materiais
foram adaptados ao contexto da análise escolhida, refletindo as intenções da investigação e
questões do pesquisador.
Também segui os critérios de objetividade, fidelidade e produtividade, evitando cair
em contradições ou aspectos muito subjetivos da análise. Posto isso, pretendi reduzir
distorções e variações de juízos no decorrer da análise dos registros, bem como proporcionar
um aumento na compreensão acerca das práticas pedagógico-musicais com crianças de 5
anos. Visto a quantidade de Momentos, Ações Pedagógicas, níveis diferentes para cada
indicador observado, essa tabulação foi necessária para tratar e compreender de forma mais
objetiva como cada Objetivo de Aprendizagem e Desenvolvimento apareceu nas práticas
descritas.
Uma vez identificados os indicadores, interpretei os resultados considerando os
valores e a frequência com que cada Objetivo de Aprendizagem e Desenvolvimento apareceu
ao longo das Ações Pedagógicas. Com isso, determinei quais tópicos (Objetivos de
Aprendizagem e Desenvolvimento) de cada indicador (Campos de Experiências) mais
contribuíram no papel descritivo-analítico de uma prática pedagógico-musical a partir da
perspectiva da abordagem Orff-Schulwerk, e quais aspectos da descrição total permaneceram
descobertos pelo filtro dos indicadores.
Baseados nesses dados, trabalhei também naqueles indicadores que se apresentaram
ambíguos ou foram pouco utilizados, seja pela dificuldade em determinar quando ocorreram
ou pela dificuldade em registrá-los por meio da descrição das atividades realizadas. A análise
70
dissertativa e descritiva proveniente dos dados da tabela é apresentada no tópico 3.3 desta
dissertação (Resultados e Discussões).
O presente tópico tem por objetivo organizar as notas de campo coletadas a partir de
duas práticas pedagógico-musicais realizadas com crianças de 5 anos ao longo da pesquisa.
Essas descrições foram utilizadas para a análise de dados, e posteriormente relacionadas e
medidas a partir dos Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento do programa da
disciplina “Música”.
As ações e coletas de dados aconteceram nos dias 1, 3, 8, 10 e 17 de outubro de 2019
(Ação Pedagógica 1) e dias 5, 7, 19 e 28 de novembro de 2019 (Ação Pedagógica 2), em uma
escola da rede privada de ensino da cidade de Campinas, interior do estado de São Paulo.
Seguindo uma sistematização proposta por Bodgan e Biklen (1994), organizei este
tópico a partir da descrição da escola onde a investigação foi realizada, da descrição dos
grupos analisados, da descrição das atividades, da reconstrução dos diálogos com os alunos e
do meu comportamento enquanto observador e mediador das práticas, apresentados nos
subtópicos a seguir.
Este subtópico tem por objetivo englobar sensações, elementos do prédio, espaços
físicos e estrutura da sala onde as práticas pedagógico-musicais com crianças de 5 anos
aconteceram. Para uma exposição adequada, segui as orientações de Bogdan e Biklen (1994,
p. 164):
Desenho a lápis do espaço e do arranjo da mobília são úteis nas notas. Descrições
verbais de coisas como o quadro, os conteúdos dos quadros de avisos, mobília e os
chãos e paredes também podem ser incluídos. Também deve tentar apreender a
sensação do edifício ou local que está a observar.
coordenações pedagógicas: uma para a Educação Infantil, uma para o Ensino Fundamental e
uma para o English Program (programa curricular de língua inglesa).
O terreno da escola possui quatorze mil metros quadrados, sendo três mil e trezentos
de construção. Há um prédio principal com três andares e outros espaços construídos para as
aulas dos denominados “especialistas” (Música, Arte, Educação Física, Capoeira e
Computação).
A escola conta com um grupo responsável pela manutenção, limpeza e segurança das
instalações, além de excelente estrutura com laboratório de Ciências, sala de Música bem
equipada, sala de reuniões, biblioteca com grande acervo, área de lazer e salas de aula com
armários individuais.
Há dois refeitórios que contemplam alunos da Educação Infantil, Ensino Fundamental,
professores e outros profissionais da escola. Há também um almoxarifado com recursos
materiais, sala de computação, brinquedos, acessórios e Xerox.
A sala de Música, onde as práticas pedagógicas são realizadas, fica no piso térreo, e os
alunos do último ano da Educação Infantil se deslocam até o local sob supervisão da
professora de classe em horários previamente designados: terças às 8:15 horas (para os alunos
do período matutino), e às quintas, às 14 horas (para alunos do período vespertino).
Esse espaço possui um quadro branco em um nível espacial baixo, justamente para
dialogar com alunos menores, o chão é feito com um carpete de madeira bastante confortável.
Logo na entrada há um piano digital envolto de um móvel de madeira construído para ele e
um armário pequeno no qual os professores guardam pertences e alguns materiais.
Em frente ao armário há uma bateria completa, normalmente usada por alunos do
Ensino Fundamental. O lado esquerdo da parede da sala é coberto por um espelho de 5m²,
primordial para o desenvolvimento e mediação de atividades com movimento e dança.
No fundo da sala há um armário embutido, com seis colunas de prateleiras nas quais o
acervo de instrumentos musicais e equipamentos são guardados: quatorze xilofones, um
cajon, um jogo completo de boomwhackers (tubos percussivos sonoros), dois violões, oito
ukuleles, instrumentos de pequena percussão (chocalhos e sinos), instrumentos de percussão
média: timbal e pandeiros, dois amplificadores de som, copos plásticos para dinâmicas
musicais e um pequeno material de almoxarifado contendo lápis, canetas de colorir, tesoura,
fitas e lenços. Na parede direita, onde está localizado o quadro branco, também há um
contrabaixo elétrico e uma guitarra pendurados por meio de um suporte.
Apesar de não serem possíveis dinâmicas que envolvam corridas longas ou saltos mais
distantes, o espaço da sala é suficiente para atividades de movimento, e normalmente os
72
alunos usam todo espaço disponível para isso. Abaixo, segue uma representação aproximada
dos 35 m² do espaço:
Pretendo neste subtópico apresentar uma descrição dos grupos observados durante a
investigação. De acordo com Bogdan e Biklen (1994), esse campo descritivo deve incluir
aparências físicas, maneiras de vestir, estilos de agir e aspectos particulares das pessoas.
Os vinte e quatro alunos participantes da pesquisa foram organizados e analisados em
quatro grupos de seis alunos, nomeados como Grupo 1; Grupo 2; Grupo 3; Grupo 4, que se
mantiveram durante todas as práticas realizadas. O único critério utilizado para a divisão dos
grupos foi a mescla natural entre os dois sexos identificados entre os participantes: menino
(masculino) e menina (feminino).
A divisão dos grupos foi realizada sem considerar habilidades prévias, critério que
respeita e se baseia no conceito de Música Elementar, inerente à abordagem Orff-Schulwerk, e
atesta a universalidade da Música e o respeito pelas expressões individuais:
Todos os vinte e quatro participantes desta pesquisa são meus alunos há pelo menos
um ano e meio, estando assim, habituados aos procedimentos e rotinas da aula de Música.
Durante esse período de investigação não fui informado sobre laudos acerca de dificuldades
de aprendizagem ou limitações motoras, nem observei nenhum comportamento que indicasse
tal hipótese.
Os alunos têm aulas com a mesma professora de classe, que realiza suas práticas em
dois períodos distintos (matutino e vespertino). As crianças também têm aulas com os
denominados “especialistas” (Música, Arte, Educação Física, Computação e Capoeira) em
ambientes adequados, sempre uniformizados com roupas confortáveis e sem queixas
constantes sobre assuntos extraclasse.
Os dois primeiros grupos descritos a seguir são compostos por alunos do período
matutino. Eles têm aulas de Música semanalmente e trabalham em plena interação uns com os
outros:
O Grupo 1 é composto por quatro meninas e dois meninos usualmente muito
engajados, participativos e que aparentam gostar bastante das atividades de Música. Duas
integrantes do grupo são filhas de funcionários da escola, o que faz com que eu tenha uma
ligação direta e próxima com suas famílias. Dois alunos do grupo são bastante tímidos, porém
não deixam de realizar atividades envolvendo Música, movimento e criação, justamente por
estarem acostumados a esse tipo de abordagem.
O Grupo 2 é composto por três meninos e três meninas também muito engajadas. Há
um integrante extremamente participativo, e outras integrantes muito ativas que frequentam
atividades de dança extraclasse. Uma das crianças do grupo possui um diagnóstico de
epilepsia, mas que não tem interferido recentemente em suas atividades escolares. Prova-se
isso por meio do consentimento da família para esta investigação. Todos estão sempre
uniformizados e com calçados apropriados para as atividades e não apresentaram restrições,
quadros de vulnerabilidade social ou alguma situação instável.
Os dois grupos seguintes (3 e 4), são compostos por alunos do período vespertino:
O Grupo 3 é composto por quatro meninos e duas meninas. São crianças
participativas, mas alguns integrantes são bem enérgicos e algumas vezes acabam por sair dos
delineamentos propostos em aula. Entretanto, essas atitudes são condizentes com a faixa-
etária e não há eventos mais graves recorrentes. São meus alunos de Música há pelo menos
dois anos, e estão habituados aos processos e dinâmicas da aula.
O Grupo 4 é composto por dois meninos e quatro meninas. São crianças bastante
engajadas, que normalmente participam ativamente das aulas, apesar do comportamento bem
74
enérgico de um dos deles. Mas a exemplo do Grupo 3, não há nenhuma ocorrência grave
usual.
Este subtópico tem por objetivo descrever as ações pedagógicas na maneira em que
foram planejadas, sem considerar minhas intervenções e interações com os alunos,
posteriormente abordadas no tópico 3.2.4. Para o planejamento e desenvolvimento dessas
duas ações pedagógicas para alunos do último ano da Educação Infantil, utilizei como
referencial os pressupostos da abordagem Orff-Schulwerk apresentados no Capítulo II, assim
como o delineamento dos Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento provenientes do
Capítulo I.
Para identificação do desenvolvimento de cada ação pedagógica e suas diferentes
fases, utilizei uma sistematização pessoal com o intuito de uma melhor organização dos
registros e análises. Chamei essas fases de “Momento”.
Ação Pedagógica 1
Essa melodia pentatônica está assentada no intervalo de terça menor descendente (sol
e mi), e se utiliza de uma inflexão (lá), entoada de forma mais natural e musical pelas
crianças. O material modal pentatônico, como discutido anteriormente, é bastante utilizado
em práticas pedagógicas balizadas pela abordagem Orff-Schulwerk devido a sonoridade
confortável para a criança, além de auxiliar no desenvolvimento da percepção melódica a
partir da redução de intervalos.
Apesar de a melodia pentatônica da Figura 8 estar escrita no modo de Dó Maior, sua
execução foi transposta para o modo de Lá Maior, adequando-se à tessitura vocal dos grupos
envolvidos na investigação:
25
Tema musical que se repete sempre que uma personagem ou situação é recorrente.
76
A cenoura do coelho.
O graveto da coruja.
O pedregulho do tatu.
O carinho do patinho.
O sabonete do ratinho.
A raiz forte da toupeira.
A pena do passarinho
Na festa da bicharada,
Tinha um macaco,
Chamado pelo Leão,
Mas o Leão não foi convidado.
A partir dessa temática, os grupos são responsáveis por acrescentar novos animais
convidados, dramatizando e desenvolvendo ainda mais o enredo cumulativo e repetitivo.
Assim, a atividade vai ao encontro de uma concepção pedagógico-musical ativa por meio do
corpo, partindo do princípio rítmico e exaltando as expressões individuais e sociais.
Em um trabalho de grupo-cooperação, os alunos se expressam corporalmente por meio
de aspectos da coordenação, relacionando seus movimentos com o ritmo, pulso e relação
interpessoal, em um ambiente livre, espontâneo e colaborativo.
Momento 4: Retomando a canção tema da história “E o dente doía”, abordo as
qualidades e contrapontos entre “forte” e “fraco” por meio de movimentos e expressões
corporais. A partir de estímulos sonoros de uma melodia na tonalidade maior (exemplificada
posteriormente na Figura 12), os alunos realizam os movimentos de ficar em pé (estímulo
representado pela elipse 1), deitar (elipse 2), sentar (elipse 3), levantar (elipse 4) e dançar
livremente (estimulados por toda a melodia da seção B).
É por meio desses momentos que os alunos têm a oportunidade de explorar e
reconhecer movimentos elementares e acompanhar corporalmente diferentes melodias. Em
uma “dança livre”, a criança traz à tona o seu repertório corporal por meio da brincadeira e
espontaneidade.
A melodia abaixo é executada na tonalidade de Lá Maior, em aproximadamente 110
batidas por minuto (valor para semínima):
objetivo desse momento é transpor o canto em sobreposições rítmicas por meio da percussão,
executando a relação pulso/ritmo numa relação palavra/frase: “den-te” (representando o pulso
por meio de semínimas provenientes das sílabas) e “ai meu Deus, que dor!” (representando
um ostinato rítmico em colcheias e semínimas):
Como abordado por Keetman (1974), esse material poético da infância oferece
diferentes células rítmicas a partir de discursos próximos e significativos. Os fenômenos do
pulso e ritmo são experimentados de forma ativa, agrupados e representados a partir das
brincadeiras e atividades.
Momento 6: Ainda com a utilização dos instrumentos de pequena percussão, os
alunos são convidados a transpor ritmicamente os nomes e objetos utilizados pelas
personagens da história “E o dente ainda doía”. A criança, então, passa pelo processo natural
de ensino/aprendizagem musical a partir da transição entre corpo e instrumento, tendo
experimentado por meio da brincadeira e fantasia elementos rítmicos que são posteriormente
transpostos para a pequena percussão, possibilitando ainda mais a experimentação de novos
timbres.
Ação pedagógica 2
26
Bem-vindo (língua inglesa)
81
uma criança no centro. A criança no centro faz os movimentos sugeridos pela cantiga e no
final abraça uma criança da roda, escolhendo-a para substituí-la ao centro, recomeçando-se a
brincadeira”.
Os movimentos originais da canção sugerem os atos de “sacodir da saia”, “levantar os
braços”, “colocar o joelho no chão” e “abraçar um amigo”. Para a contribuição individual dos
alunos, substituí o nome “Madalena”, previsto na letra original, pelo nome dos participantes
da brincadeira.
A melodia foi executada na tonalidade de Sol Maior em aproximadamente 80 batidas
por minuto (valor para semínima):
Todos cantam a música enquanto um líder marcha atrás da roda, tocando o pulso
(com a mão ou com uma baqueta) em um tambor. Nas palavras, “first one, second
one, the third, follow me” o líder toca a cabeça de três alunos, em sequência.
Somente o último aluno se levanta, escolhe rapidamente um instrumento e segue o
líder em volta da roda, tocando o pulso enquanto continuam a cantar. (GOODKIN,
2002, p. 11, tradução própria27).
27
All sing the song while the leader marches behind the circle playing the beat (with mallet or hand) on a drum.
On the words, “first one, second one, the third, follow me”, the leader taps three children in a row. Only the third
gets up, quickly chooses an instrument and follows leader around the circle, playing to the beat while continuing
to sing.
83
Para este tópico são incluídas as interações em campo ocorridas entre mim, alunos e as
respectivas ações pedagógicas realizadas ao longo desta pesquisa. São citadas as conversas,
orientações para as atividades, expressões faciais e gestos dos participantes, considerando o
delineamento proposto por Bogdan e Biklen (1994, p. 163-164): “[o pesquisador] deve estar
particularmente preocupado em escrever as palavras e as frases que são únicas para a situação
ou que têm uma especial utilização. Gestos, pronúncias e expressões faciais também devem
ser anotados”.
Novamente, para uma melhor organização e categorização dos relatos, utilizei uma
sistematização em “momentos”, relativas às atividades descritas no tópico 3.2.3.
84
Durante esse momento, alguns alunos dos grupos 1 e 2 batem muito forte em seus
instrumentos, fazendo com que eu demonstre corporalmente e sonoramente, por meio de um
pandeiro, uma maneira um pouco mais suave e sutil de tocá-los. Eles parecem compreender o
recado e passam a controlar no uso da força. Ainda foi possível observar um aluno do Grupo
2, que portava um tambor de mão, utilizá-lo como objeto para uma brincadeira particular não
identificada.
Após esse momento inicial de exploração, realizo alguns movimentos simples e sons
com a boca para conseguir a atenção dos alunos e prosseguir com os desdobramentos da
atividade.
Com o grupo reunido, estabeleço um pulso em semínimas com o auxílio de um
pandeiro, e prontamente começo a recitar o meu nome a partir de uma divisão rítmica na
métrica 2/4, representada na figura abaixo por colcheias:
Partindo desse exemplo sonoro, peço para os alunos fazerem o mesmo com os seus
nomes, o que é prontamente cumprido por eles. Após algumas repetições e explorações, digo
que quando lhes fossem solicitados, deveriam cantar e transpor ritmicamente seus nomes para
os instrumentos de pequena percussão de forma solo.
Dois alunos do Grupo 1 e três do Grupo 2 marcavam o pulso com o instrumento de
pequena percussão, e dividiam ritmicamente entre agrupamentos de colcheia e semínima, seus
nomes a partir do uso da voz.
Os outros participantes transpuseram a rítmica de seus nomes e executaram os
instrumentos de pequena percussão em uníssono, variando entre agrupamentos de colcheias e
semínimas.
Em seguida aos exemplos de relação entre pulso/ritmo por meio dos nomes, peço para
os alunos se organizarem nos grupos estabelecidos para esta investigação. A tarefa consistia
em utilizar frases e palavras-chave do enredo de “E o dente ainda doía”, para novamente
explorar e vivenciar a sobreposição rítmica.
O Grupo 1 ficou encarregado de marcar o pulso por meio da palavra “dente”, dividida
em duas sílabas para representação das semínimas. O Grupo 2 encarregou-se de executar um
89
ostinato rítmico a partir da frase “Aí meu Deus, que dor!” (arranjo rítmico representado pela
Figura 13).
Inicio a prática com o canto referente ao pulso (palavra “dente”), e os alunos do Grupo
1, responsáveis por essa linha, passam a executar a rítmica por meio de seus instrumentos de
pequena percussão e voz, exceto por uma aluna que não canta e somente executa o
instrumento. Não foi necessária a manutenção de um pulso, uma vez que os alunos não
demonstraram variações de andamento durante a execução dessa dinâmica rítmica.
No Grupo 2, responsável pelo canto e execução do ostinato rítmico, três alunos
transpuseram para o instrumento de percussão as colcheias provenientes da frase “Ai meu
Deus, que dor!”, executando-a em semínimas. Entretanto, o canto foi bastante claro e
ritmicamente assertivo.
Não houve confusão aparente durante esta dinâmica, apesar de o tempo destinado a ela
não ter sido muito prolongado. Ainda que os alunos executassem colcheias de forma
sobreposta ao pulso estabelecido pelo Grupo 1, a prática demonstrou-se bastante assertiva e
fluida.
Momento 6: Como última tarefa da ação pedagógica, distribuo para os grupos
organizados em cantos opostos da sala, três figuras com personagens e objetos da história do
jacaré, e pergunto se eles conseguiriam tocar e transpor o “som” dos elementos das imagens
para os instrumentos de pequena percussão.
O Grupo 1 selecionou as imagens do jacaré com o dente, o coelho com a cenoura e a
coruja com o graveto. O Grupo 2 ficou responsável pelas imagens do tatu com o pedregulho,
do ratinho com o sabão e a toupeira com a raiz forte.
No Grupo 1, três alunos transpuseram o pulso para os instrumentos de pequena
percussão, enquanto recitavam a rítmica das palavras provenientes das imagens. Os outros
três integrantes transpuseram de forma exata a rítmica das personagens e objetos. No Grupo 2,
todos os alunos transpuseram para os instrumentos de percussão o pulso em semínimas,
enquanto cantavam de forma clara e fluida a rítmica das palavras.
Por meio de um pulso compartilhado, os alunos executaram seus instrumentos e
cantaram sem deslocamento na fala, atribuindo às imagens divisões rítmicas próprias.
Para finalização da aula, peço para os alunos guardarem seus instrumentos e
encontrarem um lugar para deitar-se e relaxar. Durante este momento, toco duas peças
instrumentais no violão até que, cerca de três minutos depois, a professora de sala responsável
chega para buscá-los.
90
Após as primeiras práticas, peço novas sugestões e transposições para partes do corpo,
até que introduzo a melodia referente a esse momento e executo os movimentos de sentar,
levantar e esparramar, planejados para a atividade. Conforme descrito, os alunos teriam um
momento de “dança livre” durante a execução da parte B da melodia, momento este que
proporcionou sinais de alegria e excitação por parte das crianças.
Em seguida, após algumas explorações com essa forma definida, peço sugestões de
movimentos destinados à parte B, aquela que seria de “dança livre”. A partir da contribuição
de um aluno do Grupo 3 e duas alunas do Grupo 4, ficaram estabelecidas as seguintes
movimentações: pular numa perna só, girar e espacate (movimento característico do balé, no
qual a pessoa aproxima seu corpo ao chão a partir de uma abertura de pernas em cento e
oitenta graus).
Utilizo duas variações da melodia original como estímulo aos movimentos de pular
numa perna só e girar, e destino a melodia original da parte B para a indução do espacate. Os
alunos que anteriormente contribuíram com sugestões de movimento, parecem executá-los de
forma precisa nos momentos designados, suscitando observações e imitações por parte de
seus colegas.
Durante algumas exposições aleatórias, nas quais executo melodias diferentes da
ordem original apresentada, observo três alunos do Grupo 3 e quatro alunos do Grupo 4
executarem os movimentos previamente designados, seguindo bem os estímulos
proporcionados.
Momento 5: Como de praxe, os alunos se organizam em uma roda sentada ao chão
para o momento dedicado à prática instrumental. Peço ajuda para uma aluna do Grupo 4, que
seria responsável por selecionar, a partir de uma canção de escolha, colegas para pegarem
instrumentos de pequena percussão em um cesto. À medida que iam escolhendo, os alunos
sentavam-se à frente do espelho da sala.
Foram designados cinco minutos para exploração dos instrumentos, sendo possível
observar interações com sons e timbres, além do uso dos objetos como uma espécie de
volante de carro por dois alunos do Grupo 3, evidenciando um momento de fantasia. Um
aluno do Grupo 4 bate com bastante força em seu instrumento de pequena percussão.
Seguido a este momento de exploração, estabeleço um pulso em semínimas a partir do
uso de um pandeiro, à medida que começo a cantar o meu nome (Cassiano), dividido em
colcheias. Após essa primeira exposição, os alunos passam a bater palmas e recitar o nome
comigo, demonstrando certo divertimento, uma vez que normalmente referem-se a mim como
Cacá.
94
Verbalmente, peço para os alunos que imitem dinâmica, agora com o nome deles, o
que não parece ter sido compreendido (exceto por duas alunas do Grupo 3 que passam a
executar a proposta). Fez-se necessário a exemplificação sonora e corporal, recitando nome
por nome.
Proponho a transposição da rítmica exata do nome para o instrumento de percussão, o
que foi feito por somente uma aluna do Grupo 4, enquanto o restante da turma executava o
pulso em semínimas e recitava seus nomes.
Como desdobramento, organizo os alunos nos grupos de pesquisa e proponho a
execução de um arranjo de frases e palavras provenientes da história “E o dente ainda doía”:
“dente”, que simbolizaria o pulso, e “Aí meu Deus, que dor!”, simbolizando um ostinato
rítmico.
Introduzo a linha rítmica do pulso, por meio da palavra “dente”, e peço para o Grupo 3
me acompanhar. Sem interrupções, peço para que continuem à medida que introduzo o
ostinato rítmico com os alunos do Grupo 4.
Para tal dinâmica, continuamos a utilizar os instrumentos de pequena percussão, ainda
que na prática, a sonoridade tenha ficado um pouco embaralhada. Ainda assim, decidi manter
o elemento musical.
Uma vez que a professora responsável veio busca-los ao fim da aula, o Momento 6,
originalmente planejado para ser realizado no dia 10 de outubro, teve de ser desenvolvido na
semana seguinte.
No dia 17 de outubro, às 14h00min, seguindo os mesmos processos de chegada em
sala, inicio a aula a partir da introdução do Momento 6.
Momento 6: Organizo os alunos em seus respectivos grupos de pesquisa (Grupos 3 e
4), em cantos opostos da sala, e distribuo três imagens com personagens e objetos referentes à
história “E o dente ainda doía”. O Grupo 3 selecionou as imagens do jacaré com o dente,
coelho com a cenoura e coruja com o graveto, enquanto o Grupo 4 escolheu o tatu com o
pedregulho, o ratinho com o sabão e a toupeira com a raiz forte. A tarefa consistia em transpor
o “som” daquelas palavras para os instrumentos de pequena percussão já dispostos em sala.
Todos os integrantes do Grupo 3 ditaram as palavras provenientes das figuras,
enquanto executavam seus instrumentos de pequena percussão em semínimas, simbolizando o
pulso. Somente uma aluna do Grupo 4 transpôs a rítmica exata das palavras em colcheias e
semínimas para o instrumento. Foi possível observar uma clareza no ditado dos elementos da
história, à medida que mantinham um pulso constante por meio do toque percussivo.
95
A aula daquele dia continuaria com outras práticas, mas não dedicadas à coleta de
dados para esta pesquisa.
alunas lideram um movimento organizado para discutir quais ações realizariam. Uma delas
passa a movimentar-se para exemplificar sua sugestão, novamente executando um passo de
dança de um personagem do jogo Fortinite, porém, a ação consistia num pulo com uma única
perna à medida que mexia a mão com os punhos fechados. Prontamente, os outros integrantes
do grupo passaram a dançar com ela, inclusive os dois que estavam se distraindo.
Observo que em suas práticas, os alunos movimentam-se de forma organizada, mas
não cantam a letra de “Mazu” como estímulo às ações. Dessa maneira, reforço a necessidade
de adaptação da letra, sendo possível notar uma aluna do Grupo 1 cantando com assertividade
rítmica e poética.
Os grupos são convidados a compartilhar suas adaptações e movimentos. A primeira
apresentação foi do Grupo 1, que selecionou os atos de “fazer uma ponte”, “dançar o
espacate”, “pular num pé só e “pular e girar”, todos adaptados à letra na forma de gerúndio.
Foi possível reparar em olhares, risadas, gargalhadas e observações atentas do grupo,
que demonstra excitação e alegria durante a dinâmica. Uma integrante foi responsável pelo
início da performance, que teve como característica a diminuição do uso da voz à proporção
que iam executando movimentos mais complexos.
O Grupo 2 escolheu os movimentos de “dançar Fortinite”, “fazer o espacate”, “correr
pela sala” e “pular engraçadinho”, com uma apresentação um pouco mais turbulenta e
desorganizada, pois dois integrantes aparentaram pouca segurança na sequência dos
movimentos. Entretanto, estavam atentos em interagir corporalmente com seus colegas
conforme as ações eram executadas.
A aula do dia 05 de novembro foi finalizada às 9 horas, quando a professora
responsável pelo grupo se dirige até a sala de Música para buscá-los. Os “Momentos” 4, 5 e 6
são observados durante a aula do dia 19 de novembro de 2019, às 8h15min da manhã.
Momento 4: Após as dinâmicas realizadas na aula anterior, os alunos parecem ter
mudado suas concepções a respeito das “brincadeiras de roda”. Ao retomar o assunto, trago à
tona a percepção suscitada por um aluno do Grupo 2, que afirmou que “brincadeira é quando
nos divertimos”. A partir dessa ideia, indago-os sobre o termo “roda”: “Por que ele está ali
como parte da definição?”, e uma aluna do Grupo 1 responde que: “é porque dançamos em
uma roda”.
A partir dessa conversa inicial, apresento a brincadeira “Dança da Carranquinha”, que
se inicia com os alunos sentados em roda enquanto me levanto, realizo os movimentos da
brincadeira e canto.
98
28
Instrumento chileno que ao ser manipulado, simula um som de chuva.
99
satisfatória. Todos os alunos da turma executaram de forma assertiva, apesar de duas alunas
do Grupo 1 e uma aluna do Grupo 2 inverterem a forma inicialmente proposta para percussão
corporal.
Essa execução é exemplificada pela figura abaixo, na qual “Ct.” representa o canto,
“Pl.”, as palmas e “Cl.”, o colo:
uma brincadeira de roda, os alunos balançam suas cabeças com sinal positivo e verbalizam
por meio de um “sim”.
A seguir, realizo alguns movimentos corporais e sons com a boca, e os alunos
interagem da mesma forma. A partir dessa conexão, introduzo a canção e brincadeira “Mazu”,
com voz e movimentos sugeridos pela letra.
Ao iniciarmos a dança, observo que a roda em pé se mantém por pouco tempo.
Entretanto, os alunos parecem compreender a dinâmica da brincadeira a partir da participação
de uma aluna do Grupo 4, que sucessivamente, conduz seus colegas nas danças e improvisos
sugeridos pela canção.
Momento 3: A participação engajada dos alunos foi essencial para a transição da
proposta para um momento mais ativo e criativo. As crianças são indagadas sobre novas
movimentações que poderíamos fazer junto à letra, e uma rápida resposta sugere um “pulo
num pé só”. Com o estímulo a mais movimentos, um aluno do Grupo 4 começa a rastejar pelo
chão, e dessa forma, adapto a letra da canção seguindo o seu passo: “rastejando pelo chão,
Mazu, Mazu...”.
Dada essa interação corporal, organizo os alunos em seus respectivos grupos de
pesquisa (Grupos 3 e 4), e atribuo a tarefa de escolherem quatro novos movimentos para
serem adaptados à letra da canção. Trabalhando em cantos opostos, os alunos demonstram
bastante agitação.
Duas alunas do Grupo 4 iniciam suas práticas a partir do espacate, o que impulsiona
um rápido trabalho colaborativo dos integrantes. Com os quatro movimentos estabelecidos, eu
os encorajo a adaptar a letra da canção.
O Grupo 3 demonstrou-se um pouco mais agitado e não conseguiu se concentrar
prontamente na tarefa. Uma aluna do grupo foi responsável por liderar e propor três dos
quatro movimentos, que rapidamente foram escolhidos, uma vez que não consegui observar
discussões verbais e confronto de ideias entre as crianças.
Sentados em cantos opostos da sala, os alunos iniciam suas apresentações para os
colegas. O Grupo 3 seleciona quatro movimentos: “fazendo o espacate”, “mexendo o
corpinho”, “fazendo ginástica” e “dança maluca”, ajudados a cantar enquanto mexem seus
corpos agitados. Uma aluna compartilha que o movimento “fazendo ginástica” é uma
adaptação de uma movimentação realizada por sua mãe em casa, que na verdade, de acordo
com minha observação, seria uma espécie de polichinelo.
O Grupo 4 seleciona dois movimentos característicos do balé: o espacate e o plié
(movimento no qual o aluno dobra os joelhos apontados para lados opostos, enquanto a sola
102
palavras, decidem bater o pé no chão, o que deixa transparecer uma performance bastante
enérgica.
O Grupo 4, também com seus pandeiros e tambores, divide as seções de “pulso” e
“ritmo” em batidas nos instrumentos e pulos. Apesar da dificuldade de execução do
movimento junto à recitação, prefiro não me envolver e deixá-lo explorar as diferentes
possibilidades.
O compartilhamento foi um momento bastante interessante e criativo. O Grupo 3
inicia de forma bastante concentrada, fazendo uma contagem inicial do pulso. Um aluno
demonstrou habilidade ao bater o pé no pulso à medida que cantava e executava seu
instrumento de forma ritmicamente paralela.
Com movimentos difíceis quando integrados ao canto, os alunos do Grupo 4 perdem o
fôlego devido ao esforço de pular. Ainda assim, foi possível observar o preparo de seus
corpos para a execução do movimento de forma integrada ao pulso estabelecido para a
recitação. Na segunda exposição da sequência, há certa confusão rítmica, e a movimentação,
prática instrumental e canto perdem sintonia.
Momento 6: A finalização da aula dá-se a partir do momento de relaxamento, quando
os alunos se organizam ao chão para apreciarem uma peça instrumental executada por mim ao
violão. Durante a execução da peça “Minueto em Sol Maior” de J. S. Bach, foi possível
observar uma movimentação pelo chão, com alunos rastejando de um lado para o outro.
Alguns apresentaram sinais de relaxamento, com braços e mão bem esticados e leves.
Não houve tempo para a execução do “Estudo nº 2 em Sol Maior”, uma vez que a
professora responsável veio buscá-los no horário designado. Dessa forma, deu-se por
encerrada a aula.
em que eu estava diretamente envolvido, foram transcritas durante e após o término dos
momentos e das aulas.
Dessa forma, a partir das notas de campo transcritas de forma detalhada e do
delineamento do programa da disciplina “Música”, apresento um diálogo acerca da relevância
dessas práticas na promoção dos Campos de Experiências e Objetivos de Aprendizagem e
Desenvolvimento previstos na BNCC.
Tabela 7 – Categorização dos dados da Ação Pedagógica 1 por meio do Campo “O eu, o outro e o nós”
M1AP1RD M2AP1RD M3AP1RD
EI03MUS.EO01a A canção do jacaré parece Com o acúmulo das personagens, O compartilhamento do Grupo 2
Participar de forma
estimulá-los, pois é cantada de os alunos parecem se sentir um também se demonstrou bastante
engajada de atividades e
forma clara e em bom volume, pouco mais desafiados e tentam engajado e animado, exceto pelo
brincadeiras musicais.
com muitas trocas de olhares e acertar com afinco a sequência. aluno que pouco participou do
interação entre alunos. (ME) (E) processo de organização dos
movimentos e palavras. (E)
Tabela 8 – Categorização dos dados da Ação Pedagógica 2 por meio do Campo “O eu, o outro e o nós”
M1AP2RD M2AP2RD M3AP2RD
EI03MUS.EO01a
Participar de forma No intuito de dar andamento à Seleciono uma aluna do Grupo 1 A participação engajada dos
engajada de atividades e aula, introduzo os gestos da para dançar comigo e a alunos foi essencial para a
brincadeiras musicais. canção Funga Alafia sem brincadeira continua bem, com transição da proposta para um
nenhuma instrução verbal ou alunos gradativamente entrando e momento mais ativo e criativo.
canto. Como os alunos já participando (adendo para a não As crianças são indagadas sobre
conheciam essa canção de boas- participação de um aluno do novas movimentações que
vindas, passam a me imitar e Grupo 2, que quis se sentar). (E) poderíamos fazer junto à letra, e
interagir prontamente. Eu executo uma rápida resposta sugere um
essa melodia pentatônica no “pulo num pé só”. Com o
violão, sem uso da voz, e por estímulo a mais movimentos, um
consequência, alguns alunos aluno do Grupo 4 começa a
passam a cantar com a letra. (E) rastejar pelo chão, e desta forma,
adapto a letra da canção
seguindo o seu passo:
“rastejando pelo chão, Mazu,
Mazu...”. (ME)
M4AP2RD M5AP2RD M6AP2RD
107
Tabela 9 – Categorização dos dados da Ação Pedagógica 1 por meio do Campo “Corpo, gestos e movimentos”
M1AP1RD M2AP1RD M3AP1RD
EI03MUS.CG01a N/O N/O O trabalho colaborativo do
Expressar-se por meio de
Grupo 1 demonstrou-se variado,
movimentos em
tendo uma aluna muito engajada
dinâmicas que envolvem
no processo de dramatização,
música, dramatização e
gesticulando e discutindo sobre a
invenção.
sequência a ser feita; uma
segunda aluna que decora com
facilidade a organização de
movimentos estabelecidos pelo
grupo, inclusive cantando-a de
forma clara e em bom volume.
(ME)
M4AP1RD M5AP1RD M6AP1RD
A partir dos movimentos N/O N/O
realizados pelos alunos, foi
possível observar aspectos da
imitação para a representação da
qualidade “forte”. Nessa,
curvavam seus braços de forma
rígida e utilizavam diferentes
expressões e feições “bravas”.
Para a qualidade “fraco”, a
maioria dos alunos jogaram-se ao
chão e sentaram-se rapidamente,
possibilitando o prosseguimento
da canção e brincadeira [...] Após
esse primeiro momento
exploratório e livre, peço
sugestões de movimento para a
parte B, ainda abordando e
transparecendo corporalmente as
qualidades de “forte” e “fraco. Por
meio da sugestão de três alunas do
Grupo 1, os movimentos
executados para esta parte seriam:
girar, pular e correr com o
parceiro. (ME)
M1AP1RD M2AP1RD M3AP1RD
EI03MUS.CG02a Um aluno do Grupo 3 expressa o O compartilhamento do pulso por Durante o compartilhamento, o
Reagir corporalmente a pulso da canção a partir do corpo, meio do colo e das palmas é Grupo 1 necessitou de meu
estímulos sonoros pendulando-o de um lado para o muito preciso, resultando em auxílio para a realização do
provenientes de práticas outro enquanto canta. A mesma uma harmonização do cantar por canto, mas dividiu e adaptou
aluna que afirmou já conhecer a intermédio dos nomes dos perfeitamente os movimentos à
114
em sala de aula. história, transparece o pulso com animais, objetos da história e dos letra da canção e ao pulso. (E)
outros movimentos corporais, ora gestos sonoros. (E)
batendo palmas, ora balançando o
corpo. (E)
M4AP1RD M5AP1RD M6AP1RD
Em seguida, começo a cantar a N/O N/O
melodia apresentada na Figura 12
e a executar os movimentos
planejados para este momento,
resultando em uma participação
comprometida dos alunos a partir
do acréscimo da movimentação
livre na parte B. Foi possível
observar muitos sorrisos, bastante
interação entre os alunos e
momentos de demonstração de
alegria e diversão [...] Nos Grupos
1 e 2, um aluno e aluna deste e
duas daquele reconhecem de
forma assertiva o estímulo
melódico, realizando as
associações corporais. (ME)
M1AP1RD M2AP1RD M3AP1RD
EI03MUS.CG02b N/O N/O Durante o compartilhamento, o
Reagir corporalmente a Grupo 1 necessitou de meu
estímulos poéticos auxílio para a realização do
provenientes de práticas canto, mas dividiu e adaptou
em sala de aula. perfeitamente os movimentos à
letra da canção e ao pulso. (ME)
M4AP1RD M5AP1RD M6AP1RD
N/O N/O N/O
Tabela 10 – Categorização dos dados da Ação Pedagógica 2 por meio do Campo “Corpo, gestos e movimentos”
M1AP2RD M2AP2RD M3AP2RD
EI03MUS.CG01a
116
Expressar-se por meio de Três alunas do Grupo 1 e duas Seleciono uma aluna do Grupo 1 Pergunto aos alunos quais outros
movimentos em alunas do grupo 2 realizam o para dançar comigo e a gestos ou ações poderíamos fazer
dinâmicas que envolvem movimento do espacate, enquanto brincadeira continua bem, com no lugar do “para dentro e para
música, dramatização e um aluno do Grupo 1 e um aluno alunos gradativamente entrando e fora”, e sou respondido por uma
invenção. do Grupo 2 fazem movimentos de participando (adendo para a não criança do Grupo 1 que passa a
ginga, característicos da Capoeira participação de um aluno do realizar um passo de dança
(atividade extracurricular Grupo 2, que quis se sentar). (E) característico do jogo eletrônico
proporcionada às crianças). (ME) “Fortinite”, mexendo os quadris
e movimentando os braços rentes
ao corpo. (ME)
M4AP2RD M5AP2RD M6AP2RD
Duas alunas do Grupo 1 e um N/O N/O
aluno do Grupo 2 demonstraram
bastante divertimento na
realização das ações,
movimentando seus corpos de
maneira agitada e esboçando
sorrisos e gargalhadas. (E)
M1AP2RD M2AP2RD M3AP2RD
EI03MUS.CG02a N/O N/O N/O
Reagir corporalmente a
estímulos sonoros
provenientes de práticas M4AP2RD M5AP2RD M6AP2RD
em sala de aula. N/O Com seus tambores e pandeiros, N/O
os alunos do Grupo 1 cantam e
tocam com bastante intensidade,
marcando o pulso da música com
a percussão e recitando de forma
clara e precisa as palavras
apresentadas. Enquanto tocam, os
alunos abrem e fecham as pernas
seguindo o pulso estabelecido, o
que promove um efeito muito
interessante. (E)
M1AP2RD M2AP2RD M3AP2RD
EI03MUS.CG02b Os alunos já conhecem a forma da Dando segmento a aula, As crianças são indagadas sobre
Reagir corporalmente a atividade e isto facilita a transição introduzo a canção “Mazu” a novas movimentações que
estímulos poéticos para o momento de adaptação de partir dos movimentos sugeridos poderíamos fazer junto à letra, e
provenientes de práticas seus nomes, que quando são pela letra [...]Seleciono uma uma rápida resposta sugere um
em sala de aula. cantados, resultam em práticas aluna do Grupo 1 para dançar “pulo num pé só”. Com o
improvisatórias, corporais e comigo e a brincadeira continua estímulo a mais movimentos, um
expressivas. (E) bem, com alunos gradativamente aluno do Grupo 4 começa a
entrando e participando. (E) rastejar pelo chão, e dessa forma,
adapto a letra da canção
seguindo o seu passo:
“rastejando pelo chão, Mazu,
Mazu...”. (ME)
M4AP2RD M5AP2RD M6AP2RD
Ao entrar na roda, a aluna executa N/O N/O
todos os passos estimulados pela
letra: “joelho no chão”, “sacudir a
saia”, “levantar os braços e
abraçar um amigo”, e assim,
sucessivamente, as crianças se
abraçavam e realizavam as ações
sugeridas. (ME)
M1AP2RD M2AP2RD M3AP2RD
EI03MUS.CG02c N/O N/O N/O
Manter o pulso constante
nas métricas em 2/4 e
4/4.
M4AP2RD M5AP2RD M6AP2RD
N/O Um aluno do Grupo 2 foi o N/O
responsável por iniciar a
brincadeira e selecionar seus
colegas, demonstrando bastante
consciência e segurança em
relação à dinâmica e caminhando
no pulso da canção. (ME)
M1AP2RD M2AP2RD M3AP2RD
EI03MUS.CG02d
117
Tabela 11 – Categorização dos dados da Ação Pedagógica 1 por meio do Campo “Traços, sons, cores e formas”.
M1AP1RD M2AP1RD M3AP1RD
EI03MUS.TS01a N/O N/O N/O
Transpor e explorar o
ritmo das palavras para
instrumentos de pequena
percussão.
Tabela 12 – Categorização dos dados da Ação Pedagógica 2 por meio do Campo “Traços, sons, cores e formas”.
M1AP2RD M2AP2RD M3AP2RD
EI03MUS.TS01a N/O N/O N/O
Transpor e explorar o
ritmo das palavras para
instrumentos de pequena
percussão.
panqueca e brigadeiro.
Com seus tambores e
pandeiros, os alunos do Grupo 1
cantam e tocam com bastante
intensidade, marcando o pulso da
música com a percussão e
recitando de forma clara e precisa
as palavras apresentadas.
Enquanto tocam, os alunos abrem
e fecham as pernas seguindo o
pulso estabelecido, o que
promove um efeito muito
interessante. Sugiro que
transponham exatamente o som
das palavras para seus
instrumentos, e dois alunos
aderem à ideia. (ME)
M1AP2RD M2AP2RD M3AP2RD
EI03MUS.TS01b N/O N/O N/O
Manter e explorar o pulso
constante em
instrumentos de pequena M4AP2RD M5AP2RD M6AP2RD
percussão. N/O Com seus tambores e pandeiros, N/O
os alunos do Grupo 1 cantam e
tocam com bastante intensidade,
marcando o pulso da música com
a percussão e recitando de forma
clara e precisa as palavras
apresentadas. Enquanto tocam, os
alunos abrem e fecham as pernas
seguindo o pulso estabelecido, o
que promove um efeito muito
interessante. Sugiro que
transponham exatamente o som
das palavras para seus
instrumentos, e dois alunos
aderem à ideia. (ME)
M1AP2RD M2AP2RD M3AP2RD
EI03MUS.TS01c N/O N/O N/O
Participar ativamente de
atividades criativas
envolvendo instrumentos
de pequena percussão,
tais como: rodas de M4AP2RD M5AP2RD M6AP2RD
improvisação e criação N/O Seguindo os processos, rotina de N/O
em pequenos grupos. aula e a temática da ação
pedagógica, os alunos são
convidados a realizar uma roda
de escolha para a execução dos
instrumentos de pequena
percussão, momento
normalmente adorado pelas
crianças. Um aluno do Grupo 2
foi o responsável por iniciar a
brincadeira e selecionar seus
colegas, demonstrando bastante
consciência e segurança em
relação à dinâmica, caminhando
no pulso da canção [...] Com seus
tambores e pandeiros, os alunos
do Grupo 1 cantam e tocam com
bastante intensidade, marcando o
pulso da música com a percussão
e recitando de forma clara e
precisa as palavras apresentadas.
Enquanto tocam, os alunos abrem
e fecham as pernas seguindo o
pulso estabelecido, o que
promove um efeito muito
interessante. Sugiro que
transponham exatamente o som
das palavras para seus
instrumentos, e dois alunos
aderem à ideia. (ME)
127
Conforme levantado por Warner (1991) e Goodkin (2013), Orff e Keetman não
desenvolveram ou evidenciaram práticas específicas no campo do solfejo e percepção
melódica. Entretanto, a partir de seus relatos e propostas, é possível observar um processo que
caminha da percepção das nuances da fala até a nomeação e conceituação de intervalos
melódicos.
Para as práticas desta faixa-etária, não ficaram evidentes aspectos e caminhos da
percepção de alturas. Entretanto, os alunos tiveram acesso a um repertório vocal satisfatório,
com canções e peças pentatônicas que reduziriam o número de intervalos melódicos e
facilitariam a identificação das notas.
Tabela 13 – Categorização dos dados da Ação Pedagógica 1 por meio do Campo “Escuta, fala, pensamento e
imaginação”.
M1AP1RD M2AP1RD M3AP1RD
EI03MUS.EF01a N/O Entretanto, há uma peculiaridade O trabalho colaborativo do
Inventar canções, rimas e em relação à alcunha diminutiva Grupo 1 demonstrou-se
brincadeiras por meio de de algumas personagens, o que variado, tendo uma aluna muito
dinâmicas colaborativas. suscitou novas figuras rítmicas engajada no processo de
cantadas. (E) dramatização, gesticulando e
discutindo sobre a sequência a
ser feita, uma segunda aluna
que decora com facilidade a
organização de movimentos
estabelecidos pelo grupo [...] os
grupos dirigem-se para os dois
extremos da sala e recebem
uma folha sulfite para
montarem suas sequências de
dramatizações com figuras de
animais. (ME)
M4AP1RD M5AP1RD M6AP1RD
N/O N/O N/O
Tabela 14 – Categorização dos dados da Ação Pedagógica 2 por meio do Campo “Escuta, fala, pensamento e
imaginação”.
M1AP2RD M2AP2RD M3AP2RD
EI03MUS.EF01a N/O N/O Dada esta interação corporal,
Inventar canções, rimas e organizo os alunos em seus
brincadeiras por meio de respectivos grupos de pesquisa
dinâmicas colaborativas. (Grupos 3 e 4), e atribuo a tarefa
de escolherem quatro novos
movimentos para serem
adaptados à letra da canção.
Trabalhando em cantos opostos,
os alunos demonstram-se estar
bastante agitados.
Duas alunas do Grupo 4 iniciam
suas práticas a partir do espacate,
impulsionando um rápido
trabalho colaborativo dos
integrantes. Com os quatro
movimentos estabelecidos, eu os
encorajo a adaptar a letra da
canção. (ME)
132
Tabela 15 – Categorização dos dados da Ação Pedagógica 1 por meio do Campo “Espaços, tempos, quantidades,
relações e transformações”.
M1AP1RD M2AP1RD M3AP1RD
EI03MUS.ET01a N/O N/O N/O
Identificar e explorar
fontes sonoras e timbres M4AP1RD M5AP1RD M6AP1RD
de diferentes N/O Foram designados cinco minutos N/O
instrumentos musicais. para exploração dos instrumentos,
sendo possível observar
interações com sons e timbres,
além do uso dos objetos como
uma espécie de volante de carro
por dois alunos do Grupo 3,
evidenciando um momento de
fantasia. Um aluno do Grupo 4
bate com bastante força em seu
instrumento de pequena
percussão [...] Cada aluno que
escolhia seu instrumento sentava-
se à frente do espelho da sala, e
passava a explorar seus
instrumentos em um tempo
estabelecido por mim, cerca de 5
minutos. A partir dessa interação,
foi possível observar
investigações das crianças acerca
das sonoridades e dinâmicas na
execução dos instrumentos
percussivos. (PE)
M1AP1RD M2AP1RD M3AP1RD
EI03MUS.ET01b N/O N/O N/O
Identificar e explorar
elementos de relação
interpessoal e espacial.
Tabela 16 – Categorização dos dados da Ação Pedagógica 2 por meio do Campo “Espaços, tempos, quantidades,
relações e transformações”.
M1AP2RD M2AP2RD M3AP2RD
EI03MUS.ET01a N/O N/O N/O
Identificar e explorar
fontes sonoras e timbres
de diferentes
instrumentos musicais.
Assim, foi possível observar, ainda que com uma amostragem pequena, que certos
elementos do movimento elencados por Rudolf Von Laban são evidentes nas práticas
pedagógico-musicais sob perspectiva da abordagem Orff-Schulwerk, oferecendo diversas
possibilidades de relação, exploração do espaço e movimentação entre alunos.
O aspecto “pouco evidente” deste Campo de Experiência deve-se ao fato de houve
poucos momentos dedicados à identificação, percepção e nomeação dos elementos estudados,
como timbres e relações espaciais. Assim, entendo que para a faixa-etária observada, minhas
práticas pedagógico-musicais ainda possuem um caráter bastante exploratório, com foco na
experimentação.
Ainda considero a possibilidade de que meu planejamento não tenha sido adequado
para o desenvolvimento e promoção deste Campo de Experiência, sendo necessária a busca e
investigação por novas práticas junto aos alunos.
3.3.6 Considerações
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa mostrou-se relevante para reflexões quanto a minha contínua formação
docente, com a aproximação daquele que é o objeto de estudo mais importante do educador: a
sala de aula. Para compreender os inúmeros processos de ensino/aprendizagem musical,
venho investigando e me aprofundando nos ensinamentos prático-teóricos da abordagem Orff-
Schulwerk, e desenvolvendo ações baseadas no protagonismo da criança.
À vista disso, considerando esta proposta educacional e a recente promulgação da
BNCC (BRASIL, 2017), busquei atingir o objetivo de “compreender, descrever e refletir
acerca da relevância de práticas pedagógico-musicais a partir da perspectiva da abordagem
Orff-Schulwerk, em diálogos e possibilidades para a promoção dos Campos de Experiências e
Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento para crianças de 5 anos, tais como previstos
na Base Nacional Comum Curricular”. E no decorrer destes quase dois anos de pesquisa, me
deparei com novos ensinamentos, observações e reflexões que definitivamente implicaram e
implicarão em minha prática docente.
Por meio dos três capítulos apresentados neste trabalho, pude discutir alguns aspectos
importantes que permeiam o ambiente pedagógico-musical no contexto da Educação Básica,
dialogando entre os elementos da abordagem Orff-Schulwerk, o documento normativo para a
faixa-etária e os desdobramentos no trabalho em campo.
O Capítulo I objetivou “descrever o desenvolvimento do programa da disciplina
‘Música’ no contexto específico a partir do referencial da Base Nacional Comum Curricular”,
trazendo à tona um breve panorama dos documentos normativos para a Educação Infantil que
considerou projetos em Educação Musical e elementos holísticos descritos nos referenciais
promulgados a partir da redemocratização do Brasil.
A BNCC reestabeleceu as interações e a brincadeira como eixos norteadores das
práticas pedagógicas para essa etapa, organizando a estrutura curricular por meio dos
“Campos de Experiências” (BRASIL, 2017, p. 25).
A partir do acolhimento das situações e experiências concretas da vida infantil, os
Campos de Experiências são constituídos por habilidades e conhecimentos denominados
como “Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento”, seguindo uma codificação e
organização específica ao encontro das possibilidades de aprendizagem e características do
desenvolvimento da criança (BRASIL, 2017).
Com a promulgação recente do documento normativo, os Estados e instituições de
Ensino Infantil passaram a se readequar a partir dos arranjos curriculares e organizações
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propostas. Logo, meu trabalho como educador musical também passou por esse novo
processo de delineamento dos Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento para crianças
de 5 anos, considerando o referencial da BNCC, o protagonismo da criança e o conjunto de
possibilidades holísticas providas pela abordagem Orff-Schulwerk.
Indo ao encontro dos “direitos de aprendizagem e desenvolvimento” de conviver,
brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se, os processos da abordagem Orff-
Schulwerk demonstraram ser caminhos proveitosos para a promoção das mais diversas
possibilidades para a faixa-etária.
A partir do programa da disciplina “Música”, arranjado por meio dos Objetivos de
Aprendizagem e Desenvolvimento referenciados pela BNCC (BRASIL, 2017), pude
desenvolver indicadores de categorização das práticas e diálogos com as crianças, suscitando
algumas respostas, reflexões, causalidades e inferências.
O Capítulo II objetivou “descrever e refletir acerca da abordagem Orff-Schulwerk e
suas implicações para o ensino da Música neste contexto”, apresentando um diálogo sobre os
processos holísticos desta proposta, reconhecidos como eixos importantes de aproximação e
vivência musical, corporal e emocional da criança. Estes pressupostos fundamentam minhas
práticas pedagógico-musicais em campo, uma vez que minha formação continuada como
professor de Música está entrelaçada aos interesses e estudos desta abordagem.
Desenvolvida na primeira metade do Século XX pelos compositores e educadores Carl
Orff e Gunild Keetman, essa proposta educacional tem encontrado ao redor do mundo
professores e alunos entusiasmados em desenvolverem práticas e vivências calcadas na
liberdade, expressão, criação, fantasia e diversão.
A abordagem Orff-Schulwerk não constitui um método, mas um conjunto de processos
possíveis baseados na premissa musical, corporal e cultural de toda a criança. A partir da
Música Elementar, do ritmo, do corpo e das relações, as práticas musicais no meu contexto de
Educação Básica vêm demonstrando relevância na promoção de ambientes propensos à
inventividade, coletividade e musicalidade.
Apesar das peculiaridades ao lidar com o corpo, ritmo, melodia, voz, linguagem e
cultura, a abordagem Orff-Schulwerk traz acima de tudo um ambiente natural à criança, que se
apropria de seu repertório e bagagem para a construção de suas relações com a Música e com
as Artes.
O Capítulo III objetivou “medir e dialogar acerca da relevância de aspectos da
abordagem Orff-Schulwerk por meio de práticas pedagógicas desenvolvidas ao longo da
pesquisa, relacionando-os com os Campos de Experiências e Objetivos de Aprendizagem e
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APÊNDICE I
APÊNDICE II
APÊNDICE III