Você está na página 1de 17

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

RECURSOS ESPECIAIS. ASSOCIAÇÃO


CRIMINOSA. ROUBO. DOSIMETRIA DA PENA-
BASE. PROPORCIONALIDADE. SÚMULA 83 DO
STJ. RECURSOS NÃO ADMITIDOS.

RECURSO ESPECIAL SEGUNDA VICE-PRESIDÊNCIA

Nº 70085747327 COMARCA DE TENENTE PORTELA


(Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)

ASSIS JOAQUIM RECORRENTE

PAULO RENATO DOS SANTOS RECORRENTE


RODRIGUES

IVAN SILVA DE LIMA RECORRENTE

LEANDRO NATALINO BATISTA ROYER RECORRENTE

MINISTERIO PUBLICO RECORRIDO

1. Trata-se de recursos especial interpostos contra o acórdão da Oitava


Câmara Criminal deste Tribunal de Justiça, que julgou apelação criminal, assim ementado
(fls. 3970/3972-verso):

APELAÇÃO. CRIME CONTRA A PAZ PÚBLICA. ASSOCIAÇÃO


CRIMINOSA ARMADA. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO.
ROUBOS MAJORADOS PELO CONCURSO DE AGENTES, EMPREGO
DE ARMA DE FOGO E RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DAS VÍTIMAS.
DANO QUALIFICADO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.
RÉU LEOMAR. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. MORTE DO
AGENTE. Diante da certidão de óbito do apelante, impende seja declarada
extinta a punibilidade, forte no inc. I do art. 107 do Código Penal.
PRELIMINAR. NULIDADE DA PROVA PRODUZIDA EM AUDIÊNCIA
POR VIOLAÇÃO AO ART. 212 DO CPP. INOCORRÊNCIA. A redação
do art. 212 do CPP, conferida pela Lei nº 11.690/08, alterou a forma de
inquirição das testemunhas pelas partes, de modo que as perguntas passaram
a ser formuladas diretamente aos inquiridos. Ao Juiz não foi retirada a
possibilidade de perquirir testemunhas, remanescendo viável a elaboração de
questionamentos, de modo que inexiste nulidade na atuação do Juízo
singular nas audiências de instrução, tampouco violação ao sistema

TRT/RB 1
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

acusatório. E a mera inversão da ordem de inquirição não conduz à


inarredável nulidade do ato, uma vez que, tratando-se de nulidade relativa, é
indispensável a demonstração de prejuízo, inocorrente na hipótese. Ademais,
não restou alegada oportunamente, fazendo-se matéria preclusa.
PRELIMINAR. ESTATUTO INDIGENISTA. LEI Nº 6.001/73. GRAU DE
INTEGRAÇÃO DO SILVÍCOLA. LAUDO ANTROPOLÓGICO.
DESNECESSIDADE NO CASO CONCRETO. Prescindível na espécie a
elaboração de laudo antropológico, tendo em vista a flagrante integração do
réu Assis à sociedade e aos costumes da civilização. A esse respeito, infere-
se de seu interrogatório a fluência do acusado na língua portuguesa e a
frequência no ensino fundamental até a 8ª série. Demais disso, à época dos
fatos, cumpria ele pena privativa de liberdade em regime semiaberto pelo
crime de homicídio, inserido no sistema penitenciário desde 10/03/2011,
afastando-se qualquer dúvida quanto à compreensão do increpado acerca de
seu agir em desacordo com as normais penais.
PRELIMINAR. INÉPCIA DA DENÚNCIA. NULIDADE DA SENTENÇA.
AUSÊNCIA DE INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS. NÃO
CONFIGURADA. Da leitura perfunctória da inicial acusatória conclui-se,
de plano, suficiente a descrição do fato criminoso resenhado, oportunizando-
se o conhecer da imputação e propiciando o exercício de defesa,
especificadas as condutas dos acusados, com a clara descrição dos tipos
penais que lhes foram imputados. Sentença descreveu individualmente os
elementos probatórios que conduziram à formação do convencimento e
conclusão condenatória, permitindo às defesas o pleno enfrentamento dos
fundamentos específicos de cada sentenciado em razões de apelação.
Prefaciais rejeitadas.
PRELIMINAR. NULIDADE DA SENTENÇA POR VIOLAÇÃO AOS
PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. Não se
constata a alegada mácula na alusão aos reconhecimentos fotográficos
realizados pela testemunha em ação penal conexa, procedidos ao arrepio da
defesa técnica dos apelantes, porquanto o restante do acervo probatório é
suficiente à solução condenatória. Ausência de prejuízo ao acusado.
Princípio pas de nullité sans grief.
ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (1º FATO). VÍNCULO ASSOCIATIVO
ESTÁVEL E PERMANENTE PARA A PRÁTICA DE CRIMES
DEMONSTRADO. CONDENAÇÃO MANTIDA. Para a caracterização do
crime contemplado no art. 288 do “Codex” repressivo, conforme redação
dada pela Lei nº 12.850/13, mister a associação de três ou mais pessoas, para
o fim específico do cometimento de infrações. Imperiosidade de vínculo
associativo estável e permanente entre os seus agentes com uma finalidade
preestabelecida da prática de delitos, sejam da mesma espécie ou não,
importando na ofensa à paz pública. Na espécie, a forma como articularam-
se os incriminados para a consecução dos roubos, cenário ao qual se agrega a
manutenção permanente de armas pelo grupo, com claras referências a
prática de crimes outros, e a constante troca de aparelhos e linhas
telefônicas, antes e após os presentes roubos, com nítido intento de
esquivarem-se de lastro das suas condutas, caracterizam um "consilium
TRT/RB 2
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

criminis" habitual, necessário à consubstanciação do delito. Condenação


mantida.
ROUBOS MAJORADOS (2º, 3º, 4º, 5º, 7º E 8º FATOS). RÉUS ASSIS,
ALESSANDRO, IVAN, PAULO RENATO E LEANDRO NATALINO.
MANUTENÇÃO DO DECRETO CONDENATÓRIO. O indigitar dos
apelantes como autores dos crimes de roubos desponta certeiro dos
substratos probatórios angariados desde a investigação policial, confirmados
sob o crivo do contraditório, aliados a robusta prova oral, elucidando a
dinâmica dos crimes. Acusados que invadiram a sede da Brigada Militar no
Município de Miraguaí/RS e, mediante violência e grave ameaça, renderam
a vítima policial militar, subtraindo-lhe armamento e bens relacionados (2º
fato). A seguir, amarraram o ofendido no capô de um de veículos e, levando
consigo também a viatura policial, seguiram em direção ao centro da cidade.
Na sequência, dividiram-se em dois grupos, rumando o primeiro ao Banco
Banrisul e o segundo à agência do SICREDI, onde subtraíram numerários
dos estabelecimentos (3º e 7º fatos), bens de propriedade de uma das clientes
(4º fato) e revólveres e coletes balísticos dos seguranças (5º e 8º fatos). Na
execução dos delitos, as vítimas foram compelidas à formação de “cordões
humanos” e algumas levadas como reféns nos veículos, uma delas amarrada
no capô de terceiro automotor. Os reféns foram libertados somente na saída
da cidade, local onde a viatura policial foi atravessada em via pública e
incendiada com uso de gasolina.
RÉUS JUCIANE, EVANDRO, JOÃO HENRIQUE E LEONARDO.
EXAME DO CONJUNTO PROBATÓRIO. INSUFICIÊNCIA. SENTENÇA
REFORMADA. ABSOLVIÇÃO. Os substratos carreados ao feito são
insuficientes para estruturar juízo condenatório. Sopesa em desfavor dos
apelantes mero indícios de participação nos delitos angariados no decorrer
da investigação e não confirmados sob o crivo do contraditório. Impõe-se,
assim, a absolvição dos acusados, à luz do princípio “in dubio pro reo”.
EMPREGO DE ARMA DE FOGO. CAUSA DE AUMENTO MANTIDA,
NOS LINDES DO ART. 157, §2-A, INC. I, DO CP. Demonstrada a
utilização de armas de fogo pelos executores das subtrações a partir dos
relatos vitimários e das imagens do 7º fato, prescindível sejam os
armamentos apreendidos e periciados para demonstração de seu potencial
lesivo, fins de caracterizar a circunstância majorante. Advento da Lei nº
13.654/18 que manteve a incidência da majorante no ordenamento jurídico,
trasladando-a ao inc. I do § 2º-A do art. 157 do CP, conferindo punição mais
severa, aplicando-se aos fatos anteriores a punição mais benéfica.
PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA. RÉUS ALESSANDRO E
ASSIS. A participação de que trata o art. 29, § 1º, do Código Penal diz
respeito à conduta que contribui para a produção do resultado de forma
menos significativa. In casu, é inviável o seu reconhecimento em relação aos
apelantes Alessandro e Assis, na medida em que atuaram, no mínimo, como
condutores dos automóveis utilizados na fuga do grupo, agir de expressiva
relevância ao desiderato almejado, especialmente por se tratar de evasão por
rotas próprias da reserva indígena, tarefa que exigia especial conhecimento,
sem descuidar a atuação em associação criminosa.
TRT/RB 3
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

DANO QUALIFICADO (9º FATO). PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. ART.


580 DO CPP. EXTENSÃO DOS EFEITOS DO PROCESSO CONEXO.
POSSIBILIDADE. ABSOLVIÇÃO. Nos termos do art. 580 do CPP, a
decisão proferida em acórdão que absolveu os acusados no processo conexo
deve ter seus efeitos estendidos aos ora apelantes, sob pena de ofensa ao
princípio da isonomia. Crime de dano à viatura da Brigada Militar absorvido
pelo delito de roubo à sede da Instituição. Incaracterizado tipo penal
autônomo, forte no art. 386, inc. III, do Código de Processo Penal.
ATENUANTES. CONFISSÃO ESPONTÂNEA DE ASSIS E IVAN.
ATENUANTE DO ART. 56 DA LEI Nº 6.001/76. RÉU ASSIS. NÃO
RECONHECIMENTO. Tese escusatória do acusado Assis, dando conta da
concessão de carona ao corréu Alessandro, com negativa de participação na
empreitada criminosa, e a suposta admissão informal de Ivan aos policiais,
com negativa de autoria perante a Autoridade Policial e em Juízo, que não
influenciaram à formação do convencimento. Atenuante prevista no Estatuto
Indigenista aplicável apenas ao silvícola não integrado à sociedade,
circunstância alheia ao réu Assis. Precedentes.
DOSIMETRIA DA PENA. PARCIAL PROVIMENTO DOS RECURSOS
MINISTERIAL E DEFENSIVOS. EXTENSÃO DOS EFEITOS DE
NATUREZA OBJETIVA. Redimensionas as penas finais dos réus ASSIS e
IVAN para 21 (vinte e um) anos, 10 (dez) meses e 14 (quatorze) dias de
reclusão, em regime inicial fechado, e 24 (vinte e quatro) dias-multa, à razão
unitária mínima; do réu ALESSANDRO para 23 (vinte e três) anos, 08 (oito)
meses e 29 (vinte e nove) dias de reclusão, em regime inicial fechado, e 26
(vinte e seis) dias-multa, à razão unitária mínima, e dos réus PAULO
RENATO e LEANDRO NATALINO para 24 (vinte e quatro) anos, 05
(cinco) meses e 29 (vinte e nove) dias de reclusão, em regime inicial
fechado, e 26 (vinte e seis) dias-multa, à razão unitária mínima.
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. RÉUS ASSIS, IVAN,
ALESSANDRO E LEANDRO NATALINO. CONCESSÃO. Assistidos, os
réus IVAN e ASSIS, pela Defensoria Pública, e em Pretório referindo os
acusados Alessandro e Leandro Natalino labor em agricultura e auxiliar de
produção, respectivamente, denota-se não possuírem condições de arcar com
as custas e demais despesas processuais, sem comprometimento da
subsistência. Concedido o benefício da Assistência Judiciária Gratuita, fins
de suspender a exigibilidade do pagamento das custas processuais, nos
termos do art. 98, § 3º, do CPC, subsidiariamente aplicado por força do art.
3º do CPP.
PREQUESTIONAMENTO. O Julgador não está obrigado a esgotar os
fundamentos e artigos de lei invocados pelas partes, quando suficientemente
expostos, de forma clara e precisa, os argumentos de sua convicção.
DECLARADA EXTINTA A PUNIBILIDADE DO RÉU LEOMAR.
PRELIMINARES REJEITADAS. APELOS DOS RÉUS JUCIANE,
LEONARDO, EVANDRO E JOÃO HENRIQUE PROVIDOS. APELOS
DOS RÉUS ASSIS, ALESSANDRO, LEANDRO NATALINO, IVAN E
PAULO RENATO PARCIALMENTE PROVIDOS. APELO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO PARCIALMENTE PROVIDO.
TRT/RB 4
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

No recurso especial de fls. 4043/4046-verso, forte no artigo 105, inciso III,


alínea a, da Constituição da República, ASSIS JOAQUIM, PAULO RENATO DOS
SANTOS RODRIGUES e IVAN SILVA DE LIMA alegam que o acórdão recorrido negou
vigência ao artigo 59 do Código Penal, já que “não se justifica o aumento da reprimenda
acima do ordinário, a menos que o magistrado, considerando as preculiaridades do caso
concreto, constatea existência de circunstâncias que indiquem a necessidade de
exasperação, o que não ocorreu no caso concreto” (fl. 4046).
No recurso especial de fls. 4049/, forte no artigo 105, inciso III, alíneas a e c,
da Constituição da República, LEANDRO NATALINO BATISTA ROYER alega que o
acórdão recorrido negou vigência ao artigo 59 do Código Penal, pois desproporcional a
elevação da pena-base.

Apresentadas as contrarrazões, vêm os autos a esta Segunda Vice-


Presidência para exame da admissibilidade recursal.

É o relatório.

2. Realizo o juízo de admissibilidade, em conjunto, dos recursos especiais


interpostos, diante da identidade de razões e pedido.

3. O recurso especial, prima facie, não se presta à revisão da fixação da


pena. Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, “salvo em hipóteses
excepcionais, quando flagrante a ofensa a lei federal, o recurso especial não é via adequada
para o reexame dos parâmetros adotados na graduação da pena-base, visto que a análise
das circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal envolve, na maioria das vezes,
particularidades subjetivas, decorrentes do livre convencimento motivado” (AgRg no
AREsp 666.758/CE, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, julgado em
15/12/2015, DJe 04/02/2016).

A propósito da fixação da pena-base acima do mínimo legal, Superior


Tribunal de Justiça considera que “a ponderação das circunstâncias judiciais não constitui
TRT/RB 5
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

mera operação aritmética, em que se atribuem pesos absolutos a cada uma delas, mas sim
exercício de discricionariedade vinculada, devendo o Direito pautar-se pelo princípio da
proporcionalidade e, também, pelo elementar senso de justiça” (HC 534.288/SP, Rel.
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 10/12/2019, DJe
19/12/2019).

Nesse sentido são os seguintes precedentes:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO


DE ENTORPECENTES E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO.
DOSIMETRIA. PENAS-BASE. VALORAÇÃO NEGATIVA DA
QUANTIDADE E NATUREZA DAS DROGAS APREENDIDAS E DA
LIDERANÇA EXERCIDA PELO PACIENTE NO GRUPO CRIMINOSO.
CRITÉRIOS IDÔNEOS PARA AS EXASPERAÇÕES. QUANTUM
PROPORCIONAL. AUSÊNCIA DE NOVOS ARGUMENTOS APTOS A
DESCONSTITUIR A DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO. [...]
IV - Em relação ao quantum de aumento de pena na primeira fase da
dosimetria, a jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que os
parâmetros para a exasperação da reprimenda devem observar o
critério da discricionariedade juridicamente vinculada, a qual, por sua
vez, está submetida os princípios da proporcionalidade, da
razoabilidade, da suficiência da reprovação e da prevenção ao crime.
V - Não se admite a adoção de critério meramente matemático, atrelado
apenas ao número de circunstâncias judiciais desfavoráveis.
Deve-se, na verdade, analisar os elementos que indiquem eventual
gravidade concreta do delito, além das condições pessoais de cada
agente, de forma que uma circunstância judicial desfavorável poderá
receber mais desvalor que outra, exatamente em obediência aos
princípios da individualização da pena e da própria proporcionalidade.
VI - A análise das circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal
não atribui pesos absolutos para cada uma delas a ponto de ensejar uma
operação aritmética dentro das penas máximas e mínimas cominadas ao
delito. Assim, é possível até mesmo que o magistrado fixe a pena- base
no máximo legal, ainda que tenha valorado tão somente uma
circunstância judicial, desde que haja fundamentação idônea e bastante
para tanto (AgRg no REsp 1.433.071/AM, Sexta Turma, Relª. Minª. Maria
Thereza de Assis Moura, DJe de 6/5/2015).
VII - Verifica-se que as instâncias de origem exasperaram as penas-base
tendo em vista natureza, quantidade e variedade de drogas, nos termos do
art. 42, da Lei de Drogas, para ao delito de tráfico, e a especial posição de
liderança e coordenação do paciente na associação para o tráfico de drogas.

TRT/RB 6
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

VIII - E, tendo em vista as particularidades do caso, ante a exasperação das


penas- base na fração de 1/5, para o tráfico de drogas e 2/3 para o delito de
associação para o tráfico, a qual foi baseada na gravidade concreta das
condutas, não se verifica desproporcionalidade na pena aplicada, a justificar
a atuação de ofício desta Corte.
IX - A toda evidência, o decisum agravado, ao confirmar o aresto
impugnado, rechaçou as pretensões da defesa por meio de judiciosos
argumentos, os quais encontram amparo na jurisprudência deste Sodalício.
Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 658.586/SP, Rel. Ministro
JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJDFT),
QUINTA TURMA, julgado em 24/08/2021, DJe 30/08/2021; grifou-se)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL. TRÁFICO


DE DROGAS. DOSIMETRIA. PENA-BASE. AUSÊNCIA DE
VINCULAÇÃO A CRITÉRIOS PURAMENTE MATEMÁTICOS.
AUMENTO PROPORCIONAL, CONSIDERADAS AS PENAS MÍNIMAS
E MÁXIMAS COMINADAS PELO LEGISLADOR AO DELITO E A
EXPRESSIVA QUANTIDADE DE ENTORPECENTES APREENDIDA.
ART. 42 DA LEI N. 11.343/2006. AGRAVO DESPROVIDO.
1. O quantum de aumento na pena-base, a ser implementado em
decorrência do reconhecimento de circunstâncias judiciais
desfavoráveis, fica adstrito ao prudente arbítrio do Juiz, não vinculado
ao objetivado critério matemático.
2. O julgador, quando considerar desfavoráveis as circunstâncias
judiciais, deve declinar, motivadamente, as suas razões, pois a
inobservância dessa regra ofende o preceito contido no art. 93, inciso IX,
da Constituição da República.
3. Vale referir que o art. 42 da Lei n. 11.343/2006 determina, no cálculo da
pena, "a consideração, preponderantemente, da natureza e quantidade da
droga" (STJ, HC 493.263/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK,
QUINTA TURMA, julgado em 07/05/2019, DJe 20/05/2019).
4. In casu, o Magistrado optou por elevar a pena-base na fração de 1/3 (um
terço) diante da exacerbada quantidade de droga apreendida (31,04kg de
maconha). Dessa forma, considerando-se o intervalo da pena abstrata
cominada ao crime de tráfico de drogas - 5 (cinco) a 15 (quinze) anos -, não
se mostra desproporcional ou desarrazoada a fixação da pena-base em 1/3
(um terço) acima do mínimo legal.
5. Agravo desprovido. (AgRg no HC 635.329/SP, Rel. Ministra LAURITA
VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 09/03/2021, DJe 19/03/2021; grifou-se)

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE


HOMICÍDIO. DOSIMETRIA DA PENA. SUPOSTA INIDONEIDADE NA
FUNDAMENTAÇÃO LANÇADA NA NEGATIVAÇÃO DA
CULPABILIDADE. MPROCEDÊNCIA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
PRECEDENTES DESTA CORTE. DESPROPORCIONALIDADE.
IMPROCEDÊNCIA. DOSIMETRIA (PENA-BASE) QUE NÃO SEGUE

TRT/RB 7
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

CRITÉRIO MATEMÁTICO. DISCRICIONARIEDADE VINCULADA.


PRECEDENTES DESTA CORTE.
1. A extensão das lesões causadas na vítima e a brutalidade do crime,
extraída do fato de que as agressões prosseguiram com a vítima já caída,
consubstanciam fundamentação idônea para a valoração negativa da
culpabilidade no crime de tentativa de homicídio.
2. A legislação penal não estabeleceu nenhum critério matemático (fração)
para a fixação da pena na primeira fase da dosimetria. Nessa linha, a
jurisprudência desta Corte tem admitido desde a aplicação de frações de
aumento para cada vetorial negativa: 1/8, a incidir sobre o intervalo de
apenamento previsto no preceito secundário do tipo penal incriminador (HC
n. 463.936/SP, Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe 14/9/2018); ou
1/6 (HC n. 475.360/SP, Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJe
3/12/2018); como também a fixação da pena-base sem a adoção de nenhum
critério matemático.
3. Não há falar em um critério matemático impositivo estabelecido pela
jurisprudência desta Corte, mas, sim, em um controle de legalidade do
critério eleito pela instância ordinária, de modo a averiguar se a pena-
base foi estabelecida mediante o uso de fundamentação idônea e
concreta (discricionariedade vinculada).
4. No caso, considerando que a instância ordinária utilizou de
fundamentação idônea para aumentar a pena e aplicou um critério, dentro da
discricionariedade vinculada que lhe é assegurada pela lei, não há falar em
ilegalidade na fixação da pena-base.
5. Agravo regimental improvido. (AgRg no HC 603.620/MS, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 06/10/2020,
DJe 09/10/2020; grifou-se)

Conforme decidido pela Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça no


AgRg no REsp 1.433.071/AM, Relatora Ministra Maria Thereza de Assis Moura, em 06 de
maio de 2015, “a confecção da dosimetria da pena não é uma operação matemática, e nada
impede que o magistrado fixe a pena-base no máximo legal, ainda que tenha valorado tão
somente uma circunstância judicial, desde que haja fundamentação idônea e bastante para
tanto”.

A esse propósito o seguinte julgado:

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. CRIME DE


RESPONSABILIDADE. DESVIO DE VERBA PÚBLICA. DOSIMETRIA.
PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO. MAUS ANTECEDENTES.
CONDENAÇÕES ALCANÇADAS PELO PERÍODO DEPURADOR.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. CONSEQUÊNCIAS DO DELITO.
TRT/RB 8
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. QUANTUM DE AUMENTO QUE SE


MOSTRA PROPORCIONAL. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO
ILEGAL. AGRAVO IMPROVIDO.
1. Quanto ao pleito de revisão da dosimetria da pena, deve-se ressaltar que
cabe às Cortes Superiores apenas o controle da legalidade e da
constitucionalidade dos critérios aplicados pelas instâncias ordinárias,
visando evitar eventuais arbitrariedades, por inobservância dos parâmetros
legais ou do entendimento jurisprudencial firmado. Diante disso, salvo
excepcional flagrante ilegalidade, o reexame da presença de circunstâncias
judiciais e da existência dos elementos concretos utilizados para a
individualização da pena evidenciam-se inadequados à estreita via do habeas
corpus, pois exigiriam revolvimento de matéria fático-probatória.
2. Consoante orientação sedimentada nesta Corte Superior, condenações
passadas em julgado, atingidas pelo período depurador previsto em lei,
embora não sirvam para atestar a reincidência do réu, podem ser
consideradas como maus antecedentes para exasperar a pena-base.
3. No caso dos autos, considerando as penas mínima e máxima
abstratamente cominadas ao delito (2 a 12 anos de reclusão), tem-se que a
pena-base (majorada em 2 anos e 6 meses acima do mínimo legal) foi fixada
de acordo com o princípio da legalidade e pautada por critérios de
proporcionalidade e razoabilidade, não justificando a atuação de ofício desta
Corte Superior.
4. Quanto ao argumento de desproporcionalidade, como é cediço, a
análise das circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal não
atribui pesos absolutos para cada uma delas a ponto de ensejar uma
operação aritmética dentro das penas máximas e mínimas cominadas ao
delito. Assim, é possível até mesmo que o magistrado fixe a pena-base no
máximo legal, ainda que tenha valorado tão somente uma circunstância
judicial, desde que haja fundamentação idônea e bastante para tanto
(AgRg no REsp 143071/AM, Relatora Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA, Sexta Turma, DJe 6/5/2015).
5. Agravo improvido. (AgRg no HC 687.715/CE, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
16/11/2021, DJe 19/11/2021; grifou-se)

Ademais, conforme recentes decisões de ambas as Turmas da Terceira Seção


do Superior Tribunal de Justiça, “na primeira fase da dosimetria da pena, não há direito do
subjetivo do réu à adoção de alguma fração específica de exasperação para cada
circunstância judicial desfavorável, seja ela de 1/6 sobre a pena-base, 1/8 do intervalo entre
as penas mínima e máxima ou mesmo outro valor. Tais frações são parâmetros aceitos pela
jurisprudência do STJ, mas não se revestem de caráter obrigatório, exigindo-se apenas que
seja proporcional o critério utilizado pelas instâncias ordinárias” (AgRg no REsp

TRT/RB 9
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

1951442/PE, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em


23/11/2021, DJe 29/11/2021).

Nessa senda, citam-se os seguintes precedentes:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL E


PROCESSO PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. EXASPERAÇÃO
DA PENA-BASE. CULPABILIDADE E CONSEQUÊNCIAS DO CRIME.
FUNDAMENTAÇÃO BASEADA EM ELEMENTOS CONCRETOS QUE
TRANSBORDAM O TIPO PENAL. AUSÊNCIA DE
DESPROPORCIONALIDADE NA DOSIMETRIA DA PENA.
1. O fato de o crime haver sido cometido diante do filho da vítima
caracteriza circunstância que transborda o tipo penal, justificando o aumento
da pena-base. Tal circunstância não configura bis in idem relativo à
qualificadora do meio cruel, haja vista que não há nos autos prova de que o
fundamento da qualificadora seja o mesmo da circunstância judicial.
2. Não há ilegalidade em se considerar o fato de o crime ter sido cometido na
frente do filho da vítima como fundamento para a exasperação da
culpabilidade e, por outro lado, considerar que as 52 facadas desferidas
contra a vítima constituem a qualificadora do meio cruel.
3. A jurisprudência desta Corte entende que "embora a morte da vítima seja
consequência ínsita ao tipo penal de homicídio, não ensejando, por si só, a
elevação da reprimenda, no caso, o ofendido era arrimo de família,
particularidade que ficou bem delimitada nos títulos judiciais da origem,
estando, assim, autorizada a elevação da pena" (PExt no HC 511.798/SP,
Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 28/04/2020, DJe 05/05/2020) .
4. O julgador não está vinculado a rígidos critérios matemáticos para a
exasperação da pena-base, pois isso está no âmbito da sua
discricionariedade, embora ao fazê-lo deva fundamentar com elementos
concretos da conduta do acusado.
5. O réu não tem direito subjetivo à utilização das frações de 1/6 sobre a
pena-base, 1/8 do intervalo entre as penas mínima e máxima ou mesmo
outro valor. Tais parâmetros não são obrigatórios, porque o que se exige
das instâncias ordinárias é a fundamentação adequada e a
proporcionalidade na exasperação da pena. Precedente.
6. Agravo regimental improvido.(AgRg no HC 707.862/AC, Rel. Ministro
OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª
REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 22/02/2022, DJe 25/02/2022;
grifou-se)

PENAL. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. 1) DESPROPORCIONALIDADE DA PENA-BASE.
INEXISTÊNCIA DE CRITÉRIO MATEMÁTICO OU IMPOSIÇÃO DE

TRT/RB 10
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

FRAÇÃO ESPECÍFICA. 2) REFORMATIO IN PEJUS. AUSÊNCIA DE


PREQUESTIONAMENTO. RECONHECIMENTO DE OFÍCIO.
IMPOSSIBILIDADE. 3) AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. "A legislação penal não estabeleceu nenhum critério matemático
(fração) para a fixação da pena na primeira fase da dosimetria. Nessa
linha, a jurisprudência desta Corte tem admitido desde a aplicação de
frações de aumento para cada vetorial negativa: 1/8, a incidir sobre o
intervalo de apenamento previsto no preceito secundário do tipo penal
incriminador (HC n. 463.936/SP, Ministro Ribeiro Dantas, Quinta
Turma, DJe 14/9/2018); ou 1/6 (HC n. 475.360/SP, Ministro Felix
Fischer, Quinta Turma, DJe 3/12/2018);como também a fixação da
pena-base sem a adoção de nenhum critério matemático. [...] Não há
falar em um critério matemático impositivo estabelecido pela
jurisprudência desta Corte, mas, sim, em um controle de legalidade do
critério eleito pela instância ordinária, de modo a averiguar se a pena-
base foi estabelecida mediante o uso de fundamentação idônea e
concreta (discricionariedade vinculada)" (AgRg no HC n. 603.620/MS,
relator Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, DJe
9/10/2020).
2. A ausência de prequestionamento impede a análise do tema nesta Corte -
reformatio in pejus - sendo aplicável a Súmula n. 211 desta Corte,
lembrando que mesmo as matérias consideradas de ordem pública exigem o
prequestionamento como requisito necessário para a abertura da via especial.
3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1921673/RS, Rel.
Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
08/02/2022, DJe 14/02/2022; grifou-se)

No caso, pois, Órgão Julgador elevou, fundamentadamente, as penas-bases


dos Recorrentes, conforme se lê do supratranscrito excerto do voto condutor (fls. 4021-
verso/4031-verso):

DO APENAMENTO.
Insurgem-se o Ministério Público e as defesas dos acusados IVAN,
ALESSANDRO e ASSIS em face das penas impingidas.
Inicialmente, em atenção à arguição de nulidade em face da violação
ao princípio da individualização da pena, insta consignar que a identidade no
resultado punitivo dos sentenciados (divergente apenas quanto a Juciane,
Leomar e João Henrique) decorre da valoração das circunstâncias objetivas
que permearam os fatos pelos quais todos resultaram condenados e da
similitude de suas condições pessoais. Houve, pelo Sentenciante, a
imposição de penas de modo particularizado e fundamentado, permitindo o
conhecimento das razões que levaram ao afastamento das sanções de seus
pisos em relação a cada incriminado, conforme preceito do art. 93, inc. IX,
da Constituição Federal.

TRT/RB 11
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

Isso posto, passo à análise da reprimenda à luz de cada fato criminoso.


1º fato (associação criminosa):
Na etapa inicial do cálculo dosimétrico, o Julgador monocrático
estabeleceu aos apelantes ASSIS, ALESSANDRO, IVAN, PAULO
RENATO e LEANDRO NATALINO a basilar em 01 (um) ano e 02 (dois)
meses de reclusão, assim analisando as circunstâncias judiciais do art. 59 do
Código Penal: [...]
Vê-se elevadas as penas de partida em 02 (dois) meses pela nota
negativa emprestada aos vetores motivo, circunstâncias e consequências do
crime.
As defesas postulam redução, ao passo que o “Parquet” requer sejam
tisnadas as moduladoras circunstâncias, culpabilidade, consequências e, aos
réus ALESSANDRO, PAULO RENATO e LEANDRO NATALINO, os
antecedentes.
De fato, as circunstâncias revelaram-se mais gravosas, pois reunidos
à prática de crimes pelo menos cinco agentes, o tipo satisfazendo-se com
apenas três, os quais buscaram parceria com as lideranças indígenas para a
preparação e execução dos roubos. Os agentes ainda instauraram bases na
região, notadamente nas propriedades do réu LEOMAR em Redentora e em
acampamento na terra indígena, elaboraram plano ousado e, à concretização
dos desideratos ilícitos, confeccionaram miguelitos.
As consequências do crime atrelam-se a realização de diversos outros
delitos de intensa gravidade, mediante grave ameaça e violência física, com
dezenas de vitimados, alguns levados à condição de escudo humano,
circunstância flagrantemente atemorizante.
Os motivos e a culpabilidade não desbordaram da espécie delitiva
para além da conjuntura acima esposada e dos contornos da majorante, sem
especial reprovabilidade a etnia indígena de ASSIS e o fato de
ALESSANDRO ser mestiço, pois não lhes era depositada especial confiança
para proteção da comunidade.
Quanto ao histórico criminal dos acusados, ostentam apenas uma
condenação definitiva os réus ASSIS (pelo delito de homicídio qualificado,
nº 093/2.11.0000248-0, trânsito em julgado em 06/08/2012, fls. 2894/2895)
e IVAN (pelo crime de furto, nº 020/2.14.0001502-5, trânsito em julgado em
17/01/2017, fls. 2910/2911), registros que serão utilizados para caracterizar a
agravante da reincidência.
O réu ALESSANDRO (fls. 2896/2899) foi condenado pelos crimes
de homicídio qualificado (nº 132/2.05.0001354-1, trânsito em julgado em
08/01/2007), roubo majorado (nº 132/2.05.0001535-8, trânsito em julgado
em 26/02/2009) e por delito previsto no Estatuto do Desarmamento (nº
132/2.11.0002834-5, trânsito em julgado em 01/02/2013), prestando-se o
primeiro a alicerçar os maus antecedentes e os demais a delinear a
agravante.
O réu LEANDRO NATALINO (fls. 2905/2909) resultou condenado
em quatro ações penais por delitos de roubo e furto, duas servindo à
configuração dos maus antecedentes (nº 009/2.04.0003753-1, com extinção
ou cumprimento da pena em 29/01/2007, e 009/2.08.0001057-6, com
TRT/RB 12
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

extinção ou cumprimento da pena em 09/12/2009) e duas, à recidiva (nº


009/2.11.0000681-7, extinção ou cumprimento da pena em 11/03/2013, e nº
009/2.13.0001469-4, trânsito em julgado em 09/09/2014).
O réu PAULO RENATO (fls. 2900/2904) ostenta duas condenações
criminais pelo crime do art. 309 do CTB (nº 009/2.07.0001617-3, este com
extinção ou cumprimento da pena em 19/12/2008, e nº 009/2.08.0001958-1,
extinção ou cumprimento da pena em 11/07/2012) e também pelos delitos de
desacato (nº 009/2.08.0001327-3, extinção ou cumprimento da pena em
11/07/2012) e ameaça (nº 009/2.15.0002142-2, extinção ou cumprimento da
pena em 02/05/2017). Reservados os dois derradeiros registros à segunda
etapa dosimétrica, os demais afiguram os maus antecedentes.
Esclareço que as condenações de PAULO RENATO nas ações nº
009/2.14.0004231-2 (art. 34 da LCP) e nº 009/2.15.0002458-8 (art. 28 da Lei
nº 11.343/06) não se prestam ao incremento da pena do incriminado. No
aspecto, coaduno do entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça
acerca da desproporcionalidade do reconhecimento dos maus antecedentes e
da recidiva a partir da condenação por contravenção penal e pelo delito
previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006. [...]
Destarte, acolho em parte os apelos para afastar o desvalor dos
motivos e tisnar em maior grau as circunstâncias e consequências dos
crimes, além de reconhecer os maus antecedentes de ALESSANDRO,
PAULO RENATO e LEANDRO NATALINO, fixando as penas de partida
de ASSIS e IVAN em 01 (um) ano e 04 (quatro) meses de reclusão e de
ALESSANDRO, PAULO RENATO e LEANDRO NATALINO em 01
(um) ano e 06 (seis) meses de reclusão.
Na segunda etapa, merece confirmação o agravamento das penas no
patamar de 1/6 (um sexto) em virtude da circunstância agravante da
reincidência, perfazendo as provisórias de ASSIS e IVAN em 01 (um) ano,
06 (seis) meses e 20 (vinte) dias de reclusão e de ALESSANDRO,
PAULO RENATO e LEANDRO NATALINO em 01 (um) ano e 09
(nove) meses de reclusão.
Na derradeira etapa, presente a majorante do parágrafo único do art.
288 do CP, a qual prevê o incremento da pena em até metade, operado na
sentença em 1/3. Assiste razão ao Ministério Público ao postular o
redimensionamento da fração ao patamar máximo.
A causa de aumento em liça visa punir com maior rigor os agentes que
se associam ao cometimento de crimes e, para tanto, utilizam armas. Na
lição de Cleber Masson, Como a lei não fez qualquer tipo de restrição, a
causa de aumento da pena incidirá tanto na hipótese de arma própria, ou
seja, instrumento concebido com a finalidade precípua de ataque ou defesa
(exemplos: revólver, pistola, espingarda, punhal etc.), como no caso de
arma imprópria, é dizer, objetivo criado com finalidade diversa, mas que
pode ser utilizado para ataque ou defesa (exemplos: barra de ferro, chave
de fenda, taco de beisebol etc.). A arma branca, compreendida como o
instrumento dotado de ponta ou gume (faca, espada, machado etc.)
igualmente enseja o aumento da reprimenda (MASSON, Cleber. Direito

TRT/RB 13
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

penal: parte especial (arts. 213 a 359-T) 12 ed. Rio de Janeiro: Método,
2022. Pág. 393).
Portanto, basta o uso de uma arma, independentemente de sua
natureza, para atrair a incidência da majorante ao tipo penal. Já a eleição da
fração deve ser norteada pela qualidade, quantidade e forma de emprego dos
artefatos de que se muniram os criminosos. Na hipótese, relataram as
testemunhas visualizadas diversas armas longas (ao que tudo indica,
calibre .12), as quais foram efetivamente disparadas no início das ações nos
estabelecimentos bancários. E das conversas mantidas entre ALESSANDRO
e membro ignoto da associação, obtidas no telefone celular de
ALESSANDRO, depreende-se a importância destes artefatos ao grupo, haja
vista a acentuada preocupação da fuga de Misael na posse das armas,
justificando a majoração em ½.
Ausentes causas modificativas outras, perfazem as penas definitivas
de ASSIS e IVAN em 02 (dois) anos e 04 (quatro) meses de reclusão e de
ALESSANDRO, PAULO RENATO e LEANDRO NATALINO em 02
(dois) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão.
2º, 3º, 4º, 5º, 7º e 8º fatos (roubos majorados):
As basilares dos crimes de roubo foram estabelecidas em 07 (sete)
anos de reclusão a cada réu. Reproduzo a sentença combatida no ponto em
que arbitrada a reprimenda ao acusado ASSIS, salientando valoradas as
mesmas circunstâncias judiciais relativamente a ALESSANDRO, PAULO
RENATO, IVAN e LEANDRO NATALINO, in verbis (grifos meus): [...]
Infere-se tisnados os vetores circunstâncias e consequências de todos
os crimes e os antecedentes dos acusados. As defesas requerem a redução,
enquanto o Ministério Público visa a valoração da culpabilidade e maior
grau no afastamento do piso legal.
Importa esclarecer, a falta de particularização do “quantum” de
incremento para cada moduladora negativada não macula a operação
dosimétrica em decorrência da falta de fundamentação. Sobre a matéria, o
Superior Tribunal de Justiça assentou que A ponderação das circunstâncias
judiciais não constitui mera operação aritmética, em que se atribuem pesos
absolutos a cada uma delas, mas sim exercício de discricionariedade
vinculada, devendo o Direito pautar-se pelo princípio da proporcionalidade
e, também, pelo elementar senso de justiça (AgRg no HC 658.477/SP, Rel.
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 27/04/2021, DJe 03/05/2021). Portanto, explicitados à saciedade
os motivos para o afastamento da pena do mínimo legal, não há falar em eiva
a tornar imperiosa o retorno ao piso. Para além disso, é certo, não existe um
direito subjetivo do acusado de ter 1/6 de aumento da pena mínima para
cada circunstância judicial sopesada negativamente (STJ, AgRg no REsp
1919606/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 23/03/2021, DJe 29/03/2021).
Prosseguindo-se, quanto às circunstâncias objetivas, na esteira do art.
580 do CPP, necessário estender os patamares aplicados no julgamento do
recurso de apelação nº 5000787-63.2017.8.21.0138, sob pena de ofensa ao
princípio da isonomia, adiantando que idêntica solução aplica-se à fração
TRT/RB 14
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

pelas majorantes e ao concurso de crimes. Nesse sentido, aos réus


VALDONÊS e VALDI sopesou em seu desfavor as circunstâncias de todos
os crimes, em virtude da atuação na condição de cacique 1 (fundamento sem
vinculação aos ora acusados), com respectivo incremento de um ano, e as
consequências do 2º fato (“As consequências do delito se mostraram
relevantes, pois o trauma causado à vítima fez com que não mais
conseguisse exercer a sua atividade profissional de policial militar,
encaminhando-se à reserva.”), 3º fato (“As consequências do delito se
mostraram relevantes, tendo em vista a expressiva quantia em dinheiro
subtraída”) e 7º fato (“As consequências do delito se mostraram relevantes,
tendo em vista a expressiva quantia em dinheiro subtraída”), com
incremento de 05 (cinco) meses por esta nota negativa.
Assim, para todos os acusados, as penas do 2º, 3º e 7º fatos vão
acrescidas de 05 (cinco) meses por força das consequências negativas dos
crimes.
No tocante às circunstâncias dos delitos, igualmente revelaram-se
mais gravosas aos increpados, todos atuantes diretos dos roubos, merecendo
confirmação a mácula impingida na origem e a elevação das penas em maior
grau. Primeiro porque a prática do 2º fato serviu à neutralização da força
policial da Cidade de Miraguaí, subtraídos os bens a serviço da segurança
pública e inibida a ação do policial militar em atuação. Ademais, para a
execução, utilizaram-se de veículos de origem ilícita e miguelitos, além de
utilizarem os ofendidos como escudo de proteção, o que extrapola os
contornos próprios do tipo penal. E não apenas restringiram a liberdade dos
ofendidos Marcos Valdemar (2º fato) e Éder Luciano (7º e 8º fatos) ao
amarrá-los no capô dos automóveis (circunstância que será sopesada na
terceira fase), como assim o fizeram com o escopo de aterrorizar as vítimas,
já subjugadas pelo poderio bélico dos criminosos. Não se descuida ainda a
violência física empregada em face de Marcos Valdemar (2º fato), Ezequiel
Freitas Dias (6º fato), Éder Luciano e Regina Foss (7º e 8º fatos), conforme
por eles relatado na seara judicial. Por tudo, deve ser preservado o tom
negativo das circunstâncias de todos os delitos, com a respectiva
elevação das penas em 01 (um) ano e 02 (dois) meses.
Os maus antecedentes despontam em relação a ALESSANDRO, a
PAULO RENATO e a LEANDRO NATALINO, conforme explicitado
na análise do 1º fato, justificando-se o acréscimo de 08 (oito) meses.
Banda outra, ASSIS e IVAN ostentam somente condenação definitiva
caracterizadora da recidiva, motivo pelo qual vai extirpado o desvalor em
comento.
A culpabilidade dos incriminados, nos termos postulados pela
acusação, não excedeu o extraordinário, tal como posto por ocasião da
dosimetria do 1º fato, na medida em que não era incumbência dos réus
moradores locais assegurar a segurança local.

1
In verbis: “As circunstâncias do crime de fato extrapolam àquelas que tornam típica a conduta, considerando o
fato de que o réu era Cacique e prevaleceu dessa condição para emprestar sua autoridade em favor dos meliantes
que executaram o crime, fornecendo logística para o bom logro da empreitada e também para assegurar a sua
impunidade.”
TRT/RB 15
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

Quanto à conduta social de ASSIS, reputado neutro o vetor


respectivo, esclareço que foram consideradas as testemunhas abonatórias.
Com efeito, as declarações atestando boa conduta do acusado em sociedade
refletem a própria presunção de idoneidade no comportamento do indivíduo,
que será abalada apenas por prova contrária.
Analisadas as circunstâncias do art. 59 do CP, prossigo na
individualização do apenamento.
RÉU ASSIS:
As basilares do 2º, 3º e 7º fatos vão readequadas para 05 (cinco) anos
e 07 (sete) meses de reclusão e do 4º, 5º e 8º fatos para 05 (cinco) anos e 02
(dois) meses de reclusão. [...]
RÉU IVAN:
As basilares do 2º, 3º e 7º fatos vão readequadas para 05 (cinco) anos
e 07 (sete) meses de reclusão e do 4º, 5º e 8º fatos para 05 (cinco) anos e 02
(dois) meses de reclusão. [...]
RÉU ALESSANDRO:
As basilares do 2º, 3º e 7º fatos vão readequadas para 06 (seis) anos e
03 (três) meses de reclusão e do 4º, 5º e 8º fatos para 05 (cinco) anos e 10
(dez) meses de reclusão. [...]
RÉU PAULO RENATO:
As basilares do 2º, 3º e 7º fatos vão readequadas para 06 (seis) anos e
03 (três) meses de reclusão e do 4º, 5º e 8º fatos para 05 (cinco) anos e 10
(dez) meses de reclusão. [...]
RÉU LEANDRO NATALINO:
As basilares do 2º, 3º e 7º fatos vão readequadas para 06 (seis) anos e
03 (três) meses de reclusão e do 4º, 5º e 8º fatos para 05 (cinco) anos e 10
(dez) meses de reclusão. [...] [grifos no original]

Incide, portanto, a Súmula 83 do Superior Tribunal de Justiça, segundo a


qual "não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do tribunal
se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida", aplicável ao recurso interposto tanto pela
alínea a quanto pela c do artigo 105, inciso III, da Constituição da República, conforme se lê
do seguinte precedente:

AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO MONITÓRIA.


PROCESSO INCLUÍDO EM PAUTA E NÃO JULGADO NA DATA
PREVISTA. DESNECESSIDADE DE NOVA INCLUSÃO DO FEITO EM
PAUTA. JULGAMENTO DO FEITO EM PRAZO RAZOÁVEL.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83/STJ. APLICAÇÃO A AMBAS AS
ALÍNEAS DO ART. 105, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. DECISÃO
MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
1. A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que após o processo ter
sido regularmente incluído em pauta, tendo sido as partes devidamente
intimadas da data da sessão de julgamento, que, contudo, não se realiza no
TRT/RB 16
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085747327 (Nº CNJ: 0001832-58.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

dia designado, não é necessário sua reinclusão em pauta ou nova intimação


das partes, mormente quando o feito é levado a julgamento em tempo
razoável.
2. O recurso especial é inviável quando o tribunal de origem decide em
consonância com a jurisprudência do STJ (Súmula 83/STJ).
3. A Súmula 83 do STJ é aplicável aos recursos especiais interpostos
tanto pela alínea "a" quanto pela alínea "c" do inciso III do art. 105 da
Constituição Federal.
4. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no REsp 1858976/AM,
Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado
em 07/12/2020, DJe 11/12/2020; grifou-se)

Ante o exposto, NÃO ADMITO os recursos especiais.

Intimem-se.

DES. ANTONIO VINICIUS AMARO DA SILVEIRA,


2º VICE-PRESIDENTE.

TRT/RB 17

Você também pode gostar