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DIREITO PENAL e PROCESSUAL PENAL

(pontuação: 1,0 – máximo de 40 linhas)


Promotor de Justiça – MPPR – 2021/22
Discorrer sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais, em face do sistema
de responsabilidade penal instituído no Código Penal e na Constituição Federal brasileira.

O enunciado da questão requer abordagem, em primeiro plano, sobre a controvérsia existente na literatura e
jurisprudência brasileiras, a respeito da correta interpretação do art. 173, § 5º, e do art. 225, § 3º, todos da
Constituição Federal, que, segundo a ótica de constitucionalistas, contempla a previsão de responsabilidade
penal da pessoa jurídica em matéria ambiental, mas segundo a interpretação de especialistas em direito penal,
ao contrário, não contempla a previsão de responsabilidade penal da pessoa jurídica em matéria ambiental,
que, portanto seria inconstitucional.
Em adição, a abordagem sobre a controvérsia também passa pela análise fundamentada quanto ao fato de que
a estrutura legal da pessoa jurídica não comportaria as categorias conceituais da responsabilidade penal
pessoal de seres humanos, assim colidindo, portanto, (a) com os princípios constitucionais da legalidade e
da culpabilidade, que definem o conceito de crime, e (b) com os princípios constitucionais da
personalidade e da individualização da pena, que informam o conceito de pena, a demonstrarem a
impossibilidade de prática de crimes por parte da pessoa jurídica, superando, assim, a tese de reconhecimento
constitucional de sua responsabilidade penal em matéria ambiental.
Tal quadro adverso proporcionaria problemas para a operacionalização científico-dogmática da
responsabilidade penal da pessoa jurídica em matéria ambiental, na forma regulamentada pela Lei 9.605/98
(Lei de Crimes Ambientais), evidenciados pela análise de confronto entre (a) a definição do conceito de
pessoa jurídica e o conceito de crime, (b) a definição do conceito de pessoa jurídica e o conceito de tipo de
injusto, doloso, culposo e de omissão de ação, (c) a definição do conceito de pessoa jurídica e o conceito de
culpabilidade, e (d) a definição do conceito de pessoa jurídica e o conceito de pena {A respeito do tema,
SANTOS, Juarez Cirino dos, in Direito Penal – Parte Geral, 9ª Edição, Tirant lo Blanch, 2020, p. 683/711.}
como temas a serem enfrentados de forma fundamentada na resposta à questão.

Análise material e processual de sentença: nulidade, prova de furto qualificado e fixação da pena e de
seu cumprimento
(Analista Judiciário – Área Judiciária / TJAL / FGV / 2018)

José foi denunciado pela prática de um crime de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo, na forma do
Art. 155, §4º, inciso I, do Código Penal (pena: 2 a 8 anos de reclusão e multa), pois teria ingressado em um
imóvel e subtraído uma televisão avaliada em R$ 4.000,00. Todavia, já do lado de fora da casa, foi
surpreendido por policiais militares, que realizaram sua prisão em flagrante. Após a denúncia, José, que havia
obtido liberdade provisória, não foi localizado em sua residência para ser citado, mas, como cumpria medidas
cautelares alternativas, tinha conhecimento do processo e compareceu a todos os atos processuais, além de
apresentar defesa. Durante a instrução, em termos de documentação, foram juntados apenas o laudo de
avaliação da TV subtraída e a folha de antecedentes criminais a demonstrar que José era reincidente específico
na prática de crimes de furto. Em audiência de instrução e julgamento, foram ouvidas a vítima e as
testemunhas, todos confirmando que José foi visto após sair do imóvel na posse da televisão subtraída,
destacando, ainda, que não sabem como ele ingressou no local, mas que acreditam que tenha sido arrombada a
porta porque viram que a fechadura estava com uma falha não antes percebida. José, por sua vez, confessa os
fatos, confirmando a subtração do bem, mas nada esclarece sobre a forma de ingresso na residência. Após
alegações finais orais, o juiz proferiu sentença, constando o seguinte da fundamentação:
“Inicialmente, não há que se falar em nulidade pela ausência de citação do réu, tendo em vista que esse
compareceu em juízo em todos os atos processuais, demonstrando ter conhecimento da ação penal proposta
contra si. Passo a analisar o mérito. Prova da materialidade e da autoria demonstradas a partir das declarações
da vítima, das testemunhas e do interrogatório do réu, que confirmaram que José ingressou na residência e
subtraiu coisa alheia móvel, somente sendo preso quando já do lado de fora do imóvel, ainda na posse do bem
subtraído. Não havendo causas de exclusão da ilicitude e sendo o réu culpável, a pretensão punitiva do estado
deve ser julgada procedente. Passo à aplicação da pena. Considerando as circunstâncias do Art. 59 do Código
Penal, a pena base deve ser fixada no mínimo legal. Na segunda fase, presente a agravante da reincidência e
ausentes atenuantes, a pena intermediária deve ser assentada em 2 anos e 4 meses de reclusão e 12 dias-multa.
Não há causas de aumento ou de diminuição de pena a serem reconhecidas. Diante da pena final de 2 anos e 4
meses de reclusão, inferior, então, a 4 anos, substituo a pena privativa de liberdade por duas restritivas de
direitos. Deixo de fixar o regime inicial de cumprimento da pena em razão da substituição realizada na forma
do Art. 44 do Código Penal...”.
Considerando a situação narrada, analise as questões processuais e materiais tratadas na sentença, avaliando:
a) a alegação de nulidade;
b) a prova da materialidade do crime de furto qualificado;
c) os aspectos relacionados à fixação da pena e forma de seu cumprimento (não informou o nº de
linhas; VC: 20 linhas).

(Resolução em texto do Você Concursado.)


Preliminarmente, a alegação de nulidade relativa à inexistência de citação do réu foi corretamente
afastada pelo juízo. Segundo a doutrina, convalida a falta de citação, intimação ou notificação, o
comparecimento em juízo para ser interrogado. Na situação em análise, apesar de José não ter sido localizado
em sua residência, compareceu aos atos processuais, demonstrando o conhecimento da ação penal.
Por outro lado, a prova de materialidade a partir das declarações da vítima não poderia ter sido
reconhecida na sentença. Conforme o Código de Processo Penal, quando a infração deixar vestígios, será
indispensável o exame de corpo de delito, não podendo supri-lo a confissão do acusado. No caso concreto, o
arrombamento da porta da residência poderia ter sido apurado em exame pericial, logo, deveria ter sido
exigida pelo juiz.
Por fim, há alguns equívocos na fixação da pena e de seu cumprimento. Conforme a jurisprudência, o
réu fará jus à atenuante quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador , o que
não ocorreu no caso concreto. Além disso, segundo o Código Penal, o magistrado deveria, antes de avaliar o
cabimento da substituição da pena de prisão, fixar o regime inicial de cumprimento de pena. Outro equívoco
foi a decretação de substituição de pena operada na sentença, mesmo diante da reincidência específica na
prática do furto. Para finalizar, o magistrado deveria explicitar o valor unitário do dia-multa, a fim de cumprir
o método bifásico de aplicação de pena de multa.

(Padrão de resposta do Você Concursado.)


Para fins de correção, devem ser consideradas as seguintes pontuações: tópico a: 9,50 pontos; tópico b:
9,50 pontos; tópico c: 9,50 pontos; abordagem do tema: 1,50 pontos.

Tópico a: a alegação de nulidade;
Em regra, a falta de citação do réu é motivo de nulidade absoluta, pois ele deve ter conhecimento da
acusação para poder defender-se, além de envolver a notificação do dia e hora em que deve comparecer em
juízo para ser interrogado. Porém, se o réu não for citado, mas vier a saber e comparecer em juízo, deverá o
Juiz proceder ao interrogatório, ou então marcar dia e hora para o mesmo.
Segundo a doutrina, “convalida a falta de citação, intimação ou notificação, ainda que ele compareça
somente para alegar a nulidade decorrente da omissão.”.
Assim, a alegação de nulidade relativa à inexistência de citação do réu foi corretamente rechaçada pelo
juízo sentenciante, tendo em vista que predomina, na jurisprudência dos Tribunais superiores, o entendimento
de que, ainda nesses casos, é necessária a comprovação de prejuízo, consoante disposto no CPP.
Conceito 0: não abordou o tópico.
Conceito 1: discorreu que a nulidade ocorreu, mas fundamentou com base na regra de nulidade
absoluta, sem considerar a doutrina e o entendimento dos Tribunais superiores.
Conceito 2: discorreu que a nulidade não deve ocorrer, mas fundamentou de forma superficial, sem
considerar a doutrina e o entendimento dos Tribunais superiores.
Conceito 3: discorreu que a nulidade não deve ocorrer, E fundamentou de forma completa,
considerando a doutrina e/ou o entendimento dos Tribunais superiores.

Tópico b: a prova da materialidade do crime de furto qualificado;


Conforme consta no CPP, art. 158, “quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de
corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.”
No caso concreto, em relação à qualificadora do rompimento de obstáculo, que estaria consubstanciada
no arrombamento da porta da residência, tem-se que não poderia ter sido reconhecida na sentença.
A título de argumento secundário, excepcionalmente, admite-se o reconhecimento da qualificadora do
rompimento de obstáculo independente de exame pericial, desde que tenham desaparecido os vestígios e a
materialidade seja corroborada por outras provas (testemunhas, imagens etc.). Porém, tal situação não se
enquadra no fato narrado.
Conceito 0: não abordou o tópico.
Conceito 1: citou que o arrombamento da porta da residência não poderia ser reconhecido na
sentença, mas não trouxe a fundamentação com base no CPP.
Conceito 2: citou que o arrombamento da porta da residência não poderia ser reconhecido na
sentença e trouxe a fundamentação com base no CPP.

Tópico c: os aspectos relacionados à fixação da pena e forma de seu cumprimento.


O candidato deve apontar quatro equívocos, além do descabimento da qualificação do crime de furto,
tratado no tópico anterior.
1) EQUÍVOCO NA NÃO APLICAÇÃO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO.
A atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, d, CP) tem caráter objetivo, não fazendo a lei
referência a motivos ou circunstâncias que a determinaram. Trata-se de um direito público subjetivo do réu ter
a pena reduzida quando confessa espontaneamente o envolvimento no crime.
Registre-se que a circunstância de não ter esclarecido a forma de ingresso na residência não é razão
para o afastamento da atenuante, predominando na jurisprudência o entendimento de que a confissão parcial
dá ensejo à incidência da atenuante.
Ademais, o magistrado invocou o interrogatório do réu – ocasião em que confessa a subtração – como
fundamento para a condenação, tornando inarredável a atenuação da pena, conforme Súmula nº 545 do STJ:
Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à
atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 14/10/2015, DJe
19/10/2015.

2) EQUÍVOCO AO NÃO FIXAR O REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DA PENA.


O art. 59, III e IV, do CP, determina que o magistrado, antes de avaliar o cabimento da substituição da
pena de prisão, deve fixar o regime inicial de cumprimento de pena.
Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do
agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
III – o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade
IV – a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.
Assim, o juiz errou ao não fixar o regime inicial de cumprimento de pena, aduzindo que não seria
necessário, em razão de ter aplicado a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direito.
Cumpre notar, outrossim, que, caso haja o descumprimento da pena alternativa, deve o apenado
cumprir a pena privativa de liberdade, nos moldes como definido na decisão condenatória, nos termos do art.
44, §4º, do CP, motivo por que se mostra imprescindível a fixação do regime inicial de cumprimento da pena
de prisão, ainda que passível de substituição.

3) EQUÍVOCO NA SUBSTITUIÇÃO OPERADA NA SENTENÇA


O art. 44, §3º, do CP condiciona o benefício à inexistência de reincidência específica. In verbis:
Art. 44. As penas restritivas de direitos são: (…) § 3º Se o condenado for reincidente, o juiz poderá
aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e
a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.
Assim, como houve reincidência específica na prática do furto, não caberia a substituição operada na
sentença.

4) EQUÍVOCO NA NÃO DEFINIÇÃO DA PENA DE MULTA


Conforme o art. 49 do CP:
“Art. 49 A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença
e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-
multa:
1º – O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior
salário-mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário.
2º – O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária.
Ademais, a doutrina e jurisprudência têm o entendimento de que o número de dias-multa deve ter por
parâmetro o art. 59 do CP. Logo, tendo a pena-base sido fixada no mínimo legal, assim deveria ter sido com os
dias-multa (mínimo de 10 dias-multa).
No caso concreto, percebe-se que o magistrado, ao definir a pena de multa, esqueceu-se de explicitar o
valor unitário do dia-multa, limitando-se a determinar o número de dias-multa, afrontando, portanto, o método
bifásico de aplicação de pena de multa.
Além disso, fixou arbitrariamente em 12 dias-multa, uma vez que não houve nenhuma circunstância
judicial desfavorável reconhecida.
Conceito 0: não abordou o tópico.
Conceito 1: discorreu corretamente sobre apenas um equívoco.
Conceito 2: discorreu corretamente sobre dois equívocos.
Conceito 3: discorreu corretamente sobre três equívocos.
Conceito 4: discorreu corretamente sobre quatro equívocos.

Validade do cumprimento de mandado de prisão e de busca e apreensão, e antecipação de provas


(Analista Judiciário – Oficial de Justiça Avaliador / TJAL / FGV / 2018)

No curso de investigação penal pela suposta prática de crimes contra a ordem tributária, a autoridade
judiciária, atendendo a requerimento do Ministério Público, decretou a prisão preventiva do sócio-
administrador da sociedade empresária investigada, Paulo Manoel, bem como determinou a busca e apreensão
no endereço do escritório da sociedade empresária, expedindo os respectivos mandados de busca e apreensão e
prisão. Em cumprimento da ordem respectiva, o Oficial de Justiça Avaliador, Júlio César, se dirigiu ao
endereço constante no mandado, na parte da tarde, e, lá chegando, encontrou anúncio de que a empresa mudou
de endereço. Informado pelo porteiro do prédio acerca do novo endereço, em cumprimento da ordem judicial,
Júlio César localizou então o prédio onde agora funciona a sociedade e chegou ao local por volta das 20h. Na
frente do prédio, se deparou com o sócio Paulo Manoel saindo e, diante disso, efetuou a prisão preventiva
pendente de cumprimento. Em seguida, ingressou no novo escritório da sociedade empresária e apreendeu
computadores e documentos, conforme constante do mandado, lavrando o termo respectivo.
Alguns dias após, o Ministério Público ofereceu denúncia em face de Paulo Manoel e também em face de
outro administrador da sociedade, José Carlos. Paulo Manoel foi pessoalmente citado, já que preso, enquanto a
citação de José Carlos foi por edital, pois, após diversas tentativas de localização, foi certificado que estava em
local incerto e não sabido. José Carlos, após o prazo do edital, não compareceu e nem constituiu advogado,
determinando o magistrado a suspensão do processo e do curso do prazo prescricional, o que gerou
preocupação do Ministério Público, tendo em vista que a única testemunha do fato era idosa e estava internada
em unidade hospitalar, com doença cardíaca em estado avançado.

Considerando apenas as informações narradas, responda justificadamente:


A) O cumprimento do mandado de prisão preventiva foi válido?
B) A busca e apreensão realizada no escritório da sociedade empresária foi válida?
C) Com a suspensão do processo em razão da citação por edital, poderia o magistrado adotar alguma medida
para resguardar a prova a ser produzida? (não informou o nº de linhas; VC: 20 linhas).

(Resolução em texto do Você Concursado.)


Inicialmente, cabe salientar que o cumprimento do mandado de prisão preventiva em desfavor de Paulo
Manoel foi válido. Conforme o Código de Processo Penal (CPP), a prisão poderia ocorrer a qualquer
momento, desde que dentro do prazo de validade fixado no respectivo mandado de prisão. Ademais, não
houve violação de domicílio, visto que a prisão foi realizada em via pública.
Por outro lado, a execução da busca e apreensão realizada no escritório da sociedade empresária não
foi válida. Ainda conforme preceitua o CPP, o mandado de busca deverá indicar, o mais precisamente
possível, a casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou morador. No caso
em análise, no mandado, constava outro endereço, o que torna inválida a busca e apreensão. Além disso, não
poderia ter sido realizada no período da noite, pois afronta a norma constitucional.
Por fim, com a suspensão do processo e do prazo prescricional em razão da citação por edital, o
magistrado poderia proceder à antecipação de provas consideradas urgentes. De acordo com o CPP, a
suspensão do processo e do prazo prescricional ocorreria se o acusado, citado por edital, não comparecer e
nem constituir advogado. No caso concreto, como a única testemunha do fato era idosa e estava internada em
unidade hospitalar, com doença cardíaca em estado avançado, o magistrado poderia proceder na antecipação
de provas consideradas urgentes.

(Padrão de resposta do Você Concursado.)


Tópico 1 – O cumprimento do mandado de prisão preventiva foi válido?
O cumprimento do mandado de prisão preventiva em desfavor de Paulo Manoel foi válido.
Conforme o art. 283, §2º do CPP, a prisão poderia ocorrer a qualquer momento, desde que dentro do prazo de
validade fixado no respectivo mandado de prisão. Ademais, não houve violação de domicílio, visto que a
prisão foi realizada em via pública.
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada
da autoridade judiciária competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de condenação
criminal transitada em julgado.
[…]
2º A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, respeitadas as restrições relativas
à inviolabilidade do domicílio.
Conceito 0: não abordou o tópico
Conceito 1: Indicou que o mandado de prisão preventiva era válido, mas não fundamentou com base
no CPP.
Conceito 2: Indicou que o mandado de prisão preventiva era válido E fundamentou com base no CPP.

Tópico 2 – A busca e apreensão realizada no escritório da sociedade empresária foi válida?


A execução da busca e apreensão realizada no escritório da sociedade empresária não foi válida.
Conforme preceitua o art. 243, I do CPP, o mandado de busca deverá indicar, o mais precisamente possível, a
casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou morador.
Art. 243. O mandado de busca deverá:
I – indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e o nome do
respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou
os sinais que a identifiquem;
II – mencionar o motivo e os fins da diligência;
III – ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir.
1º Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do mandado de busca.
2º Não será permitida a apreensão de documento em poder do defensor do acusado, salvo quando
constituir elemento do corpo de delito.
Ademais, o art. 245, combinado com o art. 246, ambos do CPP dispõem que as buscas serão
executadas de dia, salvo se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa, os
executores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida,
a abrir a porta.
Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador consentir que se
realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou
a quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta.
1º Se a própria autoridade der a busca, declarará previamente sua qualidade e o objeto da diligência.
2º Em caso de desobediência, será arrombada a porta e forçada a entrada.
3º Recalcitrando o morador, será permitido o emprego de força contra coisas existentes no interior da
casa, para o descobrimento do que se procura.
4º Observar-se-á o disposto nos §§ 2o e 3o, quando ausentes os moradores, devendo, neste caso, ser
intimado a assistir à diligência qualquer vizinho, se houver e estiver presente.
5º Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar, o morador será intimado a mostrá-la.
6º Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será imediatamente apreendida e posta sob custódia
da autoridade ou de seus agentes.
7º Finda a diligência, os executores lavrarão auto circunstanciado, assinando-o com duas
testemunhas presenciais, sem prejuízo do disposto no § 4o.
Art. 246. Aplicar-se-á também o disposto no artigo anterior, quando se tiver de proceder a busca em
compartimento habitado ou em aposento ocupado de habitação coletiva ou em compartimento não aberto ao
público, onde alguém exercer profissão ou atividade.
Assim, no caso concreto, o mandado judicial se destinava ao endereço empresarial anterior, não
podendo o oficial de justiça, ao tomar conhecimento da mudança de endereço, executar o mandado sem
antes certificar o fato e comunicar à autoridade judiciário, que poderia expedir novo mandado de busca.
Ademais, ao realizar a busca no período noturno e sem autorização, violou o previsto no CPP e no art.5º,
inc. XI da CF/88.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[…]
XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial;
Conceito 0: não abordou o tópico
Conceito 1: Indicou a busca e apreensão realizada no escritório era inválida, mas não fundamentou
com base no CPP e na CF/88.
Conceito 2: Indicou a busca e apreensão realizada no escritório era inválida E fundamentou com base
no CPP e na CF/88.Conceito 1: citou que o arrombamento da porta da residência não poderia ser
reconhecido na sentença, mas não trouxe a fundamentação com base no CPP.

Tópico 3 – Com a suspensão do processo em razão da citação por edital, poderia o magistrado
adotar alguma medida para resguardar a prova a ser produzida?
Com a suspensão do processo e do prazo prescricional em razão da citação por edital, o magistrado
poderia proceder à antecipação de provas consideradas urgentes. De acordo com o art. 366 do CPP, a
suspensão do processo e do prazo prescricional ocorreria se o acusado, citado por edital, não comparecer e
nem constituir advogado.

Como a única testemunha do fato era idosa e estava internada em unidade hospitalar, com doença
cardíaca em estado avançado, o magistrado poderia proceder na antecipação de provas consideradas
urgentes.
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos
o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas
consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para
qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de mudança de residência, não
comunicar o novo endereço ao juízo.
Conceito 0: não abordou o tópico
Conceito 1: Indicou a o juiz poderia adotar medida para resguardar a prova a ser produzida, mas não
fundamentou com base no CPP.
Conceito 2: Indicou a o juiz poderia adotar medida para resguardar a prova a ser produzida E citou a
possibilidade de antecipação de provas da idosa E fundamentou com base no CPP.

XX
(Analista Judiciário – Área Judiciária / TJDFT / CESPE / 2015)

“Toda conduta dolosa ou culposa pressupõe uma finalidade. A diferença entre elas reside no fato de que, em
se tratando de conduta dolosa, como regra, existe uma finalidade ilícita, ao passo que, tratando-se de conduta
culposa, a finalidade é quase sempre lícita. Nesse caso, os meios escolhidos e empregados pelo agente para
atingir a finalidade lícita é que são inadequados ou mal utilizados.”
Rogério Greco. Curso de direito penal – parte geral. p. 196 (com adaptações).

Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo
acerca dos crimes culposos (30 linhas).
Seu texto deve conter, necessariamente,
 os elementos do crime culposo e a descrição de pelo menos dois desses elementos; [valor: 12,00
pontos]
 os conceitos de culpa inconsciente, culpa consciente e dolo eventual e suas diferenças; [valor:
12,00 pontos]
 os conceitos de culpa imprópria e tentativa. [valor: 14,00 pontos]

(Não possui resolução em texto de 30 linhas, apenas de 15 linhas do Você Concursado.)


Ao tratar sobre crime culposo, é preciso discorrer sobre os elementos que o compõe. Conforme a
doutrina majoritária, os elementos do crime culposo são a conduta humana voluntária, a violação ou
inobservância de um dever de cuidado objetivo, o resultado naturalístico involuntário, o nexo entre conduta e
resultado, a previsibilidade e a tipicidade. Importante frisar que o nexo causal pode ser descrito como a
comprovação de existência de relação entre a conduta praticada e o resultado.
Por fim, deve-se diferenciar os conceitos de culpa inconsciente, culpa consciente e dolo eventual.
Segundo o Direito Penal, a culpa inconsciente ocorre nas situações em que o agente não prevê o resultado de
sua conduta, embora este seja previsível. Já a culpa consciente ocorre nas situações em que, embora o agente
preveja o resultado, espera que este não ocorra, não o aceita como possível, em razão de sua habilidade ou
experiência com a prática do ato. Por fim, o dolo eventual ocorre quando o agente conhece a possibilidade do
resultado, mas assume o risco de produzi-lo, isto é, embora o agente represente a situação na qual poderá
ocorrer lesão ao bem jurídico, ele prossegue com a conduta.

Tópico 1: Elementos do crime culposo


O crime culposo consiste em uma conduta voluntária na qual o agente realiza um ato ilícito não
desejado, mas que lhe era previsível — culpa inconsciente — ou excepcionalmente previsto — culpa
consciente. Nessa situação, o crime poderia ser evitado, caso se empregasse a cautela necessária. Os elementos
do crime culposo são conduta humana voluntária; violação ou inobservância de um dever de cuidado objetivo;
resultado
naturalístico involuntário; nexo entre conduta e resultado; previsibilidade; e tipicidade. O candidato deverá
descrever dois desses elementos, conforme apresentado a seguir.
 Conduta humana voluntária consiste na ação ou na omissão dirigida ou orientada pelo desejo que causa um
resultado involuntário.
 Violação de um dever de cuidado objetivo consiste no dever de diligência — regra básica para o convívio
social. Nessa situação, o comportamento do agente não condiz com o que é esperado pela lei e pela
sociedade. As formas de violação do dever de diligência são: a imprudência, que se caracteriza pela
precipitação ou afoiteza e pode ser exemplificada pelas situações em que motoristas desrespeitam a
sinalização de trânsito; a negligência, que se refere à ausência de precaução e pode ser exemplificada pelas
situações em que genitores deixam armas ao alcance de filhos menores; e a imperícia, que se refere à falta
de aptidão técnica para o exercício de arte ou profissão e pode ser exemplificada pelas situações em que
cirurgiões plásticos cometem erros técnicos durante a execução de procedimentos cirúrgicos.
 Resultado naturalístico involuntário consiste, em regra, no crime culposo que é material, ou seja, exige
modificação no mundo exterior. Nessa situação, se houver falta de cuidado por parte do agente, mas não
ocorrer o resultado lesivo a um bem jurídico tutelado, não haverá crime culposo.
 Nexo causal entre conduta e resultado.
 Previsibilidade consiste na possibilidade de prever o perigo advindo da conduta.
 Tipicidade, prevista no art. 18, parágrafo único, do CP. Princípio da excepcionalidade do crime culposo.
Se o tipo penal quer punir a forma culposa, deve ser expresso. No silêncio, o tipo penal só é punido a título
de dolo.

Tópico 2: Diferença entre culpa inconsciente, culpa consciente e dolo eventual


A culpa consciente, ou culpa ex lascívia, ocorre nas situações em que, embora o agente preveja o
resultado, espera que este não ocorra, não o aceita como possível. A culpa consciente existe quando o sujeito
prevê o resultado da conduta, entretanto, em razão de sua habilidade ou experiência, acredita que não
ocorrerão efeitos lesivos (previsão + confiança). Nessas situações, em nenhum momento o agente quer ou
assume o risco da ocorrência do resultado, ele apenas prevê e confia na sua habilidade de evitar o efeito lesivo
ao direito de outrem — por exemplo, se um caçador avistar um companheiro próximo a um animal que deseja
abater e, confiando em sua habilidade de atirador, disparar contra o animal, mas atingir o companheiro,
ocorrerá culpa consciente, independentemente de a lesão resultar em morte.
A culpa inconsciente, ou culpa ex ignorantia, ocorre nas situações em que o agente não prevê o
resultado de sua conduta, embora este seja previsível — por exemplo, se, ao atirar um objeto pela janela, um
indivíduo atingir, involuntariamente, uma pessoa que estiver passando pela rua, ocorrerá culpa inconsciente, já
que sua ação foi motivada pela confiança de que, naquele momento, ninguém transitaria pelo local. A culpa
inconsciente, regra no ordenamento jurídico, refere-se ao clássico crime culposo, em que o agente não prevê o
resultado que poderia ocorrer devido ao fato de ele ter sido negligente, imprudente ou imperito. O agente
agrega um risco proibido à situação que o fará responder na modalidade culposa clássica. Nessas situações, a
violação do dever de cuidado ocasiona a lesão ao bem jurídico protegido.
O dolo eventual ocorre nas situações em que o agente prevê o resultado, mas não se importa com os
possíveis efeitos lesivos. O dolo eventual é uma espécie de dolo indireto que ocorre quando o agente conhece
a possibilidade do resultado, mas assume o risco de produzi-lo. Nessas situações, a atitude do agente é de total
indiferença em relação ao bem jurídico tutelado (representação + aceitação + indiferença). Embora o agente
represente a situação na qual poderá ocorrer lesão ao bem jurídico, ele prossegue a conduta.

Tópico 3: Culpa imprópria e tentativa


A culpa imprópria se verifica quando o sujeito prevê e deseja o resultado, mas atua em erro vencível
(arts. 20, §1°, 2° parte, e 23, parágrafo único, do CP). Esse tipo de culpa ocorre na hipótese de uma
descriminante putativa em que o agente, em virtude de erro evitável pelas circunstâncias, dá causa
dolosamente a um resultado, mas responde como se tivesse praticado um crime culposo. Por exemplo, o
agente está em casa, à noite, e ouve
um barulho; assustado, supõe que o barulho tenha sido ocasionado por um ladrão e dispara contra o vulto.
Após o disparo, constata que o disparo, que não resultou em morte, foi efetuado contra um guarda noturno.
Nessas situações, o agente, que atuou com dolo, responde por tentativa de crime culposo; no entanto, devido a
questões de política criminal, ele é punido a título de culpa. Nesse caso, o juiz deverá aplicar a pena do crime
culposo diminuída de 1/3 a 2/3, de acordo com o que dispõe o art. 20, § 1.º, segunda parte, CP.
“Art. 20. O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a
punição por crime culposo, se previsto em lei. Descriminante putativas § 1.º É isento de pena quem, por erro
plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima.
Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.”
O art. 14, inciso II, do CP conceitua que ocorre a tentativa quando, iniciada a execução, não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Assim, verifica-se que, em regra, os crimes culposos não admitem tentativa. Entretanto, é possível
admiti-la na culpa imprópria.

Referência
Rogério Greco. Curso de Direito Penal – parte geral. p.195-210.
(Padrão de resposta da banca)

X
(Analista Judiciário – Execução de Mandados / TJRJ / FGV / 2014)
No dia 13 de novembro de 2014, Eduardo, Matheus e Francisco, unidos em ações e desígnios, praticaram um
crime de roubo na cidade de Niterói. Dirigiram-se, então, a São Gonçalo, onde praticaram dois furtos
qualificados, fato este presenciado por policiais militares, que conseguiram deter apenas Eduardo, com os
demais agentes empreendendo fuga. A prisão em flagrante de Eduardo foi devidamente convertida em
preventiva. O Ministério Público apresentou denúncia, perante o Juízo competente, pela prática em conexão
dos crimes dos artigos 157, §2º, inciso II (pena: 04 a 10 anos de reclusão, aumentada de 1/3 a 1/2 e multa); e
155, §4º, inciso IV – 2 vezes – (pena: 02 a 08 anos de reclusão e multa), todos do Código Penal. Recebida a
denúncia, determinou o magistrado que fossem os réus citados para apresentação de resposta à acusação,
designando, desde já, data para audiência. Compareceu o Executor de Mandados no dia 24 de novembro aos
endereços indicados nos autos como sendo os de Matheus e Francisco e, como os denunciados não foram
encontrados naquela oportunidade, certificou que estavam em local incerto e não sabido. Diante disso, foi
realizada a citação destes dois réus por edital. Passado o prazo fixado no edital publicado sem comparecimento
dos denunciados ou constituição de advogado, o juiz suspendeu o processo e o curso do prazo prescricional
em relação a estes dois acusados, inclusive determinando a produção antecipada de provas. Dois meses após
esta decisão, o processo voltou a correr normalmente em face de Matheus, pois foi descoberto que desde o dia
16 de novembro de 2014 ele estava preso no Estado do Rio de Janeiro pela prática de novo crime de roubo.
Por sua vez, o acusado Eduardo foi requisitado para o dia da audiência designada, somente sendo citado,
porém, no início deste ato da instrução, com apresentação de resposta à acusação oral pela Defensoria. Em
alegações finais, a Defensoria Pública alegou a nulidade absoluta da citação de Eduardo, pois realizada no dia
de seu interrogatório. Sobre essa situação hipotética, responda (máximo 20 linhas):
a) Qual o juízo territorialmente competente para julgar os crimes praticados em conexão pelos réus?
Justifique a resposta.
b) Quais as principais espécies de citação previstas no Código de Processo Penal? Justifique a resposta.
c) Os atos citatórios de Matheus, Francisco e Eduardo foram válidos? Justifique a resposta.

(Sem resolução em texto.)

– Juízo Competente indicado corretamente – Vara Criminal de Niterói.


– Justificativa para indicação do juízo competente, mencionado que o crime de roubo é o mais grave
dos praticados em conexão – art. 78, inciso II, a , CPP.
– Menção às principais modalidades de citação previstas no CPP, dentre as quais se destacam a citação
pessoal (requisição, mandado, carta precatória, etc.), a citação por hora certa e a citação por edital.
– Apresentação de classificação de citação entre real e ficta, além de dar breves explicações sobre
hipóteses de cabimento (ex. citação por hora certa – quando o oficial verificar que o réu se oculta para não ser
citado.)
– Citação de Matheus – Súmula 351, STF – discorrer sobre a validade da citação por edital do réu
preso.
– Citação de Francisco – discorrer sobre a necessidade de esgotar as diligências para localização do réu
antes da citação por edital.
– Citação de Eduardo – discorrer sobre a controvérsia existente quanto à possibilidade da citação ser
realizada na audiência em que se realiza o interrogatório, destacando que o STJ não considera que isto, por si
só, cause nulidade.
(Padrão de resposta do Você Concursado.)

XX
(Analista Judiciário – Área Judiciária / TJDFT / CESPE / 2013)

“Fernando agrediu fisicamente sua ex-companheira, Olga, causando-lhe lesões que resultaram na perda de
vários dentes, além de uma pequena cicatriz no rosto. Ninguém presenciou o ocorrido, tendo a vítima
registrado ocorrência policial a respeito dos fatos. Posteriormente, profundamente arrependido, Fernando
custeou tratamento ortodôntico para a substituição dos dentes que Olga perdera. O casal reatou o
relacionamento, e a vítima compareceu à delegacia para retratar a representação ofertada.”
Em face dessa situação hipotética, redija um texto dissertativo, respondendo, de forma fundamentada, às
seguintes indagações (30 linhas).
 Qual é a tipificação do crime praticado por Fernando? [valor: 5,50 pontos]
 A retratação da representação pela vítima na delegacia de polícia obsta o prosseguimento da
persecução penal? Caso a vítima não manifestasse intenção de retratar a representação, poderia o juiz,
de ofício, determinar a designação de audiência de retratação? [valor: 2,00 pontos]
 A palavra de Olga é suficiente para a condenação de Fernando? [valor: 1,00 ponto]
 Caso Fernando seja condenado, é admissível a substituição da pena prevista para o crime por pena
restritiva de direitos? [valor: 1,00 ponto]

(Sem resolução em texto.)

(Sem padrão de resposta da banca.)

XX
(Analista Judiciário – Oficial de Justiça Avaliador Federal / TJDFT / CESPE / 2013)

“Celso, oficial de justiça, ao cumprir mandado judicial expedido por autoridade judiciária superior
competente, no curso de ação judicial na qual fora ordenada a indisponibilidade de bens, busca e apreensão de
vultosas quantias de valores em espécie de moeda nacional corrente e estrangeira, títulos, documentos e bens
móveis e, ainda, o sequestro de diversos imóveis pertencentes aos réus, além da suspensão de contratos
firmados com o poder público, cumpriu estritamente os termos constantes na ordem judicial, tendo observado
rigorosamente os ditames legais de regência. No curso do cumprimento do mandado judicial, Jonas, um dos
réus, indignado com a conduta de Celso, o qual retirara do escritório dos acusados todo o dinheiro lá
encontrado, rasgou, de forma grosseira, as duas vias do mandado que lhe havia sido entregue, o que foi
certificado pelo oficial de justiça.”

Com base na situação hipotética apresentada, redija um texto dissertativo, respondendo, de forma
fundamentada, às seguintes indagações.
 A conduta de Celso está amparada em causa excludente de ilicitude ou em causa excludente de
culpabilidade? [7,00 pontos]
 Em que consistem a estrita obediência hierárquica e o estrito cumprimento de dever legal ou exercício
regular de direito e quais são os efeitos desses institutos? [14,50 pontos]
 Que infração foi praticada por Jonas no momento da intimação? Considera-se cumprido o ato judicial
pelo oficial de justiça? [7,00 pontos]

Trata-se de análise da legalidade do cumprimento de mandado judicial pelo oficial de justiça Celso, no
qual foi ordenado a indisponibilidade de bens, a busca e apreensão, o sequestro de imóveis e a suspensão de
contratos.
Preliminarmente, verifica-se que a conduta de Celso está amparada em causa de excludente de
ilicitude. Segundo a doutrina, são causas legais para a exclusão da ilicitude a legítima defesa, o estado de
necessidade, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular do direito. No caso em análise, Celso,
atuando como oficial de justiça e cumprindo a determinação judicial, enquadra-se na excludente de ilicitude,
pois exercia estritamente o cumprimento do dever legal.
Nesse sentido, cabe destacar a diferença entre a estrita obediência hierárquica, o estrito cumprimento
de dever legal e o exercício regular de direito. No âmbito do Direito Penal, a estrita obediência hierárquica
consiste na prática de infração penal em decorrência de ordem, não manifestadamente ilegal, emitida pelo
superior hierárquico, o qual gera, como efeito, a exclusão da culpabilidade. Já o estrito cumprimento de dever
legal é a prática de fato típico, em razão do agente cumprir uma obrigação imposta por lei, logo, tem, como
efeito, a exclusão da ilicitude. Por fim, o exercício regular de direito consiste no desempenho de uma atividade
ou prática autorizada por lei, que torna lícito um fato típico, assim, o efeito também é a exclusão da ilicitude.
Por fim, vale ressaltar que a atitude de Jonas, um dos réus, de rasgar grosseiramente as duas vias do
mandado, pode ser enquadrada como crime de desacato. Conforme o Código Penal, desacatar servidor público
no exercício da função ou em razão dela configura um ilícito penal e enseja em pena, de seis a dois anos, ou
multa. Na situação hipotética, ao tratar de forma grosseira o oficial de justiça, o qual estava exercendo sua
função, pode configurar, portanto, desacato. Ademais, é importante frisar que, mesmo diante desse ato, o ato
judicial deve ser considerado cumprido pelo oficial, pois seguiu adequadamente os ditames legais.
(Resolução em texto do Você Concursado.)

Tópico 1: A conduta de Celso está amparada em causa excludente de ilicitude ou em causa excludente
de culpabilidade?
A conduta de Celso está amparada em uma causa excludente de ilicitude, qual seja, o estrito
cumprimento de dever legal.
Conceito 0: Não abordou o tema.
Conceito 1: Apresentou que a conduta de Celso estava amparada em uma causa excludente de ilicitude.
Conceito 2: Apresentou que a conduta de Celso estava amparada em uma causa excludente de ilicitude e
disse qual era.

Tópico 2: Em que consistem a estrita obediência hierárquica e o estrito cumprimento de dever legal ou
exercício regular de direito e quais são os efeitos desses institutos?
Estabelecida no art. 22 do Código Penal, trata-se a obediência hierárquica de uma causa de exclusão da
culpabilidade que está fundada na inexigibilidade de conduta diversa, o que ocorre quando um funcionário
subalterno pratica uma infração penal em decorrência de ordem, não manifestamente ilegal, emitida pelo
superior hierárquico.
São seus requisitos:
– ordem não manifestamente ilegal;
– ordem originária de autoridade competente;
– relação de direito público (não é admitida no campo privado, por falta de punição severa e
injustificada àquele que descumpre ordem não manifestamente ilegal emanada de seu superior).
– presença de pelo menos três pessoas;
– cumprimento estrito da ordem.
O estrito cumprimento de ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico exclui a
culpabilidade do executor subalterno, com base na inexigibilidade de conduta diversa. Entretanto, não
permanecerá impune, pois por ele responde o autor da ordem.
O estrito cumprimento do dever legal está disposto no art. 23, inc. III, 1ª parte do CP e trata-se de uma
causa de exclusão da ilicitude que consiste na prática de fato típico, em razão de cumprir o agente uma
obrigação imposta por lei, seja ela de natureza penal ou não.
Para se considerar dever legal é preciso que advenha de lei, ou seja, preceito de caráter geral, originário
de poder público competente, embora no sento lato (leis ordinárias, regulamentos, decretos, decisões judiciais
etc).
O exercício regular do direito está disposto no art. 23, inc. II, parte final, do Código Penal, e trata-se de
uma causa de exclusão da ilicitude. Nada mais é do que o desempenho de uma atividade ou a prática de uma
conduta autorizada por lei, que torna lícito um fato típico.

Estrito cumprimento do dever


Exercício Regular de Direito
legal
Natureza Compulsória Facultativa
O direito cujo exercício se autoriza pode
O dever de agir tem origem na lei,
Origem advir da lei, de regulamentos, e, para
direta ou indiretamente.
alguns, inclusive dos costumes.
Poder do O agente deve limitar-se a atender O agente detém o poder de agir, legitimado
Agente ao comando existente em lei. pela norma.

Conceito 0: Não abordou o tema.


Conceito 1: Apresentou corretamente o conceito de obediência hierárquica ou estrito cumprimento de dever
legal ou exercício regular do direito.
Conceito 2: Apresentou corretamente o conceito de obediência hierárquica e/ou estrito cumprimento de dever
legal e/ou exercício regular do direito.
Conceito 3: Apresentou corretamente o conceito de obediência hierárquica, estrito cumprimento de dever
legal e exercício regular do direito.

Tópico 3: Que infração foi praticada por Jonas no momento da intimação? Considera-se cumprido o
ato judicial pelo oficial de justiça?
A infração penal cometida por Jonas está capitulada no art. 331, do Código Penal, qual seja, o crime de
desacato, pois desacatou funcionário público no exercício de sua função.
Ainda assim, considera-se cumprido o ato judicial pelo oficial justiça, uma vez que seguiu
corretamente os ditames legais e tenha certificado corretamente o ocorrido.
Conceito 0: Não abordou o tema.
Conceito 1: Abordou corretamente a infração ou considerou cumprido o ato judicial pelo oficial de justiça.
Conceito 2: Abordou corretamente a infração e considerou cumprido o ato judicial pelo oficial de justiça.

Fonte: MASSON, Cleber. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) ~ v. 1 – 14 ed. – Rio de Janeiro: Forense;
São Paulo: MÉTODO, 2020.
NUCCI, Guilherme de Souza Curso de direito penal: parte geral: arts. 1º a 120 do Código Penal / Guilherme
de Souza Nucci. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.
JUNQUEIRA, Gustavo; VANZOLINI, Patricia. Manual de direito penal: parte geral / Gustavo Junqueira,
Patricia Vanzolini. – 7 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021.
(Padrão de Resposta do Você Concursado.)

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