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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA VARA DA

COMARCA DE XXX.

PROCESSO Nº XXX
XXX ,já qualificado nos autos da açã o em epígrafe, por seus advogados infra-assinados,
através de instrumento de procuraçã o e substabelecimento em anexo, com endereço
profissional na Rua xxx, xxx, xxx, xxx, CEP: xxxx vem à presença de Vossa Excelência, mui
respeitosamente, apresentar CONTESTAÇÃO na Ação de Despejo com Pedido de Tutela
Antecipada cumulada com Cobrança de Aluguéis, ajuizada por XXX.
1. DAS INTIMAÇÕ ES/NOTIFICAÇÕ ES/PUBLICAÇÕ ES
Requer o Autor, que todas as intimaçõ es, notificaçõ es e publicaçõ es sejam endereçadas ao
Advogado xxx, OAB xxx, sob pena de nulidade do ato processual, conforme entendimento
jurisprudencial consolidado.
2. DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA
Cumpre, de início, registrar a hipossuficiência do Autor para custear as despesas
processuais e honorá rios advocatícios, sem prejuízo de seu sustento, estando assistida por
sua entidade sindical. Desta forma, valendo-se da lei 1.060/50, cabível os auspícios da
Justiça Gratuita, conforme declaraçã o de hipossuficiência ora anexada.
Ressalte-se que nã o existem honorá rios advocatícios previamente estabelecidos pela parte
em cará ter contratual, ingressando o defensor no patrocínio da causa sem este espectro
financeiro (pro bono).
3. DA REALIDADE DOS FATOS
Na presente demanda, o Autor pretende o despejo do Réu face ao inadimplemento no
pagamento dos aluguéis a partir de xxx, além de encargos locatícios.
As partes celebraram Contrato de Locaçã odo imó vel situado à Rua xxx, nº xxx, xxx, em xxx,
pelo prazode xxx meses, a terminar em xxx.
Contudo, passado o prazo estabelecido, nã o houve renovaçã o formal do contrato e o
Locatá rio continuou residindo no imó vel.
Até novembro de xxx, o Réu honrou com o pagamento das cotas locatícias regularmente,
mas passa, atualmente, por uma situaçã o que exorbita a esfera de seu controle, pois tanto o
Réu quanto a sua esposa se encontram enfermos, além de sofrerem o gravame da precá ria
situaçã o econô mica que constitui a realidade do nosso país, levando-os a reais dificuldades
financeiras.
Cumpre ressaltar que o Réu, na busca de resolver da melhor maneira possível o caso,
procurou o Autor, com o fim de negociar a dívida, porém o Locador nunca esteve acessível
para negociar o débito, sempre obstaculizou qualquer tipo de negociaçã o.
Como é de interesse do Réu continuar no imó vel, pretende estabelecer, junto ao Autor, uma
maneira para negociaçã o da dívida existente.
4. DO DIREITO
O contrato nã o é mero acordo de vontades e “lei entre as partes”. Esta visã o parcial da
relaçã o contratual deve ser completada pelos aspetos só cio-econô micos que revelam ser o
contrato uma decorrência direta do contato social, instrumento fundamental de realizaçã o
de interesses patrimoniais e existenciais das pessoas.
Desta forma, verifica-se que o contrato de locaçã o residencial cuida, de um lado, do legítimo
interesse econô mico do locador, que, no exercício de seu direito de propriedade, busca
extrair os frutos civis do imó vel. De outro lado, há o direito fundamental de moradia do
locatá rio.
Sobre o direito de moradia, expressamente incluído no rol dos direitos sociais elencados no
art. 6º, caput da Constituiçã o Federal através da Emenda nº. 26, de fevereiro de 2000, cabe
destacar que sua proteçã o está diretamente relacionada à pró pria tutela da dignidade
humana, princípio constitucional basilar e norteador de todo o ordenamento jurídico.
“Art. 6º-Sã o direitos sociais a educaçã o, a saú de, a alimentaçã o, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteçã o à maternidade e à infâ ncia,
a assistência aos desamparados, na forma desta Constituiçã o.”
O direito fundamental à moradia assegura a todos a garantia de uma sobrevivência com
dignidade.
Ocorre que, como já destacado o despejo do Réu implicará na gravíssima situaçã o de por
uma família enferma para morar na rua. Se é certo que esse relevante problema, que é
social, nã o poder ser integralmente suportado pelo locador/Autor, a este se impõ e o dever
anexo de lealdade e solidariedade, no sentido de viabilizar o pagamento parcelado do
débito, de acordo com as efetivas possibilidades econô micas do Réu.
Esclareça-se que, durante um longo período, o Réu, honrou com pontualidade o pagamento
dos alugueis. Porém, neste momento de extrema dificuldade, nã o se pode admitir que seu
desalijo seja autorizado, sem que se esgotem as tentativas de uma real e possível
composiçã o.
No mérito, há que se ressaltar que o pedido nã o procede, em parte, posto que, o valor de R$
xxx foi apenas declarado pelo Autor, sem a devida comprovaçã o discriminada do valor
apurado.
Neste sentido, esclarece a Lei 8.245/91, vejamos:
“Art. 62, I -O pedido de rescisã o da locaçã o poderá ser cumulado com o pedido de cobrança
dos aluguéis e acessó rios da locaçã o; nesta hipó tese, citar-se-á o locatá rio para responder
ao pedido de rescisã o e o locatá rio e os fiadores para responderem ao pedido de cobrança,
devendo ser apresentado, com a inicial, cá lculo discriminado do valor do débito.”
Sem embargos, a presente açã o merece ser extinta sem julgamento, vez que o requerente
nã o explicitou com clareza os índices utilizados para atualizaçã o do débito, nã o existindo
sequer mençã o até qual data encontram-se atualizados os valores, conforme se verifica à s
fls. 04 dos autos.
Portanto, nã o sendo dada observâ ncia ao inciso I do art. 62 da Lei 8.245/91, que se refere
ao cá lculo discriminado do valor do débito, assim entendido o demonstrativo que conste
claramente os índices de atualizaçã o (fatores e porcentagens de juros e correçã o
monetá ria), inclusive até qual data está o débito atualizado, cabível o indeferimento da
inicial, com a extinçã o do processo sem julgamento do mérito, haja vista a ausência do
interesse de agir na açã o.
Contudo, o Réu nã o se opõ e ao pagamento da dívida; o que deseja é efetuar a purga da
mora no valor que entende devido. Porém, em razã o de fato imprevisível e alheio a sua
vontade (crise econô mica e enfermidade), requer-se a autorizaçã o para o pagamento em
parcelas que nã o comprometam o seu orçamento, com supedâ neo no art. 317 do Có digo
Civilque trata da onerosidade excessiva, vejamos:
“Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporçã o manifesta entre o
valor da prestaçã o devida e o do momento de sua execuçã o, poderá o juiz corrigi-lo, a
pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestaçã o.”
Ademais, a proteçã o ao Locatá rio encontra amparo também na regra expressa do Có digo
Civil segundo a qual prevê a reduçã o da penalidade nos casos em que a obrigaçã o principal
tenha sido cumprida em parte ou a penalidade seja excessiva, observadas a natureza e a
finalidade do negó cio.
“Art. 413 - A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigaçã o
principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for
manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negó cio.”
Convém destacar, ainda, que, em sua inicial o Autor requer a antecipaçã o da tutela
alegando que o contrato em questã o é desprovido das modalidades de garantias previstas
no art. 37 da Lei 8.245/91.
Desse modo, o pleito do Autor nã o merece prosperar, visto que o entendimento a que se
presta a tutela antecipató ria é a urgência e no caso em aná lise há que se considerar que a
natureza da tutela é mandamental (despejo) e desconstitutiva (contrato de locaçã o).
Ora, qual o propó sito de desconstituir algo provisoriamente?
Pode-se, isso sim, mandar que se faça ou nã o se faça algo em cará ter provisó rio, mas a
desconstituiçã o de certa situaçã o parece nã o trazer riscos ao resultado ú til do processo,
restando, portanto, incompletos os requisitos que evidenciam a concessã o da tutela
antecipada, conforme previsã o do art. 300 do Novo Có digo de Processo Civil.
“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado ú til do processo.”
O princípio da necessidade impõ e que se observe a adequaçã o da medida antecipató ria ao
fim a que se destina a antecipaçã o, e que outro nã o é senã o o de assegurar a efetividade do
processo.
Assim, nos casos em que a tutela somente poderá servir ao Demandante quando concedida
em forma definitiva, nã o haverá utilidade alguma em antecipá -la provisoriamente, o que
torna incabível antecipar simplesmente os efeitos declarató rios e meramente constitutivos.
Destarte, requer a improcedência da antecipaçã o da tutela por nã o atender os requisitos
que evidenciam a sua concessã o.
Em resumo, o processo deve ser extinto sem julgamento do mérito, haja vista inexistir a
memó ria discriminada do débito, o que evidencia a falta de interesse de agir.
DOS REQUERIMENTOS FINAIS
Ante o exposto, REQUER o Demandado:
1. Que seja deferido os auspícios da Justiça Gratuita nos termos, da Lei 1.060/1950, por nã o
ter o Réu condiçõ es de arcar com o pagamento de custas e demais despesas processuais
sem prejuízo de seu sustento;
2. Que todas as intimaçõ es, notificaçõ es e publicaçõ es sejam endereçadas ao Advogado xxx,
OAB xxx, bem como:
1. Seja extinta a presente açã o sem resoluçã o do mérito, haja vista inexistir a memó ria
discriminada do débito, o que evidencia a falta de interesse de agir;
1. Seja julgado TOTALMENTE IMPROCEDENTE o pedido de antecipaçã o dos efeitos da
tutela por nã o atender aos requisitos legais para a concessã o da medida;
1. A autorizaçã o para o pagamento da dívida, em parcelas que nã o comprometam o seu
orçamento a serem acordadas com o Demandante.
Por fim, protesta e requer provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em
direito, notadamente, depoimento pessoal, oitiva de testemunhas, juntada ulterior de
documentos, bem como, quaisquer outras providências que Vossa Excelência julgue
necessá ria à perfeita resoluçã o do feito, ficando tudo de logo requerido.
Nesses Termos,
Pede Deferimento.
Local, data.
ADVOGADO
OAB

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