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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 58.102 - MG (2006/0088277-9)


RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ
IMPETRANTE : FERNANDO JOSÉ RODRIGUES
IMPETRADO : TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DO ESTADO DE MINAS GERAIS
PACIENTE : JOÃO BARBOSA FRANCISCO (PRESO)
EMENTA
HABEAS CORPUS . PROCESSUAL PENAL. CRIME DE
ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. NULIDADE DO PROCESSO.
ALEGAÇÃO DE INVERSÃO NA OITIVA DE TESTEMUNHAS E
DEFICIÊNCIA NA DEFESA DO RÉU. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO
DO PREJUÍZO. PERÍCIA PSICOLÓGICA ELABORADA POR UM SÓ
PERITO. CONDENAÇÃO AMPARADA EM OUTROS ELEMENTOS DE
PROVA.
1. A inversão da ordem de oitiva das testemunhas restou devidamente
percebida pelo Juízo da instrução, que, só não procedeu o refazimento do ato,
por manifestação expressa da defesa do Paciente, quanto à sua desnecessidade,
diante da ausência de prejuízo. Não há, assim, como reconhecer qualquer
ilegalidade na espécie.
2. A alegação de nulidade do processo-crime, em razão da deficiência
da defesa técnica, não merece acolhida, pois não restaram configurados, de
forma concreta e efetiva, os prejuízos ocasionados ao Paciente, já que restou
devidamente assistido por defensor nomeado pelo Juízo, quando da ausência
de seu procurador constituído, mas devidamente intimado, nas audiências de
inquirição de testemunhas.
3. A imprestabilidade do laudo psicológico, já que elaborado por
somente um perito não oficial, não é suficiente para ensejar a anulação da
condenação imposta ao ora Paciente, pela prática do crime de atentado violento
ao pudor, uma vez que a condenação que lhe foi imposta restou amparada nas
demais provas constantes dos autos. Precedente desta Corte.
4. Ordem denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da QUINTA


TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas a seguir, por unanimidade, denegar a ordem. Os Srs. Ministros Arnaldo Esteves
Lima e Felix Fischer votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp.

Brasília (DF), 17 de abril de 2007 (Data do Julgamento)

MINISTRA LAURITA VAZ


Relatora

Documento: 684598 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 14/05/2007 Página 1 de 8
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HABEAS CORPUS Nº 58.102 - MG (2006/0088277-9)

RELATÓRIO

EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ:


Trata-se de habeas corpus , com pedido liminar, impetrado em favor de JOÃO
BARBOSA FRANCISCO, apontando-se como autoridade coatora o Tribunal de Justiça do
Estado de Minas Gerais.
Segundo consta dos autos, o ora Paciente foi condenado em primeiro grau,
como incurso no art. 214, c.c. os arts. 69 e 224, a, todos do Código Penal, à pena de trinta e
dois anos e seis meses de reclusão, em regime fechado.
Houve interposição de apelação por parte da defesa, que restou parcialmente
provida, nos termos da ementa a seguir transcrita, in verbis :
"EMENTA: Atentado Violento ao pudor. Preliminares repelidas.
Delito caracterizado. Réu, que por vários anos praticou atos libidinosos
diversos da conjunção carnal com as vítimas. Reconhecimento, porém, da
continuidade delitiva. Recurso, parcialmente provido para reduzir a pena
aplicada ao acusado." (fl. 71)

Com o reconhecimento da continuidade delitiva a pena do Paciente foi


reduzida para dez anos e seis meses de reclusão, em regime fechado.
O Impetrante alega, em suma, no presente writ, a nulidade da condenação
imposta ao Paciente, caracterizado pela deficiência em sua defesa técnica, bem como
imprestabilidade do laudo pericial, já que elaborado por somente um perito não oficial e que
não prestou o devido compromisso legal.
A liminar pleiteada foi indeferida às fls. 109/110.
O Ministério Público Federal opinou pela denegação da ordem, em parecer que
guarda a seguinte ementa, litteris :
"HABEAS CORPUS. CRIME DE ATENTADO VIOLENTO AO
PUDOR. NULIDADE DO PROCESSO POR DEFICIÊNCIA NA DEFESA DO
RÉU E IMPRESTABILIDADE DO LAUDO PERICIAL. INOCORRÊNCIA.
PARECER PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM." (fl. 136)

É o relatório.

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HABEAS CORPUS Nº 58.102 - MG (2006/0088277-9)

EMENTA

HABEAS CORPUS . PROCESSUAL PENAL. CRIME DE


ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. NULIDADE DO PROCESSO.
ALEGAÇÃO DE INVERSÃO NA OITIVA DE TESTEMUNHAS E
DEFICIÊNCIA NA DEFESA DO RÉU. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO
DO PREJUÍZO. PERÍCIA PSICOLÓGICA ELABORADA POR UM SÓ
PERITO. CONDENAÇÃO AMPARADA EM OUTROS ELEMENTOS DE
PROVA.
1. A inversão da ordem de oitiva das testemunhas restou devidamente
percebida pelo Juízo da instrução, que, só não procedeu o refazimento do ato,
por manifestação expressa da defesa do Paciente, quanto à sua desnecessidade,
diante da ausência de prejuízo. Não há, assim, como reconhecer qualquer
ilegalidade na espécie.
2. A alegação de nulidade do processo-crime, em razão da deficiência
da defesa técnica, não merece acolhida, pois não restaram configurados, de
forma concreta e efetiva, os prejuízos ocasionados ao Paciente, já que restou
devidamente assistido por defensor nomeado pelo Juízo, quando da ausência
de seu procurador constituído, mas devidamente intimado, nas audiências de
inquirição de testemunhas.
3. A imprestabilidade do laudo psicológico, já que elaborado por
somente um perito não oficial, não é suficiente para ensejar a anulação da
condenação imposta ao ora Paciente, pela prática do crime de atentado violento
ao pudor, uma vez que a condenação que lhe foi imposta restou amparada nas
demais provas constantes dos autos. Precedente desta Corte.
4. Ordem denegada.

VOTO

EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (RELATORA):


De início, quanto às alegações de inversão da ordem de inquirição das
testemunhas e de deficiência na defesa técnica, por ter o seu advogado constituído deixado de
comparecer à oitiva de testemunhas de defesa, bem como em todas as audiência realizadas
fora do juízo a quo, tenho que não merecem ser acolhidas.
No tocante à inversão da ordem de oitiva das testemunhas - em virtude da
prova testemunhal da defesa ter sido colhida por intermédio de carta precatória -, conforme
consta no acórdão ora hostilizado, o Juiz, ao perceber tal equívoco, "perguntou a defesa se
queria refazer a oitiva, no entanto, esta afirmou não ter interesse nisso, por não haver
prejuízo " (fl. 121).

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Como se vê, portanto, a própria defesa dispensou o refazimento do ato
processual, diante do reconhecimento da ausência de qualquer prejuízo advindo à defesa do
Paciente, não havendo, pois, qualquer ilegalidade a ser reparada na espécie.
Já, quanto ao segundo argumento (deficiência na defesa técnica), o acórdão
também afastou tal alegação, por ter sido o Paciente devidamente assistido por defensor
nomeado pelo Juízo, nas audiências de inquirição de testemunhas em que o seu defensor
constituído, ressalte-se, embora intimado, deixou de comparecer (cf. fl. 122).
A decisão da Corte a quo, portanto, deve ser prestigiada, uma vez que a
deficiência de defesa, para acarretar a anulação do processo, precisa, também, nos mesmos
termos já acima ressaltados, evidenciar os prejuízos sofridos pelo réu, o que não se deu na
presente hipótese. A mera alegação, sem provas objetivas dos danos, não autoriza a
declaração de nulidade (Súmula 523 do STF).
No mesmo sentido é o parecer ministerial:
"[...]
Ressalte-se que, no que se refere ao tema nulidades, é princípio
fundamental no processo penal, a assertiva de que não se declara nulidade de
ato se dele não resultar prejuízo comprovado pelo réu, nos termos do art. 583
do CPP e Súmula 523 do STF.
Dessa forma, a ausência ou ineficiência de defesa técnica do
acusado, deve ser concretamente demonstrada, com a indicação objetiva do
prejuízo causado ao ora Paciente. Não é o caso dos autos

Confira-se, ainda, sobre o assunto, os seguintes precedentes desta Corte:


"CRIMINAL. RHC. LATROCÍNIO. ALEGAÇÃO DE
INSUFICIÊNCIA DE DEFESA. PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO.
INCIDÊNCIA DA ATENUANTE DA MENORIDADE. MATÉRIA
CONTROVERTIDA. IMPROPRIEDADE DO WRIT. RECURSO
DESPROVIDO.
Não padece de ilegalidade acórdão que não reconhece alegação de
deficiência de defesa técnica, se a impetração não demonstra efetivo prejuízo,
limitando-se a transcrever trechos da defesa efetuada.
Tratando-se de nulidade relativa, imprescindível se faz a
demonstração do prejuízo para a caracterização da nulidade.
Evidenciado, nos autos, que o reconhecimento da menoridade é
matéria controvertida, dependendo do exame de provas, sobressai a
impropriedade do habeas corpus para a discussão da matéria.
Recurso desprovido." (RHC 14316/GO, Quinta Turma, rel. Ministro
GILSON DIPP, DJ de 19/04/2004)

"HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. TRIBUNAL DO JÚRI.


NULIDADE. DEFESA TÉCNICA DEFICIENTE. PREJUÍZO NÃO
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DEMONSTRADO. APLICAÇÃO DA SÚMULA N.º 523 DO STF.
PRECEDENTES DO STJ.
1. A alegação de deficiência de defesa durante o julgamento
realizado pelo Júri Popular, caracterizado pela sua inoperância e ausência de
impugnação quanto aos vícios ocorridos, como a interferência de grupo
político organizado e defeito na quesitação, encontra-se prejudicada, diante
da anulação de seu julgamento pela Corte a quo, por ocasião da apreciação
da apelação da Defesa.
2. Não há como sustentar a alegação de nulidade do processo-crime,
em razão da deficiente defesa técnica ocorrida durante a instrução criminal,
porquanto não restou configurado na espécie, de forma concreta e efetiva, os
prejuízos que lhe foram ocasionados pela participação do defensor primitivo
no processo. Incidência da Súmula n.º 523 do STF. Precedentes.
3. Writ prejudicado em parte e, na parte conhecida, denegada a
ordem." (HC n.º 27.441/AP, de minha relatoria, DJ de 07/11/2005)

"HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. NULIDADE.


AUSÊNCIA DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. DEFICIÊNCIA. PREJUÍZO
NÃO DEMONSTRADO.
1. "No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta,
mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu."
(Súmula do STF, Enunciado n.º 523).
2. Ordem denegada." (HC n.º 31.422/RJ, rel. Min. HAMILTON
CARVALHIDO, DJ de 11/04/2005)

Por fim, quanto à imprestabilidade do laudo pericial, já que elaborado por


somente um perito não oficial e que não prestou o devido compromisso legal, tal fato não é
suficiente para ensejar a anulação da condenação imposta ao ora Paciente, pela prática do
crime de atentado violento ao pudor, uma vez que, conforme asseverado no acórdão atacado,
"o relatório psicológico não é o único elemento que embasou a condenação,
harmonizando-se com as demais provas. " (fl. 123).
No mesmo sentido:
"CRIMINAL. RHC. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. PERÍCIA.
NULIDADE. LAUDO ASSINADO POR APENAS UM PERITO OFICIAL.
LAUDO DE EXAME EM VESTES. EXAME DE DNA. MATERIALIDADE
COMPROVADA. PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. PRECLUSÃO.
RECURSO DESPROVIDO.
O fato de o laudo de exame de corpo de delito ter sido realizado por
um só perito oficial não é hábil a ensejar a anulação do processo criminal no
qual o paciente foi condenado pela prática de atentado violento ao pudor, se
os autos evidenciam a existência de outras provas consideradas pelo
Magistrado singular para caracterizar a materialidade do crime e embasar o
decreto condenatório, tais como o laudo de exame em vestes e o exame de
DNA.

Documento: 684598 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 14/05/2007 Página 5 de 8
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Em se tratando de nulidades no processo penal, é imprescindível,
para o seu reconhecimento, que se faça a indicação do prejuízo concreto
causado ao réu, o qual não restou evidenciado no presente caso.
Realizada a perícia antes do oferecimento da denúncia, a defesa
argüiu nulidade apenas em sede de alegações finais, operando-se, por
conseguinte, a preclusão.
Recurso desprovido." (RHC 17715/DF, 5ª Turma, rel. Ministro
GILSON DIPP, DJ de 19/12/2005.)

Cumpre ressaltar, ainda, que o ora Paciente, "no momento oportuno, não
reclamou de qualquer irregularidade, no referido laudo " (fl. 123), de modo a demonstrar a
ocorrência do efetivo prejuízo. Assim, não tendo a defesa questionado a suposta nulidade nas
alegações finais, tornou-se preclusa a questão ora suscitada, nos termos do art. 571, inciso II,
do Código de Processo Penal.
Por oportuno, reproduzo novamente o parecer ministerial que, arrimado em
precedente desta Corte, corrobora esse entendimento, in verbis :
"[...]
Insubsistente também a argumentação relativa à nulidade do
processo em virtude do laudo pericial ter sido elaborado por um só perito. Tal
fato, por si só, não é hábil a ensejar a anulação do processo criminal. Os
autos evidenciam a existência de outras provas consideradas pelo Magistrado
singular hábeis à embasar a condenação imposta. Ademais, a alegação de
imprestabilidade do laudo pericial já se encontra preclusa.
A propósito:
'PROCESSUAL PENAL - HOMICÍDIO - EXAME PERICIAL
- ALEGAÇÃO DE NULIDADE - LAUDO ASSINADO POR APENAS
UM PERITO - ATESTADO DE ÓBITO - NULIDADE RELATIVA -
PRECLUSÃO.
- É inviável, por precluso, a alegação de nulidade da perícia
feita por um único perito e não integrante da instituição oficial de
criminalística se, ciente de sua designação, a defesa, sem protesto,
discutiu as conclusões do laudo. De outro lado, ressaltou o acórdão
guerreado que a materialidade delitiva restou comprovada com o
atestado de óbito.
- Precedente.
- Ordem denegada.'
(HC 26.603/PE, Rel. Min. JORGE SCARTEZZINI, DJ
18.08.2003)" (fls. 138/139)

Ante o exposto, DENEGO A ORDEM.


É como voto.

Documento: 684598 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 14/05/2007 Página 6 de 8
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MINISTRA LAURITA VAZ
Relatora

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2006/0088277-9 HC 58102 / MG


MATÉRIA CRIMINAL
Números Origem: 14529778 1678697 2496
EM MESA JULGADO: 17/04/2007

Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. HELENITA AMÉLIA G. CAIADO DE ACIOLI
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : FERNANDO JOSÉ RODRIGUES
IMPETRADO : TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DE MINAS GERAIS
PACIENTE : JOÃO BARBOSA FRANCISCO (PRESO)
ASSUNTO: Penal - Crimes contra os Costumes (art.213 a 234) - Crimes contra a Liberdade Sexual - Atentado
Violento ao Pudor ( art. 214 )

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, denegou a ordem."
Os Srs. Ministros Arnaldo Esteves Lima e Felix Fischer votaram com a Sra. Ministra
Relatora.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp.

Brasília, 17 de abril de 2007

LAURO ROCHA REIS


Secretário

Documento: 684598 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 14/05/2007 Página 8 de 8

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