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Curso de Formação Docente

POSIÇÕES GERATRIZES

LISTA OFICIAL DE EXERCÍCIOS, MÚSICAS E CONSIGNAS


DE BIODANZA

©Copyright by Rolando Toro Araneda


Sob os cuidados de Eliane Matuk
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Biodanza

POSIÇÕES GERATRIZES
LISTA OFICIAL DE EXERCÍCIOS, MÚSICAS E CONSIGNAS
DE BIODANZA

SUMÁRIO

Código I
1. Conexão com o Infinito
2. Intimidade
3. Valor
4. Proteger a Vida
5. Dar – Dar-se
6. Receber
7. Pedir
8. Trabalhos Primordiais

Código II
1. Flutuar no Líquido Amniótico
2. Conexão com o Primordial
3. Disposição a ser Fecundada
4. Expansão (“O Homem Estrela”)
5. Atemporalidade
6. Determinação
7. Encontro com o Irmão

Código III
1. Receber a Graça
2. Elevação
3. Evocação e Liberação da Energia Interna
4. Magnetismo
5. Conexão Céu – Terra
6. Inspiração
7. Iluminação

©Copyright by Rolando Toro Araneda


Colaboração Didática de Eliane Matuk
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POSIÇÕES GERATRIZES
LISTA OFICIAL DE EXERCÍCIOS, MÚSICAS E CONSIGNAS
DE BIODANZA

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INTRODUÇÃO

Desde o princípio da história humana até nossos dias, o ser humano realiza alguns
“gestos eternos”.
Estes gestos “arquetípicos” aparecem nos baixo-relevos, esculturas e pinturas de
todos os tempos. Consistem em gestos de adoração, maternidade, reverência, traba-
lho, intimidade, etc.
Rudolf von Laban afirma que os movimentos da dança são os movimentos da
vida.
Etienne Decroix, selecionou 22 posições como partes fundamentais que geram o
movimento da Arte Mímica.
Em Biodanza, selecionei três códigos de Posições Geratrizes, que permitem criar
danças espontâneas de grande riqueza e profundidade humana. Cada uma destas po-
sições tem um significado psicológico profundo.
Os gestos arquetípicos pertencem ao inconsciente coletivo, descrito por C. G.
Jung e constituem verdadeiras matrizes expressivas. Os três códigos de posições ge-
ratrizes que proponho em Biodanza são produto de uma longa busca no repertório
gestual de diferentes culturas: indiana, egípcia, greco-romana e ocidental moderna.
Selecionei as que representam, para mim, gestos altamente evoluidos - capazes de
induzir vivências profundas e transcendentes – que têm o poder de gerar “danças
internas”.
Chamei estes gestos arquetípicos de "posições geratrizes" porque podem gerar
danças específicas.
Dança expressiva comum é uma combinação de movimentos organizados pela
vivência pessoal do dançarino. As danças que surgem da combinação de posições
geratrizes possuem uma dimensão mais universal e remetem à grandeza do ser hu-
mano. A combinação de três ou mais posições geratrizes dá origem a danças de ex-
traordinária beleza e pureza expressiva.
A realização das posições geratrizes tem que durar aproximadamente um minuto.
A seguir, se sugere aos alunos que realizem uma dança livre, fazendo variações sobre
a respectiva posição geratriz.

Rolando Toro Araneda

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CÓDIGO I

1. Conexão com o Infinito

2. Intimidade

3. Valor

4. Proteger a Vida

5. Dar – Dar-se

6. Receber

7. Pedir

8. Trabalhos Primordiais

1. Conexão com o Infinito


O pé esquerdo à frente. Os braços se elevam lentamente, buscando tocar com a
ponta dos dedos um ponto imaginário no céu. Este gesto induz a vivência de vincu-
lação com o desconhecido e insondável.
Esta posição gera uma dança mística com movimento de ascensão. As mãos com
as palmas contrapostas e os olhos abertos.
Música: Pink Floyd – I wish you were here (primeira parte)

2. Intimidade
As mãos se aproximam do peito lentamente, como para proteger o mundo íntimo;
a cabeça se inclina com devoção. Este gesto gera uma vivência de intimidade con-
sigo mesmo.
A posição de intimidade gera danças de recolhimento (Íntase). O contato se dá
com "o mais íntimo do íntimo" (Santo Agostinho).
Pés unidos. Os olhos se fecham quando se intensifica a vivência.
Música: Gluck – Dance of the Blessed Spirits, from “Orpheus and Eurydice”.
Gounod – Ave María
Schubert – Adagio, from String Quintet in C

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Arte Greco- Itálica: Figura feminina em greda

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3. Valor
Punhos cerrados, braços estendidos, cabeça reta e atitude serena. Os braços são
cruzados lentamente e com firmeza no peito, no ato de manter um poder e defender
um valor interno. O gesto se refere ao valor interno da pessoa como criatura trans-
cendente. Esta posição induz danças que expressam a identidade. Assume-se o “si
mesmo”. Os olhos olham para a frente e os pés estão levemente separados.
Música: Richard Strauss – Assim falou Zaratustra

Arte Egípcia: XIV – XIII a.C.

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VALOR

Arte Egípcia (Império Medio):


Estátua pintada do rei Mentuhotep (XXI séc. a.C.)
Museu do Cairo.

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4. Proteger a Vida
Movimento lento e delicado como embalando uma criança. Sensação universal de
respeito pela vida.
Esta posição gera vivências de ternura e de encantamento face a toda criatura e
ativa os sentimentos de maternidade e paternidade.
Olhos abertos e pés levemente separados.
Música: Walter Blanco – Ponteio
Gounod – Ave Maria

Arte Mexicana (Período Pré-Clássico)

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5. Dar – Dar-se
Dar
Pés separados. Os braços se elevam lentamente para adiante até um ângulo de 35º.
Mãos abertas em atitude generosa de dar. Olhos abertos.
Música: Zamfir – Bilitis

Dar-se
O mesmo movimento mais amplo: o corpo se abandona para trás em atitude de
oferecer-se completamente.
A posição geratriz de dar-se põe em prática a difícil prova de doar-se ao outro,
sem medo. Fechar os olhos quando se intensifica a vivência.
Estas duas posições evocam sensações de generosidade e autodoação. Muitas ve-
zes são propostas de modo sucessivo.
Música: Chopin – Prelúdio op. 28 n.4

DAR
(Imagem nutrícia, vínculo com a natureza)

Arte das Províncias Romanas:


Artemisia de Éfeso;
estátua em bronze e alabastro
(II s. D.C) Museu Nacional de Nápoles.

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6. Receber
Partindo da posição de “Dar”, os braços se levantam para adiante, em um ângulo
de 90º, para depois abrir-se num ato receptivo. Este gesto complementa o anterior e
está em relação ao equilíbrio de dar – receber.
Olhos abertos e pés ligeiramente separados.
Música: Zamfir – Bilítis

7. Pedir
Anteriormente: Perna direita ajoelhada, perna esquerda no ângulo direito.
Modificação: A perna direita adiantada, a perna esquerda se dobra levemente no
joelho. Olhos abertos. O braço direito se eleva para diante a 140º, com a palma da
mão voltada para cima. O braço esquerdo fica para trás. O olhar e o rosto se dirigem,
com dignidade, em direção da mão direita.
A atitude de pedir é ainda mais difícil que a de dar ou receber, em especial para
as pessoas que sofrem sentimentos de inferioridade.
Música: Enya – Watermark

8. Trabalhos Primordiais
Braço direito atrás em ato de lançar um objeto. O gesto consiste em dar um im-
pulso vigoroso a algo que se encontra na mão. O braço esquerdo acompanha natu-
ralmente o movimento, moderando a força do braço oposto. A perna direita está para
trás em perfeito sinergismo. A posição favorece os movimentos dos trabalhos ma-
nuais, agrícolas e movimentos do esporte.
Esta posição estimula a sincronização e eurritmia do grupo. As coreografias livres
que são induzidas se relacionam com cerimônias coletivas de trabalho.
Música: Pink Floyd – I wish you were here (parte II)

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Arte Grega: O Discóbolo de Mirone (IV a.C)
Museu Nacional Romano
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CÓDIGO II

1. Flutuar no Líquido Amniótico

2. Conexão com o Primordial

3. Disposição a Ser Fecundada

4. Expansão (“O Homem Estrela”)

5. Atemporalidade

6. Determinação

8. Encontro com o Irmão

1. Flutuar no Líquido Amniótico


Em posição fetal, sobre um lado, com os olhos fechados e a boca semiaberta,
iniciam-se movimentos lentos de flutuação, como um feto no âmnio.
Durante a realização deste exercício, gira-se o corpo lentamente para o lado
oposto, apoiando completamente a coluna vertebral e a cabeça no solo, enquanto se
passa de um lado a outro. Esta oscilação pode repetir-se duas ou três vezes, seguindo
o movimento regressivo gerado pela música. Todos os movimentos buscam evocar
a vivência de flutuação.
Música: “2001” – Uma Odisseia no Espaço – Prelúdio Eletrônico.

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2. Conexão com o Primordial
Com os olhos abertos, ficando agachado, com os joelhos flexionados (de cócoras),
a pessoa acaricia o solo com as mãos. O olhar está dirigido para as próprias mãos.
Esta posição evoca o artesão com a argila, a seleção de sementes e a preparação
dos alimentos. No plano visceral evoca o parto natural, a micção e a defecação.
Música: David Fanshawe – African
Sanctus. “Canzone del Latte”

Civilização do Mississippi: Recipiente com figura de greda (1330-1700 d.C.)


“Museu dos Índios Americanos” – Nova York

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3. Disposição a ser Fecundada
(posição geratriz indicada para o sexo feminino)
Deitadas de costas sobre o solo, com as pernas semiabertas e os joelhos levemente
dobrados em atitude receptiva. Os braços estão naturalmente abandonados no solo,
os olhos fechados e a boca semiaberta.
Os movimentos são lentos e cadenciados para facilitar uma receptividade ativa.
Progressivamente, os movimentos aumentam de intensidade, seguindo o “cres-
cendo” da música. As pernas assumem uma posição semidobrada. Iniciam-se mo-
vimentos de levantar e baixar espontaneamente a pélvis: este movimento não deve
ser mecânico, mas responder ao impulso interior.
A posição geratriz de disposição genital se refere às cerimônias primitivas de fe-
cundação, nas quais as mulheres, estendidas nos sulcos dos campos, invocavam a
força fecundadora do céu que se manifestava com a chuva e a luz solar.
Música: David Fanshawe. African Sanctus

4. Expansão (“O Homem Estrela”)


De pé, com os braços ao lado do corpo e a olhar para frente. Deslocando para o
lado o pé esquerdo, as pernas se separam e, simultaneamente, se fecham os punhos
levando-os ao peito e apoiando-os um ao outro. Em seguida, abre-se o braço e a mão
direita, depois o braço e a mão esquerda.
Logo se volta à posição inicial.
Música: Sibelius. Finlandia (parte final)
Vangelis. Eric’s Theme

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Arte Cretense: O príncipe dos Lírios

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5. Atemporalidade
Sentados com as pernas dobradas. As mãos são colocadas sobre os joelhos, com
as palmas voltadas para cima. A cabeça, suavemente relaxada, se mantém ereta.
Fica-se nesta posição por no máximo um minuto. As palmas abertas se elevam su-
avemente e descem muito lentamente, seguindo a melodia, estando fora do tempo.
Esta posição induz uma vivência de eternidade. A posição geratriz de atempora-
lidade pode ser considerada uma forma de meditação.
Música: Ravel. “Daphnes et Chloé” (segunda parte, início)

6. Determinação
Todo o corpo é lançado para frente: a perna direita com o joelho levemente flexi-
onado, o braço direito estendido para frente, a mão aberta com a palma voltada para
baixo. Os olhos são mantidos abertos e a tensão muscular aumenta progressivamente
com a intensidade da música.
A vivência é de projeção para o futuro e de predisposição para a ação.
Música: Beethoven. “Pastoral”. La Tempesta

7. Encuentro con el Hermano


Os braços são estendidos para frente, com o peito aberto, com o gesto de receber
a uma pessoa com uma cordial disposição. Os braços se estendem ainda um pouco
mais, enquanto se avança um passo à frente.
A vivência estimula a atitude receptiva para com os outros. Este gesto gera uma
nova forma de vinculação afetiva.
Música: Haendel. Aleluya
Vivaldi. Gloria

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CÓDIGO III

1. Receber a Graça

2. Elevação

3. Evocação e Liberação da Energia Interna

4. Magnetismo

5. Conexão Céu – Terra

6. Inspiração
7. Iluminação

1. Receber a Graça
Sentados com as pernas cruzadas, as mãos apoiadas sobre os joelhos com as pal-
mas para cima. A cabeça deve estar levemente abandonada para trás (sem forçar),
os olhos fechados e a boca entreaberta. Esta posição induz a uma vivência de beati-
tude que se manifesta como a graça de existir.
A pessoa pode perceber uma sensação de harmonia com o ambiente e, se a vivên-
cia é feita na natureza, de harmonia com o universo. Esta posição geratriz pode ser
considerada uma forma de meditação.
Música: Schubert. Impromptu N°3
em sol bemol maior.
Lizt. Consolazione N°3

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2. Elevação
A posição é realizada de pé, braços junto ao tronco, antebraços em ângulo reto
para frente e levemente abertos para fora. As mãos com as palmas para cima e os
dedos um pouco abertos. A boca entreaberta e os olhos abertos. É um gesto de “ele-
vação” que gera uma vivência de leveza. A vivência de “elevação” gera uma força
ascendente. Este estado de ânimo é alimentado pela possibilidade de elevar-se acima
das dificuldades existenciais e ver os acontecimentos da vida com uma visão de al-
tura, de um ponto de vista de totalidade.
Música: Bach. Concerto de Brandemburgo N°1. Adagio
Ennio Morricone. “C’era una voltta il west”

3. Evocação e Liberação da Energia Interna


De pé, aproxima-se lentamente as mãos abertas com as palmas voltadas para o
peito onde se apoiam, uma sobre a outra, em gesto de intimidade. Em seguida, abre-
se lentamente os braços, projetando levemente o peito para frente, de modo a permi-
tir a expansão do potencial afetivo. Os olhos ficam fechados e a boca entreaberta.
Esta posição induz uma vivência de expressão da energia amorosa para o mundo.
Música: Vivaldi. Concierto N°7. Largo

4. Magnetismo
De pé, as palmas das mãos voltadas uma para a outra, se aproximam e se afastam,
como sustentando uma esfera invisível. Este gesto deve ser realizado muito lenta-
mente, na busca da percepção da energia magnética polarizada entre as duas mãos.
Esta posição induz a vivência da criação de uma esfera de energia pulsante.
Música: Vivaldi. Concerto N°7 Largo

5. Conexão Céu – Terra


Levanta-se lentamente o braço direito para o céu e, simultaneamente, se dá um
passo com o pé direito. O braço esquerdo se mantém com a palma da mão voltada
para o solo. Os olhos estão abertos ou semicerrados. A boca está semiaberta.
Nesta posição, recolhe-se a energia do céu com a mão direita e, com a esquerda,
se a descarrega na terra. O gesto se realiza de maneira leve, fluida e pulsante. Para
gerar a pulsação se faz um leve, lento e contínuo movimento corporal.
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Esta posição geratriz induz a vivência de ser uma ponte, um “médium”, uma via
de conexão entre o céu e a terra. Nas simbologias de diferentes culturas, o matrimô-
nio entre o céu e a terra, ou seja, o matrimônio cósmico, significa a união entre o
masculino, o feminino e a fecundação. Alguns antecedentes míticos e antropológi-
cos aludem a esta metáfora cósmica. A união entre o rei e a rainha; os dois primeiros
símbolos do I'Ching: C’iên, o céu e C’uên, a terra; o matrimônio entre o céu e a terra.
Na dança dos dervixes se realiza esta posição, considerada como o “Axis Mundi”.
A posição geratriz Conexão Céu–Terra estimula então a conexão íntima com as
duas grandes forças da natureza: o masculino e o feminino (Yang – Yin).
Música: Vivaldi. As Quatro Estações “O tempo impetuoso do verão”
Música Derviche

INSPIRAÇÃO
Antonello de Messina: A Virgem Maria

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6. Inspiração
De pé. A mão esquerda pousada sobre o peito. A mão direita levemente a frente,
num gesto extremamente sensível, como se tocasse o ar. Os olhos abertos, olhando
para frente sem intencionalidade.
Esta posição gera um estado de incubação criativa, ou seja, o momento que pre-
cede o ato criador. Com a mão esquerda no peito se alude à íntima conexão consigo
mesmo (inspiração), e com a mão direita se sugere o início da ação criadora. A
vivência de inspiração tem a qualidade do estado de êxtase criativo.
Música: Schubert. String quintet in C. Adagio.
Ennio Morricone. Era uma vez o oeste”

7. Iluminação
De pé, mão esquerda no peito. Mãos unidas o peito em uma atitude de intimidade.
Olhos abertos. As mãos se separam lentamente levando as palmas para frente com
extrema sensibilidade. Este gesto produz uma intensificação sutil da percepção. A
posição cria um espaço para a contemplação e se vivencia a sensação de estar ilumi-
nado a partir de dentro de si mesmo.
Música: Schubert. Impromptu N°3, em sol bemol maior
Lizt. Consolacione N°3

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Raffaello Sanzio. A Transfiguração

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