Você está na página 1de 53

SUMÁRIO

1 LINGUAGEM EM ARTETERAPIA ................................................................ 3

1.1 Importância da Expressão Corporal em Arteterapia ............................. 3

2 A DANÇA E o Movimento Corporal no Trabalho Arteterapêutico ............... 7

3 A ARTE DE GERAR IMAGENS .................................................................. 8

3.1 Materiais Expressivos........................................................................... 8

4 Arteterapia ................................................................................................ 13

4.1 Associação Americana de Arteterapia................................................ 13

4.2 Arteterapia – Contextualização Histórica............................................ 14

4.3 Fundamentos Epistemológicos e Filosóficos da Arteterapia .............. 15

4.4 Qualidades Terapêuticas da Atividade Artística ................................. 17

4.5 Mobilização em Ação ......................................................................... 18

5 ARTETERAPIA, UM PROCESSO CURATIVO ......................................... 18

5.1 O que é a cura, afinal? ....................................................................... 18

5.2 Polaridade e Unidade ......................................................................... 19

5.3 Imagética e Cura ................................................................................ 19

Crença e Fé ................................................................................................ 20

6 ARTETERAPIA COMO UMA TERAPIA SOCIAL ...................................... 21

7 ARTETERAPIA E ESPIRITUALIDADE ..................................................... 22

8 A EXPERIÊNCIA DO SAGRADO EM ARTETERAPIA ............................. 23

9 A ARTE COMO EXPRESSÃO DE SENTIMENTOS E CATARSE


EMOCIONAL NOS PROCESSOS TERAPÊUTICOS................................................ 24

10 Projeto de inclusão pela arte permite qualidade de vida a todos os


cidadãos 29

10.1 Atividades envolvendo música, dança, pintura, desenho, poesia e


teatro proporcionam o desenvolvimento da autoestima, igualando os indivíduos . 29

10.2 Movimentarte .................................................................................. 30


1
10.3 Contra compulsão, criação.............................................................. 30

10.4 Música no Silêncio .......................................................................... 31

10.5 VOXploration Em Cena ................................................................... 31

10.6 Para Mulheres ................................................................................. 32

10.7 Teatroterapia ................................................................................... 32

10.8 Ateliê Individual ............................................................................... 33

11 OFICINA ARTETERAPÊUTICA - MANDALAS ...................................... 34

11.1 O Simbolismo da Mandala .............................................................. 35

12 A terapia da arte .................................................................................... 35

12.1 Aplicação......................................................................................... 36

13 PENSANDO SOBRE A COLAGEM NA ARTE E NA ARTETERAPIA ... 37

13.1 A Música, Linguagem da Vida......................................................... 39

14 Arteterapia: A arte e o seu poder de cura .............................................. 40

15 A poesia na Arteterapia: o verbo em delírio ........................................... 42

16 Técnicas de Fototerapia na Counseling e em Psicoterapia ................... 45

16.1 A vida secreta das fotos pessoais e das fotos de família ................ 45

16.2 Como o terapeuta utiliza a fotografia para ajudar a curar as pessoas


46

16.3 Quais são as técnicas utilizadas na Fototerapia? ........................... 47

16.4 Fototerapia – A imagem mais abrangente ...................................... 48

17 BIBLIOGRAFIAS ................................................................................... 50

2
1 LINGUAGEM EM ARTETERAPIA

1.1 Importância da Expressão Corporal em Arteterapia

A primeira experiência de comunicação do ser humano é sensorial. Ainda no


ventre materno, recebemos estímulos que desencadeiam em nós uma série de
reações. Ao nascimento, o primeiro contato com o mundo se dá pela pele, pelo tato.
Nesse período, criamos vínculos, experimentamos sensações, preparamo-nos para
nos tornarmos seres independentes no futuro, capazes de desenvolver formas cada
vez mais especializadas de comunicação.

Fonte: institutofreedom.com.br

Porém, a linguagem corporal continua sendo de fundamental importância para


uma vida sadia; não há como desfazer os laços que unem o homem a esta forma
primeira de comunicação. Em arteterapia, as experiências sensoriais e a linguagem
corporal são duas formas de expressar o simbólico.
O homem é um ser social, um ser de relações que, desde a Pré-História,
procurou desenvolver meios de comunicar-se para atender às suas necessidades de
sobrevivência. Ao longo do tempo, a comunicação do homem primitivo, que antes era
feita por meio de gestos e dos ritmos da natureza, aperfeiçoou-se, configurando-se
em linguagens.
3
Nesse sentido, a linguagem, produto da inteligência e da subjetividade humana,
faz-se presente para representar simbolicamente o ausente, por meio de respostas
imediatas às estimulações perceptivas, ou de representações convencionais e
arbitrárias.
Podemos afirmar que a prática simbolizadora é expressão da subjetividade e
da consciência humana. Símbolos são ferramentas da mente, que usamos desde os
primórdios, nem sempre de maneira convencional.
De acordo com SEVERINO (1992), a consciência subjetiva é um fator
antropológico, dado o seu poder de intervenção na atividade produtiva e social dos
homens. Possui finalidades pragmáticas, no sentido de estar ligada aos mecanismos
de sobrevivência, mas também está associada à representação simbólica de todos os
aspectos da realidade.
A experiência subjetiva do homem é uma sensibilidade intelectual e racional,
mas também valorativa, ética, estética, religiosa etc. Toda produção decorrente dessa
atividade subjetiva se expressa objetivamente por meio de bens culturais, de natureza
simbólica, como a linguagem – sistema simbólico de comunicação – e a arte –
expressão objetivada da sensibilidade estética.
Assim, a prática simbolizadora está em trazer “para fora” o que se sente, com
a utilização de recursos expressivos, de símbolos que permitem uma comunicação de
níveis mais profundos com a consciência.
A Arteterapia surge, então, para utilizar a força da experiência criadora como
forma de autoconhecimento e de transformação do ser humano. Por meio da leitura
dos produtos da expressividade do indivíduo, busca auxiliá-lo a encontrar o equilíbrio
entre o fazer, o agir e o pensar.
Desse modo, a criatividade ocupa posição central entre a arte e o processo
terapêutico, pois o fazer criativo fornece a base para a leitura do que pode ser
transformado. O fazer criativo vai além do cotidiano e do social; passa para o
transpessoal, o universal e o espiritual.

O fazer criativo sempre estará carregado da subjetividade de quem o exerce,


e a expressará em plenitude através dos diversos símbolos empregados nas
imagens que surjam. Desta forma, através de uma observação mais
cuidadosa, possibilitada pela relação terapêutica, as construções e criações
reveladas constituem-se em meios de autoconhecimento que, bem
compreendidos, podem auxiliar no desenvolvimento do ser (COUTINHO,
2005, p.44).

4
De acordo com COUTINHO (Op. cit.), a criação artística, de fato, ajuda o
indivíduo a reforçar seus aspectos saudáveis. Abre as portas da sensibilidade,
possibilitando a construção de meios para a transformação pessoal.
Mas antes de partir para a criação artística, é necessário que o arteterapeuta
favoreça ao indivíduo um contato consigo para poder externalizar o sentimento que
proporcionará a transformação. A expressividade espontânea, antes das artes, está
na linguagem corporal. O corpo também é um canal de comunicação entre consciente
e inconsciente, tornando-se fundamental o reconhecimento da consciência corporal,
a partir da qual se obtém maior domínio do corpo e do espaço e, por conseguinte,
maior segurança.
Para WEIL & TOMPAKOW (1986), o homem é programado para perceber e
discernir, mas o hábito de atentar para as ferramentas-símbolo (palavras) afastou-o
A LINGUAGEM FALADA E ESCRITA PODE TER AFASTADO O
da percepção consciente do “aqui e agora”. HOMEM DE SI MESMO? LINGUAGEM VERBAL X NÃO VERBAL.

Sintomas físicos e emocionais são um chamado do inconsciente, e a ausência


de um contato mais íntimo consigo pode levar o indivíduo ao adoecimento. O corpo
fala, e é preciso reconhecer essa linguagem.
“Pela linguagem do corpo, você diz muitas coisas aos outros. E eles têm muita
coisa a dizer para você. Também nosso corpo é antes de tudo um centro de
informações para nós mesmos. É uma linguagem que não mente…” (WEIL &
TOMPAKOV, 1986, p.7).
A linguagem do corpo expressa nossos pensamentos, nossas emoções e
nossas reações instintivas. Podemos observar o estado emocional de uma pessoa
lendo a sua expressão corporal. Trata-se de perceber em vez de apenas olhar.
WEIL & TOMPAKOW (Op. cit.) afirmam que um simples movimento de cruzar
e descruzar os braços em determinada situação pode ser um gesto inconsciente,
relacionado com o que se passa no íntimo das pessoas. Nossa linguagem corporal
anseia por afirmar o nosso “eu”. O homem não consegue esconder sua linguagem
inconsciente, e percebê-la é de grande importância para que as pessoas se
compreendam melhor e se relacionem melhor.
Os gestos também fazem parte da expressão artística, o que se pode observar
com mais nitidez nas crianças. Seus movimentos, ao produzir os primeiros rabiscos,
vêm carregados de conteúdos e de significações simbólicas.

5
Quando desenha no papel, objeto que existe fora dela, a criança interage com
ele, com o lápis, a cor, o chão, a parede, ligando a sua ação com os mais diversos
movimentos corporais: exclama, canta, balança-se ou até manifesta o silêncio. A
criança promove uma comunhão entre ela e o meio; entre ela e o cosmos. A
propriedade que a criança estabelece com os seres, com os objetos, com as
situações, depende da intensidade afetiva, do tônus energético que ela mantém como
qualidade de relação com o mundo.
Tal como o instrumento é o prolongamento da mão, o mundo é o prolongamento
do corpo. A relação física sensorial que a criança estabelece com o desenho
possibilita a experiência de novas realidades (DERDYK, 2003, p.60).
Ao longo do tempo, têm sido desenvolvidos métodos e técnicas que
conseguem mudar muitos de nossos estados emocionais, e até atingir a estrutura da
nossa personalidade: a Arteterapia é uma delas.
BAPTISTA (2003), no entanto, afirma que expressão corporal é pouco utilizada
pelos arteterapeutas em detrimento de outras formas expressivas, porém é um dos
canais mais expressivos da Arteterapia, abrangendo uma infinidade de técnicas e de
propostas, como o toque, a massagem e o movimento, por exemplo.
Para a autora, o trabalho corporal pode ser o fio condutor do processo
terapêutico, uma vez que corpo e mente estão sempre ligados; processos psíquicos
e biológicos se processam no corpo.
As primeiras vivências do ser humano estão relacionadas aos aspectos
sensoriais, ficando registradas em nossa memória corporal. A pele é o maior órgão do
corpo humano, e também possui papel importante no desenvolvimento do homem,
pois o tato é o primeiro sentido a se desenvolver.
A pele, portanto, é o primeiro veículo de comunicação do ser com o mundo,
proporcionando acesso às demais linguagens.
“(…) no tempo dos nossos ancestrais, a ‘consciência’ humana formou-se a
partir do relacionamento sensorial da nossa pele com o mundo exterior” (JUNG, apud
BAPTISTA, 2003).
A consciência corporal facilita a assimilação do mundo interior e exterior. “A
expressão corporal fala para além das palavras, trazendo uma ponte direta para o
universo do imaginário e simbólico. É do movimento espontâneo que nasce o arsenal
simbólico de cada um” (BATISTA, 2003).

6
O trabalho corporal em Arteterapia, assim como a observação da forma dos
movimentos naturais, permite a transformação dos símbolos trazidos do gesto para o
concreto – expressão artística.
Embora o ser humano esteja dominando cada vez mais as novas tecnologias,
e desenvolvendo meios de comunicação mais complexos e eficazes, não há como
despojar-se do homem primitivo e seu sistema de comunicação. Embora muitas vezes
procuremos nos apoiar em linguagens e gestos convencionais, nosso corpo é reflexo
daquilo que somos e das experiências que trazemos.
Tornar-se ciente do corpo e das suas operações equivale a tornar-se ciente da
alma, fazendo que o sujeito mergulhe profundamente em si próprio, de onde
emergem, por meio da Arteterapia, tanto as impressões deixadas no em seu corpo,
quanto os produtos concretos da subjetividade (gestual, figurativo, sonoro etc.).1

2 A DANÇA E O MOVIMENTO CORPORAL NO TRABALHO


ARTETERAPÊUTICO

O corpo é o instrumento fundamental na interação do indivíduo com o meio e


com o outro.
É através dos sentidos que podemos experimentar o que existe a nossa volta
e é também por meio do corpo que podemos expressar nossa personalidade, nossos
desejos e necessidades.
Os gestos guardam uma linguagem silenciosa capaz de comunicar muito além
das palavras. A linguagem corporal não é apenas um complemento a linguagem
verbal, mas existe e comunica independentemente da fala.
O ato de dançar acompanha a humanidade desde os primórdios. Assim como
muitos animais, dançamos instintivamente. Mas dançamos também de forma racional
e por razões diversas.
A dança está presente em rituais religiosos, em momentos de lazer, em
atividades políticas, nos relacionamentos interpessoais, etc. Enfim, por meio da dança
podemos nos expressar de forma efetiva e afetiva.

1 Extraído do link: psicopedagogiaearteterapiacognoart.wordpress.com


7
Dançando ou apenas contemplando dançarinos em movimento, vivemos
experiências que nos afetam de diferentes formas.
A dança, além de produzir substâncias químicas em nosso organismo, capazes
de modificar nosso estado mental, também é prazerosa e pode nos ajudar no processo
de autoconhecimento.
Na Arteterapia, a dança também está presente e pode ser usada de diversas
maneiras para muitas finalidades.2

3 A ARTE DE GERAR IMAGENS

3.1 Materiais Expressivos

O estudo detalhado do material é muito importante em Arteterapia. Cada um


em particular, tem propriedades que mobilizam emoções e sentimentos de maneiras
diversificadas a cada indivíduo.
É necessário que o terapeuta analise o valor terapêutico do material para cada
cliente, pois podem penetrar de maneira mais rápida e em particular nos conflitos
internos e inconscientes do indivíduo.

Desenho

Podem ser utilizados o giz de cera, pastel a óleo, pastel seco, lápis de cor, lápis
de cor aquarelado, hidrocor, carvão e lápis grafite. Todos têm significado terapêuticos
semelhantes. No desenho, a coordenação motora fina é bastante trabalhada, portanto
o controle é essencial, não só o motor, mas principalmente o intelectual. A atenção, a
concentração e o contato com a realidade são explorados.
O desenho de cópia, enfoca a atenção na realidade exterior, e é indicado em
pessoas que fantasiam, sonham, obrigando-as a perceber e reproduzir a realidade tal
como ela é. A imensa dificuldade que encontram em reproduzir, não é só o medo de
errar, é a própria dificuldade de dar direcionamento em sua vida. É indicado para
pessoas dispersas, sonhadoras, confusas e adolescentes.

2 Extraído do link: www.arteseterapias.com


8
No desenho livre, as pessoas entram em contato com sua realidade interna,
deixando fluir conteúdos que estejam ao ponto de emergir.
Nos desenhos dirigidos, aqueles feitos a partir de um tema que o Arteterapeuta
escolhe, os indivíduos entram em contato com sua realidade, mobilizando emoções
bloqueadas que precisam vir à tona. Indicados para pessoas deprimidas, com tônus
vital rebaixado.
Quando preferimos os desenhos monocromáticos, trabalhamos com emoções
superficiais, a nível periférico; e quando utilizamos o colorido, lidamos com os
profundos.
Não é necessária análise do desenho, e sim a análise da interpretação do
indivíduo com relação ao feito.

Pintura

Quando a pintura flui, fluem ali, emoções e sentimentos, expressados. A esfera


afetiva emocional está mais abrangente, pois as pinceladas lembram o fluxo
respiratório, a vida. As tintas geralmente utilizadas são: guache, aquarela, anilina,
óleo, acrílica e nanquim.
A tinta guache exige maior controle de movimentos, libera emoções e incentiva
a imaginação.
Quanto mais densa, mas controle dependerá.
A aquarela, devido a sua leveza, e o uso obrigatório da água, mobiliza ainda
mais o lado afetivo. Indicada para pessoas muito racionais e com dificuldade afetiva.
Contraindicada para deprimidos.
Devido à dificuldade de fazer figuras por ser muito aguda, a anilina é ótima para
pessoas que tem medo de perder o controle das coisas.
Exige mais controle dos braços no traçado.
A tinta óleo, é recomendada para pessoas com depressão, pois possibilita
maior equilíbrio da situação.
O nanquim, quando puro é de fácil controle, mas exige agilidade e
sensibilidade. Quando usado com água, é mais fluída, exigindo muito mais habilidade,
atenção e concentração.

9
Quanto mais expressão, mais autoconhecimento e mais autoconfiança. A
pintura, assim como o desenho, pode ser livre, de cópia, ou dirigida.
Com a pintura, trabalha-se a estruturação e a área afetiva emocional, chegando
ao equilíbrio das emoções. E quanto mais diluída for a tinta, mais emocional é o
resultado.

Modelagem

A modelagem pode ser feita com massa caseira, argila, biscuit, cera de abelha,
plasticina, papel machê e massa de modelar.
O efeito da modelagem atua nas sensações físicas (leva ao relaxamento) e
viscerais, como também no sentimento e cognição. A técnica exige uma canalização
de energia adequada, por partir do nada para a criação de algo podendo ser livre ou
dirigida. Pessoas rígidas ou ansiosas, tem ganhos muito grandes.
A sensação de estar em contato com o barro, pode ser muito gratificante ou
não. A argila age como transformadora, de um estado de desencontro para um estado
de equilíbrio, podendo trazer à tona conflitos internos indesejáveis. Por ser moldável,
integra o ser com o mundo exterior, mostrando-o que pode adaptar-se às situações,
sendo fluida, recebe projeções e é dominada, favorecendo ao manipulador, a
libertação das tensões, fadigas e depressões, pois é um material vivo e de ação
calmante.
No físico, trabalha questões ligadas a estruturação e coordenação motora. No
emocional mobiliza sentimentos e emoções primitivas, para que possam ser
conhecidas e trabalhadas.
Nos casos de negação e resistência à argila, oferta-se o papel machê ou a
massa de farinha de trigo, pois de início não devemos forçar, e com a adaptação a
estes recursos, aos poucos inclui-se o barro.
O papel machê é um material frio e viscoso, mas que também nos oferece
retornos, pois podemos moldá-lo e criar, não chegando aos efeitos da argila, por não
ser um produto natural primitivo.
A massa de farinha de trigo e sal, é feita pelo próprio terapeuta, com ou sem
ajuda do paciente, variando cores. E ao contrário do papel machê, é utilizada estando
morna, para melhor manuseio. Em termos terapêuticos, pode levar os adultos, a

10
recordações maternas, ou da infância. Proporciona também a capacidade criadora,
autoestima, catarse emocional, autoconfiança e autodomínio.

Construção

É a mais complexa, pois apresente diversos materiais expressivos, diferentes


energias sendo disponibilizadas, disponibilizando uma elaboração cognitiva maior
para estruturá-lo. Só é indicada na terapia depois que o cliente já experimentos outros
materiais.
Uma diferença importante entre as outras é que esta é tridimensional,
trabalhando diversas noções entre peso, tamanho, forma, posição e espaço. No
tamanho podemos perceber profundidade, comprimento, largura e volume; nas
relações espaciais temos vertical, horizontal e o transversal; suas texturas são foscas,
polidas, chapiscadas, ásperas, lisas, enfim a um universo de coisas a serem
percebidas. A construção pode ser vista de diversos ângulos e distancias,
dependendo do tamanho como se apresenta.
Verificamos o eixo de EQUILÍBRIO do cliente na confecção da construção
sermos os facilitadores para que este perceba sua estrutura emocional, diante de seus
erros e acertos, pois a materialidade neste caso apontará suas dificuldades, não só
externas do manuseio, mas de conteúdos internos. Estruturar sua construção é
reorganizar, se conscientizar, poder mudar o que está dentro, buscando harmonia não
só fora, mas principalmente dentro.
É um processo de autoconhecimento que envolve edificação, integração,
composição, coordenação, equilíbrio, construção, reconstrução e agregação dos
materiais reunidos.
Cabe ao arteterapeuta prestar bastante atenção na construção de seu cliente:
de onde começou, como juntou as partes, se precisou da ajuda do terapeuta, se fez
ou desfez uma parte do processo, qual parte junta que está mais presa, qual é mais
fácil de se desfazer, descolar... enfim não são só aquelas questões que vemos com
os outros materiais.

11
Sucata

O trabalho com a sucata estimula a reconstrução, a criatividade, as percepções,


a atenção, a construção, a transformação, o concreto e a mudança.
É um material transformador, pois dá-se uma nova utilidade ao que antes era
lixo. É a mudança através do concreto, é a busca de possibilidades de transformação
e do reaproveitamento.
Por poder aliá-lo a pintura, a colagem e a modelagem, é uma atividade rica e
complexa, que mobiliza o conteúdo interno, e já transforma-o, reaproveitando-o de
forma benéfica. O terapeuta deve ficar atento, para que nenhum detalhe escape, pois
é um trabalho de muita sutileza.
Materiais diversos devem ser utilizados (plásticos, vidros, papéis, madeira,
tecidos) de forma livre ou dirigida.

Colagem

“A colagem propicia um campo simbólico de infinitas possibilidades de


estruturação, integração, organização espacial e descoberta de novas configurações.
É instigante como um mapa do tesouro, pois as informações estão ali desde o
princípio, embora, num primeiro momento, nem sempre consigamos decifrar os
códigos em que estes mapas estão cifrados” (Philippini, 2009, p. 24)
É uma atividade estruturante que pode ser realizada com materiais diversos:
recortes de revistas, jornais, pedaços de papéis coloridos, diversos grãos, serragem,
cortiça, purpurina, tecidos...
Nesta atividade, o cliente busca nos materiais, ideias que possam expressar e
comunicar seus sentimentos, emoções e ideias em relação ao tema. O planejamento,
o direcionamento, e a atenção do paciente, ajudam na estruturação de sua vida.
É um recurso rico, pois o indivíduo planeja, analisa, fica atento, concentrado,
organizado e paciente.
A colagem propicia estruturação, integração, organizações e descobertas de
novas configurações. Além de ser bem grande os inúmeros materiais que podem ser
usados, está em questão as imagens, a relação entre as figuras e como se relacionam

12
entre si, pela presença de polaridades cromáticas, a posição e ocupação sobre o
suporte e o movimento.3

4 ARTETERAPIA

“A arteterapia baseia se na crença de que o processo criativo envolvido na


atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas,
tanto das que experienciam doenças, traumas ou dificuldades de vida, como das que
buscam desenvolvimento pessoal. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os
processos e trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o
conhecimento de si, dos outros, aumentar sua autoestima, lidar melhor com sintomas,
estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos e
emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico. ”

Fonte: arteterapiamarisepiloto.blogspot.com.br

4.1 Associação Americana de Arteterapia

Arteterapia é um termo que designa a utilização de recursos artísticos em


contextos terapêuticos; pressupõe que o processo do fazer artístico tem o potencial

3 Extraído do link: arteterapiartecomterapia.blogspot.com.br


13
de cura e crescimento quando o cliente é acompanhado por arteterapeuta experiente,
quem com ele constrói uma relação que facilita a ampliação da consciência e do
autoconhecimento, possibilitando mudanças. Não se trata de simples junção da arte
com a psicologia, mas de uma abordagem baseada num corpo teórico e metodológico
próprios, abrangendo conhecimentos em história da arte e dos pioneiros e
contemporâneos de maior proeminência na arteterapia; dos processos psicológicos
gerados tanto no decorrer da atividade artística como na observação dos trabalhos de
arte; das relações entre processos criativos, terapêuticos e de cura e das propriedades
terapêuticas dos diferentes materiais e técnicas.
Assim também é a Psicologia Transpessoal, uma abordagem com um cabedal
teórico e metodológico próprios, cujas primeiras intuições e experiências remontam
aos primórdios da humanidade. De acordo com a definição de Vera Saldanha, “a
Psicologia Transpessoal pode ser conceituada como o estudo científico e a aplicação
dos diferentes níveis de consciência em direção à Unidade Fundamental do Ser. Ela
favorece ao indivíduo a vivência da plena luz, de onde emerge o ser integral,
vivenciando um estado de mente mais lúcido e desperto. ” Portanto, essa abordagem
trata das questões mais significativas, sagradas e misteriosas para o ser humano
desde que ele existe: a busca de um religare, da Unidade. Ambas as abordagens
preconizam a “cura” de sintomas físicos, de “feridas da alma” e o encontro consigo
mesmo e com o Eu Superior. Trataremos, neste trabalho, de correlacionar conceitos
e métodos de ambas as abordagens, no sentido de integrá-los em um fazer
terapêutico que possa ser ao mesmo tempo lúdico, simbólico, criativo e que possibilite
esse encontro com o divino dentro de cada um.

4.2 Arteterapia – Contextualização Histórica

Desde as épocas das cavernas, os seres humanos desenhavam imagens,


buscando representar, organizar e significar o mundo em que viviam. Desde tempos
imemoriais utilizam recursos como danças, cantos, tatuagens e pinturas em rituais de
cura, de poder e de invocação às forças da natureza. O uso terapêutico das artes
remonta às civilizações mais antigas. Porém, só em meados do século XX a
Arteterapia se delineia com um corpo próprio de conhecimento e atuação, motivada
pela crise da modernidade, em meio às mudanças que marcaram essa época. Após

14
duas guerras mundiais, uma das principais mudanças foi a queda do mito de que a
razão e a ciência seriam a resposta para tudo.
Por volta de 1950 – a chamada era pós-industrial, seguindo o surgimento da
arte educação e alimentada pelas mesmas preocupações, surge a Arteterapia.
Margareth Naumburg – artista plástica, educadora e psicóloga americana – foi quem
primeiro interessou se pelas pontes que entrevia entre o trabalho desenvolvido na sua
escola, onde utilizava-se o método Montessori e o campo da psiquiatria e da
psicoterapia. Em suas palavras: “A convicção de que a expressão livre na arte é uma
forma simbólica de linguagem nas crianças, básica a toda educação, cresceu através
dos anos. Concluí que esta expressão espontânea na arte poderia ser básica também
ao tratamento psicoterápico. ” Naumburg não foi a primeira a utilizar o termo
arteterapia, mas ficou conhecida como “mãe” da arteterapia por ter sido a primeira a
diferenciá-la claramente como um campo específico, estabelecendo os fundamentos
teóricos sólidos para seu desenvolvimento. Em suas palestras, livros e ensinamentos,
sempre ficou clara sua crença na importância da atividade criativa e expressiva para
o desenvolvimento pleno de cada ser humano e de cada comunidade social. Muitos
foram seus seguidores.
Em 1969, foi oficialmente fundada a Associação Americana de Arteterapia
(AATA). Na década de 1980, essa abordagem foi trazida ao Brasil por Selma Ciornai,
psicoterapeuta gestáltica com formação em Arteterapia em Israel e nos Estados
Unidos, quem a desenvolveu em São Paulo, criando o curso de Arteterapia no Instituto
Sedes Sapientiae.

4.3 Fundamentos Epistemológicos e Filosóficos da Arteterapia

A Fundamentação Existencial

A visão existencial afirma a prevalência da existência sobre a essência, isto é,


afirma que não há essência definitiva sobre o ser humano a ser descoberta nem
conceitos sobre a natureza última do ser humano a serem formulados. Afirma também
a capacidade humana de escolher e criar seu próprio destino, transcendendo limites
e condicionamentos, mesmo face às condições mais inóspitas e de suas
manifestações mais tenebrosas, medíocres e virulentas, como tão bem apontaram

15
Wilhelm Reich e Viktor Frankl. A visão existencial não implica uma atitude ingênua
diante de fatores coercitivos, mas afirma que o indivíduo não é apenas um “produto
do meio”, e sim que pode interagir com o meio de forma criativa, inusitada e
transformadora. Para Sartre, um dos expoentes dessa corrente filosófica, o ser
humano é visto sempre em possível estado de refazer-se e de escolher e organizar a
própria existência criativamente, sendo sujeito da própria história, artista da própria
vida.
Tanto na arte como na terapia manifesta-se a capacidade humana de perceber,
figurar e reconfigurar suas relações consigo, com os outros e com o mundo, retirando
a experiência humana do cotidiano, estabelecendo novas relações entre seus
elementos, misturando o velho com o novo, o conhecido com o sonhado, o temido
com o vislumbrado, trazendo assim novas integrações e possibilidades de
crescimento. Essa afirmação da centelha de divino em cada um de nós, essa fé na
capacidade humana de ser o artista da própria existência está entranhada na
Arteterapia. Baseado nessa premissa, o objetivo de uma terapia de base existencial é
trabalhar em direção à constante expansão da consciência, a fim de facilitar que as
pessoas venham a se tornar agentes das próprias transformações na vida. Na
Arteterapia, a visão existencial se manifestará na atitude do terapeuta, quem vai
estimular e facilitar o movimento da criatividade e expressão artística do cliente,
sugerindo experimentos, técnicas e facilitando elaborações e buscas de significado.
O cliente é visto como sujeito ativo em seu processo terapêutico que, com o terapeuta,
explora as formas que produziu, encontrando, criando e dialogando com os
significados nela desvelados.

A fundamentação fenomenológica

Husserl, o “pai” da fenomenologia, quebra o paradigma de que a observação


científica pode ser feita de forma neutra e imparcial, uma vez que é impossível eliminar
ou neutralizar a subjetividade do observador. Husserl fundamenta o conceito de
intencionalidade da consciência, segundo o qual toda consciência é sempre
consciência de alguma coisa, assim como todo objeto é sempre objeto para um
sujeito. Em outras palavras, consciência e objeto são interrelacionados e, portanto, o
campo da fenomenologia busca entender a natureza dessa relação: o fenômeno tal

16
como é vivido e experienciado. Fenomenologia significa “o estudo daquilo que
aparece”. O fenômeno deve ser descrito tanto quanto possível sem interpretações
provenientes de referenciais externos. Em arteterapia, esse método possibilita
procurar o sentido que certas experiências ou situações tem para a pessoa, para o
cliente. Para isso, o terapeuta necessita deixar-se envolver existencialmente,
deixando brotar sentimentos e sensações que propiciem uma compreensão intuitiva,
pré-reflexiva dessa experiência para, em seguida, estabelecer certo distanciamento
que lhe permita uma reflexão em que procurará nomear aquela vivência de forma que
se aproxime o mais possível do próprio vivido.
Nesse sentido, o conhecimento de alguns modelos teóricos amplia o poder de
observação do terapeuta e sua capacidade de compreensão do fenômeno. Outra
característica marcante da abordagem fenomenológica no trabalho terapêutico, é a
ênfase no processo. Na arteterapia, o terapeuta estará sempre atento à presença e
ao comportamento (verbal ou não-verbal) do cliente, focalizando mais o como do que
o porquê, ou seja, mais a qualidade da experiência descrita do que as explicações
causais, e tanto o conteúdo como a forma como esse conteúdo é comunicado
(estrutura das frases, tom e ritmo da voz, gestos, olhar etc.). Atenção deve sempre
ser dada aos movimentos, sentimentos, padrões de pensamentos, qualidade de
contatos (com o terapeuta, consigo próprio, com o mundo, com os outros, com o
próprio trabalho) que afloram durante a confecção do trabalho, bem como ao modo
como materiais, cores e formas são escolhidos e trabalhados. Em outras palavras,
deve-se dar atenção à qualidade da experiência, a quando o processo de contato e
expressão flui de maneira contínua e energizada e a quando se torna emperrado,
desvitalizado ou interrompido. E tudo isso em cada etapa do processo: antes, durante
e depois da atividade de arteterapia desenvolvida.

4.4 Qualidades Terapêuticas da Atividade Artística

Expressão artística como linguagem humana.


A dificuldade em dar sentido aos nossos sentidos e em expressar verbalmente
sensações e sentimentos quando estes ainda estão indefinidos, ou quando não os
percebemos com clareza, pode frequentemente ser facilitada pelas outras linguagens
do fazer artístico. Por outro lado, mesmo que haja clareza de percepção, às vezes as

17
palavras não são a melhor linguagem para expressar o que é contatado. É comum
sentirmos dificuldade em transmitir em palavras, sensações e sentimentos
intensamente presentes, assim como imagens e sensações intensamente vivas para
nós em sonhos e visões. Porém, por termos a capacidade de nos expressar por meio
de diversas linguagens expressivas, frequentemente sensações, sentimentos e visões
são muito melhor expressos em imagens, cores, movimentos ou sons.

4.5 Mobilização em Ação

A atividade artística ativa o sistema sensório-motor, e é por natureza


energizante. Considerando o ser humano do ponto de vista holístico e sistêmico,
podemos inferir que à medida que o sensório motor é ativado, a emoção, a percepção,
a imaginação e a cognição serão mutuamente coativadas. A atividade artística e
imagética promove uma mobilização de energia que traz à tona a carga de emoção
ligada ao que esteja sendo relevante para a pessoa naquele momento, mobilizando e
potencializando também a sensibilidade e a intuição, o que propicia à pessoa
sintonizar níveis mais intuitivos, sensíveis e mágicos de funcionamento, e amplia a
abertura para o contato consigo mesmo e com o mundo. É no decorrer do fazer que
isso se dá. Em ação, nos surpreendemos com o nosso próprio fazer e com o produto
que aos nossos olhos emerge como espelhamento criação de nossa interioridade em
nossa relação com o mundo, nos revelando, iluminando e transformando perante nós
mesmos.

5 ARTETERAPIA, UM PROCESSO CURATIVO

5.1 O que é a cura, afinal?

Dethlefsen e Dahlke, em seu livro A Doença como Caminho, afirmam que a


doença é um estado do ser humano que indica que sua consciência está em
desarmonia; essa perda de equilíbrio interior se manifesta no corpo como sintoma. O
sintoma avisa que o equilíbrio de nossas forças anímicas interiores está
comprometido, nos informa que está faltando alguma coisa. Quando nos tornamos
doentes é como se tivéssemos esquecido de nós mesmos e a doença é a lembrança

18
de uma tomada de consciência. Falta consciência! E aí, vem a doença como o
caminho que o ser humano pode seguir rumo à cura.

5.2 Polaridade e Unidade

No livro A Doença como Caminho, os autores relacionam a questão da doença


e da cura à polaridade, ressaltando que a consciência divide e classifica tudo em pares
de opostos, e nossa inteligência faz análises, escolhas, toma decisões, tem contato
com o mundo sempre estabelecendo uma diferença entre opostos, sim para um polo
significa não para outro, dessa forma estabelecendo conflitos. A cada exclusão
reforçamos nossa não totalidade, nossa não integridade. Para os autores, “a doença
é a polaridade; a cura a vitória sobre a polaridade”, o que nos aproxima da Totalidade.

5.3 Imagética e Cura

Vale aqui comentar as sábias reflexões sobre a cura que a Dra. Jeanne
Achterberg, psicóloga americana, professora do Saybrook Institute nos Estados
Unidos, fez na sua palestra no XXVIII Congresso da Associação Americana de
Arteterapia, em 1997. A perspectiva da Dra. Achterberg sobre a cura é que não é
suficiente uma mudança apenas na medicina, mas uma mudança nos valores
humanos. E comenta: “O futuro está além do que alcançamos conhecer, mas o
presente está além do que podemos acreditar, fazemos tanto barulho com a
tecnologia que não conseguimos descobrir que o portal mágico está em nossas
mentes. Mas o tempo chegou, a revelação já ocorreu, e nossos guardiões já viram
relâmpagos na obscuridade que chamamos realidade. E agora, entramos naquele
breve intervalo que ocorre entre o relâmpago e o trovão. ” Criar novas imagens é
fundamental, portanto. E essa é uma das funções da Arteterapia. Dra. Achterberg
acredita que a verdade da medicina é que tudo cura alguém (o que traz muita confusão
às nossas metodologias de pesquisa), nada cura a todos, e nada cura para sempre,
nenhuma pílula, poção ou manipulação. Na história dos métodos de cura e da
medicina sempre estiveram presentes a imagética e as artes criativas e, quando há
doença, os doentes podem contar com um círculo de cura. Dependendo da cultura e

19
do tempo, coisas distintas são colocadas nesse círculo, quimioterapia, radiação,
manipulação, antibiótico, cristais etc.
Mas o que Dra. Achterberg realmente acredita é que a cura está em outro lugar:
nas nossas mentes, na nossa alma. Os vínculos formados nesses círculos de cura
são invisíveis e poderosos, podemos chamá-los de amor, contato humano,
intencionalidade à distância, preces, vibração, energia, desenvolvemos vários nomes
para isso, mas o importante é que nesse círculo algo acontece, e acontece em todas
as culturas através dos tempos. Dra. Achterberg chama de imagética os sonhos, as
visões, as imagens, que levam a insights para atribuição de significados e renovação
de valores mais importantes para os seres humanos, fenômeno largamente
comprovado na história da humanidade como fonte de medicina e cura. Imagética é
simplesmente pensamento com qualidade sensorial. O uso da imaginação tem
provado ser intervenção poderosa em muitos aspectos das doenças físicas.
Pesquisas demonstram que cerca de 60% das pessoas tem imagens visuais.
Essas imagens podem ser também auditivas e olfativas. O uso da imagética, da
imaginação e dos processos simbólicos na medicina e na cura é uma poderosa
estratégia para provocar mudanças em pensamentos, comportamentos e/ou
processos fisiológicos. No uso da imagética para cura, encontramos alguns
ingredientes básicos e centrais que são necessários: Um lugar especial, um espaço
no ambiente onde a pessoa possa sentir-se num espaço sagrado, ritualístico; Tempo
e regularidade – pesquisas mostram que o tempo necessário para usar a imaginação
como um recurso de cura é 22 minutos, mais ou menos 3. A maioria das experiências
de meditação tem essa duração; Intenção – dedicar um tempo e adentrar o espaço
sagrado que a pessoa criou para si mesma, ou seja, sua intenção, é mais importante
do que a forma de visualização; Sistema de apoio – pessoas que podem facilitar o
processo de cura formando o círculo de cura, anteriormente citado; Estado alterado
de consciência – necessário antes que qualquer cura significativa através da
imaginação possa se dar.

Crença e Fé.

O círculo de cura, os vínculos invisíveis, a presença das artes criativas, fé,


intenção, lugar, tempo. E todos unidos em um só processo simbólico! O sagrado e

20
processos de cura são absolutamente entrelaçados na psique. Parece fácil manter-
nos saudáveis com essas práticas. Qual é, então, a natureza da doença? Por que,
com uma frequência e intensidade variáveis, adoecemos? Talvez o mais importante
não seja saber o que nos faz adoecer, mas sim o que nos torna saudáveis. Esse é o
foco do trabalho em Arteterapia.

6 ARTETERAPIA COMO UMA TERAPIA SOCIAL

O ser humano está doente. No atual contexto sócio econômico, passamos por
várias crises e talvez estejamos cansados de ler, ouvir e sentir problemas como
desigualdade social, miséria, guerras, violência urbana, atentados suicidas,
sequestros, assassinatos, além de desastres ecológicos que ameaçam a
sobrevivência do planeta, criando uma sensação de crescente ameaça e insegurança.
“Amedrontados e confinados, cada um se volta para si, desconectado do outro
e da natureza. As relações tornam-se mais apressadas, superficiais, “descartáveis”.
O utilitarismo impregna nossas relações profissionais e amorosas. ”Selma Ciornai
Esse cenário acarreta:
♦ a síndrome da incerteza: transformações rápidas e enormes dúvidas de
como sobreviver no mundo atual;
♦ a síndrome da solidão: os contatos no trabalho, na família são
frequentemente marcados pela intolerância, irritação e competitividade e nos sentimos
sós;
♦ a síndrome da dessensibilização: em relação a si próprio e à dor do outro;
♦ a síndrome da indiferença e do desencantamento em relação ao mundo:
pessoas se queixam de apatia, falta de paixão – nada tem graça! Estresse, ansiedade,
síndrome do pânico e depressão são as doenças “da alma” dos nossos tempos.
Nesse contexto, a arteterapia pode oferecer a ajuda necessária para nós
mesmos e para que a nossa sociedade e o mundo se tornem melhores. Já vimos no
decorrer deste trabalho que é essencial praticar atividades criativas. Devemos deixar
emergir fatores de personalidade promotores da criatividade, como sensibilidade,
percepção, apreensão empática, flexibilidade, não julgamento, receptividade às
diferenças e a novas ideias, capacidade de apaixonar-se por causas e pessoas,

21
capacidade de adaptar se criativamente e de criar e apreciar novas realidades, para
que possamos conviver em uma sociedade mais justa.

7 ARTETERAPIA E ESPIRITUALIDADE

A Arte como estado alterado de consciência

A atividade artística proporciona um potente recurso focalizador – como um


estado alterado de consciência, ajuda a pessoa a focalizar seu mundo interno,
adentrando um canal mais intuitivo e mágico, onde nos surpreendemos com nossas
próprias imagens e com os significados nela encontrados.
Em seu livro A Sensibilidade do Intelecto, Fayga Ostrower ressalta a
espiritualidade na arte: ”[…]existem outras metas e motivações determinando o fazer
humano do que meramente utilitaristas, motivações de maior importância e da mais
profunda necessidade. Tais motivações se centram nas potencialidades criativas e
nas qualidades que fazem do homem um ser humano: sua consciência sensível e
inteligente, e também consciência no sentido moral, do senso de responsabilidade,
sua imaginação e seu poder de simbolização e associação livre, sua permanente
busca de significados maiores, sua capacidade de empatia, de amizade e de real
amor, sua generosidade, em suma, sua vida espiritual. Do ponto de vista pragmático
se perguntaria: Para que serve a vida espiritual? Só poderia receber como resposta:
Para a pessoa realizar se como ser humano. ”
“As potencialidades criativas afluem da vida espiritual inerente à consciência e
às suas inquietudes. E a realização dessas potencialidades nunca se afigurou aos
homens como um divertimento, mas sim como uma necessidade e um real desafio. A
arte é uma necessidade de nosso ser, uma necessidade espiritual tão premente
quanto as necessidades físicas. A prova disso é o fato irrefutável de todas as culturas
na história da humanidade, sem exceção, desde o passado mais remoto até os
tempos presentes, terem criado obras de arte, em pintura, escultura, música, dança,
como expressão do essencial da realidade de seu viver – uma realidade de dimensões
bem maiores do que a utilitarista. As formas de arte representam a única via de acesso
a este mundo interior de sentimentos, reflexões e valores da vida, a única maneira de
expressá-los e também de comunicá-los aos outros. E sempre as pessoas

22
entenderam perfeitamente o que lhes fora comunicado através da arte. Pode-se dizer
que a arte é a linguagem natural da humanidade. ” Fayga Ostrower.
“No trabalho de arteterapia, quando a pessoa começa a mexer com materiais
de arte, ela vai se deliciando com a fluidez de uma cor lentamente se misturando com
a outra, com as formas que as pressões de seus dedos vão criando na argila… esses
efeitos a vão fascinando, banhando-a internamente e, sem que se dê conta, vai
acalmando o seu ritmo interno, entrando em outra sintonia… E, nesse sentido, o
trabalho com arte é uma meditação ativa. ” Selma Ciornai.

Fonte:weheartit.com

8 A EXPERIÊNCIA DO SAGRADO EM ARTETERAPIA

Cito aqui literalmente a Dra. Achterberg, por ter definido tão sensível e
profundamente a experiência do sagrado depois de ler sua definição, não consegui
pensar numa forma melhor de colocar essa questão: “Sabemos que existem aspectos
poderosos e invisíveis em nosso ser. Tudo é sagrado – o oxigênio é sagrado, o
hidrogênio é sagrado porque nosso espírito vive nessas moléculas, e a consciência,
seja lá o que seja, pode adentrar aquilo que chamamos de matéria, interagir com ela,
amá-la, compreendê-la. O carbono em nossos ossos foram um dia parte das estrelas,
o sangue em nossas veias foram um dia parte dos oceanos, e os fluidos em nossos
corpos que estão dançando com a lua e as estrelas, o sole as marés, somos todos

23
nós… Pensem em nossos pulmões, e de como respiramos moléculas de cada santo,
sábio e pessoas que amamos… Não somos separados. Pensem neste círculo de cura
e nos vínculos que existem entre nós. Somos quimicamente relacionados, não
terminamos em nossas peles.
Somos realmente moléculas de luz concentradas e dançantes… E quando
penso em mim e nas pessoas a minha volta desta forma, meus pensamentos voltam-
se a ideias mais transcendentes do que as que normalmente contemplamos em nossa
consciência. Então, espero que a medicina, e por medicina me refiro a tudo o que
ajuda nos processos de cura, possa realmente começar a levarem conta a totalidade
do que somos, a considerar que não terminamos em nossas peles, e que o que está
além de nossas peles talvez seja mais fundamental para nossos processos de cura.
E que o acesso de um a outro, ao mundo interno, ao mundo mais transcendente pode
bem ser as visões, imagens ou sonhos imateriais. ” Cada um de nós necessita de um
canal de expressão a que recorrer quando estamos vivendo momentos onde sentimos
nossa alma mergulhar em uma noite negra e sombria. Para uns é pintar, para outros
é escrever, o que importa realmente é poder reacender e manter o fogo criativo.
Quando as pessoas começam a expressar-se através da dança, das artes plásticas,
da música, o que elas expressam é verdadeiro, original, espontâneo.
A arteterapia como poder de cura se espalha hoje em dia por hospitais, clínicas,
escolas e instituições. Não para levar as pessoas a serem artistas do pincel ou do
lápis, mas para que possam ser artistas do manter-se vivos e bem. O que pode ser
mais sagrado que isso?4

9 A ARTE COMO EXPRESSÃO DE SENTIMENTOS E CATARSE EMOCIONAL


NOS PROCESSOS TERAPÊUTICOS

A arte exerce um importante papel de catarse na clínica terapêutica, pois vai


de encontro com processos psicológicos profundos, dos nossos arquétipos em que
simbolicamente confirmamos determinadas características e condições que diz
respeito ao inconsciente coletivo da humanidade, tendo, portanto, importância
contributiva na formação da nossa personalidade individual. O ser humano se

4 Extraído do link: www.portalsaofrancisco.com.br


24
desenvolveu com a arte e sua saúde não poderia estar dissociada dela. Quer
conhecer um pouco sobre os benefícios da arte na saúde física e mental?

“Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente


de cada um. É a liberdade de expressão; é sensibilidade, criatividade, é vida”
(Jung, 1920).

Desde os primórdios da humanidade, a arte esteve presente nas cavernas,


quando o homem ainda não tinha domínio completo da linguagem e da escrita,
apresentando, portanto, uma importância crucial nos processos de desenvolvimento
psíquico, filogenético, social e cultural da humanidade. Através da semiótica da arte
rupestre o homem pré-histórico foi capaz de transmitir informações entre si, no intuito
de garantir sua sobrevivência, além de ser recurso propiciador de vinculo social.
Esta arte estava interligada a economia, sendo também centro de comunicação
que perpassava as relações sociais quando o homem ainda não havia desenvolvido
nenhum código linguístico. Além da utilidade informativa e comunicativa, o homem
desejava também deixar sua marca à posteridade, por exemplo, quando se pintavam
as mãos e as anexava às paredes, deixando-se a marca indelével de uma possível
tentativa de autoafirmação, ou seja, sua assinatura, e quem sabe uma possibilidade
de eternidade. Sendo assim, a linguagem pictórica fez e ainda continua fazendo parte
do desenvolvimento evolutivo do homem enquanto espécie e de seu desenvolvimento
psíquico enquanto indivíduo. Estes estágios evolutivos da humanidade são
observados nos estágios de desenvolvimento psicomotor de nossas crianças, pois
estas rabiscam e pintam antes da obtenção da escrita, perpassando e revivenciando
o seu desenvolvimento individual enquanto criança, mas também enquanto espécie
durante o período evolutivo do homem.
Na condição de patrimônio da humanidade, e fazendo parte da formação
psíquica evolutiva da espécie humana, a arte vai de encontro também com processos
psicológicos mais profundos, dos nossos arquétipos em que simbolicamente
confirmamos determinadas características e condições que diz respeito ao
inconsciente coletivo, tendo também importância contributiva na formação da nossa
personalidade individual.
A linguagem artística apresenta uma semiologia própria, pois comunica mais
além que a linguagem falada ou escrita, pois se trata da comunicação das emoções,

25
do inconsciente, da ordem do indizível. Por este motivo, é utilizada com excelentes
resultados nos processos terapêuticos, sendo instrumento de catarse, na expressão
de sentimentos, pensamentos, ideias, fantasias, traumas e comportamentos
emocionais mal elaborados, que impulsionam o indivíduo ao movimento de
autoconhecimento, de cura e controle de alguma doença ou distúrbio. Na clínica
infantil, a arte é uma importante ferramenta pois viabiliza o vínculo terapêutico, já que
a criança ainda não é detentora de um discurso linguístico bem estruturado para falar
de sua queixa, dificultando, portanto, um vínculo terapêutico. Igualmente importante
são os casos traumáticos, onde em uma possível presença de dissociação
psicológica, perde-se partes de um todo vivido, em que um discurso dissociado
apresenta somente partes da cena do evento, pois determinados elementos, mais
dolorosos, escapam à luz da consciência, configurando-se um importante mecanismo
de defesa psíquico. Neste caso, a arte e principalmente a pintura, por não passar pelo
crivo da racionalidade e por ter livre passagem sem nenhuma criticidade do intelecto,
fazem emergir de maneira espontânea conteúdos psicológicos inconscientes que
estavam latentes ou que não encontravam uma forma de comunicação de maneira
tão precisa, visto que a linguagem escrita ou falada muitas vezes não dá conta do que
se tenta exprimir, sendo a produção artística, um excelente aparato na clínica.
Neste caso, a arte se mostra um importante recurso não só como meio de
autoconhecimento, mas também de catarse, melhorando a qualidade de vida do
paciente, promovendo sua inclusão social, aumentando sua autoestima e promovendo
uma vida mais gratificante e feliz. Por ser “alquímica”, transmuta sentimentos e
emoções, materializa medos, receios, fantasias, indo de encontro a nossa própria
essência, ao nosso eu, às nossas raízes genealógicas, históricas, sendo um
importante recurso de autotransformação, pois como foi dito anteriormente, conteúdos
que não eram da ordem da consciência passam a emergir de modo que possam
proceder uma desconstrução e ressignificação de elementos que, embora não
estavam à luz da consciência, não eram menos vivos e atuantes, muito pelo contrário.
Estes conteúdos que não estavam clarificados, trabalham de forma mais viva e forte,
exatamente por não estar no âmbito da consciência e consequentemente dificultando
o controle e elaboração deles. A partir da elucidação e conscientização deste, se pode
trabalhar elementos da história de vida do paciente, tais como dificuldades relacionais,
interpessoais, intrapessoais e familiares, bem como a ansiedade e o estresse do dia-

26
a-dia, resgatando através da arte o potencial criativo e ressignificando vivências do
paciente.
Psiconeurologicamente, através da produção artística, é dada ao paciente a
oportunidade do desenvolvimento da sensibilidade e da capacidade intuitiva, visto que
o exercício do hemisfério direito, a parte do cérebro responsável pela criatividade e
intuição pode ser treinada e desenvolvida através de competências que,
historicamente foram relegadas a escanteio pela cultura da racionalidade, do
pragmatismo, da intelectualidade e do raciocínio lógico como preponderastes em uma
sociedade ocidental capitalista, que visa a produtividade e o lucro.
Nos tratamentos psiquiátricos, a arte é uma ferramenta fundamental, pois os
portadores de distúrbios mentais, taxados pela sociedade como incapacitados e
improdutivos, e por consequência marginalizados, podem, através da produção
artística trabalhar os processos de cura, atribuindo sentido e significado à sua
existência, por sentirem-se úteis e produtores, ao mesmo tempo em que desenvolve
uma atividade psicolúdica na manifestação íntegra de seu ser e no resgate da sua
criança interior. O resultado deste processo não só proporciona o alivio de sintomas,
mas o trabalho ativo de conteúdos psíquicos subjacentes represados, encontrando
oportunidade de ressignificação através de novas (re) leituras da realidade e da
mudança de perspectiva neste tipo de abordagem psicoterapêutica.
Vale a pena salientar que a arte como ferramenta aplicada a clínica, é um
processo atentamente guiado, onde a tríade terapeuta, paciente e arte estão
intrinsecamente vinculados em um contexto com um fim específico de catarse,
expressão do sofrimento e elaboração de sentimentos, na desconstrução de padrões
de pensamentos e comportamentos que porventura contribuíram ao paciente o estado
de adoecimento. Existe quebra de paradigmas de suas vivências de modo a construir
novos padrões mais saudáveis, criando novas perspectivas e construindo uma nova
realidade que possa proporcionar o encontro do eu do paciente enquanto essência e
desta forma, buscando a harmonia e a saúde.
Importante ressaltar que a arte na clínica nunca deve ser considerada um
passatempo ou simples relaxamento, pois como foi exposto acima ela remete a fins
terapêuticos e resultados específicos. Não existe contraindicação para a utilização da
arteterapia, podendo ser utilizada em qualquer abordagem da clínica individual, em
psicoterapias grupais e em qualquer faixa etária, tais como o público infantil,

27
adolescente, adulto e idoso. Abrange qualquer condição socioeconômica e grau de
instrução, atendendo as mais diversas queixas, sejam de ordem física, psicológica ou
psicossomática, dentre elas as doenças autoimunes, a depressão, o Alzheimer,
problemas neuropsicofísicos em geral. Dentre as artes que participam nos processos
de cura, podemos citar a arteterapia (desenhos, mandalas, pintura, escultura e
trabalhos com argila), a musicoterapia (canto, instrumentos musicais), psicodrama
(teatro) e a biodança. O tipo de procedimento a ser utilizado vai depender da história
de vida do paciente, de sua queixa clínica, bem como de seus interesses, propensões
e limitações. Cada caso é um caso único, onde se necessita realizar todo um
procedimento personalizado para aquele paciente.
Pode-se utilizar uma mescla de recursos que a psicoterapia da arte oferece,
sempre respeitando as limitações e escolha do paciente. Vale a pena salientar que,
embora a Arteterapia ofereça recursos importantíssimos na clínica, ela é uma
ferramenta que não substitui um tratamento psicológico aprofundada.5
A Arteterapia é o uso das diversas linguagens artísticas, valendo-se do seu
amplo potencial criativo, mobilizador e facilitador do autoconhecimento, para promover
não só processos terapêuticos como também processos de desenvolvimento do ser
humano, nos mais diversos contextos.
O trabalho consiste em vivenciar linguagens artísticas diversas, como Desenho,
Pintura, Modelagem, Música, Expressão Corporal (dança, mímica, representação),
Escrita Criativa (textos, poesias), Mosaico, Recorte e Colagem, de maneira que as
pessoas possam ampliar suas formas de expressão.
A Arteterapia não exige e não ensina técnica artística, valendo-se da arte não
como produção artística, mas como linguagem. Os trabalhos não têm nenhuma
pretensão técnica, funcional, estética ou comercial. O objetivo é estimular a
autonomia, a ousadia, a autopermissão, o contato e a expressão. Assim, numa sessão
de Arteterapia são legitimadas trocas espontâneas da linguagem artística utilizada,
bem como o uso simultâneo delas num mesmo trabalho, interrupções, “estragos”,
tentativas incomuns, ousadias, frustrações, incompatibilidades. O arteterapeuta vem
não como instrutor ou apreciador, mas como ouvinte do que o cliente diz com sua arte.
Proporcionando que através dela ele fale. O que for. Com qualquer cor, forma, textura,

5 Extraído do link: www.psicologiasdobrasil.com.br


28
falhas, manchas, gestos, sons, buracos, rasgos ou mesmo com os também
significantes e legítimos “silêncios artísticos”.
Com a Arteterapia o cliente amplia e exercita ativamente seus canais de contato
com seus conteúdos internos, acessando-os através de suas expressões artísticas.
Ao arteterapeuta não cabe interpretar a arte espontânea para o cliente e sim
despertar-lhe o interesse em descobrir o que lhe dizem suas próprias produções.
Sendo surpreendido pelo inesperado que visualiza ou sente nas suas atividades, o
cliente vai começando a identificar elementos dos quais por vezes ainda não se dá
conta e também percebendo novas possibilidades e alternativas de ação em seu
contexto de vida. Percebendo-se autor de suas produções artísticas, vai sendo situado
como determinante também do seu processo, passando de uma posição passiva para
uma proposta ativa. O “Fazer Artístico”, além de convidar a percepções, vai também
evidenciar que há possibilidades de transformação que se experienciam na atividade
artística, se vislumbram a partir dela para se esclarecer, elaborar e fortalecer no
processo, para então, realizarem-se na própria vida.6

10 PROJETO DE INCLUSÃO PELA ARTE PERMITE QUALIDADE DE VIDA A


TODOS OS CIDADÃOS

10.1 Atividades envolvendo música, dança, pintura, desenho, poesia e teatro


proporcionam o desenvolvimento da autoestima, igualando os indivíduos

A arte tem a capacidade de igualar e inserir todos na sociedade. Com ela, as


pessoas podem demonstrar seus sentimentos, aflições, desejos e habilidades,
independentemente de suas limitações, sejam elas físicas ou psicológicas. Atividades
envolvendo música, dança, pintura, desenho, poesia e teatro proporcionam o
desenvolvimento da autonomia e da autoestima. A arte funciona, inclusive, como
terapia, chamada de arteterapia, com ênfase em trabalhos corporais, sendo uma
forma de auto expressão.
A arteterapia, de acordo com a Associação Brasileira de Arteterapia, é um
modo de trabalhar utilizando a linguagem artística como base da comunicação. Sua
essência é a criação estética e a elaboração artística em prol da saúde. Utiliza, para

6 Extraído do link: www.clinicasatto.com.br


29
isso, as linguagens plástica, sonora, dramática, corporal e literária. É aplicada na
avaliação, no tratamento, na prevenção, reabilitação e educação de pessoas
especiais. O campo de atuação da arteterapia estende-se às diferentes organizações,
por exemplo, saúde, educação, comunidade e profilaxia, permitindo qualidade maior
de vida.

10.2 Movimentarte

O projeto Movimentarte, desenvolvido pela professora de dança Flora


Bitancourt, tem o intuito de levar a dança para as pessoas com Síndrome de Down. A
partir dos estudos, os alunos vivem o aprimoramento da consciência corporal e o
equilíbrio mental. O projeto divulga e difunde a prática da dança através de aulas,
palestras, oficinas e workshops para mostrar a importância da Dançaterapia no
desenvolvimento das pessoas com deficiência intelectual. Visa promover todos os
benefícios derivados da vivência da arte, buscando, acima de tudo, a autoafirmação
e valorização da autoestima dos alunos participantes.
“A dança conecta as pessoas com elas mesmas, entra no lugar do
inconsciente. Na primeira aula, já senti o quanto a minha energia, o meu amor e a
minha identificação neste trabalho faziam diferença na vida deles. O resultado é
incontestável. Alunos que eram introvertidos e não falavam, passaram a namorar,
melhorar as amizades e até a melhorar no âmbito escolar por passarem a ter
consciência do corpo. É uma pratica que desenvolve a sensibilidade, sociabilidade e
criatividade. Estou na luta em busca de patrocinadores. Quem banca as oficinas são
os pais, mas a minha ideia é que seja gratuita para todos”, comenta Flora.
O projeto Movimentarte realiza aulas semanais, buscando desenvolver todos
os benefícios derivados da dança e contribuir para que o aluno possa ampliar sua
capacidade de aproveitamento dos demais processos pedagógicos, visando uma
formação integrada e humana.

10.3 Contra compulsão, criação

O Contra Compulsão, Criação, conduzido pelo arteterapeuta Paulo Cezar


Corrêa Antunes, envolve dependentes químicos em recuperação, pessoas com

30
bipolaridade, depressão aguda e outras doenças psicológicas e psiquiátricas. Mas o
projeto não se limita a esses casos. Indivíduos que tenham dificuldades em tomar
decisões, finalizar atividades ou em lidar com seus próprios sentimentos também
podem participar das oficinas itinerantes ou no ateliê, localizado na Tijuca, bairro do
Rio de Janeiro.
“O projeto é contemplado com recursos das sete artes. São utilizados materiais
plásticos, recicláveis, poesia, música e, agora, com o advento da informática, misturo
muito a fotografia com o recurso da cibernética. A minha função é ser um facilitador
no processo de amplificação do olhar da pessoa para vida ou para o problema que ela
está vivendo. Vejo que a arte coloca o ego do tamanho perfeito. O adicto, de forma
geral, vai perder o ego, cair para as doenças; ou perder para o ego, vai roubar, vai
cometer estelionato, e até mesmo morrer. Então, a arte e a criação são reguladoras
do ego. Através da aceitação, ela começa a ter outra atitude, o posicionamento dela
perante ao mundo, no meu ver arteterapeutico”, afirma Paulo.

10.4 Música no Silêncio

Com a ajuda de intérpretes da Língua Brasileira de Sinais, belas canções são


transmitidas a pessoas que possuem deficiência auditiva, mas que, mesmo assim,
conseguem sentir e se emocionar com a letra das músicas. A fonoaudióloga Claudia
Cotes, idealizadora do Música no Silêncio, faz parte da ONG Vez da Voz, em São
Paulo, fundada em 2004 com o intuito de promover a interação entre pessoas com e
sem deficiência. A gravação dos vídeos começou em estúdio, depois passou a ser
feita também em parques e jardins.

10.5 VOXploration Em Cena

Criado pela compositora Clarice Assad e a atriz Andrea Santiago, o


Voxploration em Cena é a união da voz e do corpo como instrumentos da arte. É um
movimento que visa explorar a energia criativa em si e como ela se manifesta
individualmente e em conjunto. Para isso, são trabalhadas texturas, dinâmica,
compassos, ação e reação, diferentes gêneros musicais, enquanto, em cena, são
feitos aquecimento individual, conscientização do espaço e reconhecimento do outro.

31
Com o objetivo de fazer com que cada indivíduo possa fazer descobertas pessoais
pelos caminhos da música e do teatro, deixando para trás censura estética e a
preocupação com o certo e errado, o importante é utilizar seus próprios recursos como
fonte artística e ter a capacidade de transformar sua presença na sociedade.7

10.6 Para Mulheres

O Ateliê de arteterapia para Mulheres é um processo terapêutico em grupo


baseado na arteterapia de abordagem junguiana. Propõe um mergulho criativo,
expressivo e simbólico no universo da mulher por meio de linguagens e técnicas
variadas. Uma viagem para dançar, pintar, escrever, colar, modelar, brincar, imaginar,
reinventar-se, redescobrir-se, ampliar-se, acordando e acolhendo o ser criativo-- que
você é. Reúne mulheres de diferentes idades e fases num espaço criativo de
acolhimento e troca de experiências que favorece o reconhecimento de aspectos
estruturais relacionados ao amadurecimento corporal e psíquico, a afetividade, a
amizade e um profundo sentimento de pertencimento. É um espaço ritual, capaz de
nos reconectar e harmonizar com os ciclos da natureza, dentro e fora de nós. E é este
o convite: ritualizar jornadas interiores por meio da arte e celebrar as estações da
alma! Faça uma aula aberta e conheça a proposta!
TÉCNICAS E LINGUAGENS: artes plásticas, escrita criativa, tarô pessoal,
mandalas, sonhos, dança circular, dança pessoal, quantum dance, contos e lendas,
deusa pessoal, tarô das forças femininas, meditação, jogos corporais e dramáticos,
imaginação ativa e exercícios de conscientização e liberação corporais.

10.7 Teatroterapia

Teatroterapia é uma metodologia que vem sendo desenvolvida desde 1994


cuja base psicológica é a teoria junguiana - pautada na expressão e no estudo de
imagens interiores - favorecendo o contato com imagens internas prospectivas que
serão expressas por meio da linguagem teatral e seus recursos. Imagens míticas,
arquetípicas, simbólicas e metafóricas, análogas, em certa medida, à estados da
alma. Para Jung "a alma se expressa por meio de imagens". Libertar, expressar e

7 Extraído do link: redeglobo.globo.com


32
movimentar tais imagens pode então conduzir a novos caminhos, imbuídos de Sentido
diante da vida, à revelia das imagens e desejos vindos do Ego, que nem sempre
alcançam o mesmo fim.

Fonte: analisedehoje.wordpress.com

Desse modo, Teatroterapia faz uso da linguagem teatral em prol da expressão,


organização e maior compreensão das emoções e do corpo em estado expressivo. E
reúne a linguagem teatral à uma abordagem simbólica e arquetípica, que auxilia na
compreensão da dinâmica dos arquétipos, em seus aspectos de luz e sombra,
proporcionando insights, ampliações e apropriações de aspectos antes relegados,
gerando um estado de maior equilíbrio pessoal.

TÉCNICAS E LINGUAGENS: Jogos teatrais, improvisação, bonecos,


miniteatro, dragões e arquétipos pessoais, dança livre, jornada do herói, dramatização
de sonhos, poesia, literatura, quantum dance, imaginação ativa, escrita criativa e
muito mais.

10.8 Ateliê Individual

As sessões individuais de arteterapia tem uma abordagem lúdica e simbólica


que leva ao contato e ao reconhecimento de imagens interiores transformadoras.
33
Estimulam a reelaboração de processos internos e um olhar mais criativo e ampliado
sobre a vida, além de favorecer o autoconhecimento e a criatividade. O trabalho
individual é recomendado para pessoas que tenham uma queixa ou problema
específico a ser trabalhado ou pessoas que se sentem inibidas em processos em
grupo. Acima de 14 anos.

TÉCNICAS E LINGUAGENS: caixa de areia (SANDPLAY), escrita criativa,


técnicas de respiração e relaxamento, artes plásticas, mandalas e imaginação ativa.8

11 OFICINA ARTETERAPÊUTICA - MANDALAS

A Arteterapia é uma modalidade terapêutica que tem por objetivo trazer ao nível
da consciência ocorrências inconscientes que precisam ser confrontadas. Segundo
Carl G. Jung, todo material inconsciente se manifesta por meio de imagens, daí a
importância da arte no processo terapêutico. Através da linguagem artística é possível
lançar luz sobre esse material, para que ele possa ser devidamente elaborado - por
meio da reflexão e desdobramentos - e integrado no plano da consciência. De outro
modo, o fazer artística, por si só, também é capaz de acionar processos internos
capitais para o bem-estar psicológico, transformando a energia psíquica e
equacionando ocorrências íntimas.
Diferentemente de uma oficina técnica, que tem por finalidade a elaboração de
um produto com qualidades definidas por um modelo, a oficina arteterapêutica tem
por objetivo elaborar um produto espontâneo e autêntico, a partir do qual possamos
nos reconhecer, questionar e realizar.
Apesar de não poder ser compreendida como terapia no seu sentido mais
amplo, o atendimento arteterapêutico modelado em oficinas pode servir como um
desdobramento eficiente para aqueles que já se encontram em terapia de modo
contínuo, auxiliando no processo ao oferecer uma vivência diferenciada, em termos
espaciais e de abordagem, e em conjunto com outras pessoas.
Se na oficina técnica, aprendemos a percorrer um caminho sinalizado e
eficiente, na oficina arteterapêutica trabalhamos nosso próprio caminho, seja por meio

8 Extraído do link: anashavanessa.wixsite.com


34
de técnicas que já fazem parte do nosso repertório, seja por meio da experimentação,
mas sempre com base na nossa expressão pessoal mais verdadeira e franca.

11.1 O Simbolismo da Mandala

Foi em 1954 que Nise da Silveira escreveu uma carta para Carl G. Jung, em
busca de esclarecimento para a recorrência de determinado forma na produção dos
pacientes do hospital psiquiátrico de Engenho de Dentro, local onde trabalhou e
pesquisou por longos anos. Essas formas eram circulares, ora harmônicas, ora
caóticas. Nise já havia identificado essas formas com a forma das mandalas antes
mesmo de receber a resposta de Jung, que confirmou sua suspeita. Jung também
acrescenta que a mandala representa uma compensação do inconsciente no sentido
de organizar alguma possível desordem da psique.
Na forma circular da mandala, por não ser possível determinar um local de início
e término de sua borda periférica ou qual sua área superior e inferior, a noção de
totalidade e completude se afirma, sugerindo uma rotação que unifica e harmoniza as
partes.
A rigor, a palavra mandala significa círculo mágico, cuja função seria a proteção
daquilo que suas margens contêm, evitando sua debandada e impedindo que seus
conteúdos internos sofram possíveis influências de elementos contaminantes. Em
termos psicológicos, a mandala representa a totalidade da personalidade, que
compreende tanto o material consciente quanto inconsciente. Assim sendo, construir
uma mandala, além de auxiliar na organização dos processos psíquicos, também
pode ajudar a esclarecer sobre os conteúdos mais profundos da psique.9

12 A TERAPIA DA ARTE

Diferentes meios artísticos estão sendo usados como uma forma de lidar com
barreiras pessoais e buscar a resolução de conflitos interiores difíceis de serem
verbalizados.

9 Extraído do link: www.sympla.com.br


35
A arteterapia é um tipo de psicoterapia que usa a arte como veículo de
expressão, define a psicóloga e arteterapeuta Simone Topke. “Em vez de apenas falar
de seus problemas e questões, o paciente transmite, por meio de materiais, o que
sente. Muitas vezes a palavra é insuficiente para dar forma e sentido a alguns
aspectos psíquicos vivenciados no início de nossa vida, quando éramos bebês, e
ainda não tínhamos acesso à linguagem verbal”, afirma.
Reconhecida nos Estados Unidos há várias décadas como profissão, a
Arteterapia está em processo de regulamentação no Brasil. Mas vários estados já
formaram as primeiras turmas de pós-graduados, um pessoal que atende usando
como ferramentas a colagem, a escultura, a tecelagem, a pintura, a modelagem, a
expressão corporal, o teatro, a dança, a música, a poesia e até a mímica.
Diferente da Educação Artística, que visa a arte, a arteterapia usa
fundamentalmente as artes plásticas como veículo para possibilitar mudanças
psíquicas, a resolução de conflitos emocionais e o desenvolvimento do
autoconhecimento. O arteterapeuta Celso Luiz Falaschi, mestre em Educação e
Doutor em Psicologia, explica que cabe a cada terapeuta, conduzir o processo e
verificar o que é importante naquele momento. “A expressão plástica permite que o
paciente materialize um conteúdo interno e, quando isso acontece, imerge a
compreensão dos conflitos. ” Ele lembra que além do uso dos materiais plásticos,
fazem parte da arteterapia técnicas de relaxamento e meditação, importantes para o
contato com o eu interior de cada um.
Cada material usado tem a sua finalidade terapêutica, conforme explica Simone
Topke. “A argila trabalha muito os aspectos de realização, de concretização de ideias.
Já a aquarela, por conter o elemento água, permite trabalhar a fluidez psíquica ou
aspectos de nossa vida que muitas vezes escapam de nosso controle. Trabalhos com
fundição, que usam o fogo, são bons para vivenciarmos e refletirmos sobre o processo
de mudança, em que precisamos nos preparar para enfrentar o novo, o desconhecido.

12.1 Aplicação

A arteterapia pode ser inserida em contextos que incluem reabilitação,


instituições médicas, centros de recuperação, escolas e instituições sociais, entre

36
outros. Segundo a psicóloga e arteterapeuta Fabíola Gaspar, o processo criativo pode
ser utilizado na solução de qualquer dificuldade, como a de ordem psicomotora,
cognitiva, de comunicação, relações sociais e conflitos emocionais. “O importante é
acordar as potencialidades que já temos, às vezes adormecidas. Quando as
despertamos, temos a força para enfrentar os desafios da vida e alcançarmos sonhos
e metas”, completa.10

13 PENSANDO SOBRE A COLAGEM NA ARTE E NA ARTETERAPIA

A colagem é uma técnica/linguagem muito utilizada em Arteterapia, e é, com


frequência, um dos primeiros trabalhos sugeridos no setting por ser considerado mais
“seguro” do que a pintura, por exemplo. Quem já passou pela Arteterapia como cliente
já deve ter se deparado com a sugestão de criar uma “colagem de apresentação”.
Para começarmos a pensar sobre a Colagem e a Arteterapia, é preciso
entender que esta ingressa na História da Arte na Arte Moderna, sendo utilizada até
os dias de hoje, com técnicas, abordagens e intenções múltiplas. Como a História da
Arte é sempre o meu ponto de partida para pensar as técnicas plásticas, sugiro ao
leitor um breve passeio pelas obras de Matisse, Picasso, Braque, Juan Gris, Ernst,
Schwitters e Arp, e dos poetas Jorge de Lima e Ferreira Gullar. Neste breve texto
citarei apenas alguns, mas fica a dica...
Juan Gris, artista cubista, “tal como Braque, disse ter sido atraído para a
colagem por causa do sentimento de certeza que lhe proporcionava. [...] Braque se
refere aos fragmentos de papel que, mais tarde, foram incorporados aos desenhos
como suas ‘certezas’. (GOLDING, p.46-52). Mais uma vez nos deparamos com o
sentido de “segurança” da técnica.
Podemos pensar também sobre a questão de se estar trabalhando com “algo
que já existe”, “fora”, ou seja, imagens de revista, papéis coloridos, que não irão exigir
do cliente habilidades de desenho, pintura, conhecimento de mistura de tintas, ou ter
que “tirar”as imagens de “dentro”.
Yves Tanguy, artista surrealista, fala da pintura e do desenho com uma
abordagem interessante, dizendo que a pintura traz mais “surpresas”. Neste caso, ele

10 Extraído do link: www.gazetadopovo.com.br


37
também se refere à pintura como “menos segura”. Podemos refletir sobre isso ..., mas
dificilmente encontraremos respostas definitivas. Cada artista e cada cliente irá lidar
com os materiais e as técnicas de arte de modos particulares. O que para um parece
assustador, para outro se mostra um prazer. Por exemplo, enquanto uma pessoa se
sente confortável em buscar imagens prontas e recriá-las numa colagem, para outra
esta pode se mostrar uma tarefa angustiante, buscando nas revistas ou caixas de
recortes a imagem que já tem em mente, preferiria, talvez, criá-la a partir da sua
imaginação.
E, se o cliente gostar tanto de colagem e passar anos em terapia explorando
uma única linguagem? Ele estaria limitado? Congelado? Defensivo? Ou simplesmente
encontrou a sua expressão? Deveríamos sugerir que "Rodin virasse pintor ou Monet
escultor?" Será que podemos fazer esta analogia entre artistas e não-artistas? Eu
arriscaria que, neste aspecto, sim.
Também podemos levar em consideração o caso de o cliente ser alérgico a
tintas ou ter algum impedimento para pintar. Tenho uma amiga que passou por isso,
pintou durante décadas e veio uma alergia que a impediu de continuar. Infelizmente
não fez como Matisse, que em 1939, recorreu à colagem fazendo recortes com
catálogos de tinta. Posteriormente passou a usar papéis pintados com guache,
usando a tesoura como lápis ou pincel. Matisse diz: “Cortar diretamente na cor faz-me
lembrar o trabalho de escultores em pedra. ”
Hans Arp, artista dadaísta, e Ferreira Gullar, poeta e artista diletante, passam
por uma experiência semelhante no que diz respeito à colagem e ao acaso na criação.
Em episódio frequentemente citado, Arp insatisfeito com um desenho rasga-o em
pedaços que caem no chão e se surpreende com a expressão da organização
“acidental” e aceita o acaso. Gullar muda seu processo de colagem, que fazia a partir
de um desenho prévio, a partir de um “acidente” com o gato que, ao passar,
desarrumou seus recortes. Passou a criar jogando os recortes para cima e aceitando
o acaso na criação, como Arp. Este processo também deu origem às suas colagens
em relevo.
Ernst, artista surrealista, já traz uma outra abordagem da colagem. Diz: “a
técnica da colagem é a exploração sistemática do encontro casual ou artificialmente
provocado de duas ou mais realidades estranhas entre si sobre um plano
aparentemente inadequado, e um cintilar de poesia que resulta da aproximação

38
dessas realidades. ” [...] e continua, “fracionar e rejuntar, como faz a colagem, não
repõe a unidade quebrada. Ela não pasteuriza nem pacifica. Não tem vocação
democrática se isto for entendido como união de todas as diferenças. Há diferenças
que não cabem em determinadas formas, mas cabem em outras. ” ((Richter, 1993. P.
63).
Acredito que a segurança na colagem seja relativa e que toda a expressão
plástica nos reserva grandes surpresas. E talvez a técnica deva ser escolhida pelo
cliente desde o primeiro contato, para onde o seu desejo aponta. Mas como coloquei
no início deste texto, não tenho respostas, mas “uma colagem” de pensamentos ainda
em construção e, claro, um pequeno recorte diante de um tema imenso.11

13.1 A Música, Linguagem da Vida

A música faz parte da vida de todos os seres humanos, desde a gestação.


Assim, depois do nascimento, quanto mais cedo a criança tiver contato direto com ela,
melhor será o seu desenvolvimento intelectual e cognitivo. Mas apenas colocar
música para a criança ouvir ou cantar com ela é o suficiente? A única das coisas de
que temos certeza é que, a música fazendo parte da vida cotidiana e sendo a forma
de expressão mais pura do ser humano, deve estar ao alcance de todos. Por isso foi
sancionado em 2008 um projeto de lei, incluindo-a obrigatoriamente na grade
curricular de toda a educação básica.
Mas afinal, quais são os objetivos das aulas de música dentro da escola?
Segundo a musicoterapeuta, psicopedagoga, arteterapeuta e educadora do
Colégio Horizontes, Andreia Bagi, a musicalização infantil gera mudanças
significativas e positivas na formação da personalidade do indivíduo. O objetivo
dessas aulas nas escolas regulares não é a de formação de músicos, mas sim de
proporcionar um espaço que auxilie no processo de construção do conhecimento,
onde a criança possa aprender a ouvir, perceber, descobrir, imitar, explorar, criar,
sentir e principalmente apreciar a música.
Além das noções básicas, as crianças entram em contato com diversos
instrumentos musicais, aprendem ritmos, músicas do folclore de diversas partes do

11 Extraído do link: flaviahargreaves.blogspot.com.br


39
país e do mundo conhecendo a diversidade cultural, ampliando seu repertório, o que
inclui desde jazz, rock e música erudita.
Em um trabalho multidisciplinar, é possível integrar as diversas áreas através
da música, como nas aulas de inglês, português, matemática, história, ciências entre
outros, explorando os instrumentos musicais, criando letras de canções e conhecendo
a linguagem musical. Por ser uma atividade espontânea e criadora, possibilita às
crianças, vencerem suas próprias inibições, atingindo o desenvolvimento pleno de sua
criatividade e liberdade de expressão, de acordo com suas condições e
potencialidades.
Através do contato com os instrumentos musicais trabalha-se a coordenação
motora ampla e fina, a movimentação natural, a sociabilização, a formação de
repertório e a construção de conceitos de propriedades sonoras e musicais, entre
outros. É um momento extremamente importante também para as crianças com
necessidades especiais, que podem se expressar e se sentir parte do grupo.12

14 ARTETERAPIA: A ARTE E O SEU PODER DE CURA

Na arteterapia, os trabalhos não buscam a estética, mas a experiência artística.


Não é necessário que o traço fique perfeito, tampouco, que as técnicas sejam
utilizadas e os quadros fiquem bonitos. “Nosso objetivo é que os alunos estejam em
evolução e sintam-se bem”, explica a arterapeuta, Joseane Sorgatto.
Em 2009, a artista plástica especializou-se em arteterapia no município de
Bagé (RS). “Quando eu fui para a faculdade, tive muito medo de errar e não fazia para
não errar. Quando eu fui pra arteterapia aprendi a me divertir com a arte, essa foi a
minha grande volta e esse é o meu objetivo maior com os alunos”, explica.
Joseane atende a um público muito grande de crianças, que encontram na arte
uma maneira de se refugiar da sua própria rotina. Contudo, a professora destaca que
a arteterapia não substitui o psicólogo, mas trabalha junto. “A arte é lúdica e, ao
mesmo tempo, trabalha muito a linguagem do inconsciente, então, ela põe para fora
aquilo que não sai em palavras ou em ações. E a gente acaba desenvolvendo coisas

12 Extraído do link: educacao.estadao.com.br


40
que às vezes a família não consegue, como o poder de escolha, autonomia,
segurança”.
Nas aulas de arteterapia, desenho, pintura e uma infinidade de atividades são
realizadas. Como educadora, Joseane afirma que às vezes é necessário mudar
totalmente o foco da aula para que os alunos consigam relaxar e se divertir. “Quando
eu percebo que as crianças estão muito cansadas ou muito agitadas, eu mudo o foco.
Quando é preparatório de provas e eles estão nervosos, a gente faz uma atividade
individual. Talvez essa seja a fórmula diferenciada do nosso trabalho. Não é só pintar,
mas, principalmente, buscar a felicidade, queremos que as crianças saiam felizes com
o seu trabalho”.
Algumas vezes, a criança está com dificuldades de se desenvolver na escrita,
leitura e comportamento. “Se ela não está atingindo o auge a ponto de ganhar um
elogio, na arte ela vai conseguir. Com isso, vai se sentir segura e vencer os desafios”,
conta Joseane, explicando que a arteterapia consegue empoderar as pessoas.
As aulas, geralmente, têm dois momentos, um em que a escolha é do aluno e
outro que é imposto pela professora. “Quando eu quero provocar alguma coisa ou
quando acho que aquilo vai ajudar em alguma atividade, então eu proponho, é sempre
uma troca”.
A arte na criança trabalha diversos aspectos, como: organização motora,
desenvolvimento da criatividade, concentração, percepção, observação,
comportamento das pessoas. “A criança que trabalha com arte é menos consumista,
porque ela é acostumada com imagem, isso não é mais primário”.
Em pessoas adultas, a arte também pode curar. “A arteterapia pode servir para
diversas coisas: auto estima baixa, dificuldade de concentração, hiperatividade, serve
para adultos estressados, com limitação motora e depressão”.
Para quem sofre com o mau do século, a depressão, a arteterapia pode ser
uma importante aliada para a cura. “Isso porque a pessoa vai produzir e vai se sentir
mais confiante, mais produtiva, a depressão vem muito de você não se sentir
importante, útil. Já tive alunos que vieram para cá e pararam de tomar antidepressivo.
A melhora foi gradual, mas a arte teve uma contribuição fundamental”, afirma.
A arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na
atividade artística e terapêutica é enriquecedor da qualidade de vida das pessoas.

41
A arteterapia também pode ser utilizada na reabilitação de pessoas com
dificuldades motoras. “O que acontece, muitas vezes, é que a pessoa está em casa
debilitada e limitada apenas a assistir TV. Com a pintura, o desenho e outras técnicas
utilizadas durante as aulas, o resultado é muito interessante. Além do
reestabelecimento motor, a arteterapia trabalha a parte cognitiva com a escolha das
cores, uso do pincel ou de outros materiais”.
Porém, Joseane ressalta que a técnica da arteterapia não precisa ser
direcionada apenas como auxílio de doenças, mas para a prevenção. “Ela pode ser
apenas uma atividade para pessoas que buscam viver melhor”.13

15 A POESIA NA ARTETERAPIA: O VERBO EM DELÍRIO

“A poesia é o que permite o real, ainda que hoje o real a oculte, entulhado na
rotina dos sistemas”. A afirmação do poeta e contista Márcio André é contundente e
pode parecer inverossímil para os que têm pouca ou nenhuma intimidade com a
poesia. Há os que separam poesia e arte, como se a poesia não fosse arte, como se
não fosse ela uma linguagem primordial, como se sua origem não se confundisse com
a própria origem da linguagem. O músico e poeta Arnaldo Antunes, em um artigo
sobre o tema, afirma que “talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem
verbal deixou de ser poesia”, ou questionar a origem do discurso não poético.
Costumam me perguntar se, no contexto da Arteterapia, a poesia é considerada
arte. Afirmo que sim, mesmo reconhecendo que ela ocupa um lugar muito discreto,
apesar de ser uma linguagem artística primordial. Felizmente, na minha formação em
Arteterapia ela esteve presente, e pude, assim, confirmar o que a experiência de vida
já me mostrara, uma vez que a poesia chegou cedo na minha vida.
Devo confessar que o que li a respeito da poesia no contexto arteterapêutico,
durante a formação, estava bem aquém do potencial curador da poesia, talvez porque
faltasse ao autor uma intimidade maior com esse gênero literário e não tenha podido
olhá-lo com uma percepção mais ampla. Mas a verdade é que a poesia é uma ponte
maravilhosa entre o mundo visível e o mundo invisível e, como todas as modalidades
artísticas, tem o poder de tocar o intangível, o invisível.

13 Extraído do link: www.diarioriodopeixe.com


42
Arnaldo Antunes sugere que talvez a poesia possa ser considerada a infância
da linguagem, “antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando
duas metades – significante e significado”. Esse ponto de vista é muito interessante e
pertinente. Quando “poetizamos”, libertamo-nos da percepção linear que vamos
adquirindo ao longo da vida. Colocamos em funcionamento o lado direito do cérebro,
responsável pela criatividade, pela intuição, pela expansão do olhar.

Fonte:www.osul.com.br

Podemos fazer um paralelo entre a poesia e os desenhos infantis, pré-


alfabetização, quando a espontaneidade e a singularidade são marcas libertadoras da
alma. Uma criança, nos seus primeiros anos de vida, antes de ser alfabetizada,
desenha uma árvore de copa azul e um sol verde com pequenas flores vermelhas. À
medida que as “regras” lhe vão sendo inseridas, a copa da árvore torna-se,
invariavelmente, verde e o sol amarelo. Ponto. Mas, então, vêm os artistas, vêm os
poetas, e “enlouquecem o verbo”, como diria o poeta Manoel de Barros. Os poetas
trazem a insanidade para as palavras, revelam o que a palavra reta não sabe revelar.
Trazem do inconsciente símbolos de uma riqueza incomensurável para o auto
reconhecimento. Retratam-se e ao mundo tendo por base outra ou outras realidades.
Rosas azuis, cílios falantes, sol com rubores na face, xícaras falantes, e instala-se,
assim, novamente a infância da linguagem, revelando feridas, reacendendo
esperanças.
43
Costumo sempre lembrar que a poesia foi o meu “primeiro deus”. Eu, que
descria do deus que me foi ensinado e tinha dúvida sobre a existência de algo que
transcendesse a existência humana, encontrei na poesia, ainda na pré-adolescência,
aspectos metafísicos, elementos que transcendiam o mundo fático. Ali havia algo
sobre o qual eu me debruçava reverentemente. O indizível – que já era causa de
tantas das minhas precoces angústias – estava dito ali. Aquilo me acalmava. Aquilo
impregnou meu olhar. Aquilo tomou minha alma, minhas mãos e foi se dizendo aos
poucos no papel branco, o qual eu mirava, serena, pensando depois: “O que eu
precisava dizer foi dito”. Ainda que ninguém entendesse. Porque havia em mim um
tanto de coisas sem nome, um tanto de angústias sem face, um mundo bastante
diferente daquele outro onde eu precisava existir.
Ilya Prigogine, prêmio Nobel de física, afirmou que a realidade é somente uma
das realizações do possível. E o poeta Marcos André reafirma isso ao citar que “a
ciência explica que a lua é um satélite. Mas esta não é a lua, é uma das facetas da
lua. A lua é isso e muito mais”. Muitos cientistas já se dão conta hoje do absurdo que
é a realidade.
Mas é possível utilizar a poesia na arteterapia? Sim, é. A leitura de um poema
pode fazer emergir memórias adormecidas, através de símbolos, pode ajudar a dar
forma àquilo que não sabemos ao menos nomear, pode expandir a consciência, fazer
que retornemos à infância, nos seus aspectos mais essenciais para o equilíbrio, a
saúde, quais sejam, a espontaneidade, a singularidade, a criatividade, a essência do
que verdadeiramente somos, da qual nos perdemos.
É possível criar poesia, escrever, ao longo do processo arteterapêutico? Sim,
também. A poesia transmite níveis de comunicação muito acima da literalidade.
Trabalhar com poesia é trabalhar com o imaginário. Para quem nunca tentou, é fácil
começar com associações livres, sem recear o “absurdo”, o “ilógico” Há muitas outras
técnicas que, associadas à poesia, descortinam partes significativas do universo
simbólico do inconsciente.
Um dos poetas, na minha opinião, que mais demonstram o quanto o fazer
poético pode ser curador, remetendo-nos ao mito da origem, é Manoel de Barro. Em
sua poesia, sempre está, mesmo nas entrelinhas, a necessidade do “desaprender”
para alcançarmos a essência do que somos nós. O mito primordial da origem pulsa
na poesia de Barros. E segundo Elíade, “ o retorno à origem permite um novo

44
nascimento místico, o qual conduz à possibilidade de renovar e regenerar a existência
daquele que empreende sua busca”. Na poesia de Barros, a origem, a perfeição, está
na criança. Não é, portanto, por acaso que entendo a Arteterapia como uma
abordagem que busca curar as feridas mais profundas, escondidas, cuja origem,
muitas vezes, encontra-se na passagem da infância, com inúmeras possibilidades de
realidade, para o adulto, que caminha reto e se perde dos potenciais criativos no meio
do caminho.14

16 TÉCNICAS DE FOTOTERAPIA NA COUNSELING E EM PSICOTERAPIA

As técnicas de Fototerapia utilizam fotos de família e as fotos feitas pelo próprio


paciente que está fazendo psicoterapia --- juntamente com os sentimentos,
lembranças, pensamentos e as informações que estas fotos evocam — como
catalizadores na comunicação terapêutica.

16.1 A vida secreta das fotos pessoais e das fotos de família

Toda foto que uma pessoa tira ou guarda é também um tipo de autorretrato, um
tipo de “espelho com memória” que reflete aqueles momentos e aquelas pessoas que
foram tão especiais que mereceram serem fixados para sempre no tempo.
Consideradas coletivamente estas fotos tornam visível o fluxo das estórias da vida
destas pessoas e servem como rastro, trilha, impressão visual que mostram onde
estas pessoas estiveram (seja emotivamente como fisicamente) e talvez acenem para
onde elas se encaminham. Até mesmo as reações das pessoas a cartões postais,
fotos de revistas e fotos tiradas por outras pessoas podem fornecer uma chave
reveladora dos segredos da vida interior destas pessoas.
O verdadeiro significado de uma foto se encontra não tanto nos seus aspectos
visíveis e sim nas evocações que os detalhes destas fotos suscitam na mente e no
coração de cada observador. No momento em que se observa uma fotografia, a
pessoa na verdade cria espontaneamente o significado que imagina resultar da
imagem fotográfica, e este significado pode ser diferente daquele que o fotógrafo

14 Extraído do link: arteterapia-poesia.blogspot.com.br


45
intencionava transmitir. Por isso o sentido (e a linguagem emotiva) de uma foto
depende sobretudo de quem a observou, dado que a percepção individual e a
experiência de vida de cada um enquadra e define aquilo que se “vê” como real.
Consequentemente a reação que uma pessoa tem de frente a uma fotografia que ela
considera especial pode revelar muito sobre si mesma, se forem feitas as perguntas
adequadas.

16.2 Como o terapeuta utiliza a fotografia para ajudar a curar as pessoas

A maioria das pessoas guarda suas fotos sem nunca perguntar-se o porquê.
Mas, justamente porque as fotografias pessoais registram para sempre os momentos
importantes do quotidiano (e as emoções inconscientes associadas a estes
momentos), elas podem servir como pontes naturais para dar acesso, para explorar e
comunicar os sentimentos e as lembranças (incluindo aquelas que foram
profundamente enterradas ou há muito esquecidas), juntamente às temáticas
terapêuticas que estas lembranças e sentimentos trazem à tona. Os terapeutas
consideram que as fotos dos seus pacientes funcionam, frequentemente, como
construções simbólicas e objetos de metáfora transacional que oferecem “insights”
silenciosos do mundo interior de uma maneira que as palavras sozinhas simplesmente
não poderiam jamais representar ou decodificar.
Sob a direção de um psicoterapeuta treinado para utilizar as técnicas de
fototerapia, os pacientes exploram os significados de suas fotos e dos seus álbuns de
família a nível emocional além dos seus significados visíveis. Estas informações
mantêm-se latentes em toda fotografia pessoal do paciente, mas quando são
utilizadas para estimular o diálogo terapêutico, cria-se uma conexão menos censurada
com o inconsciente.
Durante as sessões de Fototerapia as fotos não são utilizadas somente para
serem contempladas em uma reflexão silenciosa, mas, ao contrário são criadas
ativamente, posa-se, fala-se às fotos e escuta-se a elas, as fotos são utilizadas para
ilustrar novas narrações, novos papéis e para serem visualizadas novamente na
memória e na imaginação, além de serem integradas nas expressões de Arteterapia
ou para que seja implementado um diálogo entre as próprias fotografias.

46
16.3 Quais são as técnicas utilizadas na Fototerapia?

Tirar fotografias e levá-las consigo para as sessões de psicoterapia é somente


o início de um processo. Uma vez que as fotos são observadas, o passo seguinte
consiste em ativar tudo aquilo que estas fotos despertam na mente (explorando as
mensagens visuais, iniciando um diálogo com elas, fazendo-lhes perguntas, levando
em consideração os resultados de transformações que se imagina as fotos possam
apresentar, ou mudando o ponto de vista e assim por diante). Aquilo que para o
fotógrafo é normalmente a meta (ou seja, a foto “impressa” no papel), é apenas o
ponto de partida para os objetivos da Fototerapia…
A tarefa principal do terapeuta é a de estimular e a de dar apoio ao paciente no
processo de descoberta pessoal enquanto explora e interage com suas fotos e as
fotos de família que observa, cria, recolhe (por exemplo, cartões postais, fotos de
revistas, cartões de festas, etc.), recorda, reconstrói ativamente ou simplesmente
imagina.
Portanto, cada uma das cinco técnicas de Fototerapia é emparelhada a cinco
seguintes tipos de fotografias que frequentemente são utilizadas em combinações de
umas com as outras, assim como em associação a técnicas de Arteterapia e de outras
terapias criativas:
1- Fotos tiradas pelo próprio paciente (são aquelas em que o paciente
efetivamente produz a imagem utilizando a máquina fotográfica, ou
simplesmente se apropria de imagens criadas por outros, recolhendo-as em
revistas, cartões postais, internet, manipulando-as digitalmente e assim por
diante);
2- Fotos tiradas ao paciente por outras pessoas (seja aquelas para as quais o
paciente posou voluntariamente, como também aquelas tiradas sem que ele
soubesse);
3- Autorretratos, ou seja, qualquer foto que o paciente faça a si mesmo, seja
literalmente que metaforicamente (em todo caso, deve-se tratar de fotos em
que o paciente exercita um controle total sobre todos os aspectos da criação
da imagem);
4- Álbum de família ou outras coleções de fotos biográficas (seja aquelas da
família biológica como aquelas da família de adoção, aquelas guardadas
formalmente em um álbum ou simplesmente espalhadas, coladas à parede
47
ou à porta da geladeira, conservadas na carteira, sobre a escrivaninha, na
tela do monitor do computador, nos “sites” familiares de internet etc.); …E
finalmente,
5- “Fotoprojeções”, esta técnica utiliza o mecanismo (fenomenológico)
segundo o qual o significado de toda foto é criado primordialmente pelo
observador durante o processo de percepção da imagem. No momento em
que se olha uma imagem fotográfica qualquer, se produz uma percepção e
uma reação que são projetadas pelo mundo interior da pessoa sobre o
mundo real e que determinam o sentido que se atribui a tudo aquilo que se
vê. Portanto esta técnica não se baseia em um tipo específico de fotografia
e sim no espaço intangível que se encontra entre a foto e o seu observador
ou criador; aquele “território” em que cada pessoa forma sua própria
resposta original àquilo que vê.

16.4 Fototerapia – A imagem mais abrangente

Fototerapia poderia ser considerada como um sistema articulado de técnicas


de psicoterapia que se baseia na utilização da fotografia por parte de uma figura
profissional que atua no campo da saúde mental como parte de suas atividades
terapêuticas que servem para ajudar seus pacientes na investigação consciente sobre
si mesmos e para reintegrar as revelações e os “insights” que resultam da observação
das fotos de maneira que os pacientes possam compreender melhor a si mesmos,
melhorando assim as suas vidas.
Portanto a Fototerapia não é a mesma coisa que a “Fotografia Terapêutica”
(que às vezes é definida como Fototerapia, sobretudo no Reino Unido), dado que esta
consiste em atividades conduzidas autonomamente e fora de um contesto formal de
psicoterapia. A Fotografia Terapêutica é utilizada pelas pessoas no processo de
descoberta de si mesmas ou para finalidades de expressão artística, enquanto os
psicoterapeutas utilizam a Fototerapia na assistência a outras pessoas (seus
pacientes) que precisam de ajuda para resolver seus problemas. Se por um lado, a
utilização da fotografia para fins de exploração de si mesmo ou para a autoanálise
(fotografia-como-terapia) acaba sendo uma atividade profundamente terapêutica,
sobretudo quando a máquina fotográfica funciona como agente de transformação

48
pessoal ou social, por outro lado não é a mesma coisa que ativar e reelaborar tais
experiências sob o acompanhamento e os cuidados de um psicoterapeuta profissional
(fotografia-em-terapia).

Fonte:br.pinterest.com

Se considerarmos que a Fototerapia é um conjunto de técnicas flexíveis, antes


que diretivas fixas baseadas em uma teoria específica ou em um paradigma
terapêutico, esta poder ser utilizada por todo psicoterapeuta adequadamente treinado,
independentemente do seu referencial conceitual ou de sua postura profissional.
Neste sentido, Fototerapia e Arteterapia assemelham-se e se distinguem dado que
esta, também pode ser utilizada com sucesso por parte de outras figuras profissionais
que atuam no campo da saúde mental e que não são necessariamente peritos em
Arteterapia.
Dado que a Fototerapia utiliza a fotografia como instrumento de comunicação
antes que como expressão artística, não é necessária uma experiência anterior à
máquina e à arte fotográfica para poder utilizá-la com finalidade terapêutica de
maneira eficaz.
E para concluir, dado que a Fototerapia faz interagir as pessoas com suas
próprias construções visuais sobre o real (usando a fotografia como um verbo de
ativação antes que como um substantivo passivo/reflexivo) estas técnicas podem
produzir um efeito particularmente positivo quando são utilizadas com indivíduos para
49
os quais a comunicação verbal é fisicamente ou mentalmente limitada, ou com
indivíduos marginalizados a nível sociocultural ou que se encontrem em uma situação
de deságio por conta de sinais não verbais que causam mal entendidos.
Portanto a Fototerapia pode ser especialmente útil e ter um efeito “reabilitativo”
quando aplicada a indivíduos especialmente complexos como os deficientes, minorias
de gênero, pessoas carentes ou em contextos multiculturais, assim como em
mediações finalizadas à resolução de conflitos, nas práticas de divórcio e em outros
campos afins.15

17 BIBLIOGRAFIAS

AGUIAR, Moysés. O teatro terapêutico: escritos psicodramáticos. São Paulo:


Papirus, 1990. Acesso em 13/10/2017.

Alves, Fabiany. Técnicas expressivas em Arteterapia. O encanto das fábulas ao


encontro com a alma. Wak editora, Rio de Janeiro. Acesso em 13/10/2017.

15 Extraído do link: phototherapy-centre.com


50
Amcapora, Beatriz Amcapora Bianca. 170 técnicas em Arteterapia. Modalidades
expressivas para diversas áreas. Editora wak, Rio de janeiro, 2011.Acesso em
13/10/2017.

ANDRADE, Liomar Quinto de.Terapias expressivas: arteterapia, arte-educação,

terapia-artística. São Paulo: Vetor, 2000. Acesso em 13/10/2017.

BARBOSA, Ana Mae. Tavares Bastos. A imagem no ensino da arte: 1980 e novos
temos/ 8 ed -São Paulo: Perspectiva, 2010. Acesso em 13/10/2017.

Barreira, Marcia, e Brasil, Naila. Arteterapia e a História da Arte. Técnicas


Expressivas e Terapêuticas. Wak editora, Rio de Janeiro, 2012. Acesso em
13/10/2017.

BENENZOM, Rolando. Teoria da musicoterapia. São Paulo: Summus, 1988. Acesso


em 13/10/2017.

BOECHAT, Walter. Criatividade e os limites da interpretação. Imagens da

transformação, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 46-53, out. 1994. Acesso em 13/10/2017.

FUX, Maria. Formação em dançaterapia. São Paulo: Summus, 1996. Acesso em


13/10/2017.

GOLINELLI, Rinalda. Arte Terapia: um caminho para a expressão dos


sentimentos. Imagens da Transformação, Rio de Janeiro, v. 9, n. 9, p.199-205, 2002.
Acesso em 13/10/2017.

PAÏN, Sara; JARREAU, Gladys. Teoria e técnica da arteterapia: a compreensão do

sujeito. Porto Alegre: Artmed, 2001. Acesso em 13/10/2017.

PHILIPPINI, Angela. Linguagens, materiais expressivos em arteterapia: uso,


indicações e propriedades. Rio de Janeiro: WAK, 2009. Acesso em 13/10/2017.

PHILIPPINI, Ângela. A construção de espaços criativos através do processo


arteterapêutico - In Revista Imagens da Transformação - volume 4.Rio de Janeiro:
Pomar. 1997. Acesso em 13/10/2017.

51
SAVIANI, Iraci. Ateliê terapêutico–Encontrarte: viver arte, criar e recriar a vida. In:
Ciornai, Celma (Org.). Percursos em Arteterapia: ateliê terapêutico, Arteterapia
no trabalho comunitário, trabalho plástico e linguagem expressiva, Arteterapia
e história da arte. São Paulo: Summus, v.63. 2004, 317p. (Coleção novas buscas
em Psicoterapia). Acesso em 13/10/2017.

URRUTIGARAY, Maria Cristina. Arteterapia: a transformação pessoal pelas


imagens / Maria Cristina Urrutigaray. 5. Ed. –Rio de Janeiro: Wak, 2011. 164p. Acesso
em 13/10/2017.

52

Você também pode gostar