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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE.....

Excelentíssimo(a) Senhor(a) Doutor(a) Juiz(a) de Direito da ....ª Vara Criminal de......

Proc. n° XXXXXXXXXXXXX

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ, através do(a) Promotor(a) de


Justiça infra-assinado(a), nos autos da Ação penal pública que move contra UDELSON
LIVEIRA DA SILVA, processo acima identificado, condenado pela prática do crime de
roubo, tipificado no CP, art. 157, § 2º, I e II, vem à presença de Vossa Excelência apresentar,
em anexo, CONTRARRAZÕES ao RECURSO DE APELAÇÃO, requerendo a remessa dos
autos à Instância Superior, para os fins.

E. deferimento.

Teresina, de ................de 2016.


Promotor(a) de Justiça
CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO

Colenda Câmara,
Senhores Desembargadores,

I - DOS FATOS

O Apelante foi condenado pela prática do crime de roubo, majorado pelo uso de
arma e concurso de pessoas, conduta consumada no início da tarde de 13/fevereiro/2015, no
bairro Mocambinho, tendo por vítima Jullya Afra Ribeiro Miranda Cariolando, mas o coautor
fugiu e não foi identificado.

A instrução probatória mostrou que, naquela tarde, a vítima retornava do trabalho e


seguia para casa, mas foi interceptada pelo Apelante e terceira pessoa, que andavam em uma
mesma motocicleta. Sob ameaças, subtraíram-lhe a bolsa a tiracolo que carregava, nela
contendo documentos, dinheiro e pertences pessoais.

O fato foi noticiado à Polícia e o Acusado foi localizado a partir da placa da


motocicleta na qual andava, porquanto memorizada e anotada pela vítima, que entregou o
número à Polícia. Apenas o Apelante foi identificado, reconhecido pela
vítima e preso, realçando que não foram encontrados os bens subtraídos.

Diante da prova produzida, o Apelante foi condenado à pena privativa de liberdade,


fixada em 08 (oito) anos de reclusão, em regime inicialmente fechado.

Inconformado, o Apelante maneja o Recurso ora contrarrazoado, em cujas razões


pleiteia: 1) a fixação da pena base no patamar mínimo; e 2) a exclusão da pena de multa,
porque hipossuficiente e assistido pela Defensoria Pública.

II – DAS RAZÕES PARA CONFIRMAÇÃO DA DECISÃO CONDENATÓRIA

a) Da dosimetria da pena. Requisitos observados.

O Apelante não questiona a materialidade e a autoria do crime de roubo, insurgindo-


se, todavia, quanto à dosimetria da pena que lhe foi imposta, aduzindo que a pena base foi
fixada em patamar equivocado, porquanto fixada acima do mínimo legal sem esclarecimentos
suficientes justifica-la. Equivoca-se.

Com efeito, a pena-base foi fixada em 06 (seis) anos de reclusão, acima do mínimo
legal (04 anos), havendo acréscimo de metade da pena mínima, o que, por
certo, é perfeitamente possível, desde que a decisão seja fundamentada em circunstâncias
concretas que indiquem a necessidade da exasperação.

Na hipótese, ao exasperar a pena-base, a d. Juíza sentenciante considerou


os antecedentes, as circunstâncias e consequências do crime. Confira-se:

“(...)
Assim, passo a individualizar a pena, de acordo com o previsto nos arts. 59
e 68 do Código Penal.
1ª FASE:
a) Culpabilidade: normal à espécie, nada havendo a valorar, não tendo se
configurado exacerbação da intensidade do dolo ou outro elemento que possa
justificar uma maior censura ou repreensão;
b) Antecedentes: o denunciado possui duas condenações, uma perante a 1ª
Vara Criminal de Teresina e outro perante a 3ª Vara Criminal de Teresina,
ambas as co0ndenações cumpridas há mais de cinco anos, mostrando,
portanto, maus antecedentes do sentenciado.
c) Conduta Social: não há elementos nos autos nos quais possa ser aferida a
conduta social do réu;
d) Personalidade: não há elementos que possam informar a respeito da
personalidade do agente, não podendo esta omissão ser levada em conta em seu
desfavor;
e) Motivos do Crime: estão relacionados ao lucro fácil, consistente no intuito de
vender o bem adquirido com o crime;
f) Circunstâncias do Crime: se encontram relatadas nos autos, sendo
desfavoráveis, uma vez que se torna relevante o fato do crime ter sido
cometido com emprego de arma;
g) Consequências: os objetos subtraídos não foram recuperados, causando,
assim, prejuízo patrimonial à vítima. Não há provas da existência de sequelas
e traumas de ordem psíquica dele decorrente;
h) Comportamento da vítima: em nada contribuiu para a prática do delito.
É de saber geral que a existência de circunstâncias judiciais e consequências
desfavoráveis tem por resultado a aplicação da pena acima de seu mínimo
legal, o que significa afirmar que a pena somente deverá ser aplicada no
mínimo cominado pela lei quando nenhuma circunstância judicial ou
consequência for considerada negativa ao condenado (...)
In casu, e pela análise das circunstancias judiciais e consequências
desfavoráveis, justifica-se, portanto, a imposição da pena-base acima do
mínimo legal.
Assim, fixo-lhe a pena-base em 06 (seis) anos de reclusão.

2ª FASE: ATENUANTES E AGRAVANTES


Não verifico a existência de circunstâncias atenuantes ou agravantes.

3ª FASE: CAUSAS DE DIMINUIÇÃO E AUMENTO DA PENA


Não há causa de diminuição de pena.
Conforme reconhecido no corpo desta decisão, existem duas causas de
aumento de pena previstas nos incisos I e II do § 2º do art. 157 do CP, qual
seja emprego de arma e concurso de pessoas. Considerando que uma das
causas de aumento de pena (uso de arma) já foi valorada quando da análise
das circunstancias judiciais, para aplicação da pena base, AUMENTO da
pena aplicada relativa à outra causa de aumento (concurso de agentes), o
mínimo legal, 1/3(um terço), resultando em 08 (oito) anos de reclusão.
Assim, fixo a pena definitiva do réu UDELSON OLIVEIRA DA SILVA, em 08
(oito) anos de reclusão e 80 (oitenta) dias-multa, na razão unitária de 1/30 do valor
de um salário-mínimo vigente à época dos fatos, corrigida monetariamente,
observado o disposto no art. 60 do CP.
(...).” Negritei.

Notem que a d. Juíza de primeiro grau extraiu dos autos elementos concretos para
fixação da pena-base acima do mínimo legal, destacando que, em face da existência de duas
causas de aumento de pena, uma delas (uso de arma) foi valorada como circunstância judicial
da primeira fase, como, aliás, pacificado pelo C. STJ, invocando-se, no ponto, o seguinte
aresto:

“PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. OFENSA AO ART. 68 DO CP. ROUBO TRIPLAMENTE
CIRCUNSTANCIADO. DOSIMETRIA. TRÊS CAUSAS DE AUMENTO.
UTILIZAÇÃO DE DUAS COMO CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
DESFAVORÁVEIS E OUTRA COMO MAJORANTE. POSSIBILIDADE.
ACÓRDÃO EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA
CORTE. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.
1. ´Nos crimes com mais de uma causa de aumento de pena, uma delas pode
atuar como majorante da terceira fase da dosimetria e as demais como
agravantes genéricas, se previstas no artigo 61 e 62 do CP, ou como
circunstâncias judiciais da primeira fase, desde que observado o princípio do
ne bis in idem e o percentual legal máximo previsto pela incidência das causas
de aumento´. (HC 86.409/MS, Rel. Min. ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, DJe 23/10/2014). 2. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ,
6ª T, AgRg no
REsp 1549409/MS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
julgado em 06/10/2015, DJe 27/10/2015). Marcou-se.
Desta a dosimetria da pena atendeu às normas pertinentes, autorizando a
confirmação da r. sentença nesse ponto, porquanto condizente às diretrizes traçadas
no CP, art. 59 e 68.

b) Multa. Hipossuficiência. Exclusão. Impossibilidade.


Noutro ponto, o Apelante busca a exclusão da pena de multa, fazendo-o com
fundamento de ser hipossuficiente e assistido pela Defensoria Pública, o que,
entretanto, não autoriza o acolhimento dessa pretensão. A pena de multa foi fixada
em obediência aos parâmetros legais, guardando proporcionalidade à pena
privativa de liberdade.
De qualquer sorte, essa pena constitui parte integrante do tipo penal, que prevê sua
aplicação de forma cumulativa com a pena privativa de liberdade, sendo
indispensável seu arbitramento, de modo que a alegada hipossuficiência não
autoriza sua dispensa ou isenção.
Nesse sentido, veja-se:
“PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.
TRÁFICO DE DROGAS. TESES NÃO DEBATIDAS NA
INSTÂNCIA ORDINÁRIA. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO.
SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. CONFISSÃO E REINCIDÊNCIA.
COMPENSAÇÃO. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA DO ART. 33, § 4º, DA
LEI N. 11.343/2006 EM PATAMAR DIVERSO DO MÁXIMO.
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. ISENÇÃO DA PENA DE MULTA.
PACIENTES HIPOSSUFICIENTES. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL.
(...)

9. Este Superior Tribunal já firmou entendimento de que a alegação de


impossibilidade financeira não tem o condão de afastar a pena de multa, pois
trata-se de sanção de aplicação cogente e inexiste previsão legal que possibilite
a isenção do preceito secundário contido no tipo penal incriminador.
10. Habeas corpus não conhecido. Concedida a ordem, de ofício, para efetuar a
compensação da atenuante de confissão espontânea com a agravante da
reincidência, redimensionando a reprimenda do paciente.”
(STJ, 5ª T, HC 298.188/RS, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, julgado em
16/04/2015, DJe 28/04/2015)
“AGRAVO REGIMENTAL. PENAL. ROUBO. ATENUANTE DA
MENORIDADE. FIXAÇÃO DA SANÇÃO ABAIXO DO MÍNIMO LEGAL.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 231/STJ. PENA DE MULTA. ISENÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. 1. Não se mostra possível, em razão da incidência de
atenuante, operar redução que importe na fixação da pena abaixo do seu mínimo
legal.
2. ‘Inexiste previsão legal para a isenção da pena de multa, em razão da
situação econômica do réu, devendo esta servir, tão- somente de parâmetro
para a fixação de seu valor.’ (REsp nº 838.154/RS, Relator o Ministro Felix
Fischer, DJU de 18/12/2006).
3. Agravo regimental desprovido.” (STJ, 6ª T, AgRg no REsp 791.545/RS, Rel.
Ministro PAULO GALLOTTI, julgado em 12/06/2008, DJe 30/06/2008). E desse
E. TJPI: “PENAL. PROCESSO PENAL. ROUBO. VERSÃO DA VÍTIMA
CORRELATA COM AS PROVAS DOS AUTOS. DEPOIMENTO DOS
POLICIAIS. VALIDADE. QUALIFICADORA DO ART.157, § 2º, I
CONFIGURADA. PENA DE MULTA. APLICAÇÃO OBRIGATÓRIA.
RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.
(...)
5. A pena de multa, uma vez prevista no tipo penal, é de aplicação obrigatória,
não podendo ser excluída pela alegação de hipossuficiência do réu. 6. Recurso
conhecido e improvido.” (TJPI, 2ª CCr, ACr 201200010066542, Rel. Des.
Sebastião Ribeiro Martins, j. 27.11.2012). Negritei.

Inviável, pois, a isenção ou exclusão da pena de multa, realçando que a declaração de


hipossuficiência ou a defesa sob o patrocínio da Defensoria Pública não ostenta presunção
absoluta de veracidade e, portanto, não autoriza a exclusão da pena de multa, mormente
quando esta é prevista cumulativamente à pena privativa de liberdade, como na espécie.

Desta feita, igualmente nesse ponto, o recurso deve ser improvido.

III – DO PEDIDO

ISTO POSTO, o Órgão Ministerial espera e requer o improvimento do Recurso de


Apelação, confirmando-se a r. sentença condenatória.

E. deferimento.

Teresina, 11 de janeiro de 2016.


Promotor(a) de Justiça

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