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DIREITO PROCESSUAL PENAL

CPIII
1º PERÍODO 2022
TEMAS
Tema 15:
Tribunal do Júri (continuação): Preparação para julgamento. Organização do Júri.
Jurados: função; requisitos; direitos; convocação; impedimentos; recusas. Sessão de
Julgamento. Instrução em Plenário. Debates. Quesitação: regras, fontes e estrutura.
Sala secreta. Votação, inclusive nas hipóteses de desclassificação.

1ª QUESTÃO:
CRODOALDO foi denunciado pela suposta prática do delito tipificado no art. 121, §2º,
I, do Código Penal. Pronunciado por homicídio qualificado, foi submetido a júri.
Concluídos os debates, o magistrado iniciou a quesitação.
O Conselho de Sentença respondeu afirmativamente aos quesitos alusivos ao
reconhecimento da materialidade e autoria do crime. Em seguida, respondeu
positivamente àquele relativo à possibilidade de absolvição, encerrando-se a votação.
Diante disso, o magistrado prolatou sentença para absolver CRODOALDO da imputação
constante da pronúncia.
Irresignado, o Promotor de Justiça interpôs recurso de apelação, no qual sustentou
configurada contradição entre as respostas dos jurados, tendo em vista que, após
concluírem configuradas a materialidade e a autoria, absolveram o acusado. Destacou,
assim, que a decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos, com
base no disposto no art. 593, III, "d", do CPP.
O Tribunal de Justiça proveu o recurso ministerial e determinou a realização de novo júri,
assentando que os jurados, ao asseverarem ser o recorrido o mandante do crime e, na
sequência, absolvê-lo, incidiram em contradição.
Inconformada, a defesa de CRODOALDO impetrou habeas corpus, no qual afirmou que
a decisão do Tribunal de Justiça afrontou o princípio constitucional da soberania dos
vereditos, previsto no art. 5º, XXXVIII, da CRFB/88.
Com base na situação hipotética acima descrita, esclareça, fundamentadamente, se a
ordem deve ser concedida.
RESPOSTA:
DECISÃO JÚRI - SUSPENSÃO - EXCEPCIONALIDADE - RELEVÂNCIA
DEMONSTRADA. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS - LIMINAR -
DEFERIMENTO.
1. O assessor Dr. Rafael Ferreira de Souza prestou as seguintes informações: O recorrente
foi pronunciado ante a suposta prática do delito previsto no artigo 121, § 2º, inciso I
(homicídio qualificado mediante paga ou promessa de recompensa), do Código Penal, e
submetido a julgamento popular em 1º de dezembro de 2011. O Conselho de Sentença
respondeu afirmativamente aos quesitos alusivos ao reconhecimento da
materialidade e autoria do crime, consistentes, respectivamente, em "no dia 07 de
setembro de 1999, ou alguns poucos dias antes, o Sr. Leopoldino Marques do Amaral foi
atingido por dois projéteis disparados por arma de fogo que vieram a ocasionar a sua
morte?" e "O réu Josino Pereira Guimarães foi mandante do assassinato do Sr.
Leopoldino Marques do Amaral?". Em seguida, respondeu positivamente àquele
relativo à possibilidade de absolvição, encerrando-se a votação. O Juízo do Tribunal
do Júri da Seção Judiciária do Mato Grosso/MT, no processo nº 2000.36.00.005959-0,
declarou improcedente a pretensão punitiva revelada na denúncia, absolvendo o
recorrente, com expedição de alvará de soltura. O Ministério Público Federal interpôs
apelação, na qual sustentou configurada contradição entre as respostas dos jurados,
tendo em vista que, após concluírem configuradas a materialidade e a autoria,
absolveram o acusado. Destacou tratar-se de decisão contrária às provas do
processo-crime, ressaltando haver a defesa argumentado, unicamente, pela negativa
de autoria. A Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por maioria,
proveu o recurso, determinando a realização de novo Júri. A Segunda Seção rejeitou
embargos infringentes. Assentou que os jurados, ao asseverarem ser o recorrente o
mandante do delito e, na sequência, absolvê-lo, incidiram em contradição. Embargos
declaratórios não alcançaram êxito. Chegou-se ao Superior Tribunal de Justiça com o
habeas corpus nº 348.327, inadmitido pela Quinta Turma. O recorrente sublinha que, por
ser obrigatório o quesitogenérico de absolvição, a resposta afirmativa a essa pergunta não
há de implicar contradição ou decisão contrária à prova do processo. Diz encontrar a
decisão dos jurados respaldo probatório, aludindo ao teor do voto vencido proferido por
ocasião do julgamento da apelação. Destaca haver o Tribunal Regional Federal, no que
concluiu ser o ato contrário aos elementos de convicção, deixado de proceder à análise
das provas existentes, bem assim, ao apreciar os embargos infringentes, acrescentado
motivação não contida no voto prevalecente da apelação, referente à nulidade da decisão
dos jurados com base na contradição dos quesitos. Sustenta viável aos jurados,
independentemente das teses suscitadas pela defesa, absolver o acusado ante reposta
afirmativa ao quesito genérico de absolvição. Requer, no campo precário e efêmero, a
suspensão do processo-crime, impedindo-se a realização do novo Júri. No mérito, busca
o restabelecimento da decisão absolutória proferida pelo Conselho de Sentença. A fase é
de exame da medida acauteladora.
2. Surge relevante o pedido de implemento de liminar. Os jurados reconheceram, por
maioria, a autoria e a materialidade delitivas. Na sequência, questionados se absolviam o
recorrente, nos termos do disposto no artigo 483, § 2º, do Código de Processo Penal -
"respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos
incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação: o jurado
absolve o acusado? " -, disseram que sim. O quesito versado no dispositivo tem natureza
genérica, não guardando compromisso com a prova obtida no processo. Decorre da
essência do Júri, segundo a qual o jurado pode absolver o réu com base na livre convicção
e independentemente das teses veiculadas, considerados elementos não jurídicos e
extraprocessuais. A pergunta, conforme se depreende do preceito legal, há de ser
formulada obrigatoriamente, no que a mera resposta afirmativa não implica a nulidade da
decisão, ainda que o único argumento veiculado em Plenário pela defesa consista na
negativa de autoria.
3. Defiro a liminar para suspender, até o julgamento do mérito deste recurso ordinário, o
processo-crime nº 2000.36.00.005959-0, da Vara do Tribunal do Júri da Seção Judiciária
de Mato Grosso/MT.
4. Colham o parecer da Procuradoria-Geral da República.
5. Publiquem. Brasília, 1º de agosto de 2019."
grifei
(STF. Primeira Turma. RHC 170.559/MT. Relator Ministro Marco Aurélio. Relator
para acórdão Ministro Alexandre de Moraes. Julgado em 10/03/2020 - Informativo
969).

2ª QUESTÃO:
ROBERVAL foi denunciado pela suposta prática de homicídio tentado. Levado a
julgamento pelo Plenário do Tribunal do Júri, o advogado de ROBERVAL alegou duas
teses em seu favor: legítima defesa e, subsidiariamente, desclassificação para lesões
corporais dolosas, considerando que ROBERVAL não teria tido intenção de matar.
Concluídos os debates, o juiz, o membro do Ministério Público, o advogado e os sete
jurados foram para a sala especial, tendo sido formulados os quesitos sobre a
materialidade do fato, sobre a autoria e, por fim, sobre a absolvição.
O juiz decidiu que o quesito referente à desclassificação não mais precisava ser
formulado, considerando que ele restou prejudicado em razão de os jurados terem
respondido positivamente ao terceiro quesito (absolvição). Sendo assim, o magistrado
encerrou a votação e prolatou sentença absolvendo ROBERVAL.
Inconformado, o Ministério Público interpôs recurso de apelação contra a sentença, no
qual alegou que houve nulidade na formulação dos quesitos. Sustentou, para tanto, que o
juiz desrespeitou a ordem legal. Isso porque o quesito da desclassificação deveria ter sido
formulado antes da pergunta sobre absolvição, uma vez que quando a defesa alega que o
réu praticou lesão corporal dolosa (e não tentativa de homicídio), na verdade, ela está
afirmando que o crime não é de competência do Tribunal do Júri. Logo, é preciso
questionar o Conselho de Sentença sobre isso em primeiro plano, pois se está indagando
acerca de sua própria competência.
Posto isso, esclareça, fundamentadamente, se o recurso ministerial deve ser provido.

RESPOSTA:
"PENAL. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO
REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO
QUALIFICADO. ART. 121, §2º, INCISOS II E IV, DO CP. TRIBUNAL DO JÚRI.
NULIDADE. ART. 483, §4º, DO CPP. QUESITO REFERENTE À
DESCLASSIFICAÇÃO FORMULADO ANTES AO QUESITO DA
ABSOLVIÇÃO. PREJUÍZO CONCRETO NÃO DEMONSTRADO. CONDENAÇÃO
CONTRÁRIA A PROVA DOS AUTOS. LEGÍTIMA DEFESA. EXCLUSÃO DAS
QUALIFICADORAS. VERIFICAÇÃO. SÚMULA 7/STJ. ART. 92 DO CP. PERDA DO
CARGO PÚBLICO. PENALIDADE APLICADA PELO MAGISTRADO COMO
EFEITO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA.
GRAVIDADE DO CRIME PRATICADO. INCOMPATIBILIDADE COM O CARGO
OCUPADO DE POLICIAL. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. No Tribunal do Júri, a formulação dos quesitos atende a ordem legal do art. 483
do CPP. Dispondo o § 4º do do referido artigo do CPP acerca da possibilidade de se
quesitar a tese de desclassificação após o 2º (autoria e participação) ou 3º
(absolvição) quesitos, cabe às instâncias de origem analisarem qual seria a tese
principal e subsidiária da defesa.
2. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça firmou-se no sentido de que
estando a defesa assentada em tese principal absolutória (legítima defesa) e tese
subsidiária desclassificatória (ausência de animus necandi), e havendo a norma
processual permitido a formulação do quesito sobre a desclassificação antes ou
depois do quesito genérico da absolvição, a tese principal deve ser questionada antes
da tese subsidiária, pena de causar enormeprejuízo para a defesa e evidente violação
ao princípio da amplitude da defesa (REsp n. 1.509.504/SP, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, julgado em 27/10/2015, DJe
13/11/2015).
3. No presente caso, não houve absolvição, mesmo especificamente questionada. Embora
em momento inadequado, os jurados responderam de maneira negativa ao quesito
referente à desclassificação para o delito, mantendo o Tribunal do Júri competente para o
julgamento do feito. E, posteriormente, o Conselho de Sentença foi questionado a respeito
da absolvição, denegando-a. Assim, mesmo sendo incorreta a ordem de questionamento,
não houve alteração no resultado do julgamento, mantendo-se a condenação por
homicídio qualificado (art. 121, §2º, incisos II e IV, do CP). Houvesse sido estabelecida
a ordem correta, seria negada a absolvição e após mantido o reconhecimento do crime de
homicídio, com igual condenação. As duas teses foram devidamente analisadas e
respondidas pelos jurados, não podendo se falar em prejuízo para o envolvido. Portanto,
ainda que fosse o caso de inversão na ordem dos quesitos, como postulado pela defesa,
não haveria prejuízo ao acusado, uma vez que os jurados acabaram também enfrentando
ao responder negativamente o quesito relativo à absolvição a tese defensiva da negativa
de autora, e a rechaçaram. Precedentes.
4. O Tribunal local, soberano na análise do conjunto fático-probatório, concluiu pela
existência de prova acerca da ocorrência do homicídio qualificado, estando a condenação
apoiada nos elementos de convicção formados durante a instrução. Assim, para alterar a
conclusão a que chegaram as instâncias ordinárias, no sentido de que as pretensas
condutas reconhecidas pelo Conselho de Sentença ao acusado se mostram completamente
dissociadas das provas dos autos, tendo ele agido em legítima defesa, bem como a não
ocorrência das qualificadoras da surpresa e do motivo fútil, como requer a parte
recorrente, demandaria, necessariamente, o revolvimento do acervo fático-probatório
delineado nos autos, providência incabível em sede de recurso especial, ante o óbice
contido na Súmula 7/STJ.
5. As instâncias ordinárias apresentaram fundamentação expressa e idônea para
motivação da perda do cargo público, ressaltando que a gravidade do crime praticado
(homicídio qualificado) era de fato incompatível com o cargo de policial, bem como o
apontamento do requisito objetivo, uma vez que a pena imposta coadunaria na perda do
cargo, em atenção ao disposto no artigo 92, inciso I, alínea "b" do Código Penal.
6. Agravo regimental não provido."
grifei
(STJ. AgRg no AgRg no AResp 1.863.493/DF. Relator Ministro Reynaldo Soares da
Fonseca. Julgamento em 15/06/2021).

"PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. TRIBUNAL DO JÚRI.
QUESITOS. TESES ABSOLUTÓRIA E DESCLASSIFICATÓRIA. INVERSÃO.
PRIMAZIA DA TESE MAIS AMPLA. POSSIBILIDADE.
1. A jurisprudência firmada no Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que,
"estando a defesa assentada em tese principal absolutória (legítima defesa) e tese
subsidiária desclassificatória (ausência de animus necandi), e havendo a norma
processual permitido a formulação do quesito sobre a desclassificação antes ou
depois do quesito genérico da absolvição, a tese principal deve ser questionada antes
da tese subsidiária, pena de causar enorme prejuízo para a defesa e evidente violação
ao princípio da amplitude da defesa" (REsp n. 1.509.504/SP, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 27/10/2015, DJe
13/11/2015).
2. Agravo regimental desprovido."
grifei
(STJ. AgRg no AResp 1.271.838/ES. Relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro.
Publicado em 24/09/2019).

"RECURSO ESPECIAL. TRIBUNAL DO JÚRI. QUESITAÇÃO. DUAS TESES


DEFENSIVAS: ABSOLVIÇÃO (PRIMÁRIA) E DESCLASSIFICAÇÃO
(SUBSIDIÁRIA), SENDO QUE A SEGUNDA ANTECEDEU A PRIMEIRA NA
ORDEM DE QUESITAÇÃO. RESPOSTA AFIRMATIVA DO CONSELHO DE
SENTENÇA A AMBOS OS QUESTIONAMENTOS. ACÓRDÃO IMPUGNADO QUE
CASSOU A SENTENÇA ABSOLUTÓRIA POR CONSIDERAR QUE A RESPOSTA
AO PRIMEIRO QUESITO (DESCLASSIFICATÓRIO) TERIA AFASTADO A
COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. ABSOLVIÇÃO QUE DEVE
ANTECEDER O QUESITO DESCLASSIFICATÓRIO, QUANDO FIGURAR
COMO TESE PRIMÁRIA DA DEFESA. PRECEDENTE DO STJ.
RESTABELECIMENTO DA ORDEM.ABSOLVIÇÃO DO RECORRENTE NOS
TERMOS DASENTENÇA.
Recurso especial provido."
grifei
(STJ. Resp 1.736.439/AM. Relator Ministro Sebastião Reis Júnior. Publicado em
19/06/2018).

Em sentido contrário, convém destacar decisão proferida pelo próprio Superior


Tribunal de Justiça:

"PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. 1. IMPETRAÇÃO


SUBSTITUTIVA DO RECURSO PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO. 2. TRIBUNAL
DOJÚRI. ORDEM DOS QUESITOS. HOMICÍDIO TENTADO
DESCLASSIFICADO PARA LESÕES CORPORAIS. QUESITO SOBRE A
TENTATIVA FORMULADO APÓS MATERIALIDADE E AUTORIA.
LEGALIDADE. ART. 483, § 5º, DO CPP. 3. DESCLASSIFICAÇÃO QUE RETIRA
A COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE SENTENÇA. PREJUDICADOS
QUESITOS SOBRE ABSOLVIÇÃO, LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA E
HOMICÍDIO PRIVILEGIADO. 4. INCIDÊNCIA DE ATENUANTE. ALTERAÇÃO
DO REGIME. SUBSTITUIÇÃO DA PENA. TEMAS NÃO ANALISADOS NA
ORIGEM. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. 5. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
1. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal e as Turmas que compõem a Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do
habeas corpus, passaram a restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal for passível
de impugnação pela via recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da
ordem, de ofício, nos casos de flagrante ilegalidade.
2. A ordem dos quesitos não se revela irregular, uma vez que o quesito relativo à tentativa
deve ser formulado após o questionamento sobre a materialidade e a autoria, portanto
antes de se questionar se o acusado deve ser absolvido. Nesse sentido, é expresso o § 5º
do art. 483 do Código de Processo Penal: "Sustentada a tese de ocorrência do crime na
sua forma tentada ou havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da
competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser
respondido após o segundo quesito".
3. Uma vez reconhecida autoria e materialidade, porém refutado o crime de
tentativa de homicídio, tem-se como consequência legal a desclassificação do delito,
o que retira a competência do Tribunal do Júri. Com a desclassificação, não é
possíveldar continuidade àquesitação, pois a competência não é mais do Tribunal do
Júri, mas sim do Juiz Criminal, nos termos do art. 492, § 1º, do Código de Processo
Penal. Nesse contexto, prejudicado o quesito relativo à absolvição bemcomo às
demais teses da defesa relativas ao homicídio, razão pela qual não há se falar em
nulidade.
4. Não é possível conhecer do pedido subsidiário, uma vez que as matérias não foram
previamente analisadas pelo Tribunal de origem. Com efeito, embora o impetrante tenha
oposto embargos de declaração suscitando referidos temas, o recurso não foi conhecido
por ser intempestivo. Dessarte, não tendo havido prévio debate na origem, não é possível
conhecer da matéria, sob pena de indevida supressão de instância.
5. Habeas corpus não conhecido."
grifei
(STJ. Quinta Turma. HC 262.882/PB. Relator Ministro Reynaldo Soares da
Fonseca. Julgamento em 05/05/2016).

Na doutrina, podemos transcrever o entendimento dos doutrinadores Aury Lopes


Jr., Nestor Távora e Fábio Roque Araújo, a saber:

"Contudo, esse terceiro quesito não será formulado, nesse momento, quando a tese
defensiva for no sentido da desclassificação, da ocorrência do crime na sua forma tentada
ou havendo divergência sobre a tipificação. Assim estebelece o art. 483, §§4º e 5º:
(...)
Mas, é preciso advertir, há um ponto bastante discutível quando a tese defensiva é de
desclassificação: quando se formula o quesito genérico da absolvição?
Encontramos duas posições jurisprudenciais:
a) Formula-se o quesito genérico da absolvição antes da tese defensiva de
desclassificação: o problema é que neste caso os jurados ainda não firmaram a
competência, pois não afirmaram a existência do dolo. Não poderia, portanto, absolver o
acusado.
b) Formula-se o quesito genérico depois da tese da desclassificação: mas se os jurados
desclassificaram, retiraram o caso penal da competência do júri e, portanto, não poderiam
responder o quesito genérico da absolvição (até porque estariam absolvendo quando não
mais possuem competência para isso).Logo, não se faria o quesito genérico daabsolvição.
O problema processual nasce neste ponto, pois não seriafeito o quesito genérico da
absolvição que é obrigatório.
Não há, ainda, paz conceitual neste terreno.
Nossa sugestão é a de que se faça primeiro o quesito referente à descassificação própria
e, se desclassificarem, ainda assim será elaborado o quesito obrigatório da absolvição. Se
os jurados responderem "não" ao quesito genérico da absolvição, considera-se a
desclassificação operada no quesito anterior. A vantagem é que não se deia de formular
um quesito que é obrigatório e ainda se permite que os jurados absolvam se quiserem (ou
seja, podem negar a desclassificação eabsolver ou desclassificar e absolver)."
(LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. pág.
1.049-1050).

"Pode ser que seha sustentada a tese de desclassificação do crime para o procedimento
afeto ao juiz singular (ex.: desclassificação de homicídio tentado para lesões corporais).
Nesta hipótese, a competência para apreciar o delito desclassificado e os eventuais
conexos passa para a esfera do juiz presidente.

1.2. Divergência sobre a precedência do quesito de desclassificação eao de absolvição


genérica no rito do júri

No que concerne à ordem de quesitos a seem formulados no júri, há uma fundada


diverg~encia em torno da precedência do quesito de desclassificação ao de absolvição
sumária. Por outras palavras, na quesitação, os jurados devem ser indagados
primeiramente sobre a própria comeptência constitucional do tribunal do júri (ou seja, se
se trata de crime doloso contra a vida) ou sobre as teses absolutórias?
Parece-nos que, sob o ponto de vista da observância de uma ordem lógica, deve o órgão
judiciário, primeiramente, afirmar a sua própria competência para, apenas em seguida,
decidir o mérito do caso penal, exercendo juízo de valor em torno da eventual absolvição.
Por estas razões, em obediência à ordem de quesitos estatuída no art. 483, CPP, e
amoldando-a a esta precedência, é imprescindível que se formule quesito sobre a
desclassificação antes que se decida acerca da absolvição. Deve ser formulado tal quesito,
portanto, antes que se indague aos jurados se o réu "deve ser absolvido"."
(TÁVORA, Nestor; ARAÚJO, Fábio Roque. Código de Processo Penal para
Concursos. Doutrina, Jurisprudência e Questões de Concursos. 8 ed. rev., atual. e
ampl. Bahia: Editora JusPodivm, 2017, pág. 789-790).

Igualmente, merece transcrever trecho do artigo publicado pelo Procurador de


JustiçaDelmar Pacheco da Luz acerca do tema em questão:

"5 - Teses defensivas desclassificatórias - desclassificação própria


Quando a defesa sustentar em plenário ou se inferir do interrogatório (parágrafo único do
art. 482) tese que importe em desclassificação da infração constante da pronúncia para
outra de competência do juiz singular, deverá ser formulado o quesito correspondente
após o 2º ou o 3º quesito, conforme o caso (art. 483, § 4º).
Se atese sustentada importar na chamada desclassificação própria, o momento de
sua formulação será após o 2º quesito, ou seja quando reconhecidas apenas
materialidade e autoria. Neste caso, como diz respeito à própria competência do
Conselho de Sentença para continuar julgando o crime, deve o quesito
correspondente sempre preceder ao previsto no inciso III do art. 483, que é o do
julgamento do mérito. É o caso aqui da tese de negativa de dolo - direto e eventual - no
homicídio consumado (Exemplo: réu denunciado por homicídio doloso no trânsito, cuja
tese defensiva é a negativa de dolo, tanto direto quanto eventual).
Caberá ao Juiz-Presidente formular a tese defensiva, que importa em afastamento da
competência do próprio Júri, em um único quesito, não havendo razão para separar o dolo
direto do eventual, como se usava no sistema antigo. Não se identifica, porém, causa de
nulidade do julgamento na quesitação separada das duas formas de dolo. Nesta hipótese
aos jurados será perguntado:
"O réu quis ou assumiu o risco de produzir a morte da vítima?"
A resposta positiva afasta a tese defensiva e firma a competência do Conselho de Sentença
para prosseguir no julgamento, eis que reconhecida a prática pelo acusado de crime
doloso contra a vida.
A resposta negativa resulta na desclassificação própria. O crime remanescente (que pode
ser homicídio culposo ou lesão corporal seguida de morte) é da competência do juiz
singular.
Estando o réu pronunciado pelo delito na forma tentada (como, por exemplo,
homicídio tentado), necessariamente deveráser formulado quesito ao Conselho de
Sentença para que este diga se reconhece, no caso concreto, a tentativa de homicídio.
A resposta negativa a esse quesito afasta o homicídio tentado e, em consequência,
afasta a competência do Tribunaldo Júri para continuar julgando o fato. É outra
hipótese da chamada desclassificação própria.
A redação do quesito deve ser singela e direta:
"Assim agindo, o réu tentou matar a vítima?"
E não se diga que a pergunta envolveria um conceito jurídico. De fato a tentativa é um
conceito jurídico (art. 14, inciso II, do Código Penal), mas, antes disso, é uma idéia
comum e que pode ser apreciada por qualquer pessoa leiga. Aliás, a sua compreensão não
será mais difícil do que a da expressão utilizada no antigo sistema que falava em "dar
início à ação de matar a vítima, o que não se consumou por circunstâncias alheias à sua
vontade".
Respondido negativamente ao quesito caracterizador da tentativa estará operada,
da mesma forma que na hipótese anterior, uma desclassificação própria, o que
importa em afastar a competência do Júri já que o crime remanescente (que pode,
aqui, ser uma lesão corporal leve, grave ou gravíssima, ou até mesmo exposição a
perigo de vida) será originariamente da competência do juiz singular.
Diante destas situações, - desclassificação da infração para outra da competência do juiz
singular - ao Presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida, nos
termos do § 1º do art. 492. Significa dizer que, na desclassificação própria, o Conselho
de Sentença ao operá-la afasta a sua competência para julgar a infração e entrega ao
magistrado a causa sem julgamento de mérito. O Juiz-Presidente, então, proferirá
sentença julgando o delito remanescente sempre que isso for possível.
A ressalva se deve à segundaparte do mesmo § 1º do art. 492 antes mencionado que
determinou a aplicação dos arts. 69 e seguintes da Lei 9.099/95, quando o delito resultante
da nova tipificação, ou seja, o delito remanescente, for considerado pela lei como infração
de menor potencial ofensivo. Assim, se o delito remanescente for uma contravenção ou
crime a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos será o caso de
examinar-se a hipótese de transação penal, não sem antes aguardar o trânsito em julgado
da decisão do Conselho de Sentença.
A classificação do delito remanescente, a ser feita diretamente pelo JuizPresidente, irá
determinar o passo seguinte do magistrado, ou seja, se o delito resultante da
desclassificação não comportar transação penal ou suspensão condicional do processo
(como por exemplo, homicídio culposo no trânsito ou lesão corporal seguida de morte,
na hipótese de afastamento do homicídio doloso; ou, lesão corporal grave ou gravíssima,
no caso de afastamento da tentativa) o magistrado imediatamente julgará o mérito, para
absolver ou condenar o acusado. Caso o delito comporte transação penal ou suspensão
condicional do processo (hipótese de reconhecimento de lesão corporal leve ou exposição
a perigo de vida ou homicídio culposo fora do trânsito), o juiz dará despacho encerrando
o julgamento e após o trânsito em julgado da decisão dos jurados remeterá o processo ao
juiz competente, se ele próprio não o for. Aí será aberto vista ao Ministério Público para
o oferecimento de proposta de transação penal ou suspensão condicional do processo, ou
explicitação dos motivos pelos quais deixa de propô-las.
Não seria recomendável que o juiz ainda em plenário abrisse vista ao Ministério Público
para essa finalidade, antes do trânsito em julgado da decisão do Conselho de Sentença,
porque poderia haver apelação e o Tribunal de Justiça, por exemplo, mandar o réu a novo
julgamento por ser a decisão desclassificatória dos jurados manifestamente contrária à
prova.
Parece mais adequado que se espere o trânsito em julgado, aguardando o julgamento do
próprio recurso, se for o caso, para só então aplicar-se a transação penal ou a suspensão
condicional do processo, quando cabíveis na hipótese.
Aberta vista ao Ministério Público e proposta a transação penal ou a suspensão
condicional do processo na própria sessão de julgamento, sendo esta aceita pelo acusado
e homologada pelo juiz, implicaria em desistência do órgão ministerial do prazo recursal,
o que não me parece adequado.
A desclassificação própria, além de remeter ao julgamento do Juiz-Presidente o
julgamento do crime remanescente, com as observações feitas acima, encaminha ao seu
julgamento ainda o crime conexo que não seja doloso contra a vida, com as mesmas
ressalvas anteriores, como determina o art. 492, §2º.
(<https://www.mprs.mp.br/media/areas/criminal/arquivos/delmar.pdf>)
Tema 16:
Tribunal do Júri (continuação): Desaforamento. Sentença: peculiaridades.
Desclassificação pelo Conselho de Sentença. Leitura da sentença.

1ª QUESTÃO:
Trata-se de requerimento formulado pela defesa de RUBINHO, pronunciado pela prática
do crime previsto no art. 121, §2º, I e III, do Código Penal, no qual pretende-se o
desaforamento e a suspensão do julgamento do processo em trâmite perante o Juízo de
Direito da 4ª Vara Criminal da Comarca de Duque de Caxias.
Em síntese, a parte requerente ressalta que, entre as diligências do art. 422 do CPP
postuladas pelo Ministério Público, consta o acautelamento e exibição de um pen drive
que contém reportagens sobre o crime, o qual dá conta de que a vítima era "um querido
professor do município de Duque de Caxias", segundo familiares.
A parte requerente afirma ainda que a maioria dos jurados da Comarca de Duque de
Caxias é formada por professores e que, dessa forma, muitos deles conhecem, ou, pelo
menos, devem ter ouvido falar alguma coisa acerca do crime e da movimentação dos
familiares da vítima, o que despertaria séria dúvida sobre a imparcialidade daqueles.
O Procurador de Justiça manifestou-se pela improcedência do pedido.
Com base na situação hipotética acima descrita, esclareça, fundamentadamente, se o
requerimento merece ser acolhido.

RESPOSTA:
art. 427, CPP: "Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a
imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento
do Ministério Público, do assistente, do querelante ou do acusado ou mediante
representação do juiz competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento
para outra comarca da mesma região, onde não existam aqueles motivos, preferindo-se
as mais próximas."

"DESAFORAMENTO DE JULGAMENTO. TRIBUNAL DO JÚRI. HOMICÍDIO


QUALIFICADO. PARCIALIDADE DO CONSELHO DE SENTENÇA.
INEXISTÊNCIA. O desaforamento somente se justifica em hipóteses excepcionais,
previstas expressamente em lei e com base em fatos concretos comprovados nos
autos. No caso em apreço, a alegação de que os jurados da comarca, em sua maioria,
seriam professores, tal como a vítima, e de que, ao assistirem ou lerem entrevistas
com familiares mencionando tratar-se ela de pessoa benquista, julgariam com
parcialidade, não ultrapassa o campo meramente especulativo. Com efeito, não há
qualquer demonstração nos autos de que a lista de jurados seria formada majoritariamente
por pessoas com a mesma profissão da vítima ou de que a defesa tivesse dificuldades em
recusá-los, nos termos do art. 468 do CPP. Ademais, o argumento menoscaba a
inteligência dos jurados, pois pressupõe que não reuniriam condições intelectuais
para decidir acerca da autoria delitiva independentemente da profissão da vítima -
informação acessível a qualquer pessoa - ou de homenagens de familiares em sua
memória. Improcedência do pedido."
grifei
(TJRJ. Terceira Câmara Criminal.Desaforamento de Julgamento n. 0047224-
36.2017.8.19.0000. Relatora Des. Suimei Meira Cavalieri. Julgado em 26/09/2017).

"PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. CRIME DE HOMICÍDIO
TRIPLAMENTE QUALIFICADO. DESAFORAMENTO. IMPOSSIBILIDADE.
MERO CLAMOR PÚBLICO, PRESTÍGIO DA VÍTIMA E VEICULAÇÃO DO
FATO PELA IMPRENSA. COMPROMETIMENTO DA IMPARCIALIDADE
DOS JURADOS. NÃO COMPROVAÇÃO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
1. O Superior Tribunal de Justiça, seguindo entendimento firmado pelo Supremo Tribunal
Federal, passou a não admitir o conhecimento de habeas corpus substitutivo de recurso
previsto para a espécie. No entanto, deve-se analisar o pedido formulado na inicial, tendo
em vista a possibilidade de se conceder a ordem de ofício, em razão da existência de
eventual coação ilegal.
2. O desaforamento é autorizado, mediante comprovação calcada em fatos
concretos, quando o interesse da ordem pública o reclamar ou quando houver
dúvida sobre a imparcialidade do júri ou, ainda, sobre a segurança pessoal do
acusado.
3. A simples presunção de parcialidade dos jurados pela divulgação dos fatos pela
mídia, bem como pela alegação vaga e genérica do prestígio da vítima e a comoção
social gerada pelo crime na comunidade, sem qualquer embasamento empírico
acerca do comprometimento da imparcialidade dos membros que comporão a lista
do Tribunal do Júri, não são suficientes para a adoção da medida excepcional do
desaforamento de competência.
4. A inexistência de comprovação empírica acerca dos requisitos autorizadores do
desaforamento, atrelada à data da prática do crime, em 25/6/2003, ou seja, há mais de
quatorze anos, demonstram aausência de efetiva comprovação acerca da quebra da
imparcialidade dos jurados a justificar a medida de alteração territorial da competência.
5. Habeas corpus não conhecido."
grifei
(STJ. Quinta Turma. HC 336.085/RS. Relator Ministro Reynaldo Soares da
Fonseca. Julgamento em 03/08/2017).
"7. Hipóteses que autorizam o desaforamento: o desaforamento deve ser usado de
maneira excepcional, somente quando demonstrada a presença de um dos motivos
constantes dos arts. 427 e 428, pois a regra fundamental é que o acusado seja julgado no
distrito da culpa, no local onde cometeu o delito."
(LIMA, Renato Brasileiro de. Código de Processo Penal Comentado. Salvador:
Editora JusPodivm, 2016, pág. 1.165).

"13.5.11 Desaforamento
()
No tocante à imparcialidade dos jurados ou à segurança do acusado, o legislador se
contenta com um juízo de dúvida, não exigindo certeza. Não bastam, porém, meras
conjecturas ou suposições. Há risco de parcialidade do tribunal do júri quando, por
exemplo, os jurados estiverem sofrendo pressão de familiares do acusado ou da vítima.
De observar que o desaforamento pelo risco de imparcialidade do júri não se confunde
com a exceção de suspeição do juiz ou dos jurados, por motivos pessoais. Enquanto a
dúvida sobre a imparcialidade dos jurados "se configura em face de pressões externas e
de caráter geral", a suspeição do juiz decorre de fatores "de cunho pessoal e motivação
própria". Há julgado, porém, que determinou o desaforamento por risco de parcialidade
do juiz-presidente do tribunal do Júri, no caso de pequena comarca em que este possuía
fortes laços de amizade e vínculos comerciais com a vítima, com uma das testemunhas,
bem como forte prestígio perante os jurisdicionados."
(BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. 3 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2015, pág. 674-675).

2ª QUESTÃO:
FERDINAND foi denunciado e pronunciado pela suposta prática das condutas descritas
no art. 121, §2º, II e IV do Código Penal.
Em decorrência de tais fatos, no dia 26/04/2018, foi realizado o primeiro julgamento pelo
Tribunal do Júri da Comarca de Três Rios, no qual o acusado restou condenado pelo crime
de homicídio qualificado à pena de 14 (catorze) anos de reclusão, com o cumprimento de
pena em regime inicialmente fechado.
Inconformada, a defesa do réu interpôs recurso de apelação, no qual sustentou a
ocorrência de nulidade do julgamento pela influência exercida pelo magistrado presidente
em sessão plenária.
O Tribunal de Justiça proveu o recurso defensivo e reconheceu a nulidade do julgamento
decorrente da influência dos jurados por argumento proferido pelo magistrado presidente
do Júri, determinando, por consequência, a realização de novo julgamento pelo Tribunal
Popular.
Retornando os autos à comarca de origem, o novo julgamento foi redesignado para o dia
27/01/2020, tendo o Promotor de Justiça concedido entrevistas aos veículos de imprensa
da cidade acerca do caso.
Irresignada, a defesa de FERDINAND ingressou com pedido de desaforamento, no qual
afirmou que as entrevistas concedidas pelo membro do Ministério Público têm como
efeito contaminar o ânimo da sociedade de Três Rios, tendo em vista que as afirmações
contra a defesa e o réu estão a repercutir de forma negativa, gerando na sociedade o
sentimento de se voltar contra o acusado em seu julgamento, o que vem caracterizar a
necessidade imperiosa do desaforamento.
Diante do exposto, esclareça, fundamentadamente, se o pleito defensivo deve ser
acolhido.

RESPOSTA:
“PROCESSO PENAL. PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO
E FRAUDE PROCESSUAL. JÚRI. ART. 427 DO CPP. PEDIDO DE
DESAFORAMENTO. INDEFERIMENTO. COMPROMETIMENTO DA
IMPARCIALIDADE DOS JURADOS NÃO VERIFICADA. ALTERAÇÃO DE
ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL DE ORIGEM. EXAME APROFUNDADO DO
CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. NECESSIDADE. MATÉRIA
INCABÍVEL NA VIA ELEITA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. NÃO
OCORRÊNCIA. WRIT NÃO CONHECIDO.
1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não
cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-
se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de flagrante
ilegalidade no ato judicial impugnado.
2. Nos termos do art. 427 do CPP, se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver
dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a
requerimento do Ministério Público, do assistente, do querelante ou do acusado ou
mediante representação do juiz competente, poderá determinar o
desaforamento do julgamento para outra comarca da mesma região, onde não existem
aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas.
3. A mera presunção de parcialidade dos jurados em razão da divulgação dos fatos
e da opinião da mídia é insuficiente para o deferimento da medida excepcional do
desaforamento da competência.
4. Para rever o entendimento do Tribunal de origem de que não existem os requisitos que
autorizam o desaforamento, seria necessário o exame aprofundado do contexto fático-
probatório, inviável neste via eleita.
5. Habeas corpus não conhecido.”
grifei
(STJ. Quinta Turma. HC 492.964/MS. Relator Ministro Ribeiro Dantas. Julgado em
03/03/2020).

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