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QUESTÃO 1.
Eduardo foi condenado à pena de 6 anos de reclusão e 100 dias-multa pela prática de
roubo contra uma agência da Caixa Econômica Federal. A sentença foi proferida pelo
juízo da 21.a Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e
publicada no dia 26 de novembro 2021. O Ministério Público apenas deu sua ciência sem
praticar qualquer ato.
No caso de ser considerado uma data anterior a data de hoje, 04.12.2021, em que
tal recurso seria tempestivo, poderia ser interposto recurso de apelação contra a sentença
proferida pela 21ª Vara Criminal, alegando principalmente a nulidade absoluta do juízo.
Por outro lado, entendo que poder ser impetrado, no presente caso, o remédio
constitucional denominado Habeas Corpus, uma vez que a sentença se encontra maculada pela
nulidade absoluta, conforme o artigo 564, I do CPP, por incompetência absoluta de juízo, tendo
em vista principalmente tratar-se de matéria de ordem pública.
Cabe ressaltar que tal remédio constitucional é cabível sempre que alguém sofrer ou se
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção por ilegalidade
ou abuso de poder, conforme o artigo 5º, LXVIII, CF.
Além disso, o remédio constitucional Habeas Corpus pode ser impetrado a qualquer
tempo do processo ou até após seu trânsito em julgado.
Sim, no presente caso pode-se observar que, por ser crime praticado em detrimento do
patrimônio da empresa pública federal, Caixa Econômica Federal, a competência da presente
demanda deve ser da Justiça Federal para processo e julgamento do feito, conforme o disposto
no art. 109, I da CF.
Diante disso, é possível perceber que trata-se de competência estabelecida ratione
personae pela Constituição da República. Portanto, é incompetente a Justiça Estadual para
processar e julgar crime de roubo cometido contra a Caixa Econômica Federal. Disso resulta a
nulidade absoluta da persecução penal instaurada contra Eduardo.
O juízo competente para processar, julgar e proferir decisão em tal caso é da Justiça
Federal, conforme o artigo 109, I da CF.
D. Nova decisão poderá condenar Eduardo a pena superior a 8 anos e 200 dias-multa? Por que?
Não. Uma vez anulada a sentença por força de recurso exclusivo da defesa, não poderá
a nova sentença agravar a situação em que já se encontrava o réu por força da sentença, por
conta da vedação ao reformatio in pejus indireta. Desse modo, o juiz competente que irá
proferir nova decisão que substitua a sentença anulada ficará vinculado ao máximo de pena
imposta no primeiro decisium, não podendo agravar a situação do acusado.
QUESTÃO 2.
Uma vez que o desaforamento não foi requerido, cabe à Defesa Técnica, requerer o
desaforamento em caso de novo julgamento em sede de apelação, alegando igualmente a
parcialidade do júri, uma vez que determinadas pessoas que serviram como juradas no caso
tiveram imagens veiculadas exclamando contra o réu.
QUESTÃO 3.
Bené foi preso em flagrante delito por tráfico de entorpecente, sendo por este delito
denunciado e processado. Tendo participado de uma fuga do presídio, Bené estava
foragido, sendo que já havia sido condenado por outros fatos, sendo um deles, porte ilegal
de armas. Na sentença, o juízo condenou Bené a 29 anos de prisão em regime inicialmente
fechado, em razão de sua “alta periculosidade” e do fato de ter outras condenações,
mesmo que não transitadas em julgado, além de ser o réu foragido, condenando-o
também por porte ilegal de arma proibida em razão de um dos policiais militares, que
testemunhara na prova de acusação, ter afirmado que Carlinhos estava portanto um fuzil
no momento de sua prisão, fato este não relatado na denúncia. A decisão de primeiro grau
deixou de fundamentar juridicamente tal pena, apenas tecendo comentários acerca da
personalidade de Carlinhos. Ressalte-se que na denúncia, o Ministério Público apenas
requereu a condenação de Carlinhos nas penas do art. 33, caput da Lei de Drogas, não
descrevendo em momento algum a conduta prevista no artigo 16 do Estatuto do
Desarmamento, e em alegações finais reiterou o mesmo pedido. A sentença foi publicada
em 03.12.2021. Tendo em vista o caso concreto analise a situação em todos seus aspectos
processuais, informando ainda o recurso cabível da decisão, qual seu prazo, qual a forma
de interposição e as possíveis alegações.
1. Considerar o réu como não primário, quando as outras condenações do réu não
transitaram em julgado. O réu apenas será considerado reincidente quando cometer um
novo crime após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, em conformidade
com o artigo 63, CP. Por isso, o fato de ter outras condenações não deve ser considerado
na dosimetria da pena.
2. Condenação por fato não narrado na denúncia. Importante destacar a não conformidade
da sentença com o princípio da correlação entre acusação e sentença. Assim, não há como
incluir qualificadora que não tenha sido narrada explícita ou implicitamente na denúncia.
3. Ausência de fundamentação jurídica da pena. A Constituição Federal, em seu artigo 93,
IX e artigo 489, §1º, II do CPC, impõe-se a garantia de que as decisões do Poder Judiciário
serão devidamente fundamentadas sob pena de nulidade. No presente caso há a flagrante
violação do Princípio Constitucional da Fundamentação das Decisões.
4. Sentença Condenatória Extra Petita. No âmbito do Direito Penal, a sentença penal
condenatória deve respeitar os limites da petição inicial, nos exatos termos da denúncia
oferecida. Ao extrapolar os pedidos, restou-se configurada a decisão extra petita,
afrontando de forma grave os preceitos do devido processo legal e ampla defesa.
É possível observar que no presente caso é cabível o recurso de apelação a ser interposto no
prazo de 5 dias (o prazo em questão finda em 08.12.2021), conforme o artigo 593, CPP. O recurso
em questão deve ser interposto perante o Tribunal ad quo, requerendo a remessa ao Tribunal ad quem,
competente para o julgamento do recurso em referência.
Além disso, pode-se alegar ainda a nulidade da sentença condenatória mal fundamentada,
que viola o Princípio Constitucional da Fundamentação das Decisões, garantido no artigo 93, IX da
Constituição Federal e artigo 489, §1 do CPC.
Por fim, deve ser requerida a anulação da condenação pelo crime de porte ilegal de armas,
uma vez que o réu não foi denunciado por tal crime, devendo o julgador, ao proferir sentença
condenatória, respeitar os limites da petição inicial acusatória.