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Documento: 1901875 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 1 de 4
Superior Tribunal de Justiça
4. No caso em apreço, há que se reconhecer a contradição entre
as respostas dadas aos quesitos anteriores (da mesma série) e
aquela proferida em relação ao quesito 17 (no qual, como
salientado pelo Tribunal de origem, negou-se, em relação a um
dos recorridos, a própria existência do fato). Deveria o Juízo
presidente, de ofício ou mesmo mediante requerimento de
quaisquer das partes, em atenção ao disposto no art. 489 do
Código de Processo Penal (redação então vigente - atual art. 490
do Código de Processo Penal), declarar a contradição e proceder
à nova votação, o que, no entanto, não foi feito.
5. Recurso especial parcialmente provido
ACÓRDÃO
Relator
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RECURSO ESPECIAL Nº 846.999 - DF (2006/0090760-4)
RELATOR : MINISTRO ANTONIO SALDANHA PALHEIRO
RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS
RECORRIDO : ANTÔNIO ALVES DA SILVA (PRESO)
RECORRIDO : ADAILTON PEREIRA DOS SANTOS (PRESO)
ADVOGADO : ANDREA BRITO LUSTOSA DA COSTA E SOUSA
(ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA) - DF015015
RELATÓRIO
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Superior Tribunal de Justiça
apelante, cassa-se a sentença para outra ser proferida. DEU-SE
PROVIMENTO AO RECURSO DE ANTÔNIO ALVES DA SILVA A
FIM DE SER SUBMETIDO A NOVO JULGAMENTO. MAIORIA. DE
OFÍCIO, ANULOU-SE A SENTENÇA PARA OUTRA SER
PROFERIDA EM RELAÇÃO AO APELANTE ADAILTON PEREIRA
DOS SANTOS. UNÂNIME.
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Antônio Alves da Silva, utilizando-se de corda e pedaço de vidro,
matasse a vítima.
O Tribunal de Justiça, em apelação, determinou novo julgamento
de Antônio — em virtude de que uma testemunha procurara o
Ministério Público para relatar ameaças, o que foi tomado por termo
pelo Promotor de Justiça — e anulou a sentença de Adailton,
absolvendo-o, porque o 17o quesito negara que terceira pessoa
teria agredido a vítima Jorge (que, surpreendentemente, morreu!).
Não há a nulidade cogitada pelo TJDFT.
Em relação a Antônio, a eventual irregularidade do contato entre
Promotor de Justiça e testemunha (seria possível deixar o
Ministério Público de tomar providências diante da grave notilial)
não teria o condão de inviabilizar o veredito do Tribunal Popular,
mesmo porque se trata de réu CONFESSO, que fundara sua tese
em legítima defesa.
(...)
Sucede que o júri, no primeiro quesito, afirmou, por 7x0 (sete a
zero), que Antônio Alves da Silva fora o autor dos golpes contra a
vitima (fls. 231).
E, no 19° quesito, afirmou, por 4x3, especificamente, que Adaílton
Pereira dos Santos "segurou a vítima para que seu comparça (sic)
Antonio Alves, desferisse no pescoço da mesma dos golpes
mortais? " (fls. 235).
Nesse contexto, não há dúvida de que o júri condenou o réu
Adaílton pela co-autoria/participação no homicídio de Jorge
Martins.
É certo que, no 17° quesito, os jurados, por 4x3, negaram que
terceira pessoa tenha atingido a vitima com um pedaço de vidro
causando-lhe a morte.
Trata-se, contudo, de equívoco evidente!
A ser verdade que terceira pessoa não desferira os golpes, não
existiria vítima, nem homicídio, nem processo.
É o relatório.
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RECURSO ESPECIAL Nº 846.999 - DF (2006/0090760-4)
VOTO
Trago, a propósito, trecho dos votos que fazem alusão à questão objeto
de deliberação (e-STJ fls. 351/352):
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(...)
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Desembargador revisor, a violação aos princípios do contraditório e ampla defesa,
acarretando grave prejuízo ao réu, prejuízo este, por óbvio, não remediado com a
simples advertência do Juiz-presidente no sentido de que o Conselho de sentença
desconsiderasse, naquele ponto, a fala do órgão ministerial. Há que se ponderar, nesse
sentido, que, no plenário Tribunal do Júri e quanto aos jurados, em exceção ao sistema
da persuasão racional do juiz (art. 155 do Código Penal), adotou-se o sistema da íntima
convicção, por meio do qual o órgão julgador decide (intimamente) sem a necessidade
de exteriorizar as razões de sua convicção.
Nesse sentido:
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No tocante ao ponto recursal atinente ao recorrido Adailton Pereira dos
Santos, tenho que parcial razão assiste ao Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios.
(...)
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O 17° quesito está formulado de acordo com a técnica que deve
ser observada no julgamento de co-autor ou partícipe. Por isso
indagou-se, nesse quesito, se "(...) terceira pessoa, utilizando-se
de um pedaço de vidro (gargalo de um vidro de pimenta), desferiu
vários golpes contra vítima Jorge Martins dos Santos, causando-lhe
as lesões descritas no laudo de Exame Cadavérico de fls. 88/927'.
Negada por quatro votos a prática de lesões corporais na vítima,
afirmou o conselho de sentença no 18° quesito, contraditoriamente,
que as inexistentes lesões acarretaram-lhe a morte. Como se não
bastasse, indagou-se, no 19° quesito, se Adailton segurou a vítima
para que Antônio nela desferisse os golpes fatais, com resposta
afirmativa por maioria de votos.
Esse procedimento, no meu entender, depois de análise mais
acurada do ocorrido no julgamento, é causa de sua nulidade por
vício na formulação do questionário.
Desprezou-se a lição de Hermínio Marques Porto quanto à
formulação de quesitos, no caso de concurso de agentes:
(...)
Ainda que se forçasse a correção do questionário, reconhecido no
primeiro quesito da primeira série que o réu Antônio Alves causara
na vítima lesões corporais, uma vez negada a ocorrência desse fato
no quesito relativo à co-autoria, por quatro votos, deveria o juiz ter
esclarecido aos jurados a contradição verificada, tal como lhe
autoriza o Código de Processo Penal:
"Art. 489. Se a resposta a qualquer dos quesitos estiver em
contradição com outra ou outras ja proferida, o juiz, explicando aos
jurados em que consiste a contradição, submeterá novamente à
votação os quesitos a que se referirem tais respostas".
Sucede, porém, que essa providência não foi tomada. O que temos,
de concreto, em relação ao réu Adailton, é a negativa da existência
do próprio fato delituoso, para o qual, segundo está afirmado no
libelo, teria concorrido. Se o juiz não quis observar o disposto no
art. 489 do Código de Processo Penal, deveria ter encerrado,
desde logo, o julgamento, declarando prejudicados os demais
quesitos. Como o Ministério Público se conformou com o resultado
do julgamento, pois não o impugnou em suas razões, não seria
possível a esta turma, em recurso interposto exclusivamente pelo
réu, proclamar essa nulidade. A matéria está, aliás, sumulada pelo
Supremo Tribunal Federal — "E nula a decisão do tribunal que
acolhe, contra o réu, nulidade não argüida no recurso da
acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício" (verbete n°
160). (grifei)
De fato, há que se reconhecer a contradição entre as respostas dadas
entre os quesitos anteriores (da mesma série - e-STJ fl. 353) e aquela proferida em
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relação ao quesito 17 (no qual, como bem salientado pelo Tribunal de origem, negou-se,
em relação ao recorrido Adailton, a própria existência do fato). Deveria o Juízo
presidente, de ofício ou mesmo mediante requerimento de quaisquer das partes, em
atenção ao disposto no art. 489 do Código de Processo Penal (redação então vigente -
atual art. 490 do Código de Processo Penal), declarar a contradição e proceder à nova
votação, o que, no entanto, não foi feito.
Nesse sentido:
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Superior Tribunal de Justiça
PRECLUSÃO. INOCORRÊNCIA. ACÓRDÃO FUSTIGADO EM
CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTE SODALÍCIO
SUPERIOR. SÚMULA N.º 83/STJ. AGRAVO DESPROVIDO.
2. Os quesitos a serem submetidos à apreciação do Conselho de
Sentença devem ser formulados de forma a facilitar a compreensão
dos jurados, sob pena de nulidade.
3 Apesar de possível a elaboração sucessiva dos quesitos
atinentes à tentativa de homicídio e arrependimento eficaz, já que a
quesitação deve guardar correlação com as teses de acusação e
de defesa, o resultado afirmativo quanto a um deles torna
prejudicado a análise do outro, eis que institutos completamente
diversos entre si, sob pena de nulidade absoluta, não estando,
pois, sujeita à preclusão ante a inércia do Parquet Estadual na
sessão plenária. Precedentes.
4. In casu, tendo o Tribunal Popular reconhecido o homicídio
tentado e, posteriormente, o arrependimento eficaz, torna-se de
rigor a anulação da sessão plenária, por ter referida operação
gerado perplexidade nos jurados.
5. Acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça local em consonância
com a jurisprudência deste Sodalício Superior. Enunciado Sumular
n.º 83/STJ.
6. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no REsp 1162334/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 22/11/2011, DJe 05/12/2011)
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modo a desaparecer a contradição" (ob. cit., p. 238). Caso o juiz
não adote essa medida, resta à parte prejudicada apelar ao
Tribunal de Justiça, a quem cumpre, por tratar-se de nulidade
absoluta, ex vi do disposto no art. 564, parágrafo único (RT
716/429), reconhecer o vício e determinar a realização de novo
julgamento." (Código de Processo Penal e Lei de Execução Penal
comentados por artigos / Rogério Sanches Cunha, Ronaldo Batista
Pinto - Salvador: Juspodivm, 2017, fl. 1285, grifei)
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TURMA, julgado em 19/09/2017, DJe 27/09/2017, grifei)
É o voto.
Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO
Relator
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. LUIZA CRISTINA FONSECA FRISCHEISEN
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
RECORRIDO : ANTÔNIO ALVES DA SILVA (PRESO)
RECORRIDO : ADAILTON PEREIRA DOS SANTOS (PRESO)
ADVOGADO : ANDREA BRITO LUSTOSA DA COSTA E SOUSA (ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA) - DF015015
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Sexta Turma, por unanimidade, deu parcial provimento ao recurso especial, nos
termos do voto da Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Sebastião Reis Júnior, Rogerio Schietti Cruz e Nefi
Cordeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.
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