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REPERTÓRIO DE

JURISPRUDÊNCIA
SEÇÃO DE DIREITO CRIMINAL

Julgados selecionados
pelos magistrados nas
sessões de julgamento

OUTUBRO/2021
REPERTÓRIO DE JURISPRUDÊNCIA
OUTUBRO/2021

4ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL

ROUBO

Ementa: APELAÇÃO - ROUBO QUALIFICADO - Preliminares de nulidade por cerceamento de


defesa Pleitos para realização de diligências indeferidos de modo fundamentado, sem
demonstração de prejuízo à defesa - Nulidade - Inocorrência - Mérito Autorias e
materialidade delitivas nitidamente delineadas nos autos - Firmes e seguras palavras das
vítimas sobre o crime, apoiadas em reconhecimentos e filmagem parcial da ocorrência -
Absolvição - Impossibilidade - Negativas de autoria que não maculam os reconhecimentos,
aliados à prisão em flagrante ao lado do veículo que, segundo os próprios apelantes, foi
utilizado para ida ao local do roubo, praticado em comparsaria e com emprego de arma de
fogo, pouco importando sua não apreensão - Desclassificação para tentativa -
Impossibilidade - Cessada a grave ameaça e retirados os bens da esfera de disponibilidade
das vítimas, consuma-se o crime, pouco importando recuperação, parcial, posterior Pleito
ministerial para exasperação da pena-base, reconhecimento do emprego de arma de fogo e
fixação do regime fechado para todos - Acolhimento parcial com manutenção das penas
rasas na primeira fase - Rejeição das preliminares, desprovimento dos recursos defensivos e
parcial provimento do ministerial e do AMP para revisão das penas e recrudescimento da
modalidade prisional. (Apelação Criminal nº 1501798-20.2019.8.26.0530 , Ribeirão Preto,
rel. Edison Brandão, j. 19/10/2021).

6ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL

DEFICIÊNCIA DE DEFESA TÉCNICA


PLEITOS DE NULIDADE DA CERTIDÃO DE TRÂNSITO EM JULGADO
E DEVOLUÇÃO DO PRAZO PARA RECURSO

Trechos do voto (não há ementa): Habeas Corpus. “O postulante reclama que os


Advogados que patrocinaram a defesa de C. no feito principal atuaram de forma negligente,
pois perderam o prazo para interpor Recurso de Apelação. Por isso, o impetrante pede a
anulação da certidão de trânsito em julgado e a devolução do prazo recursal.” “(...) verifico
que o antigo Advogado de C. promoveu a sua defesa técnica durante toda a instrução
processual, sendo certo que aquele patrono não apenas apresentou resposta à acusação,
mas também acompanhou a prática de todos os atos processuais e apresentou alegações
finais, em tudo condizentes com o pleno exercício do direito de defesa. ” “Em boa verdade,
é certo que há defesas fáceis de ser feitas, difíceis de ser feitas, e impossíveis de ser feitas,
como é o caso dos autos, tal a massacrante prova colhida contra C.” "CONHECERAM do
pedido, mas DENEGARAM a ordem. V.U. (Habeas Corpus nº 2077030-48.2021.8.26.0000 ,
Assis, rel. Ricardo Tucunduva, j. 07/10/2021).

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ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL - AUSÊNCIA DE OFERTA PELO MP


REMESSA DOS AUTOS AO PGJ (ART. 28-A, §14, DO CPP)

Ementa: Correição parcial. Recurso interposto diante de decisão que indeferiu o pedido de
remessa dos autos ao Exmo. Procurador Geral de Justiça, para fins do disposto no artigo 28 -
A, § 14, do CPP. Possibilidade de indeferimento do pedido apenas quando constatada, prima
facie, a ausência de requisitos objetivos para a celebração do acordo de não -persecução
penal. Hipótese em que a recusa manifestada pelo Promotor de Justiça se pautou na falta
de confissão formal e na insuficiência da medida para reprovação da conduta, situação a ser
melhor avaliada pelo órgão superior, no caso definido pelo legislador como “instância de
revisão ministerial”. Recurso provido. (Correição Parcial nº 2192959-32.2021.8.26.0000 ,
São Paulo, rel. Farto Salles, j. 07/10/2021).

ESTUPRO

Trechos do voto (não há ementa): Apelação criminal. “(...) apela o réu. Alega que as provas
coligidas não são suficientes para alicerçar a condenação que lhe foi imposta, razão pela
qual pede ser absolvido.” “Francamente comprometedoras foram as palavras das
testemunhas D. R. P., L. S. S., P. C. R. e V. S. R. S., que foram coerentes com os relatos da
vítima, sendo certo que os depoimentos de L. e de P. deixaram claro que L. desembarcou do
carro de L. em estado de pânico, e com as vestes parcialmente abertas.” “diante de tais
elementos de prova, de absolvição não era mesmo de se cogitar, estando plenamente
justificada a condenação imposta a L. por estupro.” “reprimenda aplicada a L., verifico que a
pena-base restou assentada metade acima do mínimo legal, e perfez 9 anos de reclusão, e
assim deve permanecer, porquanto o Juiz sentenciante explicitou as razões pelas quais
resolveu exasperá-la, em estrita obediência ao artigo 59 do Código Penal, ressaltando que a
conduta do réu é incompatível com a esperada de um integrante da gloriosa milícia de
Tobias de Aguiar.” “(...)por conta da agravante do artigo 61, inciso II, alínea c do Código
Penal, o Magistrado aumentou de 1/6 o castigo (...) tal aumento foi acertadamente aplicado,
dado que o réu usou de dissimulação ao oferecer carona, e empregou meios que
impossibilitaram a defesa da vítima, consistentes tanto no uso de arma de fogo, como na
ameaça de abandoná-la em local ermo. Por tais razões, mantenho esse acréscimo” "Negaram
provimento ao recurso. V. U. (Apelação Criminal nº 1500010-61.2020.8.26.0424 ,
Pariquera-Açu, rel. Ricardo Tucunduva, j. 07/10/2021).

CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO E


FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO
DE PRODUTOS DESTINADOS A FINS TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS

Ementa: APELAÇÃO. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO (art. 7º, IX, da Lei nº.
8.137/90). Prescrição da pretensão punitiva. Lapso prescricional de quatro anos. Período
ultrapassado entre a publicação da sentença condenatória e o julgamento do recurso, algo
verificado após a data de encaminhamento do feito à mesa pelo Revisor e antes da sessão
de julgamento telepresencial. Extinção da punibilidade reconhecida de ofício diante de

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ambos os delitos. Apelos da Defesa prejudicados em parte. FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO,


ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE PRODUTOS DESTINADOS A FINS TERAPÊUTICOS OU
MEDICINAIS (art. 273, §§ 1º, 1º-A e §1º-B, I e II, do CP). Preliminares. Denúncia que preenche
os requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal. Alegação de inépcia, ademais,
superada com a prolação da sentença. Julgado singular individualizando as condutas de cada
um dos apelantes. Rejeição. Mérito. Materialidade e autoria comprovadas. Inequívoca
apreensão de matérias-primas e insumos fora do prazo de validade, além de produtos sem
a necessária autorização da ANVISA e demais elementos exigidos no rótulo. Coesos e
seguros depoimentos do policial civil e agentes da vigilância sanitária. Apenamento. Revisão.
Impossibilidade. Réus já beneficiados com a aplicação da sanção cominada ao crime previsto
no artigo 33, caput, da Lei nº. 11.343/2006, em desprezo a reiterada jurisprudência do
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL a respeito da constitucionalidade do preceito secundário do
artigo 273, §1º-B, do Código Penal. Recentíssima tese fixada pela mesma Corte
Constitucional no julgamento do Tema 1.003 de repercussão geral inaplicável à hipótese,
versando sobre conduta típica diversa daquela prevista no artigo 273, § 1º -B, I,
especificamente quanto à importação de medicamento sem registro no órgão de vigilânc ia
sanitária. Volume e variedade de medicamentos destinados à venda com fartas provas sobre
o comércio rotineiro e em larga escala a justificar a exasperação do “castigo” e a imposição
do regime prisional fechado. Impossibilidade de aplicação, também por d espropositada
analogia, da figura “privilegiada” do tráfico à hipótese, por completa ausência de amparo
legal, com realce à impossibilidade de combinação de partes mais benéficas de dois tipos
penais distintos também reconhecida pelo EXCELSO PRETÓRIO no ju lgamento do Recurso
Extraordinário nº. 979.962/RS (“leading case” para a tese atrelada ao Tema 1.003). Situação
fática, ademais, que evidencia dedicação habitual ao comércio espúrio imiscuído na
atividade cotidiana ou perene dos agentes, representando a circunstância óbice expresso à
benesse aventada. Apelo improvido. (Apelação Criminal nº 0005764-31.2015.8.26.0037 ,
Araraquara, rel. Farto Salles, j. 21/10/2021).

POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO

Ementa: Apelação. Crime de posse ilegal de arma de fogo irregular. Preliminar de nulidade da
prisão em flagrante. Rejeição. Absolvição por insuficiência de provas. Não cabimento. Materialidade
e autoria demonstradas. Diminuição das penas. Não cabimento. Modificação do regime inicial para
outro de menor intensidade. Não cabimento. Não provimento ao recurso. (Apelação Criminal nº
1501810-30.2020.8.26.0229, Hortolândia, rel. Zorzi Rocha, j. 21/10/2021).

7ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AFASTAMENTO DA INCIDÊNCIA DA LEI Nº 11.340/06

Ementa: Lesão corporal - Violência doméstica - Recurso defensivo pleiteando a desclassificação


do delito ao previsto no art. 129, caput, do Código Penal, ou art. 129, § 6º, do Código Penal, e,
na sequência, a incidência do disposto no art. 88 da Lei n. 9099/95, declarando-se extinta a
punibilidade pela decadência do direito de representação - Autoria e materialidade do delito

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de lesão corporal incontestes - Dolo inquestionável - Réu que agiu com vontade livre e
consciente de ofender a integridade física da vítima - Inviabilidade de desclassificação para a
modalidade culposa - Afastamento da incidência da Lei n. 11.340/06 - Réu e vítima que não
possuíam convivência comum, nem vínculo de subordinação e dependência - Agressão ocorrida
após discussão, nada relacionada a gênero - Desclassificação da conduta para a modalidade
simples da lesão corporal - Impossibilidade de extinção da punibilidade pela decadência do
direito de representação - Representação devidamente ofertada pela representante legal da
vítima, menor de 18 anos de idade, e dentro do prazo previsto em lei - Pena reformulada - Pena
base fixada no mínimo legal - Atenuante da menoridade relativa que não tem o condão de reduzir
a pena - Súmula 231 do STJ - Substituição da pena corporal operada na r. sentença mantida -
Regime prisional aberto, em caso de revogação do benefício - Parcial provimento. (Apelação
Criminal nº 1523837-46.2018.8.26.0562, Santos, rel. Fernando Simão, j. 27/10/2021).

12ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL

CERCEAMENTO DE DEFESA - EXERCÍCIO DA AUTODEFESA

Ementa: Interrogatório - direito de autodefesa – possibilidade de o réu responder somente


às perguntas que desejar, inclusive apenas às formuladas por seu advogado – garantia
constitucional da ampla defesa, que não pode sofrer limitações – direito ao silêncio em
blocos negado pela Magistrada – cerceamento de defesa configurado – concessão da ordem
para que se proceda a novo interrogatório nos moldes pretendidos pelo impetrante .
(Habeas Corpus nº 2143635-73.2021.8.26.0000 , São Paulo, rel. Vico Mañas, j.
05/10/2021).

CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA - INSIGNIFICÂNCIA PENAL


TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL

Ementa: Crime contra a ordem tributária – valor do imposto estadual (ICMS) sonegado
inferior ao definido no art. 1º da Lei Estadual 14.272/2010 – incidência do entendimento dos
Tribunais Superiores acerca da insignificância penal da conduta no que tange a tributos
federais – montante para fins de identificação da bagatela restrito ao apurado originalmente
no procedimento de lançamento, livre de juros, multas e correção monetária - compreensão
do STJ – ordem concedida para trancamento da ação penal, carente de justa causa. (Habeas
Corpus nº 2193888-65.2021.8.26.0000 , Campinas, rel. Vico Mañas, j. 05/10/2021).

PRISÃO DOMICILIAR - REEEDUCANDO RECÉM-OPERADO

Ementa: Habeas Corpus. EXECUÇÃO PENAL. Pedido de concessão de prisão domiciliar.


Paciente que apresenta complicações cirúrgicas. Pós-operatório recente e risco de reinfecção
relatada por ortopedista. Necessidade de tratamento com fisioterapia. Admissibilidade.
Ordem concedida para convalidar a liminar e autorizar a transferência do paciente para
prisão domiciliar. (Habeas Corpus nº 2158320-85.2021.8.26.0000 , Presidente Prudente,
rel. Amable Lopez Soto, j. 05/10/2021).

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LEVANTAMENTO DE SEQUESTRO DE BEM IMÓVEL

Ementa: MANDADO DE SEGURANÇA - CORRUPÇÃO ATIVA E PASSIVA EM CONTINUIDADE


DELITIVA; QUADRILHA; EXPLORAÇÃO SEXUAL; RUFIANISMO E LAVAGEM DE CAPITAIS -
SEQUESTRO DE BEM IMÓVEL - EMBARGOS DE TERCEIRO OPOSTOS COM BASE NO ART. 129
DO CPP - LEVANTAMENTO DO SEQUESTRO - AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE QUE O BEM
SEQUESTRADO TENHA SIDO ADQUIRIDO COM PROVENTOS DOS CRIMES -
IMPOSSIBILIDADE - A autoridade impetrada consignou que os embargos de terceiro se
amoldam à hipótese prevista no art. 130, inc. II, e não no art. 129, do CPP, de modo que só
poderão ser conhecidos após o trânsito em julgado da sentença condenatória, à vista do
disposto no artigo 130, parágrafo único, do mesmo diploma legal. O exame do mérito
implicaria clara supressão de instância. Além disso, a alteração da conclusão a que chegou
o magistrado a quo acerca da condição de terceiros de boa-fé dos impetrantes e da presença
dos requisitos necessários para a decretação da medida exigiriam exigiria dilação probatória,
o que, entretanto, é inadmissível na via estreita do mandado de segurança. SUSPENSÃO DA
ALIENAÇÃO ANTECIPADA DO BEM IMÓVEL - POSSIBILIDADE - Não há nos autos a priori
indicativo concreto de eventual depreciação do bem sequestrado, porquanto a impetração
traz documento comprovando que houve composição sobre as verbas condominiais. Alé m
disso, o imóvel em questão não se caracteriza como de fácil deterioração ou rápida
depreciação econômica a justificar a providência excepcional, e, inexistindo, paralelamente,
demonstração da estrita necessidade da medida, forçoso o reconhecimento de que decreto
de alienação mostra-se prematuro. Segurança parcialmente concedida. (Mandado de
Segurança nº 2177508-64.2021.8.26.0000 , Santos, rel. Paulo Rossi, j. 05/10/2021).

CULTIVO DOMICILIAR DE CANNABIS PARA FINS MEDICINAIS E


POSSE DE ARMA DE USO PERMITIDO

Ementa: Tráfico – cultivo de maconha – dúvida quanto à destinação da droga –


plausibilidade de plantio para extração de princípio ativo utilizado como medicamento – réu
atuante em ONG voltada à causa do uso da maconha para fins terapêuticos – irmã com
prescrição médica de tratamento com a substância – corréu que agia como ajudante - falta
de regulamentação, pela ANVISA, do art. 2º, parágrafo único, da Lei 11.343/06 –
possibilidade de atuação em estado de necessidade – incerteza a favorecer os acusados –
absolvição Posse de arma de uso permitido – ausência de munição compatível para pronto
uso – atipicidade - absolvição. (Apelação Criminal nº 1500496-03.2019.8.26.0288 ,
Ituverava, rel. Vico Mañas, j. 19/10/2021).

14ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL

REJEIÇÃO DE QUEIXA-CRIME

Trechos do voto (não há ementa): Queixa-crime. Rejeição com fundamento no artigo 395,
incisos II e III, do Código de Processo Penal. “(...) inexiste demonstração da falsidade do fato
imputado ao recorrente, como também falta demonstração de que haveria, nele, tipicidade

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e ilicitude. Não há elementos nestes autos para avaliar minimamente se as vantagens, cuja
postulação foi a ele atribuída, eram devidas ou indevidas.” “(...) a queixa vem
desacompanhada de mínima demonstração de que o querelado tenha atribuído a M . um
fato típico, antijurídico e falso. Ou de que o querelado tenha agido com o dolo que integra
o tipo da calúnia.” “Tampouco há falar-se, sequer em tese, de difamação.” “(...) não se deixa
de anotar que a matéria jornalística afirma que a entrevista configurou resposta do atual
Presidente da Odebrecht ao seu predecessor, que também o atacou pela imprensa: A
argumentação de S. é feita em contraposição ao discurso que M. adotou não apenas à
imprensa como também em documento encaminhado ontem ao MPF, como uma
autodeclaração dentro do processo que investiga o pagamento, pela controladora Braskem,
de R$ 50 milhões ao governo da ex-presidente Dilma Roussef (PT) em troca da Medida
Provisória No. 470, que beneficiou a empresa. Nítida, portanto, a ausência de elementos
mínimos que autorizem o desencadeamento da persecutio criminis in judicio.” "Negaram
provimento ao recurso. V. U.” (Recurso em Sentido Estrito nº 1004592-22.2020.8.26.0050 ,
São Paulo, rel. Hermann Herschander, j. 27/10/2021).

FALSIDADE IDEOLÓGICA
ABUSO DE AUTORIDADE E INCOMPETÊNCIA DA DELEGACIA DE POLÍCIA

Ementa: “Habeas Corpus” preventivo em que se alega ilegalidades na investigação criminal


contra o paciente. Situação não caracterizada. 1. O “habeas corpus” constitui ação de rito
sumaríssimo, em que a cognição é estreita, de sorte a não se afigurar instrumento processual
adequado quando o desate da questão reclame o exame aprofundado de provas e fatos,
conforme tem assentado a doutrina Cuida-se de instrumento processual de cognição
estreita, reclamando prova pré-constituída da indevida lesão ao direito de liberdade. 2.
Dentro desta perspectiva, não se divisa (i) que o paciente padeça de constrangimento ilegal
ou (ii) mesmo esteja na iminência de sofrer algum indevido maltrato na sua liberdade de
locomoção. 3. Não está demonstrado um quadro de abuso de autoridade da s autoridades
que atuam no inquérito policial, na linha do consignado pela decisão judicial de primeiro
grau, atentando-se para o teor do artigo 1º, par. 1º, da Lei nº 13.869, referente ao tipo
subjetivo do delito de abuso de autoridade. Aliás, por tudo o que se gizou quanto aos limites
de conhecimento do “writ”, não é esta a sede adequada para se perscrutar sobre o
comportamento das autoridades, havendo instrumentos processais e administrativos
adequados para tanto. 4. A conduta atribuída ao paciente configura ilícito penal (crime de
falsidade ideológica), a justificar seja encetado inquérito policial visando a apuração dos
fatos, cujo trancamento é medida excepcionalíssima, notadamente em sede de “habeas
corpus”. 5. Inviável, nesta oportunidade, fazer qualquer deliberação sobre os rumos a serem
tomados pela autoridade que preside o inquérito policial, ou mesmo emitir juízo de valor
sobre as condutas do Ministério Público e do magistrado, muito menos antecipar seus
comportamentos. Não se pode cercear, sem que exista uma prova inequívoca de desvio de
poder, as atividades policial, ministerial e do juízo. 6. Não há como acolher -se o pleito
relativo à transferência da investigação para outro setor da polícia judiciária. Impende ter
em mente que a distribuição das atribuições entre os órgãos de investigação é matéria
marcada pela discricionariedade administrativa, pelo que, em linha de princípio, descabe ao

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Poder Judiciário, no exercício da atividade jurisdicional, determinar qual órgão deve conduzi r
a investigação. No caso em testilha, não se entrevê alguma ilegalidade a justificar o
deslocamento do inquérito policial para outra unidade policial. 7. Não se afigura possível a
edição de um provimento jurisdicional que obste, por antecipação, a decreta ção da prisão
provisória do paciente ou garanta a intangibilidade dos sigilos bancário, fiscal ou telefônico.
Tal como deduzidos os pedidos, o que se está a postular representa um indevido
cerceamento dos poderes do juiz de direito no exercício da atividade jurisdicional, o que, no
final das contas, representa olvidar-se a independência funcional do magistrado, que, como
se sabe, é um dos alicerces do Estado Democrático de Direito. Ordem denegada. (Habeas
Corpus nº 2214542-73.2021.8.26.0000 , São Paulo, rel. Laerte Marrone, j. 27/10/2021).

16ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL

TRÁFICO DE DROGAS E POSSE DE ARMA DE FOGO


LIBERDADE PROVISÓRIA CONCEDIDA

Ementa: HABEAS CORPUS - Tráfico de drogas - Conversão da prisão em flagrante em


preventiva - Análise da prisão cautelar sob o enfoque das Leis n.º 12.403/11 e 13.964/19 -
Paciente, primário, preso em flagrante com 10 porções totalizando 327,6g de cocaína e um
revólver calibre 38 - Prisão afrontosa ao art. 312, §2º e art. 315, §2º, III, ambos do CPP -
Suficiência da imposição de cautelares diversas da prisão (art. 282, §6º, do CPP) - Liberdade
provisória concedida - Ordem concedida, com expedição de alvará de soltura pelo processo
- (Voto n.º 45251). (Habeas Corpus nº 2205682-83.2021.8.26.0000 , São José do Rio
Preto, rel. Newton Neves, j. 05/10/2021).

CULTIVO DOMICILIAR DE CANNABIS PARA FINS MEDICINAIS

Ementa: REEXAME NECESSÁRIO. Habeas corpus concedido pelo d. juízo a quo. Expedição
de salvo conduto para que o paciente realize o cultivo domiciliar de Cannabis para fins
medicinais. Paciente portador de Esclerose Lateral Amiotrófica. Necessidade de uso do óleo
de Cannabis devidamente comprovada pelo laudo médico juntado aos autos. Existência de
autorização da ANVISA para importação de remédio a base de Canabidiol de alto custo e
que impede o seu acesso pelo paciente. Omissão da ANVISA em regulamentar o plantio
domiciliar de cannabis para fins medicinais verificada. Excludente de culpabilidade da
inexigibilidade de conduta diversa reconhecida. Recurso improvido. (Reexame Necessário
nº 1000388-07.2021.8.26.0047 , Assis, rel. Leme Garcia, j. 19/10/2021).

ROUBO MAJORADO PELO EMPREGO DE FACA


FORMA DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHAS
AUSÊNCIA DO RÉU NO DEPOIMENTO DA VÍTIMA

Ementa: Apelação. Roubo majorado pelo emprego de faca. Recurso da Defesa. Preliminares:
Nulidade da instrução por inobservância do procedimento desenhado pelo art. 212 do
Código de Processo Penal. Inquirição inaugurada pelo juiz. Comprometimento da

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imparcialidade. Nulidade na tomada de declarações da vítima. Retirada do réu do ambiente


virtual no qual era realizada a audiência. Indeferimento do pedido da defesa para inabilitação
da imagem do acusado. Descumprimento do art. 217 do Código de Processo Penal. Alegação
de violação da garantia da ampla defesa. Mérito: Absolvição por insuficiência de provas. Réu
que teria adquirido a bicicleta sem que tivesse conhecimento da origem ilícita. Pleito
subsidiário: aplicação da pena base em seu limite mínimo. 1. O marco regulat ório do
procedimento de produção da prova oral foi sensivelmente alterado por força da Lei
11.690/2008 que, ao superar o denominado "sistema presidencialista" de inquirição,
estruturado na centralidade da atuação judicial, outorgou às partes protagonismo n a
exploração da prova testemunhal. Pelo regime antigo, que deita raízes na redação original
da lei processual, a inquirição era desenvolvida pelo juiz com atuação complementar das
partes que, para tanto, formulavam as perguntas por intermédio da autoridade judiciária.
Pelo novo modelo (art. 212 do Código de Processo Penal), cabe às partes a primazia na
exploração da prova oral. Não só inauguram a inquirição, como também o fazem de forma
direta e, portanto, sem a intermediação do juiz. A este compete o papel fiscalizatório. Cabe-
lhe indeferir as perguntas indutoras de respostas, assim como aquelas outras que se
mostrarem impertinentes ou mesmo repetidas. Ao juiz é ainda permitida a complementação
da produção probatória voltada para o esclarecimento de pontos duvidosos que emergiram
no contexto da inquirição. 2. No enfrentamento das situações de afronta ao novo modelo
de produção da prova oral, a jurisprudência vem identificando a violação do princípio
acusatório, reconhecendo, dessa forma, o comprometimento do atributo da imparcialidade
do julgador. Problemática que exige apreciação mais acurada sobre o sentido e o alcance
do procedimento desenhado pelo art. 212 do Código de Processo Penal, identificando -se os
reais interesses tutelados pela referida norma. 3. A tradicional dicotomia
acusatório/inquisitório funda-se na leitura das manifestações do processo penal calcadas
pela divisão ou pela concentração dos poderes de acusar e julgar. Assim, no processo
inquisitório, a concentração daqueles poderes formata uma relação processual bilateral,
ditada pelo confronto entre o juiz inquisidor e o acusado. Por sua vez, no processo penal de
matriz acusatória a relação assume a geometria triangular em face da divisão de poderes
que lhe é própria. 4. A historiografia do processo penal revela a transposição dos processos
de matriz inquisitória para aqueles de roupagem acusatória. Atualmente, mais do que a
separação de poderes, a modelagem acusatória supõe uma reformatação dos poderes,
funções e atividades do julgador ao longo da marcha processual reveladores dos resquícios
inquisitórios. 5. A simples antecipação do juiz na produção da prova oral não expressa, de
partida, uma violação do sistema acusatório, ou mesmo o comprometimento do atributo da
imparcialidade. O problema não se encerra na iniciativa, mas sim na forma de sua realização.
A exploração dos registros de memória da testemunha subtrai do acusador a atividade que
lhe é reservada em decorrência do ônus probatório que lhe é imposto pelo princípio
constitucional da presunção de inocência. É, portanto, na forma do proceder que resta o
comprometimento da imparcialidade objetiva. Foi esta a percepção que ditou a redação do
art. 3- A, incorporado pela Lei 13.964/2019 e cuja eficácia foi indevidamente suspensa. O
dispositivo admite a iniciativa instrutória do juiz, vedando, contudo, a "substituição da
atuação probatória do órgão de acusação". A questão é, portanto, de intensidade. 6.
Hipótese em que o juiz, após tomar o compromisso de uma das testemunhas, que havia sido

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arrolada pela acusação, convidou-a a fazer uma breve exposição sobre os fatos que se
recordava. Após o breve relato, deu-se oportunidade às partes para a inquirição direta da
testemunha. Conduta legal e perspicaz da autoridade judiciária. De um lado, buscou
estimular a testemunha à evocação espontânea de sua memória. Cuida-se de importante
técnica que minimiza os riscos das falsas memórias. De outro, buscou assegurar a
observância dos limites dados pelo thema probandum. Subtração da atuação probatória
reservada ao órgão acusador não evidenciada. Violação do sistema acusatório não
caracterizada. Não comprometimento da imparcialidade objetiva. 7. Nova redação do art.
212 do Código de Processo Penal que incorpora dinâmica própria do processo adversarial,
no qual reserva-se às partes o protagonismo na gestão do processo e, especialmente, na
produção da prova. Interesse das partes na exploração dos meios de prova como forma de
fixar, na mente do julgador, a sua visão sobre os fatos e os termos da imputação. 8. Hipótese
em que a antecipação do juiz não representou uma inquirição antecipada ou mesmo
subtração do movimento das partes, mas sim um estímulo à evocação voluntária dos traços
da memória da testemunha. Não identificação de prejuízo que sequer foi especificado pel a
defesa em sede de recurso. Defensor que nada perguntou à testemunha dando -se por
satisfeito com as respostas que haviam sido dadas à acusação. Nulidade não configurada. 9.
Alegação de nulidade na oitiva da vítima. Audiência realizada em ambiente virtual. Pedido
da ofendida para depor sem a presença do acusado. Retirada do réu da sala de audiência
virtual, com fundamento no art. 217 do Código de Processo Penal. Oportuna insurgência
defensiva pleiteando que o acusado acompanhasse a audiência em sua integra, inabilitando
a sua imagem de modo que a vítima não pudesse enxergá-lo durante a colheita de suas
declarações. Indeferimento. 10. A nova redação dada ao artigo 217 do Código de Processo
Penal pela Lei 11.690/2008 buscou conferir efetividade ao exercício da autodefesa,
manifestada pelo direito de presença. Restrição ao exercício do direito que ficou jungida ao
plano da excepcionalidade. Critérios de ponderação indicados pelo legislador. Temor,
humilhação ou sério constrangimento que justificam a ruptura do quadro assecuratório da
autodefesa. Retirada do réu da sala de audiência que se expressa, no plano normativo, como
última providência, caso inviabilizada a tomada das declarações por vídeoconferência. 11.
Dispositivo que não foi elaborado para uma realidade de proeminência das audiências
virtuais. Imersão das atividades judiciárias no modo telepresencial que se tornou
compulsória diante das medidas de isolamento impostas para o enfrentamento da pandemia
da Covid-19. 12. Delimitação de novo padrão de aproximação e de concretização das
relações humanas que, muito embora antevisto em face do curso normal dos avanços
tecnológicos, foi sensivelmente acelerado nos últimos dois anos. Distanciamentos físicos que
foram reaproximados pelo campo virtual. Estabelecimento de novos padrões de relações e
de inter-relações que ganharam contornos de normalidade. O compartilhamento de imagem
e de som encurta distâncias, tornando a experiência bastante real, como de fato o é.
Assunção coletiva e individual de um novo padrão de normalidade. 13. Sensibilidade do
julgador para as situações-limite em que o temor, a humilhação e o grave constrangimento
não serão totalmente afastados pelo fato de se realizar audiência telepresencial. Cita -se, a
título exemplificativo a vítima de abuso sexual que, compreensivelmente, poderá se sentir
constrangida a prestar declarações, sabedora que o pretenso autor está a ouvi -la. Situação
que também pode se verificar na oitiva da vítima de atos extremamente violentos como

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REPERTÓRIO DE JURISPRUDÊNCIA
OUTUBRO/2021

tortura, sequestro ou extorsões. Abertura de canais de ponderação à autoridade judiciária.


14. Normativa internacional proclamatória da afirmação dos espaços de resguardo da
dignidade humana da vítima. Declaração dos princípios básicos de Justiça relativos às vítimas
de criminalidade e abuso de poder, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, na
sua Resolução 40/34, de 29 de novembro de 1985. Dever imposto às autoridades para
tratamento das vítimas, orientado pela compaixão e pelo respeito da dignidade (art. 4º do
Anexo da Declaração) Norte hermenêutico que deve ser sopesado pela autoridade judiciária
na resolução das situações-limite de conflito de interesses com a garantia da autodefesa. 15.
Hipótese em que a ponderação realizada pela autoridade judiciária atendeu aos critérios d a
razoabilidade. Ação criminosa que envolvia roubo mediante violência e ameaça com
emprego de faca. Vítima que foi novamente ameaçada pelo acusado no distrito policial
quando dos procedimentos de lavratura do auto de prisão em flagrante. Temor fundado da
vítima, cidadã comum. Risco de comprometimento das declarações. Afastamento justificado
do acusado do ambiente virtual. Resguardo da ampla defesa com a presença do defensor
técnico e do exercício efetivo da defesa. Nulidade afastada. 16. Mérito recursal. Co ndenação
correta. Declarações da vítima e depoimentos dos guardas civis que se pautam pela
coerência e uniformidade. Apreensão da faca utilizada pelo acusado durante a ação
delituosa. Versão ofertada pelo acusado em juízo que foi amplamente contrariada pel a prova
oral. Intenção de falseamento dos fatos pela vítima e pelas testemunhas não evidenciada.
Fatos que se subsumem ao tipo penal do roubo. Emprego de grave ameaça e violência física.
17. Dosimetria que comporta reparos. Réu que ostenta antecedentes criminais. Circunstância
judicial desfavorável. Modulação do aumento. Pena base que é aplicada com o aumento de
1/6. Reincidência demonstrada. Manutenção do aumento de 1/6 operado na segunda fase.
Possibilidade de consideração de distintas condenações nas diferentes fases da dosimetria.
Precedentes do STJ. Manutenção do aumento de 1/3 na terceira fase em razão do emprego
de arma branca. Preservação do regime fechado. 18. Recurso conhecido e, no mérito,
parcialmente provido. (Apelação Criminal nº 1500315-67.2020.8.26.0546 , Mogi-Guaçu,
rel. Marcos Alexandre Coelho Zilli, j. 18/10/2021).

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