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Nosso relacionamento com Deus

Élder D. Todd Christofferson


Do Quórum dos Doze Apóstolos

Independentemente do que aconteça em nossa experiência mortal,


podemos confiar em Deus e encontrar alegria Nele.

Assim como Jó, do Velho Testamento, em tempos de sofrimento,


algumas pessoas podem sentir que Deus as abandonou. Por
sabermos que Deus tem poder para impedir ou remover qualquer
aflição, podemos ser tentados a reclamar caso Ele não o faça,
talvez questionando: “Se Deus não me concede a ajuda pela qual
oro, como posso ter fé Nele?” Em meio a suas intensas provações,
o justo homem chamado Jó disse:

“Sabei agora que Deus é o que me transtornou, e com a sua rede


me cercou.

Eis que clamo: Violência! Porém não sou ouvido. Grito: Socorro!
Porém não há justiça”. 1

Em Sua resposta a Jó, Deus repreende: “Tu me condenarás, para


te justificares?” 2 Ou, em outras palavras: “Porventura também
farás tu vão o meu juízo? ou tu me condenarás, para te
justificares?” 3 Jeová energicamente relembra Jó de Sua
onipotência e onisciência, e Jó, em grande humildade, reconhece
que não possui nada que sequer se aproxime do conhecimento, do
poder e da justiça de Deus e que não pode se colocar na posição
de julgar o Todo-Poderoso:

“Bem sei eu que tudo podes”, disse ele, “e que nenhum dos teus
pensamentos pode ser impedido.

(…) Relatei o que não entendia, coisas que para mim eram
maravilhosíssimas, e eu não as entendia. (…)

Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza”. 4


Por fim, Jó teve o privilégio de ver o Senhor, “e (…) abençoou o
Senhor o último estado de Jó, mais do que o primeiro”. 5

É de fato uma insensatez que nós, com nossa miopia mortal,


ousemos julgar a Deus, pensando, por exemplo: “Não sou feliz.
Deus deve estar fazendo algo errado”. Para nós, Seus filhos
mortais em um mundo decaído, que conhecemos tão pouco do
passado, do presente e do futuro, Ele declara: “Todas as coisas
estão presentes comigo, pois eu as conheço todas”. 6 Jacó
sabiamente aconselha: “Não tenteis dar conselhos ao Senhor, mas,
sim, recebei conselhos de sua mão. Pois eis que vós mesmos sabeis
que ele aconselha com sabedoria e justiça e grande misericórdia
em todas as suas obras”. 7

Algumas pessoas compreendem mal as promessas de Deus,


acreditando que a obediência a Ele produz resultados específicos
em uma programação determinada. Elas podem pensar: “Se eu
diligentemente servir missão de tempo integral, Deus vai me
abençoar com um casamento feliz e filhos” ou “Se eu deixar de
fazer as tarefas escolares no Dia do Senhor, Deus vai me abençoar
com boas notas” ou “Se eu pagar o dízimo, Deus vai me abençoar
com aquele emprego que tenho desejado”. Caso a vida não seja
exatamente dessa maneira ou de acordo com a programação
esperada, elas podem se sentir traídas por Deus. Porém, as coisas
não são tão automáticas nas planilhas divinas. Não devemos
imaginar o plano de Deus como sendo uma máquina cósmica de
venda onde podemos (1) escolher uma bênção desejada, (2) inserir
a quantidade exigida de boas obras e (3) receber o pedido
automaticamente. 8

Deus de fato honrará Seus convênios e promessas feitos a cada um


de nós. Não precisamos nos preocupar com isso. 9 O poder
expiatório de Jesus Cristo — tendo Ele mesmo descido abaixo de
todas as coisas e depois subido aos céus, 10 e que possui poder no
céu e na Terra 11 — garante que Deus pode cumprir e cumprirá
Suas promessas. É essencial que honremos Suas leis e as
obedeçamos, porém, nem todas as bênçãos fundamentadas na
obediência à lei 12 são moldadas, concebidas e programadas de
acordo com nossas expectativas. Fazemos o melhor que podemos,
mas devemos deixar que Ele administre as bênçãos, tanto
temporais quanto espirituais.
O presidente Brigham Young explicou que sua fé não era
edificada sobre certas bênçãos ou resultados, mas sobre seu
testemunho de Jesus Cristo e seu relacionamento com Ele. Ele
disse: “Minha fé não está alicerçada sobre o trabalho que o Senhor
faz nas ilhas do mar, ou sobre o fato de Ele trazer pessoas para cá;
(…) nem sobre as bênçãos que ele concede a este povo ou àquele
povo, nem sobre o fato de sermos abençoados ou não, mas minha
fé está alicerçada sobre o Senhor Jesus Cristo e sobre o conhecimento que
adquiri Dele”. 13

Nosso arrependimento e nossa obediência, nosso serviço e nossos


sacrifícios de fato importam. Queremos estar entre aqueles que,
como disse Éter, são “sempre abundantes em boas obras”. 14 Não
tem muito a ver com algum registro mantido nos livros contábeis
celestiais. Essas coisas importam, porque elas nos envolvem na
obra de Deus e são o meio pelo qual colaboramos com Ele em
nossa própria transformação de homens naturais em santos. 15
Nosso Pai Celestial nos oferece a Si mesmo, Seu Filho e um
relacionamento próximo e duradouro com Eles por meio da graça
e mediação de Jesus Cristo, nosso Redentor.

Somos filhos de Deus, designados para a imortalidade e a vida


eterna. Nosso destino é sermos Seus herdeiros, “coerdeiros com
Cristo”. 16 Nosso Pai está disposto a guiar cada um de nós em Seu
caminho do convênio com passos moldados conforme nossas
necessidades individuais e sob medida para Seu plano de nos
conceder felicidade definitiva junto a Ele. Podemos esperar fé e
confiança crescentes no Pai e no Filho, uma maior percepção de
Seu amor e o consolo e a orientação consistentes do Espírito
Santo.

Ainda assim, esse caminho não tem como ser fácil para nós porque
precisamos de muito refinamento. Jesus disse:

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.

Todo ramo que está em mim, que não dá fruto, [o Pai] o tira; e
limpa todo ramo que dá fruto, para que dê mais fruto”. 17

O processo de purificação orientado por Deus às vezes será,


inevitavelmente, doloroso. Relembrando as palavras de Paulo,
somos “coerdeiros com Cristo; se porventura com ele padecemos,
para que também com ele sejamos glorificados”. 18
Portanto, em meio a esse fogo do ourives, em vez de ficar com
raiva de Deus, aproxime-se Dele. Invoque o Pai em nome do Filho.
Caminhe com Eles em Espírito, dia após dia. Permita que, com o
tempo, Eles manifestem Sua fidelidade a você. Busque
verdadeiramente conhecê-Los e conhecer a si mesmo. 19 Permita
que Deus prevaleça. 20 O Salvador nos tranquiliza:

“Ouvi aquele que é o advogado junto ao Pai, que está pleiteando


vossa causa perante ele —

Dizendo: Pai, contempla os sofrimentos e a morte daquele que


não cometeu pecado, em quem te rejubilaste; contempla o sangue
de teu Filho, que foi derramado, o sangue daquele que deste para
que fosses glorificado;

Portanto, Pai, poupa estes meus irmãos [e estas minhas irmãs] que creem
em meu nome, para que venham a mim e tenham vida eterna”. 21

Ponderem a respeito de alguns homens e mulheres fieis que


confiavam em Deus, que tinham a confiança de que as bênçãos
prometidas por Ele estariam a seu dispor durante esta vida ou
após a morte. Sua fé não tinha como base o que Deus havia feito
ou deixado de fazer em uma determinada circunstância ou
momento no passado, mas conhecê-Lo como seu Pai benevolente
e conhecer a Jesus Cristo como seu fiel Redentor.

Quando Abraão estava prestes a ser sacrificado pelo sacerdote


egípcio de Elquena, ele clamou a Deus para que o salvasse, e Deus
o salvou. 22 Abraão viveu para se tornar o pai dos fiéis, em cuja
semente seriam abençoadas todas as famílias da Terra. 23
Anteriormente, naquele mesmo altar, o mesmo sacerdote de
Elquena havia oferecido três virgens que, “por causa de sua
virtude; recusaram-se a curvar-se para adorar deuses de madeira
ou de pedra”. 24 Elas morreram como mártires.

José, da antiguidade, vendido como escravo ainda jovem por seus


irmãos, voltou-se a Deus em sua angústia. Aos poucos, ele ganhou
destaque na casa de seu superior no Egito, mas depois teve todo
esse progresso arruinado por causa das falsas acusações da esposa
de Potifar. José poderia ter tido o seguinte pensamento: “Fui para
a prisão como resultado de ter obedecido à lei da castidade”. Em
vez disso, ele voltou-se novamente a Deus e prosperou, mesmo
estando na prisão. José teve uma outra decepção arrasadora
quando o prisioneiro com quem ele havia criado laços de amizade,
a despeito de sua promessa de ajudar José, esqueceu-se
completamente dele após ter sua posição restaurada na corte do
Faraó. No devido tempo, como vocês sabem, o Senhor interveio e
colocou José na mais alta posição de confiança e poder ao lado do
Faraó, permitindo que José salvasse a casa de Israel. Certamente
José poderia afirmar que “todas as coisas contribuem juntamente
para o bem daqueles que amam a Deus”. 25

Abinádi estava determinado a cumprir seu encargo divino.


“Termino, porém, a minha mensagem”, disse ele, “e agora não
importa [o que aconteça comigo], contanto que eu seja salvo”. 26
Abinádi não foi poupado do martírio, mas sem dúvida foi salvo no
reino de Deus, e seu precioso converso, Alma, mudou o curso da
história nefita até a vinda de Cristo.

Alma e Amuleque foram libertados da prisão em Amonia em


resposta à sua súplica, e seus perseguidores foram mortos. 27
Anteriormente, no entanto, os mesmos perseguidores haviam
lançado mulheres fiéis e seus filhos no fogo ardente. Alma,
testemunhando aquela cena horrível em agonia, foi constrangido
pelo Espírito a não exercer o poder de Deus para salvá-los das
chamas, 28 para que fossem recebidos em glória por Deus. 29

O profeta Joseph Smith definhava-se na cadeia de Liberty, no


Missouri, sem forças para ajudar os santos, enquanto eles eram
atacados e expulsos de casa no frio rigoroso do inverno. “Ó Deus,
onde estás?”, clamou Joseph, “até quando tua mão será retida?” 30
Em resposta, o Senhor prometeu: “Tua adversidade e tuas aflições
não durarão mais que um momento; e então, se as suportares bem,
Deus te exaltará no alto. (…) Ainda não estás como Jó”. 31

No final, Joseph declarou assim como Jó: “Ainda que [Deus] me


matasse, nele esperarei”. 32

O élder Brook P. Hales contou a história da irmã Patricia


Parkinson, que nasceu com visão normal, mas ficou cega aos 11
anos de idade.

Ele disse: “Conheço Pat há muitos anos e, recentemente, disse a


ela que admiro o fato de ela ser sempre positiva e feliz. Ela
respondeu: ‘Bem, você não mora comigo, mora? Tenho meus
momentos. Já tive que lidar com uma depressão profunda e já
chorei muito’. Porém, ela acrescentou: ‘Foi estranho, mas, desde o
momento que comecei a perder a visão, eu sabia que o Pai
Celestial e o Salvador estavam comigo e com minha família. (…)
Para aqueles que me perguntam se fico brava por ser cega, eu
respondo: Com quem eu ficaria brava? O Pai Celestial está nessa
comigo; não estou sozinha. Ele está comigo o tempo todo’”. 33

No final, o que buscamos é a bênção de um relacionamento


próximo e duradouro com o Pai e o Filho. Esse relacionamento faz
toda a diferença e sempre vale a pena. Testificaremos com Paulo
que “as aflições deste tempo presente [e mortal] não são para
comparar com a glória que em nós há de ser revelada”. 34 Testifico
que, independentemente do que aconteça em nossa experiência
mortal, podemos confiar em Deus e encontrar alegria Nele.

“Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu


próprio entendimento.

Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas


veredas”. 35

em nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas
1. Jó 19:6–7, New International Version Study Bible, 2018.

2. Jó 40:8.

3. Jó 40:8.

4. Jó 42:2–3, 6.

5. Jó 42:12.

6. Moisés 1:6; ver também Doutrina e Convênios 38:2.

7. Jacó 4:10.

8. O rei Benjamim ensinou que tudo o que Deus exige de


nós é que guardemos Seus mandamentos “e se o
[fizermos], ele imediatamente [nos] abençoará” (Mosias
2:22, 24). Mas isso não significa que todas as bênçãos
virão de imediato. As bênçãos que recebemos de Deus
são imediatas no sentido de que Seus mandamentos
trazem em si suas próprias recompensas. Isso também
significa que a obediência a Seus mandamentos traz a
bênção de se viver em Sua presença ao termos Seu
Santo Espírito conosco (ver Alma 36:30).

9. Ver Doutrina e Convênios 82:10.

10. Ver Doutrina e Convênios 88:6.

11. Ver Mateus 28:18.

12. Ver Doutrina e Convênios 130:20–21.

13. Brigham Young, “Instructions”, Deseret News, 21 de


novembro de 1855, p. 290, grifo do autor.

14. Éter 12:4.

15. Ver Mosias 3:19; ver também, Dallin H. Oaks, “O


desafio de tornar-se”, A Liahona, janeiro de 2001, p. 40.

16. Romanos 8:17.

17. João 15:1–2.

18. Romanos 8:17; grifo do autor.

19. Ver 1 Coríntios 13:12.

20. Ver Russell M. Nelson, “Permita que Deus prevaleça”,


Liahona, novembro de 2020, p. 92.

21. Doutrina e Convênios 45:3–5; grifo do autor.

22. Ver Abraão 1:7, 15, 20.

23. Ver Abraão 2:11.

24. Abraão 1:11.

25. Romanos 8:28.

26. Mosias 13:9.

27. Ver Alma 14:23–28.

28. Ver Alma 14:10.

29. Alma 14:11: “O Espírito constrange-me a não estender


a mão; porque eis que o Senhor as recebe para si em
glória; e permite que eles façam isto, ou seja, que o
povo lhes faça isto segundo a dureza de seu coração,
para que os julgamentos a que em sua cólera os
para que os julgamentos a que em sua cólera os
submeter sejam justos; e o sangue dos inocentes servirá
de testemunho contra eles, sim, e clamará fortemente
contra eles no último dia”.

30. Doutrina e Convênios 121:1–2.

31. Doutrina e Convênios 121:7–8, 10.

32. Jó 13:15.

33. Brook P. Hales, “Respostas às orações”, Liahona, maio


de 2019, p. 14.

34. Romanos 8:18.

35. Provérbios 3:5–6.

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