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MM JUÍZO DA VARA CRIMINAL D ACOMARCA XX DO ESTADO DE XX

PROCESSO Nº xxxx

GUILHERME, brasileiro, estado civil, profissão, portador do RG de nº 00000-00e


do CPF de nº 000.000.000-00, com endereço na Endereço CEP - 00000-000, por
seu advogado que esta subscreve, na ação penal promovida pelo MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO , que imputa ao réu a suposta prática do
delito de homicídio simples, previsto no art. 121, § 1º, CP, vem à presença de
Vossa Excelência, apresentar tempestivamente, com fulcro nos artigos 396 caput
e 396-A do Código de Processo Penal, a presente RESPOSTA À ACUSAÇÃO nos
termos que em linhas se aduzem:

I – SINTESE DOS FATOS

O réu foi denunciado pela prática de crime de homicídio doloso simples. Consta dos
autos que no feriado de carnaval viajou com alguns amigos para acampar e após
uma partida de truco, desentendeu-se com Mariano. Os dois começaram a discutir,
sobrevindo empurrões e pontapés.
Após dois dias de internação na UTI, Mariano foi a óbito. O juiz recebeu a denúncia
e determinou a citação do réu para responder à acusação. Guilherme foi
regularmente citado e permaneceu inerte, tendo o magistrado nomeado defensor
dativo. Não foram arroladas testemunhas pela defesa, já que Guilherme, depois de
citado pessoalmente, fugiu para o Paraguai, permanecendo foragido todo o
processo. A acusação, ao oferecer denúncia, arrolou 5 testemunhas (todos amigos,
e que estavam no acampamento), que foram ouvidas na audiência de instrução. A
mãe de Mariano compareceu acompanhada por advogado, que formalizou pedido
de habilitação como assistente da acusação, deferido pelo juiz sem oposição do MP.
Encerrada a prova testemunhal e tendo em vista o fato de que Guilherme estava
foragido, o juiz concedeu prazo de 20 minutos para o MP manifestar-se em debates
e que postulou a prorrogação por mais dez, no que foi atendido. O assistente
habilitado falou na sequência, por dez minutos. O juiz negou pedido da defesa para
conversão dos debates em memoriais já que o motivo invocado pelo advogado não
encontrava amparo legal para ser deferido, e concedeu prazo de 20 minutos
prorrogáveis por outros dez, caso precisasse, a fim de que também se manifestasse
nos debates. O juiz pronunciou Guilherme, que por não ter sido encontrado, não foi
intimado. Na decisão, o juiz destacou além da existência da materialidade, todos os
elementos que já comprovavam a autoria do crime, reportando a gravidade da
conduta do acusado que não hesitou em agredir mortalmente um amigo, que não se
importava com a consequência de seus atos e não estava disposto a assumir suas
responsabilidades quando fugiu. Aduziu a brutalidade de seu comportamento, que
beirava uma ‘atuação animalesca contra sua presa’. Reforçou ainda a prova
produzida quanto ao dolo do agente, enfatizando os maus antecedentes do
acusado. Não houve recurso do MP.

II - DA INÉPCIA DA DENÚNCIA

O art. 41 do Código de Processo Penal traz as diretrizes básicas para a confecção


de uma peça acusatória formal: "A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato
criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou
esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e,
quando necessário, o rol das testemunhas".
A denúncia é uma exposição narrativa e demonstrativa. Narrativa, porque deve
revelar o fato com todas as suas circunstâncias, isto é, não só a ação transitiva,
como a pessoa que a praticou (quis), os meios que empregou (quibus auxiliis), o
malefício que produziu (quid), os motivos que o determinaram a isso (cur), a
maneira porque a praticou (quomodo ), o lugar onde a praticou (ubi), o tempo
(quando). Demonstrativa, porque deve descrever o corpo de delito, dar as razões
de convicção ou presunção e nomear, as testemunhas e informantes.
Quanto à descrição do fato criminoso, este é uma espécie de núcleo intangível da
peça acusatória, pois sequer o juiz pode modificá-lo, como ressaltado no art. 383,
caput, com a nova redação conferida pela Lei n. 11.719, de 20.06.2008, ao tratar
da emendatio libelli: "O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia
ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa".
A acusação irá determinar a amplitude e conteúdo da prestação jurisdicional,
motivo pelo qual o juiz criminal não pode decidir além e fora do pedido em que o
órgão da acusação deduz a pretensão punitiva ( quod non est in libello, non est in
mundo ). Os fatos descritos na denúncia ou queixa delimitam o campo de atuação
do poder jurisdicional (Mirabete, 2000, p. 164; Fragoso, 1982, p. 426). Mas por
outro lado também, o teor da acusação com a descrição precisa e determinada dos
fatos criminosos fornece ao acusado a possibilidade de manejar uma ampla
defesa, pois proporciona ao defensor a oportunidade de orientar o denunciado para
o interrogatório, na produção de provas e na condução estratégica de seu aparato
defensivo. A imputação regular garante, em suma, a paridade de armas no evoluir
do processo e evita que o acusado faça prova negativa sobre a prática do crime
(inversão inconstitucional do ônus da prova).
Assim, a exordial acusatória é manifestamente inepta, por não individualizar a
conduta do réu, bem como acrescentar fatos novos não evidenciados na fase
inquisitória, o que viola o direito de defesa. Dessa forma, pugna pela
reconsideração da decisão que recebeu a denúncia, devendo ser reconhecida a
causa de sua rejeição, prevista no art. 395, I do CPP.

III - DA AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA

A justa causa, que constitui condição da ação penal, é prevista de forma expressa
no Código de Processo Penal e consubstancia-se no lastro probatório mínimo e
firme, indicativo da autoria e da materialidade da infração penal.
A doutrina diverge quanto à natureza jurídica do que se compreende por justa
causa no processo penal, vale dizer, "o fato ou o conjunto de fatos que justificam
determinada situação jurídica, ora para excluir uma responsabilidade, ora para dar-
lhe certo efeito jurídico". Em um primeiro grupo estão os que a identificam: a) como
uma condição autônoma da ação; b) como uma síntese das condições da Ação
Penal; c) como uma das condições da ação (interesse de agir); ou, ainda, d) como
mais de uma condição da ação (interesse de agir e possibilidade jurídica do
pedido). Em um segundo grupo estão os que a classificam como uma condição de
procedibilidade, alheia ao injusto culpável e alusiva à admissibilidade da
persecução penal em relação a determinados comportamentos.
A jurisprudência densifica o conceito de justa causa quando procede a um exame
da acusação, já formalizada, sob dois pontos de vista distintos: um formal, a partir
da existência de elementos típicos (tipicidade objetiva e tipicidade subjetiva) e
outro material, com base na presença de elementos indiciários (autoria e
materialidade).
No caso em apreço, nos interessa a justa causa material, ou seja, prova da
materialidade e indícios suficientes de autoria.

IV - DA AUSÊNCIA DO FUMUS COMMISSI DELICTI

Em que pese, haver Exame de Corpo de Delito comprovando a morte da vítima em


decorrência de da briga, restam ausentes os indícios mínimos de autoria.
O indício é elemento de prova situado no passado e que, por si só, é, em regra,
débil para se concluir sobre o fato delituoso. Indício é prova semiplena, parcial ou
indireta que possibilita, por indução, chegar-se a uma conclusão sobre uma
infração penal. Para que se chegue à conclusão geral sobre o fato, o indício deve,
em regra, ser cotejado com outros indícios para que seja inferida aquela
interpretação sobre o fato, por intermédio de método precipuamente indutivo. Daí
que os indícios (a prova indiciária) devem ser plurais, haja vista que só muito
excepcionalmente um só indício será suficiente para justificar a atribuição de um
fato delituoso a alguém.

V – DO PEDIDO
Diante do exposto requer se digne Vossa Excelência:

a) Que seja concedida a sua liberdade provisória pelos fatos já expostos, com
aplicação de medidas cautelares diversas da prisão, em respeito à
proporcionalidade, razoabilidade e necessidade;
b) Que a presente demanda seja extinta de plano, diante da inépcia da exordial
acusatória e da ausência de justa causa para a ação penal, com fulcro no
art. 395, I e III do CPP;
c) Na eventualidade dos pedidos anteriores não serem acolhidos, o que não se
espera, requer a absolvição sumária do réu, nos termos do art. 415, II do CPP.
Protesta provar o alegado por todos meios de provas, documental, testemunha e
demais meios de prova em direito admitidos.
Termos em que, pede deferimento.

LOCAL, 20 de junho de 2023.


NOME
ADVOGADO - 00.000 OAB/UF

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