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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

CFC
Nº 70085054336 (Nº CNJ: 0018986-60.2021.8.21.7000)
2021/CRIME

APELAÇÃO. CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO.


FURTOS QUALIFICADOS. ROMPIMENTO DE
OBSTÁCULO. PROVA SUFICIENTE. CONDENAÇÃO
MANTIDA.
PRELIMINAR DE NULIDADE. DECRETAÇÃO DE
REVELIA DO RÉU. INOCORRÊNCIA. Em que pese
promovida a intimação do réu para a audiência de instrução
por meio de carta AR (aviso de recebimento), com condão
de provocar a nulidade do decreto da revelia, certo é que o
incriminado, após a sentença, alterou o endereço sem
comunicar o Juízo, conforme certificado pela Oficiala de
Justiça, fazendo-se revel, a se concluir que resultariam
inócuas novas tentativas de intimação.
PRELIMINAR. AUTO DE AVALIAÇÃO INDIRETO.
INVALIDADE. INOCORRÊNCIA. A avaliação do bem
não constitui exame de corpo de delito, pelo que não há falar
na observância ao disposto nos arts. 158 e seguintes do CPP.
No mais, tratando-se de estimativa do valor de um notebook
marca Dell, não exige conhecimento técnico ou científico, o
valor não impugnado com dados concretos.
MANUTENÇÃO DO DECRETO CONDENATÓRIO.
Valorada a narrativa dos vitimados, dando conta das
subtrações, bem como o relato dos agentes de segurança
pública atuantes na prisão em flagrante do apelante, pouco
após os ilícitos, na posse da integralidade dos bens
arrebatados, exsurge nítida a responsabilidade criminal do
acusado pelos fatos descritos na exordial. Forte no livre
convencimento motivado, suficiente a prova produzida para
ensejar o édito condenatório.
QUALIFICADORA. ROMPIMENTO DE
OBSTÁCULO. PRESERVADA. Dispõe o art. 158 do CPP
que, na hipótese de a infração penal deixar vestígios,
indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto.
E, na forma do art. 159, § 1º, do CPP, a impossibilidade de
realização do exame pericial por profissional técnico oficial
viabiliza a nomeação de peritos não oficiais, desde que
pessoas idôneas e munidas de diploma de curso superior,
preferencialmente na área de conhecimento equivalente
àquela da natureza do exame, inexistente vedação, contudo,
à nomeação de indivíduo sem capacitação específica. Na
hipótese, a autoridade policial nomeou à realização dos
exames duas pessoas presumidamente aptas ao encargo,
ostentando diplomas de ensino superior em Direito e
Educação Física, devidamente compromissadas, do que
decorre a presunção de idoneidade da prova técnica.
Prescindível comprovação documental da diplomação de
ensino superior, porquanto os atos realizados pela autoridade
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policial gozam de presunção de veracidade. Nada há nos


autos a indicar quebra de imparcialidade, a ensejar o
reconhecimento de impedimento ou suspeição. No entanto, o
auto de constatação indireto é inapto juridicamente para
demonstração da circunstância qualificadora quando
elaborado unicamente com base em depoimento prestado
perante a autoridade policial. Remanescendo a prova oral, é
meio probatório, que, no caso vertente, presta-se à revelação
do obstáculo rompido, forte no art. 167 do CPP, alterados os
vestígios da infração penal, porquanto, atingidas fechaduras
das portas dos estabelecimentos comerciais, de se concluir
forçosa a imediata reparação do dano ao objetivo de
restabelecer as condições de uso e segurança.
DOSIMETRIA DA PENA. Basilares reduzidas ao mínimo
legal, pois afastado o desvalor da conduta social. Tema 1077
do STJ. Na segunda etapa, preservado o acréscimo de 02
meses pela recidiva. Pela continuidade delitiva, mantido o
incremento de uma das penas, idênticas, na fração de 1/6.
Pena total de 02 (dois) anos, 06 (seis) meses e 10 (dez) dias
de reclusão, a ser cumprida em regime prisional semiaberto.
Pena de multa arrefecida para 10 (dez) dias-multa.
Preliminares rejeitadas. Apelo parcialmente provido.

APELAÇÃO CRIME QUINTA CÂMARA CRIMINAL - REGIME


DE EXCEÇÃO
Nº 70085054336 (Nº CNJ: 0018986- COMARCA DE SÃO MARCOS
60.2021.8.21.7000)

ALAN JUNIOR KRONBAUER APELANTE

MINISTERIO PUBLICO APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Magistrados integrantes da Quinta Câmara Criminal - Regime


de Exceção do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em rejeitar as preliminares e,
no mérito, dar parcial provimento ao apelo, ao efeito de reduzir as penas impostas ao réu
para 02 (dois) anos, 06 (seis) meses e 10 (dez) dias de reclusão e 10 (dez) dias-multa,
mantidas as demais cominações sentenciais.
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Custas na forma da lei.


Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes Senhores
DES.ª VANDERLEI TERESINHA TREMEIA KUBIAK E DES. JONI VICTORIA
SIMÕES.

Porto Alegre, 25 de abril de 2023.

DRA. CARLA FERNANDA DE CESERO HAASS,


Relatora.

RELATÓRIO
DRA. CARLA FERNANDA DE CESERO HAASS (RELATORA)

Na Comarca de São Marcos/RS, o Ministério Público ofereceu denúncia


contra ALAN JUNIOR KRONBAUER, nascido em 31/01/1990, com 28 anos de idade ao
tempo dos fatos, dando-o como incurso nas sanções do art. 155, § 4º, inc. I, três vezes, c/c o
art. 71, caput, ambos do Código Penal, incidindo a agravante insculpida no art. 61, inc. I, do
mesmo diploma legal.
Narrou a peça vestibular acusatória, in verbis (fls. 02/04):

Fato nº 01:
No dia 16 de junho de 2018, por volta de 01 hora, na Loja Bliss
Store, localizada na Rua Padre Feijó, nº 471, Centro, nesta Cidade, o
denunciado ALAN JUNIOR KRONBAUER, mediante destruição e
rompimento de obstáculo (auto de constatação e avaliação de dano à fl.
37), subtraiu, para si ou para outrem, em prejuízo da vítima JOERCI
MACHADO DOS SANTOS, a importância de R$ 971,55 (novecentos e
setenta e um reais e cinquenta e cinco centavos), conforme os inclusos
autos de apreensão, de avaliação e de restituição às fls. 11, 37 e 42 do
Inquérito Policial.
Fato nº 02:
Nas mesmas condições de tempo do Fato nº 01, não esclarecido se
antes ou após este, no “Pet Shop” Amigo Bicho, localizado na Rua José
de Alencar, 734/01, Centro, nesta Cidade, o denunciado ALAN JUNIOR
KRONBAUER, mediante destruição e rompimento de obstáculo (auto de

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constatação e avaliação de dano à fl. 38), subtraiu, para si ou para


outrem, em prejuízo da vítima MARIA CECÍLIA MAGAGNIN DOS
SANTOS VANIN, a importância de R$ 291,00 (duzentos e noventa e um
reais), conforme os inclusos autos de apreensão, de avaliação e de
restituição às fls. 11, 38 e 40 do Inquérito Policial.
Fato nº 03:
Nas mesmas condições de tempo dos Fatos nº 01 e 02, não
esclarecido se antes ou após estes, no “Pet Shop” KL, localizado na Rua
José de Alencar, 734/01, Centro, nesta Cidade, o denunciado ALAN
JUNIOR KRONBAUER, mediante destruição e rompimento de obstáculo
(auto de constatação e avaliação de dano à fl. 38), subtraiu, para si ou
para outrem, em prejuízo da vítima “Pet Shop” Amigo Bicho, um
computador, modelo notebook, marca Dell, avaliado em R$ 2.500,00
(dois mil e quinhentos reais), e a importância de R$ 264,00 (duzentos e
sessenta e quatro reais), conforme os inclusos autos de apreensão, de
avaliação e de restituição às fls. 11, 13, 34 e 39 do Inquérito Policial.
Por ocasião dos fatos, o denunciado ALAN JUNIOR
KRONBAUER foi até o estabelecimento comercial das vítimas, nos
endereços descritos, onde, utilizando ferramentas que trazia consigo
(auto de apreensão à fl. 12), arrombou a fechadura da porta principal de
cada estabelecimento e adentrou nos locais. Uma vez no interior dos
estabelecimentos comerciais, o denunciado foi até o caixa, de onde
subtraiu as importâncias mencionadas, sendo que no “Pet Shop” Amigo
Bicho, subtraiu ainda o computador descrito.
Posteriormente, o denunciado restou localizado e preso pela
Brigada Militar, sendo apreendido em poder dele o computador
notebook e a importância de R$ 1.374,48 (um mil, trezentos e setenta e
quatro reais e quarenta e oito centavos), sendo R$ 264,00 (duzentos e
sessenta e quatro reais) e o microcomputador restituídos à vítima “Pet
Shop” Amigo Bicho; a importância de R$ 291,00 (duzentos e noventa e
um reais) restituída à vítima MARIA CECÍLIA MAGAGNIN DOS
SANTOS VANIN e R$ 819,48 (oitocentos e dezenove reais e quarenta e
oito centavos) restituídos à vítima Joerci Machado dos Santos. A
importância de R$ 152,07 (cento e cinquenta e dois reais e sete
centavos), pertencente à vítima Joerci, restou irrecuperada.
Ainda, foi apreendido em poder do denunciado uma chave de
fenda e uma chave inglesa (tipo “jacaré”), utilizadas para efetuar os
arrombamentos (auto de apreensão à fl. 12).

Autuado em flagrante, viu, o constrito, homologado o respectivo auto (fl.


38).

Recebida a denúncia em 04/07/2018 (fl. 99) e decretada a prisão preventiva


(fls. 100).

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O réu foi citado (fls. 110/112) e, por intermédio da Defensoria Pública,


apresentou resposta à acusação (fls. 123/126).
Revogada a prisão preventiva em 02/08/2018 (fl. 127).

Ausente hipótese de absolvição sumária, o feito prosseguiu com a decretação


da revelia (fl. 143) e a oitiva das vítimas e das testemunhas (fls. 148/149).

O Ministério Público e a defesa apresentaram memoriais em substituição a


alegações finais orais.

Em 22/07/2019, sobreveio sentença (fls. 167/172), julgando parcialmente


procedente a ação penal e condenando o réu como incurso nas sanções do art. 155, § 4º, inc.
I, na forma do artigo 71, caput, ambos do Código Penal, às penas de 02 (dois) anos, 08
(oito) meses e 20 (vinte) dias de reclusão, a ser cumprida em regime inicial semiaberto, e 12
(doze) dias-multa, à razão unitária mínima. Suspensa a exigibilidade do pagamento das
custas processuais.

Inconformada, a Defensoria Pública interpôs recurso de apelação (fl. 173).


Em suas razões, arguiu, preliminarmente, a nulidade do decreto da revelia, na medida em
que as tentativas de intimação do apelante deram-se por carta AR, com resposta negativa,
meio inadequado, na esteira dos arts. 351 e 370 do CPP. Apontou ainda a nulidade do auto
de avaliação, pois não indicada a profissão dos peritos, sem qualificação específica as
formações em Direito e Educação Física, e confeccionado o exame da fl. 79 de forma
indireta, ao arrepio do art. 172 do CPP. No mérito, sustentou a insuficiência do pavilhão
probatório, lastreada exclusivamente na palavra dos policiais, uma vez que não visualizada a
ação pelos ofendidos, tampouco acostadas aos autos as imagens do fato. Assim não
entendido, postulou o afastamento da qualificadora, o reconhecimento de crime único entre o
2º e 3º fatos, o extirpe da mácula da conduta social e a redução no agravamento da
reprimenda corporal e da pena de multa (fls. 179/187).

Apresentadas as contrarrazões recursais (fls. 188/193), vieram os autos


remetidos a esta Egrégia Corte.

O feito foi remetido à origem, onde intimado o réu do veredicto por edital
(fls. 208/209).

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Com o retorno dos autos, manifestou-se a Procuradoria de Justiça pelo


parcial provimento do apelo, fins de afastar a nota negativa emprestada à conduta social e
reduzir o número de dias multa (fls. 212/218).

Redistribuídos os autos a esta Relatoria em 09/02/2023, nos termos da


Portaria nº 02/2023 do Órgão Especial desta Corte.

É o relatório.

VOTOS

DRA. CARLA FERNANDA DE CESERO HAASS (RELATORA)


O voto, adianto, é no sentido de rejeitar as preliminares e, no mérito, dar
parcial provimento ao recurso da defesa.
Da preliminar de nulidade da revelia.

Suscita a defesa, preliminarmente, a nulidade do feito a contar da decretação


de revelia do acusado.

Sem razão.
De fato, vê-se procedida a intimação do increpado para comparecimento na
audiência de instrução no endereço por ele fornecido na ocasião da soltura (fl. 130) por meio
de carta AR (aviso de recebimento), devolvida com a informação de “Mudou-se” (fl. 138),
conjuntura que deu ensejo à decretação da revelia (fl. 143).
Com efeito, preleciona o art. 351 da lei processual penal que “A citação
inicial far-se-á por mandado, quando o réu estiver no território sujeito à jurisdição do juiz
que a houver ordenado”. O ponto também é norteado pelo art. 370 do mesmo diploma,
disciplinado que “Nas intimações dos acusados, das testemunhas e demais pessoas que
devam tomar conhecimento de qualquer ato, será observado, no que for aplicável, o
disposto no Capítulo anterior”.
Sob esse prisma, é certo que a intimação deve dar-se de forma pessoal e por
mandado de intimação a ser cumprido por Oficial de Justiça, fins de obtenção da indubitável
certeza quanto ao cumprimento do ato e seu resultado, à luz dos princípios do contraditório,
da ampla defesa e do devido processo legal.

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Na casuística, a despeito da inadequação da forma, afigurada mácula, a


declaração de nulidade resta obstada por fato superveniente. Isso porque, expedido mandado
de intimação da sentença criminal ao endereço do incriminado, certificou a Oficiala de
Justiça que “não foi possível intimar Alan Junior Kronbauer, pois segundo informação
obtida no local, escritório de advocacia, o réu se mudou” (fls. 195/196). Desse modo, diante
da certeza da alteração de endereço sem a devida comunicação ao Juízo, fez-se revel, a se
concluir que resultariam inócuas novas tentativas de intimação no local, pelo que merece ser
repelida a arguição.
Da nulidade do auto de avaliação.

Sustenta a defesa, em suas razões, a nulidade do auto de avaliação indireta,


porquanto nada há nos autos a respeito da profissão dos peritos nomeados, sem qualificação
específica para o encargo.
Ao objetivo de aferir o valor da res furtiva (notebook descrito no 3º fato da
denúncia), houve a elaboração de auto de avaliação indireta (fl. 79), a aferição promovida
não constituindo exame de corpo de delito, pelo que não há falar na observância ao disposto
nos arts. 158 e seguintes do CPP, entendimento ao qual passo a me aliar.
No mais, tratando-se de estimativa do valor de um notebook marca Dell, não
exige conhecimento técnico ou científico, a defesa não se desincumbindo de desmerecer,
com base em dados concretos, o auto avaliativo do bem, permanecendo hígido seu valor
probante.
Nesse sentido, colaciono julgado deste Egrégio Tribunal de Justiça:
APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. FURTO.
MANTIDA A QUALIFICADORA DO CONCURSO DE AGENTES.
CONDENAÇÃO NOS LINDES DO ART. 155, § 4º, INCISO IV, DO CP. SEM
MODIFICAÇÃO NO APENAMENTO. PRELIMINAR DE NULIDADE DO
AUTO DE AVALIAÇÃO INDIRETO, AFASTADA. A avaliação indireta do valor
dos bens não se confunde com o exame do corpo de delito ou perícia, de modo
que não se aplicam as exigências e requisitos do art. 159 do CPP. O laudo de
avaliação foi realizado por duas pessoas com diploma de curso superior.
Nomeação e qualificação dos peritos atestada por servidor detentor de fé
pública. Analisado apenas o valor dos bens furtados, de acordo com o preço de
mercado, sendo desnecessária qualquer qualificação específica. No que diz
respeito à possibilidade de serem integrantes do quadro da polícia civil,
nenhuma prova neste sentido veio aos autos, nem mesmo que tenham
participado das investigações, sendo a tese mera especulação defensiva.
Afastada nulidade arguida. NO MÉRITO. PROVA SUFICIENTE. As provas
existentes nos autos, especialmente a prisão em flagrante dos réus na posse dos
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bens da vítima, aliado ao reconhecimento da res pela vítima e depoimento


judicializado das testemunhas de acusação (policiais militares), que realizaram
a prisão em flagrante dos acusados muito próximo ao local do fato, demonstram
a existência da materialidade e autoria de forma inequívoca. Elementos de
prova para além do reconhecimento do art. 226 do CPP, os quais são suficientes
para dar suporte à manutenção da sentença condenatória QUALIFICADORA
DO CONCURSO DE AGENTES MANTIDA. Em que pese os argumentos da
defesa, restou plenamente demonstrado nos autos, pelo depoimento coerente e
uníssono dos policiais militares e da vítima, que o furto foi praticado em
comunhão de esforços e vontades. APENAMENTO. Mantida integralmente as
penas, carcerária e de multa, na forma fixada na sentença de origem. Regime
inicial fixado no aberto, após detração. PREQUESTIONAMENTO: Não
demonstrado afronta aos dispositivos citados no recurso, conforme se infere dos
fundamentos contidos no julgado. APELO DEFENSIVO PARCIALMENTE
PROVIDO.(Apelação Criminal, Nº 50042094720198210018, Sétima Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Glaucia Dipp Dreher, Julgado
em: 13-02-2023)

APELAÇÃO-CRIME. FURTO QUALIFICADO TENTADO. ROMPIMENTO DE


OBSTÁCULO. 1. PRELIMINARES. (I) NULIDADE DO PROCESSO. REVELIA.
REJEIÇÃO. Acertada a decretação da revelia do denunciado, na medida em
que, citado pessoalmente, apesar de alertado, deixou de comunicar ao juízo seu
novo endereço. Designada solenidade, tentada a intimação do réu no local
indicado nos autos, restou frustrada, não sendo ele localizado, inviabilizando a
intimação para comparecimento à audiência de instrução e julgamento. Art. 367
do CPP, em sua parte final, que permite o prosseguimento do feito quando o
acusado mudar de residência sem comunicação ao juízo. Nulidade inexistente.
Preliminar rejeitada. (II) NULIDADE DO AUTO DE AVALIAÇÃO INDIRETO.
Possível a elaboração de auto de avaliação indireto, porque há previsão legal
para tanto – art. 172, § único do CPP. Singeleza do exame, consistente na
aferição do valor de 10 kg de fios de cobre, bastando mera pesquisa de
mercado, como fez a expert, não exigindo habilitação técnica especial da
avaliadora, bastando simples verificação. Presunção de idoneidade do auto,
elaborado por perita nomeada e compromissada, cabendo à defesa o ônus de
desconstituí-lo, com fatos concretos, o que não logrou fazer. Eventual mácula do
exame, realizado por uma perita apenas, não importaria, de qualquer modo, na
ausência de materialidade do crime, que encontra suporte em outras provas.
Preliminar rejeitada. [...] PRELIMINARES REJEITADAS. NO MÉRITO,
APELO PARCIALMENTE PROVIDO. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
IMPOSTA AO RÉU REDUZIDA PARA 1 ANO E 3 MESES DE RECLUSÃO E A
MULTA PARA 20 DIAS-MULTA. MANTIDAS AS DEMAIS DISPOSIÇÕES DA
SENTENÇA.(Apelação Criminal, Nº 50071193720198210086, Oitava Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Fabianne Breton Baisch, Julgado
em: 17-02-2023)

Destarte, rejeito a preliminar.

Ao exame de mérito.
Da suficiência de provas para a condenação.

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A existência delitiva veio demonstrada pelo boletim de ocorrência (fls.


12/15), pelos autos de apreensão (fls. 16/17), de prisão em flagrante (fls. 18/19) e de
restituição (fls. 25, 84/85 e 87), bem assim pela prova oral coligida.

No tocante à autoria delitiva, em que pese silente na esfera administrativa (fl.


27) e revel em Juízo, o indigitar do réu como autor dos crimes despontou certeiro da sua
prisão em flagrante delito, na posse da res furtivae, e da prova oral coligida ao feito,
notadamente observados os depoimentos dos policiais militares atuantes na ocorrência e das
vítimas, assentado o reconhecimento de seus bens.
A propósito, reproduzo excerto da decisão recorrida, no ponto em que
esmiuçou a prova oral coligida, adotando-o como razão de decidir:
A vítima Maria Cecília Magagnin dos Santos Vanin (mídia da fl.
149) relatou que recebeu ligação da empresa de segurança informando
que houve o arrombamento da sua clínica veterinária. Disse ter
visualizado o autor do fato e suas vestimentas pelas câmeras de
monitoramento, e que os policiais militares, de posse destas informações,
lograram êxito em prender o réu. Ressalvou que de sua loja somente foi
levado cerca de R$ 300,00 (trezentos reais), mas que o acusado teria
furtado outros estabelecimentos comerciais. Confirmou ter ocorrido o
arrombamento do local, com a quebra da fechadura da porta de vidro e
de um cadeado. Apontou que houve um prejuízo de cerca de R$ 100,00
(cem reais) pelo arrombamento, mas que o valor subtraído foi
recuperado. Informou que o réu foi preso em flagrante cerca de uma
hora após o fato, ainda com a mesma roupa que aparecia nas imagens de
monitoramento. Referiu que na Delegacia de Polícia o réu confessou ter
entrado em outros estabelecimentos comerciais.
O ofendido Liniker Prebianca (mídia da fl. 149) narrou que foram
informados pela moradora de cima do seu estabelecimento comercial
que a porta deste havia sido arrombada, tendo sido levado dinheiro e o
notebook. Aludiu que souberam da prisão do réu, comparecendo à
Delegacia de Polícia de Caxias do Sul. Confirmou o arrombamento na
porta, nas duas travas da chave, ocasionando um prejuízo de R$ 100,00
(cem reais). Referiu que do seu estabelecimento comercial foi subtraído
cerca de R$ 230,00 (duzentos e trinta reais), além do notebook de marca
Dell, de cerca de R$ 2.000,00 (dois mil reais). Apontou que o flagrado
confirmou ter subtraído os objetos no seu estabelecimento comercial e
em outros.
Joerci Machado dos Santos (mídia da fl. 149), vítima, narrou que
na madrugada um homem arrombou a porta, entrou em sua loja e
subtraiu cerca de R$ 900,00 (novecentos reais), posteriormente
recuperados. Afirmou que foram quebradas as duas fechaduras da porta
de entrada e do balcão do caixa, ocasionando um prejuízo de cerca de
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R$ 100,00 (cem reais). Referiu que o réu, quando preso, confessou a


prática do delito, e disse que devolveria os bens para não ser preso.
[...]
Airton Magedanz (mídia da fl. 149) Policial Militar, referiu que
foram acionados pela empresa de vigilância. Disse que observaram as
imagens das câmeras de monitoramento e, pelas características,
conseguiram encontrar o réu ainda na posse dos objetos. Apontou que
foram furtadas duas pet shops e outro estabelecimento comercial, todas
por arrombamento. Afirmou que o réu confessou a prática dos delitos.

Lucinea Ramos Souto (mídia da fl. 149), Policial Militar, relatou


que souberam de um furto em um estabelecimento comercial, onde
visualizaram as imagens de câmera de monitoramento e conseguiram
encontrar o réu ainda em via pública. Referiu que o réu estava de posse
de dinheiro e um notebook. Disse que o réu havia arrombado outros
estabelecimento comerciais.

Sabidamente válidos os dizeres de policiais, fins de formação da convicção


do julgador, já que a simples condição de policial não torna a testemunha impedida ou
suspeita para o depor. Aliás, leva-se “em conta que é o Estado quem lhes confere a
autoridade e o dever de prender e combater a criminalidade. Seria um contrassenso
credenciá-los como agentes públicos e, depois, não aceitar seus testemunhos como meio de
prova. Ademais, reiteradamente a jurisprudência tem decidido que o depoimento do policial
é válido e hábil para embasar veredicto condenatório, pois, em princípio, trata-se de
pessoas idôneas, cujas declarações retratam a verdade” (Apelação Crime Nº 70063913099,
Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Vanderlei Teresinha Tremeia
Kubiak, Julgado em 09/07/2015). Demais disso, nada há nos autos que demonstrem
suspeitos os agentes policiais ouvidos, desconhecido do imputado, depreende-se dos
substratos probatórios. É ônus da defesa demonstrar a existência de mácula nos relatos, sem
o que não há falar na invalidade do testemunho prestado.
Nesse sentido, já assentou a Corte Cidadã:
HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO
CABIMENTO. ROUBO COMETIDO COM EMPREGO DE ARMA DE FOGO,
EM CONCURSO DE AGENTES E COM RESTRIÇÃO À LIBERDADE DAS
VÍTIMAS. ABSOLVIÇÃO EM 1º GRAU. APELO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
PROVIDO. CONDENAÇÃO. ALEGADA AFRONTA AO ART. 155 DO CPP.
NÃO CONFIGURAÇÃO. PROVA DA AUTORIA COLHIDA EM JUÍZO.
CONFISSÃO EXTRAJUDICIAL CORROBORADA PELA PROVA
JUDICIALIZADA. VALIDADE PARA FUNDAMENTAR A CONDENAÇÃO.
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PALAVRA DE POLICIAIS. MEIO DE PROVA IDÔNEO. ILEGALIDADE NÃO


CONFIGURADA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. I - A Terceira Seção
desta Corte, seguindo entendimento firmado pela Primeira Turma do col.
Pretório Excelso, sedimentou orientação no sentido de não admitir habeas
corpus em substituição ao recurso adequado, situação que implica o não
conhecimento da impetração, ressalvados casos excepcionais em que,
configurada flagrante ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal, seja
possível a concessão da ordem de ofício, em homenagem ao princípio da ampla
defesa. II - O eg. Tribunal de Justiça, ao modificar a sentença absolutória para
condenar o paciente, se fundamentou na prova coligida em Juízo, consistente no
depoimento das vítimas e testemunhas, dentre elas policiais que realizaram a
prisão em flagrante, os quais corroboraram os elementos constantes do
inquérito policial, notadamente a confissão extrajudicial dos agentes, não
havendo ofensa ao art. 155 do CPP. III - Esta Corte firmou entendimento no
sentido que a retratação da confissão extrajudicial não é suficiente para elidir
sua validade para o convencimento acerca da autoria, quando for corroborada
por elementos produzidos sob o crivo do contraditório. IV - O depoimento dos
policiais prestado em Juízo constitui meio de prova idôneo a resultar na
condenação do réu, notadamente quando ausente qualquer dúvida sobre a
imparcialidade dos agentes, cabendo à defesa o ônus de demonstrar a
imprestabilidade da prova, o que não ocorreu no presente caso. Precedentes. V -
Afastar a condenação, in casu, demandaria o exame aprofundado de todo
conjunto probatório, como forma de desconstituir as conclusões das instâncias
ordinárias, soberanas na análise dos fatos e provas, providência inviável de ser
realizada dentro dos estreitos limites do habeas corpus, que não admite dilação
probatória. Habeas corpus não conhecido. (HC 471.082/SP, Rel. Ministro
FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 23/10/2018, DJe 30/10/2018)

Na espécie, os brigadianos apresentaram relato seguro, em juízo, narrando


que, noticiada à guarnição o furto ocorrido na Pet Shop Amigo Bicho, deslocaram-se ao
local, tomando ciência das características do criminoso por meio das imagens captadas pelas
câmeras de vigilância. No prosseguir, empreendidas diligências, lograram localizar o
acusado, na posse dos bens subtraídos, realizada, assim, a condução do agente à Delegacia
de Polícia.

Demais disso, associa-se aos dizeres do agente da polícia ostensiva os


depoimentos dos vitimados Joerci (1º fato), Maria Cecília (2º fato) e Liniker (3º fato),
confirmando a exposição das imagens das câmeras de vigilância da Pet Shop Amigo Bicho
(2º fato) à Polícia Militar e a subtração de dinheiro dos estabelecimentos Loja Bliss (1º fato)
e Amigo Bicho e de dinheiro e um notebook da Pet Shop KL (3º fato), recuperados no
mesmo dia.

E, em atenção ao arrazoado recursal, postulado o reconhecimento de crime


único entre o 2º e 3º fatos, registro que, sem embargo do erro material havido na peça portal
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com relação ao endereço do 3º fato e à alusão ao nome Amigo Bicho, desponta patente
tratar-se, a narrativa, do crime perpetrado contra a Pet Shop KL, situada em local diverso e
com proprietário distinto do comércio lesado no 2º fato. Assim sendo, diante da pluralidade
de condutas, investido contra dois patrimônios nitidamente diferentes, não há falar em crime
único.

Destarte, os idôneos relatos dos ofendidos, dando conta da subtração de


pertences, bem assim dos agentes de segurança pública, atuantes na prisão em flagrante do
apelante, pouco após o ilícito, na posse de bens arrebatados, os quais foram oportunamente
restituídos às vítimas, configuram lastro probatório suficiente a ensejar a conclusão de que
autor do furto dos bens descritos na inicial acusatória.
A propósito, consoante entendimento deste órgão fracionário, que bem se
amolda ao caso vertente, a “a apreensão do bem em poder do acusado inverte o ônus da
prova, incumbindo à defesa trazer elementos que apontem eventual licitude na forma de
obtenção do objeto” (Apelação Criminal, Nº 50048111620218210035, Quinta Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Maria de Lourdes G. Braccini de Gonzalez,
Julgado em: 13-12-2022).
De tudo, adotado, no ordenamento jurídico pátrio (CPP, art. 155, caput), o
sistema do livre convencimento motivado, suficiente a prova produzida para lastrear o édito
condenatório, despiciendos substratos outros à formação do convencimento, pelo que se
mostra irrepreensível.
Da circunstância qualificadora.

Sustenta, a defesa, a nulidade dos autos de constatação do dano, porquanto


confeccionados de modo indireto, sem levantamento fotográfico ou outras provas.

Pois bem.
Resenha a denúncia praticados os delitos de furto mediante rompimento de
obstáculo porque o denunciado, “utilizando ferramentas que trazia consigo (auto de
apreensão à fl. 12), arrombou a fechadura da porta principal de cada estabelecimento e
adentrou nos locais”.
Dispõe o art. 158 do Código de Processo Penal que, na hipótese de a
infração penal deixar vestígios, indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto.

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Na hipótese em liça, ao objetivo da comprovação da circunstância, houve a


elaboração dos autos de constatação e avaliação de dano indireto (fls. 81/83), na forma do
art. 159, § 1º, do CPP. No ponto, frise-se, a impossibilidade de realização do exame pericial
por profissional técnico oficial viabiliza a nomeação de peritos não oficiais, desde que
pessoas idôneas e munidas de diploma de curso superior, preferencialmente na área de
conhecimento equivalente àquela da natureza do exame, inexistente vedação, contudo, à
nomeação de indivíduo sem capacitação específica.

No caso em tela, a autoridade policial nomeou à realização dos exames duas


pessoas presumidamente aptas ao encargo, ostentando diplomas de ensino superior em
Direito e Educação Física (fls. 80 e 78). E o exame pericial, registro, foi realizado por
profissionais devidamente nomeados e compromissados pela autoridade competente, do que
decorre a presunção de idoneidade da prova técnica. Prescindível, ademais, comprovação
documental da diplomação de ensino superior, porquanto os atos realizados pela autoridade
policial gozam de presunção de veracidade. Outrossim, nada há nos autos a indicar quebra de
imparcialidade, seja por parte dos nomeados, seja pela autoridade policial, a ensejar o
reconhecimento de impedimento ou suspeição.
Dito isso, nos aludidos documentos restou afirmada a existência de dano nas
fechaduras das portas dos estabelecimentos comerciais. E, notadamente diante da observação
trazida no auto indireto, dando conta de que serviram de base à análise dos peritos não
oficiais tão só depoimento das vítimas, forçoso concluir que o meio probatório em apreço,
sujeito ao contraditório postergado, não serve à demonstração do dano, sendo peça inapta
juridicamente para tanto. Em realidade, tem-se, fins de revelar a circunstância qualificadora,
unicamente a prova oral, à míngua de qualquer outro elemento conhecido pelos peritos
nomeados para elaboração do auto, inexistentes imagens do obstáculo rompido ou qualquer
documento contribuinte à estruturação da conclusão ora em análise.

Ainda assim, muito embora imprestáveis os aludidos autos, a circunstância


qualificadora do rompimento de obstáculo, no caso vertente, está comprovada. E isso porque
a prova testemunhal ensartada ao feito sobrevém para demonstrá-la, autorizada pelo art. 167
do CPP, na medida em que se denota alterados os vestígios do crime em vista da notória
necessidade de reparação das fechaduras, restabelecendo-se suas condições de uso e

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segurança. Neste particular, os ofendidos, na fase judicial, afirmaram ocasionados danos no


meio de segurança.
Nesse sentido, colaciono o seguinte julgado do Eg. Superior Tribunal de
Justiça:
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSUAL
PENAL. FURTO QUALIFICADO. ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO E
ESCALADA. LAUDO PERICIAL. DESAPARECIMENTO DOS VESTÍGIOS.
REPAROS EFETUADOS PELA VÍTIMA. OUTROS ELEMENTOS DE PROVAS.
POSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. O art. 158 do
Código de Processo Penal determina que, quando a infração deixar vestígios,
será indispensável o exame de corpo de delito. Todavia, o art. 167 deste mesmo
diploma normativo prevê que, não sendo possível o exame de corpo de delito,
por haver desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a
falta. 2. No caso, a Corte de origem expressamente consignou que houve o
desaparecimento dos vestígios, pois a própria vitima esclareceu, ainda na fase
do inquérito, que não preservou o local para a realização da perícia técnica. 3.
A jurisprudência desta Corte Superior entende ser admissível a prova
testemunhal na comprovação das qualificadoras do delito de furto quando os
vestígios da infração forem removidos/alterados pela vítima após os fatos com
o objetivo de garantir a sua segurança. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg
no REsp 1809401/MS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado
em 23/06/2020, DJe 04/08/2020, sem grifos no original).

A excepcionalidade da comprovação do rompimento do obstáculo pela prova


oral, ainda, vincula-se ao já referido princípio do livre convencimento motivado, consagrado
no art. 155 do Código de Processo Penal.

A propósito, preleciona Renato Brasileiro de Lima:

Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os


vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta. Por isso, se houver
prova testemunhal robusta e coesa, afirmando ter presenciado o crime ou visto
os vestígios, será suficiente para suprir o exame direto. Na mesma linha, se
constarem dos autos documentos que comprovem a materialidade, tais como
fotografias dos vestígios sensíveis ou o prontuário médico do atendimento da
vítima no posto de saúde, também será possível a prolação de um decreto
condenatório, visto que nosso ordenamento adota o sistema da persuasão
racional do juiz (CPP, art. 155, caput).

No caso, as vítimas foram enfáticas, em juízo, na revelação de que as


fechaduras foram danificadas, ao que se agrega a apreensão de ferramentas em poder do

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incriminado, especificamente uma chave de fenda e uma chave inglesa (fl. 17), o que
possibilitou o ingresso do apelante no interior dos comércios.
De tudo, vai mantida a circunstância qualificadora do rompimento de
obstáculo.
Do apenamento.

Na etapa inicial do cálculo dosimétrico, a Julgadora monocrática estabeleceu


as basilares em 02 (dois) anos e 02 (dois) meses de reclusão, assim analisando as
circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal:
Examinando as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código
Penal, tenho que a culpabilidade, aqui entendida como maior ou menor
reprovabilidade da conduta, situa-se no termo médio, não excedendo a
normalidade do tipo penal. Conforme certidão de antecedentes judiciais
(fls. 40/43), além de reincidente (Sumula nº 241 do Superior Tribunal de
Justiça), o réu foi condenado, em duas oportunidades, por crimes
idênticos aos julgados nesta ação penal, mas que por não existir o
trânsito em julgado, não serve para o aumento da pena base. Sua
conduta social deve ser considerada negativa, considerando o constante
envolvimento em práticas de furto, perturbando a sociedade. Sua
personalidade não foi aprofundada, inexistindo, pois, elementos que
possam autorizar a exasperação da pena por esta razão. A motivação do
delito foi para obtenção de lucro fácil em detrimento de patrimônio
alheio, o que já se encontra no sancionamento do tipo. As circunstâncias
e consequências foram as previstas no tipo penal. As vítimas em nada
contribuíram para os fatos.

No ponto, vê-se elevadas as básicas em 02 meses em razão da valoração do


vetor conduta social.

Contudo, descabe a valoração negativa da circunstância, com espeque na


incursão do acusado na seara delitiva, porquanto “constitui o comportamento do réu na
comunidade, ou seja, entre a família, parentes e vizinhos, não se vinculando ao próprio fato
criminoso, mas à inserção do agente em seu meio social” (AgRg no AREsp 1599798/MT,
Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 03/03/2020, DJe
09/03/2020). E são inexistentes elementos angariados no feito para sua revelação.

Ressabido, os registros atrelados a condenações definitivas, se não utilizados


para agravar a pena por conta da reincidência, devem ser sopesados, unicamente, no vetorial

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antecedentes, próprio para análise da certidão criminal respectiva, momento em que, se


maior ou menor a extensão dos apontamentos, receberá correspondente juízo de desvalor.
A esse respeito, a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, sob o rito
dos recursos repetitivos (Tema 1077), no julgamento do recurso especial representativo da
controvérsia (REsp n. 1.794.854/DF), firmou a seguinte tese: Condenações criminais
transitadas em julgado, não consideradas para caracterizar a reincidência, somente podem
ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de antecedentes criminais, não se
admitindo sua utilização para desabonar a personalidade ou a conduta social do agente.
Nessa toada, afastado o desvalor da conduta social, impositiva a condução
das básicas ao patamar mínimo, qual seja, 02 (dois) anos de reclusão.
Na segunda fase da dosimetria, reconhecida a circunstância agravante da
reincidência, consubstanciada na condenação na ação penal nº 010/2.14.0015744-4 por crime
de furto (fl. 41), não colhe êxito a pretensão defensiva de arrefecimento no grau de elevação
da pena, uma vez que estabelecido em menos de 1/6 (02 meses) no ato sentencial, sem
descuidar a especificidade da recidiva.

Portanto, seguem as penas provisórias em 02 (dois) anos e 02 (dois) meses


de reclusão, neste patamar tornadas definitivas, à míngua de causas de aumento e de
diminuição.
Por fim, interligado o aumento a ser operado, na continuidade delitiva, ao
número de infrações cometidas em sequência, consideradas as três infrações cometidas pelo
réu, caberia a aplicação da fração de 1/5. Contudo, eleito pela Sentenciante o patamar
mínimo, vai mantido, na ausência de irresignação ministerial. Nesse passo, aplica-se uma das
penas, idênticas, acrescida de 1/6, o que perfaz 02 (dois) anos e 06 (seis) meses e 10 (dez)
dias de reclusão.
O regime inicial de cumprimento da sanção corporal imposta ao réu será
mesmo o semiaberto, observado o quantum de pena infligida e a condição de reincidente do
increpado, motivo idôneo e suficiente para a imposição mais gravosa, a teor da iterativa
jurisprudência do STJ (AgRg no HC n. 718.952/SP, relator Ministro Sebastião Reis Júnior,
Sexta Turma, DJe de 08/04/2022).

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Observada a proporcionalidade do valor fixado com as circunstâncias do art.


59 do Código Penal, vai reduzida a pena de multa para 10 (dez) dias-multa, já estabelecida à
razão unitária mínima.

Mantidas as demais cominações sentenciais.


Pelo exposto, voto no sentido de acolher rejeitar as preliminares e, no
mérito, dar parcial provimento ao apelo, ao efeito de reduzir as penas impostas ao réu
para 02 (dois) anos, 06 (seis) meses e 10 (dez) dias de reclusão e 10 (dez) dias-multa,
mantidas as demais cominações sentenciais.

DES.ª VANDERLEI TERESINHA TREMEIA KUBIAK (REVISORA) - De acordo com


o(a) Relator(a).
DES. JONI VICTORIA SIMÕES - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. IVAN LEOMAR BRUXEL - Presidente - Apelação Crime nº 70085054336,


Comarca de São Marcos: "À UNANIMIDADE, REJEITARAM AS PRELIMINARES E,
NO MÉRITO, DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO, AO EFEITO DE
REDUZIR AS PENAS IMPOSTAS AO RÉU PARA 02 (DOIS) ANOS, 06 (SEIS) MESES
E 10 (DEZ) DIAS DE RECLUSÃO E 10 (DEZ) DIAS-MULTA, MANTIDAS AS DEMAIS
COMINAÇÕES SENTENCIAIS."

Julgador(a) de 1º Grau: ANA PAULA DELLA LATTA

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