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Fundamentos do desenvolvimento psicossocial

Personalidade
O temperamento de um bebé é a forma como este interage com o mundo ao
seu redor. É o seu “estilo” pessoal. Embora o temperamento não defina os
comportamentos que a criança terá, é um ótimo indicador para a família
perceber como a criança poderá reagir às situações.

Emoções
Emoções, como tristeza, alegria e medo, são reações subjetivas à experiência
e que estão associadas a mudanças fisiológicas e comportamentais.
Os recém-nascidos deixam bem claro quando estão se sentindo
infelizes: soltam gritos agudos, agitam os braços e as pernas e enrijecem o
corpo. É mais difícil saber
quando estão felizes.
Choro Chorar é a maneira mais veemente – e às vezes a única – de os bebês
comunicarem suas necessidades.
Sorriso e risada: os primeiros sorrisos ocorrem espontaneamente logo após o
nascimento, aparentemente como resultado da atividade do sistema nervoso
subcortical.
Sorriso social: quando os recém-nascidos olham para os pais e sorriem para
eles não se desenvolve antes do segundo mês de vida.
O sorriso antecipatório: quando os bebês sorriem ao ver um objeto e depois
olham para um adulto enquanto continuam sorrindo – pode ser o primeiro
passo.

Crescimento do cérebro e desenvolvimento emocional: O desenvolvimento do


cérebro após o nascimento está intimamente ligado a mudanças na vida
emocional: as experiências emocionais são afetadas pelo desenvolvimento do
cérebro e podem causar efeitos duradouros na estrutura
cerebral
O comportamento altruísta parece surgir naturalmente em crianças pequenas.
Bem antes do segundo aniversário, as crianças costumam oferecer ajuda a
outros, compartilhar pertences e alimentos,e prestar consolo

Os neurônios espelhos, localizados em várias partes do cérebro, são ativados


quando uma pessoa faz alguma coisa, mas também quando ela observa outro
indivíduo fazendo o mesmo. Ao “espelharem” as atividades e motivações dos
outros, permitem que se veja o mundo do ponto de vista da outra pessoa.

O temperamento às vezes é definido como o modo característico, com base biológica, de uma pessoa
abordar e reagir a outras pessoas e às situações.

Adequação da educação a combinação entre o temperamento de uma criança e as exigências e


restrições ambientais que ela deve enfrentar. Se o que se espera é que uma criança muito ativa fique
quieta por longos períodos, se uma criança de aquecimento lento for constantemente forçada a lidar com
novas situações, ou se uma criança persistente for constantemente afastada de projetos interessantes,
poderá haver tensões. Bebês com temperamentos difíceis podem ser mais suscetíveis à qualidade dos
cuidados parentais do que bebês de temperamento fácil ou de aquecimento lento, e talvez precisem de
mais apoio emocional combinado com respeito por sua autonomia

Timidez e ousadia: influências da biologia e da cultura Como já mencionamos, o temperamento


parece ter uma base biológica. Em uma pesquisa longitudinal com 500 crianças, começando
na primeira infância, Jerome Kagan e seus colegas estudaram um aspecto do temperamento chamado
inibição ao não familiar, algo que tem a ver com o grau de ousadia ou de cautela com que ela se
aproxima de objetos e situações não familiares, e que está associado a certas características biológicas.
Quando apresentados, aos 4 meses de idade, a uma série de novos estímulos, cerca de 20% dos
bebês choraram, agitaram os braços e espernearam, e às vezes curvaram as costas; esse grupo foi
chamado de inibido ou “altamente reativo”. Aproximadamente 40% demonstraram pouca inquietação ou
atividade motora, e estavam mais propensos a sorrirem espontaneamente; foram rotulados
como desinibidos ou “pouco reativos”. Os pesquisadores sugeriram que crianças inibidas podem ter
nascido com uma amígdala mais excitável do que a média. A amígdala é uma estrutura do cérebro
que detecta e reage a eventos não familiares, e que está envolvida nas respostas emocionais (Kagan
e Snidman, 2004)

AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS SOCIAIS: O BEBÊ NA FAMÍLIA


As práticas educativas e os padrões de interação variam muito em todo o mundo, dependendo
de como uma cultura vê a natureza e as necessidades da criança.

O papel da mãe Numa série de experimentos pioneiros realizados por Harry Harlow e seus
colaboradores, macacos rhesus foram separados de suas mães de 6 a 12 horas após o nascimento e
criados num laboratório. Os macacos bebês foram colocados em gaiolas onde haviam dois tipos de
“mães” substitutas: uma simples tela cilíndrica de arame ou uma forma coberta de pelúcia.

O papel do pai O papel da paternidade é basicamente uma construção social (Doherty, Kouneski e
Erickson, 1998), tendo diferentes significados em diversas culturas. O papel pode ser assumido ou
compartilhado por alguém que não seja o pai biológico: o irmão da mãe, como na Botsuana; ou um avô,
como no Vietnã (Engle e Breaux, 1998; Richardson, 1995; Townsend, 1997). Em algumas sociedades, os
pais estão mais envolvidos na vida de seus
filhos pequenos – economicamente, emocionalmente e no tempo que lhe é dedicado – do que em outras.
Em muitas partes do mundo, o significado de ser pai mudou dramaticamente, e continua mudando (Engle
e Breaux, 1998).

GÊNERO: O QUANTO MENINOS E MENINAS SÃO DIFERENTES?


Ser homem ou mulher afeta a aparência das pessoas, o modo como elas movimentam o corpo e como
trabalham, se vestem e se divertem. Influencia o que pensam de si próprias e o que os outros pensam
delas. Todas essas características – e outras mais – estão incluídas na palavra gênero: o que significa
ser homem ou mulher.
Como os pais moldam as diferenças de gênero Os pais tendem a pensar que bebês do sexo
masculino e do sexo feminino são mais diferentes do que realmente são. Em um estudo de bebês de
11 meses que recentemente haviam começado a engatinhar, as mães tinham maiores expectativas de
sucesso de que seus filhos descessem rampas do que suas filhas. Quando, porém, testados nas rampas,
meninas e meninos revelavam os mesmos níveis de desempenho (Mondschein et al., 2000).
Os pais começam já muito cedo a influenciar a personalidade de meninos e meninas. O pai,
especialmente, promove a tipificação de gênero, processo em que os filhos aprendem o comportamento
que sua cultura considera apropriado para cada sexo (Bronstein, 1988). O pai trata meninos e
meninas mais diferenciadamente do que a mãe, mesmo durante o primeiro ano

Questões de desenvolvimento na
primeira infância
Como um recém-nascido dependente, com um repertório emocional limitado e com necessidades físicas
urgentes, torna-se uma criança com sentimentos complexos e com a capacidade de entendê-los e
controlá-los? Uma grande parte desse desenvolvimento gira em torno das relações com os cuidadores.
DESENVOLVENDO A CONFIANÇA
Os bebês humanos dependem dos outros para obter alimento, proteção e para a sobrevivência por um
período muito mais longo do que qualquer outro mamífero. Como eles passam a ter a confiança de que
suas necessidades serão satisfeitas? Segundo Erikson (1950), as primeiras experiências são
fundamentais.
O primeiro dos oito estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson é confiança básica versus
desconfiança. Esse
estágio começa no início da primeira infância e continua até por volta dos 18 meses.
Nesses primeiros meses, o bebê desenvolve
o senso de confiança nas pessoas e nos objetos de seu mundo. Ele precisa desenvolver um equilíbrio
entre confiança (que lhe
permite formar relacionamentos íntimos) e
desconfiança (que lhe permite proteger-se).
Se predominar a confiança, como deveria, a
criança desenvolve a “virtude” da esperan-
ça: a crença de que poderá satisfazer suas
necessidades e desejos (Erikson, 1982). Se predominar a desconfiança, a criança verá o mundo como
hostil e imprevisível e terá dificuldade para estabelecer relacionamentos.

DESENVOLVENDO O APEGO
Quando a mãe de Ahmed está por perto, ele olha para ela, sorri, balbucia e vai engatinhando até ela.
Quando ela sai, ele chora; quando ela volta, ele solta um gritinho estridente de alegria. Quando ele
está assustado ou infeliz, agarra-se a ela. Ahmed formou seu primeiro apego a outra pessoa.
O apego é um vínculo recíproco e duradouro entre o bebê e o cuidador, cada um contribuindo
para a qualidade do relacionamento. De um ponto de vista evolucionista, o apego tem valor adaptativo
para o bebê, assegurando que suas necessidades tanto psicossociais quanto físicas sejam satisfeitas
(MacDonald, 1998). Segundo a teoria etológica, bebês e seus pais estão biologicamente predispostos a
se apegarem entre si, e o apego promove a sobrevivência da criança.

Bebês com apego seguro podem chorar ou protestar quando o cuidador se ausenta, mas são
capazes de obter o conforto de que precisam, com eficácia e rapidamente, demonstrando
flexibiliverificador
você é capaz de...
Explicar a importância da
confiança básica e identificar
o elemento crítico em seu
desenvolvimento?
apego
Vínculo recíproco e duradouro entre
duas pessoas, especialmente entre
bebê e cuidador – cada um contribuindo para a qualidade do relacionamento.
Situação Estranha
Técnica de laboratório utilizada para
estudar o apego do bebê.
apego seguro
Padrão em que o bebê chora ou
protesta quando o cuidador principal
se ausenta, procurando-o ativamente
quando ele retorna.
Tanto Ana quanto Diana contribuem para o apego que há entre elas pela maneira como agem uma em
relação à outra. O modo como o bebê se molda ao
corpo da mãe mostra sua confiança e reforça os sentimentos de Diana pela filha,
que ela demonstra por meio da sensibilidade às necessidades de Ana.
Desenvolvimento Humano 221
dade e resiliência, quando diante de situações estressantes. Costumam ser cooperativos e raramente
sentem raiva. Bebês com apego evitativo não são afetados por um cuidador que se ausenta ou
retorna. Eles demonstram pouca emoção, seja positiva ou negativa. Bebês com apego ambivalente
(resistente) ficam ansiosos antes mesmo de o cuidador se ausentar e ficam cada vez mais
perturbados quando ele ou ela sai. Na volta do cuidador, bebês ambivalentes demonstram sua afli-
ção e raiva buscando contato com ele, ao mesmo tempo em que dão chutes e se contorcem. Bebês
ambivalentes podem ser difíceis de agradar, já que sua raiva frequentemente supera sua capacidade
de obter consolo do cuidador. Observe que não é necessariamente o comportamento do cuidador
quando se ausenta que determina a categoria de apego atribuída às crianças, mas o comportamento
do cuidador quando ele volta

Outra pesquisa (Main e Solomon, 1986) identificou um quarto padrão, o apego desorganizado-
-desorientado, que é o menos seguro. Bebês que apresentam o padrão desorganizado parecem não
ter uma estratégia coesa para lidar com o estresse da Situação Estranha. Em vez disso, apresentam
comportamentos contraditórios, repetitivos ou mal direcionados (por exemplo, procuram intimidade
com o estranho e não com a mãe). Poderão saudar a mãe com entusiasmo quando ela voltar, mas
depois se afastam ou se aproximam sem olhar para ela. Parecem confusos e temerosos (Carlson, 1998;
van IJzendoorn, Schuengel e Bakermans-Kranenburg, 1999).

O papel do temperamento Até que ponto e de que maneira o temperamento influencia o apego?
Em um estudo com crianças de 6 a 12 meses e suas famílias, tanto a sensibilidade da mãe quanto o
temperamento do bebê influenciaram os padrões de apego (Seifer et al., 1996). Condições neurológicas
ou fisiológicas podem ser a base das diferenças de temperamento no apego. Por exemplo, a
variabilidade no ritmo cardíaco de um bebê está associada à irritabilidade, e o ritmo cardíaco parece
variar mais em bebês de apego inseguro (Izard et al., 1991).
O temperamento do bebê pode não só ter um impacto direto sobre o apego, como também pode
causar um impacto indireto a partir de seu efeito nos pais. Numa série de estudos realizados na Holanda
(van den Boom, 1989, 1994), bebês de 15 dias, avaliados como irritáveis, estavam muito mais
propensos do que bebês não irritáveis a apresentar um apego inseguro (geralmente evitativo) com 1 ano
de idade. No entanto, bebês irritáveis cujas mães receberam visitas em casa e instruções sobre como
acalmar seus filhos foram tão propensos a serem avaliados como de apego seguro quanto os bebês não
irritáveis. Assim, a irritabilidade do bebê pode impedir o desenvolvimento de um apego seguro, mas
não se a mãe tiver habilidade para lidar com o temperamento do filho (Rothbart et al., 2000). A adequa-
ção da educação entre pais e filhos pode muito bem ser a chave para entender a segurança do apego.
Ansiedade diante de estranhos e ansiedade de separação Sofia costumava ser um bebê
amistoso, sorria para estranhos e se deixava pegar, continuando a arrulhar toda feliz, contanto que
alguém – qualquer um – estivesse por perto. Agora, aos 8 meses, ela se afasta quando uma pessoa
desconhecida se aproxima, e berra quando os pais tentam deixá-la com uma babá. Sofia está
vivenciando a ansiedade diante de estranhos, cautela com pessoas que não conhece, e a ansiedade
de
separação, aflição sentida quando um cuidador familiar se ausenta.

Efeitos de longo prazo do apego Conforme propõe a teoria do apego, a segurança do apego
parece afetar a competência emocional, social e cognitiva. Quanto mais seguro o apego com um
adulto atencioso, maior a probabilidade de a criança desenvolver um bom relacionamento com os
outros.

Transmissão intergeracional de padrões de apego A Entrevista de Apego do Adulto (EAA)


(George, Kaplan e Main, 1985; Main, 1995; Main, Kaplan e Cassidy, 1985) solicita ao adulto que recorde
e interprete sentimentos e experiências relacionadas aos apegos da infância. Estudos que fazem
uso do EAA constataram que o modo como os adultos se recordam das primeiras experiências com os
pais ou cuidadores está relacionado ao seu bem-estar emocional e pode influenciar a maneira como
respondem a seus próprios filhos (Adam, Gunnar e Tanaka, 2004; Dozier et al., 2001; Pesonen et al.,
2003; Slade et al., 1999). A mãe que tinha um apego seguro com a própria mãe ou que entende por
que tinha um apego inseguro pode identificar com precisão os comportamentos de apego do bebê,
responder com incentivos e ajudar a criança a formar um apego seguro com ela (Bretherton, 1990). Mães
que estão preocupadas com suas relações de apego passadas tendem a demonstrar raiva e intromissão
nas interações com os filhos. Mães deprimidas que rejeitam as lembranças de seus apegos passados
tendem a ser frias e não responsivas com os filhos (Adam et al., 2004). A história de apego dos pais
também influencia a percepção do temperamento do seu bebê, e essas percepções podem afetar a
relação entre pais e filhos (Pesonen et al., 2003).
Felizmente, um ciclo de apego inseguro pode ser interrompido. Em um estudo, 54 mulheres
holandesas, mães pela primeira vez, que foram classificadas pela EAA como de apego inseguro
receberam visitas domésticas em que lhes foram passadas informações em vídeo para aprimorar os
cuidados
parentais, ou então participaram de discussões sobre suas experiências na infância em relação aos
atuais cuidados com os filhos. Após as intervenções, essas mães estavam mais sensíveis do que um
grupo-controle que não havia recebido as visitas. O aumento da sensibilidade das mães em relação às
necessidades dos filhos afetou consideravelmente a segurança dos bebês com temperamento altamente
reativo (negativamente emocionais) (Klein-Velderman et al., 2006)

COMUNICAÇÃO EMOCIONAL COM OS CUIDADORES:


REGULAÇÃO MÚTUA
Com 1 mês de idade, Max olha com atenção para o rosto de sua mãe. Aos 2 meses, quando a mãe sorri
para ele e esfrega sua barriguinha, ele também sorri. Aos 3 meses, Max sorri primeiro, convidando
a mãe para brincar (Lavelli e Fogel, 2005).
Bebês são seres comunicativos; possuem um forte desejo de interagir com os outros. A capacidade
tanto do bebê quanto do cuidador de responder adequadamente e com sensibilidade aos estados mentais
e emocionais um do outro é conhecida como regulação mútua. Os bebês participam ativamente na
regulação mútua enviando sinais comportamentais, como o sorriso de Max, que influenciam o modo como
os cuidadores se comportam em relação a eles. Quando os cuidadores são sensíveis e respondem de
forma
apropriada aos sinais da criança, dizemos que estão em alta sincronia interacional – a dança contínua
entre cuidador e bebê. Quando as metas do bebê são atingidas, este fica contente ou pelo menos
interessado
(Tronick, 1989). Se o cuidador ignorar um convite para brincar ou insistir em brincar quando o bebê,
virando-se, sinalizou que “não estou com vontade”, o bebê poderá sentir-se frustrado ou triste. Quando o
bebê não atinge os resultados desejados, ele continua tentando remediar a interação. Normalmente, a
interação oscila entre estados bem regulados e mal regulados, e com essa alternância o bebê aprende
como
enviar sinais e o que fazer quando seus sinais iniciais não são eficazes. Essa pode ser a razão de haver
vínculos entre a sincronia interacional e vários resultados benéficos. Por exemplo, crianças de 3 e 9
meses
cujas mães estão em alta sincronia interacional regulam melhor seu comportamento aos 2, 4 e 6 anos
de idade; estão mais propensas a concordar tanto com pedidos quanto com restrições; têm um QI mais
alto aos 2 e 4 anos; e usam mais palavras que se referem a estados mentais (como “penso” ou “sei”) aos
2 anos. Além disso, apresentam menos problemas comportamentais aos 2 anos (Feldman, 2007). Parece
que essa regulação mútua ajuda os bebês a aprender a ler o comportamento dos outros e a desenvolver
expectativas em relação a eles. Até mesmo crianças muito novas podem perceber as emoções expressas
pelos outros e podem ajustar seu comportamento de acordo (Legerstee e Varghese, 2001; Montague e
Walker-Andrews, 2001; Termine e Izard, 1988), mas ficam perturbadas quando alguém – seja a mãe ou
um estranho, e independentemente do motivo – rompe o contato interpessoal (Striano, 2004). O Quadro
6.1 discute como a depressão da mãe pode contribuir para problemas no desenvolvimento do bebê.
REFERENCIAÇÃO SOCIAL
Quando, diante de um desconhecido ou de um novo brinquedo, o bebê olhar para o seu cuidador, isso
significa que ele estará estabelecendo uma referenciação social. Com essa atitude a criança procura
informação emocional para orientar seu comportamento. Na referenciação social, a pessoa é levada à
compreensão de como agir numa situação ambígua, confusa ou não familiar, verificando e interpretando a
percepção que outro indivíduo tem dessa situação.

Questões de desenvolvimento
do 1o ao 3o ano
Aproximadamente no ponto médio entre o primeiro e o segundo aniversário, o bebê torna-se uma
criança. Essa transformação pode ser vista não apenas em habilidades físicas e cognitivas como andar
e falar, mas na maneira como a criança expressa sua personalidade e interage com os outros. A criança
pequena torna-se um parceiro mais ativo e intencional nas interações e às vezes é ela quem toma a
iniciativa. Os cuidadores agora podem “interpretar de modo mais claro” os sinais da criança. Essas
interações “sincronizadas” ajudam as crianças pequenas a adquirir habilidades comunicativas e
competência social, e motiva a aquiescência aos desejos dos pais (Harrist e Waugh, 2002).
Vejamos três questões psicológicas com as quais as crianças mais novas – e seus cuidadores – têm
de lidar: emergência do senso de identidade; crescimento da autonomia ou autodeterminação; e
socialização ou internalização de padrões comportamentais.

A EMERGÊNCIA DO SENSO DE IDENTIDADE


O autoconceito é a imagem que temos de nós mesmos – o quadro total
de nossas capacidades e traços. Descreve o que sabemos e sentimos sobre
nós mesmos e orienta nossas ações (Harter, 1996). A criança incorpora em
sua autoimagem o quadro que os outros refletem de volta para ela.

DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA
À medida que a criança amadurece – fisicamente, cognitivamente e emocionalmente – ela é levada a
buscar sua independência em relação aos vários adultos aos
quais está apegada. “Eu fazer!” é a frase típica da criança quando começa a usar
seus músculos e sua mente para tentar fazer tudo sozinha – não somente andar,
mas alimentar-se, vestir-se e explorar o mundo.
Erikson (1950) identificou o período entre 18 meses e 3 anos como o segundo estágio no
desenvolvimento da personalidade, autonomia versus vergonha
e dúvida, marcado pela passagem do controle externo para o autocontrole.

AS RAÍZES DO DESENVOLVIMENTO MORAL: SOCIALIZAÇÃO E


INTERNALIZAÇÃO
Socialização é o processo pelo qual a criança desenvolve hábitos, habilidades, valores e motivações
que as tornam membros responsáveis e produtivos de uma sociedade. A aquiescência às expectativas
parentais pode ser vista como um primeiro passo em direção à submissão aos padrões sociais. A
socialização depende da internalização desses padrões. Crianças bem-sucedidas na socialização não
mais
obedecem a regras ou comandos apenas para obter recompensas ou evitar punições; elas fazem dos
padrões da sociedade seus próprios padrões (Grusec e Goodnow, 1994; Kochanska e Aksan, 1995;
Kochanska, Tjebkes e Forman, 1998)

O desenvolvimento da autorregulação Letícia, de 2 anos, está prestes a introduzir o dedo


numa tomada elétrica. No apartamento onde ela vive, as tomadas são cobertas, mas não aqui na casa
da vovó. Quando Letícia ouve o grito do pai, “Não!”, ela recolhe o braço. Na próxima vez que chegar
perto de uma tomada e começar a introduzir o dedo, ela hesitará e depois dirá, “Não”. Ela não se permitiu
fazer algo que ela lembrou que não deve fazer. Letícia começa a demonstrar autorregulação:
o controle de seu próprio comportamento para se conformar às exigências ou expectativas de um
cuidador, mesmo quando este não está presente.

Origens da consciência moral: obediência comprometida A consciência moral inclui tanto


o desconforto emocional de fazer algo errado quanto a capacidade de se abster de fazê-lo. Antes que
a criança possa desenvolver consciência moral, é preciso que tenha internalizado padrões morais. A
consciência moral depende da disposição de fazer a coisa certa porque a criança acredita que é certo,
e não (como na autorregulação) apenas porque alguém lhe disse isso.

Considerava-se que as crianças apresentavam obediência comprometida se, espontaneamente,


seguissem as ordens para deixar tudo arrumado e não mexer nos brinquedos especiais, sem
advertências ou deslizes. As crianças apresentavam obediência situacional se precisassem de
estímulo: sua
obediência dependia de um constante controle parental. A obediência comprometida está relacionada
à internalização de valores e regras parentais (Kochanska, Coy e Murray, 2001)

A cooperação receptiva vai além da obediência comprometida. Trata-se de uma ansiosa disposição da
criança em cooperar harmoniosamente com o pai ou a mãe, não apenas em situações
disciplinares, mas em diversas interações cotidianas, incluindo rotinas, pequenas tarefas, higiene e
brincadeiras. A cooperação receptiva permite à criança ser um parceiro ativo na socialização

Fatores que favorecem a socialização O modo como os pais cuidam de socializar o filho
e a qualidade do relacionamento entre eles podem ajudar a prever se a socialização será fácil
ou difícil. No entanto, nem todas as crianças respondem da mesma maneira. Por exemplo, uma
criança de temperamento temeroso poderá responder melhor a lembretes gentis do que a duras
repreensões, enquanto uma criança mais ousada poderá exigir ações mais categóricas (Kochanska,
Aksan e Joy, 2007).
O apego seguro e um relacionamento afetuoso e mutuamente responsivo entre pais e filhos
parecem favorecer a obediência comprometida e o desenvolvimento da consciência moral. Do
segundo ano de vida da criança até o início da idade escolar, os pesquisadores observaram mais
de 200 mães e filhos em longas interações naturais: cuidados rotineiros, preparar e ingerir as refeições,
brincar, relaxamento e pequenas tarefas domésticas. Crianças que estabeleciam relações
mutuamente responsivas com a mãe tendiam a apresentar emoções morais como culpa e empatia;
conduta moral diante da forte tentação de desobedecer às normas ou violar padrões de comportamento; e
cognição moral, de acordo com a sua resposta a dilemas morais hipotéticos apropriados
para a idade (Kochanska, 2002).
O conflito construtivo relacionado ao comportamento inadequado da criança – conflito que
envolve negociação, argumentação e solução – pode ajudar a desenvolver sua compreensão moral,
permitindo que ela veja outro ponto de vista. Em um estudo observacional, crianças de 2 anos e
meio cujas mães deram explicações claras para suas ordens, negociaram ou barganharam com o
filho, mostraram-se mais capazes de resistir à tentação com 3 anos do que crianças cujas mães
haviam recorrido a ameaças ou provocações, ou que insistiram ou desistiram. A discussão sobre
emoções em situações de conflito (“Como você se sentiria se...”) também levou ao desenvolvimento
da consciência moral, provavelmente por promover o desenvolvimento das emoções morais (Laible
e Thompson, 2002).

Contato com outras crianças


Embora os pais exerçam uma grande influência sobre a vida dos filhos, o relacionamento com as
outras crianças – seja dentro de casa ou fora – também é importante já a partir da primeira infância

Irmãos / SOCIABILIDADE COM OUTRAS CRIANÇAS

Filhos de pais que trabalham fora


O trabalho dos pais é mais determinante do que os recursos financeiros da família. Boa parte do
tempo, do esforço e do envolvimento emocional dos adultos é dirigida à vida profissional. Como o
trabalho e os cuidados iniciais em relação aos filhos afetam os bebês e as crianças pequenas? A maior
parte das pesquisas sobre o assunto refere-se ao trabalho da mãe.

Maus-tratos: abuso e negligência


Embora a maioria dos pais seja amorosa e afetuosa, alguns não podem ou não querem prestar os
devidos cuidados a seus filhos, e outros deliberadamente lhes causam danos. Os maus-tratos, sejam eles
perpetrados pelos pais ou por outras pessoas, consistem em pôr a criança em risco, propositadamente
ou quando isso poderia ser evitado.
Os maus-tratos podem assumir diversas formas específicas e a mesma criança pode ser vítima
de mais de um tipo (USDHHS, Administration on Children, Youth and Families, 2008). Esse tipos
incluem:
• Abuso físico, envolve ferimentos causados por socos, espancamentos, chutes ou queimaduras.
• Negligência, o não atendimento das necessidades básicas da criança, como alimento, vestuário,
assistência médica, proteção e supervisão.
• Abuso sexual, qualquer atividade sexual que envolva uma criança e uma pessoa mais velha.
• Maus-tratos emocionais, incluem rejeição, aterrorização, isolamento, exploração, degradação,
ridicularização ou negação de apoio emocional, amor e afeição.

MAUSTRATOS NA PRIMEIRA INFÂNCIA


As crianças são vítimas de abuso e negligência em todas as idades, mas os índices mais altos de
vitimização e morte por maus-tratos são para aquelas de 3 anos ou menos

Alguns bebês morrem de déficit de crescimento não orgânico, um tipo de crescimento físico
mais lento ou retardado, sem causa clínica conhecida, acompanhado de desenvolvimento precário e
problemas emocionais. Os sintomas podem incluir ganho de peso insuficiente, irritabilidade, sonolência
excessiva e fadiga, evitação de contato visual, ausência de sorriso ou vocalização, e desenvolvimento
motor retardado. O déficit de crescimento pode resultar de uma combinação de nutrição
inadequada, dificuldades na amamentação, preparação de fórmulas ou técnicas de alimentação
impróprias e interações conturbadas com os pais. No mundo inteiro, a pobreza é o maior fator de risco
do déficit de crescimento. Bebês cuja mãe, ou cuidador principal, é deprimida, abusa do álcool ou de
outras substâncias, vive sob forte estresse ou não demonstra afeto ou afeição também correm maior
risco (Block, Krebs, the Committee on Child Abuse and Neglect e the Committee on Nutrition, 2005;
Lucile Packard Childrens’s Hospital at Stanford, 2009).
A síndrome do bebê sacudido é uma forma de maus-tratos encontrada principalmente em
crianças com menos de 2 anos, geralmente bebês. Como o bebê tem uma musculatura fraca no pescoço
e uma cabeça grande e pesada, sacudi-lo faz o cérebro deslocar-se de um lado para outro dentro
do caixa craniana.

FATORES CONTRIBUINTES: UMA VISÃO ECOLÓGICA


Conforme sugere a teoria bioecológica de Bronfenbrenner, abuso e negligência refletem a interação
de múltiplos níveis de fatores que envolvem a família, a comunidade e a sociedade como um todo.
Características de pais e familiares agressivos e negligentes

Características da comunidade e valores culturais

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