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OS MÚSCULOS DA GRAVIDADE E OS SENTIMENTOS DO

CORAÇÃO
Embriology and Therapy - Collected Papers from Energy and Character I
David Boadella

O bebê ao nascer, vem de um meio fluido no qual os movimentos não sofrem os efeitos da
gravidade. Quando a bolsa se rompe, deixando escapar as águas, e a criança começa a
descer pelo canal vaginal, ela experimenta pela primeira vez a força da gravidade, embora
as posições do parto de costas reduzam o auxílio que a gravidade pode oferecer durante a
descida do bebê.

A vida no útero se desenvolve principalmente em posição arredondada e curvada;


predominando as atitudes fletidas, consistentes com o fato de que a criança está enrolada
em um espaço reduzido. Os membros estão flexionados, as costas curvadas, o queixo
inclinado em direção ao peito: a posição fetal é freqüentemente adotada durante o sono,
quando as pessoas muitas vezes se enrolam para conservar o calor e maximizar o conforto e
a sensação de aconchego.

A atitude fletida está de certa forma associada com a “dependência” do bebê. Sua mão
apresenta o reflexo de agarrar com força suficiente para que ele, utilizando a força de fechar
as mãos, possa ser erguido e possa suportar seu próprio peso a despeito da gravidade. Suas
pernas são flexionadas numa posição adaptada para que seja carregado: nas crias de
macacos a posição flexionada das pernas pode auxiliar a mãe na posição de carregar.

Qualquer músculo tem um certo tonus, cujo nível pode variar entre extremos de rigidez ou
flacidez, conforme alguma “norma” hipotética. Claramente, durante o sono é exigido um
nível de tonus diferente do estado normal de vigília, e um nível bem diferente para
funcionamento em emergências. Algumas pessoas vivem seus estados de vigília com um
tonus mais apropriado para o sono: são super-relaxadas e mal equipadas para enfrentar
situações de “stress”. Outras podem até dormir com um nível de tensão corporal adequado
para situações de emergência. Feldenkrais, em seu livro sobre o corpo e o comportamento
amadurecido, (1) define o tonus saudável como aquele que despende o mínimo de energia
necessária para manter uma postura normal ereta em contraposição ao “stress” da
gravidade.

A criança que está se desenvolvendo, se aclimata vagarosamente à gravidade. Enquanto ela


está sendo segurada no colo, amamentada, aconchegada, ela sente a segurança de uma
postura fetal básica e está isolada da gravidade. Mas o corpo gradualmente aprende a se
distender contra a gravidade: quase todos os músculos que trabalham contra a gravidade e
suportam o corpo na posição sentada ou de pé, são músculos extensores. A criança começa
a se desdobrar contra a gravidade com o reflexo tônico que ergue a cabeça da posição
deitada e permite que a criança oriente sua visão e enfrente o mundo. A espinha aprende a
se estender a partir da cabeça para baixo, o controle da cabeça precede o controle dos
braços, depois manifesta-se o controle da parte inferior do tronco, permitindo que ela se

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sente e, finalmente, ela vai dominando o controle das pernas, o que permite que a criança se
erga e fique ereta sobre seus próprios pés, pela primeira vez neste mundo.

A aprendizagem para ficar em posição ereta, envolvendo um nível natural de tonus nos
músculos extensores da coluna vertebral, pescoço e pernas, provoca duas curvaturas nas
costas, as curvas lombar e a cervical, respectivamente na base e no apex do tronco. Na
extremidade do corpo onde se localizam o pescoço e os ombros, está o encaixe para os
braços, na extremidade lombar e pélvica, encaixam-se as pernas. Descobriu-se que tensão
postural desnecessária em qualquer parte do corpo, produz tensões compensatórias na
maioria das partes da musculatura anti-gravitacional.

Os músculos extensores, necessários para se ficar de pé, são a base da independência, da


mesma forma que os músculos flexores, necessários para se curvar e enrolar e para se
agarrar, são a base da dependência.

Nos movimentos locomotores de qualquer tipo, seja para se andar, correr, chutar ou nadar,
são envolvidos alternadamente movimentos de flexão e extensão. Ondas pulsáteis de
energia e movimentos musculares fluem pelas costas abaixo durante estas atividades
rítmicas. A criança aprende como coordenar-se a si própria no espaço e no tempo,
brincando e explorando o mundo, primeiramente mais perto e depois cada vez mais longe
das mãos protetoras da mãe. A grande idade do mesoderma ocorre quando a criança já
aprendeu a andar e pode avançar ereta pelo mundo. Este período coincide com o período de
desenvolvimento que Freud denominou estágio edipiano.

A criança que está no colo e que subitamente é assustada, exibe ansiedade de queda: a
expressão motora desta situação é uma rigidez flexora, a cabeça se encolhe, as costas se
arredondam e os membros se recolhem. Esta posição é a mais segura para enfrentar uma
queda, portanto tem valor de sobrevivência biológica. Uma criança que está no colo tem
toda a razão de sentir medo se ela percebe que poderá ser derrubada: sua experiência com a
gravidade é limitada, ela sente-se segura nos braços maternos, mas isso não inclui queda
livre. No entanto, quando a criança se torna suficientemente independente para andar, ela
tem que aprender a cair; isso acontece muitas vezes durante a transição para o estágio de
ficar de pé. O andar em si é, na realidade, um ato de queda controlada, cada pé vai
recobrando o equilíbrio que o corpo começa a perder quando se movimenta para a frente.

Mas a queda não precisaria ser uma experiência amedrontadora para uma pessoa madura
que aprendeu a coordenar seu corpo no espaço e construiu um bom relacionamento com a
gravidade. No esporte do Judô, a primeira coisa que se aprende é a queda em atitude fletida,
mas sem rigidez. Eu já ensinei Judô para crianças com idade acima de sete anos e posso
falar do prazer que elas sentem ao aumentar sua confiança no solo, no seu parceiro e em sua
própria coordenação corporal, quando elas aprendem a cair prazerosamente e sem medo.

A queda é ligada à derrota. No Judô cedo se aprende que ser derrubado e cair não são
desgraças e que isso não envolve humilhação. Submeter-se graciosamente ao fluxo do
movimento que nos derruba pode ser tão satisfatório quanto um mergulho na água, quando
também se torna necessária uma atitude fletida ( cabeça encolhida, costas arredondadas)
para evitar uma barrigada na superfície líquida.

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A atitude de rigidez dos flexores é uma atitude protetora que se assemelha à adotada por
uma pessoa que está na expectativa de receber uma pancada. Em uma queda, essa atitude
literalmente protege contra a pancada no solo. Mas uma criança que espera apanhar
também tende a contrair os flexores dessa maneira: isso conduz a uma posição de
compressão e agachamento e pode envolver o encolhimento da cabeça “ entre os ombros”
para evitar uma pancada na base do pescoço. Lowen evidenciou que na estrutura corporal
masoquista as principais contrações ocorrem nos músculos flexores (2). Parte da tensão
necessária para estender-se contra a gravidade é transferida para o intestino: “ A falta de
sensação de segurança na coluna (backbone) força esses indivíduos a contraírem os
intestinos para tentarem obter uma sensação de suporte. Naturalmente isso não é possível, o
indivíduo não consegue se manter ereto e o colapso é inevitável” (3).

A atitude do corpo masoquista é aquela que aceita um certo grau de colapso (flexão): a
estrutura é pesada. Nas palavras do vocabulário de movimento de Laban, (4) é uma atitude
de “ rendição à gravidade”. Mas é uma rendição com tensão, não a agradável participação
de alguém que aprecia entregar-se. O colapso tenso é resistido com o esforço que se origina
predominantemente do intestino. Dessa forma a pressão intestinal tenta assumir a função
de resistência à gravidade. O masoquista, em parte, desiste ou nunca consegue atingir a
posição mesodérmica e adulta de resistência à gravidade, a qual é baseada num mínimo de
tensão anti-gravitacional.

Muitas pessoas ao ficarem em pé demonstram mais tensão do que a necessária para se


manterem normalmente eretas. As curvas cervical e lombar são exageradas, as costas estão
tensionadas, os joelhos travados (locked), os braços estendidos: o corpo se torna como um
bastão (rod-like). Lowen mostrou como a metáfora do arco descreve a flexibilidade do
corpo natural quando ele se movimenta entre a flexão e a extensão. Sua descrição do corpo
de estrutura rígida é principalmente a descrição de uma pessoa que está organizada pela
rigidez extensora, o arco vergado para traz pronto para a descarga, no entanto o movimento
para a frente é retido. Uma pessoa que mostre este padrão de corpo tem que se mover para a
frente contra as tensões que o seguram para traz. Na verdade ela não chega a cair, nem tem
medo de cair, porque essa atitude corporal a mantém em uma posição de asserção contra e
acima do solo, da mesma forma que a sua asserção é contra e em cima das outras pessoas.
Por isso Lowen julgou útil apresentar em sua terapia, atividades nas quais essas pessoas
experimentem suas resistências à queda, ou a ansiedade de ceder à queda. (2)

A posição extremada de rigidez extensora é encontrada em uma postura chamada


“opisthotonus” que Reich ilustrou em uma fotografia de um paciente deitado, a qual consta
da edição em alemão de sua monografia sobre o reflexo do orgasmo.(5) Ele também a
descreve como o “arc de cercle”, “aquele sintoma histérico no qual o peito e o abdomen são
atirados para a frente, enquanto os ombros e a pélvis são puxados para traz; é o oposto do
reflexo do orgasmo”. (6) E é também, naturalmente, o oposto exato da posição fetal no
útero. Leboyer, (7) em seu livro sobre o nascimento, ressalta isso mostrando o “stress”
envolvido no corpo hiper-extendido contra a gravidade, quando se pega um recém-nascido
pelos tornozelos, como é às vezes feito no período imediatamente pós-natal.

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O fluxo dos impulsos motores corre para baixo ao longo do corpo, no sentido da cabeça
para a cauda. O fluxo do movimento é descarregado através dos braços e das pernas em
direção ao solo. Mesmo o movimento ascendente, tal como nos saltos, flui para baixo no
corpo ( como na retração de uma mola espiral) e retorna à terra numa curva descendente,
sob a atração da força da gravidade.

Francis Mott, (8) em seu estudo sobre a vida dentro e fora do útero, chamou atenção sobre
o medo bastante comum entre as pessoas, de sofrerem ferimentos nas pernas ou nos pés.
Ele cita a freqüência na mitologia de exemplos de ferimentos-na-perna, e, também casos de
medos infantis tais como o medo de ser mordido por cobras escondidas no pé da cama.
Mott explica isso como decorrente da sensação de ter o fluxo descendente de sangue
através do cordão umbilical cortado e transferido para as pernas, que são a parte mais baixa
da circulação corporal, com o resultante medo inconsciente de que os pés também sejam
amputados ou ameaçados de alguma forma. Ele descreve as pernas como “excretoras de
movimento” e reconhece que muitas pessoas têm medo das sensações de vida forte
correndo pelas pernas abaixo. Em terapia, esta sensação provoca uma defesa sob a forma de
urgência de urinar logo antes das correntes vegetativas irromperem através das pernas.
Caso se ceda à necessidade de urinar neste ponto, o fluxo vegetativo será sifonado para um
sistema de órgão diferente e, na realidade, as incipientes sensações nas pernas serão
urinadas para fora ( pissed away ) ao serem desviadas para o trato urinário. Se esta
necessidade urgente não for satisfeita, a pessoa envolvida freqüentemente sentirá um quente
fluxo de vibrações e correntes e finas fibrilações correndo pelas pernas abaixo e entrando
nos pés.

O contato dos nossos pés com o solo é básico para o nosso contato com nós mesmos e com
outras pessoas. Se nós não nos agarrarmos ao solo com os pés flexionados, nem perdermos
contato com ele pela hiper-extensão, as pernas se tornam vibrantemente cheias de vida.
Pernas cheias de vida são essenciais para a sexualidade madura. O andar, quando as pernas
estão em bom tonus e em bom contato com o solo, torna-se conforme o termo de Mott “um
coito com o solo ”.

O centro na base da espinha é o centro locomotor principal do corpo: é não só o fulcro


gravitacional, como também o “locus” dos gânglios sacros e um centro principal de
vitalidade do corpo. Se a carga nessa área for bloqueada por hiper-extensão pélvica ou por
compressão, haverá então carência de espontaneidade e prazer tanto na função locomotora
como na função sexual.

O centro correspondente no topo do corpo, entre os omoplatas, perto dos plexos braquiais,
controla o fluxo de impulsos ao longo dos braços e para baixo. Lowen descreveu a sensação
de arrepio nas costas quando a carga de energia agressiva está livre para fluir ao longo da
mesma. No tipo de costas que está livre para ceder ao ritmo de movimentos do tipo flexor e
extensor, o que não está espástica nem flácida, mas com um tonus saudável, é possível
sentir correntes de prazer – as costas tornam-se orgásticas. John Pierrakos (9) descreveu um
centro da vontade super-desenvolvido localizado nas costas; indica que a pessoa tem
impulso mas sempre em atitude esforçada, contida, e que não pode entregar seu coração
completamente. As tensões extensoras na região superior das costas impedem que tanto os

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impulsos agressivos para atacar, combater, como os impulsos de procurar alcançar (reach
out) e acariciar, fluam pelos braços abaixo.

Lowen em seu livro sobre dinâmica física do caráter – O Corpo em Terapia - (3) descreve
os movimentos do corpo como possuindo um componente agressivo e um erótico. Ele
visualizou o fluxo agressivo como uma corrente de energia fluindo ao longo das costas e o
fluxo erótico como uma corrente fluindo ao longo da parte anterior do corpo, ambas as
correntes convergindo antes da descarga de um impulso:

“ No caso dos instintos agressivos, é ativado um sistema motor, torna-se uma fonte de
força para a contração muscular. É utilizada como uma força motora para criar movimento.
Quando a energia é dissociada do sistema muscular, seja porque a ação é contida
(restrained) ou porque a necessidade de percepção consciente e controle domina a
necessidade de movimento, a energia livre tende a se mover ao longo da parte da frente do
corpo. Os sentimentos que são liberados são sentimentos de carinho porque os tecidos estão
fluidos e macios”. (3)

Lowen descreve o fluxo de sentimentos de carinho para o coração: “ Eu vinculei estes


movimentos a uma pulsação comum que tem seu centro no coração. Estes são sentimentos
que parecem originar-se do coração. Os sentimentos do coração são sentimentos meigos
que atraem o indivíduo para relacionamentos que promovam carga e descarga”. (3)

Ele desenvolve esta distinção de modo bastante específico, relacionando a parte posterior
do corpo aos impulsos motores da musculatura. Pode-se recordar em relação a isto que, no
embrião, as principais camadas musculares do corpo crescem de dentro para fora em fluxos
paralelos, das costas para a frente, unindo-se na linha mediana. Mas o mesoderma não
produz apenas os elementos estruturais do corpo, dos músculos e dos ossos que os sustém e
proporcionam suporte geral. Ele também supre o sistema circulatório. As duas linhas de
comportamento instintivo, o agressivo e o erótico, utilizam-se dos dois sistemas de órgãos
fundamentais que se desenvolvem a partir do mesoderma; “ Eu me aventuraria a sugerir
que a substância especial que é o princípio representativo de Eros, é o sangue...
Estabelecemos assim um antítese entre os elementos fluidos do corpo e os elementos
estruturais”. (3)

John Pierrakos salientou em seu artigo sobre problemas do coração, (10) que estes são mais
comuns em pessoas nas quais os impulsos agressivos e assertivos estão reprimidos ou que
têm que reprimir seus anseios de intimidade. Isto é, se o peito estiver paralisado ou tiver
movimentos espasmódicos pela tensão, para refrear seja sentimentos explosivos de raiva ou
o desejo de se estender à frente e buscar contato, isto poderá constituir a base de um
problema do coração. John Olsen mostrou como é vital o tonus da musculatura na
determinação da resistência da bomba venosa, e com esta, a vitalidade do sistema
circulatório como um todo. A conexão entre o sistema muscular e o circulatório é muito
íntima: há dois modos pelos quais o sistema circulatório é usualmente modificado e
induzido a bombear mais ou menos sangue através do corpo: uma maneira é através do
trabalho muscular, a outra maneira é através do “stress” vegetativo. Se um homem que está
com raiva puder descarregar esta raiva por meio de movimentos vigorosos ( não é
necessário que seja uma luta real, poderia ser, como no caso de muitos animais, uma

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demonstração de ameaças); ou se um homem que estiver sexualmente excitado puder
expressar a carga sexual no ato sexual e movimentos orgásticos, então a circulação se
beneficia disso, o coração aumenta temporariamente seu trabalho e relaxa novamente
depois. Ambos, o trabalho muscular e a atividade sexual regular são recomendados como
antídotos para doenças do coração. No caso em que a raiva ou o amor estiverem
bloqueados por uma rígida recusa de se render aos sentimentos, teremos então tensão
muscular que conduz ao “stress” cardíaco.

Algumas pessoas não desenvolvem hipertensão seja dos flexores, seja dos extensores; elas
podem mostrar hipotensão, flacidez dos músculos posturais. Seus corpos são
exageradamente flexíveis, falta-lhes o tonus gravitacional normal e, em condição de alerta,
mais se parece com o tonus do sono. Isto é uma profunda defesa contra o “stress” e
usualmente significa que a couraça foi empurrada mais profundamente para dentro das
juntas, ou para dentro da musculatura, do sistema intestinal e dos órgãos abdominais.

“Em ‘American Medicine’ o fisiologista Walter Cannon, no final da década de l910,


procedeu a um estudo, atualmente famoso, sobre o medo e a raiva, provando que a pressão
sangüínea dos animais nestes estados se alterava. Ele explicou que o sistema nervoso
simpático responde de duas maneiras opostas sob o impacto de tais emoções intensas: pode
ocorrer expansão ou contração de todo o organismo. Esta atividade por seu turno produz
uma das duas reações: a fuga ou síndrome de capitulação, expressada pelo escapar ou pela
paralização e contenção; ou a síndrome da luta”.

“Em 1932 Franz Alexander deu início a mais um trabalho inédito na medicina
psicossomática, no Instituto Psicoanalítico de Chicago. Depois de estudar muitas pessoas
com problemas do coração, ele e seus colegas constataram que estavam persistentemente
colocando a descoberto nesses pacientes, uma abundante hostilidade, um complexo
neurótico que se expressava em agressão, desejo de dominação e uma devastadora
necessidade de realizações.

Desta extensa pesquisa emergiu um quadro do paciente cardio-vascular como uma pessoa
aprisionada em um círculo vicioso entre uma hostilidade irremissível e o medo. Cada
emoção provoca a outra em um círculo vicioso que aprisiona o organismo como numa
armadilha e finalmente exaure o coração ou danifica irreparavelmente as arteriolas devido à
pressão constritiva...

Agora, digamos que predomine o princípio receptivo. Por determinadas razões, algumas
delas culturais, isto ocorre freqüentemente com mulheres que sentem-se bloqueadas na
região pélvica. O ciclo medo-hostilidade se expressará em extrema submissão, o organismo
perceberá a humilhação desse estado, e uma reação hostil se estabelecerá... Com esta
formação de caráter, poderá ocorrer uma disfunção do órgão biologicamente receptivo: o
útero... Em geral o complexo de bloqueio que parte o coração de um homem, “quebra” o
útero da mulher”. (10)

As pessoas que apresentam musculatura flácida, hipotônica, freqüentemente internalizam o


“stress” até o nível vegetativo, onde é armazenado na musculatura lisa em vez da
musculatura estriada. Isto constitui um desvio da energia da couraça muscular que retorna

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para a couraça visceral. Um corolário disso é que há diversos traços em comum entre as
reações do caráter submisso e os padrões masoquistas.

Em seu relatório sobre a base somática do ego, Lowen (3) distinguiu o controle motor e a
percepção sensorial, como as duas funções do ego, o controle motor determinando quais
impulsos e expressões fluem para fora do corpo, a percepção sensorial determinando que
informação é assimilada e como ela é organizada. Esta segunda função é discutida em
minha descrição do segundo mais importante sistema de órgãos do corpo, o sistema
cérebro-espinhal.

REFERÊNCIAS

1. Feldenkrais Body and Mature Behaviour, London, 1948.


2. Lowen, Alexander Training Manual of the Institute of Bioenergetic Analysis
3. Lowen, Alexander Physical Dynamics of Character Structure, New York, 1958 (O
Corpo em Terapia)
4. Laban, Rudolf The Mastery of Movement, London, 1966.
5 . Reich, Wilhelm Orgasmus Reflex, Muskel Haltung und Koerperausdruck,Oslo,1938
6. Reich, Wilhelm The Function of the Orgasm, New York, 1942.
7. Leboyer, Frederick Birth Without Violence, London, 1976.
8. Mott, Francis Universal Design of the Oedipus Complex, Philadelphia, 1950.
9. Pierrakos, John Life Function of the Energy Centres, Energy and Character, Vol.7.
Nº 1, January, 1976.
10. Pierrakos, John The Case of the Broken Heart, Energy and Character, Vol. 5, Nº 3,
September, 1974. also in “In the Wake of Reich”.
Conventure,London,1976. (Nos Caminhos de Reich, de D.
Boadella)

Texto de David Boadella traduzido por Odila Weigand.

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