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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA

COMARCA DE xxx

Processo nº xxx
Ação Penal

xxx, brasileiro, solteiro, servente de pedreiro, portador da cédula


de identidade RG nº xxx e cadastro no CPF nº xxx, residente e domiciliado à Rua xxxx,
Extrema/MG, por sua procuradora que esta subscreve (doc. j. 01), vem respeitosamente
à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 5º, inciso LXVIII, da Constituição
Federal, e com base no art. 296-A do Código de Processo Penal, apresentar

RESPOSTA À ACUSAÇÃO

pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

DOS FATOS
O mérito da Denúncia trata-se de suposta prática do crime de
embriaguez ao volante, enquadrado no art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro.
Segue trecho da Denúncia: “...o Denunciado dirigiu veículo
automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da inflência de álcool”.
Apesar de não constar elementos que demonstrassem a
incapacidade psicomotora do denunciado, a denúncia foi recebida, o que deve ser
revisto, pelso fundamentos que passa a expor:

DA INÉPCIA DA INICIAL

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Independente do crime objeto da denúncia, não há que se falar
em denúncia genérica, sem que o crime tenha descrição clara e específica afim de
possibilitar ao Acusado um juízo completo de compreensão dos fatos delituosos
eventualmente praticados.
Trata-se de requisito fundamental para possibilitar a ampla
defesa, apresentando de maneira clara, sobre quais fatos o denunciado está sendo
acusado e qual o dispositivo legal suportamente infringido.
No entanto, pela redação da inicial, observa-se a apresentação de
uma denúncia genérica em que dispõe unicamente a ocorrência de “capacidade
psicomotora alterada em razão da inflência de álcool”.
Para tanto, faz-se necessário que a denúncia contenha
expressamente os elementos e provas que levaram à conclusão deste
comprometimento do denunciado, o que não se vislumbra no presente caso.
Assim, não se pode admitir que o simples argumento de que o
denunciado estava embriagado seja prova suficiente de que a sua capacidade
psicomotora tenha sido alterada.
Portanto, diante da ausência de elementos suficientes na inicial
para fins de indicar de forma clara os elementos típicos da previsão legal enquadrada,
tem-se por inepta a presente inicial.

DA AUSÊNCIA DE PROVAS
Conforme pode-se observar da Denúncia, a mesma foi embasada
unicamente pela alegação de que o denunciado estava embriagado, sem qualquer
prova robusta sobre o comprometimento da coordenação motora do condutor, nem
mesmo que a condução pudesse expor a coletividade a dano potencial a incolumidade
de terceiros, como transcende decisões sobre o tema:

APELAÇÃO CRIMINAL. RECURSO DEFENSIVO. EMBRIAGUEZ AO


VOLANTE. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO, POR AUSÊNCIA DE PROVA DA
MATERIALIDAE OU POR ATIPICIDADE DE CONDUTA. Prova dos autos
insuficiente a comprovar, estreme de dúvida, a alteração da capacidade
psicomotora do réu. Condições da abordagem não especificadas.
Observações do exame médico que não foram repetidas pelas testemunhas
ouvidas. Exame que não observa o regramento previso na Resolução
432/2013 do CONTRAN. Dúvida razoável quanto à ocorrência do delito

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que se resolve em favor do réu. Absolvição que se impõe. RECURSO
PROVIDO. (Apelação Crime nº 70066249812, Terceira Câmara Criminal,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: João Batista Marques Tovo, Julgado em
24/06/2016).

APELAÇÃO CRIMINAL. RECURSO DEFENSIVO. EMBRIAGUEZ AO


VOLANTE. ART. 306 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. PEDIDO
DE ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVA. Acusado que se
negou a prestar o exame de etilômetro. Prova testemunha insuficiente
para comprovar a alteração da capacidade psicomotora do acusado.
Testemunha que não viu o réu na condução do veículo, não havendo,
tampouco, comprovação da elementar do tipo penal. “Termo de
constatação de sinal de alteração da capacidade psicomotora” não
confirmado em juízo. Manifesta inconsistência e insuficiência de prova, que
se resolve pelo in dubio pro reo. RECURSO PROVIDO. (Apelação Crime nº
70063317580, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: João Batista Marques Tovo, Julgado em 24/08/2016).

Sendo assim, no caso em apreço, somente se tivesse havido


direção anormal, poderia se falar em ofensa a bem jurídico (segurança viária). Não
havendo essa ofensa, não há que se falar em crime e, por conseguinte, não há como o
Denunciado ser incurso no crime tipificado no art. 306 do CTB.
Verificada a ausência de elementos configuradores do tipo penal,
atípica se torna a conduta, e por consequência lógica deve ser reconhecido por esse
Juízo a absolvição do Denunciado.
Ocorre que no atual Estado Democrático de Direito, em especial
em nosso sistema processual acusatório, cabe ao Ministério Público comprovar a real
existência do ato delituoso, não baseando sua acusação apenas em uma constatação
incompleta.
No Direito Penal Brasileiro para que haja a condenação é
necessária a real comprovação da autoria e da materialidade do fato, caso contrário, o
fato deve ser resolvido em favor do acusado.
A condenação exige certeza absoluta, fundada em dados
objetivos indiscutíveis, o que não ocorre no caso em tela. Razão pela qual, mesmo com
o recebimento da denúncia, no que data máxima vênia, discorda-se, não há que imputar

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ao acusado a conduta denunciada, levando em consideração e devido respeito ao
princípio constitucional do in dubio pro reo.
Trata-se da devida materialização do princípio constitucional da
presunção de inocencia – art. 5º, inc. LVII da Constituição Federal, pela qual cabe ao
Estado acusador apresentar prova cabal a sustentar sua denúncia, impondo-se ao
magistrado fazer valer: allegare sine probare et non allegare paria sunt – alegar e não
provar é o mesmo que não alegar.
Não sendo o conjunto probatório suficiente para afastar toda e
qualquer dúvida quanto a responsabilidade criminal do acusado, imperativa a
absolvição. A prova da autoria deve ser objetiva e libre de dúvida, pois só a certeza
autoriza a condenação no juízo criminal. Não havendo provas suficientes, a absolvição
do réu deve prevalecer.

DA CONVERSÃO DA PENA DE DETENÇÃO EM RESTRIÇÃO DE DIREITOS OU


MULTA
Caso não se entenda pela absolvição imediata, considerando a
ausência de elementos suficientes a demonstrar a gravidade da conduta, requer de
imediato, nos termos do art. 44 do Código Penal a conversão da pena de detenção em
pena restritiva de direitos.
Esta possibilidade, com amparo legal, busca a efetiva punição de
acordo com a graduação proporcional e adequada dos meios de sanção ao fim
almejado.
Tem-se por necessária a avaliação dos antecedentes do
denunciado, as circunstâncias do delito, bem como a proporcionalidade da pena. Trata-
se de prática usual e cabível no presente caso:
APELAÇÃO CRIMINAL – RECURSO DEFENSIVO – EMBRIAGUEZ AO
VOLANTE (ART. 306, CTB) – PLEITO PARA REDUÇÃO DA PENA –
AFASTADAS AS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS MAL SOPESADAS
(CULPABILIDADE, ANTECEDENTES, PERSONALIDADE DO AGENTE,
MOTIVOS E CIRCUNSTÂNCIAS DO DELITO) – REDUÇÃO DA PENA DE
MULTA POR PROPORCIONALIDADE – PEDIDO DE SUBSTITUIÇÃO DA
PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVAS DE DIREITOS –
POSSIBILIDADE – ISENÇÃO DOS PAGAMENTOS DAS CUSTAS
PROCESSUAIS – DEVIDA – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I. (...)
Na aferição das circunstâncias judiciais descritas no art. 59, do CP, se os
elementos concretos relacionados à culpabilidade, aos antecedentes, à

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personalidade do agente, aos motivos e circunstâncias do delito tiveram
fundamentação genérica ou inerente ao próprio tipo penal, devem ser
extirpadas da dosimetria da pena-base tais moduladoras. III. Cabe a
conversão da pena corporal em restritivas de diretios, se preenchidos
requisitos objetivos e subjetivos para a substituição da pena privativa
de liberdade por restritivas de direitos, à luz do art. 44 do Código
Penal. IV. Se duratne o processo o Apelante foi assistido pela Defensoria
Pública Estadual, provada está sua hipossuficiência, logo, deve ficar isento
das custas e despesas processuais. Em parte contra o parecer, recurso
parcialmente provido. (TJ-MS – APL: 00069376220138120001 MS
0006937-62.2013.8.12.0001, Relator: Desª. Maria Isabel de Matos Rocha,
Data de Julgamento: 25/10/2016, 1ª Câmara Criminal, Data de Públicação:
27/10/2016) (grifo nosso)

CRIME DE TRÂNSITO. APELAÇÃO CRIMINAL. EMBRIAGUEZ AO


VOLANTE. AUTORIA E MATERIALIDADE. ÉDITO CONDENATÓRIO.
MANUTENÇÃO. DOSIMETRIA. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.
CONVERSÃO EM RESTRITIVA DE DIREITOS. 1) Considerando que as
provas dos autos são robustas, a condenação é de rigor. A materialidade do
delito encontra-se comprovada à f. 14 dos autos em apenso, consistente no
teste de alcoolemia no sopro resultando no valor de 0,54 mg/l de álcool por
litro de ar expelido dos pulmões, acima do limite de 0,3 previsto no art. 306
do Código de Trânsito Brasileiro. A autoria advém da confissão do réu, tanto
na fase inquisitorial quanto em Juízo, e demais provas dos autos, a exemplo
dos depoimentos de policiais. 2) No que concerne ao capítulo da dosimetria,
vê-se que a pena aplicada é suficiente para prevenção e repressão do delito
cometido. Na hipótese, fixada no mínimo legal cominado ao tipo. 3) Pena
privativa de liberdade convertida em restritiva de direitos, consistente
em prestação de serviço à comunidade. 4) Apelação desprovida (TJ-AP –
APL 0042772320138030001 AP, Relator Des. STELLA SIMONNE RAMOS,
Data de Julgamento: 30/08/2016, CÂMARA ÚNICA).

Assim, uma vez preenchidos requisitiso objetivos e subjetivos


para a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, à luz do art.
44 do Código Penal. IV, requer a imediata conversão.

DOS PEDIDOS

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Ante o exposto, requer a imediata aplicação do Artigo 397,
incisos I e II c/c Art. 386, incisos I, II e VI ambos do Código de Processo Penal, com o
fim de se ABSOLVER SUMARIAMENTE o acusado, haja vista existir circunstâncias que
excluem e isentam o crime bem como a pena a ser imposta, levando-se e em Estado de
Necessidade.
Concomitantemente, requer-se:

A) Seja reconhecida a imediata Absolvição Sumária do Acusado,


bem como, seja reconhecida a Inépcia da Denúncia, procedendo-se o seu
arquivamento, com base na ausência de provas da conduta típica do Acusado, e com a
consequente restituição do valor pago à título de fiança, no importe de R$ 1.500,00 (mil
e quinhentos reais), conforme autos em apenso nº xxxx;
B) No caso de não aceitação da Absolvição, requer seja aplicada
tão somente, a restritiva de direitos;
C) Por derradeiro, requer o deferimento da Justiça Gratuita.

Oportunamente, requer que todas as publicações, intimações e


notificações sejam procedidas exclusivamente em nome da advogada xxx, inscrita na
OAB/SP sob o número xxxx, sob pena de nulidade.

Termos em que, pede deferimento.

xxx, xx de xx de xx.

_________________________________
xxxxx
OABxxxx

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