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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE

DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

URGÊNCIA.
PACIENTE
PRESO

HABEAS CORPUS nº 666417/PA (2021/0146564-0)

Autoridade Coatora: Relator Presidente do Superior Tribunal


de Justiça
Causa de Pedir: Erro flagrante na dosimetria da pena (bis in
idem, valoração indevida das circunstâncias judiciais), flagrante
ilegalidade

GISELIA DOMINGAS RAMALHO GOMES, advogada regularmente


inscrita junto à OAB/PA sob o n.º 13576-A, com escritório
profissional situado na Avenida Presidente Vargas, nº 2637, sala
103, Centro, Castanhal/PA, ora IMPETRANTE, vem em favor de,
brasileiro, solteiro, portador do RG nº , residente na Rua Antonio
Horácio, nº 241, Santa Lidia, Castanhal/PA, ora PACIENTE, ora
custodiado na Cadeia Pública de Jovens e Adultos, com
fundamento nos artigos 647 e 648, I, do Código de Processo Penal
e artigo 5º, inciso LXVIII da Constituição da República, vem
respeitosamente a presença de Vossa Excelência
IMPETRAR o presente ordem de:
HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR

em face de ato praticado pelo SUPERIOR TRIBUNAL DE


JUSTIÇA, na pessoa do MM. Dr. Relator Presidente do Superior
Tribunal de Justiça, tendo em vista o FLAGRANTE ERRO e
ILEGALIDADE na dosimetria da pena do paciente na sentença
penal condenatória, pelos fatos e fundamentos abaixo aduzidos:

I - DOS FATOS E DO DIREITO

O paciente foi preso, processo e condenado pela


prática do crime de formação de quadrilha previsto no artigo 288 do
Código Penal, bem como, pela prática do crime de roubo majorado,
previsto no artigo 157, §2º, II do CPB, há uma pena total de 10
(dez) anos em regime fechado, pelo juiz da 1ª Vara Criminal da
Comarca de Castanhal.

Ocorre que na sentença penal condenatória a


autoridade coatora errou ao realizar a dosimetria da pena, em
especial no que se refere a análise das circunstancias judiciais,
bem como em relação ao quantum aplicado em relação ao crime
continuado.

Ao analisar as circunstâncias judicias o MM. Dr.


Juiz, ora autoridade coatora assim valorou:

Quanto a análise da culpabilidade e os


antecedentes valorou de forma neutra, ao afirmar que a
culpabilidade é a inerente ao tipo penal e os antecedentes afirmou
que perdeu a finalidade material, em respeito ao princípio do
presunção de inocência.
Quanto a conduta social também valorou de forma
neutra ao afirmar que não existem nos autos nada de
desabonador.

No entanto, o primeiro erro começa, quando a


Autoridade Coatora analisa a personalidade do acusado,
afirmando que o mesmo demonstrou, com a referida atitude,
tendente à prática criminosa.

Exas. O paciente é pessoa primária de bons


antecedentes criminais, nunca tendo sido preso ou
processado anteriormente como pode a Autoridade
Coatora avaliar sua personalidade como tendente a prática
criminosa? Qual é a prova material para chegar a tal conclusão?

Não existe nos autos nenhum elemento concreto


nos autos que possa sustentar a valoração negativa da
personalidade do paciente, sendo entendimento majoritário da
Jurisprudência, a necessidade de elemento concreto para tanto,
senão vejamos:

PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL.


ART. 157, CAPUT, DO CP. PENA APLICADA DE
ACORDO COM O ART. 68, DO CP. ANÁLISE DAS
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS PREVISTAS NO
ART. 59 DO CP. CONDUTA SOCIAL E
PERSONALIDADE DO AGENTE. NECESSIDADE
DE FUNDAMENTAÇÃO COM ELEMENTOS
CONCRETOS.
CONDENAÇÕES ANTERIORES
NÃO SE PRESTAM PARA VALORÁ-LAS.
ENTENDIMENTO EXARADO PELO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REGIME INICIAL DE
CUMPRIMENTO DE PENA. FECHADO. PENA
APLICADA EM PATAMAR SUPERIOR A
QUATRO ANOS. AGENTE REINCIDENTE.
ARTIGO 33, § 2º, ALÍNEAS A E B, DO
CÓDIGO PENAL. 1. O Superior Tribunal Justiça
apresenta entendimento de que condenações
anteriores não podem ser utilizadas para inferir a
conduta social e personalidade do agente,
conforme os seguintes precedentes: RHC
109.902/MG e HC 492.629/ES. 2. Deve permanecer
o regime inicial de cumprimento de pena no
fechado, em decorrência do patamar da pena
imposta, corroborado pela reincidência do apelante,
tudo em conformidade com a disposição legal do
artigo 33, § 2º, alíneas a e b, do Código Penal. 3.
Apelação criminal conhecida e parcialmente
provida, para tão somente reenquadrar os
fundamentos legais das circunstâncias judiciais,
previstas no art. 59, do Código Penal, sem contudo
alterar a pena definitiva fixada.

(TJ-AM - APR: 06614524420188040001 AM 0661452-


44.2018.8.04.0001, Relator: Carla Maria Santos dos
Reis, Data de Julgamento: 08/07/2019, Primeira
Câmara Criminal, Data de Publicação: 08/07/2019)

Quanto aos motivos do crime valorou


negativamente afirmando que são injustificáveis por ausência de
propulsão, todavia percebe-se que os motivos são inerentes ao
próprio tipo penal, não havendo elementos objetivos e concretos
que levem a uma valoração negativa.

Por último, quanto a valoração concomitante das


circunstancias e consequências do crime a Autoridade Coatora
valorou negativamente sob o seguinte argumento:

“(...) nelas se incluindo a atitude durante ou após a


conduta criminosa, indicam no presente caso a ocorrência de
confissão e o abalo moral nas vítimas, eis que o denunciado, em
concurso de pessoas, utilizou-se de um poder intimidatório maior do
que se estivesse sozinho, além de ter sido empregado um
simulacro de arma de fogo, o que demonstrou certa vantagem em
relação aos ofendidos.”

Percebe-se um grande erro praticado pela


Autoridade Coatora, primeiro por incorrer num verdadeiro bis in
idem tendo em vista que utilizou o concurso de pessoas para
valorar tais circunstâncias negativamente, bem como utilizou-se do
concurso de pessoas para majorar a pena na 3ª fase, quando da
aplicação das causas de aumento de pena, o que é uma grande
ilegalidade, fato este já reconhecido de forma plena pela
jurisprudência pátria, senão vejamos:

AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 628.749 - MS


(2014/0333245-6) RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR AGRAVANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : E A DE C ADVOGADO : ALBINO ROMERO
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO
GROSSO DO SUL EMENTA AGRAVO REGIMENTAL EM
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. ESTUPRO DE
VULNERÁVEL. CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME E AGRAVANTE
DO ART. 61, II, F, DO CP. BIS IN IDEM CARACTERIZADO.
CRITÉRIO TRIFÁSICO. OBSERVÂNCIA. CORREÇÃO DA
PENA-BASE. MANUTENÇÃO DA AGRAVANTE. 1. Se
determinado fato é elencado como agravante no rol do art. 61 do
Código Penal, a correta observância do critério trifásico orienta que
a sua incidência deve ocorrer na segunda fase da dosimetria, em
vez de ser utilizado na primeira fase, como circunstância judicial
negativa. 2. Caracterizado o bis in idem entre a agravante prevista
no art. 61, II, f, do Código Penal e o fundamento utilizado para
negativar as circunstâncias do crime, como reconhecido na decisão
agravada, mostra-se mais correto, para sanar a ilegalidade, a
exclusão do desvalor atribuído à aludida circunstância judicial e do
acréscimo efetuado na pena-base, em vez de se afastar a
incidência da agravante mencionada. 3. Agravo regimental provido
para restabelecer a aplicação da agravante do art. 61, II, f, do
Código Penal, porém excluindo-se a negativação das circunstâncias
do crime, redimensionando-se a pena do agravado para 8 anos e 9
meses de reclusão.

Avaliou ainda essas duas últimas circunstâncias


alegando que a conduta do paciente causou abalo moral nas
vítimas, todavia, não existe qualquer prova concreta nos autos
deste abalo moral que a Autoridade Coatora se utilizou para valorar
negativamente, observa-se no relato da própria sentença que as
vítimas não narraram nenhuma conduta que pudesse sustentar tal
argumento, verifica-se que a vítima Paulo Benicio pinto, afirma de
maneira categoricamente que o seu celular e dinheiro foram
recuperados, bem como, sua esposa, Maria Lindalva, da qual nada
foi subtraído, senão os bens do seu marido, afirmou que o moreno
teria inclusive pedido perdão no momento da abordagem, o que
demonstram que a conduta do paciente não teve nada de anormal
do que a figura do próprio tipo penal, pois o mesmo não bateu nas
vítimas, não humilhou.

Assim verifica-se que a elevação de 02 (dois) anos


da pena base, para fixar em 06 (seis) anos é completamente
errônea, ilegal e abusiva, devendo de plano ser anulado e
procedida nova valoração das circunstâncias judiciais, aplicando-se
a pena no mínimo legal.

Quanto ao reconhecimento do crime continuado a


Autoridade Coatora errou quanto a fixação de ½ (metade) da pena,
tendo em vista que não existe nos autos nenhum elemento concreto
que fundamentasse um aumento tão exacerbado, já que as
circunstancias judicias foram favoráveis ao paciente, requerendo
desde já seja aplicado o mínimo de aumento, até porque ao
contrário do que alega a Autoridade Coatora não foram 03 vítimas e
sim 02 vítimas, sendo a Sra. Lindalva tão somente esposa do sr.
Paulo Benicio Pinto, estando com ele no momento da empreitada
criminosa, mas não teve nada subtraído.

Quanto ao cabimento de matéria que deveria ser


tratada por revisão criminal, ser analisada em Habeas Corpus é
plenamente plausível, com inúmeros julgados do STJ, para casos
em que exista flagrante ilegalidade, como no caso concreto, onde
o erro judicial é evidenciado de plano, com simplória análise da
sentença e com a redução de pena o paciente que já está preso há
um ano, poderá usufruir quiçá da progressão de regime e da
alteração do regime inicial de cumprimento de pena, estando assim,
sofrendo no regime fechado quando poderia estar respondendo ao
presente processo em regime menos gravoso.

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.


INADEQUAÇÃO. TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA
O TRÁFICO. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA E
PRORROGAÇÃO. ALEGADA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO
E DE INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS. INEXISTÊNCIA DE
ILEGALIDADE. WRIT NÃO CONHECIDO.

1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação


no sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo de revisão
criminal e de recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-
se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada a
existência de flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado a
justificar a concessão da ordem, de ofício.

2. Não há que se falar em nulidade das interceptações telefônicas,


bem como das provas delas decorrentes, em razão da idoneidade
das decisões que autorizaram a medida, com clareza da situação
objeto da investigação, com a indicação e qualificação dos
investigados, justificando a sua necessidade e demonstrando haver
indícios razoáveis da autoria e materialidade das infrações penais,
não se exigindo, neste momento, a descrição detalhada da
participação de cada um dos agentes na empreitada criminosa,
mesmo porque tal situação só seria possível após a colheita da
prova autorizada.

Precedentes.

3. A decisão de quebra de sigilo telefônico não exige


fundamentação exaustiva. Assim, pode o magistrado decretar a
medida mediante fundamentação concisa e sucinta, desde que
demonstre a existência dos requisitos autorizadores da
interceptação telefônica, como ocorreu na espécie. É
desnecessário que cada sucessiva autorização judicial de
interceptação telefônica apresente inéditos fundamentos
motivadores da continuidade das investigações, bastando que
estejam mantidos os pressupostos que autorizaram a decretação
da interceptação originária” (HC n. 339.553/SP, relator Ministro
FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 21/2/2017, DJe
7/3/2017). (RHC 101.780/PB, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA
PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 02/04/2019, DJe
10/04/2019) 4. Habeas corpus não conhecido. (HC 617.577/SP,
Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 02/02/2021, DJe 04/02/2021)

Diante de tais erros flagrantes, o paciente impetrou


Habeas Corpus requerendo o reconhecimento da flagrante
ilegalidade da dosimetria da pena, todavia, a Desembargadora
Relatora, ora autoridade coatora, negou a liminar, sob o seguinte
argumentos:

“Decido:
A concessão de liminar em habeas corpus constitui
medida excepcional, somente podendo ser deferida
quando demonstrada, de plano, patente ilegalidade
no ato judicial impugnado.

Na espécie, sem adiantamento acerca do mérito da


demanda, não vislumbro, das alegações sumárias
da impetrante, dos documentos por ela acostados
aos autos, bem como das informações prestadas
pela autoridade inquinada coatora, pressuposto
autorizador à concessão da tutela liminar, não se
observando no caso condição excepcional, pois
ausente quaisquer das hipóteses previstas nos
artigos 647 e 648 do Código de Processo Penal.

Ante o exposto, denego o pedido liminar.

Assim, não vendo o paciente como fazer cessar


flagrante ilegalidade, vem, perante este respeitável Superior
Tribunal de Justiça Requerer que a Justiça seja feita.

DO DIREITO

A Constituição da de 1988 prescreve em seu art. 5º,


inciso LXVIII, que será concedido “habeas corpus” sempre que
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.

Em igual substrato, o Código de Processo Penal


contempla em seus artigos 647 e 648:

“Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que


alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou
coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de
punição disciplinar;”
“Art. 648. A coação considerar-se-á

ilegal: I – quando não houver justa

causa; (…)”

Há que se mencionar ainda o Pacto de São José da


Costa Rica, recepcionado em nosso ordenamento jurídico brasileiro,
que em seu art. 7º, é taxativo ao expor que toda pessoa tem direito
a liberdade, sendo que ninguém pode ser submetido ao
encarceramento arbitrário.

PREQUESTIONAMENTO

Dessa forma, é sobremodo importante afirmarmos


que os princípios da inocência e da dignidade da pessoa humana,
direito fundamental da presunção de inocência FORAM
VIOLADOS, violação do princípio da homogeneidade, princípio bem
como ressalta-se que os mesmos sobrepõem ao princípio da
necessidade da prisão cautelar do paciente, e devem ser aplicados
no caso em tela para sanar o flagrante constrangimento ilegal.

III. DA ORDEM LIMINAR

Apontada a ofensa à liberdade de locomoção da


paciente, encontra-se presente, in casu, o fumus boni iuris.

No mesmo sentido, verifica-se a ocorrência do


periculum in mora, pois a liberdade do paciente está correndo risco,
pois encontra-se injustamente preso em regime fechado há uma
pena de 10 anos de reclusão, por erro material na dosimetria da
pena.

IV. DO PEDIDO
Ante todo o exposto, e mais pelas razões que
Vossa Excelência saberá lançar com muita propriedade acerca do
tema, restando devidamente comprovada a flagrante ilegalidade
requer o impetrante a concessão LIMINAR da ordem, para que
seja anulada a sentença quanto a dosimetria da pena, realizando-se
nova dosimetria da pena em razão e flagrante erro judicial, tendo
em vista que não estão presentes os requisitos ensejadores para
mantença do paciente na masmorra medieval, com a imediata
expedição de alvará de soltura em favor deste. Requer, outrossim,
seja o presente pedido de habeas corpus julgado procedente ao
final, confirmando-se a decisão liminar.

Termos em que, pede e espera DEFERIMENTO.

Belém, 14 de janeiro de 2022

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