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Teses de HC’s

1. Ausência de requisitos do art. 312 do CPP + falta fundamentação: essa


tese é utilizada pelos impetrantes para arguir alguma ilegalidade na
decretação/conversão da prisão preventiva ou alguma ilegalidade no
indeferimento do pedido de revogação da prisão preventiva. Os requisitos da
prisão preventiva são taxativamente expressos no art. 312 do CPP. Sempre
que o HC se basear em um pedido de revogação da prisão preventiva, é
importante ler os arts. 311 a 316 do CPP, para criar familiaridade com o
assunto.
a. Modelos: não foi preciso, já existe no seu gabinete

2. Condições pessoais favoráveis: sempre vai aparecer com uma descrição


das características pessoais do paciente. Ex: paciente primário, bons
antecedentes, possui trabalho, endereço fixo, pai de família. O entendimento
é de que essa tese vai ser SEMPRE rebatida, pois entendem que as
condições pessoais favoráveis por si só não são suficientes para a
decretação de uma ordem de soltura do paciente.
b. Modelos: não foi preciso, já existe no seu gabinete

3. Presunção de inocência: argumento utilizado nos HC’s que se baseia no


princípio do Direito Penal que diz que ninguém deve ser considerado culpado
até que todas as provas sejam produzidas ou até que se esgote todos os
trâmites processuais. Normalmente, os advogados apenas citam o nome
“princípio da presunção de inocência” ou adicionam o artigo da Constituição
que fala sobre esse princípio (art. 5º, inciso LVII), mas só deles citarem a
presunção de inocência ela deverá ser rebatida em seu voto. Em regra, vai
ser rebatida (indeferida) no voto, isso porque, o entendimento dos Tribunais é
de que a decretação da prisão antes do trânsito em julgado devidamente
justificada, não compromete esse princípio.
a. Modelo para liminar ou relatório do mérito:
“Aduz que a manutenção em cárcere constitui uma afronta ao
princípio constitucional da presunção de inocência, previsto no artigo
5º, inciso LVII, da Constituição Federal”
b. Modelo para rebater a tese no mérito:
“No mais, sabe-se que é possível a conjugação da prisão cautelar com
o princípio da presunção de inocência, já que a própria Constituição da
República, em seu artigo 5.º, inciso LXI, prevê a possibilidade deste
tipo de custódia, contanto que preservada a característica da
excepcionalidade, subordinada à necessidade concreta, real, efetiva e
fundamentada.
Desse modo, a manutenção da prisão do paciente não representa uma
afronta às garantias constitucionais, mas, sim, medida em proveito da
sociedade”.

4. Negativa de autoria: tal tese é utilizada para discutir questões acerca da


autoria do crime em questão. Contudo, a análise da autoria delitiva deve ser
feita por meio dos recursos penais cabíveis que irão revisar os autos da ação
penal. A contestação da autoria do crime deve ser feita nos autos da ação
penal ou nos recursos adequados. Os meros indícios de autoria já são
suficientes para a manutenção da prisão do paciente. Portanto, via de
regra, essa tese vai ser afastada no mérito. Ressalta-se que coloquei “via de
regra”, já que se, analisando o caso, você notar que não existem esses
indícios de autoria pode ser que o paciente pode ser solto.
a. Modelo para liminar e relatório de mérito:
“Sustenta a impetrante, inicialmente, a ausência de indícios suficientes
de autoria, eis que “não existem provas testemunhais ou qualquer
meio de prova”, que impute o crime ao increpado”
“Inicialmente, sustenta a impetrante que o paciente não cometeu o
delito ora imputado, haja vista que ele apenas se defendeu das
constantes ameaças e agressões da suposta vítima”

b. Modelo para usar no corpo do mérito:


“Inicialmente, registro que a tese de negativa de autoria é incompatível
com a presente ação constitucional, vez que importa em dilação
probatória, sendo certo que o debate acerca da fragilidade de provas
de autoria do paciente, que não pode ser de plano comprovado, deve
ser apreciado no decorrer da instrução criminal. Conforme o
entendimento deste e. Tribunal de Justiça:
HABEAS CORPUS - ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA -
PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO - TRÁFICO
ILÍCITO DE DROGAS - NEGATIVA DE AUTORIA -
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE EM SEDE DE
HABEAS CORPUS.
- Tese relativa à negativa de autoria por parte do
paciente envolve revolvimento pormenorizado do
acervo probatório dos autos e dilação probatória,
pelo que se torna inviável a sua análise na via
estreita do habeas corpus.
LIBERDADE PROVISÓRIA - NÃO CABIMENTO -
DECISÃO DENEGATÓRIA FUNDAMENTADA -
GARANTIA DE ORDEM PÚBLICA -
CIRCUNSTÂNCIAS DOS DELITOS - REITERAÇÃO
DELITIVA DO AGENTE.
- É de se considerar suficientemente fundamentada a
decisão que, invocando elementos concretos dos
autos, considera que a custódia cautelar do paciente é
necessária ao resguardo da ordem pública. (TJMG -
Habeas Corpus Criminal 1.0000.19.107315-4/000,
Relator(a): Des.(a) Júlio Cezar Guttierrez , 4ª CÂMARA
CRIMINAL, julgamento em 18/09/2019, publicação da
súmula em 20/09/2019) – destaquei.

5. Fiança: a lei prevê quais crimes são inafiançáveis e qual o procedimento de


aplicação da fiança pelo Juiz de primeira instância. O rol dos crimes
inafiançáveis (art. 323 do CPP) é taxativo, desse modo, para os crimes
descritos neste artigo não poderá ser arbitrada fiança. Bem como, a
fiança deve ser aplicada em um valor que seja adequado para o pagamento,
se for arbitrado um valor muito superior às condições do paciente ou
desproporcional ao crime cometido, haverá uma clara ilegalidade. Sobre esse
assunto, ressalto esse trecho do manual do professor Aury Lopes Jr:
“Como, atualmente, a fiança possui um campo
bastante amplo de incidência, com valores
substancialmente elevados (podendo chegar a 200 mil
salários mínimos), o que poderá ocorrer é o
arbitramento de um valor excessivo, impagável pelo
imputado na sua situação econômica.
Assim, pensamos que esse dispositivo deve ter uma
leitura alargada, tendo cabimento o HC no caso em
que não é oferecida a fiança (e cabível), mas também
nos casos em que o valor arbitrado é excessivo,
equivalendo-se ao não oferecimento.
Pensamos que toda e qualquer medida cautelar
diversa deve ter “condições de possibilidade” de ser
cumprida. Do contrário, não atende sua missão e
equipara-se a uma recusa imotivada.
Portanto, uma fiança de valor desproporcional,
impossível de ser cumprida pelo imputado, equipara-se
a uma recusa injustificada em concedê-la. Ou seja,
uma flagrante ilegalidade sanável pela via do HC,
cabendo ao tribunal readequá-la a patamares
razoáveis.

a. Modelo de liminar ou relatório de mérito:


“Sustenta o impetrante que, no caso em questão, ao condicionar a
liberdade provisória do paciente ao recolhimento de fiança resta
configurado constrangimento ilegal, haja vista sua condição de
miserabilidade e insuficiência financeira” (caso de hipossuficiência)

b. Modelo para usar no corpo do mérito:


“Analisando os autos nota-se que foi concedida liberdade provisória ao
paciente, no dia 22 de julho de 2022 (fls. 10/11 – doc. único),
condicionada ao pagamento da fiança, arbitrada no valor de
R$1.212,00 (mil, duzentos e doze reais) (fls. 21/29 – doc. único). No
entanto, ainda sim, persistiu sua prisão, diante da impossibilidade de o
paciente despender a quantia estabelecida.
Prescreve o artigo 350 do Código de Processo Penal que, caso o
Magistrado verifique a impossibilidade de o agente prestar fiança,
poderá conceder-lhe liberdade provisória, sujeitando-o às obrigações
constantes nos artigos 327 e 328 do Código de Processo Penal.
E, no presente caso, verifico que se trata de agente hipossuficiente,
inclusive, assistido pela Defensoria Pública de Minas Gerais.
Diante disso, não possuindo o paciente condições de arcar com a
fiança imposta, a necessidade de sua dispensa é medida que se
impõe, nos termos do artigo 325, §1°, inciso I, e artigo 350, caput,
ambos do Código de Processo Penal.
Nesse sentido, destaco precedentes deste eg. Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS - ISENÇÃO DO PAGAMENTO DE


FIANÇA À QUAL CONDICIONADA A LIBERDADE
PROVISÓRIA - POSSIBILIDADE -
HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA COMPROVADA -
INTELIGÊNCIA DO ART. 350, DO CPP - ORDEM
CONCEDIDA.
Conforme inteligência do art. 350, do Código de
Processo Penal, se as condições financeiras do preso
forem desfavoráveis, poderá ser a ele concedida
liberdade provisória sem o pagamento da fiança,
desde que se sujeitando às condições dos arts. 327 e
328, do mesmo diploma legal, além de outras
medidas cautelares que se fizerem necessárias.
(TJMG - Habeas Corpus Criminal
1.0000.19.058035-7/000, Relator(a): Des.(a) Corrêa
Camargo, 4ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em
19/06/2019, publicação da súmula em 25/06/2019)

HABEAS CORPUS - TRÁFICO DE DROGAS


"PRIVILEGIADO" - ART. 33, §4º DA LEI 11.343/2006 -
LIBERDADE PROVISÓRIA CONDICIONADA AO
PAGAMENTO DE FIANÇA - PEDIDO DE ISENÇÃO -
FALTA DE CONDIÇÕES DE ARCAR COM O VALOR
ARBITRADO - INCIDÊNCIA DO ART. 350 DO CPP -
AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DA PRISÃO
PREVENTIVA - FIXAÇÃO DE MEDIDAS
CAUTELARES DIVERSAS - NECESSIDADE -
CONCEDIDO O HABEAS CORPUS.
- Verificada a impossibilidade do paciente em prestar
a fiança, torna-se necessário conceder a liberdade
provisória sem o seu pagamento, nos termos do artigo
350 do Código de Processo Penal, sobretudo quando
ausentes os requisitos autorizadores da prisão
preventiva. (TJMG - Habeas Corpus Criminal
1.0000.18.114782-8/000, Relator(a): Des.(a) Jaubert
Carneiro Jaques , 6ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento
em 04/12/2018, publicação da súmula em 14/12/2018)

Ante o exposto, ratifico a liminar deferida (fls. 42/44 – doc. único) para
CONCEDER PARCIALMENTE A ORDEM, a fim de isentar o paciente
do pagamento da fiança arbitrada, mantendo as condições fixadas
quando do deferimento da medida liminar.
Não há necessidade da expedição do alvará de soltura, pois o
paciente já foi solto por ocasião da apreciação da medida de urgência.
Oficie-se, o Juízo a quo certificando-se nos autos.
Sem custas”

6. Desproporcionalidade: dentro dessa tese é alegado pelo impetrante que a


prisão no qual o increpado (paciente) se encontra não é proporcional à pena
prevista para o delito em questão. Existem casos também em que alegam
que a prisão do paciente é desproporcional ao regime aplicado na sentença.
Sempre que a petição inicial fala sobre “medida mais gravosa”,
“desproporcional”, “respeito ao princípio da proporcionalidade", entre
outros, é essa tese que estará sendo defendida pelos advogados.
a. Modelo para liminar ou para relatório do mérito:
“Assevera que a prisão preventiva constitui medida mais gravosa que
a própria pena a ser aplicada ao final do processo, em caso de
condenação”

b. Modelo para corpo do mérito:


“Por fim, quanto à alegação de que a prisão do increpado se revela
desproporcional, entendo que não merece prosperar, porquanto exige
exame aprofundado da prova e deverá ser objeto de análise quando
do julgamento da ação penal, não se prestando o habeas corpus à
ampla dilação probatória”

ou

“Quanto à tese de que a prisão preventiva é medida desproporcional,


haja vista que sobrevindo eventual sentença condenatória, o acusado
poderá cumprir sua reprimenda em regime mais brando que o
fechado, entendo que esta também não merece prosperar.
Isso porque a análise de fixação da pena, do regime de cumprimento e
da concessão de eventuais benefícios não é cabível em sede de
habeas corpus, por demandar análise de provas e de circunstâncias
que somente após o encerramento da instrução criminal poderão ser
aferidas.
Neste sentido, é a jurisprudência deste Tribunal:

EMENTA: HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE


DROGAS. PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA
EM PREVENTIVA. REVOGAÇÃO. INVIABILIDADE.
PRESENÇA DOS REQUISITOS DO ARTIGO 312 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. DECISÃO
FUNDAMENTADA NA GARANTIA DA ORDEM
PÚBLICA. GRAVIDADE CONCRETA. SIGNIFICATIVA
QUANTIDADE E DIVERSIDADE DE
ENTORPECENTES. CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICAS
QUE EVIDENCIAM PERICULOSIDADE SOCIAL.
ILEGALIDADE NÃO CONFIGURADA. ORDEM
DENEGADA.

- A decisão que converte a prisão em flagrante em


preventiva está satisfatoriamente justificada quando
amparada em dados concretos que evidenciam o risco
real que a liberdade do paciente representa à ordem
pública (Inteligência do artigo 312 do CPP).

- A existência de condições pessoais favoráveis não


garante, por si só, direito subjetivo à liberdade, máxime
quando atendidos os requisitos e pressupostos
autorizadores da medida constritiva.

- Não há que se falar em violação do princípio da


proporcionalidade entre a prisão cautelar e as
possíveis condições de cumprimento de eventual
sanção, a serem definidas pelo juízo de origem,
mormente quando presentes outros elementos aptos a
justificar a manutenção da medida. (TJMG - Habeas
Corpus Criminal 1.0000.18.104696-2/000, Relator(a):
Des.(a) Renato Martins Jacob , 2ª CÂMARA
CRIMINAL, julgamento em 11/10/2018, publicação da
súmula em 22/10/2018).

7. Excesso de prazo: é a tese que vai abordar a ideia de que a prisão do


paciente excedeu o prazo legal para sua manutenção. Na maioria dos casos,
vai aparecer acompanhada do número de dias que o increpado (paciente)
está preso. Existem dois tipos de excesso de prazo: o excesso de
duração do inquérito e o excesso de prazo para a finalização da ação
penal. Para cada uma dessas hipóteses haverá um modelo diferente.
a. Modelo de liminar ou relatório de mérito (excesso de prazo
referente ao inquérito policial):
“Aduz a impetrante, inicialmente, que o paciente está sofrendo
constrangimento ilegal por excesso de prazo, tendo em vista que se
encontra acautelado há 18 (dezoito) dias e, até a presente data, não
houve conclusão do inquérito policial”

b. Modelo de corpo do mérito (excesso de prazo referente ao


inquérito policial):
“Inicialmente, registro que a conclusão da ocorrência de excesso de
prazo não pode ser resultante de simples somatória dos lapsos para a
realização de todos os atos previstos na lei, devendo a contagem ser
analisada de forma global.
No mesmo sentido é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:
"Por outro lado, quanto ao apontado excesso de prazo
na formação da culpa, ressalta-se que os prazos
processuais não possuem características de fatalidade
e de improrrogabilidade, não se ponderando mera
soma aritmética de tempo para os atos processuais. A
propósito, esta Corte Superior firmou jurisprudência no
sentido de se considerar o juízo de razoabilidade para
eventual constatação de constrangimento ilegal ao
direito de locomoção decorrente de excesso de prazo."
(HC 459.411/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
QUINTA TURMA, julgado em 20/09/2018, DJe
28/09/2018)
Isto posto, considero infundada a alegação quanto ao excesso de
prazo para conclusão do inquérito policial, haja vista que analisando as
informações prestadas pelo Juízo a quo (fl. 62- doc. único) e os
documentos juntados nos autos, é possível inferir que as investigações
não foram finalizadas pois ainda estão sendo colhidas provas acerca
do suposto ilícito, em especial, a quebra de sigilo dos celulares
apreendidos”

c. Modelo de liminar ou relatório de mérito (excesso de prazo


referente à ação penal/instrução criminal):
“Sustenta a impetrante, inicialmente, que o paciente está sofrendo
constrangimento ilegal por excesso de prazo, tendo em vista que se
encontra acautelado há mais de 07 (sete) meses e, até a presente
data, a instrução criminal não foi concluída”

d. Modelo do corpo do mérito (excesso de prazo referente à ação


penal):
“Inicialmente, quanto ao alegado excesso de prazo, registro que a sua
configuração não pode ser constatada pela simples somatória dos
lapsos temporais para a realização de todos os atos processuais
previstos na lei, devendo a contagem ser analisada de forma global.
Ademais, entendo que os prazos para a conclusão de cada ato isolado
servem apenas como parâmetro geral e não um período imutável,
sendo certo que eventual atraso no encerramento da instrução
processual – conforme orientação jurisprudencial dominante – não
constitui constrangimento ilegal, devendo ser aplicado o princípio da
razoabilidade.
Nesse sentido é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:
"Por outro lado, quanto ao apontado excesso de prazo
na formação da culpa, ressalta-se que os prazos
processuais não possuem características de fatalidade
e de improrrogabilidade, não se ponderando mera
soma aritmética de tempo para os atos processuais. A
propósito, esta Corte Superior firmou jurisprudência no
sentido de se considerar o juízo de razoabilidade para
eventual constatação de constrangimento ilegal ao
direito de locomoção decorrente de excesso de prazo."
(HC 459.411/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
QUINTA TURMA, julgado em 20/09/2018, DJe
28/09/2018)

No presente caso, verifica-se que o paciente foi preso no dia 01 de


maio de 2022 e, conforme informações prestadas pelo Juízo a quo às
fls. 69/70 (doc. único) e de acordo os documento de fls. 01/02 (doc.
único), no dia 11 de outubro de 2022, foi realizada a audiência de
instrução e julgamento, sendo constatado o fim da instrução criminal.
Neste contexto, conforme entendimento pacificado através da Súmula
n.º 52 do Superior Tribunal de Justiça, encerrada a instrução criminal,
fica superada a alegação de excesso de prazo na formação da culpa.
A propósito, este E. Tribunal de Justiça já se manifestou de forma
reiterada:
EMENTA: HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO
PELO EMPREGO DE ARMA DE FOGO. EXCESSO
DE PRAZO. INOCORRÊNCIA. INSTRUÇÃO
CRIMINAL ENCERRADA. PLURALIDADE DE
ACUSADOS. ADVOGADOS DISTINTOS. ORDEM
DENEGADA.
- "Encerrada a instrução criminal, fica superada a
alegação de constrangimento ilegal por excesso de
prazo" (súmula nº 52, STJ).
- As especificidades do feito, como a pluralidade de
acusados e a existência de defensores distintos para
cada, bem como a requisição de diligências, justificam
eventual demora para a conclusão definitiva do feito.
(TJMG - Habeas Corpus Criminal
1.0000.22.232223-2/000, Relator(a): Des.(a) Âmalin
Aziz Sant'Ana , 8ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento
em 10/11/2022, publicação da súmula em 11/11/2022)

EMENTA: HABEAS CORPUS - TRÁFICO DE


DROGAS - NEGATIVA DE AUTORIA - MATÉRIA QUE
DEPENDE DA ANÁLISE APROFUNDADA DA PROVA,
INCABÍVEL NA VIA ESTREITA DO HABEAS CORPUS
- EXCESSO DE PRAZO - INOCORRÊNCIA -
INSTRUÇÃO FINDA - FEITO EM FASE DE
APRESENTAÇÃO DE ALEGAÇÕES FINAIS PELA
DEFESA DE CORRÉU - SÚMULA 17 DO TJMG -
PRISÃO PREVENTIVA FUNDAMENTADA -
PRESENÇA DOS REQUISITOS PREVISTOS NO
ARTIGO 312 DO CPP - APREENSÃO DE GRANDE
QUANTIDADE DE DROGAS - GARANTIA DA ORDEM
PÚBLICA - NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO DO
AGENTE NO CÁRCERE - RECEBIMENTO DA
DENÚNCIA - FUNDAMENTAÇÃO -
PRESCINDIBILIDADE DE MOTIVAÇÃO COMPLEXA -
NULIDADE DO FEITO AFASTADA -
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONSTATADO -
ORDEM DENEGADA. A estreita via do habeas corpus
não comporta o exame de questões que demandam
profunda análise do conjunto fático-probatório,
devendo ser reservadas ao processo-crime, após a
devida instrução. Encerrada a instrução processual fica
afastada a hipótese de constrangimento ilegal por
excesso de prazo para a formação de culpa, consoante
entendimento sedimentado pela Súmula nº 17 do
TJMG (Súmula 52 STJ). Estando devidamente
fundamentada a decisão que determinou a prisão
preventiva, inclusive em razão da grande quantidade
de drogas, está demonstrada a necessidade de
garantia da ordem pública, de modo que a segregação
cautelar se impõe. É pacífico que o despacho de
recebimento da denúncia dispensa fundamentação
mais complexa, tendo em vista a sua natureza
interlocutória. (TJMG - Habeas Corpus Criminal
1.0000.19.133005-9/000, Relator(a): Des.(a) Doorgal
Borges de Andrada , 4ª CÂMARA CRIMINAL,
julgamento em 06/11/2019, publicação da súmula em
07/11/2019)

Dessa forma, não há que se falar, por ora, em constrangimento ilegal.

8. Ilegalidade do flagrante: esse tipo de tese vai se referir aos casos em que
há uma suposta ilegalidade no decorrer da prisão em flagrante. São várias as
hipóteses de ilegalidade que podem ter ocorrido, exemplos: agressão policial,
violação de domicílio; busca pessoal ilegal, etc. Portanto, dependendo da
ilegalidade que for alegada sobre o flagrante, o modelo poderá se alterar um
pouco. Essa tese acaba sendo, no meu ponto de vista, muito caso a caso.
Entretanto, mesmo que o modelo se altere um pouco na estrutura, o
entendimento é praticamente o mesmo para todas as hipóteses, aqui o
entendimento é de que se houve a conversão da prisão em flagrante
para a prisão preventiva, todas as eventuais ilegalidades dos flagrantes
ficam superadas.
a. Modelo para liminar ou relatório do mérito (negado o direito ao
silêncio):
“Inicialmente, sustenta a impetrante a ocorrência de ilegalidade da
prisão, haja vista que não foi garantido ao paciente o direito de ficar
em silêncio, tampouco foi assegurada a assistência familiar e do seu
advogado”
b. Modelo para corpo do mérito (negado o direito ao silêncio):
“No que se refere à alegação de ilegalidade da prisão em flagrante do
paciente devido a inobservância do direito ao silêncio e da ausência da
assistência do advogado, verifico que razão não assiste à Defesa.
Isso porque, a prisão em flagrante do paciente foi convertida em
preventiva, sendo dominante na jurisprudência o entendimento de que,
uma vez decretada a custódia preventiva, eventual vício no flagrante
resta superado, porquanto o paciente encontra-se, agora, segregado
por força de outro título judicial, o qual possui requisitos diversos.
Destaco precedentes deste Egrégio Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS - TRÁFICO DE DROGAS -


ILEGALIDADE DO FLAGRANTE - PRISÃO POR
NOVO TÍTULO - TESE SUPERADA - NEGATIVA DE
AUTORIA - VIA IMPRÓPRIA - PRISÃO PREVENTIVA -
DECISÃO FUNDAMENTADA - GARANTIA DA
ORDEM PÚBLICA - CONTUMÁCIA DELITIVA -
APLICAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS
DA PRISÃO - INVIABILIDADE - PRINCÍPIO DA
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA OBSERVADO -
CONDIÇÕES SUBJETIVAS FAVORÁVEIS -
IRRELEVÂNCIA - CONSTRANGIMENTO ILEGAL
NÃO CARACTERIZADO. - Convertida a prisão em
flagrante, em prisão preventiva, restam superadas
as alegações de ilegalidade referentes àquela, vez
que presentes os requisitos autorizadores da
cautelar. (...) (TJMG - Habeas Corpus Criminal
1.0000.19.055702-5/000, Relator (a): Des.(a) Cássio
Salomé , 7ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em
03/07/2019, publicação da súmula em 03/07/2019)” –
destaquei.

9. Medidas cautelares diversas da prisão (art. 319 do CPP): essa não tem
muito segredo, aparece com bastante frequência e é tranquila. Sempre que o
advogado citar “medidas cautelares suficientes para o caso” ou “respeito ao
art. 319 do CPP” ou algo do tipo, ele vai estar defendendo essa tese. Nos
casos em que for concedido o HC normalmente vai ser aplicada algumas
dessas medidas, mas quais delas vão ser aplicadas acaba variando para
cada gabinete e de acordo com as particularidades do caso. Já nos casos em
que for denegado o HC essa tese vai ser sempre afastada.
a. Modelo para liminar ou para relatório do mérito (denegando):
“Por fim, informa que o paciente possui condições pessoais favoráveis
para responder ao processo em liberdade ainda que mediante a
aplicação das medidas cautelares previstas no artigo 319 do
Código de Processo Penal” (modelo de condições pessoais
favoráveis e 319 juntos)

b. Modelo para corpo do mérito (denegando):


“Por fim, cumpre salientar que as medidas cautelares previstas no
artigo 319 do Código de Processo Penal não são adequadas para o
caso em análise, tendo em vista a gravidade concreta e real do delito
supostamente praticado”.

10. Mãe de menor - pede prisão domiciliar: a tese de que a paciente é mãe de
criança menor de 12 anos e a única responsável pelo seu sustento,
normalmente, vem acompanhada de um pedido de prisão domiciliar ou
liberdade provisória. Essa tese vem sendo arguida baseada em um HC
coletivo concedido pelo STF. O entendimento daqui é que a mera alegação
de ser mãe de menor não é suficiente para conceder a prisão domiciliar,
é necessário que o impetrante junte aos autos provas que sustentem
essa alegação. O modelo do corpo do mérito explica bem o nosso
entendimento e a decisão do STF.
a. Modelo para liminar ou para relatório do mérito:
“Alega que a paciente faz jus à concessão da liberdade provisória,
tendo em vista que é mãe de 02 (duas) crianças menores de 12 (doze)
anos, sendo a responsável pelo sustento e cuidado de seus filhos”

b. Modelo para corpo do mérito:


“Quanto à concessão da prisão domiciliar à paciente, imperioso
salientar que o rol de possibilidades para a concessão do benefício da
substituição da prisão preventiva pela domiciliar foi ampliado pela Lei
nº 13.257/16, conhecida como Marco Legal da Primeira Infância, que
alterou os termos do artigo 318 do Código de Processo Penal e
acrescentou no dispositivo legal os incisos V e VI, in verbis:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva
pela domiciliar quando o agente for:
I-Maior de 80 (oitenta) anos;
II-extremamente debilitado por motivo de doença
grave;
III-imprescindível aos cuidados especiais de pessoa
menor de 06 (seis) anos de idade ou com deficiência;
IV-gestante;
V-mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos; (grifei)
VI-homem, caso seja o único responsável pelos
cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idades
incompletos. (grifei)
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá
prova idônea dos requisitos estabelecidos neste artigo.
A propósito, em sessão plenária realizada no dia 20 de fevereiro de
2018, o Supremo Tribunal Federal julgou o Habeas Corpus Coletivo de
nº 143.641, oportunidade em que o Ilustre Ministro Ricardo
Lewandowski, salientou que há "uma deficiência de caráter estrutural
no sistema prisional", de modo que as mulheres que estão recolhidas
nos presídios estão efetivamente sujeitas a situações degradantes.
Ademais, ressaltou que existe previsão sobre a substituição da prisão
preventiva pela domiciliar no artigo 318 do Código de Processo Penal,
no entanto, para evitar "a arbitrariedade judicial quanto à sistemática
supressão de direitos", a melhor saída seria estabelecer parâmetros a
serem observados pelos Magistrados ao se depararem com a
possibilidade de deferimento do benefício.
Dessa forma, o Ilustre Relator concedeu a ordem ao Habeas Corpus
Coletivo "para determinar a substituição da prisão preventiva pela
domiciliar - sem prejuízo da aplicação concomitante das medidas
alternativas previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal - de
todas as mulheres presas, gestantes, puérperas ou mães de crianças
e deficientes, nos termos do art. 2° do ECA e da Convenção sobre
Direito das Pessoas com Deficiências (Decreto Legislativo 186/2008 e
Lei 13.146/2015), relacionadas neste processo pelo DEPEN e outras
autoridades estaduais, enquanto perdurar tal condição, excetuados os
casos de crimes praticados por elas mediante violência ou grave
ameaça, contra seus descendentes ou, ainda, em situações
excepcionalíssimas, as quais deverão ser devidamente
fundamentadas pelos juízes que denegarem o benefício".
Após a decisão exarada pela Corte Constitucional, o Legislador
ordinário ainda promoveu alteração no Código de Processo Penal, por
meio da Lei 13.769/18, oportunidade em que, acrescentando os
artigos 318-A e 318-B, positivou no ordenamento as diretrizes daquele
julgado, possibilitando a substituição da prisão preventiva pela
domiciliar às mulheres nas condições especificadas por aqueles
dispositivos, confira-se:
"Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher
gestante ou que for mãe ou responsável por crianças
ou pessoas com deficiência será substituída por prisão
domiciliar, desde que:
I- não tenha cometido crime com violência ou grave
ameaça a pessoa;
II- não tenha cometido o crime contra seu filho ou
dependente".
"Art. 318-B. A substituição de que tratam os arts. 318 e
318-A poderá ser efetuada sem prejuízo da aplicação
concomitante das medidas alternativas previstas no
art. 319 deste Código".
Destarte, não se pode desconsiderar a gravidade do crime e a
exorbitante quantidade de drogas apreendidas no flagrante. Além
disso, não há evidências de que a suspeita, de fato, seja indispensável
aos cuidados dos filhos, sendo alegada apenas a sua condição de
genitora sem comprovar de que seria ela a única responsável capaz
de cuidar das crianças. A propósito, friso que a própria gravidade
abstrata do delito em tese perpetrado e a suposta reiteração criminosa
também colocam em risco a integridade dos filhos da paciente.
Isto posto, com base nos documentos apresentados neste feito, não
há que se falar em substituição da prisão preventiva pela domiciliar à
autuada, uma vez que a situação delineada nos autos claramente se
emoldura em uma das situações excepcionalíssimas”.

11. Doença grave: ocorre essa tese quando o impetrante afirma que o paciente
possui alguma doença grave que necessita de algum cuidado especializado,
fator que inviabiliza a sua permanência no presídio. O impetrante deve
comprovar que aquela doença realmente é grave e não pode ser tratada no
presídio. Sendo assim, laudos médicos devem ser juntados aos autos. Em
alguns casos, é possível até consultar o diretor do presídio para que ele
possa informar se o presídio tem condições de realizar o tratamento.
a. Modelo de liminar ou relatório de mérito:
“Alega que o increpado se encontra internado aguardando cirurgia e
que após a realização desta necessitará de atendimento
especializado, não sendo o presídio, portanto, local adequado para
sua recuperação”.

b. Modelo para corpo do mérito:


“Lado outro, alega o impetrante que o paciente possui necessidade de
atenção médica hospitalar para procedimento cirúrgico e
medicamentoso, razão pela qual requer a aplicação de medidas
cautelares diversas da prisão, consistentes no tratamento de saúde
em local adequado ou ainda a concessão de prisão domiciliar.
Infere-se dos autos que o impetrante formulou pedido de substituição
da custódia preventiva por medidas cautelares diversas da prisão,
alegando que o paciente necessita de dar continuidade aos
tratamentos médicos e que as condições do presídio não são
adequadas para a recuperação do inculpado. No entanto, a MM. Juíza
a quo indeferiu tal pleito, ao argumento de que “não há qualquer
comprovação que o atendimento médico necessário não esteja sendo
prestado” (fl. 89).
E de fato, compulsando aos autos, verifica-se que o impetrante não
juntou aos autos documentos que demonstram que o paciente esteja
extremamente debilitado de modo a impossibilitar a sua manutenção
em cárcere, ou até mesmo, comprovar que o estabelecimento prisional
não possui meios de fornecer o tratamento adequado ao paciente.
Nota-se que a Magistrada de origem, ao prestar as informações
oficiais declarou que “o paciente já passou por procedimento cirúrgico
e não há informações de que a unidade prisional onde ele encontra-se
recolhido não possua as condições básicas necessárias para o seu
acompanhamento clínico.” (fl. 140 – doc. único).
Destarte, não restou demonstrada a necessidade de substituição da
custódia preventiva pela prisão domiciliar ou a aplicação de outras
medidas cautelares, bem como inexiste provas de que o paciente não
está recebendo cuidados médicos adequados no estabelecimento
prisional”

12. Trancamento da ação penal ou trancamento do Inquérito Policial: este


tipo de pedido se baseia na solicitação de trancar/encerrar o Inquérito Policial
ou a ação penal, em razão de alguma nulidade que foi cometida em uma
dessas fases. Para cada uma dessas duas hipóteses haverá um modelo
diferente. Uma peculiaridade dessa tese é que ela deve ser suscitada ao
Juiz de Primeira Instância antes de ser arguida aqui na Segunda Instância.
Se fizerem o pedido de trancamento antes de fazê-lo na Primeira Instância, o
pedido não poderá ser analisado por nós, pois haverá uma supressão de
instância.
a. Modelo para liminar ou relatório do mérito (trancamento do IP -
supressão de instância):
“Salienta a atipicidade da conduta, eis que o transporte da arma se
deu em razão do deslocando para treinamento em clube de tiro e a
legislação vigente permite que os CACs realizem o transporte de arma
para esse fim”

b. Modelo para corpo do mérito (trancamento do IP - supressão de


instância):
“Compulsando os autos e em análise ao andamento processual
disponível no site deste egrégio Tribunal de Justiça, verifico que o
presente feito encontra-se na fase das investigações, neste caso, a
suposta autoridade coatora seria o Delegado de Polícia, cabendo a
apreciação do alegado constrangimento ilegal pelo Juízo da Comarca
de Espera Feliz, autoridade judicial hierarquicamente superior àquela
que estaria a praticar o suposto ato coator.
Analisando os documentos acostados aos autos, verifico que não há
qualquer comprovação de que o pleito de trancamento do Inquérito
Policial tenha sido submetido diretamente ao Juízo a quo, deste modo,
qualquer manifestação deste Tribunal antes da análise do pedido em
primeira instância representaria verdadeira e indevida supressão de
instância.
Nesse sentido, já decidiu este egrégio Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS - TRANCAMENTO DO


INQUÉRITO POLICIAL - PEDIDO NÃO SUBMETIDO
AO JUÍZO PRIMEVO - IMPOSSIBILIDADE DE EXAME
DE FORMA ORIGINÁRIA - SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA - NÃO CONHECIMENTO. É necessário
que o magistrado primevo seja provocado a enfrentar
previamente o pedido de trancamento do inquérito
policial, tratando-se de requisito indispensável à
discussão da matéria por meio de Habeas Corpus, sob
pena de se incorrer em indevida supressão de
instância. (TJMG - Habeas Corpus Criminal
1.0000.22.142249-6/000, Relator(a): Des.(a) Anacleto
Rodrigues, 8ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em
14/07/2022, publicação da súmula em 15/07/2022)

HABEAS CORPUS - PORTE ILEGAL DE ARMA DE


FOGO DE USO PERMITIDO - TRANCAMENTO DO
INQUÉRITO POLICIAL - SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA - RESTITUIÇÃO DE BEM APREENDIDO -
SUCEDÂNEO RECURSAL - NÃO CONHECIMENTO
DA IMPETRAÇÃO. - O pedido de trancamento do
Inquérito Policial deve ser submetido
originariamente ao d. Juízo de Primeiro Grau, sob
pena de supressão de instância, haja vista figurar o
ilustre Delegado de Polícia como Autoridade
Coatora. - O Habeas Corpus não se mostra como via
adequada para análise da possibilidade de restituição
de bem apreendido. O writ é instituto com assento
constitucional que se destina à defesa da liberdade de
ir e vir, e não à universalidade de substituto recursal.
(TJMG - Habeas Corpus Criminal
1.0000.22.164679-7/000, Relator(a): Des.(a) Cássio
Salomé , 7ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em
27/07/2022, publicação da súmula em 27/07/2022) –
destaquei.

Feitas essas considerações, NÃO CONHEÇO DO HABEAS


CORPUS”.

c. Modelo para liminar ou relatório do mérito (trancamento do IP):


“Sustenta o impetrante, em síntese, que inexiste justa causa que
sustente o prosseguimento da investigação policial e que tal medida
vem causando repercussões negativas para a imagem da imobiliária
de propriedade do paciente.
Aduz, ainda, que os fatos imputados ao paciente sequer constituem
delitos penais, alcançando, na pior das hipóteses, a esfera cível.
Diante disso, pugna pela concessão da ordem de habeas corpus, para
se determinar o arquivamento do inquérito policial movido em face do
paciente”

d. Modelo para corpo do mérito (trancamento do IP):


“De plano, registo que conforme entendimento doutrinário e
jurisprudencial, o trancamento do inquérito policial, em sede de habeas
corpus, é medida excepcional, somente sendo admitido quando restar
demonstrada a prima facie, sem necessidade de análise acurada das
provas, a atipicidade da conduta, a existência de causa de extinção da
punibilidade ou a ausência de justa causa (prova de materialidade e
indícios de autoria delitiva).
No presente caso, o paciente é investigado pela suposta prática do
delito de estelionato, eis que teria agido em conluio com os demais
investigados para vender um imóvel ao ofendido com a utilização de
documentos fraudulentos.
Eis o teor do histórico do Boletim de Ocorrência que culminou com as
investigações:
(...)
O impetrante alega que as condutas a ele imputadas não constituem
ilícitos penais, bem como aduz que a Autoridade policial, ao relatar o
Inquérito Policial, deixou de indicia-lo.
No entanto, analisando os autos, verifico que após o relatório
promovido pela Autoridade Policial, o il. Representante do Ministério
Público solicitou a realização de novas diligências para elucidação dos
fatos (fl. 250 – doc. único), motivo pelo qual entendo que a
abrangência da participação do acusado e natureza de suas ações
ainda está sob apuração, não estando demonstrada a prima facie à
atipicidade de sua conduta.
Ademais como bem ressaltou o Parquet “o Ministério Público, titular da
ação penal, não fica vinculado à conclusão da Autoridade Policial,
sendo possível que entenda pela existência de justa causa para a
deflagração da ação penal em face do requerente, ainda que não
tenha sido indiciado” (fls. 358/359 – doc. único).
Assim, o debate das teses levantadas pelo impetrante, que não pode
ser de plano comprovado, deve ser apreciado no decorrer da instrução
criminal. Conforme o entendimento deste egrégio Tribunal de Justiça:
“HABEAS CORPUS" - FURTO - TRANCAMENTO DO
INQUÉRITO POLICIAL - ATIPICIDADE - ANÁLISE
FÁTICO-PROBATÓRIA - IMPOSSIBILIDADE -
DECISÃO QUE DENEGOU A ORDEM -
FUNDAMENTADA - CONSTRANGIMENTO ILEGAL
NÃO VERIFICADO. O trancamento do inquérito policial
pela via do "habeas corpus" constitui medida
excepcional, que somente se justifica se demonstrada,
sumariamente, a atipicidade da conduta, a existência
de causas de extinção de punibilidade ou a ausência
de prova de materialidade ou de indícios mínimos de
autoria. (TJMG - Habeas Corpus Criminal
1.0000.22.174743-9/000, Relator(a): Des.(a) Franklin
Higino Caldeira Filho, 3ª CÂMARA CRIMINAL,
julgamento em 23/08/2022, publicação da súmula em
24/08/2022)

(...) TRANCAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL -


IMPOSSIBILIDADE - EXCESSO DE PRAZO PARA A
CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL -
INOCORRÊNCIA - CONTAGEM GLOBAL DOS
PRAZOS - RAZOABILIDADE - DESÍDIA DO JUÍZO A
QUO NÃO CONFIGURADA - AUSÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM DENEGADA.
1. O trancamento do Inquérito Policial ou da Ação
Penal somente é admissível em casos
excepcionalíssimos, se constatada, de plano, a
absoluta ausência de justa causa para o seu
prosseguimento, seja por atipicidade da conduta,
seja por ausência de indícios de autoria e prova da
materialidade, sem, contudo, ser necessário
adentrar na prova dos autos. 2. A contagem de
prazos deve ser realizada de forma global,
atendendo-se, sobretudo, ao critério de razoabilidade,
não resultando o excesso de prazo de mera soma
aritmética, sendo necessária, em certas circunstâncias,
uma maior dilação do prazo em virtude das
peculiaridades de cada caso concreto. 3. Inexiste
constrangimento ilegal quando o trâmite processual é
regular e a demora não é provocada pelo Juízo, não
havendo que se cogitar em relaxamento da prisão se o
Magistrado vem adotando as providências necessárias
para o regular andamento do processo. (TJMG -
Habeas Corpus Criminal 1.0000.22.144625-5/000,
Relator(a): Des.(a) Rubens Gabriel Soares , 6ª
CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 12/07/2022,
publicação da súmula em 13/07/2022) – destaquei.

De mais a mais, é cediço que a instauração e o trâmite de


investigações policiais, por si sós, não constituem constrangimento
ilegal, mormente considerando que não restou evidenciada a presença
dos requisitos necessários para o trancamento do inquérito policial.
Ante tais considerações, não vislumbrando a presença de
constrangimento ilegal imposto, conheço da pretensão e, no mérito,
DENEGO A ORDEM”

e. Modelo para liminar ou relatório do mérito (trancamento da ação


penal):
“Sustenta o impetrante, inicialmente, a inépcia da denúncia, ao
argumento de que o Ministério Público “deixou de descrever de forma
pormenorizada a conduta, de forma que prejudica o exercício do
contraditório e da ampla defesa”, bem como que os fatos narrados não
constituem o crime previsto no artigo 180, caput, do Código Penal.
Alega a nulidade do r. decisum que analisou o pedido de inépcia da
denúncia, por ausência de fundamentação.
Diante disso, requer a concessão do habeas corpus, em caráter
liminar, para determinar a suspensão do processo até o julgamento do
habeas corpus. No mérito, pugna pelo trancamento da ação penal”

f. Modelo para corpo do mérito (trancamento da ação penal):


“De plano, registo que conforme entendimento jurisprudencial e
doutrinário, o trancamento da ação penal, em sede de habeas corpus,
é medida excepcional, somente sendo admitido quando restar
demonstrada a prima facie, sem necessidade de análise acurada das
provas, a atipicidade da conduta, a existência de causa de extinção da
punibilidade ou a ausência de justa causa (prova de materialidade e
indícios de autoria delitiva).
Neste sentido já se posicionou este egrégio Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS. RÉU DENUNCIADO PELOS


CRIMES DE TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO
PARA O MESMO FIM E PORTE ILEGAL DE ARMA
DE FOGO COM NUMERAÇÃO RASPADA.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE
AUTORIA. NÃO COMPROVAÇÃO. AUSÊNCIA DE
JUSTA CAUSA. ANÁLISE DE QUESTÃO
PROBATÓRIA. MATÉRIA QUE FOGE AO EXAME DA
VIA ESTREITA DO HABEAS CORPUS. MANITENÇÃO
DA LIBERDADE DO AGENTE. MATÉRIA A SER
DISCUTIDA EM SEDE DE RECURSO EM SENTIDO
ESTRITO JÁ INTERPOSTO PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO. DENEGAÇÃO DA ORDEM.
-A concessão da ordem de habeas corpus para o
trancamento de ação penal é medida excepcional,
possível somente quando demonstrada, de plano, a
ausência de justa causa decorrente da atipicidade da
conduta, de alguma causa extintiva da punibilidade e
da ausência de indícios de autoria e de prova acerca
da materialidade delitiva.
-Sendo necessária dilação probatória para se proceder
a uma análise acerca da ausência de justa causa, não
é possível o trancamento da ação penal.
- Ordem denegada. (TJMG - Habeas Corpus Criminal
1.0000.18.013641-8/000, Relator(a): Des.(a) Doorgal
Borges de Andrada, 4ª CÂMARA CRIMINAL,
julgamento em 27/03/2018, publicação da súmula em
04/04/2018)

Nessa perspectiva explica Guilherme de Souza Nucci:


“O deferimento de habeas corpus para trancar ação
penal é medida excepcional. Somente deve o juiz ou
tribunal conceder a ordem quando manifestamente
indevido o ajuizamento da ação. A falta de tipicidade,
por exemplo, é motivo de trancamento.
(…) O recebimento de denúncia (ação pública
conduzida pelo Ministério Público) ou queixa (ação
privada ajuizada pela vítima) deve estar lastreado
pelas provas pré-constituídas, coletadas ao longo da
investigação, provocando-se, de antemão ao juiz,
haver justa causa para o seu ajuizamento. Cabe o
trancamento da ação, quando recebida a peça
acusatória, não existindo prova do delito ou fundada
suspeita de que o autor é o denunciado.
Além disso, pode-se trancar a ação penal, quando ficar
evidente, pelas provas colhidas durante a investigação,
inexistir fato ilícito (estiver presente causa excludente
de ilicitude) ou não culpável (presença de causa
excludente de culpabilidade)”. (Nucci. Guilherme de
Souza. Habeas Corpus, 3ª ed., Rio de Janeiro, 2019)

E, no presente caso, a denúncia contém todas as exigências e


requisitos previstos no artigo 41 do Código de Processo Penal,
porquanto expõe o fato, com todas as suas circunstâncias e
especificações, indicando o modus operandi empregado, indícios de
autoria e materialidade, bem como contém a qualificação do acusado,
a classificação do delito e apresenta rol de testemunhas.
Eis o teor fático da exordial acusatória (fls. 57/58 – doc. único):
(...)
Da mesma forma, analisando os autos, nada vislumbro que possa
justificar o pleiteado trancamento da ação penal, em relação ao delito
previsto no artigo 180 do Código Penal, devido à atipicidade da
conduta.
Isso porque, eventuais contradições entre os crimes supostamente
praticados pelo suspeito e os delitos descritos na denúncia ou mesmo
aplicação do princípio da consunção não se prestam a ser analisados
em sede de habeas corpus, porquanto pressupõe a valoração de
provas, o que é inviável nos estreitos limites do writ.
Assim, o debate acerca das referidas teses, que não podem ser de
plano comprovadas, devem ser apreciadas no decorrer da instrução
criminal Conforme o entendimento deste e. Tribunal de Justiça:
HABEAS CORPUS - HOMICÍDIO QUALIFICADO E
PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO
PERMITIDO - TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL -
DESCABIMENTO - AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA
NÃO EVIDENCIADA DE PLANO - APLICAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO - VIA IMPRÓPRIA -
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO VERIFICADO.
1- O trancamento de ação penal somente é cabível em
sede de habeas corpus quando, de modo flagrante,
ficar evidenciada a atipicidade da conduta, a extinção
da punibilidade ou a ausência de elementos indiciários
demonstrativos de autoria e prova da materialidade.
2- Não se tranca ação penal, se não se constata, de
imediato, ausência de justa causa para sua
propositura.
3- Matérias fático-probatórias não podem ser
analisadas na via estreita do habeas corpus.
4- Quanto à aplicação do princípio da consunção,
que ensejaria o trancamento parcial da ação penal,
para a devida análise da relação entre as duas
condutas, haveria a necessidade do revolvimento
do conjunto fático-probatório, o que é incabível na
estreita via do writ.
(TJMG - Habeas Corpus Criminal
1.0000.21.028369-3/000, Relator(a): Des.(a) Kárin
Emmerich , 1ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em
16/03/2021, publicação da súmula em 17/03/2021)
(grifei)

Ante tais considerações, não vislumbrando a presença de


constrangimento ilegal imposto, conheço da pretensão e, no mérito,
DENEGO A ORDEM”.

13. Segregação nula (art. 282, §6º, do CPP): essa tese surgiu depois das
modificações do Projeto Anticrime. Com as alterações do projeto, a nova
redação do artigo 282, §6º, do CPP prevê que o juiz deve fundamentar o
porquê não irá conceder as medidas cautelares diversas da prisão e que a
prisão preventiva só pode ser decretada quando não for cabível as medidas
do art. 319 do CPP. Observe que essa tese só será presente e deverá ser
rebatida se o impetrante mencionar que a segregação do paciente é nula por
não respeitar o artigo 282, §6º, do CPP ou porque de alguma forma esse
artigo foi desrespeitado. O artigo deve ser mencionado, mas a sua simples
menção não configura essa tese.
a. Modelo para liminar ou para relatório do mérito:
“Sustenta a impetrante, inicialmente, que a decisão que determinou a
segregação preventiva do increpado é inválida, ante a inobservância
do art. 282, § 6º, do Código de Processo Penal”

b. Modelo para o corpo do mérito:


“Inicialmente, analisando a alegação de que a segregação preventiva
do increpado é nula, registro que, em observância ao artigo 282, §6º,
do Código de Processo Penal, cumpre salientar que as medidas
cautelares, previstas no artigo 319 do mesmo diploma legal, não são
adequadas para o caso em análise, tendo em vista a concreta
gravidade do delito”

14. Cerceamento de defesa: a ideia dessa tese é argumentar que durante o


processo original o paciente não foi oportunizado a se manifestar sobre
alguma coisa, ocorrendo o cerceamento de defesa, violando os princípios do
contraditório e da ampla defesa. Assim como outras teses, essa tese deve
ser suscitada anteriormente na primeira instância, caso contrário, haverá
supressão de instância. Algo para se atentar nesses casos também é se a
análise da tese de cerceamento de defesa em questão não requer dilação
probatória (produção de provas). A dilação de provas é inconcebível nos
HC’s.
a. Modelo para liminar ou para relatório do mérito:
“Alegam cerceamento de defesa, eis que não teria sido disponibilizado
à defesa o acesso às gravações realizadas pelo celular de um Policial
Militar no momento do flagrante”.

b. Modelo para corpo do mérito:


“Isto porque, quanto a alegação de cerceamento de defesa, haja vista
que os Policiais Militares teriam gravado a prisão em flagrante do
paciente e não disponibilizado à Defesa a mídia da referida gravação,
registro que, da análise dos autos, não foi possível constatar se o
pedido foi formulado perante o Juízo.
Assim, entendo que qualquer manifestação deste Tribunal antes da
análise do pleito em primeira instância representaria verdadeira e
indevida supressão de instância, razão pela qual esta parte da
impetração não merece ser conhecida.
Nesse sentido este Egrégio Tribunal já decidiu:
HABEAS CORPUS - TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS -
SENTENÇA CONDENATÓRIA - INÍCIO DO
CUMPRIMENTO DA PENA EM REGIME
SEMIABERTO - RECORRER EM LIBERDADE -
PRESENÇA DOS ELEMENTOS ENSEJADORES DA
CUSTÓDIA CAUTELAR - DECISÃO DEVIDAMENTE
FUNDAMENTADA - PRISÃO DOMICILIAR - FILHOS
MENORES DE DOZE ANOS DEPENDENTES DA SUA
PRESENÇA - SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA - PEDIDO
NÃO APRECIADO PELO JUÍZO DE ORIGEM. Se o
MM. Juiz fundamenta a decisão com as suas razões de
decidir se sustentando em dados concretos dos autos
demonstrando a necessidade da segregação, não há
que se falar em constrangimento ilegal. Configura
supressão de instância a manifestação do Tribunal
sobre matéria ainda não apreciada pelo juízo de
origem. (TJMG - Habeas Corpus Criminal
1.0000.18.009398-1/000, Relator(a): Des.(a) Paulo
Cézar Dias, 3ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em
08/05/2018, publicação da súmula em 16/05/2018) –
destaquei.

Diante disso, não conheço desta parte da impetração”

Fim.

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